Hoje Macau China / ÁsiaDeclínio acentuado do número de estrangeiros na China é preocupante, diz intelectual e colunista Um reputado intelectual e colunista afirma que a China não deve dar prioridade à segurança e, nesse processo, asfixiar o desenvolvimento ou os intercâmbios internacionais. Como grande nação, a percentagem de estrangeiros é estranhamente pequena. Ou talvez não Wang Wen, Director-Executivo do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin da China, num discurso a propósito do Pensamento de Xi Jinping sobre Diplomacia e a sua relevância para a “comunidade internacional que nos rodeia”, advertiu contra o declínio acentuado dos estrangeiros na China e apelou, nas suas palavras, a que, no meio do apelo contínuo do Secretário-Geral Xi Jinping a uma “abertura abrangente ao mundo exterior” e da ênfase do governo central na abertura, se reflicta e recorde ao governo chinês, a todos os níveis, que deve prestar atenção às especificidades das suas políticas em matéria de intercâmbios internacionais. Wang, um editor do Global Times que se tornou líder de opinião na China, afirma que “embora a expressão ‘comunidade internacional’ possa parecer sofisticada, ela existe no seio da nossa própria sociedade. Através de plataformas de redes sociais como o WeChat, os chineses podem interagir com uma grande variedade de estrangeiros, incluindo diplomatas, jornalistas estrangeiros, empresários, estudantes internacionais e chineses no estrangeiro. Estas interacções diárias, como os gostos, os comentários e as conversas, contribuem para a formação de uma ‘comunidade internacional à nossa volta’. Esta comunidade tem uma influência significativa no número de elites estrangeiras que residem na China há muito tempo e na sua integração na sociedade chinesa. Além disso, desempenha um papel vital na definição das relações da China com o resto do mundo, nomeadamente com os países desenvolvidos, e pode contribuir para a resolução das tensões existentes”. Para Wang, a China enfrenta sofre de uma insuficiência de infra-estruturas para aproveitar plenamente o potencial da “comunidade internacional que nos rodeia”. Além disso, existe uma disparidade significativa entre “o estatuto de potência global da China e a actual quantidade e qualidade dos residentes e talentos estrangeiros no país”. Tal disparidade preocupa Wang. Por um lado, “as estatísticas indicam um aumento global do número de estrangeiros na China, mas registou-se um decréscimo notável de indivíduos provenientes de países desenvolvidos”. De acordo com o sétimo censo nacional, o número de residentes de longa duração de países desenvolvidos na China registou um declínio variável de 2010 a 2020. Por exemplo, o número de cidadãos franceses a residir na China continental diminuiu cerca de 40%, de 15087 para 9196. O número de americanos diminuiu 23%, passando de 71000 para 55000. O número de cidadãos alemães, italianos e japoneses a residir na China também diminuiu. Sendo a cidade mais internacionalizada da China, Xangai registou uma diminuição do número de estrangeiros de 208000 em 2011 para 163000 em 2021. Há dez anos, cerca de 100000 coreanos viviam em Wangjing (Xangai), mas actualmente esse número poderá ser de apenas 20000. A proporção de residentes estrangeiros na China é de aproximadamente 0,05%, o que é significativamente baixo para a segunda maior economia do mundo. Fica atrás das percentagens do Japão e da Coreia do Sul, que têm ambos mais de 2% de residentes estrangeiros. É ainda mais baixa do que a de países como o Laos (cerca de 0,8%) e o Camboja (cerca de 0,5%). Em geral, os talentos de topo tendem a vir de países desenvolvidos, mas o segmento de residentes estrangeiros que regista o crescimento mais rápido na China é constituído por indivíduos de países em desenvolvimento. O declínio do número de residentes de países desenvolvidos na China nos últimos anos pode ser atribuído a vários factores, como o impacto da pandemia de COVID-19 e a intensificação da concorrência sino-americana. No entanto, para Wang, há outro factor importante que muitas vezes não é mencionado: “a aplicação efectiva das políticas chinesas e o ambiente sociocultural ainda podem ser melhorados para acolher eficazmente os estrangeiros”. Wang elabora quatro sugestões para atrair um maior número de talentos estrangeiros. “Em primeiro lugar, devem continuar a ser envidados esforços para atrair o investimento estrangeiro e melhorar o ambiente empresarial, assegurando um rápido afluxo de capital estrangeiro. O rápido aumento do investimento estrangeiro é crucial para as perspectivas de desenvolvimento interno e para contrariar a contenção ocidental. Os