Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Interferência externa fadada a ser auto-destrutiva, diz Comissário do MNE O Comissário do MNE criticou ferozmente os comentários do G7 e do chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, a propósito da eleição de John Lee como novo Chefe do Executivo de Hong Kong O Gabinete do Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China na Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK) rejeitou firmemente e condenou veementemente na segunda-feira os comentários enganosos dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 e o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell. Os comentários mancharam a eleição do Chefe do Executivo do sexto mandato da RAEHK, as políticas do governo central chinês em relação a Hong Kong e o novo sistema eleitoral de Hong Kong, disse um porta-voz do gabinete, citado pelo Diário do Povo. O porta-voz salientou que a vitória de John Lee nas eleições para Chefe do Executivo da RAEHK por uma esmagadora maioria de votos reflectiu plenamente o grande apoio dado a Lee pela sociedade de Hong Kong. Esta eleição bem-sucedida mostrou a nova atmosfera sob o novo sistema eleitoral, exibiu um clima optimista de Hong Kong procurando unidade e progresso e mais uma vez demonstrou a superioridade do novo sistema eleitoral, assinalou o porta-voz. Observando que mais de 1.400 representantes, eleitos por vários sectores, votaram na eleição, e representaram amplamente diferentes indústrias e grupos de interesse, o porta-voz disse que a eleição é uma prática democrática de todo o processo que se encaixa na realidade de Hong Kong e apresenta as características de Hong Kong. O porta-voz disse também que o novo sistema eleitoral da RAEHK implementa plena e fielmente a política de “um país, dois sistemas” e a Lei Básica da RAEHK, reforça o princípio de “patriotas administrando Hong Kong” e desenvolve uma democracia de qualidade com características de Hong Kong. Sociedade espectáculo O porta-voz destacou que as chamadas “eleições democráticas” em alguns países ocidentais são essencialmente eleições de “elite” e shows políticos em que o dinheiro fala. Esses países preocupam-se apenas com o ciclo eleitoral, os interesses dos partidos políticos e os interesses dos grupos, disse o porta-voz. “Eles sabem como ficar bem durante a campanha, mas não governam efectivamente depois de eleitos”, disse o porta-voz. “Eles não têm em mente os interesses fundamentais e de longo prazo de seu povo, que geralmente resultam em políticas míopes e governação ineficiente.” Ignorando as deficiências estruturais de seu próprio sistema democrático e alegando ser “modelos de democracia”, esses países pretensiosos estão obcecados em apontar o dedo para a situação da democracia e dos direitos humanos de outros e envolver-se em “tácticas de matilha de lobos” para interferir nos assuntos internos de outros, de acordo com o porta-voz. “Acreditamos plenamente que a equipa de governação patriótica eleita sob o novo sistema eleitoral unirá e liderará todos os sectores da sociedade de Hong Kong para abrir um novo capítulo para a cidade, e Hong Kong certamente abraçará uma nova glória em um novo ponto de partida”, disse o porta-voz. “Qualquer tentativa de prejudicar a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong será em vão”, enfatizou o porta-voz. O gabinete instou os políticos do G7 a respeitarem a tendência histórica, aderir aos princípios do direito internacional, como não interferência nos assuntos internos dos outros e as normas básicas que regem as relações internacionais, descartar preconceitos ideológicos e hipocrisia, parar de interferir nos assuntos internos da China, incluindo os assuntos de Hong Kong de qualquer forma, e não prejudiquem mais a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaHong Kong | Artigo 23 é prioridade para John Lee em Hong Kong, mas não só O candidato ao cargo de Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, disse hoje que a legislação do artigo 23 da Lei Básica da RAEHK será a sua prioridade, mas não a única. Recorde-se que John Lee é, para já, o único candidato ao cargo ainda ocupado por Carrie Lam, que anunciou que não se recandidata. Segundo o canal de rádio e televisão RTHK, John Lee falou da importância de promulgar o artigo 23 como complemento à lei de segurança nacional de Pequim, já em vigor. Este disse ter o “dever constitucional” de o fazer, a fim de garantir que a região fique melhor preparada para “lidar com desafios futuros”. “Claro que a segurança nacional será uma área [prioritária], mas há outras, tal como a gestão de riscos, [a elaboração] de um plano de contingência, garantir que o nosso sistema fiscal seja capaz de enfrentar desafios e riscos. Então será feita uma análise às áreas com maior potencial de risco, a fim de garantir que estamos plenamente preparados para mitigar [os problemas] e agir bem caso sejamos atacados subitamente de diferentes áreas”, apontou. Recorde-se que a legislação do artigo 23 gerou protestos em Hong Kong, em 2003, sendo que o diploma nunca foi avante. Em 2020 a Assembleia Popular Nacional, em Pequim, aprovou para Hong Kong a lei de segurança nacional. Mesmo com este diploma, a Lei Básica de Hong Kong determina que o Conselho Legislativo (LegCo) local necessita legislar o artigo 23. Para John Lee, a estabilidade do território é um ponto fulcral. “Penso que será bom para todos [a legislação] para Hong Kong, porque qualquer aspecto que seja alvo de ataque e que não seja bem gerido claro que terá um efeito em outras áreas. Isto é feito em prol da estabilidade de Hong Kong. Sem isso, não vamos conseguir ter prosperidade.” Nomeações a caminho Na conferência de imprensa desta terça-feira John Lee revelou ainda ter visitado representantes de grupos políticos pró-Pequim na segunda-feira, onde disse que é necessário “levar a cabo uma melhor gestão de riscos para garantir a segurança e um ambiente estável em Hong Kong”, noticiou o canal RTHK. Tendo o apoio de Pequim, John Lee espera entregar até amanhã pelo menos 188 nomeações dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, pelo menos 15 dos cinco sectores representados neste órgão. Esta semana a equipa de campanha anunciou que já tinha nomeações suficientes, mas só amanhã será feita uma entrega formal dos documentos.