Arte Macau | Mostra com curadoria de Alice Kok apresentada em setembro

“Sincronicidade – Topologia da mente” é o nome da exposição com curadoria de Alice Kok que integra a “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau 2023”. Apresentada em setembro junto ao mercado vermelho, a mostra junta trabalhos de Vincent Cheang, natural de Macau, e de Tan Bin, de Hangzhou, explorando os conceitos de realidade, sonhos e mente

 

Chama-se “Sincronicidade – Topologia da Mente” e é um dos projectos criativos locais seleccionados pelo Instituto Cultural (IC) para integrar a edição deste ano da “Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau”. Com curadoria de Alice Kok, a mostra apresenta-se ao público no “All Around Space”, junto ao mercado vermelho, entre os dias 30 de Setembro e 26 de Novembro. Trata-se de uma fusão de trabalhos díspares do artista local Vincent Cheang e do artista de Hangzhou Tan Bin que, com o trabalho de curadoria, acabam por se juntar e complementar. Vincent Cheang apresenta uma série de desenhos em “Sinfonia da Destruição”, enquanto Tan Bin traz uma instalação móvel intitulada “A Caverna do Céu: Sonhos em Sonhos”.

Apresentam-se, nesta mostra, uma variedade de meios artísticos, incluindo o desenho, a escultura, instalações de vídeo móveis e imagens geradas por computador, integrando ainda espectáculos de som e música ao vivo de artistas de Macau e Hong Kong, bem como com workshops espirituais.

Uma vez que o tema central da bienal Arte Macau 2023 é “A Estatística da Fortuna”, Alice Kok desenvolveu uma exposição centrada nas ideias de sonho, realidade e consciência, com ligações ao mundo da espiritualidade e dos adivinhos.

“O meu projecto gira em torno das ideias de espiritualidade e de como se podem associar à ciência”, contou a curadora ao HM. “Construí, com a minha equipa e os dois artistas, esta ideia de sincronicidade, de topologia da mente.”

Tan Bin propõe, com as suas obras, “um estudo sobre a tipologia dos sonhos”, apresentando “uma instalação que se move, com uma espécie de comboio que contém uma câmara que vai fotografando dentro de uma escultura de montanhas e túneis [envolvidos] numa paisagem”.

Desenvolvem-se, assim, ideias em torno da dimensão e do espaço e de “como a matéria ou a substância vão mudando de forma”, que Alice Kok resolveu expandir “como um todo, além da tipologia dos sonhos e da própria mente”. Isto porque “num sonho estamos aqui, mas de repente podemos estar noutro lugar, então a dimensão do que vemos pode ser extrapolada em diferentes lugares, mas, ao mesmo tempo, tem origem na mesma fonte”.

Por sua vez, os desenhos de Vincent Cheang variam entre o figurativo e o abstracto, tendo sido criadas “uma espécie de figuras que não são verdadeiramente reconhecíveis, mas cuja textura apela ao imaginário dos aliens, mas é também às criaturas mitológicas mais tradicionais”. “Há uma combinação desta mitologia com a dimensão do sonho”, frisou Alice Kok.

Geometria secreta

Em termos espaciais os trabalhos dos dois artistas coexistem numa exposição desenhada mediante o conceito de geometria secreta, com o espaço a ser organizado “de forma sistemática e harmoniosa”. “A geometria [tem uma base] matemática e espiritual por detrás, porque podemos encontrar a geometria secreta tanto na arte como na arquitectura”, explicou a curadora, que dividiu a exposição em três grandes áreas, viradas para a realidade, sonhos e o centro da mente. Cria-se, assim, um percurso percorrido pelo público, uma “espécie de túnel” que começa com o trabalho de Vincent Cheang, ou seja, a zona da realidade, passando-se depois para a zona dos sonhos, no meio, com a instalação de Tan Bin. A área destinada à mente junta os trabalhos dos dois artistas “de uma forma relativamente abstracta”.

“Estas áreas mostram as diferentes dimensões dos trabalhos e o público poderá experienciar visualmente e fisicamente as imagens que são reveladas do interior. Apresenta-se uma nova forma de leitura de uma exposição, é como uma experiência”, disse Alice Kok.

