Educação Sexual | Deputado questiona eficácia do ensino

O deputado Ma Io Fong está preocupado com a ineficácia do ensino da Educação Sexual nas escolas, e quer saber quais os planos do Governo para inverter esta situação. De acordo com um estudo recente, citado numa interpelação do deputado, uma pequena proporção dos jovens teve vários parceiros sexuais ou iniciou a vida sexual “prematuramente”, o que foi considerado alarmante pelo legislador.

Ma mostrou-se igualmente preocupado com as conclusões que indicam que cerca de 16 por cento dos jovens locais tem pouco conhecimento sobre a sexualidade, 60 por cento utiliza a Internet como ferramenta principal para esclarecer as dúvidas, e que a maioria considera que a educação sexual nas escolas é inconsequente.

Face às conclusões do estudo, o deputado da Associação Geral das Mulheres quer saber o que vai ser feito para que a educação sexual forneça aos alunos conhecimentos básicos sobre a sexualidade. Uma das questões levantadas foca mesmo a necessidade de saber se o Governo está preparado para desenvolver novos materiais de ensino, face ao actuais considerados desadequados.

No que diz respeito ainda às aulas sobre a educação sexual, Ma quer ainda saber se o Executivo tem planos para criar um currículo uniformizado, com uma tabela dos conhecimentos a serem adquiridos de acordo com as diferentes idades.

Por último, o deputado questiona tambén se existem planos da Direcção de Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude para realizar mais seminários sobre educação sexual a pensar nos jovens e na forma de corrigir o que diz serem “comportamentos sexuais desviantes”.

14 Fev 2022

Educação sexual | DSEDJ não aborda homossexualidade

Os Serviços de Educação afirmaram ao HM que a criação de valor sexual e de consciência de género correctas passa por ensinar os alunos a aceitarem as diferenças entre os dois sexos e a construir relações humanas saudáveis. A Comissão da Luta contra a Sida apontou que o aumento de infecções por HIV resultantes de contacto homossexual é uma tendência que “não pode ser ignorada”

 

Sem fazer referência ao tema da homossexualidade, a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) afirmou que a formação de valores sexuais e da consciência de género correctas passa por ensinar os jovens a aceitar as diferenças entre sexos, a aceitarem-se a si próprios e a construir relações humanas saudáveis.

A resposta vem no seguimento da apresentação feita pelo organismo, aquando da 1.ª reunião de trabalho da Comissão de Luta Contra a Sida, realizada a 22 de Julho em articulação com os Serviços de Saúde (SSM) e o Instituto de Acção Social (IAS).

Na ocasião, o director dos SSM, Alvis Lo Iek Lo, apontou que o “acréscimo de casos de infecção por contacto do mesmo sexo” é uma tendência que “não pode ser ignorada”. Por seu turno, Chan Ngai Hong, chefe do Centro de Educação Moral da DSEDJ afirmou que, tendo em vista a promoção da educação sexual, foram realizadas actividades pedagógicas preventivas, que tinham como objectivo “apoiar os alunos a criar valor sexual e consciência de género correctos”.

Questionada, neste contexto, sobre o significado da criação de uma “consciência de género correcta”, a DSEDJ respondeu assim:

“Em articulação com as necessidades de trabalho da Comissão de Luta Contra a Sida, compete à DSEDJ promover e fiscalizar o trabalho relativo à saúde sexual dos jovens. A DSEDJ apresentou, principalmente, os trabalhos relativos à formação dos valores sexuais e da consciência de género nos alunos, cujo conteúdo envolve ensinar aos alunos como construir uma relação humana saudável, aceitar as diferenças entre os dois sexos e o respeito mútuo, compreender as mudanças físicas e psicológicas, aceitar-se a si próprios e respeitar as mudanças dos outros durante o seu crescimento, etc.”, pode ler-se numa nota enviada ao HM.

No âmbito da educação para a prevenção da Sida, a DSEDJ assegurou ainda ter promovido acções para passar aos alunos, “conhecimento sobre a transmissão da Sida, como cuidar dos pacientes com esta doença, como recusar o preconceito e a discriminação”.

Em alerta

Recorde-se que das 34 infecções por HIV registadas entre residentes de Macau até Junho de 2021, 23 foram causadas por contacto homossexual ou entre pessoas transgénero.

A estatística revelada pela secretária-geral da Comissão de Luta contra a Sida, Leong Iek Hou, aquando da 1.ª reunião de trabalho de 2021 do organismo, contabiliza ainda que, dos 34 casos registados entre Janeiro e Junho deste ano, 29 dizem respeito a homens e cinco são mulheres.

Apesar de Macau ser uma região de baixa incidência, Alvis Lo afirmou que face à tendência crescente de infecções por HIV resultantes de contactos homossexuais, os SSM vão alargar os serviços de prevenção e controlo da Sida a este grupo.

12 Ago 2021

Wong Kit Cheng, deputada, sobre educação sexual: “Valores éticos são elementos do amor completo”

No dia 17 de Janeiro, a Associação Geral das Mulheres de Macau divulgou um comunicado a dar conta de uma palestra ministrada por Wong Kit Cheng a alunos da Escola Keang Peng educação sexual. A deputada terá alertado para os riscos de iniciar a vida sexual antes do casamento, citando as penas para os crimes de aborto e violação. Como o comunicado em questão deixou muitas dúvidas, o HM falou com Wong Kit Cheng

 

No seu entender, quais são as consequências do sexo antes do casamento?