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaHong Kong | John Lee anuncia candidatura ao cargo de Chefe do Executivo John Lee, secretário para a Segurança de Hong Kong demissionário, anunciou oficialmente no sábado a candidatura ao cargo de Chefe do Executivo, sendo que já reúne o número de assinaturas necessário para se candidatar. Segundo o jornal South China Morning Post, foram reunidas 200 nomeações que cobrem os cinco sectores representados no Comité Eleitoral que elege o Chefe do Executivo da RAEHK, sendo que a equipa que está a trabalhar na campanha espera atingir a fasquia das 500 nomeações até ao dia 8 de Maio, data das eleições. O canal de rádio e televisão RTHK noticiou ontem que John Lee pode apresentar um estilo de governação virado para os resultados práticos. Tam Yiu-chung, principal responsável pela campanha eleitoral, adiantou ontem que John Lee procura novas formas de resolver os problemas mais graves da região, tentando “equilibrar regras e objectivos, especialmente em grandes matérias como os cuidados de saúde e a habitação”. “Por exemplo, a habitação… tem sido um problema desde há muito tempo e não o podemos enfrentar porque o processo de encontrar terrenos e a construção [de casas] é demorado. Podemos rever isto? Os procedimentos são formulados pela estrutura dos serviços públicos, não são leis intocáveis”, adiantou Tam, que garantiu que a legislação pode ser alterada após as eleições. Recorde-se que o mandato de Carrie Lam ficou marcado pelos protestos que abalaram a cidade em 2019, seguindo-se a aplicação da lei de segurança nacional e agora a pandemia. O analista Sonny Lo já disse à Lusa que a candidatura de John Lee, como figura saída da área da Segurança e força policial, representa uma “grande preocupação ao nível da segurança” por parte de Pequim. John Lee apresentou a sua demissão no passado dia 7. Concordâncias O canal RTHK noticiou ainda que os deputados do Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong, Jeffrey Lam e Starry Lee, concordam com as promessas políticas feitas por John Lee. “Espero que as restrições de entrada e saída de pessoas de Hong Kong possam ser relaxadas [em breve], porque estamos a perder ou a começar a perder talentos, novos e velhos. Estão a mudar-se para Singapura, o nosso maior competidor”, disse Jeffrey Lam, que foi eleito pelo sector dos negócios e profissionais. Para Lam, o candidato ao cargo de Chefe do Executivo é uma pessoa “analítica que presta atenção aos detalhes, e que está disposto a ouvir as visões do sector comercial”. Por sua vez, Starry Lee também chamou a atenção para a importância de captar e manter os talentos no território, além de defender a entrada de pessoas com várias visões políticas para o futuro Governo. Para a responsável, quanto mais pessoas das forças de segurança estiverem envolvidas na governação de Hong Kong mais fácil será a aplicação da lei de segurança nacional.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Candidatos pró-Pequim dominaram eleições legislativas A Chefe do Executivo, Carrie Lam, mostrou-se satisfeita com o processo eleitoral, afirmando que a cidade retomou o rumo correcto de ‘um país, dois sistemas'” Os candidatos pró-Pequim dominaram as eleições legislativas de Hong Kong, derrotando moderados e independentes na primeira eleição depois de Pequim ter aprovado uma resolução para alterar as leis eleitorais no território. Os candidatos leais a Pequim ganharam a maioria dos lugares nas eleições de domingo depois de as leis terem sido alteradas para garantir que apenas “patriotas” pudessem dirigir a cidade. A líder de Hong Kong, Carrie Lam, disse durante uma conferência de imprensa ontem que estava “satisfeita” com as eleições, apesar de uma participação de 30,2 por cento dos eleitores – a mais baixa desde que os britânicos entregaram Hong Kong à China em 1997. A responsável disse que o número de eleitores registados atingiu 92,5 por cento, um recorde em comparação com as eleições de 2012 e 2016, quando cerca de 70 por cento dos eleitores se tinham registado. “Para os eleitores recenseados, decidirem se querem exercer os seus direitos de voto numa determinada eleição é inteiramente uma questão para eles próprios”, disse. Trabalho “excitante” Ao abrigo das novas leis, o número de legisladores eleitos directamente foi reduzido de 35 para 20, mas a legislatura foi alargada de 70 para 90 assentos. A maioria dos legisladores foi nomeada por órgãos em grande parte pró-Pequim, assegurando que estes constituíssem a maioria da legislatura. Todos os candidatos foram também avaliados por uma comissão antes de poderem ser nomeados. O campo da oposição criticou as eleições, com o maior partido pró-democracia, o Partido Democrata, a não apresentar candidatos pela primeira vez desde a transferência de soberania de 1997. Lam disse que espera que o trabalho com os 90 legisladores continue a ser “muito excitante” porque eles têm opiniões diferentes sobre muitas questões sociais. Espera-se que Lam viaje para Pequim para fornecer um relato completo sobre a mais recente situação política e económica em Hong Kong. “Espero cobrir uma vasta gama de questões sobre esta visita de serviço particular, porque através de dois actos muito decisivos das autoridades centrais, Hong Kong está agora de volta ao caminho certo de ‘um país, dois sistemas'”, afirmou.
