China apoia esforços da Birmânia para “preservar estabilidade”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China disse ontem que apoia os esforços das autoridades birmanesas para “preservar a estabilidade” na região oeste do país, onde a violência já levou mais de 300 mil rohingya a procurar refúgio no Bangladesh.

“Acreditamos que a comunidade internacional deve apoiar os esforços da Birmânia para preservar a estabilidade do seu desenvolvimento”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa.

A violência contra os rohingyas escalou desde o ataque, no dia 25 de Agosto, contra três dezenas de postos da polícia pela rebelião, o Exército de Salvação do Estado Rohingya (Arakan Rohingya Salvation Army, ARSA), que defende os direitos da minoria.

A ONU estima que mais de um milhar de pessoas, maioritariamente da minoria muçulmana rohingya, pode ter morrido devido à violência no estado de Rakhine, um número duas vezes superior às estimativas das autoridades da Birmânia.

As autoridades birmanesas não reconhecem a cidadania aos rohingya e consideram-nos imigrantes, impondo-lhes múltiplas restrições, incluindo a privação de liberdade de movimentos.

Bancos têm de respeitar a lei de países onde operam

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China recordou ontem que pede às filiais dos seus bancos que respeitem a legislação dos países onde operam, depois de a justiça espanhola ter acusado o banco chinês ICBC em Madrid de branqueamento de capitais.

“A China exige sempre aos bancos chineses que operem no estrangeiro de acordo com a lei local”, afirmou ontem um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang.

O porta-voz disse ter sido informado que “tanto Espanha como a UE (União Europeia) estão a investigar as filiais do ICBC em Madrid e na UE”.

Mas assegurou que a filial do ICBC na capital espanhola e a sua marca na Europa “desempenharam um papel positivo na promoção da cooperação financeira entre a China e o ocidente e a UE”.

O juiz da Audiência Nacional de Espanha Ismael Moreno iniciou um processo contra o ICBC, acusando-o de apoiar organizações criminosas a branquear um total de 214 milhões de euros.

O banco, que pertence ao Estado chinês, é suspeito de operar uma estrutura criminal que se dedicava a transferir dinheiro para a China, obtido através de contrabando, fraude fiscal e exploração de mão-de-obra, “de maneira a que parecesse legal”.

O ICBC abriu portas na capital espanhola em 2011 e opera sob a tutela da central europeia, no Luxemburgo.

Está também presente em Portugal há alguns anos, mas através de um escritório de representação, sendo conhecida a sua vontade de abrir uma sucursal no país a curto prazo.

Trata-se da maior instituição bancária do mundo em capitalização em bolsa e por depósitos.

13 Set 2017

Rohingya  | Dalai Lama pede a Suu Kyi solução pacífica para a crise

O dalai lama instou a líder de facto da Birmânia, Aung San Suu Kyi, a encontrar uma solução pacífica para a crise dos rohingya, manifestando preocupação relativamente à violência que levou quase 300 mil pessoas a fugir do país

[dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]eço-lhe a si e aos seus colegas para que estendam a mão a todas as franjas da sociedade a fim de tentar restabelecer relações amigáveis no seio da população num espírito de paz e de reconciliação”, declarou o líder espiritual tibetano, numa carta endereçada à líder de facto do regime birmanês e também Nobel da Paz, a que a agência noticiosa francesa AFP teve hoje acesso.

“As perguntas que me dirigem levam-me a pensar que são inúmeros os que têm dificuldade em compreender que aquilo que sucede aos muçulmanos acontece num país budista como a Birmânia”, escreveu o dalai lama.

Os rohingya têm fugido em massa do oeste da Birmânia rumo ao vizinho Bangladesh desde que o exército lançou uma vasta ofensiva militar na sequência do ataque, lançado em 25 de Agosto, contra três dezenas de postos da polícia pela rebelião, o Exército de Salvação do Estado Rohingya (Arakan Rohingya Salvation Army, ARSA), que defende os direitos daquela minoria muçulmana.

A ONU actualizou ontem para 313 mil o número de rohingyas que atravessaram a fronteira para o Bangladesh.

Segundo uma estimativa, também das Nações Unidas, divulgada anteriormente, mais de um milhar de pessoas daquele minoria muçulmana podem ter morrido na sequência da escalada da violência no estado de Rakhine, um número duas vezes superior às estimativas birmanesas.

