Camberra acusada de vetar empresas chinesas por razões políticas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo da China acusou ontem a Austrália de vetar por razões políticas a participação das empresas chinesas Huawei e ZTE na rede australiana de telecomunicações de quinta geração (5G). A China também pediu a Camberra que crie melhores condições para permitir o investimento de companhias chinesas na Austrália. “Pedimos à Austrália que abandone o seu preconceito ideológico para criar um ambiente saudável para a cooperação justa das empresas chinesas” naquele país, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lu Kang, numa conferência de imprensa.
O porta-voz disse que o Governo chinês está “muito preocupado” com a decisão da Austrália, tomada apesar de Pequim “sempre incentivar as empresas chinesas a cumprir as normas internacionais e as leis locais ao realizar a cooperação económica no estrangeiro”. Lu Kang acrescentou que as trocas entre as empresas dos dois países “são mutuamente benéficas por natureza” e assegurou que permitir uma maior cooperação bilateral não só ajuda o desenvolvimento da China, mas também da Austrália.
O responsável disse que “a Austrália deve oferecer facilidades para esse tipo de cooperação (…) em vez de procurar por todos os tipos de desculpas para criar obstáculos e adoptar medidas discriminatórias”.

Preocupações em rede

A Huawei, gigante de telecomunicações chinesa, foi impedida de lançar a rede 5G na Austrália por razões de segurança nacional. O Governo australiano disse hoje que o envolvimento de uma empresa “provavelmente sujeita a instruções extrajudiciais de um Governo estrangeiro” representava um risco excessivo.
A Huawei tinha garantido que nunca entregaria dados de clientes australianos a agências de informação chinesas, mas o Governo de Camberra respondeu que nenhuma combinação de controlos de segurança mitigaria suficientemente o risco. A Huawei é a segunda maior empresa de produção de telemóveis do mundo, atrás da Samsung, da Coreia do Sul, e à frente da Apple, dos Estados Unidos. A ZTE é outro importante fornecedor global de equipamentos de telecomunicações e soluções de rede, com sede na cidade de Shenzhen, no sul da China.

24 Ago 2018

Diplomacia | Cancelada visita de políticos australianos à China

Dois membros do parlamento da Austrália estavam de viagem marcada para a China, devido a uma investigação sobre tráfico de estupefacientes. Acontece que Camberra é signatária de uma carta enviada a Pequim por causa dos direitos humanos. O Governo Central não gostou

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]equim desmarcou a visita de dois políticos da Austrália por causa de uma carta de vários países em que foram feitas acusações sobre o modo como as autoridades chinesas lidam com os direitos humanos.

De acordo com a Reuters, que dá conta do cancelamento da deslocação, os dois membros do Parlamento – um da coligação no poder e outro da oposição – tinham como missão fazer uma investigação sobre a vaga de drogas sintéticas traficadas a partir do sudeste da China.

No entanto, depois de ter recebido uma missiva assinada por 11 países – a Austrália está entre as signatárias, bem como o Canadá e o Japão – em que se pedia que a China investigasse as queixas sobre a alegada tortura a advogados defensores dos direitos humanos, a visita dos dois políticos de Camberra foi cancelada. A informação foi dada à agência sob anonimato, uma vez que as fontes da Reuters não estão autorizadas a falar com a comunicação social.

“Pequim disse-lhes que a visita não poderia ser feita e, na sequência de um conselho deixado pelo Departamento de Negócios Estrangeiros e Comércio da Austrália, a deslocação foi cancelada”, indicou uma fonte.

Estava tudo bem

Desde que Xi Jinping chegou ao poder, em 2012, que o controlo da sociedade civil foi sendo reforçado em quase todos os aspectos, contextualiza a Reuters. O secretário-geral do Partido Comunista Chinês e Presidente tem usado como argumento a necessidade de estabilidade e segurança nacionais.

Nos últimos cinco anos, segundo as denúncias de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, as autoridades do país detiveram ou interrogaram centenas de advogados que defendem activistas e outros críticos do Governo Central. Os advogados têm sido acusados de cooperarem com “forças hostis estrangeiras” para minarem o poder estatal.

Na semana passada, a ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop, foi obrigada a convocar um encontro de emergência com o embaixador chinês no país para afastar um eventual desentendimento diplomático, depois de Camberra não ter ratificado um tratado de extradição com a China.

Tratou-se de um episódio invulgar nas relações sino-australianas, que têm conhecido melhorias nos últimos meses, um entendimento que culminou com a assinatura, em Março, de uma série de acordos, na sequência da visita do primeiro-ministro chinês Li Keqiang.

7 Abr 2017