Joaquim Furtado | Jornalista de visita a Macau no âmbito do mês de Portugal

A autoria da série documental que retrata os conflitos coloniais portugueses foi um marco na comunicação portuguesa que permitiu fazer a catarse de um dos maiores traumas históricos do passado século: as guerras coloniais. Com esse trabalho em perspectiva, Joaquim Furtado fala hoje num seminário no Consulado-Geral de Macau, no âmbito da comemoração do mês de Portugal
Joaquim Furtado

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] psique portuguesa lida mal com os traumas que vai enfrentando, tende a recalcá-los para um plano invisível. Como dizia José Gil em “Portugal, Hoje – O Medo de Existir”, há uma auto-repressão dos factos históricos de difícil digestão, que os agiganta.

A catarse nacional é um feito que a série documental “A Guerra”, da autoria de Joaquim Furtado, trouxe à consciência colectiva portuguesa.

A série documental, transmitida pela RTP e que foi publicada este ano em DVD, conta ao longo de 42 episódios a história das várias guerras coloniais que Portugal travou antes da chegada da democracia. “A Guerra” é um documento histórico que colocou o país no divã de psicanálise para, finalmente, escalpelizar os conflitos em África. Como diria José Gil, para registar a história.

“É bom que as pessoas tenham memória daquilo que foi o seu passado. Até 2007, a guerra ficou numa espécie de limbo, não se discutia, era um trauma”, contextualiza Joaquim Furtado. Há uma enorme dificuldade em verbalizar o que se tinha passado nas antigas colónias portuguesas, em processar os excessos e a barbárie que se passou. “Houve um espectador que me mandou um email a dizer que a série estava a permitir que fizesse um luto, que não tinha sido possível fazer até àquela data”, acrescentou o jornalista.

Também lhe aconteceu em conversas com ex-combatentes aparecerem-lhe militares que confessavam que “iam falar, pela primeira vez”, sobre as suas experiências na guerra. Ver outros combatentes a discorrer abertamente, no ecrã, sobre episódios da luta armada, estimulou outros a fazê-lo, a enfrentarem o passado.

Apesar de haver literatura sobre o assunto, o tema nunca tinha sido tratado em televisão com a profundidade e o contexto da série de Joaquim Furtado.

O processo

A guerra colonial foi um dos maiores acontecimentos da história portuguesa recente. O jornalista deparou-se com magnitude dos conflitos em termos de importância, uma dimensão histórica que não era acompanhada de conhecimento dos portugueses. Outro dos factores que o fez pegar no assunto foi a percepção de que a sua “geração tinha de fazer um trabalho sobre a guerra”.

Guerra do Ultramar

A luta armada no Ultramar teve implicações enormes para o destino de Portugal. “Desde logo, deu origem ao 25 de Abril, por outro lado teve muita importância para as famílias, vitimando muitas delas”, comenta o repórter. A guerra teve, portanto, repercussões que se sentem ainda hoje e essa foi a razão pela qual Joaquim Furtado decidiu abraçar este projecto, dando-lhe a capacidade de difusão que só o poder da televisão consegue alcançar.

Obviamente que um trabalho desta envergadura demorou anos a ser preparado, com mais de três centenas de entrevistas, muitas delas não gravadas, e o visionamento de incontáveis horas de imagens de arquivo. Apesar do volume de trabalho, o projecto foi “extremamente estimulante do ponto de vista estritamente profissional”, conta Joaquim Furtado, que venceu com “A Guerra” o Prémio Gazeta 2007, atribuído pelo Clube de Jornalistas.

Como tal, foi fundamental a “compreensão da RTP que deu margem de espaço e tempo” para a realização da série. O repórter acrescenta que este tipo de trabalho só poderia ser feito no âmbito do serviço público, o que não significa que tenha tido ao seu dispor uma vasta equipa técnica. Porém, apesar dos recursos escassos, o jornalista teve durante vários anos um editor de imagem disponível para acompanhar o trabalho.

Ainda assim, a série cresceu muito em torno do seu autor. Havia muitas pessoas para encontrar a partir de imagens de arquivo visionadas, assim como tentar encontrar nesse acervo de vídeo pessoas que tinham sido por si entrevistadas. Essa foi uma das partes apaixonantes do projecto, mas também mais morosa.

Além disso, o jornalista foi meticuloso no momento de ilustrar as histórias que se propunha contar. “Foi difícil fazer a identificação real de cada imagem, perceber o que cada pedaço de filme representava no contexto da guerra”, conta. Essa foi uma das preocupações de Joaquim Furtado, usar as imagens do lugar e do tempo que correspondiam à narrativa contada. “Nunca usei imagens de Guiné em Angola, nem de Angola em Moçambique, também não usei imagens captadas em 1962 para ilustrar uma informação sobre do ano posterior”, revela. O jornalista procurou sempre manter uma relação de fidelidade entre a história e as imagens que a pintavam, até porque com o desenrolar da guerra as armas passaram a ser outras, os uniformes mudaram e o rigor jornalístico tinha de acompanhar esta evolução histórica.

Outras das preocupações de Joaquim Furtado foi não repetir planos e não dar demasiada ênfase à sonoplastia.

Várias guerras

Um dos desafios iniciais foi encontrar um conceito para a série, uma vez que os conflitos armados nas ex-colónias portuguesas se revestem de características diferentes consoante quem conta a história. Daí a divisão das séries em “Guerra do Ultramar”, “Guerra Colonial” e “Guerra de Libertação”.

“O universo das pessoas que ouvi e das pessoas que estiveram ligadas à guerra utilizavam designações diferentes”, adianta o repórter. “Guerra do Ultramar era a designação política oficial do Governo português e da maioria dos militares que eram mobilizados”, conta. Esta era a expressão usada pelo regime de Salazar junto da comunidade internacional para transmitir a ideia de que estas zonas eram províncias ultramarinas, parte integrante do território português, ou seja, que não eram colónias.

“Guerra de Libertação” era o termo usado pelos guerrilheiros. A expressão “Guerra Colonial era a expressão usada por aqueles que eram politicamente contra a guerra, por quem desertava”, adianta.

