Sofia Margarida Mota MancheteNatália Gromicho: “Sempre me revoltei por não ter apoio no meu país” Natália Gromicho está na RAEM para apresentar a sua primeira exposição na terra que há muito sonhava conhecer. A artista que expõe em Nova Iorque e é representada na Baker Street londrina pintou à vista de quem quisesse as 11 obras que abrem portas ao público na Casa Garden, já no próximo dia 30 de Junho A Natália já conta com cerca de 20 anos de carreira. Como é que tudo começou? Tenho mais do que 20 anos de carreira. Sempre me interessei por desenhar. Apesar de ter estado sempre na área das ciências, já no liceu fazia recortes das ilustrações dos manuais de português que eram, na sua maioria de grandes artistas. Quando ingressei no 10º ano resolvi abraçar as artes e optei por um curso profissional na área. Acabaram-se as negativas à excepção de geometria descritiva. Acabei por finalizar o 12º ano à noite. Acabou por ingressar nas Faculdade de Belas Artes em Lisboa… Desisti das belas artes. Sou autodidacta e serei sempre autodidacta, à semelhança da Graça Morais que cá esteve em exposição recentemente. Aquilo na faculdade era um horror! Por um lado estava num “convento” e o edifício, naquela altura, não tinha condições nenhumas de trabalho. Fui para lá autoproposta. Era aluna de 20 a desenho quando acabei o liceu, e cheguei ali e desisti quase de imediato. Aquilo não era para mim. Queria uma coisa diferente e não me sentia entendida. Queria outro tipo de trabalho e fiz-me à vida. Eu aprendo com os erros. Também passou pela cerâmica… Essa é a minha paixão maior. A minha formação na escola foi de cerâmica artística. Tirei o curso profissional nessa área e convivi com os melhores professores. Depois chego às belas artes e tenho um professor que nos aconselha a desenhar com um régua. Desisti logo! Também frequentei um curso no ARCO de carácter intensivo e foi aí que consegui aprofundar o nu artístico. E estando agora na China, aproveito para ir em busca das cerâmicas de cá e aprender mais. Como arrancou então a sua carreira? Depois de desistir das belas artes criei uma exposição auto-sustentável. Andei com esse projecto a correr Portugal. Não havia dinheiro e criámos um pacote, eu e o Gonçalo Madeira, o meu agente. A exposição era entregue a um determinado sítio e esse sítio entregaria a outro, e assim sucessivamente. andei com uma exposição itinerante por Portugal inteiro. Não havia dinheiro e fizemos um pacote em que eu entregava a exposição num sitio, esse sitio entregaria a outro, e assim se correu o país inteiro. Foi o trabalho que marcou o seu arranque… Sim porque Portugal tinha que saber quem era a Natália Gromicho. Já ouviu falar dela? Não. Então vai ouvir que os trabalhos vão estar perto de si. Foi essa a intenção. Foi uma exposição muito bem recebida e coincidentemente os trabalhos seguiram para a Austrália onde foram ainda melhor recebidos e vendidos. Estiveram no Adelaide Festival. Depois do sucesso na Austrália como foi o regresso a Portugal? A exposição correu bem e quando voltámos resolvi ter o meu atelier em Lisboa. Sempre me revoltei por não haver apoios ou reconhecimento no meu país. Depois de lá fora ter corrido tudo tão bem resolvi ser e afirmar-me como portuguesa. Quando chegámos a Portugal fomos procurar um local para recomeçar num momento de afirmação. Curiosamente o departamento de cultura de Câmara de Lisboa não nos deu qualquer incentivo e foi a área do património que nos propôs um espaço que possivelmente nos interessaria. Era uma antiga galeria municipal da câmara, abandonada, no edifício do espaço Chiado. Foi quando começaram a aparecer os primeiros convites para expor. Na mesma altura fui convidada para expor em grande formato no Open Day, uma iniciativa da LX Factory. Aconteceu tudo ao mesmo tempo e a câmara ajudou nesse sentido. Aqui se vê o espelho da cultura que devia ter sido o principal apoiante e não foi mais uma vez. Apesar de estar sediada em Portugal a sua obra é conhecida, vendida e divulgada no exterior. Como é que se sente com este reconhecimento que não é na sua terra? Portugal é futebol. Ramon Casalé, crítico de arte espanhol, foi quem me fez a primeira crítica arrebatadora. Em Portugal, tenho o atelier aberto ao público e as pessoas nem sequer lá entram. Isso acaba por me dar mais força. Quero fazer coisas mais estranhas numa linguagem ainda mais provocante. A sua linguagem tem mudado. Como a poderia definir? Tenho que me conseguir expressar de uma outra maneira que não seja por palavras. As coisas têm que ser ditas de outra maneira. A minha linguagem é para inovar e chocar. Ninguém consegue fazer uma pincelada igual à minha. Marco pela imperfeição. O homem não é perfeito e a imperfeição é arte. Se fizesse uma