Durante aquela palestra quisemos transmitir aos alunos as mensagens correctas. Não, propriamente, especificando se podem ou não fazer sexo antes do casamento. A ideia foi explicar que duas pessoas de sexos diferentes, que tenham curiosidade para iniciar a vida sexual, devem ter vários aspectos em consideração. Por exemplo, de acordo com a lei, ter relações sexuais com menores de 14 anos é crime. Tentei explicar as leis e a responsabilidade penal de quem a violar o respeito numa relação entre pessoas de sexos diferentes. Além disso, procurei passar a mensagem de que um jovem deve respeitar o seu próprio corpo e o corpo de outra pessoa. Por outro lado, também tentei passar o conhecimento sobre formas de fazer sexo seguro, alertando para as consequências de doenças sexualmente transmissíveis e para a importância da contracepção.

Mas consenso científico indica que o ensino da abstinência é contraproducente na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez adolescente.

A educação sexual deve ensinar o que é o sexo, sobre o acto em si, mas também sobre as consequências sociais, judiciais e a responsabilidade que implica, como expliquei na palestra. Quero esclarecer que não quero incentivar nem opor-me ao sexo, que é uma necessidade básica do ser humano. Não incentivamos, nem proibimos. Não faço comentários a estudos sobre abstinência. A ideia que quis passar é que as doenças sexualmente transmissíveis, como a SIDA, devem ser prevenidas através da prática do sexo seguro

Na palestra referiu termos como “correcção nos relacionamentos” e respeito por valores éticos. O que querem dizer, neste contexto?

Referimo-nos a materiais didácticos sobre educação sexual, que defende a ideia de amor completo, ou seja, da relação física que é desenvolvida através do carinho, da responsabilidade, respeito e conhecimento. Este amor inclui paixão, intimidade e compromisso que constroem um equilíbrio, só assim podemos expressar o amor real. Os valores éticos são elementos de construção do amor completo ou responsável.

Acha apropriado falar de crimes sexuais numa palestra sobre educação sexual?

Não vejo conflito em passar conhecimento sobre leis no contexto de educação sexual, de explicar as penas para quem comete crimes. Claro que as explicações legais devem ser dadas num capítulo específico, mas na educação sexual é importante para os jovens terem consciência de que se devem proteger, que devem recusar algumas acções e denunciar com coragem actos criminais. Por exemplo, se um menor for tocado nas partes íntimas ou no órgão sexual, o agressor cometeu importunação sexual. Se os alunos não souberem que isto constitui crime, é difícil alertar as autoridades. Além disso, a relação sexual pode resultar em gravidez, por isso é importante explicar que o aborto em Macau é ilegal, apesar de existirem locais onde se pode interromper a gravidez. Acho importante que os jovens tenham conhecimento das leis e das penalizações e da ilegalidade em que operam estas unidades médicas.

Acha que a lei que proíbe o aborto devia ser alterada, ou incluir excepções à ilegalidade?

Não sei porque me pergunta isto. Apenas partilhei com os alunos as leis actuais, que estabelecem a ilegalidade do aborto.

Educação sexual | Psicólogo critica abordagem seguida nas escolas

Com casos de abuso sexual de menores a disparar, as escolas de Macau apostam na educação sexual. Resta saber se os métodos e os conceitos utilizados estão adequados ao problema, na era do Youtube

“A educação sexual nas escolas em Macau falha por completo. A abordagem da educação sexual em Macau é feita com um intuito mais punitivo do que pedagógico e é o primeiro passo para as coisas não correrem tão bem”, comenta ao HM o psicólogo com experiência na área da educação Pedro de Senna Fernandes.

O especialista adianta mesmo que não sabe se Macau estará preparado para um tipo de programa pedagógico caracterizado pela abertura que estes temas exigem.

“Se começamos por impor um processo punitivo naturalmente que todas estas questões, quando são dadas, são absorvidas de uma forma mais amedrontada. A Organização Mundial de Saúde define a sexualidade como uma energia que nos motiva. Quando falamos da passagem para a adolescência desenvolve-se de um centro de prazer mais exponencial do que o centro do controlo da razão”, aponta Pedro de Senna Fernandes.

O psicólogo refere que o abuso sexual na China é muito elevado e que o país não tem uma cultura virada para a sexualidade, mas “tem antes uma cultura de muita repressão para aquilo que é a sexualidade”. O especialista considera que Macau pode seguir este modelo por arrasto.

Em relação à influência de deputados e outros actores sociais, Pedro de Senna Fernandes alerta para a inevitabilidade de existirem comportamentos sexuais que vão “contra a moral social dos legisladores de Macau”.

“Mantém-se de forma escondida e a resposta da sociedade em vez de ser pedagógica vai ser fortemente punitiva”.
O psicólogo entende que pode ser perigoso equivaler aquilo que deriva da lei, que pode ser muito conservadora e assentar mais em repressão, a algo “que representa uma evolução do ser humano, que é uma boa sexualidade, uma boa aceitação do nosso corpo e do nosso eu”.

Casos de pedofilia em alta

O número de crimes de abuso sexual de crianças disparou no ano passado. De acordo com os dados mais recentes do gabinete do secretário para a Segurança, recentes aos primeiros nove meses de 2020, registou-se uma subida de 63,6 por cento, a maioria dos casos ocorreram nas escolas ou em ambiente familiar.

As autoridades do território registaram também um aumento nos casos referentes a “pornografia de menor”, tendo resolvido cerca de 60 casos através dos mecanismos de cooperação com vários países e regiões.

Não é, portanto, que o assunto seja amplamente discutido nas esferas políticas e executiva.
Além dos pedidos de vários deputados, incluindo Lei Chan U, para incluir nas aulas de educação sexual informação sobre abusos sexuais, o próprio Governo considera essa uma via para contornar o problema.