A Birmânia, onde mais de 90% da população é budista, não reconhece cidadania aos rohingya, uma minoria apátrida considerada pelas Nações Unidas como uma das mais perseguidas do planeta.

Mais de um milhão de rohingya vive em Rakhine, onde sofrem crescente discriminação desde o início da violência sectária em 2012, que causou pelo menos 160 mortos e deixou aproximadamente 120 mil pessoas confinadas a 67 campos de deslocados.

Apesar de muitos viverem no país há gerações, não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, aos hospitais e o recrudescimento do nacionalismo budista nos últimos anos levou a uma crescente hostilidade contra eles, com confrontos por vezes mortíferos.

Limpeza em curso

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos do Homem afirmou ontem que a forma como a Birmânia está a tratar a minoria muçulmana rohingya aparenta “um exemplo clássico de limpeza étnica”.

“A Birmânia tem recusado o acesso dos inspectores [da ONU] especializados em direitos humanos. A avaliação actualizada da situação não pode ser integralmente realizada, mas a situação parece ser um exemplo clássico de limpeza étnica”, disse Zeid Ra’ad Al Hussein na abertura da 36.ª sessão do Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas, em Genebra.

Aung San Suu Kyi tem sido duramente criticada por defender a actuação do exército em relação aos rohingya por múltiplas personalidades, entre as quais os a paquistanesa Malala Yousafzai e o sul-africano Desmond Tutu, também laureados com o Nobel da Paz, havendo mesmo uma petição, já assinada por mais de 350 mil pessoas de todo o mundo, a pedir ao comité norueguês que lhe retire o prémio.

Na passada quarta-feira, a líder birmanesa defendeu-se das críticas, afirmando haver uma campanha de desinformação sobre a questão e assegurando que vai proteger os direitos de todas as pessoas.

“A solidariedade internacional com os ‘rohingya’ é o resultado de um enorme iceberg de desinformação, que visa criar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas”, disse Suu Kyi.

12 Set 2017

Birmânia | Aung San Suu Kyi rejeita tréguas com rebeldes rohingya

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe de gabinete da Conselheira de Estado da Birmânia Aung San Suu Kyi rejeitou ontem o cessar-fogo temporário oferecido pelos rebeldes rohingya para permitir a entrada de ajuda humanitária no estado birmanês de Rakhine.

“Não temos como política negociar com terroristas”, escreveu Zaw Htay, referindo-se ao Exército de Salvação do Estado Rohingya (ARSA), na rede social de mensagens curtas Twitter.

O ARSA, que a 25 de Agosto atacou vários postos de segurança no estado de Rakhine, declarou no sábado à noite um cessar-fogo unilateral de um mês para permitir o acesso de ajuda humanitária à região, onde operações militares causaram centenas de mortos e forçaram quase 300.000 pessoas a fugir para o vizinho Bangladesh.

Os rebeldes instaram o Governo birmanês a responder à sua declaração.

“O ARSA insta o Governo birmanês a responder às tréguas com a cessação das operações militares e a participar na assistência às vítimas nas áreas de conflito, seja qual for a sua etnia ou religião”, indicaram os rebeldes através do Twitter.

A resposta dos militares aos ataques de 25 de Agosto foi violenta e, segundo refugiados rohingya, vilas inteiras foram queimadas e centenas de civis mortos. O governo birmanês disse que a maioria dos 400 mortos era “terrorista”.

A ONU estima que mais de um milhar de pessoas, maioritariamente da minoria muçulmana rohingya, pode ter morrido devido à violência no estado de Rakhine, um número duas vezes superior às estimativas das autoridades da Birmânia,

que não reconhecem a cidadania aos rohingyas e consideram-nos imigrantes, impondo-lhes múltiplas restrições, incluindo a privação de liberdade de movimentos.

11 Set 2017

ASEAN pede à Birmânia que proteja civis em Rakhine

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) pediram ontem ao Governo da Birmânia acções imediatas para proteger os civis afectados pelos confrontos registados no estado de Rakhine, no oeste do país.

