António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasComboios astrologicamente vigiados Nada me preparara para o sonho que me enovoou, entre Coimbra e Aveiro: «Duas mulheres belas, altas, desengonçadas, ainda na leveza dos vinte, mas com a airosa gravidade dos trinta a poisar-lhes suavemente no semblante, uma loura e outra ruiva, conversam no banco ao meu lado. Num à-vontade que se exala ao arrepio da máscara. São manequins e adoram o que fazem, embora a covid lhes esteja a ratar os planos: – Oh pá, é mesmo azar, tinha três desfiles de grande expressão nos próximos meses, um em Santander, outro em Paris e o último em Roma… – Não digas nada, amiga, eu estava combinada para Barcelona e Biarritz no próximo mês. Tenho marcada uma sessão para a Vogue que, talvez, se realize, o resto é uma banhada… – E o teu agente? – Que tem? – Ainda te responde? O meu anda aos soluços… – Felizmente, mas tenho amigas que se sentem abandonadas. – Shit para este tempo que nos coube. Resolvo interrompê-las: – Desculpem meter-me na conversa… mas estes tempos só exigem novos palcos, está tudo por reinventar… – Desculpe, como assim? – pergunta a loira. – Pensem no efeito de usar-se o comboio como passarela, em sessões contínuas, da carruagem 2 à 23… – Seria o caos…- reage a ruiva. – Não vejo porquê? – insisti – seria uma mera questão de disciplina e de horários. O vosso público mais aficionado, pelo inédito da iniciativa, tomaria o comboio por curiosidade, e teriam além disso um público novo, o dos viajantes normais… – Já viu a confusão, com as entradas e saídas de pessoas? – voltou a loura a objectar. – O Alfa Pendular só pára três vezes, os intervalos entre as estações seriam o período ideal. E admitamos que se faria à noite a passagem de modelos… Vocês representam a beleza, o glamour… Já viram o vislumbre, quantos milhares de pessoas viriam às janelas de sua casa a essa hora para vos ver passar? Na beleza fosfórica que seria a vossa, à passagem veloz do comboio? – Como cometas…- admitiu a ruiva. – Sim, cometas concretos, com nome, rosto, e uma beleza intangível… A junção improvável que alimenta o sucesso. – Gostei… – ponderou a loura – O que faz o senhor. – Sou poeta, mas isso não importa agora… Sabe que nome daria a esses desfiles? – Não… – mostrando-se ansiosas. – Comboios astrologicamente vigiados. – Não sei se entendo. – atreveu-se a ruiva – Porquê vigiados? – Vigiados pelo bom-gosto, no sentido de estarem superiormente devotados à elevação do olhar pela beleza. O que é comum é a cultura de massas nivelar por baixo a educação estética, vocês, como anjos, irradiariam a excelência que nos pode salvar… Cromaticamente, pelo relâmpago dos figurinos e a elegância que os estilistas emprestam aos modelos, e depois pelo vosso natural… Astrologicamente, porque vocês são estrelas de bons augúrios… – A ideia é muito boa… – concedeu a loura, entusiasmada – poderíamos falar com alguns estilistas de renome… – Eu sou amiga pessoal da Victoria Beckhman. Vou telefonar-lhe, tenho a certeza de que vai entusiasmar-se…- reforçou a ruiva. – Isso, eu falo com a Anabela Baldaque e a Fátima Lopes… – prometeu a outra. – Tenho a certeza de que com alguns nomes sonantes a CP aderia ao projecto, … Mesmo em época de vírus, algo precisa de salvar a soturnidade em que estas viagens se tornaram… Se quiserem escrevo-vos o projecto e vocês apresentam… – E como poderíamos agradecer-lhe? – perguntou a ruiva, de olhos brilhantes. – Isso é simples… – brinquei – se “tatuassem” uns versos meus, no colo, num braço, na perna, no ventre… plantados nalgum lugar visível do vosso corpo, já me sentiria bastante recompensado… Já deram conta da variedade de formatos nos média em que vocês aparecem, que melhor montra para a poesia? – Outra boa ideia…- espantou-se a loura. – Sim, cada modelo adoptaria um poeta. Sabem, pode ser essa a salvação da poesia… Vocês gostam de poesia?» Acordaram-me nesse instante, as duas majestosas mulheres. O meu caderno caíra no chão e uma delas devolvia-mo. Agradeci-lhes. Iam sair em Aveiro e o comboio entrava na gare. – Desculpe acordá-lo… – disse a loura. Mas