Bumbutai a Imperatriz Xiaozhuang

[dropcap]C[/dropcap]onsiderada a Mãe da Dinastia Qing, influente nas escolhas dos herdeiros, actuando estrategicamente na educação dos dois primeiros imperadores manchus da China, protegeu o filho Fulin a tornar-se o Imperador Shunzhi, assim como o neto Xuanye. Este, como Imperador Kangxi, quando morreu a avó mongol Borjigit Bumbutai, consorte Zhuang do defunto Imperador Huang Taiji, deu-lhe o título de Respeitável Imperatriz avó Zhuang, Xiaozhuangwen.

Pertencente ao clã mongol Borjigit da tribo Khorchin, Bumbutai (1613-1688) nasceu a 28 de Março de 1613 (dia 8 do segundo mês intercalar do ano 41 do reinado de Wanli) e era filha do Príncipe Jaisang (Zhaisang) e de Boli, sendo o avô paterno Manggusi, chefe do clã Borjigit. Ainda criança, o pai convidou um professor para lhe ensinar a cultura e língua Han, assim como a luta wushu. Tinha quatro irmãos mais velhos entre os quais Wukeshan (?-1666), pai da consorte Jing (Erdeni Bumba) concubina do Imperador Shunzhi e Manzhuxili (?-1665), avô paterno da Imperatriz Xiaohuizhang (Alatan Qiqige, 1641-1718) que veio a casar com o Imperador Shunzhi.

Bumbutai viera para a corte nürzhen em 1625 para consorte de Huang Taiji, pois a sua tia Jerjer (1599-1649), filha mais velha de Manggusi, mais tarde a Imperatriz Xiaoduan, encontrava-se no palácio há sete anos e ainda não tinha dado descendência. Então Manggusi colocou Bumbutai, a neta mais nova de 13 anos, para casar com o príncipe Huang Taiji, na altura com 34 anos de idade. Dez anos depois, a sua irmã mais velha Harjol (1609-1641) chegou à corte e tornou-se a favorita consorte Minhui.

Como tradição, a estreitar relações políticas e diplomáticas, o clã mongol Borjigit da tribo Khorchin enviava princesas à corte nürzhen para casar com os príncipes e o khan. Percebe-se o porquê ao referir ser o clã Borjigit a origem de todos os clãs mongóis que governaram a Ásia desde o século XIII e estivera no poder na Mongólia durante séculos e mesmo na Índia o Império Mughal tinha descendentes pela linha materna dos Borjigit. Dos inúmeros príncipes estão Temüjin (Gengis khan, 1162-1227), o unificador das tribos mongóis que em 1215 conquistou Beijing e o seu neto Borjigit Kublai, que se tornou Imperador-Khan ao fundar a dinastia chinesa Yuan (1271-1368). Esta dinastia foi na China substituída em 1368 pela dos Ming e mudou-se para a Mongólia como Dinastia Yuan do Norte até ser destronada em 1453, mas logo no ano seguinte voltou a conquistar o território, depois segmentado pelos descendentes. A tribo dos Khorchin [cujo ancestral directo era Khasar, irmão de Gengis Khan] em 1612 fez uma aliança com os nürzhen e em 1624 foi a primeira tribo mongol a submeteu-se a eles, até que em 1635 deram como finda a Dinastia Yuan do Norte e colocaram-se sob o governo do manchu Khan Aisin-Gioro Huang Taiji.

Desde que Nurhachi ordenara aos seus filhos para se casarem com princesas mongóis houve 84 casamentos até à entrada dos manchus na China e durante a Dinastia Qing realizaram-se 586 casamentos entre manchus e mongóis. Algo fora do normal nas dinastias chinesas.