“A prioridade é o dever de proteger os civis. Todas as partes devem tomar medidas urgentes para proteger todos os indivíduos afectados pela violência, independentemente da sua origem étnica ou cidadania”, declarou a deputada indonésia Eva Kusuma Sundari, num comunicado dos Parlamentares da ASEAN pelos Direitos Humanos (APHR, na sigla em inglês).

Desde sexta-feira, pelo menos 110 pessoas morreram durante a violência desencadeada pela onda de ataques reivindicados por rebeldes muçulmanos ‘rohingya’ contra postos oficiais em Rakhine.

Um milhar de rebeldes armados com facas, machetes e outras armas artesanais participaram nos ataques perpetrados contra vários objetivos do município de Maungdaw, perto da fronteira com o Bangladesh.

O Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA), grupo ao qual é atribuído o ataque a três esquadras em 9 de Outubro de 2016 que deixou nove agentes mortos e desencadeou uma repressão das forças de segurança, reivindicou a acção.

Os rebeldes, que qualificam o governo de “opressivo” e o exército de “brutal”, denunciaram o “bombardeamento indiscriminado” contra civis e abusos como violação de mulheres, saque de propriedades e ainda sacrifício de animais domésticos.

As autoridades birmanesas qualificaram os membros do grupo de “extremistas terroristas” e sustentaram que são os responsáveis de assassínios e a queima de casas.

“Não se trata de política, trata-se da responsabilidade mais fundamental de salvaguardar a vida humana, uma obrigação do direito internacional humanitária”, sublinhou Eva Kusuma Sundari.

Encurralados

Milhares de pessoas da etnia ‘rohingya’ tentaram procurar amparo no Bangladesh, mas as autoridades do país vizinho continuam a impedir que os deslocados cruzem a fronteira.

“O Governo do Bangladesh deve permitir o refúgio dos ‘rohingya’ e acabar com as expulsões que deixam os civis vulneráveis ao perigo”, afirmou o deputado filipino Teddy Baguilat, ao reclamar dos países da região uma intervenção mais ativa para prevenir um massacre idêntico ao que sofreu o Camboja.

Baguilat fazia referência aos 1,7 milhões de pessoas que morreram entre 1975 e 1979 durante o regime dos Khmers Vermelhos no Camboja devido a trabalhos forçados, doenças, fome e purgas políticas.

“Está na hora de agirmos, caso contrário poderemos ter outro Camboja no pátio atrás da nossa casa”, insistiu o parlamentar malaio Charles Santiago, que preside à APHR.

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados estimou na terça-feira que “mais de três mil” ‘rohingya’ poderão ter entrado no Bangladesh desde sexta.

O Governo de Daca resiste a aceitar novos refugiados e as forças de segurança colocadas nas margens do rio Naf, fronteira natural entre o Bangladesh e a Birmânia, expulsaram nos últimos dias pelo menos 511 ‘rohingya’.

Mais de um milhão de ‘rohingya’ vivem em Rakhine, onde sofrem uma crescente discriminação desde o surto de violência sectária que provocou, em 2012, pelo menos 160 mortos e deixou aproximadamente 120 mil membros daquela comunidade confinados em 67 campos de deslocados, onde enfrentam diversas privações, nomeadamente de movimentos.

Os ‘rohingya’ são uma minoria apátrida considerada pela ONU uma das mais perseguidas do planeta.

31 Ago 2017

ONU questiona investigação birmanesa sobre abusos contra minoria étnica

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ONU questionou ontem a credibilidade da comissão governamental birmanesa que investigou a violência contra a minoria muçulmana rohingya, após denunciar que as acções das forças de segurança são passíveis de se considerar “limpeza étnica”.

Adama Dieng, enviado especial da ONU para a prevenção do genocídio, mostrou-se “chocado e alarmado” com o relatório, divulgado na semana passada, pelo Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, que denuncia uma série de abusos perpetrados desde Outubro, altura em que o exército lançou uma grande ofensiva no estado de Rakhine (oeste) após ataques mortíferos de rebeldes contra postos fronteiriços.

Esses abusos incluem execuções sumárias, violações, desaparecimentos forçados, tortura e tratamento desumano ou detenção arbitrária, de acordo com o relatório que indica que centenas de membros da comunidade rohingya terão sido mortos.