Esta não é a primeira vez que o jornalista visita Macau. Joaquim Furtado esteve no território pela primeira vez em 1979, a fim de fazer uma reportagem sobre Macau para a RTP. Porém, essa reportagem não resultou em nada, uma vez que “as imagens recolhidas, na altura em filme, chegaram a Portugal deterioradas”. Uma pena, uma vez que, de acordo com o jornalista, Macau era muito pouco conhecido pelos portugueses. “Ainda hoje penso que é”, acrescenta o repórter que voltaria ao território em 1994 para fazer uma acção de formação aos jornalistas da TDM.

“Se perguntar a um português médio o que é Macau, ele tem dificuldade em dizer, em fazer um retrato mínimo do território”, acrescenta Joaquim Furtado. O repórter não acredita que isso signifique que as pessoas estejam, necessariamente, de costas voltadas para os territórios com ligações históricas a Portugal, nem que seja, tampouco, um fenómeno exclusivamente português.

“Se calhar, se formos a Inglaterra fazer perguntas sobre Gibraltar as pessoas podem também não saber grande coisa”, explica. É uma questão de informação, neste caso de falta dela. Aliás, Joaquim Furtado acrescenta mesmo que em Portugal, no continente, “as pessoas estão muito mal informadas sobre o que se passa nos Açores”.

Para já, o jornalista pretende voltar a pegar no fio onde terminou a meada de “A Guerra”. Joaquim Furtado prepara-se para deitar unhas ao período imediatamente após o 25 de Abril, até à independência das colónias.

“Esse período é curto, mas riquíssimo em história e em episódios que estão testemunhados em livros, mas em televisão esse trabalho não foi feito”, explica.

Joaquim Furtado pretende relatar a forma como a guerra continuou, o fenómeno dos retornados “que tiveram de sair desses territórios em condições muito difíceis”, assim como retratar as negociações das independências.

“Gostava de dar forma a estes acontecimentos, dar-lhes contexto e fazer o quadro do que se passou”, comenta o jornalista, após uma sessão de esclarecimentos sobre a guerra perante uma plateia de alunos da Escola Portuguesa de Macau.

O jornalista respondeu às dúvidas dos estudantes, com a mesma voz serena com que leu um comunicado, aos microfones do Rádio Clube, de um grupo de militares revoltosos numa madrugada de Abril de 1974.

13 Jun 2017

10 de Junho | Discursos marcados pelo projecto “Uma Faixa, uma Rota”

É a ideia política do momento e até o 10 de Junho serve para falar dela. Chui Sai On recordou o papel histórico de Macau, fez os habituais elogios aos portugueses e salientou a atenção que Portugal tem dado ao grande projecto de Xi Jinping

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hui Sai On destacou as relações estreitas entre a região e Portugal, e referiu-se aos portugueses como “parte integrante e fundamental” da sociedade, num discurso marcado por referências ao projecto “Uma Faixa, uma Rota”.

“Sendo parte integrante e fundamental da configuração social multicultural de Macau, os portugueses aqui residentes e os macaenses têm demonstrado o seu esforço e contribuído largamente para o desenvolvimento socioeconómico de Macau”, disse Chui Sai On, na recepção anual que acontece na residência consular a propósito do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

O Chefe do Executivo afirmou que “Macau e Portugal têm vindo a manter estreitas e pragmáticas relações de amizade e de cooperação, tendo-se verificado um desenvolvimento contínuo e frutífero nas várias áreas de cooperação do comércio, da justiça, da educação, da saúde, da segurança e do turismo”.

Grande parte do discurso foi dedicado ao projecto “Uma Faixa, uma Rota”, o plano internacional de infra-estruturas lançado pela China que pretende simbolicamente reavivar a antiga Rota da Seda, o corredor económico que uniu o Oriente e o Ocidente e “que tem merecido uma grande atenção da comunidade internacional, incluindo de Portugal”.

“Macau teve o estatuto de centro de comércio internacional na antiga Rota da Seda Marítima e, a partir de Macau, vários produtos chineses, tais como a seda, a porcelana e o chá, foram exportados para todo o mundo. Macau está historicamente ligado à Rota da Seda Marítima”, afirmou.

Honra e dignidade

Na mesma ocasião, o cônsul-geral Vítor Sereno, deixou uma “saudação especial” à comunidade portuguesa a residir em Macau, que “tanto honra e dignifica” o país e é “exemplo de integração de sucesso na sociedade, de entusiasmo, de empreendedorismo e de solidariedade”.

No seu quinto discurso no 10 de Junho em Macau, o cônsul português salientou ainda a “amizade entre o povo português e chinês” que disse ser “vista como um exemplo à escala mundial de como criar consensos e pontes”.

“Para Portugal, a relação com a República Popular da China é uma prioridade estratégica mais importante que nunca. É, sem dúvida, uma amizade para a vida”, disse.

Também Vítor Sereno falou igualmente do projecto “Uma Faixa, uma Rota”, sublinhando “o enorme potencial de Sines” e da “criação de um novo eixo ferroviário entre Madrid e Sines” que permitirá unir a “Rota Marítima Atlântica à Rota da Seda Terrestre Ferroviária Euro-Asiática”.

“Portugal quer dar um contributo significativo para que a Região Administrativa Especial de Macau possa desempenhar um papel de relevo no desenvolvimento da estratégia visionária ‘Uma Faixa, uma Rota’, e como ponte efectiva na cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, afirmou.

A manhã de sábado começou com o içar da bandeira no consulado-geral de Portugal em Macau, tendo o hino português sido tocado pela banda da Polícia de Segurança Pública. Seguiu-se depois a habitual caminhada à gruta do poeta Luís de Camões, no jardim com o mesmo nome.


Marcelo Rebelo de Sousa salientou importância da promulgação da Lei da Nacionalidade

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assinalou no sábado que a promulgação, no Dia de Portugal, da regulamentação da Lei da Nacionalidade foi “um sinal” de que as comunidades portuguesas não são esquecidas.

“Não posso deixar passar despercebido o facto de, neste Dia de Portugal, ter promulgado e o senhor primeiro-ministro ter referendado, no Porto, um decreto-lei que veio regulamentar a lei da nacionalidade”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, a bordo do voo entre o Porto e São Paulo, pouco antes de chegar ao Brasil.