agora vai entrar muita gente e temi que o seu caderno fosse pisado… – Obrigado… – balbuciei, num sorriso tímido. Teria ressonado? Preocupou-me a imagem com que teriam ficado de mim. Nada me preparou para esse sonho porque há três meses que essa campanha abrilhanta as viagens nocturnas na CP. A operação revelou-se um sucesso internacional, sendo repetida nos países do núcleo duro da moda internacional. E também a minha ideia de cada modelo adoptar um poeta foi seguida como lei. Com um sucesso de arromba. Cada poeta escolhido passou a vender milhares de livros por edição, num rompante. Em Portugal foram oito os poetas escolhidos. E nenhum verso meu aflora a clavícula de qualquer modelo, orvalha um decote, ou torneia a barriga de alguma perna. Até o nome copiaram – e o copyright internacional do projecto pertence às duas modelos portuguesas, mais à Victoria Backhmam a quem com certeza elas ludibriaram dando por sua a ideia. Há três meses que assisto atarantado ao êxito retumbante, por toda a Europa, da campanha dos Comboios Astrologicamente Vigiados. Tentei chegar a acordo com elas, mas riram-se na minha cara quando lhes assegurei que fora eu quem tivera a ideia e lhes transmitira num sonho. Processá-las num sonho e receber a indeminização na vida real será igualmente possível? Já dois ou três jornais zombaram da minha história, como ridícula. Há três meses que sempre que ouço, a meio da minha insónia, alguém meter uma chave na ranhura da porta, para me vir assaltar, grito, possesso: – Entre Irene, a casa é sua!
João Romão VozesA ver passar os comboios [dropcap]V[/dropcap]ivi a infância e a adolescência numa simpática vila com inusual dinâmica económica e certo ambiente cosmopolita, surpreendentes sobretudo porque a minha vida começou ainda em tempos de ditadura: indústrias intensivas no sul de um país pouco dado a industrializações, produtos agrícolas e minérios que do Alentejo vinham desaguar à foz do rio e aproximar-se das redes internacionais destes comércios, uma fronteira internacional e suas inevitáveis traficâncias, turismos exploratórios que ainda mal anunciavam a emergência dessa nova indústria da exploração massiva do território que estava opor desenvolver. Os comboios paravam sempre duas vezes nessa vila, na estação mais a norte e no apeadeiro a este, o fim da linha antes do rio e dos territórios das Espanhas. Hoje pouco resta destas coisas: o comboio já só para uma vez, desde que fechou o apeadeiro, já não se extraem os minérios do Alentejo, os produtos agrícolas têm outras formas de distribuição, as fábricas fecharam, a União Europeia quase eliminou os contrabandos e já nem os barcos sobem o Guadiana como soíam. Vem desde cedo, portanto, a minha predilecção pelos comboios. Há documentos dessas primeiras experiências na ferrovia, entrando no apeadeiro e saindo na estação, ou vice-versa, que o meu pai teve a sabedoria de me proporcionar em devida altura e em quantidades generosas. Frequentemente íamos de bicicleta, ele a pedalar e eu sentado atrás. As terras pequenas têm esta característica, de todos nos conhecermos, para o bem ou para o mal, mas provavelmente para sempre. Por isso o revisor deixava que eu entrasse no comboio e seguisse viagem até à outra paragem da Vila, enquanto o meu fazia o percurso na bicicleta e me recolhia à chegada. Por coincidências da vida, vivo hoje no alto de um prédio com vista privilegiada para uma parte importante da infraestrutura ferroviária de uma grande cidade japonesa, onde o comboio é um meio de transporte essencial no quotidiano de mais de um milhão de pessoas que a habitam, ou de 3 milhões que ocupam a região circundante. Vejo as múltiplas linhas dos comboios locais e regionais, no seu movimento de permanente ligação entre a cidade e as suas periferias, e o viaduto com a linha especial para o “Shinkansen”, o comboio de alta velocidade que liga Hiroshima a Osaca e a Tóquio (a este) ou a Fukuoka (a oeste). Como na maior parte do mundo mais desenvolvido (e ao contrário do que se foi fazendo em Portugal), no Japão não se deixou de investir – e muito – na ferrovia e nos transportes