Na sequência de um caso suspeito de abuso sexual na Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, no Fai Chi Kei, o Governo afirmou ser necessário prevenir e educar encarregados de educação, alunos e professores através da promoção da educação sexual a vários níveis.

Em resposta ao HM, aquando deste caso em Junho do ano passado, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) referiu pretender criar um “ambiente de difusão da educação sexual, de forma a promover o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens, dos seus conhecimentos e da sua capacidade de autoprotecção neste âmbito.”

29 Jan 2021

Associação das Mulheres pede mais educação sexual para crianças

A Associação Geral das Mulheres de Macau reagiu ontem à notícia de dois casos de violação de menores e pediu ao Governo que aposte na educação sexual das crianças de forma a prevenir mais casos de violência sexual

 

[dropcap]A[/dropcap] coordenadora do Centro de Apoio à Família “Alegria em Abundância”, Chu Oi Lei, da Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM), expressou ontem, em declarações ao Jornal do Cidadão, a sua preocupação com os casos de abuso sexual recentemente ocorridos. A responsável espera que o Governo aumente no futuro a divulgação e promoção da educação sexual, criticando igualmente os pais, que devem prestar mais atenção aos filhos e ensiná-los a desenvolver uma consciência de auto-protecção.

Chu Oi Lei acredita que o abuso sexual causa danos irreversíveis às crianças e tem um profundo impacto no desenvolvimento mental. A mesma mencionou que a Associação tem uma série de cursos de educação sexual para crianças e para pais, com vista a reforçar a consciencialização destes para o perigo. Mas o Governo deverá realizar mais acções de sensibilização, destinadas a crianças, jovens e pais de diferentes idades, informando como se deve proceder para pedir auxílio e para garantir a auto-protecção quando existirem situações de violência, defende a coordenadora.

Resto a dirigente associativa defende que cabe às autoridades públicas assegurar mais serviços sociais de acompanhamento às vítimas. A representante da AGMM recordava ontem a recente notícia de dois casos sucessivos de abuso sexual, envolvendo meninas de seis anos de idade: um com uma criança que, à chegada da escola, utilizou a casa de banho do escritório de administração do edifício onde habitava, tendo sido violada por um trabalhador de limpeza não residente; outro com uma criança que foi abusada pelo próprio pai, encontrando-se este desempregado e, alegadamente, embriagado.

De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), no ano passado, houve um total de 33 casos de violação sexual envolvendo menores de 16 anos de idade, número que está a aumentar. Além disso, acredita-se que o local de abuso sexual infantil tem quase sempre incidência em ambientes com os quais os menores estão familiarizados. A maioria dos criminosos também são familiares ou conhecidos, o que dificulta o estado de alerta por parte das crianças.

Suspeitos já detidos

A Polícia Judiciária comunicou, esta segunda-feira, a ocorrência dos dois casos de violação, actualmente sob investigação. O primeiro caso foi o da criança abusada pelo pai enquanto dormia, após uma denúncia da progenitora na última sexta-feira, em resultado do relato da filha que revelou sentir dores e acabou por confessar o sucedido.

Segundo o jornal em língua inglesa, The Macau Post Daily, a vítima foi conduzida pelas autoridades ao hospital, para fazer um exame médico, revelando a existência de provas físicas de violação sexual. O pai da menina, ao tomar conhecimento da denúncia, tentou fugir do território pelas Portas do Cerco ao final do dia, mas acabou por ser interceptado pela PJ. O indivíduo foi, entretanto, transferido para o Ministério Público, onde aguarda investigação, devendo enfrentar uma acusação de violação, que pode ir de 3 a 12 anos segundo o Código Penal de Macau, com pena agravada já que a vítima tem menos de 16 anos e é descendente em linha directa do agressor.

Entretanto, a Polícia Judiciária deteve também, este domingo, um trabalhador não-residente acusado de abusar sexualmente de outra criança de seis anos, na casa de banho de um prédio onde esta habitava e aquele prestava serviços de limpeza. O infractor, oriundo da China, trabalhava ilegalmente desde Março de 2017 no território. A vítima, que à chegada da escola procurou de urgência a casa-de-banho da portaria do prédio, acabou por ser agredida num momento em que o porteiro se ausentou do local e o infractor aproveitou para arrombar a porta.

A criança tentou defender-se em vão do atacante, segundo a PJ, mas só viria a revelar o sucedido aos pais no domingo à tarde, que imediatamente denunciaram o caso às autoridades.

O suspeito foi entregue ao Ministério Público, e está a aguardar investigação, podendo vir a cumprir pena de prisão de 16 anos.

3 Jul 2019

Educação Sexual | DSEJ afasta a criação de disciplina escolar

[dropcap]O[/dropcap] director dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pak Sang, considera que não deve existir uma disciplina independente dedicada à educação sexual.

De acordo com o Jornal Ou Mun, o responsável justificou a decisão por se tratar de uma matéria em que estão envolvidos conhecimentos de várias áreas. Lou Pak Sang acrescentou que a DSEJ elaborou quatro materiais auxiliares para a abordagem da educação sexual que estão a ser adoptados por 90 por cento das escolas.

