Agosto

A gosto nos encontramos nestes dias quentes de um farto Agosto, ignição, que desde que descobrimos o fogo fomos deixando que ele se apoderasse de nós, e de tão hipnotizados nem demos conta que a Terra arde, conspira, e ele nos hipnotiza em nossa frágil condição. Vivemos numa constante combustão, recriamos círculos de fogo, e nas horas festivas utilizamos o artificial. Não há água de artifício, nem ar, nem terra, porém há fogo, e nessa expressão festiva estamos a louvar o elemento que mais nos encanta.

A partir daquele tempo remoto em que à volta das fogueiras construímos sociedades humanas, cozinhámos alimentos e afastámos as feras, que o fogo é todo nosso em tragédia, festejo e renovação. Ele seria ainda um baptismo para o banditismo atmosférico das mentes inquisitoriais que banharam com labaredas os relapsos, os não-alinhados, e tantos outros que renunciando às águas baptismais seriam purificados pelas grandes labaredas. Foram espectáculos públicos fortemente carregados de púrpura e “santificados” por altas pressões (mais tarde foram as câmaras de gás, bastante escondidas, disfarçadas, mas tendo por base, e sempre, a fornalha)

Agosto honra o Imperador Augusto, e os imperadores têm sempre esplendor, esse reflexo apolíneo, e hoje mesmo nasceu Napoleão ao meio-dia – sol no zénite – e sua mãe disse que fora tão rápido que caiu num tapete com motivos militares e de lá não sairia até pegar fogo a um continente inteiro.

Nasceu de uma rajada em forma de incêndio, que o mês ficou-lhe nas veias. Há que atestar que nestas dimensões olímpicas a generosidade também impera (por isso, imperador) só que a vida está presa à carroçaria das delongas que se decompõem docemente, embora haja seres que entrem também em combustão sentados nos seus cadeirões. Há muitos relatos de pessoas que arderam sem que um fósforo tivesse presente, que os afogados em mágoas são o que mais há.

Mas voltemos o olhar para os combustíveis, as energias fósseis, o arranque ígneo de uma civilização terrestre que se funda na travessia de tudo o que arde, e ei-la agora no centro do furacão sem conseguir controlar a paixão que a norteou. Como se o fogo tivesse ouvidos, visão e vida própria, aproxima-se agora de todos nós sem que o saibamos controlar, sem culpa, que ele braseia até à Cidade.

Estamos queimados – vamos à praia – mas os que atravessam desertos também se queimam, embora seja mais fácil as águas arderem que a vasta areia que só pega fogo por guerras sem fim, em todo o caso, curtidos pelas fortes ignições solares, parecemos que utilizamos o ardor dos raios para serviço lúdico. Mas é um erro. O que se passa não é já do domínio estético ou lúdico, é um martírio imposto a uma humanidade como um todo que periga a sua existência.

Pela primeira vez em nossas vidas repensamos os mitos, tentamos interpretar o que falhou pois nunca nos sentimos tão vulneráveis. O fogo avança mais rápido que a ciência, a cidadania, e a nossa mais chã compreensão. Nós sempre iremos insistir nesta tarefa da oliveira dando o seu fruto para nos alumiar a um tempo talvez onírico em que controlávamos o fogo e os elementos concordavam, em que o fogo era luz… mas hoje estamos barricados. Se não arder, aquece. Mas quanto mais aquece, mais arde. Se não vem em superfície vem dos vulcões que prometem estar activos em muitas frentes e fronteiras. Estamos numa caldeira para a qual as mais fundas lendas com suas neblinas já não podem ser interpretadas.

A gosto com o vosso gosto, nos diz Agosto. Que um velho adágio ainda nos adverte como mês do desgosto.

27 Ago 2024

Agosto

Sim, é Agosto! E não poderemos dizer que se façam Primaveras na longa jornada que percorremos onde se multiplicam Verões, e assim distantes das duas outras, Agosto cerra fileiras de lassidão para os que veraneiam, bem como para todos aqueles que mesmo laborando parecem estar unidos a regimes de entretenimento. Agosto de tão apolíneo, é arrebatador!

