Hoje Macau ReportagemCovid-19 | Voluntários correm a salvar animais domésticos ao abandono em Wuhan [dropcap]D[/dropcap]u Fan passa os dias a vaguear por ruas desertas e a arrombar portas em Wuhan, numa corrida contra o tempo para resgatar milhares de animais de estimação, vítimas colaterais da epidemia que paralisou a cidade. “É óbvio que temos receio, mas cabe-nos assumir esta responsabilidade”, explica à agência Lusa o diretor da organização não-governamental Wuhan Small Animal Protection Association (Associação de Proteção dos Animais Domésticos de Wuhan). “Para salvar as vidas dos animais estamos dispostos a assumir o risco”, acrescenta Du, numa entrevista por telefone, a partir de Wuhan. Composta por 28 voluntários, a equipa liderada por Du corre contra o tempo, de bairro em bairro, numa megacidade com mais de onze milhões de habitantes, sem recurso a automóveis ou transportes públicos. “Todos os dias saímos de casa às 8:30 da manhã e regressamos ao início da noite”, revela. “Continuaremos a fazê-lo, até que a cidade retorne ao normal”. Até à data, a Associação já conseguiu resgatar mais de 600 cães e 30 gatos, que são mantidos numa moradia alugada nos subúrbios da cidade, ao cuidado de seis pessoas. A cidade foi colocada sob quarentena em 22 de janeiro, visando travar a propagação de um novo coronavírus, designado Covid-19, que fez já mais de 1.500 mortos e mais de 60.000 infectados no país asiático. A interdição de entradas e saídas impediu o regresso de milhões de residentes que se encontravam a viajar. Noutros casos, famílias inteiras foram hospitalizadas devido à infeção. Há também quem tenha abandonado os animais por temer que sejam portadores do vírus. No total, a Associação recebeu mais de 2.000 pedidos de resgate, sobretudo de donos que estavam fora quando Wuhan foi bloqueada, e receiam agora que os seus animais de estimação não tenham comida e água. Antes de invadir uma casa, os voluntários pedem ao respetivo proprietário que envie um vídeo a segurar o bilhete de identidade e a dar permissão. A seguir, são recebidos por animais esfomeados. Num vídeo partilhado por Du nas redes sociais, uma gata estava a parir quando ele chegou. Duas das crias morreram. “Face a este desastre, ajudar os animais é também uma obrigação dos seres humanos”, diz. O mercado de animais de estimação registou um ‘boom’, nos últimos anos, na China, tendo excedido, em 2019, os 200.000 milhões de yuan, segundo estimativas do sector citadas pela imprensa estatal. A mesma fonte apurou que há mais de 100 milhões de cães e gatos a serem criados em todo o país. Apesar de a Organização Mundial da Saúde ter descartado que cães e gatos possam ser intermediários no contágio do vírus, o temor levou ao abandono de animais domésticos por todo o país. Em várias cidades no norte da China donos foram proibidos de passear animais em público. Na cidade de Wuxi, província de Jiangsu, costa leste do país, uma equipa local do Comité de Prevenção da Epidemia enterrou um gato vivo, depois de o dono ter sido diagnosticado com o vírus, segundo a imprensa chinesa. Mas há quem considere a companhia de animais de estimação imprescindível numa altura em que milhões de pessoas em todo o país permanecem há semanas em casa, com entradas e saídas dos bairros controladas e, em alguns sítios, limitadas a uma em cada dois dias. “Estou há três semanas sozinha em casa”, conta Alice Xia, chinesa residente em Pequim, “sem a companhia da minha gata já teria enlouquecido”.
admin ReportagemCovid-19 | Voluntários correm a salvar animais domésticos ao abandono em Wuhan [dropcap]D[/dropcap]u Fan passa os dias a vaguear por ruas desertas e a arrombar portas em Wuhan, numa corrida contra o tempo para resgatar milhares de animais de estimação, vítimas colaterais da epidemia que paralisou a cidade. “É óbvio que temos receio, mas cabe-nos assumir esta responsabilidade”, explica à agência Lusa o diretor da organização não-governamental Wuhan Small Animal Protection Association (Associação de Proteção dos Animais Domésticos de Wuhan). “Para salvar as vidas dos animais estamos dispostos a assumir o risco”, acrescenta Du, numa entrevista por telefone, a partir de Wuhan. Composta por 28 voluntários, a equipa liderada por Du corre contra o tempo, de bairro em bairro, numa megacidade com mais de onze milhões de habitantes, sem recurso a automóveis ou transportes públicos. “Todos os dias saímos de casa às 8:30 da manhã e regressamos ao início da noite”, revela. “Continuaremos a fazê-lo, até que a cidade retorne ao normal”. Até à data, a Associação já conseguiu resgatar mais de 600 cães e 30 gatos, que são mantidos numa moradia alugada nos subúrbios da cidade, ao cuidado de seis pessoas. A cidade foi colocada sob quarentena em 22 de janeiro, visando travar a propagação de um novo coronavírus, designado Covid-19, que fez já mais de 1.500 mortos e mais de 60.000 infectados no país asiático. A interdição de entradas e saídas impediu o regresso de milhões de residentes que se encontravam a viajar. Noutros casos, famílias inteiras foram hospitalizadas devido à infeção. Há também quem tenha abandonado os animais por temer que sejam portadores do vírus. No total, a Associação recebeu mais de 2.000 pedidos de resgate, sobretudo de donos que estavam fora quando Wuhan foi bloqueada, e receiam agora que os seus animais de estimação não tenham comida e água. Antes de invadir uma casa, os voluntários pedem ao respetivo proprietário que envie um vídeo a segurar o bilhete de identidade e a dar permissão. A seguir, são recebidos por animais esfomeados. Num vídeo partilhado por Du nas redes sociais, uma gata estava a parir quando ele chegou. Duas das crias morreram. “Face a este desastre, ajudar os animais é também uma obrigação dos seres humanos”, diz. O mercado de animais de estimação registou um ‘boom’, nos últimos anos, na China, tendo excedido, em 2019, os 200.000 milhões de yuan, segundo estimativas do sector citadas pela imprensa estatal. A mesma fonte apurou que há mais de 100 milhões de cães e gatos a serem criados em todo o país. Apesar de a Organização Mundial da Saúde ter descartado que cães e gatos possam ser intermediários no contágio do vírus, o temor levou ao abandono de animais domésticos por todo o país. Em várias cidades no norte da China donos foram proibidos de passear animais em público. Na cidade de Wuxi, província de Jiangsu, costa leste do país, uma equipa local do Comité de Prevenção da Epidemia enterrou um gato vivo, depois de o dono ter sido diagnosticado com o vírus, segundo a imprensa chinesa. Mas há quem considere a companhia de animais de estimação imprescindível numa altura em que milhões de pessoas em todo o país permanecem há semanas em casa, com entradas e saídas dos bairros controladas e, em alguns sítios, limitadas a uma em cada dois dias. “Estou há três semanas sozinha em casa”, conta Alice Xia, chinesa residente em Pequim, “sem a companhia da minha gata já teria enlouquecido”.
Hoje Macau ReportagemEpidemia | Surto é acompanhado ao minuto no centro de emergência da UE [dropcap]N[/dropcap]o Centro de Resposta de Emergência da União Europeia (UE), em Bruxelas, os cerca de 50 técnicos da protecção civil comunitária não escondem estar “particularmente preocupados” com o coronavírus chinês e acompanham, ao minuto, a evolução do surto. Mais habituados a desastres e catástrofes naturais, como inundações ou incêndios, os especialistas do Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da UE, localizado no bairro europeu de Bruxelas, estão por estes dias a lutar contra o desconhecido: um vírus respiratório sem origem definida que já chegou a países da UE como França, Alemanha e Finlândia e matou centenas de pessoas em todo o mundo (ainda nenhum europeu). Numa sala com mais jornalistas curiosos do que técnicos – já que alguns já foram destacados para Paris, outro grande centro da operação da UE para o coronavírus, ou estão a trabalhar noutros horários –, salta à vista o ar de preocupação das autoridades europeias. Ali, a informação é acompanhada em tempo real por quatro ecrãs gigantes que mostram, de forma gráfica, a evolução do surto, bem como por televisões sintonizadas nos canais noticiosos. “Aqui no Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da UE acompanhamos crises humanitárias e situações de protecção civil em todo o mundo. Este é um centro que está operacional a todas as horas, 24 horas por dia toda a semana, e temos sempre aqui gente”, explica aos jornalistas o porta-voz da Comissão Europeia para a gestão de crises, Balazs Ujvari, numa visita àquele espaço. E admite: “De momento, estamos particularmente preocupados com a situação na China por causa do coronavírus”. São, ao todo, quase 50 os funcionários daquele departamento do executivo comunitário, encarregues por gerir a resposta dada a nível da UE às diferentes crises ou catástrofes, e também por agregar informação de proteção civil facultada pelos todos os Estados-membros. “Acompanhamos a situação de forma muito próxima, nomeadamente nesta sala”, assegura Balazs Ujvari. Por estes dias, o Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da UE promove reuniões diárias por videoconferência com representantes dos Estados-membros, de forma a estar atualizado sobre a evolução do surto em cada um deles e a par das medidas que cada país está a adotar. É também a este centro que cabe coordenar a ativação do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, instrumento que na terça-feira foi ativado a pedido de França e que levou a Comissão Europeia a apoiar – nomeadamente financeiramente, até 75% de co-financiamento – operações relacionadas com o coronavírus. “Neste caso particular, o mecanismo é usado para o repatriamento de cidadãos da UE da cidade de Wuhan”, adianta Balazs Ujvari aos jornalistas, ressalvando que em causa está uma “operação extremamente complicada e difícil de organizar operacionalmente”. Mas garante: “Estamos avançados nas preparações”. Ontem saiu um avião da cidade portuguesa de Beja que foi fretado pelo Governo francês para realizar uma destas acções de repatriamento de, pelo menos, 133 cidadãos de 16 Estados-membros da UE, incluindo 17 portugueses, disse à agência Lusa fonte comunitária. A mesma fonte explicou que o avião está agora em Paris, onde foi buscar equipa médica e, “na sexta-feira ou sábado”, partirá para a cidade chinesa de Wuhan. Não se sabe, para já, quando e em que aeroporto de França irá este avião aterrar quando regressar da China, visto que as autoridades francesas ainda estão a estudar as opções, mas certo é que os cidadãos repatriados têm de assinar uma declaração em que se comprometem a ficar de quarentena quando voltam à UE. Também é certo que só os cidadãos saudáveis e sem sintomas vão poder viajar, sendo dada prioridade para viajar aos grupos mais vulneráveis, como famílias com crianças e idosos. O mesmo procedimento será adoptado para o primeiro avião que saiu na madrugada de ontem, pelas 04:45, de Paris, com destino para Wuhan. Trata-se de um avião militar francês que vai repatriar 250 cidadãos franceses em Wuhan. Ao todo, cerca de 600 cidadãos da UE já pediram para deixar a China devido ao coronavírus. Fontes europeias adiantaram à Lusa que as autoridades chinesas estão a colocar alguns entraves à movimentação de pessoas e à aterragem destes aviões. Por essa razão, a diplomacia comunitária escreveu à homóloga chinesa pedindo que olhe para esta questão “do ponto de vista humanitário e não migratório”, adiantaram as fontes europeias à Lusa. O epicentro da epidemia do novo coronavírus está localizado na cidade de Wuhan, na República Popular da China, país onde já há 170 mortos sendo que mais de 7.700 pessoas se encontram infetadas. Além da China e dos territórios chineses de Macau e Hong Kong, há pelos menos 50 casos confirmados do novo coronavírus em 18 outros países – na Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Austrália, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas e Índia.
