Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesComo é que Macau se pode salvar? Os mortos não têm voz, mas o acto de suicídio fala sobre infortúnio. Não podemos tapar os ouvidos e fingir que não ouvimos, nem tapar os olhos e fingir que não vemos. A vida de cada pessoa é preciosa e única e um só caso de suicídio já é demais. Em resposta aos recentes casos de suicídio e à descoberta dos cadáveres, o Instituto de Acção Social (IAS) da RAEM, em conjunto com os departamentos governamentais competentes e as organizações de serviços sociais, realizou a “Reunião de Intercâmbio – Vamos juntos desempenhar o papel de guardião da vida, acarinhando às pessoas ao nosso redor”. Nessa reunião, o presidente do IAS informou que tinham ocorrido 18 casos de suicídio no primeiro trimestre de 2025, um decréscimo de quatro comparado com o mesmo período do ano anterior. Sem um decréscimo de casos de suicídio, o IAS não se teria apressado a realizar esta reunião. A estatística não explica tudo, mas é na realidade que se encontra a melhor explicação. Para contar uma história bonita sobre Macau basta ter alguma perícia, mas ser capaz de identificar os problemas e encontrar uma solução é o que verdadeiramente importa. Se o Governo da RAE não tomar medidas práticas para melhorar as condições de vida dos cidadãos e assim restaurar a sua confiança no futuro, as tragédias vão continuar a acontecer. Mesmo que a cobertura dos suicídios feita pela comunicação social seja um eco das directrizes “Seis Coisas para Fazer e Oito para Evitar” do IAS, ou mesmo que nada seja mencionado, acredita-se que os casos de mortes não naturais continuem a aumentar. Polir a imagem dourada de Macau e libertar a cidade do infortúnio não é tarefa difícil. Basta ter a mesma consideração pela vida dos residentes que se tem pelos membros da nossa família, encarar as suas preocupações como se fossem nossas e trabalhar conscientemente e com responsabilidade para proteger a subsistência do povo, promovendo o emprego. Nessa altura, todos os problemas serão resolvidos. Só quando as condições sociais e de sobrevivência forem garantidas é que o país pode estar seguro. A economia de Macau está actualmente afectada por vários factores e a situação não é favorável. Entre eles, existem vários problemas sociais que não foram eficazmente comunicados ou resolvidos através dos meios adequados. Manter a estabilidade através do uso de tácticas de alta pressão e de uma prosperidade quimérica são meras ilusões. Quando caem por terra, as ilusões levam naturalmente a um beco sem saída. Na verdade, desde que o Governo da RAE mostre determinação e tome as medidas necessárias, Macau pode salvar-se. Como as receitas do jogo ficaram aquém das expectativas e estão em andamento diversos projectos de construção de larga escala, é verdade que o Governo da RAE está a enfrentar alguma pressão financeira; caso contrário, este ano os funcionários públicos não teriam tido os salários congelados. Mas com as reservas financeiras acumuladas ao longo dos anos, o Governo da RAE pode concentrar o investimento de capital no desenvolvimento de vários projectos. E com o efeito de sinergia, os problemas económicos de Macau podem ser resolvidos. Quando a situação económica e as condições de vida melhorarem, os residentes de Macau irão naturalmente prosperar e encontrar alegria nas suas vidas. A fim de melhorar as condições de subsistência das pessoas e criar mais oportunidades de trabalho para os residentes, lanço as seguintes sugestões. Por exemplo, transformar o espaço do antigo Jockey Club no “Jockey Club Fun Land”, aproveitar o terreno do “Parque Oceanis” na Taipa, deixado ao abandono, para uma “Casa de Chá Ocean” ou para um “Mercado Nocturno Ocean” com elementos típicos chineses e portugueses, criar um “centro de actividades integradas” no Parque de Seac Pai Van e nos seus arredores, com prestação de serviços diurnos. Também, interligar as escolas da Zona A dos Novos Aterros Urbanos para criar uma “Cidade Escolar”, agilizar a transformação do local do canídromo