Lusofonia | Carlão é destaque no regresso de artistas estrangeiros

No cartaz deste ano do Festival da Lusofonia despontam nomes como os portugueses Carlão e Camané, os cabo-verdianos Fogo Fogo e o guineense Sambalá Canuté. A edição do ano passado ficou marcada pelo encerramento forçado devido a um surto de covid-19

 

O Festival da Lusofonia, em Macau, vai voltar a receber artistas estrangeiros, incluindo o português Carlão, vocalista dos Da Weasel, após um interregno de três anos devido à pandemia de covid-19. O anúncio foi feito na sexta-feira.

De acordo com o programa, o 5.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa arranca com o principal evento, o Festival da Lusofonia, entre 27 e 29 de Outubro. Pela primeira vez desde 2019, a zona das Casas da Taipa vai voltar a receber músicos dos países lusófonos, nomeadamente o português Carlão, os cabo-verdianos Fogo Fogo e o guineense Sambalá Canuté.

Algo “de grande importância (…), porque em termos de compreensão e intercâmbio cultural é necessário este contacto frente a frente”, disse Leong Wai Man, a presidente do Instituto Cultural (IC). O outro ponto alto do programa é um concerto do português Camané com a Orquestra Chinesa de Macau, a 18 de Novembro, que vai “misturar fado e música tradicional chinesa”, disse à Lusa Jacky Fong Tin Wan.

O director executivo da Sociedade Orquestra de Macau admitiu que a união das duas músicas “é difícil”, mas sublinhou que Camané mostrou-se “muito interessado” em repetir uma parceria que aconteceu pela primeira vez em 2007.

Visita de activista

Leong Wai Man destacou ainda a presença de Bordalo II, que descreveu como “um escultor muito famoso de Portugal, que usa materiais reciclados”, numa mostra com 21 obras de sete artistas, entre os quais o angolano Lino Damião e o brasileiro Eduardo Fonseca.

Bordalo II ganhou notoriedade em Portugal depois de ter estendido uma passadeira feita com notas falsas de 500 euros no polémico Palco da Jornada Mundial de Juventude, em Lisboa. O palco foi um dos aspectos mais polémico da jornada, devido ao preço da obra, que acabou por ser mais reduzido que o inicialmente previsto.

A exposição, sob o tema “Relações”, vai estar nas Casas da Taipa entre 28 de Outubro e 1 de Janeiro, passando depois, durante seis meses, para a Antiga Fábrica de Panchões Iec Long, também na Taipa, e os Estaleiros Navais de Lai Chi Vun, em Coloane.

A 4 e 5 de Novembro, vários locais de Macau irão receber espectáculos de música e dança lusófona, a cargos dos grupos A Gafieira (Brasil), Escola de Dança de São Tomé e Príncipe, Chalo Correia (Angola), Talik Murak (Timor-Leste), a Associação Cultural de Dança e Canto Londzovota (Moçambique), Nata Nsue (Guiné Equatorial) e o GIPA Dance Group (Goa, Índia).

Uma exposição com mais de 500 livros ilustrados e infantis em chinês ou português estará patente no Auditório do Carmo, na Taipa, entre 27 e Outubro e 5 de Novembro. Macau irá ainda receber, de 10 a 24 de Novembro, um festival de cinema com 20 filmes da China e dos países de língua portuguesa, que encerra com o documentário brasileiro “Miúcha, a Voz da Bossa Nova”. Com o regresso dos artistas estrangeiros, o orçamento do Encontro irá subir de mais de 6 milhões de patacas em 2022 para 9,6 milhões de patacas este ano, revelou Leong Wai Man.

Ocorrência discriminatória

A edição do ano passado causou um grande mal-estar entre a comunidade lusófona, após o Governo ter forçado o cancelamento do evento no último dia. Numa altura em que surgiu um surto de covid-19 com dezenas de casos, o Executivo obrigou a que o festival, que decorria com fortes restrições, como medição da temperatura e utilização de máscaras, fosse mesmo cancelado.

Ao mesmo tempo, em locais como a Praça do Tap Seac e a Rua de Sanches Miranda decorriam enormes concentrações de famílias, que trocavam guloseimas e que celebravam o Dia das Bruxas.

Face à dualidade de critérios Leong Wai Man apontou que o cancelamento aconteceu “com muita pena” do Instituto Cultural.
Na altura, o deputado português José Pereira Coutinho classificou a decisão como um exemplo das “decisões discriminatórias em relação à comunidade lusófona”, lembrando que “não foi aplicado o mesmo critério” a outros eventos, como o Grande Prémio.

“Não foi um caso de discriminação”, limitou-se a insistir na sexta-feira Leong Wai Man, sem fazer mais comentários. Em Dezembro de 2022, Macau, que seguia a política de ‘covid zero’, anunciou o cancelamento gradual, após quase três anos, da maioria das restrições, que incluíam a proibição da entrada de estrangeiros sem estatuto de residente.

16 Out 2023

Lusofonia | Cancelados concertos da banda Concrete/Lotus

Lusofonia | Cancelados concertos da banda Concrete/Lotus
Segundo uma nota publicada pelos membros da banda nas redes sociais, o cancelamento deve-se ao facto de a vocalista, Joana de Freitas, “ter sido, a partir de agora, impedida de participar em qualquer actividade musical (ou de outra qualquer área artística) pela empresa onde trabalha, que considera que esta participação denigre a imagem da empresa”.