Universo pinhole

“Sincronicidade – Topologia da mente” inclui ainda uma sala escura onde são projectadas imagens do mercado vermelha com recurso à técnica pinhole, onde apenas se utiliza a luz natural. “A ideia central da exposição é criar uma experiência visual, mas estimulando a mente quanto ao que pode acontecer num só espaço com obras de arte”, adiantou Alice Kok, que considera este um dos melhores projectos de curadoria que desenvolveu até à data.

Partindo do tema central da bienal, Alice Kok diz ter tentado combinar “o trabalho de todos os artistas, que não se conhecem e que têm uma grande diferença de idades, além de possuírem estilos artísticos completamente diferentes”, mas que acabam por se complementar.

“Para mim sincronicidade é isto, ter dois temas não relacionados entre si que, de repente, se unem para criar alguma conexão e um significado. Este é o meu trabalho principal como curadora, encontrar temas que não se relacionam propriamente entre si, não de forma óbvia, e que é algo maior do que simplesmente colocar dois trabalhos juntos de forma técnica.” É “algo mágico”, confidenciou.

24 Jul 2023

Fotografia | Antiga Leprosaria acolhe exposição “Light of Hope”

A casa da antiga leprosaria de Ká-Hó transformada recentemente em galeria de arte recebe a partir de amanhã a exposição fotográfica “Light of Hope”. Ao todo, será possível apreciar uma selecção de 45 trabalhos, cuja curadoria ficou a cargo de Alice Kok. Segundo a artista, para além de explorar novas visões do local que é visto por muitos como “o fim de Macau”, o objectivo da iniciativa passa por angariar fundos para a ARTM

 

A galeria de arte operada pela Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM) numa das casas da antiga leprosaria da Vila de Nossa Senhora de Ká-Hó acolhe a partir de amanhã, a exposição fotográfica “Light of Hope”. A iniciativa, que reúne 45 trabalhos, resulta de uma selecção a cargo de Alice Kok, feita a partir de um total de 180 obras enviadas por entusiastas da fotografia.

“Queria combinar a ideia de organizar uma iniciativa que permitisse a todos os fotógrafos enviar boas imagens de Ká-Hó e, simultaneamente, fazer uma exposição de fotografia destinada a angariar fundos para a ARTM. Ao todo, recebemos mais de 180 fotografias enviadas por 36 fotógrafos. Como a galeria é pequena por estar albergada numa pequena casa, fizemos uma selecção de apenas 45 trabalhos”, explicou a curadora da exposição ao HM.

Questionada sobre a existência de um tema inerente a todas as fotografias que serviu de base da selecção feita, Alice Kok aponta que a ideia passa sobretudo por compreender “o que é que estes entusiastas da fotografia vêem quando vêm aqui a Ká-Hó”, até porque se trata de um lugar posto à margem e praticamente destinado a acolher o que a cidade não quer.

Segundo a curadora, o próprio facto de Vila de Nossa Senhora de Ká-Hó ter uma história “muito especial” por ter acolhido noutros tempos uma leprosaria e de, nas suas redondezas existir um farol que marca, para muitos “o fim de Macau”, contribui para o sentimento de partir em busca de esperança, mesmo nos lugares mais remotos.

“Todo o local corresponde à própria ideia de ser posto à margem e Ká-Hó é lugar mais longínquo de Macau, em Macau. Além da vila, há um sítio a que as pessoas chama ‘o fim de Macau’, que alberga um farol. Acho este ponto muito interessante. O que é possível encontrar no fim de Macau? O próprio nome da exposição “Lights of Hope”, traduz o sentimento de encontrar alguma esperança, mesmo que estejamos no lugar onde Macau acaba”, acrescentou.

Recorde-se que, desde o dia 19 de Dezembro de 2020, através do projecto “Hold On To Hope”, a ARTM reabriu duas casas da antiga leprosaria de Ká-Hó, para albergar uma galeria de arte e uma cafetaria operada por pacientes em reabilitação. O objectivo passa por permitir aos pacientes da associação o desempenho de funções que facilitem a sua reintegração futura no mercado de trabalho.

Ajudar a ajudar

Apesar de todas as fotografias enviadas serem de “grande qualidade”, Alice Kok sublinhou ainda que a selecção foi feita tendo por base, não só a sua composição, cores e atributos técnicos, mas também “a forma com as fotografias funcionam em conjunto”. Além disso, por não haver restrições a nível temporal, foram aceites todas as fotografias de Ká-Hó, independentemente do ano em que foram captadas.