coisa perfeitinha era uma máquina, coisa que não sou. É sabida a sua paixão pelo Oriente. Porquê este encanto? A disciplina e o rigor. Acho que aqui as coisas são coerentes. Influenciou também o desenvolvimento do seu trabalho? Dei comigo a conhecer Singapura, uma cidade emergente, em pleno crescimento. Comecei logo a transmitir isso com o meu trabalho, com coisas mais geométricas. Não me comparem nunca com a deusa Vieira da Silva. A obra está feita, as manchas surgem, eu não tenho a culpa, não sei o que é, a minha obra está feita. Desenhei muito e fartei-me. Acho que desenhar toda a gente pode fazer. A minha passagem pelo Oriente fez com que o abstracto aparecesse de uma forma mais intensa. Passei a dar menos importância à linha, passei do figurativo para o abstracto. Também me inspirei na arquitectura e considero que aqui no Oriente se fazem coisas fantásticas. Por exemplo em Macau, construíram de uma cidade velha, uma coisa cheia de cor. Como está a correr esta estadia por Macau? Macau sempre foi um sonho meu. Já na Expo 98 em Lisboa visitava frequentemente o pavilhão dedicado a Macau. O contraste, aqui, encanta-me e é diferente de qualquer outra coisa que conheça. Saímos das Ruínas de S. Paulo, por exemplo, e logo a seguir se encontramos um edifício como o Grand Lisboa. Macau é uma surpresa. Vai também inaugurar, pela primeira vez uma exposição no Museu Oriente em Portugal. É o esperado reconhecimento nacional? Nunca foi minha intenção estar a expor numa coisa tão sagrada como é um museu. Mas sim, o reconhecimento pela Fundação Oriente em Portugal é de facto o culminar de muito tempo de trabalho. E exposição será composta por 71 obras em que muitos trabalhos são de grande formato e resultam de seis anos de trabalho que abrangem também as viagens pelo Oriente. Pintou aqui na Casa Garden os trabalhos que vai expôr… Acho que é bom ter companhia. Quando trabalho, mesmo acompanhada estou sozinha, mas é um desafio. Pode correr bem ou mal, se correr mal faz igualmente parte. É também uma maneira das pessoas verem como trabalho e de verem o processo de um artista expressionista. O que espera levar de Macau, que queria tanto conhecer? Tenho muitas ideias para levar comigo e poder mostrar o que é Macau. As que vão ser aqui expostas já estavam de alguma forma em mente, mas os trabalhos inspirados em Macau vão nascer após esta passagem.
Filipa Araújo EventosCasa Garden | Exposição “Colour Exchange” até 10 de Abril [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ão seis os artistas locais que assinam a exposição “Colour Exchange”, que inaugurou ontem na Casa Garden. Patente até 10 de Abril, são muitas as peças expostas com diferentes traços, próprios de cada autor. Do grupo de artistas, faz parte Mak Kuong Weng, nascido em Cantão e a viver em Macau. Mak conta no currículo com vários prémios atribuídos, tais como o prémio de pintor de excelência, em Pequim, o prémio da melhor criação de pintura ocidental, em 2011, o prémio especial de melhor criação e melhor criação de pintura tradicional chinesa, em 2015, entre muitos outros. O pintor conta já com cinco participações em livros onde as suas obras são mencionadas. Leong Yuk Fei é outro pintor que participa na exposição. Em 1979 a sua obra “Descanso Curto” foi escolhida para ser apresentada na exposição das Obras de Belas Artes, na comemoração dos 30 anos da Fundação da República Popular da China. Depois de uma pausa entre 1986 a 2010, para se dedicar à área comercial, o artista retoma a pintura. Pintura de Mak Kong Weng O pintor Eugénio Novikoff Sales, nascido em Macau e criado entre Moçambique e Portugal, transpõe as experiências que presenciou no mundo para a sua obra. Na China é conhecido como “artista de características euro/luso/asiáticas” devido “ao seu estilo único de pintura” na qual mistura os três mundos. A cor do mérito Lei Wai Wa também se junta ao grupo. Entre óleos e guaches, a arte de Lei tem percorrido o mundo. Foi-lhe atribuído o título honorífico “Artista com Grande Mérito e Virtude”, em 2015. O “Eremita do Monte Huangyang”, ou seja William Chiu Vai Fu, marca também presença na mostra. Começou a estudar desenho, pintura a óleo, caligrafia e ornamentação de pintura no Instituto de Arte Teórica, em 1975, mas mais tarde dedicou-se à aguarela e à pintura a óleo no Instituto de Arte Chi Wa Tang. As suas obras fazem parte de colecções públicas e privadas do Museu de Arte de Macau, da Fundação Macau, do Centro UNESCO de Macau, da Universidade de Macau, entre outras. Licenciado em Belas Artes pela Universidade de Xangai, Lam Kin Ian encerra a lista de expositores. Com presença em várias exposições em Macau, o trabalho deste artista local é já bem conhecido pela população. A mostra tem entrada livre.