Aliança por casamento

Bons cavaleiros e arqueiros, os mongóis e os nürzhen desde longos tempos habitavam territórios a Norte da China e combatiam-se até que Nurhachi (1559-1626), do clã Aisin Gioro, tribo jianzhou dos nüzhen, procurando unir as tribos nürzhen com o fito de conquistar a China, resolveu em 1612 fazer um pacto com os mongóis do clã Borjigit da tribo Khorchin, aliando por casamentos os dois povos. Daí a chegada à corte manchu de princesas mongóis. Nurhachi primeiro em 1612 casara com a filha de Mingan, o segundo irmão de Manggusi, chefe dos Borjigit, e em 1615 com Shoukang (1599-1666), filha de Sunguoer, o irmão mais novo de Manggusi. Tinha Nurhachi 57 anos e Shoukang 16 anos e dessa relação não nasceram filhos. Shoukang viveu como Imperatriz viúva durante o reinado de cinco soberanos manchus.
Nurhachi casara quinze vezes e quando morreu não deixou indicado o seu sucessor, havendo três potenciais candidatos ao trono da Dinastia Dajin (1616-1636, Grande Jin, ou Jin Tardio): o segundo filho Daishan, nascido da primeira esposa, a nüzhen Tunggiya hala (neneme gaiha fujin); o oitavo filho Huang Taiji (1592-1643) nascido em 1592 da nüzhen Yele Nara hala com quem contraíra matrimónio em 1588; e Dorgon (1612-1650), o seu 14.º filho proveniente da nüzhen Ula Nara hala, cuja posição era de Dafei (grande consorte, a principal), rainha titular que controlava as concubinas e após a morte do khan se suicidou e o acompanhou no mausoléu. Conta uma história ter Nurhachi antes de morrer confidenciado a Ula Nara hala a escolha de Dorgon para lhe suceder, mas como nada ficou escrito e a mais ninguém tal referira, quando esta veio com essa revelação ninguém acreditou e a corte obrigou-a a suicidar-se para acompanhar o khan no mausoléu. Assim Dorgon não teve apoio para se tornar khan, assumindo em 1626 o trono da Dinastia Da Jin, com o título de reinado Tiancong, o khan Aisin-Gioro Huang Taiji, que no ano anterior tomara como consorte secundária Bumbutai. Foi ela uma excelente conselheira, tornando-o num bom Imperador, assim como ajudou à unificação das tribos nürzhen, que ainda não tinha ocorrido totalmente, tal como na ocupação da Coreia (1626). Quando os manchus lutavam contra os Ming, conseguiu ela convencer o general chinês Hong Cheng Chou, preso em 1640, a integrar as fileiras do exército manchu.

O segundo khan Aisin-Gioro Huang Taiji (1592-1643) governou a dinastia Dajin de 1627 a 1636 com o título de reinado Tiancong. Era casado com Ula Nara hala, uma manchu de quem tinha um filho com 6 anos, HaoGe, quando em 1614, ainda como príncipe Huang Taiji se casou com a mongol Jerjer (1599-1649) e esta tomou uma posição mais alta do que a primeira esposa. Em 1636 Huang Taiji tornou-se imperador e mudou o nome da dinastia para Qing (puro), sendo Jerjer coroada Imperatriz Xiaoduan.

A consorte secundária Bumbutai (1613-1688), sobrinha da Imperatriz, chegou à corte manchu em 1625 e foi então que Jerjer teve a primeira das três filhas, a 2.ª princesa Wenzhuang (1625-1663), dando depois a Huang Taiji a 3.ª e a 8.ª filha.

Em 1634 Harjol (1609-1641), a irmã mais velha de Bumbutai, veio para a corte nüzhen e casou-se com HuangTaiji, tornando-se a favorita consorte Minhui. No ano de 1637 deu-lhe o oitavo filho e o khan felicíssimo mandou pela primeira vez a ordem de libertar prisioneiros e pensou torná-lo o seu sucessor. Mas este filho apenas viveu alguns meses.

Estava já grávida Bumbutai, que desde 1636 era a consorte de quarto grau Zhuang, e a 15 de Março de 1638 deu o nono filho a Huang Taiji de nome Aisin-Gioro Fulin, que veio a ser o Imperador Shunzhi (1638-1661). Tiveram mais três princesas, a 4.ª a 5.ª e a 7.ª filha.
Houve ainda outras consortes do clã Borjigit casadas com Huang Taiji que, apesar de ser o fundador da Dinastia Qing, não chegou a Imperador da China, morrendo em Setembro de 1643.

29 Jul 2019

Zheng Zhilong colabora com Macau

[dropcap]C[/dropcap]om a chegada da Dinastia Qing ao trono da China, Macau apoiou militarmente as forças de resistência Ming, mas em Beijing, junto ao manchu Imperador Chunzhi, tinha os jesuítas, pertencentes ao Padroado português, como um forte aliado a interceder por ela.

Tal facto permitiu aos portugueses a manutenção de Macau, servindo para manter aberto ao exterior o comércio da China, pois este estava controlado pelos piratas, pretendentes a restaurar a deposta Dinastia Ming, que varriam toda a costa chinesa. Era o caso de Zheng Sen (1624-83), nascido no Japão em 1624 de mãe japonesa e conhecido pelos europeus por Koxinga. O seu pai, Zheng Zhilong (1604-61) nascido a 16 de Abril de 1604 era natural de Nanan, Quanzhou em Fujian e com 18 anos veio para Macau onde foi convertido e baptizado católico com o nome de Nicolau Gaspar, apesar de nos Arquivos de Macau aparecer Gaspar Nicolau. Reconhecendo o bom dinheiro que se fazia no comercializar, Nicolau regressou a Fujian e colocou-se ao serviço de Li Han, um rico comerciante chinês com negócios no Japão, China e Taiwan. No Japão juntou-se a uma japonesa de apelido Tagawa e dessa relação nasceram o filho Zheng Sen (nome que em 1645 mudou para Zheng Chenggong) e a filha Úrsula de Vargas.