da Companhia de Corridas de Galgos de Macau (Yat Yuen) num “Jardim Desportivo para os Cidadãos”, introduzir um programa de subsídios com duração de um ano destinado a jovens residentes e encorajar instituições e escolas da rede de ensino gratuito e departamentos governamentais a providenciarem oportunidades de trabalho para os mais novos. Se o Governo de Macau se preocupar com os seus cidadãos, e respeitar escrupulosamente o princípio de que os trabalhadores estrangeiros só deverão ser acolhidos para suprir a falta de mão de obra, reforçar a promoção do jogo responsável e minimizar todos os factores negativos que afectam a saúde mental dos cidadãos, passará a ser o melhor “guardião da vida”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeBanco da China exige cumprimento do princípio “Amar o País, Amar Macau” O banco estatal e principal instituição bancária de Macau exige a candidatos de emprego que amem a China e Macau. A AMCM diz que a prática respeita a lei. A DSAL desconhece a existência de despedimentos relacionados com esta exigência [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] representação de Macau do Banco da China exige aos candidatos interessados em trabalhar na instituição que concordem com o princípio “Amar o País, Amar Macau”. O requisito faz parte da lista de exigências para os trabalhadores do banco, que pode ser encontrada na versão em chinês do portal do Banco da China de Macau. Na secção sobre as condições essenciais para ser aceite no banco estatal, o primeiro ponto é muito claro: “concordo com a cultura corporativa ‘Amar o País, Amar Macau’”. Só depois é exigido aos candidatos que tenham experiência no sector bancário, boa capacidade de comunicação e domínio de cantonense, mandarim e inglês, entre outros aspectos. “Para melhor servir o desenvolvimento económico e o grande público de Macau, os nossos trabalhadores têm de Amar a China e Amar Macau”, explicou um porta-voz do banco, ao HM, sobre esta exigência. “A representação de Macau do Banco da China segue o princípio ‘Com raízes em Macau, Firme no Serviço’. A Região Administrativa Especial de Macau é parte da China”, foi referido. Ainda em relação ao requisito, o principal banco de Macau fala de uma cultura transmitida ao longo de gerações de trabalhadores. O amor à China e a Macau surge como uma forma de promover uma melhor integração dos novos trabalhadores. “Quem se quiser candidatar para trabalhar, tem de cumprir com este requisito”, é clarificado. A instituição bancária garante que “respeita as leis do território”, mas esclarece que os trabalhadores não são obrigados a assinar um documento em que se comprometem a cumprir a exigência. Segundo a mesmo fonte, nunca qualquer candidato colocou questões sobre o requisito “nem declarou que não concordava com o nosso espírito corporativo”. Questões sem resposta A prática do Banco da China, segundo a Autoridade Monetária de Macau,, encontra-se dentro da legalidade. “Sendo uma instituição de supervisão, a AMCM deve, em cumprimento das disposições legais, assegurar que os dirigentes das instituições financeiras e os funcionários a quem são exigidos determinada qualificação, satisfaçam os critérios de ‘candidato adequado’”, explicou a autoridade. “No entanto, no que respeita ao recrutamento de funcionários normais, qualquer empresa tem o direito de estabelecer os requisitos de recrutamento, tendo em conta a sua própria natureza e necessidades”, sublinhou. O HM tentou perceber, junto da Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais, se o facto de um trabalhador não cumprir com o princípio Amar o País, Amar Macau” poderia ser utilizado como justa causa para o despedimento. Contudo, a DSAL não respondeu à questão. Porém, o mesmo organismo do Governo garantiu que nunca recebeu nenhuma queixa de trabalhadores que tivessem disso demitidos por não cumprirem com o princípio. Também não foram explicados os critérios que podem ser adoptados para considerar que uma pessoa não cumpre efectivamente o princípio “Amar a China, Amar Macau”.