Hoje Macau China / ÁsiaNovo MNE chinês está na Etiópia onde vai inaugurar sede do CDC África O primeiro-ministro da Etiópia recebeu hoje em Adis Abeba o novo ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, na sua primeira visita internacional, em que irá inaugurar a sede dos Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África). “As relações entre os dois países continuam fortes e as nossas conversações de hoje realçaram isto, para além dos nossos objetivos estratégicos comuns de desenvolvimento e do nosso empenho na cooperação continental e global”, disse o chefe de Governo etíope, Abiy Ahmed, na rede social Twitter. Qin Gang chegou à capital etíope esta manhã e foi recebido no aeroporto pelo seu homólogo da Etiópia, Demeke Mekonnen Hassen. O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês deverá ter reuniões com altos funcionários, tanto do Governo etíope, como da União Africana (UA) sobre cooperação diplomática e questões de desenvolvimento, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Etiópia. Qin participará ainda na inauguração da nova sede CDC África, uma instituição da UA, em Adis Abeba. O Governo chinês garantiu os 80 milhões de dólares (cerca de 74,6 milhões de euros) que a UA necessitava para construir o edifício, que é um dos centros médicos mais bem equipados em África para o controlo de doenças, disse Amira Elfadil Mohamed, Comissária da UA para os Direitos Sociais e Humanos. Segundo Mohamed, a UA poderá melhorar a sua cooperação com os governos de todo o continente, bem como ajudar a África a produzir as suas próprias vacinas e a acabar com a sua dependência de outras potências. A nova sede inclui também um centro de operações de emergência, um centro de dados, um laboratório, salas de formação, um centro de conferências, escritórios e apartamentos para os trabalhadores de outros países residirem. “A China construiu o edifício do CDC África na Etiópia, na esperança de expressar a sua cooperação com os países africanos”, disse hoje o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, através de uma declaração. Além de visitar a Etiópia, Qin também viajará para quatro outros países africanos – Gabão, Angola, Benim e Egito – no que será a sua primeira viagem ao estrangeiro desde a sua nomeação como ministro dos Negócios Estrangeiros, em 31 de dezembro. O objetivo desta viagem, que durará até 16 de janeiro, é “aprofundar a parceria estratégica e a cooperação em todas as frentes” entre a China e África, salientou Wang. Quin está assim a cumprir uma tradição de 33 anos, segundo a qual o chefe da diplomacia chinesa faz a sua primeira viagem do ano ao estrangeiro a África, de acordo com Wang. A China tem demonstrado um interesse crescente em África, tornando-se o maior parceiro comercial do continente. Além da construção do edifício do África CDC, a China financiou a construção da sede da UA em Adis Abeba, em 2012, e um novo parlamento para o Zimbabué, em 2022, entre outras obras. A China também iniciou a construção da sede da Comissão Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) em Abuja, capital da Nigéria, em 2022. De acordo com dados recolhidos pela Universidade John Hopkins (Baltimore, Estados Unidos), entre 2000 e 2019, entidades chinesas assinaram mais de 1.100 compromissos de empréstimo avaliados em cerca de 153 mil milhões de dólares com governos africanos ou empresas públicas em países africanos. Pequim abriu também a sua primeira base militar ultramarina no Djibuti, um país do Corno de África, em 2017.