admin ReportagemEpidemia | Surto é acompanhado ao minuto no centro de emergência da UE [dropcap]N[/dropcap]o Centro de Resposta de Emergência da União Europeia (UE), em Bruxelas, os cerca de 50 técnicos da protecção civil comunitária não escondem estar “particularmente preocupados” com o coronavírus chinês e acompanham, ao minuto, a evolução do surto. Mais habituados a desastres e catástrofes naturais, como inundações ou incêndios, os especialistas do Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da UE, localizado no bairro europeu de Bruxelas, estão por estes dias a lutar contra o desconhecido: um vírus respiratório sem origem definida que já chegou a países da UE como França, Alemanha e Finlândia e matou centenas de pessoas em todo o mundo (ainda nenhum europeu). Numa sala com mais jornalistas curiosos do que técnicos – já que alguns já foram destacados para Paris, outro grande centro da operação da UE para o coronavírus, ou estão a trabalhar noutros horários –, salta à vista o ar de preocupação das autoridades europeias. Ali, a informação é acompanhada em tempo real por quatro ecrãs gigantes que mostram, de forma gráfica, a evolução do surto, bem como por televisões sintonizadas nos canais noticiosos. “Aqui no Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da UE acompanhamos crises humanitárias e situações de protecção civil em todo o mundo. Este é um centro que está operacional a todas as horas, 24 horas por dia toda a semana, e temos sempre aqui gente”, explica aos jornalistas o porta-voz da Comissão Europeia para a gestão de crises, Balazs Ujvari, numa visita àquele espaço. E admite: “De momento, estamos particularmente preocupados com a situação na China por causa do coronavírus”. São, ao todo, quase 50 os funcionários daquele departamento do executivo comunitário, encarregues por gerir a resposta dada a nível da UE às diferentes crises ou catástrofes, e também por agregar informação de proteção civil facultada pelos todos os Estados-membros. “Acompanhamos a situação de forma muito próxima, nomeadamente nesta sala”, assegura Balazs Ujvari. Por estes dias, o Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da UE promove reuniões diárias por videoconferência com representantes dos Estados-membros, de forma a estar atualizado sobre a evolução do surto em cada um deles e a par das medidas que cada país está a adotar. É também a este centro que cabe coordenar a ativação do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, instrumento que na terça-feira foi ativado a pedido de França e que levou a Comissão Europeia a apoiar – nomeadamente financeiramente, até 75% de co-financiamento – operações relacionadas com o coronavírus. “Neste caso particular, o mecanismo é usado para o repatriamento de cidadãos da UE da cidade de Wuhan”, adianta Balazs Ujvari aos jornalistas, ressalvando que em causa está uma “operação extremamente complicada e difícil de organizar operacionalmente”. Mas garante: “Estamos avançados nas preparações”. Ontem saiu um avião da cidade portuguesa de Beja que foi fretado pelo Governo francês para realizar uma destas acções de repatriamento de, pelo menos, 133 cidadãos de 16 Estados-membros da UE, incluindo 17 portugueses, disse à agência Lusa fonte comunitária. A mesma fonte explicou que o avião está agora em Paris, onde foi buscar equipa médica e, “na sexta-feira ou sábado”, partirá para a cidade chinesa de Wuhan. Não se sabe, para já, quando e em que aeroporto de França irá este avião aterrar quando regressar da China, visto que as autoridades francesas ainda estão a estudar as opções, mas certo é que os cidadãos repatriados têm de assinar uma declaração em que se comprometem a ficar de quarentena quando voltam à UE. Também é certo que só os cidadãos saudáveis e sem sintomas vão poder viajar, sendo dada prioridade para viajar aos grupos mais vulneráveis, como famílias com crianças e idosos. O mesmo procedimento será adoptado para o primeiro avião que saiu na madrugada de ontem, pelas 04:45, de Paris, com destino para Wuhan. Trata-se de um avião militar francês que vai repatriar 250 cidadãos franceses em Wuhan. Ao todo, cerca de 600 cidadãos da UE já pediram para deixar a China devido ao coronavírus. Fontes europeias adiantaram à Lusa que as autoridades chinesas estão a colocar alguns entraves à movimentação de pessoas e à aterragem destes aviões. Por essa razão, a diplomacia comunitária escreveu à homóloga chinesa pedindo que olhe para esta questão “do ponto de vista humanitário e não migratório”, adiantaram as fontes europeias à Lusa. O epicentro da epidemia do novo coronavírus está localizado na cidade de Wuhan, na República Popular da China, país onde já há 170 mortos sendo que mais de 7.700 pessoas se encontram infetadas. Além da China e dos territórios chineses de Macau e Hong Kong, há pelos menos 50 casos confirmados do novo coronavírus em 18 outros países – na Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Austrália, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas e Índia.
Hoje Macau Manchete ReportagemWuhan | Da selva cambojana à hermética Coreia do Norte, efeitos sentem-se em toda a Ásia [dropcap]D[/dropcap]a selva cambojana à Coreia do Norte, o novo coronavírus que se alastrou pela China está a ter repercussões em toda a Ásia, com fronteiras a serem encerradas e as populações a armazenarem máscaras e desinfetantes. Em Kampot, uma vila com 30.000 habitantes no sul do Camboja, rodeada por selva e parques naturais, as máscaras cirúrgicas esgotaram hoje às primeiras horas da manhã nas duas únicas farmácias. “É assim há vários dias”, contou uma farmacêutica à agência Lusa. “As máscaras cirúrgicas esgotam diariamente logo após a reposição do stock, à medida que locais e turistas chineses acorrem a comprar às dezenas de cada vez”, explicou. As autoridades de saúde aconselham o uso de máscaras e a lavar as mãos com líquido desinfetante como forma de prevenção do contágio. Na cidade de Ho Chi Minh, a mais populosa metrópole vietnamita, vários estabelecimentos hoteleiros passaram a rejeitar turistas oriundos da China, temendo contaminação. “Cancelei todas as reservas de turistas vindos da China”, admitiu à agência Lusa Tran My Anh, dona de uma hospedaria situada no centro de Ho Chi Minh. “Em Saigão [o antigo nome da cidade], muitos estabelecimentos hoteleiros fizeram o mesmo”, contou. O novo coronavírus originário no centro da China matou já mais de cem pessoas e infectou outras 4.515, numa altura em que milhões de chineses visitam os países vizinhos, por ocasião das férias do Ano Novo Lunar. A Coreia do Norte, onde os chineses representam a esmagadora maioria dos turistas, foi ainda mais radical do que os hoteleiros vietnamitas e encerrou temporariamente as fronteiras a todos os turistas estrangeiros. A partir desta quarta-feira, Pyongyang “fechará temporariamente as fronteiras a todos os turistas estrangeiros como medida de prevenção contra o coronavírus”, revelou num comunicado a agência de viagens Young Pioneer Tours. O vírus foi inicialmente detetado no mês passado num mercado de mariscos nos subúrbios de Wuhan, a capital da província de Hubei, que é também um importante centro de transporte doméstico e internacional, mas alastrou-se, entretanto, a várias províncias chinesas e aos países vizinhos. Em Cantão, a capital de Guangdong, que é a segunda província chinesa mais afetada pelo coronavírus, o uso de máscaras passou a ser obrigatório, mas o “fornecimento destas foi, entretanto, desviado para Hubei e não há mais máscaras nas farmácias”, contou à Lusa o local Zhang Wei. “Quem tem máscaras está a vendê-las por quatro vezes o preço original”, explicou. “Só nos resta ficar em casa”. A fabricante japonesa de utensílios domésticos Iris Ohyama disse na segunda-feira que as suas vendas de máscaras triplicaram na semana passada face à semana anterior. A empresa pediu aos trabalhadores das suas fábricas na China que voltem mais cedo das férias do Ano Novo Lunar. Em Taiwan, as autoridades garantiram que há máscaras suficientes e que a capacidade de produção diária actual de 1,88 milhão de unidades pode ser aumentada para 2,44 milhões para atender ao aumento na procura. Taipé proibiu durante um mês a exportação de dois tipos de máscaras cirúrgicas para garantir o fornecimento doméstico e baniu visitas de turistas em grupos oriundos do continente chinês. Também Hong Kong anunciou hoje o encerramento das ligações ferroviárias ao continente chinês e suspendeu as permissões para turistas chineses visitarem o território. Mas há também quem veja as coisas pelo lado positivo, depois de o Governo chinês ter prolongado as férias e recomendado às empresas que deixem os funcionários trabalhar a partir de casa. “Tenho a despensa cheia, estou bem em casa, e é da maneira que não tenho que ir para o escritório todos os dias”, comentou um estrangeiro radicado no norte da China.
