Andreia Sofia Silva EventosTeatro D. Pedro V | Celebração de nascimento de Carlos Paredes acontece amanhã Para celebrar o centenário do nascimento de Carlos Paredes, um dos grandes nomes da guitarra portuguesa, acontece amanhã, no Teatro D. Pedro V, o “Concerto de Homenagem a Carlos Paredes”, com Paulo Soares, na guitarra portuguesa, e Rui Poço Ferreira, na viola. Em entrevista ao HM, Paulo Soares desvenda um pouco as notas que se farão ouvir amanhã Cumprem-se este ano os 100 anos sobre o nascimento de Carlos Paredes, nome sonante da guitarra portuguesa, e a pensar nisso a Casa de Portugal em Macau (CPM) decidiu assinalar a data com um concerto que decorre amanhã no Teatro D. Pedro V, a partir das 20h00. Ao palco, sobe Paulo Soares, guitarrista, seguidor dos passos dos “Paredes”, nomeadamente Carlos Paredes e o seu pai, Artur, e Rui Poço Ferreira, na viola de acompanhamento. Paulo Soares, que se assume como “especialista em toda a música dos Paredes [Artur e Carlos Paredes], e não só”, ensina guitarra portuguesa há 35 anos e tem-se dedicado a estudar o legado do músico português. Mas o espectáculo de amanhã não vai ser apenas pautado pelas composições dos Paredes. “O espectáculo vai ser sobre a influência dos Paredes na guitarra portuguesa. Antes do Carlos Paredes temos o pai, Artur Paredes, que foi um guitarrista revolucionário e virtuoso no seu tempo, com quem Carlos Paredes muito aprendeu. Aliás, ele sempre referiu que aquilo que sabia tocar tinha aprendido com o pai. Carlos Paredes teve também aulas de violino, e expandiu aquilo que aprendeu com o pai, na composição e na forma como usou a guitarra.” Esta influência verificou-se em muitos guitarristas portugueses, sobretudo na cidade de Coimbra, onde também existe o género musical Fado de Coimbra. Assim, amanhã apresentam-se músicas de dois desses guitarristas influenciados pelos Paredes. “Um deles, Octávio Sérgio, que tem agora 88 anos, foi o último guitarrista a acompanhar José Afonso, tendo uma obra muito interessante. Podemos colocar essa obra na continuidade de Carlos Paredes, até mais do que de Artur Paredes. Conheço pessoalmente Octávio Sérgio e tenho estudado a sua obra. Depois termino com obras minhas, porque a melhor forma de homenagear os Paredes é continuarmos tudo isto, expressarmo-nos através da forma como eles nos inspiraram. Será um espectáculo bem mais abrangente do que uma mera interpretação das composições de Carlos Paredes”, explicou ao HM. Limitações do génio Carlos Paredes nasceu em 1925 em Coimbra, a 16 de Fevereiro, no seio de uma família com fortes ligações à guitarra portuguesa. Aos nove anos de idade já acompanhava Artur Paredes e com 14 anos estreia-se com o pai num programa radiofónico, na então Emissora Nacional. A família muda-se para Lisboa em 1934. A par da carreira de músico, Carlos Paredes foi sempre funcionário administrativo do Estado, começando em 1949 a trabalhar no arquivo de radiografias do Hospital de S. José, até se reformar a 1 de Novembro de 1986. Musicalmente, Carlos Paredes foi também influenciado por músicos dos anos 60 que mudaram a guitarra portuguesa de forma conjunta, como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e António Bernardino. O primeiro álbum de Carlos Paredes, o EP em nome próprio, saiu em 1962. Porém, e apesar de uma vida dedicada ao dedilhar da guitarra, Carlos Paredes “nunca foi capaz de ensinar ninguém”, recorda Paulo Soares. “Sei que tentou fazê-lo, mas a verdade é que não se conhece ninguém que toque guitarra e que tenha aprendido com Paredes. Artur Paredes também não ensinou ninguém, apenas o filho, era algo natural. Carlos Paredes referiu que Artur só lhe deu uma indicação de mão direita a tocar guitarra.” Paulo Soares confessa que sempre quis aprender com Paredes, mas também “quis transmitir”. “Faço o oposto daquilo que os Paredes fizeram. Há 35 anos que ensino guitarra portuguesa e esta não morre, porque não tem como, já que há muitas pessoas interessadas em aprender.” Paulo Soares destaca ainda outra curiosidade sobre a capacidade musical de Paredes. “Carlos Paredes também dizia que a sua forma de tocar estava cheia de limitações, o que é verdade, embora estivesse também cheia de qualidades. Tocar como Carlos Paredes é uma forma de mostrar as suas qualidades e também que é possível ultrapassar as limitações, e é interessante em termos culturais e da perspectiva da guitarra.” Mais concretamente, o músico tinha “uma forma de tocar que o permitiu expressar-se extraordinariamente bem, a tocar as suas próprias composições”. “Sei de duas pessoas que tentaram trabalhar com Carlos Paredes e ele não foi capaz de sair do seu mundo musical. Mas isso não tem de ser um problema”, referiu Paulo Costa. Sem contratos Outra limitação de Carlos Paredes, parece ter sido a falta de capacidade para gerir uma carreira musical. “Penso que teve o devido reconhecimento em vida, mas ele próprio não foi capaz de gerir a sua vida pessoal e musical de forma comercial. Isso está escrito e documentado, teve hipótese de assinar contratos chorudos que o poderiam ter tirado de uma certa miséria em que vivia e ele não foi