Anabela Canas Cartografias h | Artes, Letras e IdeiasUm semáforo na Etiópia [dropcap]L[/dropcap]uzes coloridas. Vermelho, verde. As acções doseadas no fluir do tráfego por cores. Sempre para uns uma e para os outros a de sinal contrário. Quem conduz adora as ondas verdes de semáforos a mudar à sua passagem sem interrupção. Chegar cedo. Mas para cada onda verde, existe transversalmente uma enorme onda vermelha a barrar a pressa de outras vidas. Num avanço interrompido e sincopado como a subida ao castelo. A atenção aos sinais nos pequenos capítulos do dia. E haver sempre um sinal escondido. Amarelo intermitente. Um peão que pode passar com sinal vermelho se não vem carro, um automóvel a virar a curva quando não vê peão. Os dias de episódios anódinos que perfazem o quotidiano. Em tudo insignificantes e idênticos aos de outros dias. Mas que ficam a macerar lentamente, desesperantemente, muito depois. Como a ânsia de resolução de uma equação simples e determinante que invade a consciência sem aviso. Nesta construção invisível em que se manipulam irreversíveis conjuntos concorrentes e aleatórios de circunstâncias, de que se é alvo e de cujos efeitos se fica pendente, na ignorância do que poderia ter sido. Se de outro modo. Virar num cruzamento e à curva parar o carro para deixar passar um homem, por acaso idoso, por acaso de uma cor qualquer, que começa a atravessar, com o semáforo vermelho dos peões a dizer-lhe para não o fazer e eu a fazê-lo hesitar. Deixar passar. Porque era uma pessoa. Porque era um idoso. Porque tinha uma cor qualquer, e por uma razão qualquer. Porque ele não tinha razão e eu não tinha pressa. Por nada de especial que simplesmente me parou. Ele. Como poderia não ter sido assim, ele não estava em risco, eu nunca tenho tempo. Coisas sem importância. E não batalhas para ganhar uma guerra qualquer. Perder quinze segundos na corrida da manhã e logo um pouco mais à frente parar num sinal vermelho. Uma sequência com uma moderada dose de consequência. Nada de especial. Mas foi aí que sem o pensar, sei agora, algo se imiscuiu no anódino do episódio como se dissesse para comigo que ali é que a porca torce o rabo. Não que eu tenha olhado para o sinal a mudar como quem olha para a arrogância de que quem exerce um daqueles pequenos poderes que dão satisfação a alguns egos. Mas dei comigo a revirar as possibilidades de todos os ângulos como se daí adviesse como resposta, o sentido da vida. Que mente a minha. A precisar de respostas. Mas não, o sinal vermelho não foi claro na arrogância apressada de cair naquele momento, para parecer determinante o ínfimo pedaço de tempo que tinha despendido a parar e deixar passar, a meter uma nova mudança e avançar. Estava simplesmente lá porque mudou ao seu ritmo. Podia pensar que os céus não recompensaram a escolha feita, com um sinal verde. Mas também que confirmam que mais minuto menos minuto perdido a deixar passar o homem, não alterara relevantemente o curso do dia. O sinal vermelho fez parar de uma maneira ou de outra. Perder trinta segundos. E depois pensar que, se não tivesse deixado passar o homem, poderia ler o inevitável sinal vermelho como a condenação do gesto mesquinho. Ou como a confirmação de que deixá-lo passar em nada teria atrasado o meu caminho. E se caísse o sinal verde? Pensaria que tinha valido a pena o gesto egoísta, caso não tivesse passado o homem, ou que era a recompensa por tê-lo deixado passar se assim fosse? Duas hipóteses: deixar ou não deixar passar. Para cada uma, duas luzes de semáforo de colorido diferente e ambas possíveis a seguir. Para cada cor da luz, duas leituras possíveis. Recompensa ou penalização. Não há uma ética no acaso. E no final do pequeno episódio, de novo o sinal íntimo e intermitente. Não imaginar. O que poderia ter-se cruzado num dia qualquer, como destino, em resposta a um minuto que se perdeu ou se ganhou. Como se alguém mexesse fios de marionetas e como se o fôssemos. A aproximar ou afastar de sonhos. As luzes são sinais. De trânsito. De curta validade. A respeitar, de qualquer modo e para além deles. Sinais da importância de um sinal. A cumprir ou a não cumprir. E só. Sem mais respostas, sem validação sem orientação para além do momento curto e logo obsoleto. Outros sinais são como um semáforo na Etiópia. Uma agulha num palheiro. Lembro-me daquela praça em Adis Abeba onde nunca estive. Um cruzamento de loucos e sem semáforos. Onde o único sentido que prevalece, é o de cada um. E chegar onde se quer. Não. A vida não se apresenta clara nem dá respostas unívocas. Esconde a causalidade das pequenas coisas, como quem se reserva para o melhor ou não pretende assustar. Como o platonismo de Kafka. Uma realidade sempre a caminho de ser e nunca sendo. Não uma direcção e não um fim, somente um sentido. Mas algumas respostas são prévias, como mantimentos para o caminho. E a única resposta vem de dentro. Como num teste de escolha múltipla. Avaliamos, escolhemos e voltamos a avaliar. Mas o caminho é às cegas, tirando pequenos sinais. Onde está o sorriso da cor e o nosso, a cor dos segredos – isso – diálogos a sós.