públicos à medida que se foi enriquecendo. Da minha varanda tenho sobretudo ampla vista sobre toda a plataforma logística intermodal para a circulação de mercadorias. Já só vejo a carga pronta e metida nos contentores mas posso adivinhar esses conteúdos e observar como chegam e como partem os objectos destes tráficos permanentes e sistemáticos, as longas composições de carruagens em movimento lento em partida ou chegada, a ligação aos camiões e carrinhas que fazem a ligação com a cidade, a intensidade desta circulação que marca também o ritmo da economia. Talvez por isso me tivesse surpreendido esta paisagem nas semanas iniciais: o movimento era pouco ou quase nenhum, os contentores alinhados e imóveis pareciam inúteis, aquela imensa infraestrutura parecia desproporcionada, desnecessária e despropositada pela sua inutilidade. Era, afinal, apenas mais um sintoma da omnipresença deste vírus que condena o planeta à imobilidade: com lojas e restaurantes fechados, indústrias remetidas a serviços mínimos e uma economia de mercado em que os mercados fecharam, nenhumas razões havia para meter barcos ao mar ou contentores nos carris. Foi preciso esperar mais de um mês, até a cidade e o país começarem gradualmente a levantar as restrições à mobilidade, para testemunhar desde a varanda a azáfama habitual do comércio de mercadorias em larga escala, as sucessivas transfusões de produtos diversos que nos vão satisfazendo o quotidiano. Não há como olhar para os comboios para ver como vão as economias. Não foram só as cargas, os contentores e as logísticas associadas: foram também as pessoas que voltaram a encher as composições do “Shinkansen”: aumentou o número de carruagens e observo como vai gente sentada em quase todas as janelas, depois de semanas a ver passar comboios tristes e vazios, mas ainda assim em movimento para este e oeste. Os comboios locais e regionais também ganharam súbita nova vida, as estações estão cheias, as pessoas voltam a circular para escolas, empregos e lazeres, ainda que não se baixe totalmente a guarda e se mantenham as diligentes e protectivas máscaras a tapar os rostos. Há mais para ver, no entanto, nestas grandes estações ferroviárias, comuns na Ásia, que as empresas de transporte transformam em grandes espaços comerciais para ajudar a financiar o custo da mobilidade. À medida que os comboios recuperavam a actividade habitual, reabriam também as largas dezenas de restaurantes e lojas da estação principal de Hiroshima e voltava a actividade aos dois imponentes hotéis ali instalados, com o movimento de automóveis e autocarros a assinalar o lento regresso do turismo. Um turismo doméstico, é bom de ver, que apesar de se ter reduzido a propagação do vírus até valores quase nulos, não é ainda caso para se abrir fronteiras ao turismo internacional. Parece que na Europa se vêm as coisas de outra maneira – mas desde o início desta pandemia que os exemplos que vêm da Europa são pouco menos que aterradores.
Hoje Macau China / ÁsiaEspanha | Comboios chineses já transportaram 500 mil contentores [dropcap]O[/dropcap]s comboios de mercadorias entre a cidade chinesa de Yiwu, leste da China, e Madrid, fizeram 600 viagens e transportaram 500.000 contentores, desde a inauguração, em 2014, como parte da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. Citado pela agência EFE, o embaixador chinês em Espanha, Lyy Fan, explicou que aquela ligação ferroviária é um “marco importante” do gigantesco projecto de infraestruturas internacional lançado por Pequim, e que visa reforçar a conectividade entre o Sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa. Lyy destacou ainda que a China é o maior parceiro comercial de Espanha fora da União Europeia, com as trocas anuais a fixarem-se, no ano passado, em 33.700 milhões de dólares. As autoridades portuguesas querem incluir uma rota atlântica no projecto, o que permitiria ao porto de Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá. Nesse caso, Madrid deixaria ser a ligação ao extremo ocidental, passando antes a ser Lisboa, reforçando a ligação portuguesa ao mercado chinês.