governos centrais e locais devem abordar o acesso ao investimento estrangeiro em domínios como as barreiras pautais, a banca e as finanças, os serviços postais, os valores mobiliários e os seguros, a construção e o turismo, a educação e as telecomunicações. “Em segundo lugar, é essencial promover a aceitação social e a inclusão cultural dos estrangeiros. Lamentavelmente, é possível encontrar comentários depreciativos sobre os estrangeiros no discurso público chinês, o que contradiz os valores tradicionais de inclusão da China e não demonstra a confiança de uma grande nação. Particularmente no contexto da escalada da concorrência entre a China e o Ocidente, é crucial abordar os indivíduos estrangeiros, especialmente os dos países ocidentais, com uma mentalidade justa e equilibrada. Tratar os estrangeiros de forma equitativa, com base na lei e não em preconceitos culturais ou sociais, é um valor fundamental para os cidadãos de uma grande nação moderna. “Em terceiro lugar, é fundamental garantir procedimentos rápidos e convenientes para os estrangeiros em vários domínios, como as finanças e a fiscalidade, a residência, o turismo e a vida quotidiana. Os estudantes, trabalhadores e residentes de longa duração estrangeiros que venham para a China devem receber tratamento igual ao dos cidadãos chineses, incluindo processos simplificados de registo de contas WeChat e Alipay, obtenção de cartões de crédito e acesso à segurança social, seguro médico e pensão. Estes procedimentos devem ser simplificados para garantir comodidade e eficiência aos estrangeiros que se instalam na China. A chave para “coordenar a segurança e o desenvolvimento” é promover o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, garantir a segurança geral. É fundamental manter a segurança geral e, ao mesmo tempo, promover um desenvolvimento rápido e contínuo. Um critério importante para testar a governação local é o de saber se esta não dá prioridade à segurança e, nesse processo, não asfixia o desenvolvimento ou os intercâmbios internacionais. “Por último, podem ser promovidas reformas e inovações no processo de aprovação da China para intercâmbios intelectuais com países estrangeiros. A exploração das interacções entre a comunidade intelectual da China e académicos, empresas, embaixadas, meios de comunicação social e indivíduos estrangeiros pode passar de um sistema de pré-aprovação para um sistema de pós-registo. Exigir a pré-aprovação para cada interação pode impedir as actividades académicas e de intercâmbio, manchando potencialmente a imagem internacional da China. Tendo como pano de fundo o apelo contínuo do Secretário-Geral Xi Jinping a uma “abertura global ao mundo exterior” e a ênfase do governo central na abertura, é necessário reflectir e recordar ao governo chinês, a todos os níveis, que deve prestar atenção às especificidades das suas políticas em matéria de intercâmbios internacionais. O diabo está nos pormenores, pois são eles que determinam o sucesso ou o fracasso e o resultado real das interacções da China com os países estrangeiros e a construção da “comunidade internacional à nossa volta”. “No meio de relatos contínuos na opinião pública estrangeira que sugerem uma diminuição do número de residentes de longa duração de países desenvolvidos na China e de alegações de falta de acolhimento por parte da China em relação aos estrangeiros ou de inconvenientes nas deslocações dentro do país, é essencial reflectir sobre estas questões e garantir que a implementação de políticas está em conformidade com os objectivos de abertura e promove interacções internacionais positivas.”
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaFilipinas e Indonésia de fora da lista de nacionalidades com entrada na RAEM Desde as 00h de hoje é permitida a entrada em Macau de estrangeiros que tenham passaporte de uma lista de 41 países, que não incluem os países africanos da lusofonia, Indonésia, Filipinas e Vietname. Associações de TNR falam de discriminação de trabalhadores migrantes. Miguel de Senna Fernandes e Pereira Coutinho entendem que se trata de uma questão de saúde pública com base na política de covid-19 zero O Governo revogou o despacho que proibia a entrada de estrangeiros em Macau devido à pandemia, e abrindo “portas” a não-residentes com passaportes de 41 países. A lista de nacionalidades a quem foi permitida entrada deixou de fora algumas das comunidades imigrantes de maior dimensão em Macau. É o caso da Indonésia, Vietname e Filipinas, de onde são oriundas as comunidades de trabalhadores não-residentes (TNR) estrangeiras mais significativas do território. De frisar que Moçambique também ficou