Leonor Sá Machado Eventos MancheteCasa Garden | José Drummond e Peng Yun em exposição relâmpago única José Drummond e Peng Yun juntam-se às 18h00 da próxima sexta-feira para apresentar uma exposição “pop-up”, cujo conceito é único na cidade. As artes performativas dão forma ao corpo da mulher, sem deixarem de explorar conceitos de dor, amor, prazer e atitude [dropcap stgyle =’circle’]O[/dropcap] conceito da próxima exposição conjunta do artista José Drummond e Peng Yun dá pelo nome de “pop-up show” e vai durar exactamente quatro horas, com direito a um jogo de fotografias que versam sobre o erotismo, o corpo e a figura feminina e sentimentos e sensações como a dor, o prazer e o amor. “Sonho de uma Noite de Verão” realiza-se na próxima sexta-feira e começa às 18h00, com encerramento marcado para as 22h00 desse mesmo dia. Este projecto inovador, explica Drummond, teve o seu nome baseado na conhecida peça teatral de William Shakespeare, de nome homónimo. Nesta, os protagonistas estão hipnotizados até quase à última cena, até que finalmente seguem o caminho que devem, explica. São os temas da peça original que parece terem inspirado aquela que toma forma daqui a dois dias, na Casa Garden. “[A exposição] tem um certo lado performativo precisamente por durar tão pouco tempo e acredito que vai ser interessante ver a adesão do público a um evento deste género, uma vez que não há a possibilidade de lá ir no dia seguinte”, comentou o artista ao HM. No entanto, este projecto único apenas foi possível através da colaboração entre os dois artistas, sendo Drummond português e Peng Yun chinesa. Sombras, luz, erotismo e a Mulher Este tipo de exposição conjunta tem vindo a ser debatida há já algum tempo, diz o artista ao HM, explicando no entanto que a ideia desta “pop-up” só teve pernas para andar no final de Abril deste ano. Peng irá apresentar as séries relativas ao Verão de Xiaoduo, que “entram em diálogo” com os trabalhos “The Ghost” e “The Winker”, do artista português. São as artes plásticas que aqui desempenham um papel crucial, numa mostra que promete encantar durante quatro horas de intensidade, seguidas de um cocktail. Também a ideia da dicotomia artística tem um papel crucial: serão confrontados e explorados dois pontos de vista “sobre o corpo da mulher onde o visível e o invisível, sombras e luzes, fantasia e realidade, desencanto e sedução entram em jogos e tensões”, totalmente levadas à interpretação dos presentes. Dos quatro cantos à Casa Garden Embora José Drummond tenha já os temas e o tipo de exposição mentalmente bem montados, será decerto um conceito inovador, uma vez que esta é uma das primeiras deste género em Macau. O artista vive em Macau há vários anos e já expôs nos quatro cantos do mundo, incluindo Tailândia, China, Alemanha, EUA, Austrália, Itália e Hungria. Actualmente, frequenta o doutoramento em Artes Visuais no Transart Institut, que inclui residências artísticas em cidades como Nova Iorque e Berlim. Espelhados na Casa Garden estarão sensações e sentimentos comuns e básicos do ser humano e das suas relações, sendo esse o tema que mais aproxima os autores. Além de contar com a exibição de um total de 40 fotografias, serão ainda passados quatro vídeos, dois de cada artista. Peng Yun nasceu em Sichuan, mas vive em Macau há vários anos. Licenciou-se em Pintura a óleo na sua terra-natal. Tal como as de Drummond, também as suas peças percorreram meio mundo, tendo ocupado lugar em galerias de Singapura, Taiwan, Bélgica, Roterdão, EUA, Holanda, Veneza, Pequim e Xangai. A entidade curadora da mostra é a BABEL, uma organização cultural sem fins lucrativos. A mostra é organizada pela Xiang Art, tendo como parceiros a já referida BABEL, a Fundação Oriente e a Casa de Portugal. A pouca duração da mostra tem, também ela, uma mensagem: uma noite de exibições equivale à duração de muitos amores, conquistas e dissabores, explica a BABEL em comunicado.