A campanha militar levou aproximadamente 65.000 pessoas a fugir para o Bangladesh e 22.000 outras a deslocarem-se para o interior da Birmânia, segundo calculou o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

A zona do norte de Rakhine mantém-se fechada ao acesso da ajuda humanitária, da qual dependem milhares de pessoas, e de observadores e jornalistas independentes.

Adama Dieng congratulou-se com o compromisso anunciado pelo governo birmanês de investigar os abusos denunciados no relatório, publicado depois de uma comissão liderada pelo vice-presidente Myint Swe não ter encontrado provas dos referidos abusos por parte das forças de segurança, mas contestou o resultado.

“A actual comissão não é uma opção credível para levar a cabo uma nova investigação”, disse Dieng, ao mostrar a sua preocupação relativamente às diferenças entre as conclusões do relatório do grupo governamental e as do organismo das Nações Unidas.

“Apelo para que qualquer investigação seja realizada por um grupo realmente independente e imparcial, que inclua observadores internacionais”, afirmou o enviado especial da ONU.

Em comunicado, o mesmo responsável insta o governo birmanês a demonstrar a sua sinceridade em resolver o conflito em Rakhine, onde a organização Human Rights Watch (HRW) também denunciou, na segunda-feira, novos casos de violência contra os rohingya.

Casa dos horrores

O grupo de defesa dos direitos humanos com sede em Nova Iorque documentou violações de mulheres, incluindo meninas de 13 anos, perpetradas por soldados e guardas fronteiriços que insultaram, agrediram e ameaçaram as vítimas por razões étnicas ou religiosas.

“Estes horríveis ataques a mulheres e meninas rohingya por parte das forças de segurança acrescentaram um novo e brutal capítulo ao longo e repulsivo historial de violência contra as mulheres por parte do exército birmanês”, disse a investigadora da HRW, Priyanka Motaparthy.

A activista culpou ainda o governo birmanês pelo seu fracasso na investigação das violações e de outros crimes contra os rohingya, apelando também à realização de uma investigação internacional e independente.

“O governo deveria parar de questionar estas denúncias de violações e em troca oferecer apoio às vítimas e acesso a cuidados médicos”, sustentou Motaparthy.

Mais de um milhão de rohingya vive em Rakhine e sofre discriminação na Birmânia, de maioria budista.

A maioria não tem cidadania e é considerada como imigrante ilegal do Bangladesh, ainda que alguns vivam no país há várias gerações.

Os rohingya são uma minoria muçulmana apátrida considerada uma das mais perseguidas do planeta pelas Nações Unidas.

8 Fev 2017

Birmânia | Pequim apela ao restauro da paz na fronteira

Os combates entre o exército e os guerrilheiros das minorias étnicas fizeram, domingo passado, oito mortos. Uma bomba caiu em território chinês

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China apelou à Birmânia para restaurar a paz na fronteira comum e evitar uma escalada no conflito entre as forças armadas e guerrilheiros, após uma bomba ter atingido território chinês.

As autoridades chinesas puseram em marcha um dispositivo de emergência e reforçaram o contingente policial junto à fronteira.

Pequim “espera que todas as partes implicadas participem no diálogo e consultas e façam esforços concretos para salvaguardar a paz”, afirmou um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, em comunicado difundido na noite de domingo.

Os combates entre as forças birmanesas e os guerrilheiros começaram na madrugada de domingo e o tiroteio podia ser escutado na cidade chinesa de Wanding, situada na fronteira.

Uma das bombas atingiu uma aldeia chinesa, sem causar vitimas.

Entretanto, um hospital chinês admitiu dois civis da Birmânia que ficaram feridos e em vários locais foram preparadas instalações para receber os refugiados do conflito.

Escreve ontem a imprensa estatal da Birmânia que pelo menos oito pessoas morreram no noroeste do país nos confrontos no domingo entre o exército e guerrilhas de três minorias étnicas.

Segundo o jornal Global New Light of Myanmar, os confrontos foram provocados por ataques a postos militares e da polícia por parte do Exército para a Independência Kachin, Exército de Libertação Nacional Ta’ang e milicianos da minoria kokang.

Um soldado, três polícias, um membro da milícia civil e três moradores morreram e 29 pessoas ficaram feridas, incluindo nove polícias, segundo o mesmo diário.

Na sequência da ofensiva, várias bombas caíram do lado chinês da fronteira, onde não foram registados feridos, segundo o jornal.