Há retratos, paisagens, caminhos perdidos, perspectivas curiosas da antiga leprosaria e da igreja, mas acima de tudo “generosidade”, aponta Alice Kok. Até porque, para verem os seu trabalho exposto, os fotógrafos tiveram de assegurar os custos de impressão.

“O objectivo principal passa mesmo por ajudar a ARTM a angariar fundos para continuar a prestar apoio às pessoas em reabilitação e que se pretende que sejam reintegradas na sociedade”, vincou.
As obras expostas poderão ser adquiridas por 500 patacas, sendo que a totalidade das receitas reverte a favor da ARTM. A exposição “Light of Hope” pode ser visitada até ao próximo dia 24 de Abril.

26 Mar 2021

AFA | Art Garden recebe “A Way to Exist, Away to Exist”, nova exposição de Alice Kok 

É já este sábado, dia 21, que é inaugurada no espaço Art Garden a exposição “A Way to Exist, Away to Exist”, da autoria de Alice Kok. Desta vez, a artista apostou num trabalho multicultural, feito entre Macau e o Tibete, e que revela o contraste entre a natureza e a ocupação pelo ser humano, com as estruturas artificiais por si criadas

 

[dropcap]A[/dropcap] artista Alice Kok está de regresso às exposições em nome individual com “A Way to Exist, Away to Exist”. A mostra será inaugurada este sábado, dia 21, no espaço Art Garden, da associação AFA – Art for All Society, onde estará patente até ao dia 18 de Dezembro.

Esta é uma exposição onde Alice Kok, que preside ainda à AFA, decidiu apresentar um conjunto de trabalhos que “exploram a troca entre a prática espiritual e a comunidade usando a produção de imagem, objectos, entrevistas e pintura”.

A ideia para esta exposição começou a ser trabalhada no Tibete, para onde a artista viaja com frequência. A pandemia da covid-19 obrigou-a a repensar a ideia e a trabalhá-la em Macau, o que faz com que esta mostra tenha obras dos dois lugares.

“Comecei esta exposição o ano passado com algumas imagens que tirei no Tibete. Este ano tinha planeado regressar e continuar esta série de imagens, mas depois não consegui regressar devido à pandemia. Tenho estado em Macau este ano e comecei a pensar em fazer algo aqui, continuando a ideia que tive no Tibete, onde captei imagens da paisagem e de estruturas artificiais à volta”, contou ao HM.

Alice Kok criou então este contraste sobre a forma como existimos na natureza e recriamos estes espaços à nossa medida.

“No Tibete o meio ambiente natural está rodeado por estruturas artificiais criadas por humanos, ou por uma arquitectura mais comercial. Quando voltei para Macau percebi que também temos lugares assim. Temos as ilhas, temos terra reclamada ao mar. Em muitos destes locais há posters que mostram aquilo que vai ser construído. Temos o Galaxy, por exemplo, onde se vê como vai ser o novo hotel. Trabalho com isso mas faço uma pixelização das imagens, colocando as partes que deveriam pertencer à natureza”, explicou a artista.

Além desta modificação da imagem, Alice Kok coloca também, em alta definição, “as imagens do que é suposto ser o futuro, mas que ainda não existe”. “É um paradoxo em como se pode sobreviver, em como somos parte da natureza mas, ao mesmo tempo, construímos muitos espaços artificiais à sua volta. Parece que não vemos a realidade como é, vemos, ao invés disso, imagens dos espaços artificiais que estamos a construir. O título da exposição é a minha forma de interpretar esta questão existencial”, frisou.

Sonho meu

Além do trabalho feito em fotografia e com a modificação das imagens, Alice Kok apresenta também uma instalação de vídeo, com o nome “Through the Looking Glass”. “Convidei pessoas da comunidade, amigos de amigos, a virem ao meu atelier e a contarem-me os seus sonhos, mas uso mosaicos para cobrir a identidade das pessoas. Tudo isto é também sobre privacidade, porque os sonhos podem revelar o inconsciente da pessoa, é algo muito íntimo. Aqui há também muita comunicação porque adoptei o formato de entrevista”, contou a artista.

Alice Kok decidiu também colocar, do lado de fora do edifício do Art Garden, alguns excertos de um livro auto-biográfico que começou a escrever no Tibete. Esses excertos serão acompanhados por caracteres chineses de cor amarela. “Isso também envolve muito a comunidade, porque quem passa por ver os cartazes, são mensagens que podem ser vistas por todos.”