Hoje Macau China / ÁsiaAPN | Li Keqiang promete “conter interferência estrangeira” em HK com reforma eleitoral O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, assegurou hoje que a China irá “conter resolutamente qualquer interferência estrangeira” em Hong Kong, numa altura em que Pequim discute a imposição de controlo reforçado dos candidatos às eleições legislativas no território. “A China irá melhorar os mecanismos relacionados com a implementação da Constituição e as leis básicas que regem a sua relação com Hong Kong”, de modo a “conter resolutamente qualquer interferência estrangeira e ajudar Hong Kong a melhorar a vida do seu povo”, disse Li, num discurso perante a Assembleia Nacional Popular (ANP), que arrancou hoje. A ANP iniciou hoje a sessão plenária anual, que se prolonga até quinta-feira, e tem em agenda a análise de um projecto de reforma eleitoral em Hong Kong, abrindo caminho à marginalização de candidatos pró-democracia na antiga colónia britânica. Nos termos do projecto de reforma apresentado hoje na ANP, um comité eleitoral pró-Pequim será responsável por analisar as candidaturas ao Conselho Legislativo (Legco). Nenhum candidato poderá concorrer às eleições sem o aval desta instância. O comité eleitoral terá por missão “eleger grande parte dos membros do Conselho Legislativo e participar diretamente na nomeação de todos os candidatos”, disse o vice-presidente do Comité Permanente da ANP, Wang Chen, segundo a agência France-Presse. Segundo a agência Xinhua, Wang Chen disse que o sistema eleitoral vigente em Hong Kong deveria estar de acordo com o princípio “um país, dois sistemas”, estar de acordo com as “realidades de Hong Kong” e “servir o princípio de ‘patriotas a administrar Hong Kong'”. Wang Chen frisou que “apenas quando o princípio ‘patriotas a administrar Hong Kong’ é observado é que as autoridades centrais podem implementar, de forma efectiva, a jurisdição em Hong Kong”. E só dessa forma é que “a ordem constitucional estabelecida pela Constituição e pela Lei Básica pode ser mantida de forma efectiva, e os vários problemas profundos existentes podem ser efectivamente resolvidos”, frisou. Só com esta reforma eleitoral, defendeu Chen, é que “Hong Kong pode atingir a estabilidade a longo prazo e dar os seus contributos para a realização do rejuvenescimento nacional”. “O sistema eleitoral em Hong Kong, incluindo os métodos de selecção do Chefe do Executivo e da formação do Conselho Legislativo, devem seguir estreitamente e reflectir totalmente o princípio político e os critérios da Administração de Hong Kong e pelas pessoas de Hong Kong com patriotas nos principais órgãos, providenciando garantias institucionais para este objectivo”, rematou. O Conselho Legislativo é actualmente composto por 70 deputados, metade dos quais eleitos por sufrágio directo e os restantes por um comité eleitoral pró-Pequim. Nas últimas semanas, funcionários chineses sugeriram uma reforma eleitoral para garantir que Hong Kong é governada por “patriotas”. Em Novembro de 2019, os candidatos pró-democracia nas eleições para os conselhos distritais da cidade obtiveram um resultado esmagador face ao campo pró-Pequim, assinalando o apoio da população aos protestos no território: conquistaram 87% dos assentos do Conselho Distrital e venceram em 17 dos 18 conselhos distritais, todos anteriormente sob controlo das forças pró-governamentais.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Meio milhão votou para candidatos às eleições pelos partidos pró-democracia [dropcap]M[/dropcap]ais de meio milhão de habitantes de Hong Kong, na China, participaram entre sábado e domingo nas primárias organizadas pelos partidos pró-democracia para nomear os seus candidatos às eleições parlamentares de Setembro, disseram os organizadores. A participação registada na votação não oficial foi elevada, apesar dos avisos das autoridades de que quem participasse poderia estar a violar a nova lei de segurança imposta por Pequim ao antigo território sob administração britânica. De acordo com os organizadores, no encerramento das urnas, às 21h00 de domingo, mais de 580.000 pessoas tinham votado nas 250 mesas de voto não oficiais, um número superior ao esperado pelos organizadores. “Sob ameaça da Lei de Segurança Nacional, quase 600.000 pessoas vieram e votaram – é aí que se vê a coragem do povo de Hong Kong”, insistiu um dos organizadores, o antigo deputado pró-democracia Au Nok-Hin. Dois dias antes, a polícia invadiu os escritórios de uma instituição envolvido na organização da votação. Os resultados das primárias são esperados esta segunda-feira à noite, após a contagem completa dos votos. Os candidatos nomeados concorrerão, nas eleições de Setembro, a lugares no LegCo, o Conselho Legislativo do território, com 70 membros. Na quinta-feira, Erick Tsang, responsável pelos assuntos constitucionais e continentais, avisou os que “organizam, planeiam e participam” nas primárias de que era provável que cometessem delitos ao abrigo da nova lei. “O povo de Hong Kong voltou a fazer milagres e disse ao mundo que o campo pró-democracia pode atrair tantas pessoas para