admin Manchete ReportagemWuhan | Da selva cambojana à hermética Coreia do Norte, efeitos sentem-se em toda a Ásia [dropcap]D[/dropcap]a selva cambojana à Coreia do Norte, o novo coronavírus que se alastrou pela China está a ter repercussões em toda a Ásia, com fronteiras a serem encerradas e as populações a armazenarem máscaras e desinfetantes. Em Kampot, uma vila com 30.000 habitantes no sul do Camboja, rodeada por selva e parques naturais, as máscaras cirúrgicas esgotaram hoje às primeiras horas da manhã nas duas únicas farmácias. “É assim há vários dias”, contou uma farmacêutica à agência Lusa. “As máscaras cirúrgicas esgotam diariamente logo após a reposição do stock, à medida que locais e turistas chineses acorrem a comprar às dezenas de cada vez”, explicou. As autoridades de saúde aconselham o uso de máscaras e a lavar as mãos com líquido desinfetante como forma de prevenção do contágio. Na cidade de Ho Chi Minh, a mais populosa metrópole vietnamita, vários estabelecimentos hoteleiros passaram a rejeitar turistas oriundos da China, temendo contaminação. “Cancelei todas as reservas de turistas vindos da China”, admitiu à agência Lusa Tran My Anh, dona de uma hospedaria situada no centro de Ho Chi Minh. “Em Saigão [o antigo nome da cidade], muitos estabelecimentos hoteleiros fizeram o mesmo”, contou. O novo coronavírus originário no centro da China matou já mais de cem pessoas e infectou outras 4.515, numa altura em que milhões de chineses visitam os países vizinhos, por ocasião das férias do Ano Novo Lunar. A Coreia do Norte, onde os chineses representam a esmagadora maioria dos turistas, foi ainda mais radical do que os hoteleiros vietnamitas e encerrou temporariamente as fronteiras a todos os turistas estrangeiros. A partir desta quarta-feira, Pyongyang “fechará temporariamente as fronteiras a todos os turistas estrangeiros como medida de prevenção contra o coronavírus”, revelou num comunicado a agência de viagens Young Pioneer Tours. O vírus foi inicialmente detetado no mês passado num mercado de mariscos nos subúrbios de Wuhan, a capital da província de Hubei, que é também um importante centro de transporte doméstico e internacional, mas alastrou-se, entretanto, a várias províncias chinesas e aos países vizinhos. Em Cantão, a capital de Guangdong, que é a segunda província chinesa mais afetada pelo coronavírus, o uso de máscaras passou a ser obrigatório, mas o “fornecimento destas foi, entretanto, desviado para Hubei e não há mais máscaras nas farmácias”, contou à Lusa o local Zhang Wei. “Quem tem máscaras está a vendê-las por quatro vezes o preço original”, explicou. “Só nos resta ficar em casa”. A fabricante japonesa de utensílios domésticos Iris Ohyama disse na segunda-feira que as suas vendas de máscaras triplicaram na semana passada face à semana anterior. A empresa pediu aos trabalhadores das suas fábricas na China que voltem mais cedo das férias do Ano Novo Lunar. Em Taiwan, as autoridades garantiram que há máscaras suficientes e que a capacidade de produção diária actual de 1,88 milhão de unidades pode ser aumentada para 2,44 milhões para atender ao aumento na procura. Taipé proibiu durante um mês a exportação de dois tipos de máscaras cirúrgicas para garantir o fornecimento doméstico e baniu visitas de turistas em grupos oriundos do continente chinês. Também Hong Kong anunciou hoje o encerramento das ligações ferroviárias ao continente chinês e suspendeu as permissões para turistas chineses visitarem o território. Mas há também quem veja as coisas pelo lado positivo, depois de o Governo chinês ter prolongado as férias e recomendado às empresas que deixem os funcionários trabalhar a partir de casa. “Tenho a despensa cheia, estou bem em casa, e é da maneira que não tenho que ir para o escritório todos os dias”, comentou um estrangeiro radicado no norte da China.
Andreia Sofia Silva ReportagemAno Novo Chinês | Distância diminui festejos da comunidade em Portugal Em Portugal o Ano Novo Chinês celebra-se com festas públicas, organizadas por associações e pela própria Embaixada da China em Lisboa. No norte do país, onde há uma comunidade chinesa mais pequena, as celebrações têm uma menor dimensão. Contudo, o facto de viverem há décadas longe da China faz com que, para muitas famílias chinesas, esta época seja apenas sinónimo de uns dias de férias, sem uma celebração especial [dropcap]P[/dropcap]or estes dias, restam na zona da Alameda e da avenida Almirante Reis, em Lisboa, réplicas das tradicionais lanternas vermelhas chinesas que indicam que por ali houve festa. Apesar de o Ano Novo Chinês se celebrar a partir de hoje, as celebrações oficiais na capital portuguesa aconteceram no fim-de-semana de 18 e 19 de Janeiro, com a realização de uma marcha e uma feira com produtos chineses. A festa, aberta a toda a população e que juntou centenas de curiosos de todas as nacionalidades, marca o início do Ano do Rato, mas, para a comunidade chinesa a residir em Portugal, muitos deles há várias décadas, esta é uma época que simboliza apenas uns dias extra de férias e nada mais do que isso. É o caso da família de Annie Yang, dona de uma loja de venda de calçado na avenida Almirante Reis. Os familiares emigraram há tanto tempo para Portugal que Annie já nasceu no país. A estudar hotelaria na Suíça, a jovem assume que celebra mais o Natal e o Ano Novo com os amigos do que o Ano Novo Chinês. “Como estamos cá e como já somos portugueses acabamos por não celebrar o Ano Novo Chinês, mas celebramos o Natal e o Ano Novo. A minha família não faz nada de especial no Ano Novo Chinês, mas outras famílias fazem. Acho que se tivéssemos na China iríamos celebrar, mas como estamos cá não damos tanta importância”, conta ao HM. Num ambiente completamente diferente vive Li Yonggang, que também celebra o Novo Ano Lunar de forma bastante modesta. Natural de uma cidade perto de Dalian, “quase perto da Coreia do Norte”, como nos diz, Li vive na cidade de Montemor-o-Novo, em pleno Alentejo e a cerca de uma hora de Lisboa. Dedicado ao negócio do cultivo de couves chinesas na pequena cidade do interior do país, Li assegura que, nesta zona as poucas celebrações acontecem entre famílias. “Em Lisboa há uma festa, mas aqui só juntamos a família para jantar, e mais nada. Somos mais portugueses do que chineses porque saímos da China há muitos anos.” À hora de jantar comem-se alguns pratos habituais e junta-se o vinho português. “O nosso jantar inclui peixe, para termos mais felicidade, e os pés de porco, que temos de comer para ganhar mais dinheirinho (risos). Na China rebentam os panchões, mas aqui não podemos fazer porque as pessoas têm medo. Bebemos também um pouco de vinho tinto. Bebemos vinho português, claro! Já é um hábito de cá”, contou Li. O empresário vive em Montemor-o-Novo há cerca de 14 anos. Na cidade funcionam cinco lojas com artigos chineses, incluindo um grande armazém. “Fazemos sempre uma pequena celebração, não é grande coisa porque estamos no Alentejo, não temos muita família aqui. Não conheço muitas pessoas porque vou poucas vezes a Lisboa a festas com elas, uma vez que vivo no sul do país.” Os filhos de Li dizem ser portugueses, para eles a China é um país distante onde só foram duas vezes na vida. Li diz que, cada vez que viaja para o seu país, assiste a uma enorme mudança. O empresário acredita que o Ano do Rato “vai ser bom”. “Ando sempre a dizer que é preciso sorte, é o que todos querem. Quando há guerras no mundo a China tem sempre sorte de não as ter. Em Portugal também temos sorte, os portugueses são bons e no Alentejo somos felizes porque as pessoas são simpáticas.” A sul Uma das pessoas mais envolvidas nos festejos do Ano Novo Chinês em Lisboa é a professora Wang Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa. Ao HM, esta descreve como a comunidade habitualmente celebra a entrada de um novo ano. “Na véspera e no próprio dia do Ano Novo Lunar, como não é feriado em Portugal, e também porque os estabelecimentos comerciais chineses se mantêm sempre abertos (mesmo na China), a comunidade chinesa em Portugal faz outras celebrações, sobretudo à noite ou num outro fim de semana.” “Algumas associações organizam outras festas mais privadas, entre os seus sócios e familiares. Muitas famílias amigas juntam-se para o Jantar do Ano, depois de fechar a loja ou o restaurante. Também muitos chineses vão à China para passar lá o Ano Novo Lunar”, acrescenta a professora de mandarim, com um extenso currículo em Portugal. No que diz respeito às refeições familiares, estas variam. “Todas as pessoas fazem comida caseira, dependendo das zonas, mas o peixe é indispensável, pois simboliza a prosperidade”, disse. Questionada sobre as diferenças entre gerações no que à celebração diz respeito, Wang Suoying conta que a tradição é passada de avós para netos. “A nova geração da comunidade chinesa cresce em Portugal e aprende a cultura chinesa com os seus pais e avós. Nas celebrações públicas em Lisboa, podemos constatar centenas de crianças chinesas a desfilar e a actuar no palco. A tradição é transmitida de geração em geração e tanto as velhas gerações, como as novas gerações, festejam o Ano Novo Lunar da mesma maneira. Mas também existem alguns casos excepcionais.” Muitos aproveitam esta época do ano para viajar, revela a professora. “Em Portugal, como o festival coincide com a pausa escolar em alguns estabelecimentos de ensino superior, alguns universitários chineses de intercâmbio também aproveitam esses dias para visitar outros países europeus. A norte Na zona do norte do país as celebrações têm uma menor dimensão e são mais “direccionadas”. Quem é o diz é Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e representante da comunidade na cidade do Porto, onde abriu o primeiro restaurante chinês há vários anos. Há duas semanas que Y Ping Chow se dedica a organizar a festa de Ano Novo Chinês no Casino da Póvoa, um dos espaços de jogo do grupo Estoril-Sol, de Stanley Ho. “Há uma diferença, porque em Lisboa, como a comunidade é maior e há mais associações, há festas maiores, com mais orçamento e mais pessoas. Aqui no norte, como há menos pessoas e menos associações, fazemos uma festa mais direccionada.” Y Ping Chow, que em criança veio para Portugal, assegura que grande parte das famílias não celebra o Ano Novo Chinês da mesma forma porque “não há ambiente”. “Os chineses que estão economicamente mais folgados fecham as lojas uns dias e vão dar uma volta pela Europa, de férias. Outros participam nas festas da comunidade, podem fechar o negócio um dia ou dois e juntar a família para fazer uma festa, e pouco mais.” Entre velhos e novos foi-se perdendo o hábito com o passar dos anos. “Os mais antigos já perderam o hábito e costumes do Ano Novo Chinês, porque não há ambiente. Os mais novos sabem que é dia de festa, mas não têm o costume de celebrar. É considerado um dia de folga ou de férias e de juntar a família.”
