Transmontana ensina arte marcial japonesa na China em paradigma da globalização

[dropcap]N[/dropcap]ascida e criada no interior de Portugal, Ana Carmo é hoje uma das raras professoras de karaté na China, onde aquela arte marcial tem raízes milenares, a par do Japão, ilustrando a fluidez da globalização. “É um pouco o resultado da globalização”, descreve à agência Lusa a portuguesa de 31 anos e natural de Bragança. “Hoje em dia estamos em contacto com o mundo todo”, explica.

Radicada em Pequim há dois anos, onde é também a única arquiteta estrangeira de um gabinete local, Ana Carmo deu os primeiros passos no karaté em Bragança, no norte de Portugal, aos 25 anos, já depois de terminar o curso de arquitetura e viver e estudar na Alemanha, ao abrigo do programa Erasmus.

“Entre encontrar emprego e saber o que é que ia fazer à minha vida, surgiu o convite para começar a praticar, através de um amigo meu”, conta. “Até então, nunca tinha praticado desporto. Não costumava ir ao ginásio e não fazia mesmo nada”, admite.

Ana Carmo acabou por atingir o cinturão negro, escalão máximo daquela arte marcial, na China, após realizar exames em Xangai, a “capital” financeira e mais cosmopolita cidade do país, e já depois de um ano a treinar sozinha nos parques de Pequim.

“Tive de aprender novos ‘kata’ [sequência de movimentos de ataque e defesa]. Ainda pratiquei algum tempo, a estudar sozinha através de vídeos”, conta.

Ana Carmo dá agora aulas num estúdio situado no centro de Pequim. A maioria dos alunos são chineses, mas também ensina praticantes oriundos do Brasil, Canadá, Portugal ou Cazaquistão.

Num sábado à tarde, a portuguesa está a supervisionar uma ‘shinsa’ – o exame de graduação – para a passagem do cinto branco para laranja, de um total de cinco praticantes chineses.

“Uma diferença que identifico é que o aluno chinês é muito mais rígido, muito mais disciplinado, do que os restantes, que ainda consideram o karaté um passatempo”, conta. “Eles são mesmo muito competitivos”, realça.

A prática do karaté remonta ao antigo reino independente de Ryukyu, que corresponde à atual prefeitura de Okinawa, a região japonesa mais próxima de território chinês, em particular da província de Fujian, no sudeste do país.

A China teve outrora forte influência sobre Ryuku, com comunidades chinesas a estabelecerem-se ali e vice-versa, num intercâmbio que moldou o desenvolvimento do karaté, sobretudo através da chegada de monges Shaolin oriundos de Fujian.

“O karaté tem origem no Japão, mas tem bastante influência do sul da China, sobretudo da província de Fujian, fruto de um intercâmbio muito forte de pessoas e informação na época”, aponta a portuguesa.

No entanto, Ana Carmo observa que atualmente o karaté não está difundido na China, sendo ela uma das poucas professoras em todo o país.

Durante as aulas, a portuguesa usa termos japoneses, incluindo termos técnicos e na contagem.

“O karaté não pode ser visto apenas como um desporto: apesar de ter a componente desportiva e competitiva, trata-se de uma arte e de uma disciplina”, explica.

Absorver a vertente teórica é crucial para a evolução do praticante, considera.

Ana Carmo observa que, em Portugal, as artes marciais “estão bem enraizadas”, sobretudo o sul-coreano taekwondo e o karaté, mas que as características daquelas modalidades fazem com que poucas pessoas pratiquem por muito tempo.

“O karaté, por exemplo, é muito de repetição. Às vezes torna-se cansativo: para quem quer evoluir, é preciso ter paciência”, diz.

“É preciso apanhar-lhe o gosto e perceber que, à medida que se vai evoluindo, que se vai praticando, nem sempre se torna mais fácil e se calhar até se torna mais difícil”, explica. “Nós é que se calhar vamos estar mais aptos a processar essas dificuldades”, conclui.

27 Abr 2020

Ricardo Lopes, advogado e praticante de artes marciais, “No Kung Fu encontrei as respostas que sempre procurei”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Oriente sempre esteve presente na vida de Ricardo Lopes, tanto em casa, como na busca de uma espiritualidade longe dos padrões ocidentais. Movido pela necessidades de controlar a sua energia, o lisboeta procurou um escape que lhe desse equilíbrio. Encontrou no Kung Fu To’A, uma vertente iraniana da arte marcial, a harmonia e as respostas que há muito procurava. “Não tinha qualquer afinidade com o Kung Fu, ou qualquer outra arte marcial”, conta o advogado de 42 anos, apesar de ter visto os filmes do Bruce Lee durante a infância.