3 Dez 2018

Educação sexual | DSEJ distribui panfletos aos pais até final deste ano

 

Depois das polémicas declarações da sua sub-directora, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude prepara-se para lançar novos panfletos de educação sexual dirigidos aos pais até finais deste ano. Christiana Ieong, directora do Zonta Clube de Macau, entende que os métodos de contracepção devem ser abordados nos currículos

 

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]han Ngai Hong, director do Centro de Educação Moral da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), revelou ontem, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau, que até finais deste ano serão distribuídos panfletos sobre educação sexual destinados aos pais de estudantes com menos de 18 anos.
A ideia é que as famílias possam debater as mudanças que o corpo dos adolescentes sofrem até chegar à idade adulta, incluindo questões ligadas às relações amorosas e casamento.
Chan Ngai Hong adiantou também que a disciplina de educação sexual nas escolas tem sido desenvolvida nos últimos tempos, nomeadamente através da realização de vários workshops com famílias, além de palestras e transmissão de vídeos sobre o assunto.
No que diz respeito ao aconselhamento prestado aos alunos, o responsável da DSEJ frisou que, nos anos 80, eram poucos os profissionais disponíveis, mas que esse número já ultrapassou a fasquia das 220 pessoas. O trabalho foca-se nos alunos do ensino básico, recorrente e especial.
Leong Vai Kei, sub-directora da DSEJ, disse na passada quinta-feira que a educação sexual nas escolas iria promover o sexo só depois do casamento, pois “na sociedade é assim que se pensa”. “É também uma questão de ética. Em Macau, a maioria da população é chinesa. Em cada país ou região, há uma idade para o casamento. Em Macau, são 18 anos. Todas as pessoas acham que a prática sexual deve ser feita depois do casamento”, acrescentou.
À margem de um evento público, Leong Vai Kei referiu que os alunos com uma orientação sexual diferente seriam encaminhados para aconselhamento. Isto apesar de a Organização Mundial de Saúde ter deixado de considerar a homossexualidade uma doença em 1990. Ontem, a sub-directora da DSEJ frisou que tudo não passou de um “mal-entendido”.
“O que eu disse foi que se os alunos precisarem de ajuda avançada, podemos transferi-los para profissionais. Se tiverem uma situação grave e acharmos que precisam de um psicólogo clínico podemos transferi-los [para esses profissionais]. Quero esclarecer isto”, referiu.

Zonta contra DSEJ

Contactada pelo HM, Christiana Ieong, presidente do Zonta Clube de Macau, associação ligada aos direitos das mulheres, mostrou-se contra a posição assumida pela DSEJ. Para Christiana Ieong, é mais importante ensinar os adolescentes quanto às consequências negativas de não usar métodos contraceptivos.
“Estou mais preocupada com a idade em que os alunos iniciam a sua vida sexual, e estes têm de saber que uma gravidez na adolescência traz consequências para o futuro. Já visitei o Centro do Bom Pastor e conheci muitas adolescentes grávidas, e isso afectou as raparigas e os rapazes. Não discordo do sexo antes do casamento, mas o que importa é a idade com que se inicia a relação sexual. Penso que deveriam ser educados para as consequências e como se podem proteger.”
A presidente do Zonta Clube de Macau lembrou que “têm ocorrido muitos casos de assédio sexual nas escolas”, pelo que é importante que os adolescentes saibam o que está em causa nestas situações.
Christiana Ieong acredita que “hoje em dia a maior parte das famílias chinesas pensa que o sexo antes do casamento é normal”, mas continuam a existir “pessoas muito religiosas que acreditam no sexo só depois do casamento”.
“Se o Governo está a promover a ideia de que não se deve ter sexo antes do casamento, não concordo com essa noção. Além disso, hoje em dia as pessoas casam cada vez mais tarde, ou não casam, de todo. O sexo é algo muito natural”, rematou.

21 Ago 2018

Jovens | Crimes sexuais precisam de medidas imediatas

A educação sexual nas escolas pode ser uma forma de prevenir a violência deste género. O deputado Mak Soi Kun está preocupado com as ocorrências que têm chegado às autoridades relativas a agressão e assédio, e pede ao Governo medidas efectivas.

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais acções para a prevenção de crimes de natureza sexual entre os jovens é o pedido do deputado Mak Soi Kun ao Governo. O tribuno está preocupado com os números que em Macau tendem a não descer. “Em três anos lectivos, as autoridades receberam 261 casos ligados a estudantes, em que 36 estão associados a agressão e assédio sexual”, refere Mak Soi Kun.

O deputado recorda que, já em 2015, interpelou o Executivo acerca das medidas que estariam a ser tomadas para prevenção de agressões de foro sexual. A resposta, na altura, foi vaga: foram criados, em 2004, os indicadores acerca da juventude e iniciado o trabalho interdepartamental com a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e com outros serviços públicos. O objectivo, disse o Executivo, foi a implementação de uma política em prol dos jovens locais de modo a ajudar a compreender as suas necessidades. Por outro lado, o Governo também se comprometeu em promover a educação sexual no território.

No entanto, e até à data, Mak Soi Kun não vê qualquer melhoria no que toca à violência sexual dado o conhecimento que tem de situações recentes.

A solução, aponta Mak Soi Kun, passa por uma revisão das políticas dirigidas aos mais novos sendo que é importante primeiro perceber a razão de “tantas ocorrências de natureza sexual” e, paralelamente, efectivar uma política de educação sexual para informação e sensibilização dos jovens locais.

Problemas antigos

A questão da educação sexual não é nova. Em Março, a deputada Wong Kit Cheng interpelou o Governo sobre a adesão das escolas ao “Plano de apoio à educação sexual”, alertando sobre a necessidade de mais instituições de ensino terem o dever de aderir a esta medida promovida pela DSEJ.

“Desde a implementação do referido plano, as escolas participantes representam apenas 70 por cento de todos os estabelecimentos de ensino de Macau”, lembrava Wong Kit Cheng.

A deputada falava ainda da existência de uma atitude conservadora na implementação deste plano. “De acordo com um estudo levado a cabo em 2013, os pais e as escolas de Macau têm uma atitude relativamente conservadora junto dos jovens quanto à educação sexual, sendo mais conservadora a atitude dos pais, e alguns jovens não falam com os professores ou os pais sobre questões sexuais”.