de fora da lista, tal como os restantes países de língua portuguesa, com a excepção de Portugal e do Brasil. Duas dirigentes associativas que representam as comunidades oriundas das Filipinas e da Indonésia dizem não compreender a situação que consideram ser discriminatória. “Estamos muito tristes e magoados [com esta decisão]”, disse Jassy Santos, presidente da União Progressista dos Trabalhadores Domésticos de Macau. “É um sinal de que os trabalhadores precisam de pensar: ou aceitam ou saem. Muitos já voltaram a casa ou procuram outro país para trabalhar. Não são dadas explicações sobre o facto de não incluírem as Filipinas ou a Indonésia na lista. O Governo não sabe como proteger os trabalhadores e não tem coração relativamente aos TNR”, frisou ao HM. Muitos filipinos a residir no território não veem a família há mais de três anos, facto que acresce à quantidade considerável de trabalhadores migrantes que enfrentam uma difícil situação económica, sem trabalho ou sujeitos ao regime de licenças sem vencimento. Jassy Santos entende que a situação é ainda mais injusta se for tido em conta que “muitos filipinos e indonésios têm estado na linha da frente no combate à pandemia”. “Não faço ideia porque é que este Governo decidiu não abrir as portas ao nosso país. Esqueceram-se de que, no pico da pandemia, contribuímos muito?”, questionou. Também Yosa Wari Yanti, líder da União dos Trabalhadores Migrantes da Indonésia, ficou desapontada com a mais recente decisão do Executivo que voltou a discriminar os indonésios. “Estamos tristes porque isto significa que não podemos ir a casa e que os nossos colegas migrantes têm de esperar pelo trabalho aqui, caso contrário não podem entrar. Não visitamos as nossas famílias desde 2020 e esta separação forçada está a causar muitos conflitos familiares com crianças, pais e entre marido e mulher”, alertou. Na visão de Yosa Wari Yanti, o Governo “deveria ter medidas especiais” para permitir que os trabalhadores pudessem viajar e visitar a família. “Compreendemos que o Governo de Macau abre as portas, na sua maioria, para os turistas. Mas esperamos que possam encontrar um equilíbrio em relação às necessidades dos trabalhadores migrantes. Temos contribuído para o desenvolvimento de Macau e continuámos a trabalhar mesmo durante o surto de covid-19”, apontou. É por fases O HM contactou Rafael Custódio Marques, cônsul-geral de Moçambique para Macau e Hong Kong, sobre o facto de o país que representa não constar na lista das nações autorizadas a entrar. Mas o responsável adiantou apenas que a RAEM é soberana para decidir quais os cidadãos que entram. “Não sei qual foi o critério utilizado, mas Macau tem soberania para determinar os países que aceita, e não tenho nenhuma opinião específica sobre esta lista. Creio que os moçambicanos vão ser autorizados no futuro a entrar em Macau. Penso que as medidas estão a ser tomadas de forma faseada”, adiantou. Rafael Custódio Marques não deixa, contudo, de lembrar que “a situação da pandemia está controlada em Moçambique, como está em todos os lados”. “Tenho fé que, logo que possível, haverá abertura para que os cidadãos moçambicanos e de outros países possam entrar em Macau.” Segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) disponível sobre a situação pandémica nas Filipinas, o país registou, entre os dias 8 e 14 de Agosto, cerca de 28 mil casos de covid-19, com 24 mortes. Nesta fase, 64,6 por cento da população está vacinada com, pelo menos, uma dose. Desde o início da pandemia que as Filipinas já registaram 3.831 casos e um total de 61 mortes. No caso da Indonésia, entre 3 de Janeiro de 2020 e esta terça-feira registaram-se mais de 6.349 milhões de casos de covid-19 com cerca de 157 mil mortes. A 17 de Agosto o país tinha administrado mais de 432 mil vacinas. Relativamente a Moçambique, e também com base nos dados da OMS, entre 3 de Janeiro de 2020 e terça-feira registaram-se cerca de 230 mil casos de covid-19 no país, com pouco mais de duas mil mortes. No dia 21 de Agosto as autoridades sanitárias do país africano tinham administrado mais de 24 mil vacinas numa população com cerca de 31 milhões de habitantes. Não é discriminação Confrontando com a medida, o deputado Pereira Coutinho entende não se tratar de discriminação. “As autoridades estão a analisar o ponto de situação da covid-19 em alguns países e, aos poucos, Macau está a caminhar para o rumo certo. Estão a ser avaliados os níveis de contágio [tendo em conta a possibilidade de ocorrer um surto no território]. À medida que o tempo passe e que vamos sabendo mais informações sobre a covid-19, mais estrangeiros poderão entrar. Espero que as