votar”, sublinhou Au Nok-Hin. Pequim aprovou a 30 de Junho uma lei de segurança nacional imposta a Hong Kong para reprimir a subversão, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras, em resposta aos movimentos de protesto que tem visado o governo central daquele território semi-autónomo. Eleições transparentes A polícia invadiu o PORI (Public Opinion Research Institute), um instituto de sondagem independente, envolvido na organização da votação das primárias, na sexta-feira à noite. Segundo a polícia terão agido após terem recebido informações de que os computadores do PORI tinham sido violados, o que resultou na fuga ilegal de dados pessoais. As buscas suscitaram preocupação sobre a possibilidade de realização das primárias, mas o presidente do PORI, Robert Chung, disse no sábado que o sistema de votação era seguro e que as operações eram legais e transparentes. “As eleições primárias são uma abordagem pacífica, racional e não violenta para expressar a opinião pública”, concluiu. No sábado, milhares de pessoas já tinham feito fila ao calor do verão, fora das mesas de voto não oficiais, para votarem. “Quanto mais oprimido é o povo de Hong Kong, mais ele resiste”, disse então o ativista pró-democracia Benny Tai, professor de Direito e co-organizador das primárias, que estava a votar numa das 250 mesas de voto. De acordo com os organizadores, quando as mesas de voto fecharam no sábado, também às 21h00, 230.000 pessoas tinham votado, mais do que o esperado. E a votação continuou ao longo de todo o domingo.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Joshua Wong concorre ao conselho distrital em Novembro [dropcap]O[/dropcap] activista pró-democracia de Hong Kong Joshua Wong anunciou ontem que vai concorrer nas eleições do conselho distrital em Novembro e avisou que qualquer tentativa de desqualificá-lo apenas estimulará mais apoio aos protestos pró-democracia. O anúncio aconteceu antes da manifestação marcada para ontem, para assinalar o quinto aniversário do ‘movimento dos chapéus-de-chuvas amarelos’, quando várias ruas da cidade foram ocupadas por 79 dias pelos manifestantes que exigiam eleições livres, onde o activista alcançou fama como líder da juventude. Joshua Wong, de 22 anos, disse que vai concorrer nas eleições do conselho distrital em Novembro e que a votação é crucial para enviar uma mensagem a Pequim de que o povo está mais determinado do que nunca para vencer a batalha por mais direitos. “Há cinco anos dissemos que voltávamos e agora estamos de volta com uma determinação ainda mais forte”, disse em conferência de imprensa, adiantando que “a batalha a travar é a batalha pela nossa casa e pela nossa pátria” O activista, que tem sido repetidamente preso por causa da organização de manifestações consideradas ilegais, adiantou estar ciente de que pode ser desqualificado, até porque membros do partido Demosisto, que co-fundou em 2016, foram desqualificados no passado na corrida a cargos porque, segundo o activista, defendiam a autodeterminação. “Se eles me desqualificarem, isso gerará cada vez mais força … eles pagarão o preço”, ameaçou o activista que saiu da prisão no início deste mês depois de pagar a fiança.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Joshua Wong concorre ao conselho distrital em Novembro [dropcap]O[/dropcap] activista pró-democracia de Hong Kong Joshua Wong anunciou ontem que vai concorrer nas eleições do conselho distrital em Novembro e avisou que qualquer tentativa de desqualificá-lo apenas estimulará mais apoio aos protestos pró-democracia. O anúncio aconteceu antes da manifestação marcada para ontem, para assinalar o quinto aniversário do ‘movimento dos chapéus-de-chuvas amarelos’, quando várias ruas da cidade foram ocupadas por 79 dias pelos manifestantes que exigiam eleições livres, onde o activista alcançou fama como líder da juventude. Joshua Wong, de 22 anos, disse que vai concorrer nas eleições do conselho distrital em Novembro e que a votação é crucial para enviar uma mensagem a Pequim de que o povo está mais determinado do que nunca para vencer a batalha por mais direitos. “Há cinco anos dissemos que voltávamos e agora estamos de volta com uma determinação ainda mais forte”, disse em conferência de imprensa, adiantando que “a batalha a travar é a batalha pela nossa casa e pela nossa pátria” O activista, que tem sido repetidamente preso por causa da organização de manifestações consideradas ilegais, adiantou estar ciente de que pode ser desqualificado, até porque membros do partido Demosisto, que co-fundou em 2016, foram desqualificados no passado na corrida a cargos porque, segundo o activista, defendiam a autodeterminação. “Se eles me desqualificarem, isso gerará cada vez mais força … eles pagarão o preço”, ameaçou o activista que saiu da prisão no início deste mês depois de pagar a fiança.