Outrora se escutava «Agosto, mês do desgosto» (que no fundo são todos) mas era nele que incidia o extraordinário da expressão e a magnitude de seus efeitos, uma constante que nunca foi ultrapassada, nem mesmo pela desatenção aos aspectos cíclicos do tempo em nossas rotinas; que Agosto estava povoado de sortilégios e inesperadas manifestações e se propunha mencioná-lo com muito ardor e algum secreto temor, que foi sim, uma constante.

Ele fora nomeado em honra de Augusto, que mais para trás fora “Sextil”, o sexto mês do calendário de Rómulo, romano, portanto. O calendário lunar começava exatamente em Março no dia do equinócio da Primavera, e assim se iria manter até ao calendário juliano, que entrara em vigor no ano 45 a.C. Entramos no ciclo solar. Augusto, o grande impulsionador do novo calendário, emblema do mês que outrora tinha trinta dias, foi homenageado pelo senado que não quis que ficasse diminuído no que correspondia ao de Júlio César – Julho – e foi assim acrescentado mais um dia. Mas nem com o calendário gregoriano muito mais tardio, Setembro deixou de ser sete, Outubro oito… até Dezembro, dez. Agosto o sexto, passou para oitavo, e a soma é um soneto.

A gosto ou com desgosto, é Agosto que agora impera! Está assim correndo nos nossos dias como uma bela água nascente, e mesmo sendo quente, é o calor exacto, e nasce nele como desígnio que não deixa de provocar rios de expansão: é muito bom ter poucas vestes, andar deleitoso e livre, ser aquecido e simples, que o frio logo virá para nos dizer da morte e seu rigor. Fitam-nos coisas crescentes, o Sol que nasce cedo, o dia que tarda em ir, e as noites que parecem sempre de festa. O Zodíaco será uma zoologia unida aos ciclos agrícolas originais, e por isso iniciado com a pastorícia, onde à cabeça vêm Carneiros, Touros, mas aqui estamos em território indómito, na conjugação do Leão e sua beleza de ser, na representação solar de um mês com juba e dentes fortes.

Não é como o Centauro um animal mitológico, ele é o prodígio real, o emblema da ferocidade e da beleza, um radicalismo de que não damos conta, por que ele também pode estar cheia de solidão. Assim como a soberania. Nós temos ainda fresca a lembrança do mundial eclipse de 1999 em Agosto, como se fosse o primeiro na viagem cósmica do mundo, e de facto, foi. Assim sucedeu na era da globalização, e todos olhámos o fenómeno com uns óculos de papel, e a partir daí multiplicaram-se, mas foi no nosso imaginário progressista e terráqueo que tal fenómeno passou de facto a existir. Talvez tivéssemos a nível da percepção atávica achado estranho como o sol de Agosto, por momentos, se eclipsava assim…ou a nossa vida lunar, quem sabe, não ter já noção da sua grandeza… O Invictus sumira do nosso radar, as aves voaram baixo, a frescura reinou, e era de novo hora de recolher.

Não nos esqueceremos o rasgar de véu em nossa inocência naquele Agosto em Hiroxima, nem dos olhos abertos para o abismo, da magnitude do fenómeno da desolação, da força nova, incontida, nunca vista…Que nós podemos até esquecer que é Natal, mas nunca que é Agosto. Nós ferimos a Terra, mas ela, grande e soberana, grava e regista tudo, como um cérebro gigantesco e um útero renovável. A Terra e Agosto não são muito compatíveis, daí escolhermos ser diferentes nele, e tecer a nossa bem-aventurança neste mês tão peculiar na vida humana. Não somos gigantes, agigantamo-nos, só isso, mas nunca provamos nada de verdadeiramente grandioso.

Lorca foi assassinado a 19 de Agosto e tudo na natureza tomou um novo rumo. Há coisas que seres fazem a outros, que nunca mais outros se podem livrar. Ele tinha de sair, estava cansado de estar preso em casa e era um homem que confiava. Também eu teria confiado! Mas para os que confiam, haverá sempre os que desconfiam. Numa noite de Estio, um poeta é o ser menos perigoso do mundo, sendo ele o perigo mais estranho em todas as Estações. O Estio adensa as características que nos representam, e Agosto ainda nos instiga a uma coragem ostensiva que pode ser fatal. Os grandes poetas falam pouco ou quase nada deste mês, e ao que eles renunciam, devemos nós, ao contrário do que aqui foi dito, guardar silêncio.