14 Ago 2017

Palavras como “pénis” e “vagina” 珍爱生命

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]elebrar a vida – Leituras Sobre Educação Sexual das Crianças (珍爱生命-儿童性健康教育读本) faz parte de um conjunto de livros publicados pela Universidade Normal de Pequim. Como o título sugere, são usados na educação sexual de crianças da escola primária.

Recentemente livro foi alvo de acalorada discussão, depois de uma mãe de Hangzhou se ter vindo queixar no Weibo, uma rede social chinesa, de que o livro era demasiado explícito. A senhora tinha ouvido a filha ler algumas frases como “O papá põe o pénis dentro da vagina da mamã,” e “O esperma do papá entra no útero da mamã.” Embora alguns dos comentários ao post revelem que as pessoas acreditam que a educação sexual das crianças é importante, um grupo de pais indignados acharam que o livro era impróprio para os mais pequenos. Apelidaram-no de “banda desenhada pornográfica” por ter um “excesso de nudez”.

O tom liberal do livro reflecte-se na exibição de imagens dos órgãos reprodutivos femininos e masculinos e também do acto sexual. “Você como pai, não fica chocado com isto?” perguntou a mãe que levantou esta polémica a um jornalista de Pequim durante uma entrevista. A identidade desta mãe é desconhecida.

O primeiro texto sobre educação sexual apareceu em Shenzhen em 2003, mas foi rapidamente retirado dos currículos escolares. A educação sexual só se começou a difundir na China a partir de 2010, depois de Celebrar a vida – Leituras Sobre a Educação Sexual das Crianças ter sido introduzido para ensinar as crianças de uma escola primária do Distrito de Chaoyang.

O autor, Liu Wenli, afirmou que, embora a educação sexual seja tão importante como a Língua ou a Matemática, a cultura tradicional chinesa considera desnecessária a sua introdução nos currículos escolares. As lições incluídas no livro versam temas como: O Pénis e a Vagina, a Homossexualidade, Igualdade de Género e, mais importante que tudo, o ensino de uma atitude progressiva.

“A maior parte das pessoas sentem-se atraídas pelo sexo oposto, mas algumas sentem-se atraídas por pessoas do mesmo sexo. Este fenómeno é absolutamente normal,” afirma o professor e autor do livro. “Não devemos discriminar essas pessoas.” Para além de falar sobre as orientações hétero e homossexuais, o texto também menciona a bissexualidade.

“Vocês já ouviram falar de uma celebridade que se assumiu como bissexual?” diz a rapariga.

“O professor não nos disse? Algumas pessoas gostam de picante e de doce. Não temos de nos sentir chocados,” responde o amigo.

Num relatório de 2013 elaborado a partir de uma pesquisa interdisciplinar sobre a protecção a raparigas, Celebrar a vida foi citado como um exemplo para ajudar as crianças a estarem mais atentas aos predadores sexuais. Em 2014 foram reportados mais de 500 casos de abusos sexuais infantis.

22 Mar 2017

Deputada critica abordagem da educação sexual

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng interpelou o Governo sobre a adesão das escolas ao “Plano de apoio à educação sexual nas escolas”, alertando sobre a necessidade de mais instituições de ensino terem o dever de aderir a esta medida promovida pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).

“Desde a implementação do referido plano, as escolas participantes representam apenas 70 por cento de todos os estabelecimentos de ensino de Macau”, lembra Wong Kit Cheng. Nesse sentido, a deputada, eleita pela União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong), deseja saber “como é que as autoridades vão garantir a participação de todas as escolas no referido plano, de modo a maximizar os seus efeitos?”, questionou. A deputada quer ainda saber como é que o Executivo “vai avaliar os resultados obtidos nos trabalhos ao nível da educação sexual”.

Quanto à aplicação prática do referido plano, Wong Kit Cheng frisou que “as autoridades realizaram um inquérito para recolher opiniões dos respectivos docentes, verificando-se que o referido plano obtém o reconhecimento da maioria dos inquiridos”. Para além disso, “uma pequena parte deles continua a preocupar-se com a falta de técnicas de ensino de educação sexual, o que significa que o plano em causa pode melhorar as técnicas do ensino dos professores”, escreveu a deputada.

Wong Kit Cheng fala ainda da existência de uma atitude conservadora na implementação deste plano. “De acordo com um estudo levado a cabo em 2013, os pais e as escolas de Macau têm uma atitude relativamente conservadora junto dos jovens quanto à educação sexual, sendo mais conservadora a atitude dos pais, e alguns jovens não falam com os professores ou os pais sobre questões sexuais.”

“O que é que as autoridades já realizaram nos últimos anos para encorajar os pais a participarem nos trabalhos de educação sexual? Futuramente como vão aumentar o seu entusiasmo?”, questionou ainda Wong Kit Cheng.