João Santos Filipe China / Ásia MancheteHong Kong | Partido de Regina Ip sugere distribuição de 8 mil dólares aos residentes [dropcap]O[/dropcap] New People’s Party, partido pró-Governo de Hong Kong que tem como presidente a deputada Regina Ip, esteve reunida com o Governo da RAEHK e sugeriu a distribuição de um cheque pecuniário aos residentes de 8 mil dólares de Hong Kong. Segundo Regina Ip, citada pela imprensa local, apesar da Guerra Comercial a região de Hong Kong está em crescimento e tem capacidade para suportar uma medida que vai custar mais de 50 mil milhões de dólares aos cofres da região vizinha. Esta é uma medida sugerida a pensar nas eleições para os District Council, que ocorrem na RAEHK já em Novembro. Actualmente o New People’s Party tem 18 representantes nos District Council, mas o facto de ter sido um dos partidos que se envolveu no apoio à controversa Lei de Extradição poderá fazer com que saia penalizado nas próximas eleições. Além desta medida, o partido liderado por Regina Ip sugere várias outras iniciativas que vão pensar nos cofres da RAEHK, como aumento dos apoios às Pequenas e Médias Empresas, aumento do valor do Fundo para o Desenvolvimento da Ciência ou isenções fiscais. Nas últimas semanas o território de Hong Kong tem sido palco de várias manifestações depois de Carrie Lam ter tentado forçar a aprovação de uma lei que ia permitir a extradição para o Interior da China. No maior protesto contra a iniciativa, mais de 2 milhões de residentes de Hong Kong foram para as ruas.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições Hong Kong | Cenário de baixa afluência às urnas em Macau afastado No passado fim-de-semana, em Hong Kong, as eleições intercalares ficaram marcadas por uma redução de 15 por cento no número de votantes. Em Macau, Agnes Lam, José Sales Marques e Miguel de Senna Fernandes não acreditam que uma tendência semelhante se registe, mesmo que Sulu Sou seja expulso do cargo de deputado [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lém da derrota do campo pró-democrata, as eleições intercalares de Hong Kong para substituir os deputados expulsos do Conselho Legislativo ficaram marcadas por uma quebra na afluência às urnas. Nas eleições de 2016, a afluência tinha sido de 58 por cento do total de votantes, no entanto, no passado fim-de-semana apenas 43 por cento dos 2,1 milhões de eleitores se disponibilizaram para votar, o que representa uma quebra de 15 por cento. O campo pró-democrata foi o mais afectado com a proporção dos votos a cair de 55 para 47 por cento. Em Macau, o cenário da realização de eleições intercalares poderá ser uma possibilidade no futuro. O deputado Sulu Sou está suspenso para ser julgado pela alegada prática de um crime de desobediência qualificada, mas só se for declarado culpado e julgado com uma pena superior a 30 dias de prisão é que poderá ser expulso da Assembleia Legislativa. A decisão não é automática e terá de passar, novamente, pelos deputados do órgão legislativo. Sulu Sou vs. Localistas de HK Neste contexto, os especialistas ouvidos pelo HM consideram que em Macau não existe o risco de votantes desiludidos com o sistema deixarem de se deslocarem às urnas nas próximas eleições. No centro da argumentação está o facto de considerarem que o caso do pró-democrata Sulu Sou não tem comparação com os localistas da região vizinha. “As situações de Hong Kong e Macau são muito diferentes. As pessoas mais novas que desistiram do sistema em Hong Kong pertencem aos grupos radicais. São pessoas que viram os legisladores que apoiam expulsos do Conselho Legislativo”, disse a deputada Agnes Lam, ao HM. “É um problema dos localistas e não do campo pró-democrata de Hong Kong. Os mais novos, que são mais radicais face à China, são as pessoas que desistiram do sistema. Foi esse grupo de pessoas que andou a boicotar as eleições e a pedir a outros que não votassem. Não se trata de um problema do campo pró-democrata”, acrescentou. Por outro lado, a deputada moderada defende que em Macau os eleitores de Sulu Sou não deixaram de ser representados. Pelo menos enquanto o deputado ainda mantiver o estatuto, mesmo que de forma suspensa. “O deputado não foi expulso da Assembleia Legislativa. Ele está suspenso para ser julgado e depois vai regressar. Por isso não se pode dizer que os seus eleitores não estejam representados. Ele vai voltar e é uma questão de tempo”, considerou. “Talvez em Macau haja pessoas que pensem que o sistema não funciona. Mas se formos a ver a proporção da população que tem essa opinião, estamos a falar de um número que nem é representativo”, acrescentou. Comparações perigosas Por sua vez, José Sales Marques, antigo presidente do Leal Senado, recusa qualquer tipo de comparação, que define como “perigosas”. O agora presidente dos Instituto de Estudos Europeus vai mais longe e diz que os pró-democratas em Hong Kong estão a pagar o preço da sua irresponsabilidade, uma conduta que o campo pró-democrata local nunca teve, defende. “É extremamente perigoso e desnecessário fazer comparações entre Macau e Hong Kong. Na minha opinião não se devem fazer estas comparações, porque os democratas acabaram por ser penalizados pela sua atitude irresponsável em Hong Kong, uma atitude que nunca houve em Macau”, afirmou José Sales Marques, ao HM. “Foi uma atitude completamente irresponsável que não só prejudicou a evolução do sistema político em Hong Kong, como pode ter tido efeitos em eventuais evoluções do sistema político de Macau. Em Hong Kong, os democratas perderam porque se comportaram de forma irresponsável”, acusou. Sales Marques recusou que alguma vez Sulu Sou tivesse tido algum tipo de comportamento semelhante aos radicais de Hong Kong: “Até ao momento não vejo qualquer paralelo em Macau, inclusive na atitude do Sulu Sou. Não vejo paralelo com o território”, frisou. Eleitorado conhece as diferenças Para o antigo deputado e advogado Miguel de Senna Fernandes, os resultados em Hong Kong e a abstenção registada são uma punição para o campo pró-democrata, por ter demonstrado um comportamento “infantil” na altura do juramento. O advogado recusa a ideia que em Hong Kong a abstenção se tenha ficado a dever a uma descrença no sistema, mas antes à intenção de punir os pró-democratas. Por essa razão, Miguel de Senna Fernandes não acredita que o cenário se repita em Macau e faz questão de