Hoje Macau China / ÁsiaComboios de alta velocidade sem condutores para Olimpíadas de Inverno [dropcap]A[/dropcap] China está a desenvolver um sistema que permite controlar remotamente comboios de alta velocidade, abdicando de condutores, e que se estreará durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, informou hoje a imprensa oficial. O sistema permite que o comboio arranque, circule e pare com precisão nas estações ferroviárias, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua. As autoridades esperam que os comboios entrem em funcionamento na linha de quase 200 quilómetros, que liga Pequim a Zhangjiakou, o local onde se realizam os Jogos Olímpicos de Inverno, na província de Hebei. Um sistema semelhante está já em funcionamento na província de Guangdong, sudeste do país, com comboios interurbanos, que alcançam 200 quilómetros por hora. Mas os comboios que ligarão Pequim a Zhangjiakou vão deslocar-se a uma velocidade de 350 quilómetros por hora. Este ano, a China planeia expandir a sua malha ferroviária de alta velocidade em 3.200 quilómetros, para um total de 30.000 quilómetros, anunciou na quarta-feira Lu Dongfu, o diretor-geral da China Railway, entidade que opera as ferrovias do país. A primeira linha chinesa de alta velocidade – um troço de 117 quilómetros entre Pequim e Tianjin – começou a funcionar em 2008, quando a capital chinesa organizou os Jogos Olímpicos, 28 anos depois do nascimento do TGV francês. E quando o Japão lançou o seu “comboio-bala”, em 1964, a China era um país pobre e isolado, mergulhado em constantes “campanhas políticas” e empenhada em “aprofundar a luta de classes”. Em 2012, o país inaugurou a linha de alta velocidade mais extensa do mundo, com 2.298 quilómetros, que liga Pequim a Cantão. Hoje, a malha ferroviária de alta velocidade da China compõe dois terços do total do mundo. Durante a última dinastia imperial (1644-1911), o governo chinês começou por se opor ao caminho-de-ferro e só em 1881 autorizou a construção da primeira via-férrea. O acelerado desenvolvimento da rede chinesa de alta velocidade ficou também marcado por um grave acidente, que matou 40 pessoas, no verão de 2011.
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente de Taiwan quer investigação rápida sobre acidente ferroviário fatal [dropcap]A[/dropcap] presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, apelou à realização de uma investigação rápida e transparente que esclareça as causas do pior acidente de comboio do país nas últimas três décadas. “Todos estamos preocupados em conhecer as causas do acidente e já pedi que fosse feita uma investigação que tornasse clara toda a situação do acidente, para que os cidadãos possam ter um relatório completo”, disse a presidente Tsai Ing-Wen em declarações aos jornalistas. Segundo anunciou o porta-voz da administração ferroviária de Taiwan, o relatório pode demorar mais de um dia a ser feito devido ao tempo que demoram a ser feitas as entrevistas e a verificação dos registos. O Puyuma Express tinha oito carruagens e transportava 366 pessoas com destino a Taitung, no sul de Taiwan, quando descarrilou e provocou 18 mortos e 187 feridos. O acidente aconteceu numa curva e as gravações obtidas pela imprensa local mostram as faíscas provocadas pelo choque do comboio a derrubar as estruturas de metal que se encontravam ao lado da via-férrea. Os socorristas procuraram vítimas durante a noite de domingo para segunda-feira, antes que outra equipa viesse para remover as carruagens danificadas, onde já foram procurados indícios sobre as causas do acidente. A velocidade do comboio ainda não foi divulgada, mas não foi descartada como possível causa do acidente. Alguns sobreviventes disseram à agência de notícias oficial de Taiwan, citada pela Associated Press, que o condutor do comboio acionou várias vezes o travão de emergência antes do acidente. O comboio teve a sua última inspeção e manutenção em 2017, disse o diretor da Ferroviária de Taiwan Lu, Chieh-shen, numa conferência de imprensa no passado domingo, antes de pedir a demissão. O ministro da defesa nacional, Chen Chung-chi, anunciou hoje que sete feridos ainda permanecem em cuidados intensivos e que nenhum deles corre risco de vida. O comboio transportava mais de 360 passageiros numa viagem de rotina entre um subúrbio de Taipei, no norte do país, até à cidade de Taitung, na costa do sudeste do país. O acidente, uma “grande tragédia” nas palavras da presidente do Taiwan, foi a pior catástrofe ferroviária no país desde 1991 quando 30 passageiros morreram e 112 ficaram feridos na colisão de dois comboios em Miaoli, no noroeste do país.