“Foi simbólico que o Presidente da República e o primeiro-ministro tivessem, o que não é habitual, promulgado e referendado no Porto – normalmente isso acontece em Lisboa -, no Dia de Portugal, esse regulamento”, disse o chefe de Estado, acrescentando: “É um sinal, para as comunidades, de que nós não as esquecemos”.

O Presidente da República promulgou simbolicamente sábado, Dia de Portugal, o diploma do Governo que regula o acesso à nacionalidade portuguesa por parte de netos de portugueses nascidos no estrangeiro.

Numa nota enviada pela Presidência da República à agência Lusa, lê-se que, “por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”, o chefe de Estado, promulgou, no Porto, este diploma do Governo que “vem clarificar e facilitar o acesso à nacionalidade de descendentes de portugueses”.

Esta promulgação aconteceu antes de o Presidente da República viajar para o Brasil, onde prosseguiu, com o primeiro-ministro, António Costa, as celebrações do 10 de Junho iniciadas no Porto, junto da comunidade emigrante e luso-descendente residente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A nota enviada à agência Lusa refere que “o diploma foi igualmente referendado no Porto pelo primeiro-ministro e segue para publicação no Diário da República”.

O Presidente da República explicou que a Lei da Nacionalidade “já tinha sido aprovada há mais ou menos dois anos e estava por regulamentar”.

“Havia pontos essenciais que constituíam uma queixa das comunidades de portugueses, de luso-descendentes por todo o mundo, porque havia burocracia e pontos por regulamentar que dificultavam, de facto, o reconhecimento da nacionalidade. Muitos que, há bastante tempo, se queixavam de que estavam à espera deste regulamento para poderem ver reconhecido o seu direito a serem portugueses, têm finalmente o diploma que permite isso”, considerou.

Lutar pelos emigrantes

Questionado pelos jornalistas sobre a sua ligação às comunidades portuguesas no estrangeiro, Marcelo Rebelo de Sousa comentou que “desde sempre” foi “um lutador” pelos emigrantes, e “a razão é uma razão nacional”.

Portugal tem “à volta de 10 milhões de portugueses nas fronteiras físicas” e “contando com os descendentes, mais de 10 milhões fora das fronteiras físicas”, assinalou.

“São uma realidade que pertence à nossa pátria. Isso é tão rico do ponto de vista histórico, estratégico, político, económico e social, que não pode ser deitado fora”, destacou o chefe de Estado.

“Mas, se me perguntar se conheço o que é a vida das comunidades portuguesas, eu juntarei que sim senhor, conheço, pessoalmente, familiarmente, isso”, disse o Presidente, cujo filho vive em São Paulo, Brasil.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda: “Mas eu acho que todas as famílias portuguesas têm ou tiveram um emigrante em qualquer parte do mundo. O difícil é haver uma família portuguesa que não tenha nenhuma ligação ou a emigrantes ou a imigrantes”.


António Costa quer reforçar direitos dos portugueses no estrangeiro

O primeiro-ministro salientou sábado, em São Paulo, que o seu Governo pretende reforçar os direitos de participação política dos portugueses no estrangeiro com o recenseamento automático e permitir o acesso à nacionalidade de netos de portugueses.

A proposta de lei que o Governo apresentou ao parlamento sobre o recenseamento automático e a lei da nacionalidade – esta agora promulgada pelo Presidente da República – foram referidas por António Costa na parte institucional da sessão das comemorações do Dia de Portugal num Teatro Municipal completamente cheio.

De acordo com o primeiro-ministro, com a decisão do Governo de se avançar para o recenseamento automático “está a facilitar-se e a reforçar-se a participação dos portugueses residentes no estrangeiro”.

Depois, Costa referiu-se a “sete momentos” que marcam a celebração do 10 de Junho em São Paulo e no Rio de Janeiro, este ano, sendo o primeiro deles o facto de o Presidente da República ter promulgado a lei da nacionalidade.

“A lei da nacionalidade vai facilitar a todos os luso-descendentes o acesso à nacionalidade portuguesa e corresponde à velha ambição de que os netos dos portugueses no Brasil possam manter a nacionalidade portuguesa”, disse, recebendo uma prolongada salva de palmas.

Na parte mais política, o primeiro-ministro destacou também o avanço da Escola Portuguesa de São Paulo, a colaboração do Instituto Camões para a reconstrução do Museu da Língua Portuguesa e, no caso do Rio de Janeiro, os acordos para garantir a preservação do património do Real Gabinete de Leitura de Português.

Do coração

Mas a intervenção do primeiro-ministro teve também uma dimensão de ordem sentimental, quando se referiu às relações luso-brasileiras.

“Foi para mim uma profunda emoção ter iniciado esta manhã o Dia de Portugal no Porto e continuar aqui, em São Paulo, a oito mil quilómetros de distância essa celebração. Continuo a sentir-me como se não tivesse saído de casa”, declarou o primeiro-ministro.

Já na parte final da sua intervenção, o primeiro-ministro defendeu que a “universalidade faz parte da identidade de Portugal”.

“Por isso, em Janeiro, quando realizei uma visita de Estado á Índia, estive na terra do meu pai. Hoje, aqui, no Brasil, estamos na terra onde o Presidente da República tem o seu filho e os seus queridos netos. É isto que é Portugal”, acrescentou o líder do executivo.

12 Jun 2017

Rodrigo de Matos, cartoonista: “Coloco-me na linha de fogo”

Rodrigo de Matos é um dos cinco cartoonistas do território no “Barcelona X Macao Art of Illustration”. Para o criador de crónicas ilustradas, rir da tragédia é importante. O cartoon é fundamental enquanto alerta para os problemas da actualidade

Tem formação em jornalismo, área em que trabalhou, mas está agora exclusivamente dedicado ao cartoon e à ilustração. Como é que esta passagem aconteceu?