admin ReportagemAno Novo Chinês | Distância diminui festejos da comunidade em Portugal Em Portugal o Ano Novo Chinês celebra-se com festas públicas, organizadas por associações e pela própria Embaixada da China em Lisboa. No norte do país, onde há uma comunidade chinesa mais pequena, as celebrações têm uma menor dimensão. Contudo, o facto de viverem há décadas longe da China faz com que, para muitas famílias chinesas, esta época seja apenas sinónimo de uns dias de férias, sem uma celebração especial [dropcap]P[/dropcap]or estes dias, restam na zona da Alameda e da avenida Almirante Reis, em Lisboa, réplicas das tradicionais lanternas vermelhas chinesas que indicam que por ali houve festa. Apesar de o Ano Novo Chinês se celebrar a partir de hoje, as celebrações oficiais na capital portuguesa aconteceram no fim-de-semana de 18 e 19 de Janeiro, com a realização de uma marcha e uma feira com produtos chineses. A festa, aberta a toda a população e que juntou centenas de curiosos de todas as nacionalidades, marca o início do Ano do Rato, mas, para a comunidade chinesa a residir em Portugal, muitos deles há várias décadas, esta é uma época que simboliza apenas uns dias extra de férias e nada mais do que isso. É o caso da família de Annie Yang, dona de uma loja de venda de calçado na avenida Almirante Reis. Os familiares emigraram há tanto tempo para Portugal que Annie já nasceu no país. A estudar hotelaria na Suíça, a jovem assume que celebra mais o Natal e o Ano Novo com os amigos do que o Ano Novo Chinês. “Como estamos cá e como já somos portugueses acabamos por não celebrar o Ano Novo Chinês, mas celebramos o Natal e o Ano Novo. A minha família não faz nada de especial no Ano Novo Chinês, mas outras famílias fazem. Acho que se tivéssemos na China iríamos celebrar, mas como estamos cá não damos tanta importância”, conta ao HM. Num ambiente completamente diferente vive Li Yonggang, que também celebra o Novo Ano Lunar de forma bastante modesta. Natural de uma cidade perto de Dalian, “quase perto da Coreia do Norte”, como nos diz, Li vive na cidade de Montemor-o-Novo, em pleno Alentejo e a cerca de uma hora de Lisboa. Dedicado ao negócio do cultivo de couves chinesas na pequena cidade do interior do país, Li assegura que, nesta zona as poucas celebrações acontecem entre famílias. “Em Lisboa há uma festa, mas aqui só juntamos a família para jantar, e mais nada. Somos mais portugueses do que chineses porque saímos da China há muitos anos.” À hora de jantar comem-se alguns pratos habituais e junta-se o vinho português. “O nosso jantar inclui peixe, para termos mais felicidade, e os pés de porco, que temos de comer para ganhar mais dinheirinho (risos). Na China rebentam os panchões, mas aqui não podemos fazer porque as pessoas têm medo. Bebemos também um pouco de vinho tinto. Bebemos vinho português, claro! Já é um hábito de cá”, contou Li. O empresário vive em Montemor-o-Novo há cerca de 14 anos. Na cidade funcionam cinco lojas com artigos chineses, incluindo um grande armazém. “Fazemos sempre uma pequena celebração, não é grande coisa porque estamos no Alentejo, não temos muita família aqui. Não conheço muitas pessoas porque vou poucas vezes a Lisboa a festas com elas, uma vez que vivo no sul do país.” Os filhos de Li dizem ser portugueses, para eles a China é um país distante onde só foram duas vezes na vida. Li diz que, cada vez que viaja para o seu país, assiste a uma enorme mudança. O empresário acredita que o Ano do Rato “vai ser bom”. “Ando sempre a dizer que é preciso sorte, é o que todos querem. Quando há guerras no mundo a China tem sempre sorte de não as ter. Em Portugal também temos sorte, os portugueses são bons e no Alentejo somos felizes porque as pessoas são simpáticas.” A sul Uma das pessoas mais envolvidas nos festejos do Ano Novo Chinês em Lisboa é a professora Wang Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa. Ao HM, esta descreve como a comunidade habitualmente celebra a entrada de um novo ano. “Na véspera e no próprio dia do Ano Novo Lunar, como não é feriado em Portugal, e também porque os estabelecimentos comerciais chineses se mantêm sempre abertos (mesmo na China), a comunidade chinesa em Portugal faz outras celebrações, sobretudo à noite ou num outro fim de semana.” “Algumas associações organizam outras festas mais privadas, entre os seus sócios e familiares. Muitas famílias amigas juntam-se para o Jantar do Ano, depois de fechar a loja ou o restaurante. Também muitos chineses vão à China para passar lá o Ano Novo Lunar”, acrescenta a professora de mandarim, com um extenso currículo em Portugal. No que diz respeito às refeições familiares, estas variam. “Todas as pessoas fazem comida caseira, dependendo das zonas, mas o peixe é indispensável, pois simboliza a prosperidade”, disse. Questionada sobre as diferenças entre gerações no que à celebração diz respeito, Wang Suoying conta que a tradição é passada de avós para netos. “A nova geração da comunidade chinesa cresce em Portugal e aprende a cultura chinesa com os seus pais e avós. Nas celebrações públicas em Lisboa, podemos constatar centenas de crianças chinesas a desfilar e a actuar no palco. A tradição é transmitida de geração em geração e tanto as velhas gerações, como as novas gerações, festejam o Ano Novo Lunar da mesma maneira. Mas também existem alguns casos excepcionais.” Muitos aproveitam esta época do ano para viajar, revela a professora. “Em Portugal, como o festival coincide com a pausa escolar em alguns estabelecimentos de ensino superior, alguns universitários chineses de intercâmbio também aproveitam esses dias para visitar outros países europeus. A norte Na zona do norte do país as celebrações têm uma menor dimensão e são mais “direccionadas”. Quem é o diz é Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e representante da comunidade na cidade do Porto, onde abriu o primeiro restaurante chinês há vários anos. Há duas semanas que Y Ping Chow se dedica a organizar a festa de Ano Novo Chinês no Casino da Póvoa, um dos espaços de jogo do grupo Estoril-Sol, de Stanley Ho. “Há uma diferença, porque em Lisboa, como a comunidade é maior e há mais associações, há festas maiores, com mais orçamento e mais pessoas. Aqui no norte, como há menos pessoas e menos associações, fazemos uma festa mais direccionada.” Y Ping Chow, que em criança veio para Portugal, assegura que grande parte das famílias não celebra o Ano Novo Chinês da mesma forma porque “não há ambiente”. “Os chineses que estão economicamente mais folgados fecham as lojas uns dias e vão dar uma volta pela Europa, de férias. Outros participam nas festas da comunidade, podem fechar o negócio um dia ou dois e juntar a família para fazer uma festa, e pouco mais.” Entre velhos e novos foi-se perdendo o hábito com o passar dos anos. “Os mais antigos já perderam o hábito e costumes do Ano Novo Chinês, porque não há ambiente. Os mais novos sabem que é dia de festa, mas não têm o costume de celebrar. É considerado um dia de folga ou de férias e de juntar a família.”
Hoje Macau ReportagemChina | Ensino do português dispara no continente e arrisca saturar mercado Com o investimento entre a China e os países da lusofonia a crescer a um ritmo acelerado, também o estudo do português tem sido uma aposta cada vez mais forte do ensino chinês. Sem contar com Macau e Hong Kong, existem na China 25 universidades que ensinam a língua de Camões, a alunos que têm à espera um mercado de trabalho cada vez mais competitivo [dropcap]N[/dropcap]um dos edifícios da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), quase cem alunos e ex-alunos, oriundos de toda a China, aguardam por um exame de português, um projecto de vida que atrai cada vez mais chineses. “Espero conseguir com este certificado [CAPLE, Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira] ter mais oportunidades de emprego”, explica à agência Lusa Zelma, que viajou deste Tianjin, cidade portuária a 120 quilómetros de Pequim, ilustrando a crescente competitividade no mercado de trabalho para licenciados em português, língua que, até há pouco, significava emprego certo na China. A mais antiga licenciatura em língua portuguesa da República Popular da China foi criada em 1961, precisamente na Beiwai. Durante quase vinte anos, aquele curso foi o único do género no país e, até ao final da década de 1990, surgiu apenas mais um, em Xangai. No entanto, o ensino do português no continente chinês registou um crescimento acelerado nos últimos 20 anos, coincidindo com o retorno de Macau à soberania de Pequim, que confiou à região o papel de plataforma comercial com os países lusófonos. A evolução das trocas comerciais entre a China e a lusofonia, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos, geraram uma crescente necessidade em formar quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa Hoje, não contando com Macau e Hong Kong, há 25 universidades chinesas que ensinam português, abrangendo mais de 1.500 estudantes. No entanto, o rápido aumento da oferta está a dificultar a vida aos profissionais da área, habituados outrora a receberem propostas de trabalho mesmo antes de terminarem o curso. “Para quem tem apenas licenciatura, encontrar emprego na China tornou-se difícil”, diz Isabel, que entrou em 2008 para o curso de português da Universidade Normal de Harbin, no nordeste da China, e tirou depois uma pós-graduação na Universidade de Macau. “Optei por estudar português porque na altura havia escassez de profissionais com conhecimentos da língua”, recorda. “Mas, nos últimos anos, o mercado tornou-se mais competitivo”. Novas oportunidades Para os recém-licenciados que rumam a Pequim ou Xangai, as duas principais metrópoles do país, e que estão entre as cidades com mais alto custo de vida do mundo, o salário inicial varia entre 7.000 e 8.000 yuan. Um intérprete simultâneo chinês – português e vice-versa pode receber até 10.000 yuan por dia de trabalho, geralmente a acompanhar delegações de empresários ou visitas oficiais, mas trata-se de uma tarefa ocasional e executada apenas pelos profissionais mais experientes. Já quem está disposto a rumar a África “continua a ter muitas oportunidades”, conta Isabel. Em Angola ou Moçambique um intérprete e tradutor numa das centenas de empresas chinesas que ali operam na construção de infra-estruturas, sector energético ou mineração, recebe por ano entre 200.000 e 400.000 yuan, segundo estimativas da agência Lusa, com base em ofertas de emprego difundidas em portais chineses. A maior exigência no mercado de trabalho levou a Beiwai a elevar este ano o seu departamento de estudos de língua portuguesa ao estatuto de faculdade, visando complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, diz à agência Lusa a directora, Patrícia Jin. “É um passo natural, que nos permite ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explica. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, detalha. Entre os licenciados há também quem opte por reforçar o seu curriculum com um mestrado em Portugal ou no Brasil. Zelma, por exemplo, vai em breve começar um mestrado na Universidade de Lisboa, permitindo-lhe também conhecer melhor um país cuja História aprendeu ainda no ensino secundário. “Fui sempre aluna da área das Humanidades e sempre gostei muito de História, conheço bem o período dos Descobrimentos”, conta. Aposta inaugural A primeira faculdade dedicada ao português na China continental, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), vai complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, revelou à agência Lusa a diretora antes do final do anterior ano lectivo. “É um passo natural, que nos permitirá ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explicou a directora do departamento de português da recém-formada Faculdade de Estudos Hispânicos e Portugueses, de Beiwai. A nova instituição vai ter como génese a elevação do estatuto do mais antigo departamento de ensino do português na China continental, aberto em 1961, implicando um aumento do orçamento para contratação de corpo docente e organização de actividades e palestras. Até 1999, apenas a Beiwai e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai ofereciam licenciaturas em português. O estabelecimento de uma faculdade permitirá, no entanto, “construir um sistema de conhecimento mais aprofundado, mais sistemático”, sobre a lusofonia, detalhou à altura Patrícia Jin. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, explicou. “Os alunos terão uma parte obrigatória e central, ensinada em português, mas também acesso aos cursos de outras faculdades”, disse. A expansão A instituição abarcará quatro centros, incluindo o Centro Beiwai – Universidade de Lisboa -Instituto Camões; uma fundação e uma editora de manuais de ensino da língua. O aumento do orçamento permitirá ainda alargar o corpo docente, actualmente composto por oito professores chineses, uma leitora portuguesa e um leitor brasileiro, e organizar palestras. “Só neste semestre realizamos seis palestras académicas, com a participação de professores chineses, portugueses e brasileiros, de diferentes disciplinas”, sintetizou Jin. A aposta da ‘beiwai’ reflecte a crescente necessidade da China em formar melhores quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa, face à evolução das trocas comerciais, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos. O destaque vai sobretudo para Angola e Brasil, cujas trocas com a China compõem a maioria deste comércio. Porém, a chegada ao mercado de trabalho de um número cada vez maior de quadros qualificados especializados em português está a aumentar a pressão na busca por um emprego, que antes era uma garantia. Porto | Alunos de Macau com acesso facilitado a áreas científicas Os estudantes de Macau que queiram prosseguir os estudos em Portugal vão ter acesso facilitado às áreas científicas da Universidade do Porto (UP), nomeadamente um contingente especial de vagas. A medida está prevista num protocolo que a Universidade do Porto, o Instituto Português do Oriente (IPOR) e a Direcção dos Serviços do Ensino Superior de Macau (DSES) vão assinar amanhã, em Macau, de acordo com um comunicado enviado à Lusa. O acordo de cooperação entre estas três entidades prevê “a criação de um contingente especial de vagas para oferta formativa nas várias unidades orgânicas da UP, “valorizando (…) o exame unificado em vigor”, referiu a nota. Os cursos em questão vão desde medicina veterinária a “vários ramos da engenharia”, passando pelas ciências do meio aquático, medicina dentária e ciências da linguagem, antecipou o IPOR. Os estudantes de Macau podem, desde 2018, candidatar-se a várias instituições de ensino superior do Interior da China e de Portugal com os resultados de um exame unificado de acesso. Em Portugal, são 15 as instituições parceiras deste programa, incluindo, além da UP, a Universidade de Coimbra, a Universidade de Lisboa e a Universidade Católica Portuguesa. Este protocolo prevê ainda a criação de uma oferta formativa “altamente especializada em língua portuguesa”, de forma a assegurar a formação de estudantes de Macau com competências nesta língua, indicou. O acordo pretende também incentivar acções de mobilidade e de intercâmbio científico com vista à formação de profissionais qualificados.