Depois de assistir a uma sessão do Mestre Guilherme Luz, a vida de Ricardo Lopes mudou. Encontrou uma forma de encarar a arte marcial mais holística, virada para o interior, para o centro da pessoa, uma fonte de equilíbrio que ficava muito além da manifestação física, da parte da defesa pessoal.

“Encontrei as respostas que sempre tive desde muito novo, respostas que não encontrei na família, na sociedade, na religião, em lado nenhum”.

Apesar da vertente do Kung Fu que pratica ser oriunda do Médio Oriente, as suas origens estão na China. Além disso, o advogado também teve família a viver em Macau. “Cresci a ouvir histórias de cá, em minha casa sempre se fez Minchi, sempre vivi com estes sabores e fragrâncias orientais”, conta.

O fascínio por Macau foi algo presente na vida de Ricardo Lopes, inclusive quando tirou o curso de Direito, chegou a  sugerir à sua mulher, na altura namorada, que viessem viver para Macau, algo que não se materializou.

Apesar da distância, o jurista “devorava as notícias” do território de uma forma instintiva, mas a distância mantinha-se. Situação que a crise económica viria alterar, apesar de não ser imediatamente. Em 2012/2013 veio ao território para algumas entrevistas de emprego e acabou por ficar por cá.

Nunca tinha cá estado, mas assim que chegou sentiu-se verdadeiramente em casa.

Identificação total

“Nunca cá tinha estado, não tinha cá família nem conhecia ninguém”, revela. Depois do primeiro impacto de descoberta de algo completamente novo, Ricardo Lopes sentiu “uma enorme conexão com Macau, uma ligação forte a isto tudo, às ruas, aos nomes das coisas, às pessoas e à forma como convivem”.

Perdia-se pelas ruelas de Macau, tropeçava em jogos de Mahjong à porta de lojas e nada lhe parecia estranho, tudo lhe soava familiar e de acordo com as histórias que ouvia desde criança.

Chegou ao território com a ideia romântica do Oriente, apesar da realidade não ser bem assim, mas ainda conseguiu encontrar o velho romantismo que fez com que se identificasse totalmente com a cidade.

Encontrou por cá vestígios da arte marcial que o completava quando deixou Lisboa para trás, em especial nos movimentos harmoniosos das pessoas que praticam Tai Chi na rua. “Olhava e interpretava a parte espiritual dos gestos daquelas pessoas, a verdadeira conexão interna dos movimentos, a ligação entre o físico e o emocional”, conta. Um contraste completo com o reboliço do dia-a-dia que impele as pessoas a correrem de um lado para o outro.

No entanto, deixou em Portugal a ligação ao Kung Fu Ta’O, algo que não encontrou em Macau. O mais aproximado que conseguiu foi um instrutor de Wushu de Hong Kong, que visita Macau semanalmente.

Hoje em dia, Ricardo Lopes treina no Yoga Loft. Apesar de deixar bem vincado que não é um mestre, quem estiver interessado a treinar a variante de Kung Fu pode fazê-lo às quartas-feiras, pelas 19h30. “É um treino partilhado daquilo que aprendi”, conta.

Através da arte marcial, Ricardo Lopes desenvolve a parte física para moldar o interior, uma prática que o ajuda a manter-se centrado. “O Kung Fu ajuda-me a estar mais presente, a não ter receios ou ansiedades, a estar mais atento e tranquilo”, um equilíbrio que o ajuda na vida pessoal e profissional e que tem todo o gosto em partilhar.

17 Nov 2017

Yogaloft | António Conceição Júnior é novo instrutor

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ntónio Conceição Júnior vai ser o novo instrutor de Defesa Pessoal do espaço Yoga Loft, fundado por Rita Gonçalves. “Aprender a cair, conhecer as zonas fortes e frágeis do corpo, e explorar os movimentos básicos dos braços, bacia, pernas e pés são algumas das técnicas que vão ser adquiridas pelos participantes”, explica a organização em comunicado. A reabertura do espaço de aulas vai ser apresentada já este domingo e conta com a presença dos novos professores, incluindo Fátima Hung, instrutora de Pilates formada em motricidade humana. Ao Yoga Loft traz aulas de Pilates com Roller. “Excelente para melhorar a postura e estrutura muscular das costas, nestas aulas os participantes deitam-se sobre um rolo de espuma e põem à prova a coordenação e força num equilíbrio desafiante”, esclarece a organização. O dia aberto tem início às 15h00 e inclui a projecção do documentário Kumare, às 18h00.

27 Ago 2015