Hoje Macau China / ÁsiaKiev pede à China que desempenhe papel importante nas negociações para a paz O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu ao homólogo chinês, Wang Yi, que Pequim continue a desempenhar um papel importante na obtenção de um cessar-fogo com a Rússia, noticiou hoje a imprensa estatal chinesa. O diálogo entre os dois diplomatas, realizado por telefone, ocorreu três dias depois de a China e a União Europeia (UE) terem realizado uma cimeira, por videoconferência. Bruxelas pediu a Pequim que abandonasse a sua “equidistância” perante a guerra na Ucrânia e que usasse a sua influência sobre a Rússia para impedir a agressão. “A única coisa que a China quer é paz na Ucrânia”, assegurou Wang Yi a Kuleba, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua. Wang disse que a China espera que as negociações continuem até que um acordo de cessar-fogo seja alcançado. Segundo a Xinhua, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano atualizou Wang sobre a situação no país e disse que Kiev deseja manter a comunicação com Pequim. Kuleba espera que a China continue a desempenhar um papel importante na obtenção de um cessar-fogo. A China é um “grande país, que desempenha um papel fundamental e ativo em salvaguardar a paz”, disse Kuleba, citado pela Xinhua. O ministro afirmou que Kiev quer encontrar uma solução duradoura através do diálogo com a Rússia. Wang insistiu na posição chinesa de promover o diálogo e as negociações para a paz. “A China não tem interesse geopolítico na crise ucraniana nem observará à distância, sem fazer nada, mas também não vai atirar gasolina para o fogo. O que queremos é paz”, afirmou. Segundo o ministro chinês, o conflito acabará por terminar e o importante vai ser preservar a segurança duradoura na Europa, o que exigirá “uma estrutura de segurança europeia equilibrada, eficaz e sustentável”, construída através de um “diálogo equitativo”. Wang também agradeceu os esforços das autoridades ucranianas na retirada de cidadãos chineses do país e disse esperar que medidas eficazes continuem a ser tomadas para garantir a segurança dos chineses que permaneceram na Ucrânia. Pequim tem mantido uma posição ambígua em relação à invasão russa da Ucrânia. Por um lado, defendeu que a soberania e a integridade territorial de todas as nações devem ser respeitadas – um princípio de longa data da política externa chinesa e que pressupõe uma postura contra qualquer invasão -, mas ao mesmo tempo opôs-se às sanções impostas contra a Rússia e apontou a expansão da NATO para o leste da Europa como a raiz do problema. Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, esteve na China para uma reunião especial sobre o Afeganistão. Lavrov reuniu-se com Wang Yi e ambos afirmaram que nem a guerra nem as sanções mudarão a “parceria estratégica” entre os dois países. A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.430 civis, incluindo 121 crianças, e feriu 2.097, entre os quais 178 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior. A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de dez milhões de pessoas, das quais 4,1 milhões para os países vizinhos. Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária. A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Hoje Macau China / ÁsiaJoe Biden “esperançoso” que China não se envolva na guerra na Ucrânia O Presidente dos Estados Unidos mostrou-se ontem “esperançoso” que a China não se irá envolver na invasão russa da Ucrânia, sustentando que Pequim percebe que o seu “futuro económico está muito mais ligado ao Ocidente do que à Rússia”. “Acho que a China percebe que o seu futuro económico está muito mais ligado ao Ocidente do que à Rússia, por isso estou esperançoso de que não se irão envolver”, afirmou Joe Biden. O Presidente dos Estados Unidos falava numa conferência de imprensa no quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), em Bruxelas, depois de ter participado na cimeira extraordinária de líderes da Aliança Atlântica e numa cimeira de líderes do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido). Abordando uma conversa telefónica que teve com o Presidente da China, Xi Jinping, na passada sexta-feira, Biden disse que se assegurou, “de maneira muito clara”, de que o líder chinês percebia as “consequências que teria se ajudasse a Rússia [na Ucrânia], como tinha sido relatado e era esperado”. “Não fiz nenhuma ameaça, mas indiquei-lhe o número de empresas americanas e estrangeiras que deixaram a Rússia devido ao seu comportamento bárbaro, e transmiti-lhe que conhecia – porque tivemos longas discussões no passado – o seu interesse em manter relações económicas e de crescimento com os Estados Unidos e a Europa”, referiu. O Presidente norte-americano sublinhou assim que, em caso de auxílio da China à Ucrânia, a vontade chinesa de manter o relacionamento económico com o Ocidente ficaria em “grande perigo”.