admin ReportagemChina | Ensino do português dispara no continente e arrisca saturar mercado Com o investimento entre a China e os países da lusofonia a crescer a um ritmo acelerado, também o estudo do português tem sido uma aposta cada vez mais forte do ensino chinês. Sem contar com Macau e Hong Kong, existem na China 25 universidades que ensinam a língua de Camões, a alunos que têm à espera um mercado de trabalho cada vez mais competitivo [dropcap]N[/dropcap]um dos edifícios da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), quase cem alunos e ex-alunos, oriundos de toda a China, aguardam por um exame de português, um projecto de vida que atrai cada vez mais chineses. “Espero conseguir com este certificado [CAPLE, Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira] ter mais oportunidades de emprego”, explica à agência Lusa Zelma, que viajou deste Tianjin, cidade portuária a 120 quilómetros de Pequim, ilustrando a crescente competitividade no mercado de trabalho para licenciados em português, língua que, até há pouco, significava emprego certo na China. A mais antiga licenciatura em língua portuguesa da República Popular da China foi criada em 1961, precisamente na Beiwai. Durante quase vinte anos, aquele curso foi o único do género no país e, até ao final da década de 1990, surgiu apenas mais um, em Xangai. No entanto, o ensino do português no continente chinês registou um crescimento acelerado nos últimos 20 anos, coincidindo com o retorno de Macau à soberania de Pequim, que confiou à região o papel de plataforma comercial com os países lusófonos. A evolução das trocas comerciais entre a China e a lusofonia, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos, geraram uma crescente necessidade em formar quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa Hoje, não contando com Macau e Hong Kong, há 25 universidades chinesas que ensinam português, abrangendo mais de 1.500 estudantes. No entanto, o rápido aumento da oferta está a dificultar a vida aos profissionais da área, habituados outrora a receberem propostas de trabalho mesmo antes de terminarem o curso. “Para quem tem apenas licenciatura, encontrar emprego na China tornou-se difícil”, diz Isabel, que entrou em 2008 para o curso de português da Universidade Normal de Harbin, no nordeste da China, e tirou depois uma pós-graduação na Universidade de Macau. “Optei por estudar português porque na altura havia escassez de profissionais com conhecimentos da língua”, recorda. “Mas, nos últimos anos, o mercado tornou-se mais competitivo”. Novas oportunidades Para os recém-licenciados que rumam a Pequim ou Xangai, as duas principais metrópoles do país, e que estão entre as cidades com mais alto custo de vida do mundo, o salário inicial varia entre 7.000 e 8.000 yuan. Um intérprete simultâneo chinês – português e vice-versa pode receber até 10.000 yuan por dia de trabalho, geralmente a acompanhar delegações de empresários ou visitas oficiais, mas trata-se de uma tarefa ocasional e executada apenas pelos profissionais mais experientes. Já quem está disposto a rumar a África “continua a ter muitas oportunidades”, conta Isabel. Em Angola ou Moçambique um intérprete e tradutor numa das centenas de empresas chinesas que ali operam na construção de infra-estruturas, sector energético ou mineração, recebe por ano entre 200.000 e 400.000 yuan, segundo estimativas da agência Lusa, com base em ofertas de emprego difundidas em portais chineses. A maior exigência no mercado de trabalho levou a Beiwai a elevar este ano o seu departamento de estudos de língua portuguesa ao estatuto de faculdade, visando complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, diz à agência Lusa a directora, Patrícia Jin. “É um passo natural, que nos permite ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explica. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, detalha. Entre os licenciados há também quem opte por reforçar o seu curriculum com um mestrado em Portugal ou no Brasil. Zelma, por exemplo, vai em breve começar um mestrado na Universidade de Lisboa, permitindo-lhe também conhecer melhor um país cuja História aprendeu ainda no ensino secundário. “Fui sempre aluna da área das Humanidades e sempre gostei muito de História, conheço bem o período dos Descobrimentos”, conta. Aposta inaugural A primeira faculdade dedicada ao português na China continental, a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), vai complementar o ensino da língua com conhecimentos “mais aprofundados” sobre os países lusófonos e “aumentar o intercâmbio internacional”, revelou à agência Lusa a diretora antes do final do anterior ano lectivo. “É um passo natural, que nos permitirá ter mais recursos, mais possibilidades e mais alunos e professores”, explicou a directora do departamento de português da recém-formada Faculdade de Estudos Hispânicos e Portugueses, de Beiwai. A nova instituição vai ter como génese a elevação do estatuto do mais antigo departamento de ensino do português na China continental, aberto em 1961, implicando um aumento do orçamento para contratação de corpo docente e organização de actividades e palestras. Até 1999, apenas a Beiwai e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai ofereciam licenciaturas em português. O estabelecimento de uma faculdade permitirá, no entanto, “construir um sistema de conhecimento mais aprofundado, mais sistemático”, sobre a lusofonia, detalhou à altura Patrícia Jin. “Com esta evolução, abriremos mais cadeiras, em cinco área de estudo: linguística, tradução, literatura, ciência política, economia e comércio”, explicou. “Os alunos terão uma parte obrigatória e central, ensinada em português, mas também acesso aos cursos de outras faculdades”, disse. A expansão A instituição abarcará quatro centros, incluindo o Centro Beiwai – Universidade de Lisboa -Instituto Camões; uma fundação e uma editora de manuais de ensino da língua. O aumento do orçamento permitirá ainda alargar o corpo docente, actualmente composto por oito professores chineses, uma leitora portuguesa e um leitor brasileiro, e organizar palestras. “Só neste semestre realizamos seis palestras académicas, com a participação de professores chineses, portugueses e brasileiros, de diferentes disciplinas”, sintetizou Jin. A aposta da ‘beiwai’ reflecte a crescente necessidade da China em formar melhores quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa, face à evolução das trocas comerciais, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento, em termos homólogos. O destaque vai sobretudo para Angola e Brasil, cujas trocas com a China compõem a maioria deste comércio. Porém, a chegada ao mercado de trabalho de um número cada vez maior de quadros qualificados especializados em português está a aumentar a pressão na busca por um emprego, que antes era uma garantia. Porto | Alunos de Macau com acesso facilitado a áreas científicas Os estudantes de Macau que queiram prosseguir os estudos em Portugal vão ter acesso facilitado às áreas científicas da Universidade do Porto (UP), nomeadamente um contingente especial de vagas. A medida está prevista num protocolo que a Universidade do Porto, o Instituto Português do Oriente (IPOR) e a Direcção dos Serviços do Ensino Superior de Macau (DSES) vão assinar amanhã, em Macau, de acordo com um comunicado enviado à Lusa. O acordo de cooperação entre estas três entidades prevê “a criação de um contingente especial de vagas para oferta formativa nas várias unidades orgânicas da UP, “valorizando (…) o exame unificado em vigor”, referiu a nota. Os cursos em questão vão desde medicina veterinária a “vários ramos da engenharia”, passando pelas ciências do meio aquático, medicina dentária e ciências da linguagem, antecipou o IPOR. Os estudantes de Macau podem, desde 2018, candidatar-se a várias instituições de ensino superior do Interior da China e de Portugal com os resultados de um exame unificado de acesso. Em Portugal, são 15 as instituições parceiras deste programa, incluindo, além da UP, a Universidade de Coimbra, a Universidade de Lisboa e a Universidade Católica Portuguesa. Este protocolo prevê ainda a criação de uma oferta formativa “altamente especializada em língua portuguesa”, de forma a assegurar a formação de estudantes de Macau com competências nesta língua, indicou. O acordo pretende também incentivar acções de mobilidade e de intercâmbio científico com vista à formação de profissionais qualificados.
