Cinema | Mostra de filmes portugueses em Pequim até 11 de Setembro

Começou na sexta-feira em Pequim a mostra “Filmes de Portugal”. Até ao dia 11 de Setembro, serão exibidas seis longas-metragens e um documentário de cineastas portugueses no Museu Nacional de Cinema da China. O cartaz é composto por filmes tão díspares como o clássico “Os Verdes Anos”, “Listen” de Ana Rocha da Sousa e “Km 224”, de António-Pedro Vasconcelos

 

Começou na sexta-feira a mostra “Filmes de Portugal”, em exibição no Museu Nacional de Cinema da China, em Pequim. A celebração da sétima arte lusa será feita no grande ecrã com seis longas-metragens e um documentário portugueses, naquela que é a primeira exibição de cinema estrangeiro realizada pela instituição pública com sede na capital chinesa este ano.

A mostra “Filmes de Portugal” inclui o clássico a preto e branco “Os Verdes Anos”, de 1963, e “Listen”, a primeira longa-metragem realizada por Ana Rocha de Sousa. “Km 224”, o novo filme de António-Pedro Vasconcelos, integra também o cartaz que será exibido até ao dia 11 de Setembro.

Tratam-se sobretudo de filmes artísticos, que mostram como pessoas reais e a cultura inspiram os cineastas portugueses a contar as histórias no grande ecrã, descreveu o jornal Global Times.

Também em 2016, Pequim recebeu uma exposição cinematográfica composta por um total de 24 filmes portugueses, como parte de um acordo entre os dois países para promover obras portuguesas na China e filmes chineses em Portugal. Em 2015, foram exibidos 32 filmes chineses em duas salas de cinema em Lisboa.

Pais e filhos

Num longo e elogioso artigo, o Global Times descreve “Os Verdes Anos” como uma película que reflecte a forte influência do movimento artístico francês Nouvelle Vague, que imortalizou mestres como Jean-Luc Godard e François Truffaut.

Uma das obras contemporâneas em destaque no evento é “Listen” um filme escrito e realizado por Ana Rocha de Sousa, que estreou em 2020 e venceu um prémio especial do júri no 77º Festival Internacional de Veneza. Com Lúcia Moniz e Ruben Garcia nos papéis principais, “Listen” retrata a realidade e os dramas sociais de uma família de emigrantes portugueses que luta contra os serviços sociais britânicos.

Baseado em factos reais, o filme de Ana Rocha de Sousa centra-se na luta de uma família portuguesa emigrada no Reino Unido, a quem os serviços sociais retiram a guarda dos três filhos por considerarem estar em risco de sofrer danos emocionais. Situação que desencadeia os protocolos do sistema de adopção forçada e que leva à consequente angústia, inquietação e desespero de uma família que tenta encontrar a felicidade e provar junto dos serviços sociais a sua capacidade de cuidar dos filhos.

Outra produção incluída no cartaz é o mais recente filme de António-Pedro Vasconcelos, “Km 224”, que como “Listen” será exibido na China pela primeira vez. O epicentro do filme é a tensão dramática que surge dos múltiplos episódios gerados por um divórcio e a luta pela custódia legal dos filhos.

Dívidas e girafas

“Tristeza e Alegria na Vida das Girafas”, de Tiago Guedes, é uma das propostas mais originais do cartaz do “Filmes de Portugal”. Sob o tema das dores de crescimento, o argumento desta obra tem como ponto fulcral a história de uma menina de 10 anos que atravessa a cidade de Lisboa em busca da única pessoa que pode ajudá-la: o primeiro-ministro. Esta viagem de fantasia é narrada pela voz de uma criança que empreende a tarefa de tentar explicar o mundo, ultrapassando a fronteira que separa a adolescência da inocente pureza da infância.

Com estreia comercial em 2017, “São Jorge” valeu a Nuno Lopes o Prémio Orizzonti de melhor actor no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 2016. Realizado por Marco Martins, o filme tem um elenco recheado, com nomes como Mariana Nunes, David Semedo, Gonçalo Waddington, Beatriz Batarda, José Raposo e Jean-Pierre Martins.

A história de “São Jorge” centra-se na queda do personagem interpretado por Nuno Lopes, um boxer desempregado afogado em dívidas que, à beira de perder o filho, decide aceitar um emprego numa agência de cobrança de dívidas. Com o Portugal da era da Troika em plano de fundo, a narrativa segue a descida do protagonista ao mundo do crime e da violência extrema.

O “Filmes de Portugal” exibe também “Aquele Querido Mês de Agosto”, de Miguel Gomes, e o documentário “Silêncio – Vozes de Lisboa”.

Além deste cartaz, o evento terá ainda uma exposição dedicada ao mestre Manoel de Oliveira, uma unidade de revisão de filmes clássicos e alguns trabalhos contemporâneos, incluindo “Cartas da Guerra”, realizado por Ivo Ferreira.