20 Mar 2017

Educação Sexual | DSEJ diz que cada escola tem de fazer o seu trabalho

Sexo. O Governo esclarece que cada escola que tem que se esforçar para passar os conceitos correctos aos alunos. Seguindo as suas próprias filosofias, as escolas não podem ignorar a tendência e os professores têm “de perder a vergonha de falar” sobre o assunto. É o que defende a DSEJ, que diz que a Educação Sexual não será uma disciplina independente

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de algumas escolas criticarem a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) – mais precisamente o Centro de Educação Moral – quanto aos materiais escolares “desactualizados” sobre Educação Moral e Cívica, onde se inclui a sexualidade, o mesmo organismo reage: diz que tem os materiais adequados e existem formações para os docentes. Mas, frisa, é preciso que as escolas se dediquem também.
“O docente é um profissional, os manuais servem apenas como referência. O docente pode fazer um ajustamento ao que ensina. Este manual não é feito para uma escola, mas sim para todas. Acredito que algumas escolas possam achar que os recursos possam ser desactualizados. Mas é precisamente nestas situações que os docentes têm de fazer um trabalho de ajuste”, reagiu Leong I On, director do Centro, num encontro com o HM espoletado pela reportagem que indicava desagrado na forma como se ensina a matéria às crianças e jovens.
O primeiro esclarecimento começa na linha educativa escolhida pelo próprio Governo. Pelas palavras de Leong I On, a tarefa de ir ao encontro de todas as crenças e ideologias seguidas pelas escolas de Macau, não “é fácil”. Por isso, foi preciso que o Governo, depois de alguns estudos, criasse uma linha de sugestão de ensino que “agradasse a todos”. É necessário, aponta o responsável, perceber que existem escolas em Macau de conotação religiosa, outras de valores chineses mais tradicionais e até escolas que seguem as linhas educativas ocidentais.
“A Educação Sexual não é muito falada em Macau e é preciso darmos alguma importância para romper com este assunto que ainda é tabu”, começa por explicar o director ao HM, reforçando a ideia de “ponto em comum” entre as escolas.
“Como se sabe Macau tem diferentes escolas, de diferentes origens, chinesas, portuguesas, internacionais. Quando fizemos este trabalho tivemos de encontrar um ponto em comum entre todas. Tentámos também encontrar na nossa sociedade os valores de família e do sexo”, acrescentou.

Dos números

Trabalho que culminou em vários recursos auxiliares, para o ensino infantil, primário, secundário geral e complementar. Feitas as contas, no ano lectivo de 2015/2016, 95% das escolas de ensino infantil receberam os manuais doados pelo Centro, 82% das escolas de ensino primário também. Nos dois tipos de ensino secundário a percentagem de escolas a aceitar este manuais não ultrapassou os 70%.
Sobre os cursos de formação para instrutores de Educação Sexual, que se dividem em três níveis – básico, avançado e prático, até 2015 e desde 2013, 630 docentes receberam formação. Até ao ano passado, “mais de 80% das escolas formaram grupos” de trabalho de Educação Moral nas escolas. Quanto ao plano de apoio da DSEJ sobre a Educação Sexual, os números mostram que 60% das escolas participaram nesses trabalhos, contando com a presença de cinco mil participantes, docentes ou não.
Posto isto, o director é claro: os manuais disponibilizados e as formações cedidas têm conteúdos sobre a sexualidade, no entanto é preciso “que os professores percam a vergonha de falar de sexo”.
“É preciso que os professores estejam preparados. É preciso que eles conheçam valores diferentes sobre sexo, por isso é que também organizamos encontros entre eles e homossexuais, ou pessoas que se dedicam à prostituição, entre outros”, esclarece. Apesar disto, reforça, a abordagem do tema vai depender sempre da ideologia escolhida por cada escola, sendo que não compete ao Governo essa última decisão.

Amor destacado

Quando questionado sobre a ausência de abordagem de questões práticas, como a aplicação de um preservativo, ou o uso de outro tipos de contraceptivos, Leong I On explica que algumas dessas informações estão nos materiais doados às escolas, mas é preciso perceber que a ideologia em Macau é vocacionada para o “conceito de amor”. Ou seja, são abordados temas como família, harmonia, respeito pelo outro, sentimentos para com outra pessoa.
“O que pretendemos é criar noções de valores. Esta também foi a conclusão que chegamos sobre o que pensa a sociedade. Eles querem isto. Volto a salientar, [a linha educativa escolhida permite] que o jovem tome as suas decisões, tem liberdade no que faz. Por isso queremos introduzir valores correctos [morais e cívicos] e eles tomam as suas decisões”, esclareceu.
À pergunta sobre se há possibilidade de criar Educação Sexual como uma disciplina independente, Leong I On afasta a hipótese. “Há muita gente que levanta essa questão. Não achamos que exista essa necessidade. Não serão apenas umas aulas que irão ajudar os alunos a ter conhecimentos sobre este tema. O que nós consideramos é que este processo é duradouro e acumulativo, isto é, o aluno aprende através de diferentes formas, pela família, na escola, na sociedade, com todos os programas que o Governo consegue oferecer (grupos de trabalho, actividades de aconselhamento de educação sexual, entre outros)”, argumentou.
Caso o Governo optasse por introduzir a disciplina de Educação Sexual nos programas curriculares “estava a limitar as escolas na suas opções de ensino”, dos conteúdos que cada direcção escolhe. Apesar desta liberdade de cada instituição, o director garante que o Governo tem as suas exigências e essas são cumpridas pelas escolas.
Depois há outra questão: comparar ensino oriental com ocidental é um erro. “Não posso dizer que um está certo e outro errado. Não, mas são diferentes. São culturas diferentes” e, por isso, os conceitos, métodos e abordagem também são diferentes.