Hoje Macau China / ÁsiaUcrânia | China reitera oposição a sanções contra a Rússia O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, reiterou no sábado a oposição da China às sanções impostas à Rússia de forma conjunta por vários países ocidentais, como retaliação à invasão da Ucrânia. Segundo um comunicado publicado pelo ministério, Wang disse que “a China opõe-se a sanções unilaterais que não têm como base o direito internacional”, pois “não resolverão problemas, mas sim criarão novos”. Numa conversa por telefone com a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, Wang assegurou que a China “está a prestar muita atenção” à situação na Ucrânia. O ministro chinês defendeu que “as legítimas preocupações de segurança de todos os países devem ser levadas a sério”, incluindo, “após cinco rondas de expansão da NATO para o leste, as legítimas exigências de segurança da Rússia”. Numa conversa que, segundo o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, ocorreu por iniciativa alemã, Wang lembrou que “a Guerra Fria acabou há muito tempo” e que, por isso, a NATO “deve reconsiderar a sua própria posição e responsabilidades” O país asiático “apoia todos os esforços para resolver politicamente” o conflito, disse o diplomata, que apelou ao diálogo entre a União Europeia, a NATO e a Rússia para “alcançar a paz e a estabilidade na Europa”. A Comissão Europeia, os Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, Canadá e Itália acordaram no sábado excluir alguns bancos russos da plataforma interbancária internacional Swift. Os aliados anunciaram ainda o compromisso de tomarem medidas para travar os vistos ‘gold’ e a formação esta semana de uma ‘task-force’ transatlântica para garantir que essas e outras sanções à Rússia sejam implementadas de forma eficaz através de partilha de informações e congelamento de ativos russos. Bruxelas vai ainda propor aos Estados-membros da União Europeia o bloqueio dos ativos do Banco Central da Rússia, anunciou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos 198 mortos, incluindo civis, e mais de 1.100 feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 150.000 deslocados para a Polónia, Hungria, Moldávia e Roménia. O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário. O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), UE e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia.
Hoje Macau China / ÁsiaUcrânia | MNE chinês diz “entender preocupações” da Rússia com a sua segurança A China “entende as preocupações de segurança da Rússia”, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, ao homólogo russo, Sergei Lavrov, horas após o início da invasão russa da Ucrânia. “A China sempre respeitou a soberania e a integridade territorial de todos os países”, disse Wang, de acordo com uma transcrição divulgada pelo ministério chinês. “Mas também vimos que a questão ucraniana tem uma história especial e complexa. Entendemos as preocupações de segurança razoáveis da Rússia”, apontou. A Rússia lançou hoje de madrugada uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que as autoridades ucranianas dizem ter provocado dezenas de mortos nas primeiras horas. Moscovo exigiu, nas últimas semanas, garantias ao Ocidente para a segurança da Rússia, em particular a promessa de que a Ucrânia não se juntaria à NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Os laços China – Rússia foram reforçados, sob o comando do líder chinês, Xi Jinping, que recebeu Putin, em Pequim, no início deste mês. Pequim afirmou por várias vezes compreender as preocupações russas com a segurança. Xi e Putin emitiram uma declaração conjunta contra o alargamento da NATO na Europa de leste. Mas Pequim também se inibiu de apoiar a invasão da Ucrânia. “A China está a acompanhar de perto os últimos desenvolvimentos”, disse hoje Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, recusando-se a descrever o ataque como uma “invasão”. “Pedimos a todas as partes que exerçam moderação para evitar que a situação fuja do controlo”, disse. Na quarta-feira, Hua acusou o Ocidente de criar “medo e pânico” com a crise e disse que os Estados Unidos estão a alimentar as tensões ao fornecer armas a Kiev. Hua não comentou a acusação infundada de “genocídio” das populações de língua russa, feita por Moscovo, para justificar a sua intervenção na Ucrânia. A embaixada chinesa na Ucrânia pediu hoje que os seus cidadãos aumentem a sua vigilância perante os “graves distúrbios” no país. O Presidente russo disse que o ataque responde a um “pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Lugansk”, no leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira, e visa a “desmilitarização e desnazificação” do país vizinho. O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, da NATO, União Europeia e Conselho de Segurança da ONU.