frisar que a conduta de Sulu Sou não pode ser comparada ao que acontece em Hong Kong. “Ele contesta de outra maneira. A Novo Macau mudou de estratégia e joga muito com a mentalidade política local, dentro do sistema. É uma estratégia em que o público se pode rever”, começou por dizer. “Mas não acredito que sejam situações comparáveis. Ele não fez nada que justificasse ser expulso imediatamente da posição de deputado, ao contrário dos outros catraios em Hong Kong. E o que ele fez, foi antes de ter sido eleito. As pessoas também sabem ver isso”, defendeu. Por último, Miguel de Senna Fernandes sublinha que mesmo que Sulu Sou seja expulso da Assembleia Legislativa, de acordo com os procedimentos legais, que poderá voltar a candidatar-se ao lugar. Um cenário que não se verificou em muitos dos casos em Hong Kong, devido à diferente natureza dos actos praticados. Assuntos superiores Em relação a explicações para a redução do número de votantes em Hong Kong, Agnes Lam recusa que se possa explicar apenas com o desencantamento com o sistema, da parte dos radicais. A deputado justifica que as pessoas estiveram mais interessadas no acompanhamento da Assembleia Popular Nacional e na questão da eliminação do limite de mandatos para o cargo de Presidente da República Popular da China. “Desta vez em Hong Kong houve um conjunto de factores que contribuiu para que a afluência fosse mais. A sociedade esteve a prestar mais atenção à eliminação do limite de mandatos do Presidente da China. Acho que foi o grande tópico, mesmo entre os órgãos de comunicação social”, disse. “Por outro lado, acho que não houve uma cobertura suficientemente profunda das eleições, mesmo nos órgãos de comunicação social de Hong Kong. Isso também pode ter contribuído para que menos gente tenha saído de casa”, apontou. Resultados das eleições em Hong Kong Ilha de Hong Kong Au Noh-hin (Pan-Democrata) 50,7% Eleito Judy Chan (Pró-Pequim) 47,2% Moderados e outros 2,1% Taxa de Participação 43,8% Novos Territórios Este Gary Fan (Pan-Democrata) 44,6% Eleito Bill Tang (Pró-Pequim) 37,1% Christine Fong (Poder Profissional) 15,7% Taxa de Participação 44,3% Kowloon Oeste Edward Yiu (Pan-Democrata) 48,8% Vincent Cheng (Pró-Pequim) 49,9% Eleito Moderados e outros 1,3% Taxa de Participação 42,1% Circulo de Arquitectura, Topografia, Planeamento e Paisagem Tony Tse (Sem filiação) 55,54% Eleito Paulus Zimmerman (Independente) 44,46% Taxa de Participação 70,7%
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteHong Kong | Carrie Lam eleita Chefe do Executivo com 777 votos O discurso de vitória foi feito em prol da união de uma sociedade considerada dividida. Carrie Lam, ex-número dois do Governo de CY Leung, toma posse como Chefe do Executivo de Hong Kong dia 1 de Julho. Dois jovens residentes falam das suas expectativas sobre o novo Executivo [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m total de 777 votos, oriundos de um colégio eleitoral com 1194 membros, bastaram para eleger a Chefe do Executivo de um território com cerca de sete milhões de habitantes. Carrie Lam, antiga número dois do Governo de CY Leung, em Hong Kong, já era considerada favorita para vencer as eleições de ontem. Para trás ficaram John Tsang, ex-secretário para as Finanças, que obteve 365 votos, e Woo Kwok-hing, juiz jubilado, com apenas 21 votos. Ainda assim, houve ecos de contestação. Anunciada a vitória de Lam, um grupo de activistas pró-democracia, munidos de cartazes e guarda-chuva amarelos, deu uma volta à sala a entoar palavras de ordem a exigir o sufrágio universal. Mais protestos ocorreram em Hong Kong no dia anterior às eleições. Centenas de pessoas manifestaram-se no sábado “em prol do sufrágio universal e contra a interferência de Pequim”. “Seja qual for o candidato que seja eleito, isto não é democracia, isto é apenas uma eleição [feita] por um pequeno círculo”, disse Au Nok-hin, coordenador da Frente dos Direitos Humanos e Cívicos, que organizou o protesto, em referência ao facto de o direito de voto estar restrito a um comité eleitoral composto por cerca de 1.200 pessoas. A manifestação juntou vários partidos políticos do campo pró-democrata, que estava dividido entre o voto em John Tsang e o voto em branco, como sinal de protesto pela ausência de sufrágio universal. Alan Leong, líder do Civic Party, marcou presença na manifestação “para protestar contra a interferência do Governo Central na eleição do chefe do Executivo de Hong Kong”. “Esta eleição está dentro [das competências] da autonomia de Hong Kong e o Gabinete de Ligação [do Governo Central da China] tem usado meios (…) para aumentar a pressão sobre os membros do comité eleitoral para votarem em Carrie Lam”, disse à agência Lusa. O jovem activista político Joshua Wong, que ficou conhecido como o rosto da revolução dos guarda-chuvas, não tem direito de voto na eleição do Chefe do Executivo, mas se tivesse também votava em branco. “Os três candidatos concordam ou mantêm silêncio sobre a interferência do governo de Hong Kong e também concordam com a implementação do artigo 23, por isso é difícil para nós apoiar qualquer um dos candidatos pró-China”, disse. União sim, democracia depois Carrie Lam escondeu do seu discurso a questão da reforma democrática, tendo defendido outras prioridades. “Hong Kong, a nossa casa, está a sofrer uma grave divisão e acumulou muitas frustrações. A minha prioridade vai ser sarar a divisão, aliviar a frustração, e unir a nossa sociedade para seguir em frente.” “Muita gente (…) disse-me que estava agora preocupada, porque Hong Kong parece estar a perder a competitividade”, disse