20 Mai 2016

Reportagem | Educação Sexual ainda é tabu. Governo deve fazer mais, dizem escolas

Com timidez e sorrisos envergonhados. É assim que as crianças reagem quando se fala em Educação Sexual. De um lado a cultura chinesa, tradicional e mais contida, do outro a ocidental, mais científica e aberta. Por aqui, o Governo tenta, mas as escolas não se mostram satisfeitas. É preciso fazer mais

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]exo, pénis, vagina, pílula e tantos outros conceitos: assim que ditos provocaram uma risada geral na turma do 8º ano da Escola Choi Nong Chi Tai, uma da quais o HM visitou. Batiam as 15h00 quando a assistente social Dora Tam perguntou a uma plateia de 30 alunos, com idades compreendidas entre os 12 e 14 anos, “o que é o amor?”. Fez-se silêncio.
“Os alunos têm muita vergonha em falar sobre este tipo de assunto, amor, sentimentos, educação sexual”, começa por nos explicar. Dora Tam estava acompanhada por outro assistente social. Foram à escola, numa cooperação entre a direcção da mesma e a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), para dar uma palestra sobre o namoro.
A timidez dos alunos era clara. Com risinhos e cabeças a olhar para o lado, a turma não se mostrava activa na participação. “É natural”, justificou.
Para contrariar o problema de inércia que tinha em mãos, Dora Tam propôs um jogo. “Cada um de vocês tem à vossa frente um papel. Nesse papel vão escrever a primeira ideia que vos surge quando pensam na palavra ‘Amor’. Não precisam de colocar o nome. É em anónimo”, tranquilizou.
Foi esta a forma que a assistente social arranjou para que os alunos se conseguissem expressar. “Não é que eles não tenham dúvidas, não é isso. Antes pelo contrário. Eles são muito curiosos, querem saber as coisas, mas têm muita vergonha de perguntar”, acrescentou.

Beija-me, meu amor

Depois dos papéis recolhidos, surgiram conceitos como “honestidade”, “partilha”, “cuidado”, “felicidade”. Houve até quem dissesse que “não tem opinião”. Ainda assim o grande vencedor foi: “beijos”.
“É nestas idades que eles começam a questionarem-se sobre determinados assuntos”, explicou Dora Tam, tentando justificar os resultados.
Depois do jogo chegou a vez das perguntas mais práticas. “Vamos falar sobre sexo. O que é que vocês acham de terem Educação Sexual?”, os risos foram inevitáveis e, com alguma vergonha, ouviu-se lá do fundo “acho bem, devemos saber essas coisas”.
Na outra ponta da sala surge uma aluna a afirmar que as escolas deviam falar mais sobre sexo, mas quando questionada sobre os conhecimentos passados aos meninos e meninas, a aluna não teve dúvidas: “isso deve ser separado, os meninos não têm que saber as coisas das meninas”.
De braço no ar houve quem não concordasse. “É uma coisa normal, acho que devíamos saber todos”, contra argumentou um estudante. Mas o choque aconteceu quando o HM perguntou: “vocês sabiam que há escolas que ensinam todo o processo do ciclo menstrual da mulher, quais os contraceptivos que existem, as doenças sexualmente transmissíveis e até ensinam como colocar um preservativo?” Choque. Bocas abertas de surpresas, mãos na cabeça, risos entre carteiras.
“Acham que todas as escolas deviam ensinar isso?”, perguntámos. A resposta foi maioritariamente “não”.

Fazer melhor

Vong Kuoc Ieng é o actual director da Escola Choi Nong Chi Tai. Trabalha há 35 anos naquele estabelecimento e antes de assumir as actuais funções era professor. A educação sexual não é uma disciplina, começa logo por frisar. “Mas não quer dizer que os alunos não tenham aulas sobre essa matéria.”
O director explica que há uma abordagem ao mundo sexual e sistemas reprodutores em vários anos escolares, começando no ciclo e terminando nos anos de ensino secundário.
Quando questionado sobre o plano lançado pela Direcção para os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Vong Kuoc Ieng não tem dúvidas “não chega”. Na lista de exigências das competências académicas básicas que o Governo tornou públicas para orientação das escolas, explica, devia estar contemplada a Educação Sexual.
“Esta é uma escola que se preocupa e quer levar o conhecimento aos alunos. Por isso é que temos esta cooperação com os assistentes sociais. Os professores podem não estar a par e preparados para dar este tipo de formação, então juntamos o conhecimento que têm dos seus alunos ao conhecimento dos assistentes sociais do mundo lá fora, das maiores preocupações da sociedade e dos seus conceitos e fazemos estas actividades”, indicou.
Dora Tam explica-nos que estas crianças, devido aos seus traços culturais, não recebem, numa forma geral, este tipo de ensinamentos dentro do seio familiar. “Por isso não têm um à vontade grande para falar”, registou.

Queremos mais

A concordar com o director está Hamanda Cheong, responsável pelo departamento dos Assuntos Académicos da Escola São José de Brito. “Os materiais cedidos pela DSEJ sobre Educação Sexual não são suficientes. Achamos que deveria haver uma actualização dos materiais. Eles não acompanham os tempos”, explicou.
A disciplina de Educação Sexual não existe, mas as matérias estão incluídas no plano curricular da instituição de ensino, através da disciplina de Educação Moral e Religiosa. A cada final do ano, cada turma teve seis aulas sobre o tema. A escola organiza “palestras e outras actividades” e, tal como acontecia na escola anterior, também esta instituição conta com o apoio de assistentes sociais.
“[Eles] fazem um trabalho complementar muito bom. É que percebem o mundo lá fora e sabem o que as crianças nesta idade querem saber, ou o que elas passam. Sabem quando são as idades em que eles começam a ter relações sexuais. Os assistentes estão melhor preparados para este tipo de situação”, explicou a responsável. ensino escolas centros explicações
Sendo uma escola católica, a base que define as matérias tem conotação e respeita os valores da religião, ainda assim, tal não quer dizer que os docentes, e a própria administração da escola, não esteja cientes do “mundo lá fora”. “Somos católicos e o nosso ensino é com base nos conceitos da religião, mas sabemos, até por causa da internet e não só, que os alunos têm acesso a muita informação. Claro que, apesar de não sermos a favor, explicamos que se deve usar o preservativo por causa das doenças. Explicamos quando é certo a mulher ser mãe e outras coisas. Estamos atentos ao mundo”, indicou.
Relativamente ao interesse dos alunos nas matérias, Hamanda Cheong não esconde a realidade. “Não têm. Não perguntam, não mostram qualquer vontade de fazer perguntas. Mas, como disse, há muitas fontes de informação fora da escola – a televisão, a internet, entre outras coisas. Se calhar o que nós ensinamos [sistema reprodutivo] são coisas que eles não querem saber”, apontou.
Quando se questiona se aquela escola separava meninos de meninas para abordar temas como o ciclo menstrual, a responsável indicou que isso só acontece com uma turma. “Nessa turma nota-se que as meninas têm mais conhecimento do que os meninos e por isso separámo-los”, justificou.