quarentenas nos hotéis possam baixar para quatro dias, mais três dias de autogestão de saúde em casa”, defendeu. Também o advogado Miguel de Senna Fernandes entende tratar-se de uma medida adoptada do ponto de vista de saúde pública, não estando em causa desigualdade ou discriminação. “Tem a ver com a política covid zero e tudo gira à volta disso. Naturalmente, que a abertura [a estrangeiros] não poderia deixar de ser criteriosa e tem a ver com o número de casos de covid-19 em alguns países, tendo em conta a possibilidade de ocorrência de um novo surto.” Miguel de Senna Fernandes lembrou que o próprio Consulado-Geral das Filipinas em Macau e Hong Kong sempre compreendeu as medidas adoptadas pela RAEM. “Não vejo que esta medida seja discriminatória ou racista. Não gosto dela, mas compreendo os critérios. Se é para levar a política covid zero até ao fim, esta será uma das consequências. Não vejo que seja um atentado à igualdade das pessoas”, rematou. Lista de Nacionalidades Autorizadas as Entrar Ásia Brunei Darussalam Israel Japão Coreia do Sul Malásia Singapura Tailândia Europa Áustria Bélgica Reino Unido República Checa Dinamarca Estónia Finlândia França Alemanha Grécia Hungria Islândia Irlanda Itália Letónia Liechtenstein Lituânia Luxemburgo Malta Países Baixos Noruega Polónia Portugal Roménia Eslováquia Eslovénia Espanha Suécia Suíça Oceânia Austrália Nova Zelândia América Canadá Estados Unidos da América Brasil
Hoje Macau Manchete PolíticaMacau abre portas à entrada da maioria dos estrangeiros Macau vai permitir, a partir desta quinta-feira, a entrada da maioria dos estrangeiros, pela primeira vez desde março de 2020, no início da pandemia de covid-19, anunciou ontem o Governo. Segundo um despacho assinado pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, são revogadas as restrições atualmente em vigor, permitindo a estrada de “não residentes provenientes de outros países ou regiões designados pela autoridade sanitária, mediante avaliação do risco de epidemia e tendo em conta as necessidades reais de circulação de pessoas”. O despacho sublinha, no entanto, que os estrangeiros terão de cumprir “as condições de entrada definidas” pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM). De acordo com um comunicado divulgado pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, será permitida a entrada de trabalhadores não residentes e familiares de residentes, assim como viajantes de 41 países, incluindo o Brasil. Ao contrário do que acontece para quem entra pela fronteira com a China continental, quem chega do estrangeiro continua a ser obrigado a cumprir uma quarentena de sete dias num hotel, seguido de três dias de “auto-vigilância médica” que pode ser feita em casa. Macau fechou as fronteiras a estrangeiros sem o estatuto de residente em março de 2020. Em abril deste ano, o território tinha levantado as restrições fronteiriças a trabalhadores filipinos, estudantes universitários e profissionais do ensino estrangeiros, como professores portugueses. A isenção foi mais tarde alargada a trabalhadores oriundos da Indonésia. Em maio, a região aprovou a entrada de todos os portugueses não residentes no território, assim como de cônjuges estrangeiros e filhos menores de residentes locais.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCovid-19 | Pedidos de entrada de estrangeiros ainda sem aprovação Dos 25 pedidos de entrada de estrangeiros nos últimos cinco dias, as autoridades aprovaram zero. Também ontem, foi revelado que à luz das novas exigências de vacinação foram emitidos 609 certificados médicos de dispensa Os Serviços de Saúde (SSM) ainda não aprovaram qualquer pedido de entrada em Macau por parte de estrangeiros que se encontrem em Hong Kong há mais de 21 dias. Os números foram avançados ontem, na conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia. Segundo Leong Iek Hou, médica, desde o dia 15 de Setembro, quando a medida entrou em vigor, foram recebidos 25 pedidos. Entre estes, quatro estão ligados a estrangeiros que têm famílias com residentes na RAEM. Outras 15 solicitações, são de estrangeiros que têm famílias não-residentes no território. Existem ainda quatro pedidos relacionados com pessoas com actividade comercial em Macau e outros dois de estudantes admitidos nas universidades locais. “Actualmente uma parte das pessoas ainda está a entregar os documentos e estes estão no período de apreciação. Nenhum dos pedidos foi autorizado”, admitiu Leong Iek Hou. Sobre a possibilidade de ser reestabelecida a circulação com Hong Kong sem necessidade de quarentena, o cenário não sofreu qualquer alteração. Macau continua a negociar com o Interior a possibilidade