É preciso perceber que não sou um ilustrador puro. Sou um cartoonista editorial. O cartoon editorial, ao contrário do que muita gente pensa, não é um tipo de ilustração. É um trabalho diferente que usa outra linguagem. A ilustração ocupa, numa publicação, um lugar especifico e que é, como o próprio nome indica, o de ilustrar e embelezar textos. Já o cartoon editorial é mais do que isso: é uma espécie de crónica de opinião, escrita numa linguagem muito própria. A minha formação em jornalismo, bem como a experiência que tive depois da formação enquanto repórter, foram muito importantes. É por isso que posso dizer que tenho um conhecimento, teórico e prático, de como é produzida a informação. Penso que sei filtrar melhor o que são os acontecimentos da actualidade, o que está por detrás de determinadas situações e as suas implicações. Isso também é uma parte fundamental do meu trabalho enquanto cartoonista. O meu cartoon é, antes de mais, um trabalho de selecção do que é importante na actualidade e do que tem potencial humorístico também. Além disso, tenho de acrescentar a ilustração propriamente dita. Em suma, o meu trabalho implica o trabalho jornalístico e editorial em que é seleccionado o que é importante e em que analiso as notícias, tenho o trabalho de criar uma piada à volta disso e depois o de conseguir transmitir a ideia com a linguagem da informação.

Acabou por fazer um curso em Madrid específico nesta área.

Sim, na ESDP de Madrid aprende-se a trabalhar com uma diversidade grande de meios analógicos e tradicionais da pintura. Foi também ali que aprendi a produzir vários tipos diferentes de ilustração para ser publicada, desde ilustração infantil a desenho realista de cenas históricas e de animais como aqueles que vemos, por exemplo, numa enciclopédia. Foi um curso muito importante porque foi muito prático e foi onde aprendi o que me faltava: ter um traço mais profissional.

Foto: Sofia Margarida Mota

Já chegou ao seu traço?

Sim, penso que sim, mas noto evolução a cada ano que passa. A graça de tudo isto também é esta evolução para que não esteja a fazer sempre a mesma coisa. Nos últimos anos fiz um esforço de conversão ao digital total. Já no final do curso, em Madrid, demos umas bases de utilização do Photoshop para o tratamento de desenhos feitos em papel. Quando comecei a trabalhar profissionalmente com cartoons, todo o meu trabalho era feito sobre papel, com canetas e lápis: primeiro era o esboço com lápis, depois com lápis azul e depois com uma caneta especial. Era um processo que envolvia três folhas de papel que depois digitalizava e coloria. Actualmente, já há uns tablets muito bons em que desenhamos sobre o ecrã e que são muito semelhantes ao papel. A tecnologia também já evoluiu tanto que a sensibilidade destas canetas digitais está muito próxima, se não mesmo melhor, do que as canetas tradicionais. Esta evolução tem sido muito positiva porque vejo que o meu trabalho não perde nada quando feito digitalmente, sendo que até pode ganhar.

Recebeu, em 2014, o Grand Prix do Festival Press Cartoon Europe, na Bélgica. Em que é que este reconhecimento internacional projectou os seus desenhos?

É difícil avaliar até que ponto isso aconteceu, mas penso que terá acontecido. Um prémio desses é uma coisa que valoriza muito qualquer currículo.

Quais são as suas referências editoriais?

Sou, desde sempre, um grande apreciador daquilo a que se pode chamar da escola norte-americana de cartoons. Os trabalhos que são publicados na imprensa de referência dos Estados Unidos da América têm uma linguagem e um humor típico que me influenciam muito.

Como é que poderia caracterizar essa linguagem?

É um pouco redundante falar em humor inteligente porque penso que todo o humor tem de ser inteligente. O humor implica uma actividade cerebral que leva à compreensão da piada. Os americanos são muito influenciados por uma escola associada à stand-up comedy de qualidade. É um humor mordaz e sarcástico e que não explica a piada, não dá tudo ao leitor. O que os cartoonistas americanos fazem, e que eu também procuro fazer à minha maneira, é contar uma história dando só um pequeno momento, aquele momento chave que é suficiente para perceber tudo o que se quer contar.

Muitas vezes os cartoons pegam em situações trágicas da realidade. A estas situações junta o humor. Como é que lida com esta ligação?

Ainda hoje, sempre que faço um cartoon acerca de um determinado tema mais triste, como um ataque terrorista com vítimas mortais, há sempre alguém que diz que o meu trabalho é de mau gosto. Penso que é uma questão muito cultural. Ainda achamos que o riso ofende, que o riso é uma coisa feia, proibida e má. Temos uma visão muito negativa do humor que, penso, nos é transmitida pela nossa cultura judaico-cristã. É um erro que pode ter tendência a ser corrigido nas próximas gerações, se o mundo evoluir numa direcção interessante. As pessoas têm tendência em confundir o tema da piada com o alvo da piada. Quando faço um cartoon acerca de um acontecimento com mortes, ou sobre uma doença que está a matar crianças, o que pretendo não é ridicularizar as vítimas, não é humilhar quem sofre. A intenção do cartoon é chamar a atenção para o que está mal. Quanto mais grave a situação é, mais pede um cartoon. O que se pretende, quando se faz este tipo de trabalho, é que as pessoas se indignem com o que está mal. O cartoon aponta o dedo aos paradoxos da condição humana. Se isso pode provocar o riso, é para que nos possamos também rir de nós. A nossa cultura, especialmente quando se fala de morte, tem um preconceito enorme. A morte é um grande tabu, é intocável. Não se pode falar dela, não se pode brincar mas, na realidade, a morte faz parte da vida, é a sua parte final. Quando um trabalho meu tem esse tipo de reparo, quando é considerado uma coisa de mau gosto só porque aborda o tema da morte ou do sofrimento das pessoas, procuro não me deixar perturbar. A verdade é que o meu trabalho é sempre susceptível de críticas. Coloco-me na linha de fogo. Um cartoonista, faça o que fizer, seja qual for o tema, vai ofender sempre alguém. Mas nem sempre a pessoa que se sente ofendida tem razão. Cresci a ouvir que não devia brincar com coisas sérias e nunca concordei com isso. Até hoje tenho tentado provar o contrário: as coisas sérias são coisas com as quais devemos brincar e que devemos abordar de todas as formas.

Que temáticas mais gosta de abordar?