Em 1624 os holandeses tomaram o Sul de Taiwan e Iquan, nome dado por estes a Zheng Zhilong, por saber português, na altura a língua do trato, foi aí colocado pelo seu chefe como intérprete a trabalhar na Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC). Para Taiwan mudou os seus negócios e juntou-se ao pirata Yan Siqi quando a VOC começou a colocar fora da ilha quem lhe fazia frente. Os holandeses tentaram ainda usá-lo para lutar contra os espanhóis em Manila, mas ele em 1625 abandonou o trabalho de tradutor após a morte do seu chefe Li Han. Em Agosto desse mesmo ano herdou os navios e a riqueza deste e assim engrossando o grupo, tornou-o independente e fundou o Shi Ba Zhi. Dotado de grande coragem e ambicionando mais riquezas, o temido pirata comandava 400 juncos, passando a só reconhecer o nome de Zheng Zhilong. Para base usou Taiwan entre 1626 e 1628 de onde atacava as costas de Guangdong e Fujian, colocando aí grandes problemas à dinastia Ming. “Engrossada a sua armada acabaria por controlar todo o comércio estrangeiro da China, hábil intermédio, os seus interesses findariam por servir igualmente os nossos e os dos outros estrangeiros, desde os espanhóis das Filipinas aos holandeses da Batávia”, segundo Almerindo Lessa. Apenas roubava e raptava governantes e ricos negociantes, mas tratava bem o resto da população, ajudando mesmo os mais carenciados, levando as pessoas a acreditarem mais nele do que no Governo Ming.

Em fins de 1627 a frota contava já com mais de mil barcos, tendo-se apoderado de Amoy (mais tarde chamada Xiamen) de onde dominava a costa desde o Changjiang (Rio Longo, ou Yangtzé) a Zhujiang (Rio da Pérola). Com um mar infestado de piratas, o Imperador Chongzhen (1628-44) percebendo a força naval de Zhilong, não tendo como combatê-la, resolveu em 1628 nomeá-lo mandarim, tornando-o general comandante da frota imperial na costa de Fujian. Ficou com a função de limpar os mares de outros piratas, o que aceitou, estabelecendo em Amoy o quartel-general.

Quando no Japão em 1639 os cristãos portugueses foram expulsos, a sua filha aí nascida e baptizada, com eles fugiu para Macau e ao saber de tal, Zheng Zhilong enviou recado aos portugueses para lha mandarem. Mas estes não atenderam às pretensões e nem mesmo as terríveis ameaças lançadas sobre cercar Macau com a sua esquadra demoveram os portugueses da decisão. Em Macau, Úrsula de Vargas casou-se em 1642 com o macaense António Rodrigues, filho de Manuel Belo, e foram depois todos viver para Anhai (Amoy) muito devido à grande fome que grassava em Macau e aos distúrbios provocados pelas decisões do capitão da cidade, D. Sebastião Lobo da Silveira, que levaram à revolta dos habitantes divididos quanto à prisão dos espanhóis.

Na cidade de Anhai, o mandarim Zheng Zhilong tinha uma companhia de 300 soldados negros, cristãos com suas mulheres e filhos que recolheu de Macau e outras partes, sendo capitão um negro de bom talento e razão chamado Luís de Matos e uma vez por ano contavam com a vinda do jesuíta Pedro Canavari para tratar das coisas do espírito.

A 12 de Julho de 1644, numa assembleia do Senado os comerciantes de Macau desesperados sem cabedais, pois estavam há anos impedidos de ir ao Japão vender as suas mercadorias, aproveitaram as fazendas que desde 1641 tinham armazenadas a degradar-se e resolveram confiá-las a Zheng Zhilong, para este corsário amigo as ir vender no Japão. Assim foram transportadas para Nagasáqui à consignação as fazendas dos macaenses, voltando a prata a entrar em Macau, repetindo-se a viagem no ano seguinte. Gonçalo Mesquitela refere, “O contrato feito com os macaenses para esta ida ao Japão, foi cobrando os fretes a estes. Deus foi servido que a nau foi e voltou, tão rica que prosperou Macau em grande parte. A viagem repetiu-se nos anos seguintes e sempre com bons resultados. Iquan cumpriu sempre a sua parte nos contratos, mantendo-se temido corsário e poderoso aliado dos macaenses.”