Hoje Macau China / ÁsiaÍndia | Pelo menos 60 mortos em atropelamento ferroviário [dropcap]P[/dropcap]elo menos 60 pessoas morreram e cerca de 50 ficaram feridas ao serem atropeladas por um comboio, na sexta-feira, no norte da Índia, quando estavam a assistir a um festival religioso, anunciaram as autoridades. As vítimas estavam a ver o fogo de artifício durante um festival religioso, tendo-se amontoado em cima da linha de caminho de ferro nos arredores de Amritsar, quando foram colhidas pelo comboio em grande velocidade. As pessoas não se aperceberam da chegada do comboio e foram atropeladas, não tendo a composição parado após o acidente. “Estou extremamente triste com o acidente de comboio em Amritsar. A tragédia é devastadora. As minhas profundas condolências às famílias daqueles que perderam seus entes queridos”, disse o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na rede social Twitter. Já o líder da região de Punjab, Amarinder Singh, também recorreu às redes sociais para anunciar uma compensação de 500.000 rupias (cerca de 6.000 euros) para as famílias dos mortos e que os cuidados médicos dos feridos vão ser gratuitos. Em Novembro de 2016, num dos piores acidentes da última década, 146 pessoas morreram quando um comboio descarrilou no norte da Índia e, em 2010, outras 145 morreram num acidente semelhante no leste do país. A rede ferroviária indiana, com 65 mil quilómetros de rota, é a quarta mais longa do mundo, atrás dos Estados Unidos, Rússia e China, e tem 1,3 milhões de funcionários e 12.500 comboios, que transportam diariamente cerca de 23 milhões de passageiros.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Descarrilamento de comboio causa 22 mortos [dropcap]P[/dropcap]elo menos 22 pessoas morreram e mais de uma centena ficaram feridas devido ao descarrilamento de um comboio, próximo da capital de Taiwan, no distrito de Yilan, no nordeste da ilha, noticiou ontem o Governo. O comboio Puyuma Expresso 6432, que efectuava a ligação entre Shulin e Taitung, com 310 passageiros, descarrilou pelas 16:50 locais desconhecendo-se as causas do acidente, noticiou a agência espanhola Efe. Os feridos foram transportados para vários hospitais, segundo o Serviço nacional de Bombeiros, enquanto prosseguem as operações de salvamento, desconhecendo-se até ao fecho da edição se entre as vítimas há algum cidadão estrangeiro. Em comunicado, o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) disse estar a “acompanhar a situação sobre o descarrilamento de comboio em Taiwan, China”, além de que “tem mantido em contacto permanente com a Delegação Económica e Cultural de Macau em Taiwan de modo a acompanhar o desenvolvimento”. “Das informações fornecidas pela Delegação Económica e Cultural de Macau em Taiwan, até ao momento não há residentes de Macau na lista de feridos e também até ao momento, o GGCT não recebeu qualquer pedido de informação ou assistência”, aponta também o comunicado.