29 Ago 2022

Parque Mayer

[dropcap]É[/dropcap] o título do mais recente filme do António Pedro Vasconcelos, um drama de costumes, em que através das peripécias do arranque de uma nova “revista” na “Broadway” lisboeta quis retratar a opressão do Estado Novo.

Estamos em 1935, o filme, com um casting com excelentes desempenhos dos actores, não caminha no sentido da construção do grande filme musical e do “glamour”, decide-se por outra abordagem em que o fantasma da policia política é personagem tutelar da narrativa.

É um Parque Mayer com pouco brilho e uma cidade sem chama que o filme nos dá a ver, com poucos e tímidos exteriores, centrado no foco da repressão da criatividade e da vida pela presença da censura e da polícia.

O filme é assim descrito na sinopse: “Lisboa, 1933. Deolinda, uma jovem da província que tem o sonho de ser artista no Parque Mayer, apresenta-se num casting para coristas para a nova revista no teatro Maria Vitória. Durante os ensaios, apaixona-se por Mário, o encenador, mas este está fascinado por Eduardo, a estrela da revista que, por sua vez, tenta seduzir Deolinda… Ao mesmo tempo o Estado Novo começa a apertar o cerco e a liberdade está cada vez mais limitada… Uma homenagem divertida e emocionante ao teatro de revista e a todos os que no Parque Mayer lutaram pela Liberdade”

António Pedro Vasconcelos é um nome de referência no cinema narrativo em Portugal, conhecido do grande público pelos debates sobre futebol onde veste a camisola vermelha do Benfica, e lidera a ARCA – Associação Portuguesa de Realizadores de Cinema e Audiovisual. “Parque Mayer” teve forte comunicação na televisão, imprensa e rádio e, neste primeiro fim de semana e após com 4 dias de exibição, 698 sessões em 58 salas fez 12 078 espectadores, e receita bruta de € 60.628,48.

São raros os filmes de produção nacional que tem acesso ao mesmo número de ecrãs e sessões, como exemplo, neste mesmo fim de semana o filme português mais próximo, Raiva, do Sérgio Tréfaut, apenas pode ser visto num único ecrã numa das 15 sessões.

Rodado nos Estúdios da Plural na Quinta dos Melos em Bucelas onde com a direcção da Clara Vinhais e a equipa da EPC – empresa especialista na construção de cenários para o audiovisual, e em coordenação com Rafael Galdó, responsável pelos efeitos visuais, foram construídos os cenários que permitem o filme viver o Parque Mayer edificado em 1922 com o teatro Maria Vitória, seguido do Teatro Variedades em 1926 e em 1931 o Teatro Capitólio, no espaço até jardins do Palácio Mayer ( prémio Valmor 1902).

As cenas da sala do teatro foram gravadas em Cascais no Teatro Gil Vicente, e de Lisboa exteriores temos a escadaria que leva ao bar Procópio perto Rato e uma rua no cimo do elevador do Lavra.

O mais notável no filme é o desempenho dos actores, e como se reconhece, sem isso nenhum filme funciona na sua relação com o público. Actores seguros na forma e na lógica motivacional das suas acções, dão corpo e vida ao argumento construído com o rigor da construção narrativa clássica dos 3 atos, cenas plantadas, e arco narrativo de personagem, vilões e heróis por força das circunstâncias e as sombras do acaso.

O filme arranca com a detenção de um contestatário ao novo regime que é um dos dois dramaturgos da nova revista em ensaios. A actriz protagonista acaba de chegar de Fátima e vive na sua estreia na revista o primeiro grande milagre da sua vida, o da afirmação da sua individualidade e afirmação do seu talento artístico, vítima de violência por parte do namorado/amante/proxeneta, é salva desse ciclo de inferno por um alto quadro da polícia Política. É este personagem, representado pelo actual director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, o Tiago Rodrigues, um fascista bissexual, que coloca o filme acima uma construção panfletária. Notável a todos os títulos é a interpretação do Miguel Guilherme, no papel de produtor, patrão do teatro, pela contenção, sobriedade, tensão e comicidade e humanidade como que vive os acontecimentos com maior ou menor gravidade que surgem ao longo da narrativa. Como já referido, todo casting, está de parabéns serve com grau de excelência o filme, ainda assim é necessário um particular aplauso para a composição histriónica e cliché do protagonista fadista, boémio, marialva, construído pelo talentoso Diogo Morgado. Importa referir a direção segura e focada no desenrolar da narrativa por parte mestre diretor António Pedro Vasconcelos, sem a qual o filme dificilmente sobreviveria.