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaUcrânia | Efeitos da invasão russa sentidos em Hong Kong, China e Taiwan O consultor e analista de jogo Steve Vickers defende que a invasão russa na Ucrânia poderá ter um impacto em determinados sectores económicos na China, Hong Kong e Taiwan. “O panorama na região da Ásia-Pacífico irá depender da turbulenta relação sino-americana, com implicações para o sector tecnológico de Hong Kong, Taiwan e China”, além de provocar “flutuações a nível financeiro, no comércio regional e tarifas”. Para este analista, “a possibilidade de extensão [do impacto] em áreas aparentemente não relacionadas é real”. Em termos gerais, Steve Vickers entende que a invasão decretada por Vladimir Putin à Ucrânia “promete trazer novos choques a um já instável ordenamento político e financeiro, em matéria de aumento dos preços de energia e uma grande incerteza”. Relativamente à situação pandémica para este ano, a análise de Steve Vickers aponta para uma maior tranquilidade na situação social e política em Hong Kong com a lei de segurança nacional. No entanto, “a imposição de agressivas medidas de quarentena, e com a imposição de testes obrigatórios a partir de Março, poderá trazer algumas frustrações”. No que diz respeito à política de zero casos covid-19 seguida pelas autoridades chinesas, e que também se aplica a Macau e Hong Kong, incluindo “uma crescente separação económica entre a RPC, os EUA e seus aliados” vai continuar a “reverter décadas de uma tendência de integração financeira, liberdade de movimento e globalização comercial na região da Ásia-Pacífico como um todo”.
Hoje Macau China / ÁsiaUcrânia | China defende que ainda é possível solução pacífica para conflito A China disse hoje que uma solução pacífica para a crise ucraniana é “ainda possível”, depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter avançado com uma operação militar na Ucrânia. “A China acredita que a porta para uma solução pacífica da crise ucraniana ainda não foi completamente fechada, e não deve ser fechada. Saudamos todos os esforços que possam ajudar a resolver isto através dos canais diplomáticos”, disse o embaixador chinês nas Nações Unidas, Zhang Jun, durante uma reunião do Conselho de Segurança, segundo um comunicado da missão diplomática na ONU. Segundo Zhang, “a situação está num momento crucial”, mas todas as partes envolvidas devem “exercer contenção” e “evitar uma nova escalada de tensões”. “Mencionámos muitas vezes que esta é uma questão com um contexto histórico complexo e que a situação atual é o resultado de muitos fatores”, continuou. O embaixador disse que a posição da China sobre “a salvaguarda da soberania e integridade territorial dos Estados” sempre foi “consistente”. “Os princípios da Carta das Nações Unidas devem ser defendidos conjuntamente. Esperemos que as partes sejam racionais e se empenhem no diálogo e na consulta para resolver a crise”, acrescentou. Zhang disse que “as legítimas preocupações de segurança de todos devem ser tidas em conta, mas é especialmente importante não acrescentar combustível ao fogo. A China continuará a promover negociações de paz à sua própria maneira, e apoia quaisquer esforços que conduzam a uma solução diplomática”. A China manteve na quarta-feira a posição de que as sanções não são eficazes na resolução do conflito e de que se opõe às punições unilaterais, aproveitando ao mesmo tempo a oportunidade para atacar os Estados Unidos. “Há que perguntar que papel Washington desempenhou na crise ucraniana”, disse a porta-voz chinesa Hua Chunying, acrescentando que “é irresponsável acusar os outros de provocar incêndios enquanto se acrescenta combustível ao incêndio”. Até agora, a China tem mantido a sua posição de que a crise deve ser resolvida através da negociação e “de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas”. A imprensa oficial chinesa comentou esta semana que Pequim está a tratar a crise ucraniana “com prudência” e sublinhou que a China apela à implementação dos Acordos de Minsk de 2015. Por outro lado, salientou também que “a situação mostra que a Rússia estava muito insatisfeita por as suas preocupações de segurança não terem sido satisfeitas” e que “Putin viu a fraqueza do Ocidente”.