Quando a nómada Dinastia Ming do Sul se deslocou para Fujian em 1645, Zheng Zhilong, em conjunto com Huang Daozhou, ajudou Zhu Yujian, o Príncipe de Tang, a tornar-se o Imperador Long Wu. Mas no Verão de 1646, o exército Qing atacou e Zheng Zhilong rendeu-se. Long Wu refugiou-se em Tingzhou, onde a 6 de Outubro foi capturado e executado.

Os manchus compraram com um cargo Zheng Zhilong e “para se livrar da sua formidável frota, os manchus lisonjearam-no com a promessa de o tornarem rei de Foquien (Fujian) e Kung-tung (Guangdong). A sua ambição, no entanto era maior: Ching Chi Lung aspirava ao trono dos Mings, o que significava passar por cima dos próprios manchus. Mas, em vez de os suplantar em astúcia, foi ele próprio ludibriado, tendo sido atraído a Pequim onde o imperador manchu o mandou atirar numa masmorra”, segundo Montalto de Jesus. O Padre Manuel Teixeira adita, ter seguido com ele Manuel Belo, pai de António Rodrigues, que aí ficou dois anos, mas refere ter sido Zhilong “preso traiçoeiramente pelos manchus em Amoy. Os escravos opuseram tenaz resistência, sendo mortos uns cem no combate e os restantes colocaram-se ao serviço dos manchus em Cantão, onde muito se distinguiram no cerco de 1647.”

Levado a ferros para Beijing com a família, onde o mantiveram preso, procuraram atrair o filho, Zheng Chenggong, que recusou abandonar os Ming e com outros que o seguiram do grupo do pai desde 1646 governava as costas de Fujian. Este, derrotado no estuário do Rio Yangtzé em 1659, voltou a Fujian e à frente de 25 mil pessoas partiu para Taiwan, onde após um cerco de nove meses tomou em Abril de 1661 a ilha aos holandeses.
Zheng Zhilong foi morto em Beijing em 1661 ou 1662.

27 Mai 2019

Exposição “Ancoradouro da Taipa: Nomes do Passado e do Presente” no próximo dia 19

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai organizar uma exposição que visa dar a conhecer a história relacionada com o Ancoradouro da Taipa. A abertura está marcada para a próxima quinta-feira, dia 19

“Ancoradouro da Taipa: Nomes do Passado e do Presente” titula a exposição que vai ser inaugurada na Casa de Nostalgia das Casas da Taipa. A mostra, organizada pelo IC e com entrada livre, fica patente até 18 de Junho.

Com a apresentação dos topónimos do passado e do presente, a exposição visa dar a conhecer este pedaço de terra aos visitantes e episódios históricos que tiveram lugar no Ancoradouro da Taipa, que se localizava na actual zona do Cotai, indicou o IC em comunicado.

A exposição inclui numerosos artefactos de significado histórico, incluindo mapas antigos de Macau tais como o “Mapa do Ancoradouro da Taipa e de Macau do século XVIII” e o “Mapa de Macau e das ilhas das imediações (1891)”, assim como livros antigos como Hai Dao Tu Shuo (Roteiro Náutico) e Guangdong Tongzhi da dinastia Qing. A par da mostra, vão ser realizadas actividades paralelas, como ‘workshops’ gratuitos, informou o IC.

12 Abr 2018

MAM | Relíquias da dinastia Qing a partir de Dezembro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] nome ainda não está definido, mas a exposição é certa. Para já, e provisoriamente, chama-se “Armas Imperiais da Colecção do Museu do Palácio” e tem data de abertura marcada para Dezembro na galeria do quarto piso do Museu de Arte de Macau (MAM).

“A exposição realiza-se mais uma vez no âmbito de uma parceria com o Museu do Palácio Imperial de Pequim, que tem resultado em exposições anuais de grande envergadura”, explica a direcção do museu. Esta já é a 25.a edição da iniciativa que pretende, de acordo com a organização, “dar a conhecer aos visitantes a arte e a cultura da China, através de algumas das mais relevantes relíquias do património cultural do Continente”.

Estarão em exposição cerca de 150 objectos que incluem armas, na sua maioria do período da dinastia Qing, sendo que podem ainda ser vistos objectos que datam de dinastias anteriores.

“Os Manchús no poder durante a Dinastia Qing dedicavam-se tradicionalmente à caça, razão que acrescenta aos motivos estritamente militares o interesse especial pelas armas e por todo um conjunto de objectos cerimoniais ligados ao universo do armamento”, explica a organização.

A exposição organiza-se em torno de três núcleos temáticos. São eles: cerimónias, costumes e organização militar. Em destaque estarão armaduras, capacetes e adornos utilizados pelo imperador nos grandes desfiles imperiais, e arcos e flechas usados nas caçadas imperiais. O MAM destaca ainda a mostra de carimbos na altura nos decretos do imperador.

4 Jul 2017