De frisar que, além de actuar na banda Concrete/Lotus, Joana de Freitas é jornalista do Canal Macau da TDM. Na mesma nota, o grupo pede desculpa ao público e aos fãs, bem como “ao Instituto Cultural, pelo seu contínuo apoio aos artistas locais”, sem esquecer a equipa de produção do festival. “Os Concrete/Lotus esperam voltar em breve no mesmo formato”, lê-se ainda. O festival da Lusofonia começa hoje e acontece até domingo na zona das Casas-museu da Taipa.

10 Dez 2021

Festival da Lusofonia | Escolha do mês de Dezembro não agrada a associações 

Está confirmada a realização do Festival da Lusofonia em Dezembro, mas duas associações ouvidas pelo HM discordam da data, por ser um mês cheio de eventos e obrigar a ajustes financeiros e de pessoal. Caso continuem os cortes orçamentais e as alterações à organização do evento, a participação da Associação dos Macaenses nas próximas edições está em risco

 

A Casa de Portugal em Macau (CPM) e a Associação dos Macaenses (ADM) discordam da escolha do mês de Dezembro para a realização da 24.ª edição do Festival da Lusofonia. Segundo a TDM Rádio Macau, o evento deverá realizar-se no fim-de-semana de 10 a 12 de Dezembro.

O descontentamento prende-se com a realização de vários eventos e actividades nesse mês, associados ao Natal, além de que permanecem os cortes orçamentais que trazem maiores dificuldades na realização do evento conforme os moldes dos anos anteriores.

“Dezembro é um mês péssimo”, disse ao HM Amélia António, presidente da CPM. “Isso obriga a que tenhamos de dar a volta a muita coisa. Temos as vendas de Natal, há jantares. Temos de reorganizar o calendário e há coisas que não se podem mudar”, frisou a responsável.

No caso da ADM, o calendário fica ainda mais apertado, pois nesse mês, além de realizar o habitual jantar de Natal, a associação celebra 25 anos de existência. “Não sei como vamos fazer isto e que tipo de representação vamos ter nesse dia [sábado], porque também temos falta de pessoal. Ou estamos na Lusofonia ou na festa de Natal”, disse o seu presidente, Miguel de Senna Fernandes.

O também advogado referiu que há a possibilidade de a ADM estar representada de forma simbólica no sábado, dia em que acontece a festa de Natal, para que depois possa ter o seu espaço no festival a funcionar como habitualmente. “Mesmo assim vai ser complicado estarmos lá na sexta-feira. Temos falta de apoios financeiros e humanos e isso pesa no sucesso da festa.”

Miguel de Senna Fernandes vai mais longe e diz que o que se passa “é uma aberração”. “As autoridades têm de pensar como querem o Festival da Lusofonia. Este tipo de actividades são fundamentais para Macau, um território multicultural, como querem mostrar para todo o mundo. Se continua assim para o próximo ano não pomos os pés no festival. Este tipo de pensamento é uma aberração e é não ter a mínima consideração pelas pessoas que querem fazer de Macau um local cultural de sucesso.”

Amélia António confirmou ao HM que as associações não foram contactadas previamente sobre a escolha da nova data para o festival e lamenta aquilo que leu no comunicado oficial, que refere que “o Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa deste ano incluirá o Festival da Lusofonia”.

“O festival de artes e cultura é uma coisa nova, aconteceu duas vezes, não tem tradição e é um acontecimento com um outro nível cultural e artístico, organizado oficialmente pelo Instituto Cultural. Não tem nada a ver com o espírito popular do Festival da Lusofonia.”

Para Amélia António “é preocupante esta visão, porque a ideia que é transmitida é que se pretende minguar uma coisa que é grande e que as pessoas não gostam que seja grande”.

Pouco dinheiro

Em termos financeiros as associações são apoiadas pelo IC com 50 mil patacas, não podendo usar outros subsídios no mesmo evento. Isso traz grandes entraves à presença da ADM, pois Miguel de Senna Fernandes garante que esse orçamento serve apenas para construir e decorar a barraca, sem incluir as comidas, bebidas e restantes actividades.

“A impossibilidade de duplicar o apoio deixa a ADM absolutamente fragilizada. Se continuar esta maneira de ver as associações da Lusofonia, fica comprometido o êxito do festival nos próximos anos, porque ninguém vai ter dinheiro e paciência para estar na Lusofonia. Pelo menos nós, ADM, já estamos aflitos com falta de dinheiro e ainda nos cortam todas essas coisas. A continuar com esta política fica comprometida, da parte da ADM, a nossa participação nos próximos anos.”

Miguel de Senna Fernandes acrescentou ainda que as autoridades devem ter “muita sensibilidade e condescendência nos apoios financeiros, tendo em conta as finalidades a que se destinam e as condições debilitadas em que se encontram as associações que se batem pelo sucesso desta actividade cultural”.

No caso da CPM, que todos os anos oferece no seu espaço alguns petiscos, isso vai deixar de acontecer, ficando apenas garantida, nesta edição, a oferta de sangria. “É evidente que não queremos deixar de participar, porque são mais de 20 anos de um festival popular que cada vez trazia mais pessoas e que é muito apoiado pela população.”

“A Lusofonia, além de ser um momento de convívio, é rico para Macau, marca a maneira de viver e de estar em Macau, das suas diferentes comunidades. A festa da Lusofonia é extremamente importante e não pode morrer. Temos de fazer todo o esforço para continuar, mas há coisas que são preocupantes”, rematou a presidente da CPM.

21 Out 2021