Gosto precisamente das que são mais problemáticas porque representam um desafio maior. É arranjar uma piada no drama. Há sempre um lado irónico nas coisas. Uma situação trágica em que há várias mortes sem razão é uma coisa muito difícil. Mas são também estas situações que encerram em si uma ironia e um paradoxo muito grande. Estas características estão inerentes ao actual momento da nossa civilização. Somos tão avançados, somos capazes de realizações tecnológicas incríveis e, ao mesmo tempo, ainda aqui andamos a matar-nos por causa de homens invisíveis.

Veio para Macau em 2009. Como é que esta vinda para o Oriente influenciou o seu trabalho? 

Macau apareceu na minha vida por acaso. Estava em Lisboa, tinha a colaboração com o jornal Expresso e vim cá visitar um amigo. Com a oportunidade de trabalhar aqui fiquei dividido. Acabei por optar por ficar em Macau precisamente por achar que teria um potencial de conhecimento maior se aqui ficasse. Pensei também em aprender a língua chinesa, um projecto que ainda não consegui concretizar. Ao tentar perceber uma cultura tão diferente da nossa, acabamos por ficar sempre mais ricos e por perceber melhor o próprio ser humano.

8 Jun 2017

Filipe Dores, artista plástico: “Não há espaço para criar em Macau”

“Nocturno” é a exposição de aguarelas de Filipe Dores que vai ser inaugurada no próximo dia 6, na galeria do Albergue SCM. A iniciativa insere-se nas comemorações de “Junho, Mês de Portugal” que acolhe o artista local já distinguido no Reino Unido. Para Filipe Dores, Macau tem talentos, mas falta motivação para ir além-fronteiras

[dropcap]O[/dropcap] que é que podemos ver em “Nocturno”?
A exposição é constituída por 30 quadros. São obras sobre ruas silenciosas de Macau e, por isso, representam um contraste com o ambiente diurno do território, em que os espaços estão cheios de gente. As pessoas que virem os meus quadros vão sentir o seu espaço nocturno. Podem entrar dentro dos quadros e sentir que andam naquelas ruas.

Como é que foram escolhidas estas ruas?
Não escolhi ruas novas, apesar de ser difícil encontrar ruas antigas. Desde pequeno que as ruas se têm vindo a transformar. Quando quero espaços que sempre conheci como são agora, tento ir buscar informação a documentos e fotografias antigas. Pinto-os como penso que eram antes. 

A aguarela é a técnica que mais usa no seu trabalho. Porquê esta escolha?
Comecei a usar aguarela no exame de acesso ao Instituto Politécnico de Macau. O exame durava três horas e se utilizasse outras técnicas seria difícil de o fazer. A aguarela era um bom material. Com o tempo comecei a pintar mais e continuei a usar a técnica, até hoje. Gosto de trabalhar com aguarela porque é um material muito honesto, porque é transparente. Não mente. Cada camada é transparente, não há tinta branca, não se pode corrigir, pode ver-se tudo.

As suas imagens parecem fotografias. Têm uma luz muito real.
Começo o trabalho com um plano de frente, como nos trabalhos de arquitectura. É uma influência do meu avô materno, que fazia maquetes de edifícios. Gosto dos planos que fui criando e continuei com essa abordagem.

Na apresentação do seu trabalho, a curadoria salienta o facto de as obras serem vazias de pessoas. Porquê esta opção?
Para quem cria uma pintura, esse acto é uma forma de comunicação consigo mesmo. O artista pergunta-se o que quer pintar, como o quer fazer e que tema pretende abordar. A escolha de ruas vazias é uma forma de comunicar mais facilmente comigo.

Outro aspecto que a curadoria comenta é a relação que tenta dar a conhecer entre ambiente e realidade. Como é que concretiza esta opinião?
Não é fácil de explicar. Para mim, a realidade tem mais que ver com o sujeito, com quem sente e o que se sente. O que é sentido é real, é um fenómeno interno das pessoas. O ambiente, por seu lado, é o que existe, já está fixo e é exterior. Quero que as ruas que pinto transmitam aquilo que tenho como realidade e que façam sentir alguma coisa em que exista uma comunicação interna.

Já foi distinguido no estrangeiro, antes mesmo de ser conhecido, como é actualmente, em Macau. Em que é que estes prémios contribuíram para a projecção do seu trabalho?
Claro que os concursos estrangeiros são muito importantes. É muito difícil entrar neste tipo de competições. Percebi também o porquê da dificuldade logo da primeira vez que participei e fui a Londres ver os trabalhos seleccionados: eram todos muito bons. Eram excelentes artistas oriundos de todo o mundo. Mas acho que os criadores locais têm todas as capacidades para chegar a este patamar. No entanto, infelizmente, a maior parte dos criadores de Macau não tem motivação para o fazer.

Porque é que isso acontece?
Em primeiro lugar, a falta de participação em concursos internacionais tem que ver com motivos económicos. Quando concorremos mandamos primeiro os trabalhos em formato digital. Até aí tudo bem, mas caso sejamos seleccionados, como aconteceu comigo, pedem que sejam enviadas as obras. Faz parte deste momento de selecção a avaliação da obra física. No meu caso, quando soube que fui seleccionado fiquei muito satisfeito mas, minutos depois, quando me apercebi que tinha de enviar os quadros, fiquei receoso. Não é só a viagem de ida das obras. Depois temos de voltar a trazer as obras para casa. O transporte de um quadro não é barato. No primeiro ano em que participei, uma das obras seleccionadas media, com moldura, mais de 1,60 metros. Acabei por ser premiado, o que foi bom. Os artistas pensam que fica muito caro concorrer a este tipo de iniciativas, mas penso que o que deveriam ponderar é que estes gastos são um investimento que fazem neles próprios. Os criadores de Macau ainda não têm noção disso. O que vemos é que o máximo que conseguem é uma exposição no território e acabam por nem pensar ir mais longe do que isso.

Acha que os artistas de Macau têm talento para avançar?
Sim. Há muitos artistas com qualidade. No entanto, existem outras dificuldades que têm de enfrentar. Uma delas é a língua. Muitas vezes é necessário o domínio do inglês, pelo menos. No meu caso, este é um aspecto que não me preocupa porque acho que o que vai comunicar verdadeiramente é o meu trabalho. Há também aqueles artistas que acham que não vale a pena tentar.