Victor Ng PolíticaSi Ka Lon quer Macau-Zhuhai e Guangzhou ligadas por comboio À semelhança da recém-inaugurada linha ferroviária de alta velocidade que liga Hong Kong, Shenzhen e Guangzhou, o deputado Si Ka Lon propõe a ligação por comboio entre Macau, Zhuhai e Guangzhou [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] deputado à Assembleia Legislativa Si Ka Lon defende a construção de uma linha ferroviária que una Macau a Zhuhai e a Guangzhou, num modelo semelhante ao da vizinha Hong Kong que passou a estar ligada por comboio a Shenzhen e a Guangzhou. Isto porque, a seu ver, a ligação só trará vantagens, nomeadamente no contexto da construção da Grande Baía. Em declarações ao jornal Ou Mun, Si Ka Lon defendeu que a nova linha ferroviária de alta velocidade de Hong Kong para a China, que irá reduzir consideravelmente o tempo de viagem, pode trazer benefícios indirectos aos residentes de Macau, bem como fomentar a economia local. O deputado argumenta que há muitos residentes de Macau que visitam Hong Kong, seja para fazer compras ou para apanhar ligações aéreas, e que também há um número considerável de residentes a estudar, ou trabalhar, em Shenzhen e Cantão. Na perspectiva de Si Ka Lon, a nova linha ferroviária Hong Kong-Shenzhen-Guangzhou motiva procura pela rede de trânsito entre Macau-Zhuhai-Guangzhou, podendo servir de exemplo para o lado oeste do Delta do Rio das Pérolas, dado que produz efeitos práticos para a zona da Grande Baía e também no âmbito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. O deputado defende assim uma ligação directa Macau-Zhuhai-Guangzhou, na medida em que a integração de Macau num projecto do tipo, idêntico ao de Hong Kong, teria amplos benefícios nomeadamente no quadro da cooperação regional. De acordo com o Ou Mun, Si Ka Lon entende que, com vista a garantir a ligação entre todas as cidades integradas na Grande Baía, além do comboio Hong Kong-Shenzhen-Guangzhou, é preciso outro que ligue Guangzhou, Zhongshan, Zhuhai e Macau, as quais seriam integradas na rede de comboio de alta velocidade da China. A Grande Baía, que pretende tornar-se uma região metropolitana de nível mundial, abrange Macau e Hong Kong, bem como nove cidades da província de Guangdong (Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen, Zhaoqing). Oito mil por dia Segundo estimativas oficiais, o comboio entre Hong Kong e a China deverá transportar diariamente mais de 8.000 passageiros entre o centro financeiro asiático e o centro industrial vizinho da província de Guangdong. O comboio vai de Hong Kong a Shenzhen em apenas 14 minutos, enquanto para a capital de Guangdong, Guangzhou, a viagem dura agora pouco mais de meia hora. O projecto tem estado sob polémica, particularmente devido ao facto de o Governo de Hong Kong ter permitido a cedência de jurisdição do novo terminal de West Kowloon a Pequim, que pode realizar controlos de imigração e alfândega no terminal de Hong Kong. Esta decisão provocou críticas por parte da oposição pró-democrata da Região Administrativa Especial que argumentou que a medida é uma violação da Lei Básica.
Julie Oyang PolíticaRegresso ao futuro: o ano em retrospectiva [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara mim, 2017 foi como uma alucinação, passou como um comboio desenfreado que se precipita para um final em suspenso, de forma sistemática e implacável. Em Outubro, a imprensa estatal chinesa anunciou que a Corporação de Ferrovias da China (CFC) – que está a fazer um enorme esforço para exportar os seus comboios de alta velocidade, tecnologicamente muito avançados – vai receber 30 biliões de dólares para desenvolver a competitividade nos mercados estrangeiros. O Export-Import Bank of China assinou um acordo de financiamento com a CFC no valor de 200 biliões de yuan (cerca de 30 biliões de dólares) para permitir a criação de uma estratégia de exportação de tecnologias de ponta ferroviárias. Mas, tanto quanto sabemos, as últimas notícias sobre a exportação de tecnologia de ponta ferroviária chinesa referiram-se à queda de uma ponte, entre Nairobi e Mombaça, cuja construção foi entregue à mal-afamada empresa China Road and Bridge Corporation. Aparentemente, o nosso mundo global está bem servido de ultra surrealismo. A semana passada, o site noticioso Q Daily, de Xangai, publicou um inquérito com a seguinte questão “Qual foi o acontecimento do ano que mais transcendeu a sua compreensão?” A ideia, explicava o Q Daily, era permitir aos utilizadores escreverem sobre acontecimentos “mais estranhos e perturbadores do que a mais louca imaginação pode