da reabertura da circulação. “É preciso ter uma medida que tenha o consentimento do Interior, por isso as três partes continuam a negociar”, respondeu Leong Iek Hou. Mães e vacinas Outro dos assuntos abordados na conferência de imprensa, foi o número de suspensões de vacinação. Segundo Tai Wa Hou, responsável pelo programa, até às 16h de ontem tinham sido emitidos 609 certificados médicos de suspensão da vacina, e cerca de 190 tinham sido emitidos a grávidas. No entanto, a posição do Governo face às mães que amamentam é diferente: “Em todas as recomendações, inclusive internacionais, é dito que as mães que amamentam devem ser vacinadas. A vacinação reduz o risco de contágio dos filhos, porque a mãe produz anticorpos, que depois são transmitidos aos filhos”, justificou Leong Iek Hou. “Todas as mães que amamentam podem apanhar a vacina mRNA [BioNTech-Pfizer]”, acrescentou. Por outro lado, o Governo afirmou que após as medidas que impõem a obrigação de vacinação ou realização de teste a cada sete dias, houve uma corrida à vacinação. “Após as novas medidas a vontade da população [ser vacinada] aumentou. Nos vários postos há um aumento das marcações, que subiram para o dobro”, revelou Tai Wa Hou.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Empresas à procura de aura internacional ‘alugam’ estrangeiros Aluno de mestrado numa universidade de Pequim, o europeu Oliver é “poeta famoso” a tempo parcial, fenómeno único no país asiático, onde há empresas a contratar estrangeiros apenas para parecerem internacionais Reportagem por João Pimenta, da agência Lusa [dropcap style≠’circle’]”P[/dropcap]or vezes, a organização convida poetas de fora realmente prestigiados, mas quando o orçamento não chega recorrem a estudantes estrangeiros e apresentam-nos simplesmente como sendo poetas famosos”, descreve Oliver, de 26 anos, à agência Lusa. “Não interessa qual a tua idade, se escreves poesia, ou o teu nome. O que importa é que o evento ganha uma aura internacional devido à minha presença, e isso para a organização basta”, diz. Durante décadas, as marcas chinesas têm apostado em nomes estrangeiros ou publicidade com modelos caucasianos – famosos ou não -, sugerindo assim que os seus produtos são internacionais e, portanto, superiores aos domésticos. Essa percepção criou um fenómeno ímpar na China: estrangeiros contratados para desempenhar todo o tipo de papéis – músicos, atletas, arquitectos ou advogados -, unicamente com base na sua aparência. Um anúncio de emprego para treinador de futebol a que a Lusa teve acesso, difundido por uma escola primária de Pequim após a França ganhar o Mundial, descreve assim as “competências” preferenciais do candidato: “Tem de ser preto, forte, e parecido com o jogador francês [Kylian] Mbappé”. O salário oferecido ascende a 30.000 yuan – quinze vezes o salário mínimo na capital chinesa. Para Oliver, passar ocasionalmente por ser um “poeta famoso” garante dinheiro fácil e viagens por toda a China com alguns dos maiores nomes da poesia chinesa, sempre hospedado em hotéis de cinco estrelas. “Uma vez, para um festival de dois dias pagaram-me 5.000 yuan (640 euros) e tive a honra de colocar flores no túmulo de um poeta da dinastia Tang”, conta. Durante a abertura de um outro festival, o europeu caminhou na passadeira vermelha ao lado de um vice-primeiro-ministro chinês. Num evento em Nanjing, no leste do país, havia retratos dele com dois metros espalhados pelo recinto. “É surreal”, admite. O fenómeno, conhecido entre os expatriados na China como ‘white face job’ (trabalho para brancos), está a “crescer”, garante Oliver, apesar de o número de estrangeiros a residir no país ter superado os 900.000, no ano passado. “A audiência admira-te pela cor da tua pele, não por aquilo que estás a fazer. É como se fosses um macaco no zoológico”, conta o realizador norte-americano David Borenstein, que retrata a indústria no documentário Dream Empire. Durante os dois anos em que viveu na China, Borenstein conheceu estrangeiros que fizeram do fenómeno carreira, como um falso teclista que há cinco anos dava concertos em eventos, em ‘playback’, sem sequer saber tocar o instrumento, ou um falso arquiteto que era apresentado como parceiro de promotores imobiliários. “Havia muita gente a fazê-lo e um dia de trabalho chegava para pagar a renda”, disse, citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post. Para Oliver, no entanto, ser “poeta famoso” a tempo parcial não é só facilidades. “O pior é que envolve trabalho de casa”, diz. “Logo após o festival terminar, temos que escrever um poema sobre a cidade, ou o festival, ou sobre o poeta a quem o festival é dedicado”.