Podia ser dado algum apoio para que os artistas locais pudessem ter mais acesso a estes concursos internacionais?
Sim. No segundo ano que concorri a um concurso no Reino Unido, tive um subsídio do Instituto Cultural de 20 mil patacas. Este ano não tive. No entanto, apesar da ajuda, penso que este montante não cobre as despesas, porque estar em Inglaterra também fica muito caro.

O que pensa fazer depois de “Nocturno”?
Tenho estado com alguns trabalhos na área do design para ganhar experiência. Estou também a pensar em novos projectos e quero fazer uma instalação. Neste momento estou a definir o conceito. Para trabalhar com instalações é necessário ter um suporte económico, pelo que estou a ver formas de o conseguir.

Quais são as maiores dificuldades que os artistas locais enfrentam?
As rendas das casas e dos espaços. As pessoas não têm lugar para criar. Há 20 anos, por exemplo, era possível ter um estúdio ou um espaço grande num edifício industrial. Agora, com os preços que se praticam, é impossível. Não há espaço para criar em Macau. Por outro lado, e no que respeita à educação, penso que os responsáveis deveriam concentrar-se na formação de artistas locais. As escolas, por exemplo, são capazes de gastar 500 mil patacas para mudar de computadores que vão estar actualizados apenas por cinco anos, mas não disponibilizam 30 mil patacas para comprar um forno de cerâmica que dura mais de 30. Esta mensagem de priorizar a tecnologia sobre a arte vai ser percebida pelos alunos que vão acabar por seguir o exemplo: dar menos importância à arte.

Qual é o papel da cultura e da arte na sociedade?
A arte é tudo. Em todas as circunstâncias as pessoas usam arte e a criação. Por exemplo, para nos vestirmos é necessário que alguém crie os modelos: é necessária a arte. Todas as sociedades têm de ter uma noção de beleza, o que é muito importante. Se isso não acontecer, as pessoas acabam por fazer apenas cópias. Acabaria por ser tudo igual.

2 Jun 2017

“Mês de Portugal” | Iniciativa com muita adesão veio para ficar

A iniciativa “Junho – Mês de Portugal” conquistou Macau. É o que dizem organizadores, que falam em mais pessoas, união entre associações e vontade de continuar

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]erminou ontem a iniciativa “Junho – Mês de Portugal” que, na visão dos organizadores, superou as expectativas e acaba em “balanço francamente positivo”.
Foram 30 dias com exposições, ciclos de cinema, música, teatro e tantas coisa mais para marcar o Dia de Camões, de Portugal e da Comunidades Portuguesas. Este ano, entre 1 e 30 de Junho, juntaram-se o Consulado de Portugal, a Casa de Portugal em Macau, o Instituto Português do Oriente (IPOR), a Fundação Oriente, o Clube Militar e a Livraria Portuguesa.
Para João Laurentino Neves, presidente do IPOR, esta iniciativa foi um óbvio exemplo de bom trabalho entre as associações. “Um trabalho que já existia bilateralmente em alguns caos, mas que agora veio para ficar. O programa veio provar que, quando as instituições se coordenam entre si, é possível construir um programa não só vasto, mas abrangente em termos das áreas da expressão cultural e artística e sobretudo um programa de qualidade”, explicou ao HM, frisando o importante trabalho que Vítor Sereno, Cônsul-Geral, desempenhou na divulgação da iniciativa.
O resultado final não podia ser mais positivo, diz. “O programa não só proporcionou à comunidade de Macau um conjunto de excelentes eventos, mas promoveu-se igualmente, de forma muito positiva, aquilo que é a produção cultural e aquilo que é produção artística portuguesa”, frisou, sublinhando que, desse ponto de vista, o balanço só pode ser positivo.

De olhos postos

Prova do sucesso é o aumento no número de pessoas que aderiram às várias actividades. “As assistências que estiveram em qualquer um dos eventos que compunham este programa, mesmo aqueles em que tradicionalmente é mais difícil mobilizar a pessoas, cresceram quando comparando com iniciativas anteriores”, afirmou, frisando que não só portugueses compunham este auditório.
A concordar está Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, que justifica uma maior adesão na calendarização das actividades. “No conjunto, as iniciativas foram extremamente positivas. Houve de facto uma maior presença das pessoas. Penso que o facto das coisas não acontecerem em dias seguidos facilita que haja uma maior adesão. Temos essa experiência, quando os eventos acontecem muito próximos uns dos outros não dá para as pessoas gerirem o seu tempo. Ser num mês inteiro, com intervalos, permite uma maior adesão”, apontou.

É para continuar

Desengane-se quem tinha dúvidas. A iniciativa é para continuar. “O Cônsul-Geral sempre disse que esta actividade é para ficar, mas claro depende sempre da vontade das instituições. Julgo que existe essa boa e grande vontade. Julgo que se pretende que este seja um programa para que Portugal marque de facto no calendário o mês de Junho como especial. Em que se juntam vários esforços, colaborações das instituições, empresas, parceiros, do próprio Governo da RAEM neste programa”, aponta.
Para a presidente da Casa de Portugal este é o resultado de um trabalho feito ao longo dos últimos anos. “Claro que queremos continuar. Isto é uma coisa [para] a qual já se vinha a caminhar. Não é uma coisa que aconteceu este ano. Já vínhamos a trabalhar para isto, não era explícito que seria um mês, mas sempre quisemos juntar as peças de cada associação e instituição para fazer uma coisa mais representativa. Já tínhamos tentado, agora assumiu um nome e uma meta. Acho que é de defender a continuação”, rematou.