17 Ago 2023

Turismo | Número de visitantes cai quase para metade em Agosto

Devido ao surgimento do novo surto de covid-19 em Macau e consequente aumento de restrições, o número de visitantes no território em Agosto caiu 48,2 por cento em relação ao mês anterior. Ainda assim, em termos anuais, o número de visitantes cresceu 80,2 por cento

 

Comparativamente a Julho, o número de visitantes que entraram em Macau caiu quase para metade em Agosto, devido às restrições motivadas pela pandemia de covid-19, informou na terça-feira a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Concretizando, a contar com o novo surto de covid-19 registado em Macau no dia 3 de Agosto, o território recebeu 409.207 visitantes no mês passado, contra os 789.407 de Julho, uma descida de 48,2 por cento.

As autoridades justificaram a queda com o “reforço da inspecção exigida” nas fronteiras “na sequência dos casos confirmados locais” de covid-19, no início do mês passado.

Recorde-se que os quatro novos casos detectados na sequência de uma estudante de Macau ter contraído a doença numa visita de estudo da Escola Hou Kong a Xi’an, resultaram na declaração do estado de prevenção imediata em Macau, na redução do prazo exigido dos testes de ácido nucleico para 12 horas ao cruzar a fronteira e no encerramento de espaços de diversão.

Segundo a DSEC, do total de 409.207 visitantes, a esmagadora maioria chegou do Interior da China (369.467). O número de visitantes oriundos das nove cidades da Grande Baía totalizou 226.453, dos quais 65 por cento eram originários de Zhuhai. Os números de visitantes de Hong Kong e de Taiwan corresponderam a 36.207 e 3.453, respectivamente.

Quanto à via de entrada em Macau, 83,2 por cento entrou pelas Portas do Cerco. Por via aérea e por via marítima, chegaram 13.622 e 2.529 visitantes, respectivamente.

Desde o início do ano, Macau registou pouco mais de cinco milhões de visitantes, quando em média entravam no território, cerca de três milhões por mês, no período pré-pandémico.

O cenário parece estar, contudo, a melhorar, dado que, aliado ao progressivo relaxamento das restrições, devido às festividades alusivas ao Bolo Lunar (Chong Chao), o CPSP anunciou que na terça-feira entraram em Macau mais de 49 mil visitantes. Há ainda expectativas elevadas para que os números atinjam novos patamares durante os feriados da semana dourada.

Subida anual

Apesar de o contexto não ser animador em termos mensais, num espectro mais alargado, o número de visitantes que vieram a Macau em Agosto de 2021 representa um aumento de 80,2 por cento relativamente a Agosto de 2020.
Do total de visitantes de Agosto, o número de excursionistas (257.966) e turistas (151.241) cresceram, respectivamente, 64,9 por cento e 114,1 por cento.

O período médio de permanência dos visitantes também cresceu, tendo-se situado em 1,6 dias, mais 0,7 dias, em termos anuais.

23 Set 2021

Jogo | Agosto foi o mês mais rentável do ano

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s casinos de Macau fecharam Agosto com receitas de 26.559 milhões de patacas, traduzindo um aumento de 17,1 por cento face ao período homólogo do ano passado. Segundo dados divulgados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), trata-se do valor mensal mais elevado desde Janeiro (26.260 milhões de patacas). Face a Julho, as receitas de jogo cresceram 4,8 por cento.
Em termos percentuais, foi a quarta maior subida do ano, a seguir a Janeiro (36,4 por cento), Abril (27,6 por cento) e Março (22,2 por cento), enquanto que Fevereiro foi o único mês em que as receitas dos casinos não cresceram a dois dígitos em termos anuais (5,7 por cento). Segundo os dados da DICJ, no acumulado dos primeiros oito meses do ano, os casinos encaixaram 202.103 milhões de patacas, ou seja, mais 17,5 por cento do que os 172.016 milhões apurados entre Janeiro e Agosto de 2017.

No final de Junho, Macau contava com 17.296 mesas de jogo e 6.588 ‘slot machines’ espalhadas por um universo de 41 casinos.

As receitas dos casinos cresceram 19,1 por cento em 2017 para 265.743 milhões de patacas, invertendo três anos consecutivos de quedas (menos 3,3 por cento, em 2016; menos 34,3 por cento em 2015 e menos 2,6 por cento em 2014).

3 Set 2018