Livro dedicado a Carlos Paredes inclui gravação inédita de espectáculo

A vida e obra do mestre da guitarra Carlos Paredes, que “criou do nada uma música genuinamente portuguesa”, é contada num livro a ser apresentado esta semana, em Portugal, e que inclui as gravações de dois concertos, um dos quais inédito.

Em “Carlos Paredes — a guitarra de um povo”, o investigador Octávio Fonseca começa a contar o percurso do guitarrista ainda antes de este ter nascido, lembrando os antecedentes familiares.

Carlos Paredes, que completaria cem anos de vida no dia 16 de Fevereiro, descende de uma família de guitarristas e compositores: o bisavô António Rodrigues Paredes, o avô Gonçalo Rodrigues Paredes, o tio-avô Manuel Rodrigues Paredes e o pai, Artur Paredes.

Segundo Octávio Fonseca, Artur Paredes, “em termos de técnica, revolucionou completamente a guitarra de Coimbra”, e Carlos Paredes “aproveitou esse trabalho e simplificou-o”. Para contar a história e as histórias de Carlos Paredes, Octávio Fonseca recorreu-se do trabalho de investigação que tinha feito para um outro livro dedicado ao guitarrista editado em 2000, e que incluiu a leitura de artigos sobre música que o ‘mestre’ escreveu em jornais e entrevistas que deu a vários órgãos de comunicação social.

Mas para escrever este livro, contou com “a colaboração extraordinária” da guitarrista e compositora Luísa Amaro, companheira de Paredes. “A maioria das histórias que estão contadas no livro foi ela que me transmitiu”, contou.
O que torna Carlos Paredes um artista único é, para Octávio Fonseca, o facto de ter criado “música genuinamente portuguesa do nada”.

“No final dos anos 1960, início de 1970, discutia-se muito ir às raízes tradicionais, para criar uma música popular portuguesa, como fez José Afonso. Mas Carlos Paredes não fez isso, e criou uma música portuguesa do nada. Ele não partiu da nossa canção tradicional, nem de nenhuma experiência da música portuguesa”, salientou o investigador.

O paralelismo entre José Afonso e Carlos Paredes era apontado pelo próprio guitarrista. “Ele diz em duas entrevistas que há um paralelo entre ele e o José Afonso no início da carreira. O primeiro disco de Carlos Paredes é de 1962 e o primeiro disco de baladas de José Afonso também (tinha feito discos antes, mas eram de Fado de Coimbra). Fazem os dois uma música nova de Coimbra”, contou.

No ano seguinte, os dois músicos “libertam-se de Coimbra, da canção de Coimbra”, mas com uma diferença, “enquanto que com José Afonso há um corte completo, com Carlos Paredes há um corte, mas há sempre uns ‘pinguinhos’ nas composições em que Coimbra aparece”.

Novidades musicais

“Carlos Paredes – a guitarra de um povo” vem acompanhado por dois discos. Um é “Mestre da guitarra portuguesa”, um álbum gravado em 1977, no 7.º Festival de Canção Política em Berlim, editado nesse ano pela AMIGA, editora da antiga República Democrática Alemã (RDA), e que é inédito em Portugal.

No outro álbum está registado “o primeiro espetáculo que Carlos Paredes fez em nome próprio em Portugal”, uma gravação inédita registada em 31 de março de 1984, no Teatro Carlos Alberto, no Porto. O livro inclui também um portfólio de fotografias de Carlos Paredes, da autoria de Augusto Cabrita, Luís Paulo Moura e Inácio Ludgero.

O músico viveu sobretudo em Lisboa e a cidade inspirou muitas das suas composições. “Verdes Anos”, uma das mais conhecidas da sua obra, foi composta para o filme homónimo de Paulo Rocha, marco do Novo Cinema português dos anos de 1960.

Combatente antifascista, opôs-se à ditadura e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950. Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a sua actividade como administrativo, no Hospital de São José, em Lisboa. Em Dezembro de 1993, foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar guitarra.

11 Fev 2025

Guitarra portuguesa | Carlos Paredes lembrado na China e Japão

Mais de uma centena de concertos, colóquios, filmes, oficinas e um plano de salvaguarda e divulgação compõem o programa para assinalar os 100 anos do nascimento do guitarrista Carlos Paredes e celebrar o seu legado, e que será apresentado em todo o mundo, incluindo na China e Japão.

A programação, intitulada “Variações para Carlos Paredes”, foi apresentada esta segunda-feira. A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, disse que o guitarrista “conseguiu unir a tradição e a modernidade, o passado e o presente de forma absolutamente singular, única”. “O legado de Carlos Paredes tem um papel fundamental no que consideramos hoje serem elementos matriciais da nossa identidade”, disse.

O programa de celebração do centenário do nascimento de Carlos Paredes inicia-se em Fevereiro e vai estender-se pelos próximos meses, repartido em três linhas de actuação: A vertente performativa, com espectáculos, a vertente de investigação, com publicações e colóquios, e a vertente educativa, com oficinas, visitas e roteiros.

Em Fevereiro, mês do aniversário de Carlos Paredes (1925-2004), a programação terá três momentos inaugurais em Lisboa, mas ao grupo de trabalho que elaborou a programação foi pedida uma abrangência geográfica ampla para as celebrações.
“Carlos Paredes estará presente em todo o país”, sublinhou Dalila Rodrigues, acrescentando que haverá também concertos e eventos culturais em 12 países, em quatro continentes.

Concerto no São Luiz

A abertura oficial do programa está marcada para 5 de Fevereiro, em Lisboa, com a Orquestra Metropolitana de Lisboa no Teatro Municipal São Luiz, e no dia seguinte no Centro Cultural de Belém, com o espectáculo “Perpétuo”, de música e dança, encenado pelo realizador Diogo Varela Silva.

A 16 de Fevereiro, dia em que Carlos Paredes faria 100 anos, a Aula Magna da Universidade de Lisboa acolhe um concerto com a presença de nomes como a guitarrista Luísa Amaro, a cravista Joana Bagulho, o pianista Mário Laginha e a cantora A Garota Não.

Nesta vertente performativa destaca-se ainda um concerto de Mário Laginha em Braga, uma digressão nacional dos guitarristas Norberto Lobo e Ben Chasny, uma atuação do grupo Alvorada na Exposição Mundial de Osaka 2025, no Japão, e uma série de festivais de fado pelo mundo, dedicados a Carlos Paredes, nomeadamente em Espanha, China, México, Panamá ou Argentina.

Carlos Paredes nasceu em Coimbra, em 16 de Fevereiro de 1925, e morreu em Lisboa, em 23 de Julho de 2004. Filho do guitarrista Artur Paredes, outro nome maior da guitarra portuguesa, Carlos Paredes deu continuidade a uma linha familiar de gerações de músicos, mantendo-se leal à tradição e ao estilo de origem, tocando a guitarra de Coimbra, com a afinação do fado de Coimbra. Imprimiu, porém, uma abordagem pessoal, que o levou aos principais palcos mundiais e a trabalhos conjuntos com outros grandes intérpretes, como o contrabaixista norte-americano de jazz Charlie Haden.

Combatente antifascista, opôs-se à ditadura e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950. Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a sua actividade como administrativo no Hospital de São José, em Lisboa. Em Dezembro de 1993 foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar a guitarra.

21 Jan 2025