Esta é, sobretudo, uma mostra onde se revela a relação da artista ao nível da identidade, escrita e paisagem, experiências que são “pessoais e que são partilhadas com outros”.

Para a AFA, “as fotografias da artista tiradas em Macau e no Tibete têm em conta a produção de identidades interculturais. Alice Kok distorceu parcialmente as imagens convidando-nos a ver novamente a relação com o movimento e a comunicação com lugares distantes. Estes temas, abstractos para muitos de nós, têm um significado directo para a artista, cuja família está separada entre estes dois lugares”.

18 Nov 2020

Casa Garden | Salão de Outono regressa este sábado e inclui arte performance

O Salão de Outono está de regresso à Casa Garden. A exposição que reúne vários trabalhos de artistas locais será inaugurada no sábado às 18h30. Este ano, além de revelar os formatos artísticos mais tradicionais, o Salão de Outono apresenta também ao público uma performance. Em ano de pandemia, esta foi a edição que registou o maior número de submissões de sempre

 

[dropcap]A[/dropcap] Fundação Oriente (FO), em parceria com a associação Art for All Society (AFA), volta a organizar uma nova edição do Salão de Outono, que este ano celebra os 11 anos de existência. Tratando-se de uma mostra plural, onde todos os formatos artísticos têm lugar, o público poderá ver trabalhos de autores mais ou menos consagrados no panorama da arte de Macau.

Nomes como Alexandre Marreiros, Alice Kok (que é também curadora da exposição), Armelle de Lainsecq ou Crystal W. M. Chan, entre outros, fazem parte do conjunto de 50 artistas que este ano decidiram apresentar os seus projectos para integrar o Salão de Outono. No total, poderão ser vistas 82 obras. Os trabalhos seleccionados incluem pintura a óleo, aguarela, desenho, gravura, escultura, fotografia, arte digital, vídeo e instalação.

Ao HM, Alice Kok afirma que este foi o ano com mais candidaturas submetidas. “Este ano tivemos o maior número de trabalhos candidatos em 11 anos de realização do Salão de Outono. É mais ou menos o mesmo número de obras, mas tivemos mais artistas a candidatarem-se. Uma das razões prende-se com o facto de as pessoas não poderem sair de Macau e dedicarem-se mais ao seu trabalho.”

A curadora aponta ainda que a maior parte das obras analisadas pelo júri foi realizada este ano, o que mostra que 2020 “tem sido um ano especial para todos devido à pandemia e também para os artistas, que reflectem sobre tudo aquilo que está a acontecer no mundo”. “Pensamos mais sobre a forma como vivemos e como existimos e penso que isso naturalmente se reflecte na produção artística”, frisou Alice Kok.

Performance como novidade

Alice Kok destaca o facto de esta edição do Salão de Outono “ter uma maior abrangência ao nível dos formatos artísticos” em relação aos anos anteriores, e uma das novidades é precisamente a performance de uma artista coreana a residir em Macau que será revelada ao público este sábado, durante a inauguração.

“Em chinês chamamos-lhe ‘a arte do comportamento’. É algo muito específico, onde o artista usa o seu corpo como o meio para realizar o trabalho, utilizando certos comportamentos”, explicou a curadora, que continua a considerar o mais importante a exploração de “todo o tipo de formatos artísticos, desde os mais tradicionais aos contemporâneos”.

No Salão de Outono “é muito importante mostrar o panorama artístico local e estamos focados em explorar o que está a acontecer em Macau, o que está a ser discutido e experimentado, e também quais os temas que estão a ser abordados”.

“Como curadora considero isto mais importante do que pensar unicamente em atrair o público”, disse ainda. Ideia semelhante tem Ana Paula Cleto, delegada da FO em Macau.

“O Salão de Outono que tem desde o seu início um princípio ou filosofia que é promover e dar a conhecer ao público o que se vai fazendo no campo da arte em Macau. Concorrem artistas que podem ser de qualquer nacionalidade desde que vivam e trabalhem em Macau. Tentamos sempre que haja sempre um certo equilíbrio entre os artistas mais conceituados, até para dar qualidade à própria exposição e depois também escolher o que de melhor aparece junto de artistas menos conhecidos, com objectivo de os promover.”

Ana Paula Cleto destaca os trabalhos de Alice Kok ou de Lai Sio Kit, “um pintor ainda jovem, mas que já venceu o prémio da FO e é sem dúvida um artista que tem vindo a evoluir de uma forma incrível nos últimos tempos”.