O Parque Mayer era um lugar excêntrico na cidade de Lisboa, cinema, teatro, boxe, casas de fado, carrosséis, esplanadas, restaurantes. Um lugar de liberdade por natureza, liberdade de costumes e território de artistas. Este filme é no dizer do próprio realizador e do produtor, um gesto de agradecimento a esse espaço de liberdade.

13 Dez 2018

Pedro Abrunhosa e António-Pedro Vasconcelos cabeças de cartaz no mês de Portugal

O cantor e o cineasta portugueses são os principais destaques da iniciativa Junho, mês de Portugal, que se celebra pelo terceiro ano consecutivo. Ao longo de 25 eventos, vão ser 35 os artistas a participar na iniciativa

 

O músico Pedro Abrunhosa e o cineasta António-Pedro Vasconcelos vão ser as figuras de destaque do grande público e vão estar presentes em Macau, durante o mês de Portugal. O programa dos 25 eventos que constituem a iniciativa organizada pelo Consulado de Portugal na RAEM, Casa de Portugal, Fundação Oriente e Instituto Português do Oriente (IPOR) foi apresentado ontem.

“Vai ser um concerto memorável e acredito que vai encher por completo a sala [Grande Auditório do Centro Cultural de Macau]”, disse Vítor Sereno, Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, na cerimónia de apresentação, que decorreu no consulado.

“Em relação à nossa escolha de Pedro Abrunhosa, confesso que sou fã. Gostei muito da vinda dele há uns anos, quando foi convidado pelo Instituto Politécnico de Macau e pelo Dr. Carlos André”, acrescentou.

O concerto vai ter lugar a 8 de Junho, pelas 20h, no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau. A entrada é livre e as pessoas podem começar a pedir os bilhetes a partir de 23 de Maio.

“Corremos durante estes anos os grandes nomes da música portuguesa, trouxemos gente consagrada e já, por várias vezes, tínhamos tido a sugestão e o empenho de algumas pessoas para que se trouxesse o Pedro Abrunhosa”, disse, por sua vez, Amélia António, presidente da Casa de Portugal.

“Achámos que tinha chegado o momento de satisfazer uma parte da comunidade que é fã do Pedro Abrunhosa. Todos os fãs vão ficar muito satisfeitos por, finalmente, se fazer um concerto com ele”, frisou.

Por sua vez, o realizador António-Pedro Vasconcelos vai estar em Macau a 7 de Junho, no Café Oriente do IPOR, para uma conferência. Além disso, o cineasta vai estar presente em três mostras de filmes que realizou, nomeadamente a película “Jaime”, a 7 de Junho pelas 20h30, os “Gatos Não Têm Vertigens”, a 11 de Junho pelas 18h45, e “Os Imortais”, a 12 de Junho pelas 18h30. Todas as mostras vão decorrer no Auditório Dr. Stanley Ho e no final António-Pedro Vasconcelos vai comentar os filmes.

 

25 eventos

Junho, o mês de Portugal, vai ser celebrado com um total de 25 eventos, em mais de 10 espaços cultural e institucionais, em que vão participar 35 artistas. Entre os eventos, ao nível da música, vai ainda decorrer, a 2 de Junho, o concerto “Era Uma Vez a Cantar em Português”, virado para as famílias, e, no Dia 29, o espectáculo Fados de Coimbra, no Teatro D. Pedro V, às 20h.

Ao nível das exposições, a arquitecta e artista Ana Aragão vai ter os seus trabalhos em exibição na Casa Garden, a partir de 14 de Junho, pelas 18h30. A artista também vai estar presente no território. Também o Consulado vai ter uma exposição com fotografias em que todos os membros da comunidades podem participar. Como tal, devem enviar fotografias sobre elementos em Macau que remetam para Portugal. Esta exposição abre no dia 5 de Junho na Galeria da Residência Consular.

“Ao valorizarmos estas expressões de matriz portuguesa, nestes 25 eventos, estamos obviamente a elevar o nome de Portugal e da comunidade portuguesa que reside aqui a outra patamar”, considerou Vítor Sereno.

Todos os eventos são grátis, no entanto, alguns devido à capacidade dos locais onde se realizam exigem o levantamentos de bilhetes, que poderá ser feitos junto da Casa de Portugal.

 

Roteiro Camilo Pessanha em Macau

Apesar de ainda não haver confirmação sobre a data e os pormenores, a organização quer que o mês de Portugal fique igualmente marcado pelo início do Roteiro Camilo Pessanha em Macau, organizado pelo IPOR em conjunto com a Direcção de Serviços de Turismo. Este será um roteiro sobre a presença do escritor em Macau, com passagens pelos locais mais icónicos da relação de Pessanha com o território, que vai estar disponível em português, chinês e inglês. Este será um projecto que se prolongará no tempo e que visa ser mais uma oferta cultural para o turismo no território.

18 Mai 2018