1 Jul 2016

Comemorações 10 de Junho | Chui Sai On elogiou comunidade portuguesa

Não haja dúvidas: a comunidade portuguesa, residente em Macau, deve ser mesmo muito especial. Por um lado, o nosso “contributo activo” é importante para a RAEM, segundo Chui Sai On. Por outro, somos “insubstituíveis” para o futuro de Portugal, segundo o secretário de Estado, Jorge Gomes. Os habituais discursos do 10 de Junho, na residência consular, reafirmaram o costume, mas desta vez, ainda foram mais longe. Ele é muita responsabilidade…

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] chefe do Executivo de Macau referiu nas cerimónias do 10 de Junho que as relações entre Portugal e Macau “têm vindo a ser concretizadas com sucesso” em áreas como a Justiça e sublinhou o contributo da comunidade portuguesa para o desenvolvimento da região. No âmbito da celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Chui Sai On começou por agradecer a camisola da selecção portuguesa de futebol com o número 8 – o número da sorte – e o seu nome em português [Fernando], que, momentos antes, lhe foi entregue pelo cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong.
“As relações entre Portugal e Macau são de longa data e, desde o estabelecimento da Região Administrativa Especial têm vindo a ser concretizadas com sucesso, em especial nas áreas do comércio, turismo, educação e saúde”, disse. “Também na área da Justiça, a cooperação entre Portugal e Macau saiu consolidada e reforçada, com as recentes visitas da senhora Procuradora-Geral da República Portuguesa e do senhor presidente do Supremo Tribunal de Justiça de Portugal”, observou.
O chefe do Executivo reconheceu “o contributo activo dos portugueses e dos macaenses (…) para a construção e desenvolvimento da região”. Também referiu que, hoje em dia, Macau tem “a relevante missão de elo de ligação nas relações culturais e comerciais entre a China e Portugal e também entre a China e os países de língua portuguesa”. Neste âmbito, invocou a preparação em curso, “com o forte apoio do governo central, da quinta edição da conferência ministerial no âmbito do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. “Estamos convictos de que, apoiando-se na estratégia nacional de ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e, tirando partido destas singularidades, Macau continuará a fomentar e reforçar as suas relações na cooperação com os países de língua portuguesa”, afirmou.

Os insubstituíveis

O secretário de Estado da Administração Interna disse que comemorar este dia em Macau tem “uma carga emocional” por se celebrar “uma relação histórica de cinco séculos entre Portugal e a China, de admiração e de respeito mútuo” Jorge Gomes disse que em Macau “verifica-se o empenhamento em manter uma matriz portuguesa, facto que bem simboliza o sucesso da transição”.
“As informações que nos chegam, designadamente das autoridades portuguesas e do Executivo de Macau, comprovam que aqui os portugueses não são apenas bem-vindos. Mais do que isso são vistos como um pilar essencial desta comunidade empreendedora e virada para o futuro”, acrescentou. Por outro lado disse que “esta comunidade tem um papel insubstituível no futuro de Portugal. A distância não diminuiu em nada esse papel”.
Da relação entre Portugal e Macau salientou o Acordo Quadro da Cooperação em matéria de segurança pública interna, que se tem traduzido na realização de actividades conjuntas pelas forças de segurança, nomeadamente na área da formação, afirmando haver condições para o reforço desta cooperação bilateral.
Jorge Gomes falou ainda do plano de reformas que está a ser realizado pelo governo português e descreveu Portugal como um país de oportunidades de investimento e recordou a participação de investidores chineses nos processos de privatização de empresas portuguesas, e a internacionalização de outras que têm identificado negócios com a China. “Fora da Europa, não podemos esquecer: a China é um dos principais parceiros comerciais de Portugal”, salientou. Além disso, destacou a cooperação multilateral, desejando “os maiores sucessos” para a próxima reunião ministerial do Fórum Macau a realizar em Macau no final deste ano.

O cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, afirmou que “não gostaria que, quando se chegar a 2049 [data até à qual é garantido o funcionamento do princípio ‘Um país, dois sistemas’], exista a possibilidade de Portugal ser apenas lembrado por aqui ter deixado um conjunto de edifícios que são património histórico da humanidade”. Referindo o contributo da comunidade para o desenvolvimento de Macau, Vítor Sereno referiu a importância da vinda de mais quadros especializados de Portugal para a região. “Queremos estar na primeira linha de apoio, com mais professores de todos os graus de ensino, com mais médicos, com mais enfermeiros, com mais engenheiros, com mais técnicos especialistas”, disse.

Presidente da República: “Foi sempre o povo a lutar por Portugal quando elites falharam”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que foi o povo português, “sempre o povo”, quem assumiu o papel determinante quando o país foi posto à prova, lutando por ele, mesmo quando as elites falharam. No discurso das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no Terreiro do Paço, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa fez o elogio do povo português, “o povo armado e não armado”, que, “nos momentos de crise, quando a pátria é posta à prova”, assumiu o “papel determinante”. “Foi o povo quem, nos momentos de crise, soube compreender os sacrifícios e privações em favor de um futuro mais digno e mais justo. O povo, sempre o povo, a lutar por Portugal. Mesmo quando algumas elites – ou melhor, as que como tal se julgavam – nos falharam, em troca de prebendas vantajosas, de títulos pomposos, meros ouropéis luzidios, de autocontemplações deslumbradas ou simplesmente tiveram medo de ver a realidade e de decidir com visão e sem preconceitos”, afirmou.
“Portugal é o seu povo, que não vacila, não trai, não se conforma, não desiste”, declarou. “Aqui em Lisboa, seguro de estar a interpretar a vontade popular, condecoro militares cujo pundonor e percurso no passado ou no presente são exemplo para todos nós”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, no discurso que antecedeu a condecoração de seis militares, três no ativo e três outros que combateram na Guerra Colonial.
No elogio ao povo, Marcelo Rebelo de Sousa percorreu vários momentos da história de Portugal, desde a fundação, passando pelas perdas e recuperação da independência, às invasões estrangeiras do século XIX e o 25 de Abril. “Esse mesmo povo que hoje é garante do nosso desenvolvimento económico, da justiça social na reconfiguração de Portugal como país de economia europeia, de raiz multicultural, expressão da língua portuguesa, plataforma entre continentes, culturas e civilizações, é esse povo que hoje queremos celebrar”, afirmou. Numa intervenção curta (durou cerca de nove minutos), de tom mobilizador, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se também ao simbolismo do lugar em que decorreram esta primeira parte das cerimónias, o Terreiro do Paço. “Podemos dizer que devemos aos acontecimentos ocorridos neste espaço o que somos hoje e o que fomos sendo desde o século XV”, afirmou, referindo-se a vários acontecimentos, culminando no terramoto de 1755. “Foi aqui também que demos prova de que somos capazes, novamente a partir do nada, planeamos, reconstruímos, reerguemo-nos, Lisboa renasceu e a esta praça tornou-se uma das mais belas da Europa. Mostrámos ao mundo de então de que fibra somos feitos e do que somos capazes”. “Hoje, em 10 de Junho de 2016, desta mesma praça, que é símbolo maior do nosso imaginário colectivo, partimos, uma vez mais, rumo ao futuro. Somos portugueses, como sempre, triunfaremos”, concluiu.