capaz de aceitar isso.” “A sensação que tenho é que era uma pessoa que levou tanta pancada na vida que só quando tocava guitarra se sentia bem. Acho que nunca foi capaz de assumir a guitarra como um compromisso”, remata Paulo Soares. Segundo uma biografia divulgada pela CPM, Paulo Soares nasceu em 1967 e é hoje “um dos mais versáteis e generosos guitarristas de sempre da guitarra portuguesa”, estudando e investigado este instrumento “há mais de 40 anos, buscando a excelência da sonoridade e do discurso musical”, sendo também “o mais profundo conhecedor da guitarra de Carlos Paredes”. “A sua síntese inovadora das técnicas e intenções das guitarras tradicionais de Coimbra e de Lisboa são o alicerce para a sua enorme versatilidade musical e guitarrística, plena de entusiasmo e profundidade”, descreve a mesma nota biográfica. “Como pedagogo e impulsionador da guitarra portuguesa, a obra de Paulo Soares é indubitavelmente das mais importantes. É autor e editor do Método de Guitarra Portuguesa, obra de referência na aprendizagem do instrumento. Tem ensinado consistentemente, tem auxiliado outros professores e tem partilhado generosamente várias transcrições de sua autoria, sendo um dos maiores impulsionadores do desenvolvimento moderno da nossa guitarra”, é ainda referido.
Hoje Macau EventosLivro dedicado a Carlos Paredes inclui gravação inédita de espectáculo A vida e obra do mestre da guitarra Carlos Paredes, que “criou do nada uma música genuinamente portuguesa”, é contada num livro a ser apresentado esta semana, em Portugal, e que inclui as gravações de dois concertos, um dos quais inédito. Em “Carlos Paredes — a guitarra de um povo”, o investigador Octávio Fonseca começa a contar o percurso do guitarrista ainda antes de este ter nascido, lembrando os antecedentes familiares. Carlos Paredes, que completaria cem anos de vida no dia 16 de Fevereiro, descende de uma família de guitarristas e compositores: o bisavô António Rodrigues Paredes, o avô Gonçalo Rodrigues Paredes, o tio-avô Manuel Rodrigues Paredes e o pai, Artur Paredes. Segundo Octávio Fonseca, Artur Paredes, “em termos de técnica, revolucionou completamente a guitarra de Coimbra”, e Carlos Paredes “aproveitou esse trabalho e simplificou-o”. Para contar a história e as histórias de Carlos Paredes, Octávio Fonseca recorreu-se do trabalho de investigação que tinha feito para um outro livro dedicado ao guitarrista editado em 2000, e que incluiu a leitura de artigos sobre música que o ‘mestre’ escreveu em jornais e entrevistas que deu a vários órgãos de comunicação social. Mas para escrever este livro, contou com “a colaboração extraordinária” da guitarrista e compositora Luísa Amaro, companheira de Paredes. “A maioria das histórias que estão contadas no livro foi ela que me transmitiu”, contou. O que torna Carlos Paredes um artista único é, para Octávio Fonseca, o facto de ter criado “música genuinamente portuguesa do nada”. “No final dos anos 1960, início de 1970, discutia-se muito ir às raízes tradicionais, para criar uma música popular portuguesa, como fez José Afonso. Mas Carlos Paredes não fez isso, e criou uma música portuguesa do nada. Ele não partiu da nossa canção tradicional, nem de nenhuma experiência da música portuguesa”, salientou o investigador. O paralelismo entre José Afonso e Carlos Paredes era apontado pelo próprio guitarrista. “Ele diz em duas entrevistas que há um paralelo entre ele e o José Afonso no início da carreira. O primeiro disco de Carlos Paredes é de 1962 e o primeiro disco de baladas de José Afonso também (tinha feito discos antes, mas eram de Fado de Coimbra). Fazem os dois uma música nova de Coimbra”, contou. No ano seguinte, os dois músicos “libertam-se de Coimbra, da canção de Coimbra”, mas com uma diferença, “enquanto que com José Afonso há um corte completo, com Carlos Paredes há um corte, mas há sempre uns ‘pinguinhos’ nas composições em que Coimbra aparece”. Novidades musicais “Carlos Paredes – a guitarra de um povo” vem acompanhado por dois discos. Um é “Mestre da guitarra portuguesa”, um álbum gravado em 1977, no 7.º Festival de Canção Política em Berlim, editado nesse ano pela AMIGA, editora da antiga República Democrática Alemã (RDA), e que é inédito em Portugal. No outro álbum está registado “o primeiro espetáculo que Carlos Paredes fez em nome próprio em Portugal”, uma gravação inédita registada em 31 de março de 1984, no Teatro Carlos Alberto, no Porto. O livro inclui também um portfólio de fotografias de Carlos Paredes, da autoria de Augusto Cabrita, Luís Paulo Moura e Inácio Ludgero. O músico viveu sobretudo em Lisboa e a cidade inspirou muitas das suas composições. “Verdes Anos”, uma das mais conhecidas da sua obra, foi composta para o filme homónimo de Paulo Rocha, marco do Novo Cinema português dos anos de 1960. Combatente antifascista, opôs-se à ditadura e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950. Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a sua actividade como administrativo, no Hospital de São José, em Lisboa. Em Dezembro de 1993, foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar guitarra.