conceber”. O inquérito tornou-se imediatamente viral e atraiu perto de 20.000 participantes – a maior participação registada pelo site em iniciativas do género. Estes resultados foram obtidos antes do inquérito ser censurado, o que aconteceu menos de 24 horas após o lançamento. No topo da nossa lista das preocupações vem o sentimento de profunda insegurança de quem tem de lidar com um Governo que oprime todas as classes sociais; operários, classe média, e mesmo a classe alta da China. Por isso, sejamos apenas turistas, a bordo deste comboio de alta velocidade, e observemos algumas curiosidades locais através das janelas do delírio. A expulsão dos migrantes em Pequim Parecia uma cena de um filme de desastres naturais quando dezenas de milhares de pessoas foram forçadas a deixar as suas casas a meio da noite. As expulsões desencadearam uma onda de revolta popular e muita gente sentiu que que os trabalhadores migrantes estavam a ser usados como bode expiatório da sobrepovoação da capital chinesa. O termo “população periférica” invadiu a internet chinesa e foi usado como “atalho” para designar os preconceitos contra os migrantes—até os censores porem mãos à obra. Censura “Tudo o que não se pode publicar nos jornais é verdadeiro. Se não se pode transmitir na Televisão é porque a história é real. Se não se poder falar do assunto no Weibo é porque é uma critica válida,” escreveu o autor Wang Shuo. O Governo proíbe os websites e fóruns que muito bem entende, independentemente do significado que têm para as pessoas. Qualquer que seja o negócio ou projecto, não existe se as políticas vigentes não o permitirem. Seja qual for a verdade ou o facto, não pode ser mencionado se as políticas vigentes não o permitirem. A semana passada, no Sul da China, um homem apanhou uma pena de prisão de cinco anos e meio, e foi multado em 76.000 dólares americanos, por vender VPN (Virtual Private Network) a utilizadores de sites de Pequim que tinham sido censurados. Maus tratos infantis – os escândalos “Os infantários chineses estão cheios de demónios”, escrevem as pessoas na net. Em Novembro, uma cadeia de infantários chinesa, muito conceituada, foi acusada de maus tratos depois de alguns pais terem descoberto que as crianças tinham marcas de picadas de agulhas e que lhes tinham sido dados comprimidos não identificados. As autoridades censuraram os debates online sobre o incidente e mais tarde negaram que tenha havido quaisquer maus tratos. Na China, cerca de 60 casos de maus tratos a crianças foram encobertos desde 2010, segundo o jornal de negócios chinês Caixin. Câmaras de vigilância A China possui a maior rede de câmaras de vigilância do mundo, com 179 milhões de unidades em funcionamento no país inteiro, prevendo-se que venham a ser instaladas durante os próximos três anos mais 400 milhões de unidades. Está também a ser criada uma base de dados gigantesca para reconhecimento facial, que permitirá identificar qualquer cidadão chinês em três segundos. A plataforma Water Drop oferece imagens em tempo real, a partir de câmaras com objectivas de 360º, instaladas em locais como estúdios de yoga, restaurantes e jardins infantis. O Truman Show já não é só cinema. A imagem de poder de Xi Jinping A mão de ferro e o culto da personalidade de Xi tornaram-se mais visíveis a partir de Outubro, altura em que começou o seu segundo mandato de cinco anos como líder supremo da China, já com o terceiro mandato no horizonte. A Nova dinastia de Grandes Líderes está a acontecer à escala global, a uma velocidade alucinante. Bom 2018!
Julie Oyang PolíticaO comboio mais longo da história Se a Arca de Noé fosse um comboio teria 500 metros de comprimento, segundo o realizador coreano Bong Joon-ho. [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]nowpiercer (2013) é um filme baseado na banda desenhada francesa Le Transperceneige. Bong Joon-ho descobriu esta obra nos finais de 2004 e ficou fascinado pela ideia de um grupo de pessoas encerradas num comboio a lutar pela sobrevivência. Olhemos primeiro para a banda desenhada. Le Transperceneige (The Snow-Piercer) é uma banda desenhada francesa de ficção científica com uma temática pós-apocalíptica, da autoria de Jacques Lob e de Jean-Mac Rochette. A primeira edição, de 1982, recebeu o título de Transperceneige, tendo sido posteriormente alterado para The Escape. Ao contrário de uma nave espacial, um comboio é um espaço que nos é familiar a todos. E é precisamente esta abordagem “comum” que faz com que esta história de ficção cientifica, sobre a luta pela sobrevivência após o “fim do mundo”, tenha um