Hoje Macau ReportagemGigantes do comércio electrónico chineses batem recorde de vendas no “Dia dos Solteiros” Reportagem de João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]O[/dropcap]s gigantes chineses do comércio electrónico alcançaram ontem 54 mil milhões de euros em vendas, no maior festival de compras do mundo, ilustrando as profundas mudanças no retalho chinês, com crescente predominância dos influenciadores digitais. As plataformas dos grupos Alibaba e JD.com conseguiram contrariar a desaceleração no retalho chinês, estabelecendo um novo recorde de vendas no Dia dos Solteiros, numa altura em que o país enfrenta uma prolongada guerra comercial com os Estados Unidos. Celebrado a 11 de Novembro pelos quatro ‘um’ que combinam nesta data (11/11), que afigura assim a condição de solteiro, este dia começou a ser celebrado por estudantes universitários chineses, na década de 1990, como um Dia dos Namorados alternativo. O grupo Alibaba adoptou a data como ferramenta de marketing em 2008, ao que seguiram os competidores chineses JD.com ou o grupo retalhista de electrónicos Suning. No conjunto, 200.000 marcas e mais de um milhão de produtos, incluindo cerveja ou vinhos portugueses, aderiram à iniciativa este ano. Milhões de chineses ficaram acordados durante a madrugada de hoje, para participar no festival de compras. O Alibaba superou os dez mil milhões de yuan em vendas, no espaço de minuto e meio logo a seguir à meia-noite. “Além de sozinhos, vamos acabar falidos”, ironizou à Lusa, sobre a efeméride, a chinesa Cai Man, que aguardou até aos primeiros segundos de hoje para consumar as compras que planeara fazer nas últimas semanas. O comércio electrónico representa já 19,5% dos gastos dos consumidores chineses, de longe a maior percentagem do mundo. Nos primeiros nove meses do ano, as vendas ‘online’ aumentaram 16,8%, em termos homólogos, para 5,8 mil milhões de yuan, segundo dados oficiais. O crescente consumo ‘online’ fomentou ainda o surgimento de líderes de opinião, seguidos por dezenas de milhões de consumidores em plataformas de transmissão ao vivo, e cruciais para marcas chinesas e internacionais à procura de penetrar no mercado chinês. Só em 2018, cerca de cem mil milhões de yuan das vendas ‘online’ na China foram feitas através daquelas plataformas. Fechados em cabines dispostas no ‘campus’ do grupo Alibaba, em Hangzhou, no leste da China, líderes de opinião falaram hoje durante horas sobre produtos da sua preferência, para uma audiência composta por centenas de milhões de chineses. O fenómeno é chave para entender o novo consumidor chinês: sempre ligado à rede, afastado dos meios convencionais de publicidade e devoto às sugestões de líderes de opinião e celebridades, descrevem analistas. “Cerca de metade dos consumidores na China consideram o consumo uma experiência social e muitos consumidores pertencem a grupos e fóruns ‘online’ onde pessoas com interesses comuns partilham opiniões sobre produtos”, apontou à agência Lusa Michael Zakkour, vice-presidente da consultora Asia Market Strategy. “Os consumidores não querem apenas comprar o produto. Eles querem saber mais sobre o produto ou marca, a sua história e ter o máximo de informação possível”, explicou Huang Tao, CEO do Taobao Livestreaming, a plataforma de transmissão ao vivo do grupo Alibaba. A ausência de redes de retalho tradicionais em algumas partes do país e uma vasta rede logística e de transportes permitiram ao comércio electrónico expandir-se rapidamente na China, criando algumas das maiores fortunas do país. Jack Ma, fundador do grupo Alibaba, é o empresário mais rico da China, com um património líquido de 39 mil milhões de dólares, segundo a unidade de investigação Hurun, com sede em Xangai e considerada a Forbes chinesa. *** A Lusa viajou a convite do grupo Alibaba ***
Hoje Macau ReportagemGigantes do comércio electrónico chineses batem recorde de vendas no "Dia dos Solteiros” Reportagem de João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]O[/dropcap]s gigantes chineses do comércio electrónico alcançaram ontem 54 mil milhões de euros em vendas, no maior festival de compras do mundo, ilustrando as profundas mudanças no retalho chinês, com crescente predominância dos influenciadores digitais. As plataformas dos grupos Alibaba e JD.com conseguiram contrariar a desaceleração no retalho chinês, estabelecendo um novo recorde de vendas no Dia dos Solteiros, numa altura em que o país enfrenta uma prolongada guerra comercial com os Estados Unidos. Celebrado a 11 de Novembro pelos quatro ‘um’ que combinam nesta data (11/11), que afigura assim a condição de solteiro, este dia começou a ser celebrado por estudantes universitários chineses, na década de 1990, como um Dia dos Namorados alternativo. O grupo Alibaba adoptou a data como ferramenta de marketing em 2008, ao que seguiram os competidores chineses JD.com ou o grupo retalhista de electrónicos Suning. No conjunto, 200.000 marcas e mais de um milhão de produtos, incluindo cerveja ou vinhos portugueses, aderiram à iniciativa este ano. Milhões de chineses ficaram acordados durante a madrugada de hoje, para participar no festival de compras. O Alibaba superou os dez mil milhões de yuan em vendas, no espaço de minuto e meio logo a seguir à meia-noite. “Além de sozinhos, vamos acabar falidos”, ironizou à Lusa, sobre a efeméride, a chinesa Cai Man, que aguardou até aos primeiros segundos de hoje para consumar as compras que planeara fazer nas últimas semanas. O comércio electrónico representa já 19,5% dos gastos dos consumidores chineses, de longe a maior percentagem do mundo. Nos primeiros nove meses do ano, as vendas ‘online’ aumentaram 16,8%, em termos homólogos, para 5,8 mil milhões de yuan, segundo dados oficiais. O crescente consumo ‘online’ fomentou ainda o surgimento de líderes de opinião, seguidos por dezenas de milhões de consumidores em plataformas de transmissão ao vivo, e cruciais para marcas chinesas e internacionais à procura de penetrar no mercado chinês. Só em 2018, cerca de cem mil milhões de yuan das vendas ‘online’ na China foram feitas através daquelas plataformas. Fechados em cabines dispostas no ‘campus’ do grupo Alibaba, em Hangzhou, no leste da China, líderes de opinião falaram hoje durante horas sobre produtos da sua preferência, para uma audiência composta por centenas de milhões de chineses. O fenómeno é chave para entender o novo consumidor chinês: sempre ligado à rede, afastado dos meios convencionais de publicidade e devoto às sugestões de líderes de opinião e celebridades, descrevem analistas. “Cerca de metade dos consumidores na China consideram o consumo uma experiência social e muitos consumidores pertencem a grupos e fóruns ‘online’ onde pessoas com interesses comuns partilham opiniões sobre produtos”, apontou à agência Lusa Michael Zakkour, vice-presidente da consultora Asia Market Strategy. “Os consumidores não querem apenas comprar o produto. Eles querem saber mais sobre o produto ou marca, a sua história e ter o máximo de informação possível”, explicou Huang Tao, CEO do Taobao Livestreaming, a plataforma de transmissão ao vivo do grupo Alibaba. A ausência de redes de retalho tradicionais em algumas partes do país e uma vasta rede logística e de transportes permitiram ao comércio electrónico expandir-se rapidamente na China, criando algumas das maiores fortunas do país. Jack Ma, fundador do grupo Alibaba, é o empresário mais rico da China, com um património líquido de 39 mil milhões de dólares, segundo a unidade de investigação Hurun, com sede em Xangai e considerada a Forbes chinesa. *** A Lusa viajou a convite do grupo Alibaba ***
Andreia Sofia Silva ReportagemCo-living | Macau começa a ter espaços de alojamento em comunidade Existem em Macau dois edifícios habitacionais renovados onde reina o conceito de co-living. Cada pessoa aluga um quarto a preços mais baixos com partilha de áreas comuns, onde acaba por se desenvolver um espírito de comunidade. Dois arquitectos alertam, contudo, que esta é uma consequência e não uma solução para o problema das rendas elevadas e da má qualidade das casas [dropcap]V[/dropcap]iver em comunidade em Macau pode não ser uma novidade, mas é um conceito que está cada vez mais a assumir uma nova forma. Isto porque surgiram no território dois espaços de co-living, onde cada pessoa aluga o seu quarto a baixo custo, com despesas incluídas e partilha de espaços comuns, como a cozinha, casa-de-banho e sala. Os apartamentos estão completamente renovados e oferecem todas as condições, sendo bem diferentes das condições de alojamento de muitos trabalhadores não residentes, que se vêem muitas vezes obrigados a partilhar quartos com beliches em casas velhas. Em Macau existem dois edifícios habitacionais onde funciona o conceito de co-living, um na zona da avenida Horta e Costa, outro na zona do Porto Interior. Quem lá vive são, sobretudo, estrangeiros que procuram um alojamento temporário, como é o caso de José Fonseca, estagiário português numa empresa local, que vive no Macau Co-Living, onde tem contrato até Dezembro, data em que deixará o território. Viver num espaço de co-living surgiu por necessidade, mas acabou por tornar-se um hábito, conforme contou ao HM. “Quando cheguei fiquei em casa de uma amiga, na Taipa, que tinha de ser entregue no final do mês de Setembro. Procurei algumas soluções, mas em Macau o interior das casas é muito velho. O Macau Co-Living é um espaço completamente renovado e equipado com Internet, e apesar dos quartos serem um bocado pequenos, o espaço comum que oferece e o terraço foram uma vantagem, daí ter decidido ir.” Apesar de notar que os quartos são pequenos, o que nem sempre garante a privacidade de cada um, José Fonseca assegura que já se habituou ao bom ambiente da casa, que partilha com pessoas que não conhecia. “As pessoas que estão aqui convivem bem e não se intrometem no espaço de cada um. Vou a pé para o trabalho. Estou a gostar imenso da experiência, acho que é uma opção a aconselhar para quem esteja em Macau a viver, nem que seja por um ano ou dois, e é uma opção interessante para jovens entre os 20 e 30 anos”, acrescentou. José Fonseca está a gostar tanto de viver num espaço de co-living que, caso ficasse a trabalhar no território, colocaria a hipótese de estender o contrato. No entanto, assegura que muitos optarão por viver neste regime por não terem alternativa. “Não sei até que ponto as pessoas optam pelo co-living pela experiência em si. O que me fez escolher viver assim foi o espaço que é oferecido, e penso que a maior parte das pessoas escolhem o co-living por ter o espaço renovado, o que em Macau não é comum. Não há nada a apontar em termos de limpeza”, frisou. Quem também vive no Macau Co-Living, mas no andar destinado a moradoras do sexo feminino, é Phoebe, natural de Taiwan. “Trabalho em Macau há dois