Acordo distante

O recrudescimento da violência representa mais um golpe nos esforços da líder de facto do governo birmanês, Aung San Suu Kyi, para alcançar um acordo de paz com as guerrilhas.

O governo organizou em Agosto uma conferência de paz, que reuniu 18 das 21 guerrilhas do país e terminou com uma declaração de boas intenções, mas sem grandes acordos.

Os ta’ang e kokang não participaram no encontro, devido ao veto dos militares, ao contrário do que sucedeu com os kachin, que enviaram uma delegação. Os kachin, com cerca de 10.000 milicianos, enfrentam o exército desde 2011, após o fim de um cessar-fogo que durou 17 anos.

Esse diálogo não deteve, contudo, a ofensiva levada a cabo na zona pelo exército birmanês, ao qual a Constituição concede amplos poderes, incluindo os ministérios da Defesa, Interior e Fronteiras, e poder de veto no parlamento.

Uma maior autonomia é a principal reivindicação de quase todas as minorias étnicas da Birmânia, incluindo a chin, kachin, karen, kokang, kayah, mon, rakain, shan e wa, as quais representam mais de 30% dos 48 milhões de habitantes do país.

Em Maio de 2015, durante um conflito entre as tropas da Birmânia e guerrilheiros kokang, uma bomba atingiu também território chinês, causando a morte de cinco camponeses.

A Birmânia pediu desculpas e pagou compensações pelo incidente.

22 Nov 2016

Birmânia | ONG insta Nações Unidas a investigar abusos contra minoria

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Human Rights Watch (HRW) denunciou ontem a queima de aldeias rohingya no oeste da Birmânia, apelando à ONU para investigar os relatos de abusos das forças de segurança cometidos contra aquela minoria desde o início do mês.

O exército birmanês declarou como “zona de operações” o norte do estado Rakhine, na fronteira com o Bangladesh, onde vive a maioria dos rohingya, após o ataque de um grupo armado contra três postos da polícia fronteiriça a 9 de Outubro.

O assalto e posteriores distúrbios causaram pelo menos 40 mortos entre polícias, militares, assaltantes e moradores, e levou ao destacamento do exército, a quem activistas locais acusam de execuções, violações e saques contra os rohingya.

A HRW utilizou imagens de satélite para fundamentar a nova denúncia, que fez horas antes da chegada ao local de uma delegação das Nações Unidas e do Governo birmanês, criticado pela organização não-governamental por causa das “desculpas” para impedir o acesso das agências humanitárias àquela zona.

“Novas imagens de satélite revelam destruição em Rakhine que exige uma investigação imparcial e independente, algo que o Governo birmanês ainda não foi capaz de fazer”, afirmou o sub-director da HRW para a Ásia, Phil Robertson, em comunicado.

Danos desconhecidos

Segundo a HRW, as imagens mostram rastos de incêndios que coincidem com as denúncias de organizações locais e alertou que, apesar de o número de habitações afectadas ser “incerto”, os danos na zona podem ter sido subestimados.

Os rohingya vivem na Birmânia (Myanmar) há séculos mas não são reconhecidos como cidadãos birmaneses nem como imigrantes bengalis.

Aproximadamente 120 mil rohingya – minoria apátrida que as Nações Unidas consideram uma das mais perseguidas do planeta – vivem confinados em 67 acampamentos e sofrem todo o tipo de restrições desde o surto de violência sectária em 2012 entre esta minoria muçulmana e a maioria budista da região, que causou pelo menos 160 mortos.

Os rohingya são um assunto sensível na política birmanesa, condicionada por grupos budistas radicais que levaram o anterior Governo a adoptar múltiplas medidas discriminatórias contra aquela minoria, como a privação da liberdade de movimento.

O actual Governo, liderado pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, criou em Agosto uma comissão liderada pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, incumbida de elaborar um relatório com recomendações para solucionar o conflito sectário.