ainda, falando da existência de “muitos problemas” ao nível da habitação, educação e saúde. “A minha prioridade é tentar demonstrar que podemos unir as pessoas com posições diferentes para seguir em frente e, com o ambiente propício, recomeçar o processo de reforma política”, afirmou. Que futuro? Firmino da Silva Khan é macaense mas desde criança que vive em Hong Kong. Em entrevista por email horas antes das eleições, o jovem empreendedor afirma que o futuro não será muito diferente face à era CY Leung. “Independentemente daquele que será o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong o futuro será o mesmo, a não ser que alguém esteja disposto a ir contra os desejos da República Popular da China.” Firmino da Silva Khan explica a antipatia que muitos cidadãos sentem pela recém-eleita Chefe do Executivo. “Admito que Carrie Lam irá provavelmente acelerar o processo de morte da democracia em Hong Kong. Fez parte da Administração 689 (número de votos que elegeu CY Leung em 2012). É também bastante pró-República Popular da China. Estes dois factores fazem com que seja ainda mais odiada. É também hipócrita, pois, por um lado, diz que quer comunicar mais com as gerações mais jovens, mas por outro lado critica essa mesma geração pelas suas acções e recusa responder a várias questões”, acrescentou o jovem. John Tsang poderia receber mais apoio dos que têm menos de 30 anos, mas, ainda assim, faltava algo. “Muitos apoiaram John Tsang e muitas pessoas próximas de mim me falaram dele nos últimos dias antes das eleições”, explicou Firmino da Silva Khan. “Não havia um apoio forte, mas as pessoas odeiam tanto Carrie Lam que não lhes restava outra alternativa se não apoiar Tsang. Foi um candidato mais amigável e aberto, disposto a fazer um esforço de ligação das pessoas, sobretudo das gerações mais jovens”, acrescentou. Tâmara Liu Ying Ying, que está a realizar o estágio em advocacia, diz não estar certa se “Carrie Lam é verdadeiramente odiada pela população”. “As pessoas da minha idade e do meu circulo de amigos preferiam John Tsang, porque fez uma boa campanha e foi um dos que serviu o Governo por um longo período de tempo e, ainda assim, recebe apoio tanto dos democratas como de alguns apoiantes de Pequim. Seria o único a conseguir unir a sociedade nesta altura”, explica a jovem advogada. Para Tâmara Liu Ying Ying, caso o sufrágio universal já estivesse implementado, os resultados eleitorais teriam sido bem diferentes. “Esse sistema seria melhor do que aquele que temos actualmente. Caso essa reforma política estivesse já implementada, John Tsang teria recebido mais votos.” Amada ou odiada, a escolha está feita. Para a estagiária em advocacia Carrie Lam tem, acima de tudo, experiência governativa. “Ela fez parte do Governo (desde a sua graduação na Universidade de Hong Kong) e penso que será uma Chefe do Executivo bastante capaz. Penso até que estará mais disposta a ouvir os democratas do que CY Leung, já que, por exemplo, convidou todos os partidos para um jantar na residência oficial para discutir a questão da reforma política, há uns anos”, concluiu. Em comunicado, Chui Sai On, Chefe do Executivo de Macau, deu os parabéns pela vitória de Carrie Lam. “Estou certo de que, com base nos bons fundamentos de cooperação já existentes, os dois Governos devem dar as mãos e continuar a aprofundar as relações amigáveis, inclusive para incrementar a eficácia.”
Isabel Castro China / Ásia MancheteHong Kong | Carrie Lam é a favorita das eleições de domingo Vinte anos depois da transferência de soberania, Hong Kong deverá passar a ser liderado por uma mulher. Dos três candidatos às eleições para o Chefe do Executivo, Carrie Lam é a mais forte, apesar de ser a menos popular. Para este sufrágio, pouco interessa se o povo gosta ou não. Já depois, a história pode ser outra [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap[á saberá o que diz. Esta semana, o magnata Li Ka-shing resumia, em declarações aos jornalistas, o que vai acontecer no próximo domingo: quando chega a hora de escolher o Chefe do Executivo, “o candidato que detém a confiança do Governo Central derrota o candidato mais popular”. Sem revelar expressamente o sentido de voto, o milionário deu a entender que vai votar na antiga secretária-chefe Carrie Lam. Tudo aponta que seja a escolha de Pequim, apesar de, nos exercícios de auscultação dos desejos populares, o ex-secretário para as Finanças John Tsang ser bastante mais popular. Acontece que, à semelhança de Macau – ou, para sermos mais rigorosos, em sentido inverso, porque o método foi inventado para Hong Kong e depois copiado para Macau –, o Chefe do Executivo da região vizinha é escolhido por um reduzido número de eleitores. O colégio que, a 26 de Março, vai escolher o sucessor de C.Y. Leung reúne apenas 1194 pessoas. São representantes de grupos de interesses e, na maioria, são pró-regime. O sufrágio deste ano é acompanhado com particular interesse pelos analistas políticos. É o primeiro desde os grandes protestos de 2014 a favor da reforma do sistema, um movimento que deu em coisa nenhuma. E acontece numa altura em que Hong Kong passou a ter, assumidamente, defensores da independência em relação à China. Além de Carrie Lam e de John Tsang, na corrida está também Woo Kwok-hing, um magistrado de 71 anos, independente, um homem que apareceu sem que ninguém estivesse à espera e que deverá inscrever o seu nome na história política da região apenas por ter sido candidato. Não tem hipóteses de sair vencedor mas, ainda assim, salienta o politólogo Éric Sautedé, foi o único a apresentar um programa