13 Jun 2016

10 Junho | Governo português quer reforçar trabalhadores nos consulados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, referiu, na sua habitual mensagem por ocasião do 10 de Junho, que o Governo português quer continuar a resolver a falta de recursos humanos nos diversos consulados espalhados pelo mundo, sendo que o consulado em Macau não é excepção.
“Outra das preocupações políticas é a reparação gradual das insuficiências mais críticas, designadamente em recursos humanos, da rede consular. O novo Sistema de Gestão Consular (eSGC) vai permitir uma maior simplificação e modernização dos serviços prestados aos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro e um melhor e mais eficiente funcionamento da rede diplomática e consular”, pode ler-se no comunicado.
Lembrando que o Instituto Camões tem duas redes de ensino do português no estrangeiro, com existência em 17 países e com mais de 68 mil alunos e 815 professores, José Luís Carneiro destacou ainda o papel do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). “No plano institucional deve fazer-se especial menção ao CCP e ao seu insubstituível papel de representação e consulta.” No último Congresso do Partido Socialista (PS), Tiago Pereira, coordenador-geral da secção do partido em Macau, pediu o fim do CCP.
José Luís Carneiro referiu ainda que os objectivos do Executivo português são a aposta na “promoção da participação eleitoral dos emigrantes através de um trabalho que visa garantir a melhoria dos processos de recenseamento e das condições de exercício do direito de voto”.

10 Jun 2016

CCM | Verão para todos com mais uma sessão de InspirARTE

O Verão está à porta e com ele o Centro Cultural volta à carga com uma série de espectáculos vindos do outro lado do mundo para animar famílias. Há circo, teatro, marionetas e outras surpresas

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]InspirARTE no Verão” está de volta para alegrar pequenos e graúdos com uma série de espectáculos promovidos pelo Centro Cultural de Macau (CCM). Conta com palhaços, dança e teatro, em iniciativas especialmente concebidas para toda a família.
De 30 de Junho a 3 de Julho, chega a Macau “Sr. Satie de Papel” da Polónia, pelas mãos da companhia Atofri Theatre, a mais reputada no teatro infantil daquele país do leste europeu. A peça é uma produção de teatro musical que mostra como a imaginação pode transformar papel num vistoso cenário, servindo também como instrumento e parceiro de brincadeiras, explica a organização. Estimuladas pelos ritmos, sons e música de Satie, as crianças entre um e três anos são desafiadas a jogar e a desvendar mistérios e adivinhas.

Animais e outros circos

O “Carnaval dos animais” é o circo da bicharada que traz da Austrália acrobacias e um workshop de iniciação aos mais pequenos, naquele que também é denominado como o “maior espectáculo do mundo” e que terá lugar a 9 e 10 de Julho. Para a organização esta é “uma experiência única de teatro visual acrobático que irá permanecer por muito tempo nas mentes dos nossos miúdos”. Chook & Gek
A Escócia entra em cena de 21 a 24 de Julho com “Hup”. Um espectáculo da Starcatcheres de Edimburgo criado em colaboração com a Orquestra Real Nacional Escocesa, que revela uma ligação entre a natureza e a música, deixando que bebés se descontraiam através de uma aventura íntima com a música clássica. Quase como num jogo, o pequeno público é desafiado a interagir com ambiências e ritmos musicais. Esta peça é uma criação para pais que cedo pretendam expor os seus filhos até aos 24 meses ao mundo da música e da imagética.
A 23 e 24 de Julho os russos Melting Point trazem para cena “Chook e Gek”. A peça é um espectáculo teatral que combina palhaços, marionetas e instalação vídeo, baseada num conto clássico do autor Arkady Gaidar. A encenação conta as aventuras de dois irmãos que partem com a mãe rumo ao norte longínquo para se encontrarem com o pai. Descrita como “uma peça alegre, engraçada e visualmente adorável”, “Chook e Gek” é concebida para miúdos a partir dos cinco anos. O espectáculo convida o público a descobrir a força e a beleza das coisas simples, levando os mais velhos numa viagem de regresso à infância.

A cantar

“Spot” vem da Holanda de 6 a 8 de Agosto pelo Theater Terra. Um musical para a família que sobe ao palco com um desfile de marionetas em ponto grande, cenários coloridos e “adoráveis” personagens. Inspirada na internacionalmente reconhecida colecção de livros “Spot the Dog”, de Eric Hill, esta introdução às artes performativas é acompanhada de canções, encenada em diálogos simples e dança tradicional holandesa. A história começa quando o cão Spot leva Helen, a hipopótama azul, a visitar o pai na quinta. Quando lá chegam, os dois amigos descobrem que todos os animais tinham desaparecido. Um espectáculo para miúdos maiores de dois anos.Chalk About_Tuur Uyttenhove
A Escócia retorna a 27 e 28 de Agosto, desta feita com “Conversas a giz” pela companhia Curious Seed. Divertida, emocional e imprevisível, adianta a organização, a peça de dança teatro transforma o palco num imenso quadro negro onde, para além dos corpos, a própria vida é delineada a giz. A companhia escocesa leva ao palco dois bailarinos que vão fazer perguntas grandes a um público pequeno. Equilibrando humor e descontracção com movimentos corporais, a dupla vai interagir com uma plateia de crianças a partir dos oito anos tocando em temas universais, do amor à felicidade.
Ainda a 28 de Agosto e em jeito de despedida entra em cena o “InspirARTE à Solta” uma celebração que vai juntar milhares de crianças e pais no CCM. Dos workshops aos espectáculos e aos jogos, grandes e pequenos vão juntos à descoberta das artes com os animais da floresta.
Os bilhetes para todos os espectáculos já estão à venda.

30 Mai 2016