anos. O meu quarto é muito pequeno, mas todo o ambiente e equipamentos são melhores do que em outros alojamentos, isto se quiseres uma renda de cerca de quatro mil patacas com um quarto só para ti”, contou ao HM. No mercado imobiliário de Macau, ao nível do arrendamento, Phoebe assegura que se deparou com situações bastante insatisfatórias para aquilo que procurava. “É sempre necessário partilhar quarto com outras pessoas e as contas não estão incluídas na renda, então penso que o regime de co-living é a melhor opção. A coisa mais importante é estar num espaço onde todos se preocupam com a higiene, para que haja um ambiente habitável”, frisou. Lenta progressão O Macau Co-Living nasce da vontade de investidores de Hong Kong de renovarem um antigo edifício no Porto Interior e transformá-lo num espaço de alojamento à semelhança dos que já existem na região vizinha. Robert Cai, mentor do projecto, conta como tudo começou. “Quisemos preencher uma lacuna em termos de alojamento para pessoas que querem arrendar um espaço por apenas três meses ou um ano. Há pessoas em Macau que trabalham apenas durante a semana e regressam para as suas cidades natais aos fins-de-semana, então procuram apenas um espaço confortável e privado. Desta forma podem poupar metade do dinheiro que gastariam a arrendar um estúdio”, adiantou. Robert Cai não tem dúvidas de que, no que às formas de alojamento diz respeito, partilhar um apartamento “é cada vez mais rentável e é uma oportunidade para as pessoas se conhecerem”. Ainda assim, Robert Cai nota que “há poucos locais a quererem viver no nosso espaço”. “Temos sobretudo estrangeiros que estudam fora e vêm para Macau trabalhar”, acrescentou. No Macau Co-Living, Tatiana Rocha é uma espécie de faz-tudo, que garante que todos os equipamentos funcionam nas devidas condições e promove ainda eventos, que acontecem no terraço ou na sala, para que os moradores possam conviver. Tatiana não tem dúvidas de que a sociedade de Macau está muito lentamente a aderir ao conceito de co-living, apesar de ser um território onde a habitação é muito cara. “É um processo lento em Macau, que não é uma cidade como Hong Kong, ou Londres, por exemplo. Este é um território muito específico. Acho que para as novas gerações este conceito é algo comum, mas aqui é sempre um processo mais lento.” O Macau Co-Living tem actualmente entre 19 e 20 residentes. “A maior parte são estrangeiros, sendo a maior parte portugueses e pessoas de Hong Kong”, assegura Tatiana Rocha. “Notamos que há muitas pessoas de Hong Kong a trabalhar em Macau durante a semana, e procuram apenas o mínimo de condições. Temos também chineses e pessoal de Macau, alguns, pessoas de Taiwan, Vietname, Tailândia.” Quem vive naquele edifício “procura uma renda acessível e uma casa em condições. Os apartamentos são novos e a decoração é atractiva. Oferecemos uma coisa boa, que é o facto de só pedirmos o pagamento do primeiro mês e uma caução, ao contrário dos quatro meses que pedem nas agências, que é algo que custa muito a pagar no início”, frisou a responsável pela gestão dos apartamentos. Até agora tudo tem corrido bem. “O feedback tem sido positivo. Há pessoas que começam, mas depois preferem algo mais privado, porque se calhar não estavam preparadas. Diria que essas pessoas são as mais novas, acabaram de sair de casa dos pais, e não sabem muito bem como é viver com outras pessoas. Os mais velhos, com mais de 25 anos, não se importam tanto de viver em comunidade”, disse Tatiana Rocha. Na Horta e Costa O segundo espaço de co-living existente em Macau fica situado na avenida Horta e Costa, e tem sido promovido nas redes sociais. Nina Sousa é responsável pela gestão do espaço que foi desenvolvido por uma empresa do ramo imobiliário, e serviu de tradutora a Lam Mong Tat, proprietário. Este assegura que o projecto de co-living surgiu por saber que “nem todos ganham o suficiente para pagar uma renda em Macau”. “Sendo agente imobiliário, por sorte encontrei um prédio que podia ser renovado, tendo sido ajustados os preços para satisfazer e ajudar certos clientes”, referiu, apontando que são os estrangeiros que mais procuram este estilo de vida. “Temos chineses (do continente), nepaleses, indianos e até portugueses que não são residentes de Macau. Não acho que o co-living seja uma tendência, até porque vejo cada vez mais pessoas a mudarem-se para a China, por ser perto de Macau e por ter melhor qualidade de vida”, disse Lam Mong Tat. O próximo projecto é apostar num espaço de co-working para empresas, a fim de “ajudar mais pessoas que querem começar um negócio em Macau, mas que não precisam de espaços muito grandes, nem querem pagar rendas muito altas”. Fruto dos tempos Dominic Choi, arquitecto ligado à associação Arquitectos Sem Fronteiras, defendeu ao HM que o co-living nunca será uma solução para os problemas habitacionais de Macau, mas sim uma consequência dos valores elevados que se praticam no território. “Este tipo de alojamento é muito comum no seio de estudantes universitários, por exemplo, ou em Hong Kong, onde as pessoas partilham espaços em que dormem em gaiolas ou beliches. Este tipo de alojamento não é nada de novo, mas é o resultado das mudanças na sociedade, devido às elevadas rendas e ao facto de as pessoas que não conseguirem comprar casas. Diria que não é uma solução para esta questão social, mas sim uma consequência.” O arquitecto alerta para o facto de poderem surgir conflitos sociais. “Há sempre questões relacionadas com a partilha do espaço. Nos casos de co-working as pessoas partilham um espaço com a sua empresa, mas num conceito de co-living há bastantes diferenças. Há muitas coisas que podem originar potenciais problemas de segurança, higiene e isso pode originar vários conflitos. É sempre necessário criar espaços totalmente independentes que não se podem partilhar para que haja segurança suficiente. Há sempre desafios”, adiantou. Dominic Choi assegura também que, em Macau, o Governo tem um maior controlo sobre os terrenos do território, além de existirem regras mais apertadas para a construção de edifícios, face a Hong Kong. A solução para os altos preços passa mesmo pela construção de mais casas públicas. “Não podemos ter casas públicas em todo o lado, mas deve haver um devido planeamento em termos de infra-estruturas para que seja viável para as pessoas.” Também o arquitecto Mário Duque defende que o co-living não é uma solução por servir, sobretudo, uma fatia da população que reside temporariamente no território. “Essa forma de habitar é uma experiência pessoal altamente gratificante, mas tem a ver com questões geracionais e financeiras. Acho que a sociedade não vai aderir a essa modalidade de alojamento, que é significativa porque tem em vista uma população flutuante, que em Macau é igualmente significativa. A economia de Macau baseia-se nesse tipo de população e para essas pessoas é um modo vantajoso de aderir à habitação com qualidade.” Para Mário Duque, o co-living “acaba por servir sempre pessoas que não são da cidade”. “Em Macau isso tem a ver com outras nuances, relacionadas com os custos da habitação, que cai num lado disfuncional que é o facto de as pessoas precisarem de mais dinheiro do que aquele que é o rácio razoável para pagar despesas de habitação. Como isso não é possível, têm de arranjar situações alternativas. Há outra razão que é o parque habitacional em Macau ser muito degradado, e as casas que estão disponíveis para essa habitação partilhada não serem do agrado das pessoas”, rematou o arquitecto.
Andreia Sofia Silva ReportagemCo-living | Macau começa a ter espaços de alojamento em comunidade Existem em Macau dois edifícios habitacionais renovados onde reina o conceito de co-living. Cada pessoa aluga um quarto a preços mais baixos com partilha de áreas comuns, onde acaba por se desenvolver um espírito de comunidade. Dois arquitectos alertam, contudo, que esta é uma consequência e não uma solução para o problema das rendas elevadas e da má qualidade das casas [dropcap]V[/dropcap]iver em comunidade em Macau pode não ser uma novidade, mas é um conceito que está cada vez mais a assumir uma nova forma. Isto porque surgiram no território dois espaços de co-living, onde cada pessoa aluga o seu quarto a baixo custo, com despesas incluídas e partilha de espaços comuns, como a cozinha, casa-de-banho e sala. Os apartamentos estão completamente renovados e oferecem todas as condições, sendo bem diferentes das condições de alojamento de muitos trabalhadores não residentes, que se vêem muitas vezes obrigados a partilhar quartos com beliches em casas velhas. Em Macau existem dois edifícios habitacionais onde funciona o conceito de co-living, um na zona da avenida Horta e Costa, outro na zona do Porto Interior. Quem lá vive são, sobretudo, estrangeiros que procuram um alojamento temporário, como é o caso de José Fonseca, estagiário português numa empresa local, que vive no Macau Co-Living, onde tem contrato até Dezembro, data em que deixará o território. Viver num espaço de co-living surgiu por necessidade, mas acabou por tornar-se um hábito, conforme contou ao HM. “Quando cheguei fiquei em casa de uma amiga, na Taipa, que tinha de ser entregue no final do mês de Setembro. Procurei algumas soluções, mas em Macau o interior das casas é muito velho. O Macau Co-Living é um espaço completamente renovado e equipado com Internet, e apesar dos quartos serem um bocado pequenos, o espaço comum que oferece e o terraço foram uma vantagem, daí ter decidido ir.” Apesar de notar que os quartos são pequenos, o que nem sempre garante a privacidade de cada um, José Fonseca assegura que já se habituou ao bom ambiente da casa, que partilha com pessoas que não conhecia. “As pessoas que estão aqui convivem bem e não se intrometem no espaço de cada um. Vou a pé para o trabalho. Estou a gostar imenso da experiência, acho que é uma opção a aconselhar para quem esteja em Macau a viver, nem que seja por um ano ou dois, e é uma opção interessante para jovens entre os 20 e 30 anos”, acrescentou. José Fonseca está a gostar tanto de viver num espaço de co-living que, caso ficasse a trabalhar no território, colocaria a hipótese de estender o contrato. No entanto, assegura que muitos optarão por viver neste regime por não terem alternativa. “Não sei até que ponto as pessoas optam pelo co-living pela experiência em si. O que me fez escolher viver assim foi o espaço que é oferecido, e penso que a maior parte das pessoas escolhem o co-living por ter o espaço renovado, o que em Macau não é comum. Não há nada a apontar em termos de limpeza”, frisou. Quem também vive no Macau Co-Living, mas no andar destinado a moradoras do sexo feminino, é Phoebe, natural de Taiwan. “Trabalho em Macau há dois anos. O meu quarto é muito pequeno, mas todo o ambiente e equipamentos são melhores do que em outros