A mostra conta também com a presença de Kit Lee, “uma artista que faz essencialmente vídeo arte e que já é conceituada, faz um excelente trabalho”, bem como o arquitecto Francisco Ricarte, que se apresenta nesta edição do Salão de Outono com um trabalho fotográfico.

Música da casa

Ao contrário dos dois anos anteriores, em que o Salão de Outono procurava também trazer a Macau pedaços de música e literatura, a pandemia obrigou a organização a convidar os artistas locais.

“Nos últimos dois anos juntámos uma componente musical e até literária ao Salão de Outono, porque no fundo é um acontecimento em que vários tipos de arte se podem encontrar. Este ano com a pandemia tínhamos programado a vinda de um músico português, que não pôde vir. Mas vamos ter jazz e um DJ depois da abertura da exposição e da entrega do prémio.”

Outra alteração prende-se com o adiamento, para o próximo ano, do festival de vídeo arte, uma vez que o curador não pôde deslocar-se a Macau.

Além da inauguração, que acontece no sábado a partir das 18h30, será também anunciado o vencedor do 8.º Prémio Fundação Oriente para as Artes Plásticas. Este terá a oportunidade de visitar Portugal para um programa de intercâmbio artístico de um mês.

28 Out 2020

Carlos Morais José e Alice Kok na direcção do Rota das Letras

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] jornalista e escritor Carlos Morais José e a artista plástica Alice Kok vão integrar a direcção do Festival Literário de Macau já a partir da próxima edição, a oitava do Rota das Letras. Carlos Morais José, director do jornal Hoje Macau, assume as funções de director de programação do Festival, e Alice Kok, presidente da Associação Arts For All, passa a ocupar o cargo de directora executiva.

O Festival Literário de Macau é organizado desde 2011 pelo jornal Ponto Final. No final da sua última edição, o jornalista Hélder Beja, um dos fundadores do evento, deixou o cargo de director de programação. A direcção do Festival continuará a ser liderada pelo jornalista Ricardo Pinto, proprietário do jornal Ponto Final e coordenador do evento, e a contar com o poeta Yao Jingming, chefe do Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de Macau, no cargo de subdirector. A próxima edição do Festival Literário de Macau terá lugar de 15 a 24 de Março de 2019.

25 Jun 2018

Artes Plásticas | Alice Kok apresenta a exposição “Emptiness is form” na AFA

É inaugurada hoje, na AFA, a exposição “Emptiness is form” da artista local, Alice Kok. A mostra reúne um conjunto de trabalhos que pretende questionar a percepção do público acerca do que existe. Vídeo, fotografia, instalações e formas geométricas são os veículos usados pela artista para abordar a espiritualidade que encontrou no budismo

[dropcap style≠’circle’]”E[/dropcap]mptiness is form” é o nome da exposição individual de Alice Kok que é inaugurada hoje nas instalações da Art for All society (AFA).

O conceito que deu nome a esta mostra foi inspirado numa frase dos escritos budistas tibetanos. “Form is emptiness and emptiness is form”, transmite a ideia completa a partir da qual  exploro a relação entre o vazio e a forma”, conta Alice Kok ao HM.

Para a artista, importa trabalhar o modo como as formas são percebidas, sendo que “a ideia budista de vazio não tem que ver com a inexistência, ou com o nada, mas com o facto de que tudo o que existe se relaciona entre si”, explica.

É esta relação contínua que dá origem ao mundo e à natureza como um todo, considera Alice Kok. “O nada acontece quando alguma coisa está só e independente de tudo o resto. A natureza que é uma só, está em inter-acção com tudo”, refere.

Conceito permanente

A exploração do conceito de vazio não é novo no trabalho da artista. Há cinco anos criou “Nada acontece”. A peça “é uma instalação que pretendia criar o efeito de uma miragem”, refere. “Nada acontece” vai estar exposta também na AFA acompanhada de outros trabalhos.

Um dos destaques da exposição é uma instalação em forma de pirâmide. Para a produção desta peça, Alice Kok convidou alguns amigos para meditarem com ela, durante seis minutos, no estúdio onde trabalha. As sessões foram filmadas e o resultado foi a produção de um vídeo que integra esta peça. A estrutura da pirâmide é feita num ângulo de 51 graus, a razão para este detalhe geográfico está relacionado com as teorias acerca da construção das pirâmides do Egipto. “Muitos creem serem construções receptoras de energia”, comenta. Para a artista, a obra reflecte uma expressão de unicidade das coisas e da sua relação constante.