Hoje Macau VozesAs relações China-Rússia e os acontecimentos em Donetky-Lugansk (Ucrânia) Por Francisco José Leandro – Professor Associado da Universidade Cidade de Macau Nas relações China-Rússia há cinco factos que, independentemente dos próximos desenvolvimentos no sudeste da Ucrânia, irão ditar a posição chinesa. Em primeiro lugar, a China e a Rússia são membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, facto que a China entende como uma especial responsabilidade no quadro da preservação do sistema da Carta das Nações Unidas; isto significa o respeito pela integridade territorial de todos os Estados e, tal como afirmou recentemente o Ministro dos Negócios Estrangeiros da China Wang Yi, “todas as soluções para a crise na região de Donetky-Lugansk devem ser negociadas no quadro dos Acordos de Minsk” (2015). Posição lógica e coerente na sequência dos acordos de Budapeste em 1994, no quadro da OSCE, aos quais a China deu o seu apoio de forma escrita. Em segundo lugar, a assimetria das relações económicas (a economia Chinesa é cerca de 11 vezes a da Rússia), os recentes desenvolvimentos no contexto da iniciativa da nova rota da seda na região da Eurásia, designadamente no âmbito da Parceria Económica Euro-asiática (2021), da Parceria Estratégica China-Rússia (1994), da entrada em funcionamento do gasoduto “Power of Siberia” (2022) e das possibilidades que oferece o Projecto Yamal e a Rota da Seda Polar, levará previsivelmente a que China a adopte uma posição de responsabilidade e de comedimento perante a comunidade internacional e perante os seus próprios interesses. Em terceiro lugar, a China é um importante parceiro comercial da Ucrânia. A Ucrânia importa da China 15% do seu total de importações, exposta para a China 16% do seu total de exportações. Para além disso, é necessário ter em conta que, face às posições políticas já assumidas pela União Europeia e pela maioria dos seus Estados-Membros, a China é o maior parceiro comercial do Espaço Comum Europeu e, também por essa razão, não se espera um inequívoco, incondicional e público alinhamento China-Rússia. Espera-se, isso sim, um intenso debate diplomático sem os holofotes dos meios mediáticos. Em quarto-lugar, as relações China-Rússia já não são as que se verificavam em 1958 durante a cimeira Mao Zedong-Kruschev. A China é hoje uma superpotência económica, uma potência em crescimento e com sofisticação militar, um reconhecido actor global, ao qual a Rússia se vai procurar associar, para capitalizar no seu esforço de regresso ao concerto dos estados mais poderosos do sistema internacional. Todavia, as assimetrias geoeconómicas estão a favor da China, que estou em crer não deseja mais do que aprofundar parceiras, distanciando-se da ideia de alianças formais. Finalmente, a China e a Rússia têm um forte ponto comum nas suas agendas das relações internacionais: são ambas potências revisionistas que não aceitam uma ordem internacional baseada unicamente no modelo neoliberal e, como tal, têm visões próprias para a evolução do sistema. Ambas sabem também, que uma eventual reeleição do Presidente Donald Trump (2025) aconselha a uma redobrada prudência, já que alinhadas representam uma possibilidade de reequilíbrio ideológico da ainda ordem hegemónica.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteUcrânia | China olha para tensão na Europa com prudência e expectativa A escalada da Rússia em direcção à Ucrânia deixa, para já, a China “expectante” e “cautelosa”, tendo em conta as relações de proximidade com o país presidido por Vladimir Putin. Analistas acreditam que a tensão que se vive na Europa pode constituir um teste em relação à situação de Taiwan Declarada a independência, por Vladimir Putin, dos territórios separatistas da Ucrânia, Lugansk e Donetsk, pró-Rússia, teme-se a escalada ofensiva até Kiev, capital do país. Vladimir Putin, Presidente russo, parece querer retirar das cinzas pedaços do que foi a URSS, expandindo a sua estratégia para os países vizinhos e violando para isso, aos olhos do Ocidente, as leis internacionais. A China, que mantém uma relação amigável com Moscovo, está para já “expectante” e “cautelosa”, apontam analistas ouvidos pelo HM. “A posição do Xi Jinping, neste momento, é expectante. A Europa deveria fazer uma cintura de protecção, os EUA deveriam reforçar o contingente militar que têm na Polónia e nos países de leste da UE para travar qualquer tentativa golpista por parte da Rússia. Não é fácil, e penso que antes da