Hoje Macau EventosGuitarra portuguesa | Carlos Paredes lembrado na China e Japão Mais de uma centena de concertos, colóquios, filmes, oficinas e um plano de salvaguarda e divulgação compõem o programa para assinalar os 100 anos do nascimento do guitarrista Carlos Paredes e celebrar o seu legado, e que será apresentado em todo o mundo, incluindo na China e Japão. A programação, intitulada “Variações para Carlos Paredes”, foi apresentada esta segunda-feira. A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, disse que o guitarrista “conseguiu unir a tradição e a modernidade, o passado e o presente de forma absolutamente singular, única”. “O legado de Carlos Paredes tem um papel fundamental no que consideramos hoje serem elementos matriciais da nossa identidade”, disse. O programa de celebração do centenário do nascimento de Carlos Paredes inicia-se em Fevereiro e vai estender-se pelos próximos meses, repartido em três linhas de actuação: A vertente performativa, com espectáculos, a vertente de investigação, com publicações e colóquios, e a vertente educativa, com oficinas, visitas e roteiros. Em Fevereiro, mês do aniversário de Carlos Paredes (1925-2004), a programação terá três momentos inaugurais em Lisboa, mas ao grupo de trabalho que elaborou a programação foi pedida uma abrangência geográfica ampla para as celebrações. “Carlos Paredes estará presente em todo o país”, sublinhou Dalila Rodrigues, acrescentando que haverá também concertos e eventos culturais em 12 países, em quatro continentes. Concerto no São Luiz A abertura oficial do programa está marcada para 5 de Fevereiro, em Lisboa, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa no Teatro Municipal São Luiz, e no dia seguinte no Centro Cultural de Belém, com o espectáculo “Perpétuo”, de música e dança, encenado pelo realizador Diogo Varela Silva. A 16 de Fevereiro, dia em que Carlos Paredes faria 100 anos, a Aula Magna da Universidade de Lisboa acolhe um concerto com a presença de nomes como a guitarrista Luísa Amaro, a cravista Joana Bagulho, o pianista Mário Laginha e a cantora A Garota Não. Nesta vertente performativa destaca-se ainda um concerto de Mário Laginha em Braga, uma digressão nacional dos guitarristas Norberto Lobo e Ben Chasny, uma atuação do grupo Alvorada na Exposição Mundial de Osaka 2025, no Japão, e uma série de festivais de fado pelo mundo, dedicados a Carlos Paredes, nomeadamente em Espanha, China, México, Panamá ou Argentina. Carlos Paredes nasceu em Coimbra, em 16 de Fevereiro de 1925, e morreu em Lisboa, em 23 de Julho de 2004. Filho do guitarrista Artur Paredes, outro nome maior da guitarra portuguesa, Carlos Paredes deu continuidade a uma linha familiar de gerações de músicos, mantendo-se leal à tradição e ao estilo de origem, tocando a guitarra de Coimbra, com a afinação do fado de Coimbra. Imprimiu, porém, uma abordagem pessoal, que o levou aos principais palcos mundiais e a trabalhos conjuntos com outros grandes intérpretes, como o contrabaixista norte-americano de jazz Charlie Haden. Combatente antifascista, opôs-se à ditadura e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950. Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a sua actividade como administrativo no Hospital de São José, em Lisboa. Em Dezembro de 1993 foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar a guitarra.