Geometria sagrada

Por outro lado, a ideia de construir uma pirâmide vai de encontro ao que Alice Kok tem por hábito usar nas suas peças – a geometria. “Achei esta ideia muito interessante até porque tenho trabalhado muito com formas geométricas”, refere.

É também na conjugação geométrica que a artista recriou um carácter chinês que será exibido em grande escala. “Por detrás das linhas há o significado, há uma forma muito geométrica e isto também está relacionado com a possibilidade de reconhecer algo  através da forma”, explica.

Foi ainda com a forma em mente que foi desenvolvido outro trabalho que integra a exposição que abre hoje ao público. “A montanha de plástico” é uma obra em que Alice Kok usa sacos de plástico para criar a forma de uma montanha. “O objectivo aqui foi dar a ideia de plasticidade artística ao mesmo tempo que se usa o próprio material”. O resultado é a criação de “uma montanha que não é uma montanha, mas apenas a sua imagem”. De acordo com Kok, é possível perceber a ideia pensando no trabalho de René Magritte, “Ceci n’est pas une pipe”.

A mostra conta ainda com um trabalho em que a artista usa polaroides. “Este tipo de fotografia não é reproduzível, só se pode tirar uma vez”, conta. Nesta peça, Alice Kok coloca as imagens instantâneas em água. “A sua dissolução transmite a impermanência das coisas que é aplicável a tudo”, esclarece.

Inspiração Budista

Alice Kok começou a interessar-se pelos conceitos budistas, que agora explora, depois de se formar, em 2004, em França. “Fiz uma viagem à Índia e ao Tibete que me mudou a vida”, aponta.

Na Índia, a artista visitou uma comunidade tibetana onde conheceu refugiados tibetanos que não estavam autorizadas a regressar a casa para visitar os seus familiares. Ao deparar-se com esta situação resolveu fazer um trabalho em vídeo. “Coloquei estas pessoas a falarem em frente a uma câmara para comunicarem com as suas famílias. Depois levei esses vídeos comigo ao Tibete. Encontrei uma das famílias envolvidas e mostrei-lhe estas imagens. Filmei a resposta e trouxe-a de novo à Índia, a estas pessoas refugiadas”, recorda Alice Kok.

O vídeo foi feito há cerca de dez anos, mas até hoje, é para a criadora local, o seu mais importante trabalho. “Encheu-me a vida e a minha perspectiva do que é arte”, aponta.

Foi também nesta altura que teve o primeiro contacto com o budismo tibetano. A vida em Macau tinha-lhe transmitido uma visão diferente daquela que encontrou nas montanhas da Índia. “A ideia que tinha de budismo em Macau era errada. Aqui as pessoas vão ao templo pedir para terem dinheiro e isso para mim era uma superstição. Não conhecia realmente o que o budismo dizia, nem a sua filosofia. Em Macau, o budismo não tem relação propriamente com a filosofia que o criou”, refere. Desde então, a inspiração de Alice Kok tem sido, independentemente da forma, inspirada nesta filosofia.

25 Mai 2018

A fotografia documental de Alice Kok e os seus alunos

[dropcap style≠‘circle’]“D[/dropcap]ocumenting Impermanence: An Exhibition of Reportage Photography by Alice Kok and Students” é o nome da nova exposição patente no café do Instituto de Formação Turística (IFT) no espaço Anim’Arte, em Nam Van. A exposição, que estará patente até 31 de Março do próximo ano, visa retratar imagens do dia-a-dia em Macau num “passado recente”, pela lente da artista Alice Kok e dos seus alunos.
As 80 imagens foram tiradas no contexto de um curso de reportagem fotográfica que o IFT promove desde 2011. Segundo um comunicado, “os trabalhos expostos ilustram os conceitos e as técnicas da reportagem fotográfica aprendidos no curso e que foram depois aplicados pelos alunos, retratando a vida normal das pessoas de Macau”.
O curso de reportagem fotográfica é um dos muitos que têm sido promovidos pelo IFT no âmbito dos cursos profissionais e vocacionais. O IFT tem trabalhado em parceria com 20 entidades internacionais, disponibilizando junto do público um total de 80 cursos qualificados. Ao todo, já 20 mil pessoas participaram nestas iniciativas educativas.

18 Dez 2017