encanto ao qual podemos acrescentar a ideia da viagem, que nos é dada pelo comboio. Ninguém pode fugir para o exterior se quiser sobreviver, mas, lá dentro, todos os dias são deprimentes e privados da luz do dia. As pessoas estão prisioneiras do ritmo alucinante do comboio, que corre sempre em frente como um lunático, conduzido pelo Divino Motor. Será um bocadinho forçado dizer que gostei particularmente da atmosfera sufocante deste Século do Gelo, que me foi dada pela banda desenhada? Agora vejamos o filme. Em primeiro lugar destacam-se os ambientes, impressionantemente lúgubres. Mas, por falar em lúgubre, a Tilda Swinton leva a taça (Deus do Céu, a cena em que ela tira os dentes! Se eu algum dia fizer uma entrevista ao Bong, tenho de ficar a saber tudo sobre o seu fetiche com dentes!) Em segundo lugar, o filme mostra de forma muito clara todo o horror da sociedade do comboio. As pessoas enfrentam condições tão primitivas, que têm de se matar umas às outras se quiserem sobreviver. As rebeliões são incentivadas e planeadas pela elite como forma de controlo demográfico e as crianças nascem para garantir que o Divino Motor continuará sempre a trabalhar. Será que isto vos faz lembrar qualquer coisa? Existem muitos detalhes fantásticos que vos podem escapar no meio das múltiplas sequências de acção, porque acontece tudo muito rapidamente. Por exemplo, numa carruagem estão todos a lutar e a matar-se uns aos outros, mas, de repente, param para celebrar o Ano Novo! No meio de tudo isto, as pessoas das classes mais baixas, (as que vivem na cauda do comboio) são mais simpáticas e mais normais do que os assassinos da elite. Ah, outro pormenor, há uma cena com tochas que é filmada só com a luz das ditas. Pessoalmente, não me agrada por aí além que o desenvolvimento da história siga uma abordagem tipo video game, os protagonistas vão percorrendo o comboio e cada carruagem representa um novo nível, até chegarem ao Ministro Wilford, o final boss. E depois acho o final muito optimista, talvez mesmo um bocadinho superficial se compararmos com o livro, mas também acredito que o desfecho pode ser encarado de muitas maneiras diferentes.
Hoje Macau China / ÁsiaInvestimento de quase meio bilião de euros na expansão da rede ferroviária [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China vai investir 3,5 biliões de yuan (482.000 milhões de euros) até 2020 no desenvolvimento da sua rede ferroviária, sobretudo na expansão da malha de alta velocidade, anunciou ontem o ministério chinês dos Transportes. O número foi avançado pelo vice-ministro Yang Yudong, durante a apresentação do Livro Branco dos Transportes, que serviu ainda para rever o desenvolvimento do sector nas últimas seis décadas e traçar os objectivos para os próximos anos. A rede ferroviária chinesa de alta velocidade atingiu este ano os 19.000 quilómetros – mais do que todos os outros países combinados. A primeira linha – 120 quilómetros entre Pequim e Tianjin – começou a funcionar em 2008, quando a capital chinesa organizou os Jogos Olímpicos. Os novos planos incluem a expansão da rede de alta velocidade em cerca de 11.000 quilómetros até 2020, detalhou Yang Yudong. Sempre a abrir Na quarta-feira, o país inaugurou a mais extensa linha de alta velocidade, entre o leste e o oeste do país – 2.252 quilómetros-, que liga as cidades de Xangai e Kunming. O responsável frisou ainda que a China vai continuar a impulsionar projectos do sector além-fronteiras, dentro da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, um plano de infra-estruturas que pretende reactivar a antiga Rota da Seda. A iniciativa, anunciada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, inclui a construção de ligações ferroviárias de alta velocidade entre a Ásia e a Europa. Yang detalhou alguns planos já em marcha, como a construção de linhas, algumas de alta velocidade, no Laos, Indonésia, Sérvia, Paquistão e Etiópia. O livro branco reafirma ainda a meta, já prevista no Plano Quinquenal para a economia chinesa entre 2016 e 2020, de investir na construção de mais 30.000 quilómetros de malha ferroviária nos próximos anos. A rede ferroviária chinesa terá então 123.500 quilómetros de extensão. O plano prevê ainda aumentar as ligações dos comboios inter-cidades e suburbanos, visando reduzir o tempo de viagem entre as grandes metrópoles chinesas e os subúrbios. Destaque ainda para a construção de redes de transporte interurbano no delta do rio das Pérolas, num passo importante para a integração das regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong com a província de Guangdong.