Lados opostos

Parecendo não ter conhecimento do programa de orientação da DSEJ, Laurinda Coimbra, docente e coordenadora do núcleo das Ciências Naturais da Escola Portuguesa de Macau (EPM), conta ao HM que tudo está relacionado com a “simplicidade”.
“O sistema reprodutor é leccionado como qualquer outro sistema, por exemplo, o respiratório. [Os alunos] aprendem e são avaliados como em qualquer outra matéria”, indica.
Com os manuais escolares do 6º e 9º anos, a docente exemplifica alguma da matéria dada: estão lá todas. Os mais pequenos começam com as “alterações ao corpo” dos rapazes e raparigas. “Pêlos púbicos, o aumento dos seios, a alteração da voz, está aqui tudo”, explica enquanto folheia o livro. Tanto o sistema reprodutor masculino, como o feminino são estudados pelos alunos, passando depois para a parte da gravidez e parto.
No 9º ano as matérias para além de mais aprofundadas, são mais abrangentes. “Neste ano voltamos ao sistema de reprodução e estudamos muito ao pormenor. Nomes de determinadas coisas e partes do corpo que não demos no 6ºano, todo o ciclo menstrual da mulher e quais as alterações que acontecem no corpo, qual a composição do espermatozóide, por exemplo. É tudo estudado e avaliado”, conta.
Há ainda uma parte sobre alterações hormonais, gravidez, fases de gestação e amamentação – assunto este que não é mencionado nas escolas chinesas. Depois, explica, há uma atenção especial às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) – antigas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) –, à vacinação contra o cancro do colo do útero e, por fim, aos métodos contraceptivos. “Falamos de todos, como se usam e quais as suas taxas de sucesso”, explica Laurinda Coimbra, indicando que esta parte não é avaliada, mas é sempre mencionada nas aulas.
Questionada sobre o material, e respeitando governos diferentes, a docente indica que “o que não falta é material com informações”. Sobre a timidez dos próprios alunos Laurinda Coimbra afasta a questão.
“Não sinto que os alunos tenham vergonha de fazer perguntas ou de querer saber. Eles fazem perguntas, ainda hoje (esta semana) falámos sobre o vírus do HIV. Eles perguntam e querem saber como é que se apanha, como se manifesta, quantos anos pode demorar até se manifestar. Tudo”, sublinhou.
As diferenças culturais são determinantes no que toca a assuntos que ainda “podem ser vistos como tabu”, indica.

Logo desde pequenino

Mas e os mais novos? Aqueles que nem sequer sabem ler? Numa visita ao Jardim de Infância D. José da Costa Nunes, o HM confirmou que as “crianças mais velhas já fazem perguntas”.
As palavras são da educadora de infância Carmo Pires, que defende aquela que diz ser a melhor técnica: “a simplicidade na abordagem do tema”.
“Não contemplo este tema no meu planeamento para os meninos, mas a verdade é que às vezes surgem questões, de uma forma muito natural, e eu da mesma forma respondo”, explica, sublinhado a importância de não criar mitos e temas tabus nas crianças. “É desde aqui [jardim-de-infância] que se vai preparando as crianças e eu tento sempre usar os termos mais científicos. Há uma tendência para ensinar as crianças a dizer ‘pilinha’ e ‘pipi’, eu dou-lhe os nomes que têm – ‘pénis’ e ‘vagina’. Eles riem, outros não, mas compreendem. Aqui o ensino é diferente, mas os conceitos de como é que nascem os bebés, por exemplo, são explicados correspondendo à realidade. Não existe a cegonha. Não”, indica.
A diferença cultural não se pode negar. Da sua experiência os alunos com educação chinesa são mais tímidos quando ao assunto. Riem-se e não fazem muitas perguntas, mas se lhes for mostrada a simplicidade do tema, diz, desmistifica-se o “tabu”. Carmo Pires acredita que esse é o caminho e que Macau está a começar a dar os primeiros passos nesse percurso. Tal como um bebé.

Manual de ensino publicado pela DSEJ
 Escola primária:
– Aceitar e respeitar as alterações físicas
– Sistema Reprodutivo: conceitos
– Processos de fecundação
– Filhos são a cristalização do amor dos pais
– Prevenir abuso do corpo
Até ao sexto ano
– Sistema reprodutivo: conceitos e funções
– Puberdade
– Informações na internet
– Prevenção do abuso e assédio sexual
– Consequências do sexo inseguro
– SIDA
Sétimo e oitavo ano
– Conflitos familiares
– Vantagens das relações com pessoas de outro género
– Comportamentos para rejeitar relações sexuais antes do matrimónio
– Doenças sexualmente transmissíveis
Ensino Secundário
– Técnicas de auto-defesa para prevenir violação sexual
– Respeitar a homossexualidade
– Contraceptivos
– Responsabilidade dos comportamentos sexuais antes do matrimónio

2 Mai 2016