Primavera não vai haver grandes movimentações. Putin é um homem muito inteligente e calculista”, explicou o académico Arnaldo Gonçalves, especialista em relações internacionais e ex-residente no território. Já Jorge Tavares da Silva, académico da Universidade de Aveiro e especialista nas relações China-Taiwan, defende que está em causa uma “posição sensível”, pois “a relação entre a China e a Rússia não é uma aliança formal mas tem um eixo de conveniência”. “Há um alinhamento diplomático entre os dois países que foi reforçado com os Jogos Olímpicos de Inverno. A situação actual coloca a China uma posição difícil, em que o país tenta não se comprometer demasiado com a Rússia, porque isso pode, de alguma forma, trazer-lhe uma reacção negativa a nível internacional.” Jorge Tavares da Silva acredita mesmo que poderá haver uma consequência para os chineses das sanções que a comunidade internacional está a aplicar à Rússia pelo seu posicionamento face à Ucrânia. “Imaginemos que as sanções que são aplicadas à Rússia se alargam à China. E se isto vier a acontecer será trágico para a relação bilateral Moscovo-Pequim. Será complicado, uma vez que a China está a tentar recuperar a sua economia face ao contexto da covid-19 e não quer ver a sua situação mais debilitada. A China está muito cautelosa e não quer ingerências do ponto de vista militar”, acrescentou o académico. Teste para Taiwan A tensão que se vive na Ucrânia pode também servir de balão de ensaio para a questão de Taiwan. “É evidente que a China faz um teste”, declarou Jorge Tavares da Silva. “Há um apoio informal de Pequim a estas intervenções militares [da Rússia]. Se, eventualmente, Pequim decidir fazer uma intervenção militar em Taiwan, sabe que pode contar com o apoio de Moscovo. Há esta cumplicidade entre as duas nações.” Para Arnaldo Gonçalves, “a China, por causa do problema de Hong Kong e de Taiwan, está a tentar ler a realidade da Ucrânia, para ver como se pode posicionar”. “O problema é que Taiwan é uma peça central da política de defesa externa dos EUA”, frisou. Ontem, a líder de Taiwan, Tsai Ing-wen, condenou as acções da Rússia. “O nosso governo condena a violação da soberania da Ucrânia pela Rússia (…) e apela a todas as partes para continuarem a resolver os conflitos por meios pacíficos e racionais”, afirmou Tsai. A governante descreveu Taiwan e a Ucrânia como sendo “fundamentalmente diferentes em termos de geoestratégia, ambiente geográfico e importância das cadeias de abastecimento internacionais”, numa referência ao estatuto da ilha como um dos principais pilares da economia mundial, sobretudo devido à indústria de semicondutores. Ainda assim, Tsai ordenou que os militares intensifiquem as defesas contra o aumento das tensões com a China. “Diante de forças externas que tentam manipular a situação na Ucrânia e afectar o moral da sociedade taiwanesa, todas as unidades do governo devem estar mais vigilantes”, avisou Tsai. Já Pequim, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, acusa os Estados Unidos de lançarem gasolina para a fogueira e recusa qualquer comparação entre a crise da Ucrânia e a questão de Taiwan. “Os Estados Unidos estão a vender armas à Ucrânia, a aumentar as tensões, a criar pânico e até a exagerar o cronograma para uma guerra”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hua Chunying. “A questão-chave é, qual o papel dos Estados Unidos nas actuais tensões na Ucrânia”, questionou, adiantando: “Alguém que atira gasolina para cima do fogo, enquanto acusa os outros, é alguém imoral e irresponsável”. Quanto à questão de Taiwan, o MNE é categórico. “O facto de as autoridades taiwanesas estarem a escalar a questão ucraniana” e a fingir estarem alarmadas com a situação é “insano”, reagiu Hua Chunying. “Taiwan não é, definitivamente, a Ucrânia. Taiwan sempre foi uma parte inalienável do território chinês. Este é um facto histórico e legal irrefutável”, apontou. Outras condenações Também ontem, o Japão e a Austrália anunciaram sanções contra a Rússia e os territórios separatistas pró-russos de Lugansk e Donetsk. O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse que o governo vai proibir nova emissões e distribuição de títulos de dívida soberana russa no Japão, em resposta às “acções da Rússia na Ucrânia”. Kishida disse que o país vai também proibir o comércio com Lugansk e Donetsk, suspender a emissão de vistos para as pessoas ligadas às duas zonas do leste da Ucrânia e congelar os bens desses indivíduos no Japão. O