político verdadeiramente diferente. A vantagem dos 49 por cento Os últimos dias não têm sido fáceis para a Carrie Lam. “Têm corrido rumores de que a Comissão Independente contra a Corrupção está a levar a cabo uma investigação. Terá havido uma denúncia de que tem residência no Reino Unido, uma vez que o marido é britânico, o que poderia invalidar a candidatura”, contextualiza Éric Sautedé. O politólogo francês a viver em Hong Kong não acredita que tal venha a acontecer, até porque “Lam não tem passaporte do Reino Unido”, pelo que acredita que a ex-secretária-chefe sairá vencedora da corrida. Porém, o facto não deixa de marcar a recta final da campanha. Vista como uma mulher fria e determinada, Carrie Lam foi alvo de duras críticas por parte dos seus adversários recentes. John Tsang e Woo Kwok-hing disseram esta semana que “age como um ditador”. Tsang, antigo colega de Lam na equipa de C.Y. Leung, entende que é preciso mantê-la “bem-disposta” caso seja eleita. “É preciso ter a certeza de que actua de forma benigna.” Na apresentação da candidatura, do universo de quase 1200 eleitores, 580 estiveram ao lado da antiga secretária-chefe. É ela a que conta, em teoria, com mais apoiantes entre aqueles que efectivamente decidem. São 49 por cento contra os 15 por cento de Woo Kwok-hing e os modestos 14 por cento de John Tsang. “Existem rumores de que Carrie Lam teria ainda mais membros da comissão eleitoral a apoiá-la, mas que os terá deixado de lado para tentar mostrar que se trata de uma verdadeira eleição, de que pode ser desafiada”, conta Sautedé. “Se apresentasse mais de 600 apoios pareceria muito mal, porque o assunto estaria arrumado.” Pringles e ‘selfies’ Conhecido como “Uncle Pringles”, por se assemelhar ao ícone das batatas fritas desta marca, John Tsang não deverá ser eleito no próximo domingo, mas há uma batalha de que já saiu vencedor: é o mais popular dos candidatos nas sondagens e estudos que foram sendo feitos. Apesar de ser do mesmo quadrante político de Carrie Lam, tem uma imagem mais suave, em linha com a geração mais nova. A questão é mesmo quem vota. Éric Sautedé salienta que a maioria dos apoios dados à candidatura do ex-secretário para as Finanças é proveniente do campo pró-democrata. No início desta semana, os membros pró-democracia do colégio eleitoral prometeram dar 290 votos a John Tsang. “Todas as declarações dos independentes e pró-democratas a favor de Tsang tiveram impacto junto da população. Fez uma campanha mais virada para as pessoas comuns. Tirou ‘selfies’ com toda a gente. Não há um equivalente para Carrie Lam.” Para a popularidade do ex-secretário para as Finanças conta ainda o facto de ter feito promessas em que parece atender às exigências dos residentes. Há quem entenda que a forma como John Tsang tem sido acolhido poderá ser contraproducente para Carrie Lam. Tal não influenciará a votação, mas poderá “causar alguma tensão”, concorda Sautedé. “Mas, feitas as contas, é como diz Li Ka-shing: ganha quem tem mais importância, não o mais popular. E, afinal, os dois candidatos são muito próximos. Não tenho a ilusão de que existam diferenças substanciais entre eles. Tudo o que fizerem, um ou outro, será altamente constrangido pelas pessoas que votaram neles.” Para o analista, uma coisa é, no entanto, certa: Carrie Lam, a ser eleita, será alvo de um escrutínio muito maior. É aí que a popularidade – ou a falta dela – passa a ser um factor relevante. Edmund Cheng, analista político e professor da Universidade Baptista de Hong Kong, partilha do mesmo entendimento, até porque há já uma certa tradição entre popularidade e escolha do vencedor. “Passa a ser um maior desafio para um governante ter de lidar com a falta de apoio popular.” O que vem do Norte À semelhança de Éric Sautedé, também Edmund Cheng encontra mais semelhanças do que diferenças entre os dois candidatos mais bem posicionados, a começar pelo facto de serem ambos funcionários públicos há mais de 30 anos. “Mas, ainda assim, existem diferenças”, ressalva. “Porque é que Tsang é tão popular? Parece ter capacidade e vontade de estabelecer uma relação de proximidade com a população. Acredita que o maior problema de Hong Kong é político e que é preciso reduzir as diferenças sociais numa sociedade muito polarizada.” Já Carrie Lam demonstra acreditar que, ao resolver os problemas do quotidiano, conseguirá minimizar as reivindicações de natureza política. O ex-secretário para as Finanças, continua o professor universitário, não terá o apoio do Gabinete de Ligação do Governo Central, o que, “para muitas pessoas de Hong Kong, é uma vantagem, porque significa que pode proteger a autonomia da região”. Edmund Cheng salienta que um dos principais problemas da antiga colónia britânica é “o aparente controlo excessivo” da representação de Pequim, “em todas as questões políticas e sociais”. Carrie Lam, por seu turno, “deverá beneficiar em muito do apoio do Gabinete de Ligação”, no que diz respeito ao número de eleitores que vão depositar nela a tarefa de governar Hong Kong. “Mas quando for eleita, terá de ouvir o que o Gabinete e isso preocupa a população.” As preocupações da população não deverão influenciar o sentido de voto de homens como Li Ka-shing. Mas se, por hipótese académica, houver uma segunda volta, John Tsang deverá poder contar com os votos dos eleitores de Woo Kwok-hing, uma vez que o magistrado já prometeu apoio incondicional ao antigo secretário para as Finanças. Os analistas não acreditam que Tsang tenha uma segunda oportunidade. Carrie Lam já deverá ter alinhavado o discurso da vitória. Não tem popularidade, mas tem poder.