1 Nov 2016

Xi Jinping e Suu Kyi negoceiam paz e construção de barragem

O Presidente da China, Xi Jinping, afirmou na sexta-feira durante um encontro em Pequim com a líder da Birmânia, Aung San Suu Kyi, que apoia o processo de paz no país entre o governo e os grupos rebeldes. Em troca Suu Kyi acenou com a possibilidade de retoma da construção da barragem, parada desde 2011

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante o encontro entre os dois líderes, Xi Jinping prometeu “desempenhar um papel construtivo na promoção do processo de paz”, segundo a agência chinesa Xinhua. “A China atribui grande importância ao desenvolvimento das relações com o Myanmar” , escreveu Xi, de acordo com um comunicado oficial.
A Birmânia vai organizar, no final do mês, uma conferência com os grupos rebeldes, com Suu Kyi a fazer da paz um prelúdio para o relançamento da economia depois de o seu partido ter vencido as históricas eleições de Novembro do ano passado. “Como bom vizinho, a China vai fazer todo o possível para promover o nosso processo de paz”, disse a ministra dos Negócios Estrangeiros birmanesa aos jornalistas, em Pequim, antes do encontro com Xi.

Interesses comuns

A China tem todo o interesse em que este acordo seja assinado porque conhece bem a realidade dos grupos étnicos armados na Birmânia e tem presente o perigo que representam, uma vez que dividem a fronteira. A propósito deste assunto a Nobel da Paz realçou “esta é uma fronteira muito importante onde existem muitos grupos étnicos armados”. Há facções que lutam contra o governo há décadas. Têm lugar nas pobres e militarizadas fronteiras da Birmânia, prejudicando os esforços para elevar a economia depois de ter sido posto termo à junta militar.
Desde a sua independência do Reino Unido em 1948, a Birmânia, onde vivem mais de 130 etnias diferentes, é palco de revoltas de grupos que reclamam o direito à autonomia. Alguns têm laços étnicos e culturais com a vizinha província chinesa de Yunnan, e a fronteira é permeável ao comércio de droga, armas e pedras preciosas. O apoio da China é visto como crucial para pôr fim a décadas de conflitos étnicos no país, algo em que Pequim está interessado, visto que em ocasiões passadas os confrontos com o exército da Birmânia ocorreram em zonas junto à sua fronteira.
Os líderes têm trunfos na manga e Suu Kyi alimenta junto do vizinho, a esperança de reanimar o projecto de construção da barragem de Myitsone. Avaliado em mais de três milhões de euros, é co-financiado por uma empresa chinesa e iria fornecer a maior parte da produção de energia eléctrica aquele país. Desde que foi travada a sua construção, em 2011, é um espinho na agenda política entre os vizinhos.

22 Ago 2016

Birmânia | Aung San Suu Kyi pede eleições livres e justas

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] líder da oposição birmanesa, Aung San Suu Kyi, pediu ontem eleições livres e justas, no início da campanha eleitoral para a votação de 8 de Novembro, a primeira em décadas organizada por um Governo civil.
Suu Kyi considerou a eleição “um momento crucial” para o país e para a sua transição para uma democracia, num vídeo publicado na página de Facebook do seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (NLD, na sigla inglesa).
“Pela primeira vez em décadas, o nosso povo terá a oportunidade real de trazer uma mudança, é uma oportunidade que não podemos perder”, disse. Aung
“Esperamos que o mundo compreenda quão importante é para nós ter eleições livres e justas e garantir que o resultado será respeitado por todas as partes” acrescentou.
A Nobel da Paz pediu ajuda à comunidade internacional, solicitando que observe o processo eleitoral antes, durante e, “de forma crucial”, depois das eleições, para assegurar que a vontade dos birmaneses é respeitada.

Factores únicos

As eleições de Novembro serão as primeiras que a Birmânia celebra com um Governo civil em meio século, depois de, em 2011, a última junta militar se ter dissolvido e o poder transferido para o Governo formado por ex-generais após as eleições de 2010.
Essa votação foi boicotada pela NLD, que não pode apresentar Suu Kyi como candidata, que na altura estava em prisão domiciliária, da qual foi libertada uma semana depois.
A líder da oposição conseguiu um assento no parlamento em eleições parciais realizadas um ano depois, em que a NLD venceu o partido no poder (USDP).
No entanto, Suu Kyi não pode candidatar-se à presidência do país devido a uma disposição na Constituição, aprovada pelos militares, que veta ao cargo pessoas com familiares estrangeiros, como é o seu caso, já que os filhos de Suu Kyi têm passaporte britânico.

9 Set 2015