primeiro-ministro nipónico adiantou que as sanções vão entrar em vigor “o mais depressa possível”. O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, anunciou sanções contra instituições bancárias como o VEB, um dos maiores bancos de investimento e desenvolvimento da Rússia, e o banco militar russo, entre outros. A Austrália vai também impor sanções contra indústrias de diversos sectores, como a energia, mineração e hidrocarbonetos, das regiões de Donestsk e Lugansk, que passam ainda a ser abrangidas por sanções impostas em 2011 à Crimeia e a Sebastopol, então ocupadas pela Rússia. Morrison disse que a Austrália vai também proibir a entrada e aplicar sanções financeiras a oito membros do conselho de segurança da Rússia, órgão que reúne os principais decisores russos, em particular os líderes do Exército e dos serviços secretos. O Canadá, o Reino Unido e os Estado Unidos já tinham também anunciado sanções contra a Rússia e os territórios separatistas pró-russos de Lugansk e Donetsk. Na terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, expressou preocupação com a evolução da crise na Ucrânia, mas absteve-se de tomar uma posição. No início de Fevereiro, a China e a Rússia assinaram uma declaração conjunta na qual anunciavam uma “nova era” nas relações internacionais, afirmando-se “contra qualquer alargamento futuro da NATO”. Na segunda-feira, o Presidente russo reconheceu Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia, como independentes. Putin anunciou ainda que as forças armadas russas poderão deslocar-se para os territórios ucranianos em missão de “manutenção da paz”, decisão que já foi autorizada pelo Senado russo.
Hoje Macau China / ÁsiaUcrânia | Acções asiáticas descem com mobilização do exército russo para “manutenção da paz” As acções caíram hoje na Ásia e o petróleo atingiu o valor mais alto desde 2014, depois de o Presidente da Rússia ter mobilizado o exército para a “manutenção da paz” em territórios separatistas da Ucrânia. No Japão, a bolsa de Tóquio fechou em baixa, com o principal índice, o Nikkei, a perder 1,71%, para 26.449,61 pontos. No fecho da sessão, o segundo indicador, o Topix, desceu 1,55%, para 1.881,08 pontos. Os gigantes tecnológicos japoneses foram dos mais afetados pela descida, com a Sony a cair 2,64% e os fabricantes de componentes para semicondutores Lasertec e Tokyo Electron a perder 3,37 % e 4,04 %, respetivamente. Na Coreia do Sul, o Kospi, o principal índice da bolsa de Seul, perdeu 1,35%, enquanto na Austrália o índice S&P/ASX 200 caiu 1%. A principal bolsa da China continental, em Xangai, fechou também em baixa, com o índice SSE Composite a descer 0,96%. A uma hora do fecho da sessão, o Hang Seng, o principal índice da bolsa de Hong Kong, estava a cair 2,92%. A cotação do barril de petróleo Brent para entrega em abril abriu em alta, esta manhã, subindo 2% no mercado de futuros de Londres, para 97,33 dólares, o que representa um novo máximo desde setembro de 2014. No fecho da sessão da véspera, as principais bolsas europeias terminaram no ‘vermelho’ na segunda-feira, penalizadas pelo agravamento da crise ucraniana. O DAX da Alemanha recuou 2,1%. Em Paris, o CAC 40 em Paris caiu 2%. O FTSE 100 do Reino Unido caiu 0,3%. A bolsa russa caiu mais de 13% na segunda-feira e abriu hoje a perder mais de 8%. O rublo também se desvalorizou 3,2%, com um dólar a valer 79,12 rublos e um euro a 89,5 rublos. Os mercados dos EUA estiveram fechados na segunda-feira devido ao feriado do Dia dos Presidentes. Na segunda-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a mobilização do exército para a “manutenção da paz” nos territórios separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, que reconheceu como independentes. Putin assinou dois decretos que pedem ao Ministério da Defesa russo que “as Forças Armadas da Rússia [assumam] as funções de manutenção da paz no território” das “repúblicas populares” de Donetsk e Lugansk, de acordo com a agência de notícias France-Presse. O anúncio de Putin gerou, de forma imediata, uma onda de condenações da parte dos principais atores internacionais implicados na crise da Ucrânia e que apoiam Kiev, nomeadamente os Estados Unidos, a NATO e a EU, assim como da Austrália, Canadá e Japão. Nos últimos dias, o clima de tensão agravou-se ainda mais perante o aumento dos confrontos entre o exército da Ucrânia e os separatistas pró-russos no leste do país, na região do Donbass, onde a guerra entre estas duas fações se prolonga desde 2014.