alojamentos, isto se quiseres uma renda de cerca de quatro mil patacas com um quarto só para ti”, contou ao HM. No mercado imobiliário de Macau, ao nível do arrendamento, Phoebe assegura que se deparou com situações bastante insatisfatórias para aquilo que procurava. “É sempre necessário partilhar quarto com outras pessoas e as contas não estão incluídas na renda, então penso que o regime de co-living é a melhor opção. A coisa mais importante é estar num espaço onde todos se preocupam com a higiene, para que haja um ambiente habitável”, frisou. Lenta progressão O Macau Co-Living nasce da vontade de investidores de Hong Kong de renovarem um antigo edifício no Porto Interior e transformá-lo num espaço de alojamento à semelhança dos que já existem na região vizinha. Robert Cai, mentor do projecto, conta como tudo começou. “Quisemos preencher uma lacuna em termos de alojamento para pessoas que querem arrendar um espaço por apenas três meses ou um ano. Há pessoas em Macau que trabalham apenas durante a semana e regressam para as suas cidades natais aos fins-de-semana, então procuram apenas um espaço confortável e privado. Desta forma podem poupar metade do dinheiro que gastariam a arrendar um estúdio”, adiantou. Robert Cai não tem dúvidas de que, no que às formas de alojamento diz respeito, partilhar um apartamento “é cada vez mais rentável e é uma oportunidade para as pessoas se conhecerem”. Ainda assim, Robert Cai nota que “há poucos locais a quererem viver no nosso espaço”. “Temos sobretudo estrangeiros que estudam fora e vêm para Macau trabalhar”, acrescentou. No Macau Co-Living, Tatiana Rocha é uma espécie de faz-tudo, que garante que todos os equipamentos funcionam nas devidas condições e promove ainda eventos, que acontecem no terraço ou na sala, para que os moradores possam conviver. Tatiana não tem dúvidas de que a sociedade de Macau está muito lentamente a aderir ao conceito de co-living, apesar de ser um território onde a habitação é muito cara. “É um processo lento em Macau, que não é uma cidade como Hong Kong, ou Londres, por exemplo. Este é um território muito específico. Acho que para as novas gerações este conceito é algo comum, mas aqui é sempre um processo mais lento.” O Macau Co-Living tem actualmente entre 19 e 20 residentes. “A maior parte são estrangeiros, sendo a maior parte portugueses e pessoas de Hong Kong”, assegura Tatiana Rocha. “Notamos que há muitas pessoas de Hong Kong a trabalhar em Macau durante a semana, e procuram apenas o mínimo de condições. Temos também chineses e pessoal de Macau, alguns, pessoas de Taiwan, Vietname, Tailândia.” Quem vive naquele edifício “procura uma renda acessível e uma casa em condições. Os apartamentos são novos e a decoração é atractiva. Oferecemos uma coisa boa, que é o facto de só pedirmos o pagamento do primeiro mês e uma caução, ao contrário dos quatro meses que pedem nas agências, que é algo que custa muito a pagar no início”, frisou a responsável pela gestão dos apartamentos. Até agora tudo tem corrido bem. “O feedback tem sido positivo. Há pessoas que começam, mas depois preferem algo mais privado, porque se calhar não estavam preparadas. Diria que essas pessoas são as mais novas, acabaram de sair de casa dos pais, e não sabem muito bem como é viver com outras pessoas. Os mais velhos, com mais de 25 anos, não se importam tanto de viver em comunidade”, disse Tatiana Rocha. Na Horta e Costa O segundo espaço de co-living existente em Macau fica situado na avenida Horta e Costa, e tem sido promovido nas redes sociais. Nina Sousa é responsável pela gestão do espaço que foi desenvolvido por uma empresa do ramo imobiliário, e serviu de tradutora a Lam Mong Tat, proprietário. Este assegura que o projecto de co-living surgiu por saber que “nem todos ganham o suficiente para pagar uma renda em Macau”. “Sendo agente imobiliário, por sorte encontrei um prédio que podia ser renovado, tendo sido ajustados os preços para satisfazer e ajudar certos clientes”, referiu, apontando que são os estrangeiros que mais procuram este estilo de vida. “Temos chineses (do continente), nepaleses, indianos e até portugueses que não são residentes de Macau. Não acho que o co-living seja uma tendência, até porque vejo cada vez mais pessoas a mudarem-se para a China, por ser perto de Macau e por ter melhor qualidade de vida”, disse Lam Mong Tat. O próximo projecto é apostar num espaço de co-working para empresas, a fim de “ajudar mais pessoas que querem começar um negócio em Macau, mas que não precisam de espaços muito grandes, nem querem pagar rendas muito altas”. Fruto dos tempos Dominic Choi, arquitecto ligado à associação Arquitectos Sem Fronteiras, defendeu ao HM que o co-living nunca será uma solução para os problemas habitacionais de Macau, mas sim uma consequência dos valores elevados que se praticam no território. “Este tipo de alojamento é muito comum no seio de estudantes universitários, por exemplo, ou em Hong Kong, onde as pessoas partilham espaços em que dormem em gaiolas ou beliches. Este tipo de alojamento não é nada de novo, mas é o resultado das mudanças na sociedade, devido às elevadas rendas e ao facto de as pessoas que não conseguirem comprar casas. Diria que não é uma solução para esta questão social, mas sim uma consequência.” O arquitecto alerta para o facto de poderem surgir conflitos sociais. “Há sempre questões relacionadas com a partilha do espaço. Nos casos de co-working as pessoas partilham um espaço com a sua empresa, mas num conceito de co-living há bastantes diferenças. Há muitas coisas que podem originar potenciais problemas de segurança, higiene e isso pode originar vários conflitos. É sempre necessário criar espaços totalmente independentes que não se podem partilhar para que haja segurança suficiente. Há sempre desafios”, adiantou. Dominic Choi assegura também que, em Macau, o Governo tem um maior controlo sobre os terrenos do território, além de existirem regras mais apertadas para a construção de edifícios, face a Hong Kong. A solução para os altos preços passa mesmo pela construção de mais casas públicas. “Não podemos ter casas públicas em todo o lado, mas deve haver um devido planeamento em termos de infra-estruturas para que seja viável para as pessoas.” Também o arquitecto Mário Duque defende que o co-living não é uma solução por servir, sobretudo, uma fatia da população que reside temporariamente no território. “Essa forma de habitar é uma experiência pessoal altamente gratificante, mas tem a ver com questões geracionais e financeiras. Acho que a sociedade não vai aderir a essa modalidade de alojamento, que é significativa porque tem em vista uma população flutuante, que em Macau é igualmente significativa. A economia de Macau baseia-se nesse tipo de população e para essas pessoas é um modo vantajoso de aderir à habitação com qualidade.” Para Mário Duque, o co-living “acaba por servir sempre pessoas que não são da cidade”. “Em Macau isso tem a ver com outras nuances, relacionadas com os custos da habitação, que cai num lado disfuncional que é o facto de as pessoas precisarem de mais dinheiro do que aquele que é o rácio razoável para pagar despesas de habitação. Como isso não é possível, têm de arranjar situações alternativas. Há outra razão que é o parque habitacional em Macau ser muito degradado, e as casas que estão disponíveis para essa habitação partilhada não serem do agrado das pessoas”, rematou o arquitecto.
Hoje Macau ReportagemAngola | Médicos chineses rompem barreira da língua e levam acupuntura aos doentes As barreiras linguísticas não impedem que médicos chineses atendam as centenas de pacientes que acorrem diariamente ao Hospital Geral de Luanda (HGL) em busca de cuidados de saúde, oferecendo a acupuntura entre as especialidades desta unidade hospitalar. A saúde é uma das vertentes do investimento chinês em Angola, que já ultrapassou os 20 mil milhões de dólares [dropcap]H[/dropcap]á quatro meses em Angola, no âmbito das relações bilaterais entre os dois países, os médicos chineses manifestam-se felizes por trabalhar no país africano e enaltecem as “relações saudáveis” que mantêm com os pacientes e com os “simpáticos” colegas angolanos e cubanos. Dez médicos chineses, um intérprete e um cozinheiro compõem a equipa asiática que, desde Junho passado, trabalham no HGL, constituindo a quinta equipa médica que é enviada para Angola, desde 2009, no quadro da cooperação no sector. Os médicos chineses contaram à Lusa as dificuldades diárias para comunicar em português, um processo no qual contam com a solidariedade de colegas e dos respectivos pacientes, socorrendo-se também de ‘software’ para traduções imediatas. Huang Nan, pediatra, faz parte do grupo dos dez médicos chineses que trabalham no Hospital Geral de Luanda, edificado em 2006 pelos seus compatriotas, e destaca com satisfação a “ginástica” diária e necessária para falar com os doentes. “Trabalho com angolanos e cubanos, eles são simpáticos e eu gosto. Ensinam-nos como abordar os pacientes em português e temos boas relações, esforçamo-nos todos os dias”, disse o médico à agência Lusa, referindo que o diagnóstico é feito quando os doentes falam “pausadamente”. “Sim, quando eles falam devagar ou pausadamente conseguimos nos entender e aí fazemos o diagnóstico”, adiantou Huang Nan, de 34 anos. Segundo o pediatra asiático, o ambiente laboral transforma-se dia após dia num círculo familiar, com a partilha de experiências profissionais, mas também momentos de convívio nas refeições com os colegas angolanos e cubanos, sobretudo no tempo livre. Agulhas milenares Zhang Xin, cirurgião geral, descreve o trabalho no HGL como “intenso”, particularmente no banco de urgência onde são atendidos mais de 200 pacientes/dia, “muitos em estado grave e com necessidade de cirurgia urgente”, uma afluência que difere do seu país. Feliz por estar em Angola e a aprender com outros colegas a língua portuguesa, o cirurgião de 32 anos assegurou que “muitos doentes” já entendem as suas orientações, “mas, quando está difícil”, sublinha, recorrer aos colegas “é indispensável”. Com uma capacidade para mais de 300 camas e para um atendimento diário de mais de 800 pacientes, o hospital dispõe das especialidades de pediatria, maternidade, neurologia, cardiologia, ortopedia, oftalmologia, cuidados intensivos, ortotraumatologia, bem como laboratórios e equipamentos avançados. Oferece igualmente especialidades da medicina tradicional chineses como acupuntura, massagens e terapia auricular, entre outras. Pelo menos 25 pacientes com problemas lombares, cervicais, de artrite, ou mesmo paralisia facial acorrem diariamente ao hospital para o tratamento com acupuntura e dizem-se “satisfeitos com os resultados” da terapia milenar chinesa. “Estou a sentir já melhorias. O tratamento vai bem, eles fazem as questões, respondemos prontamente e depois começam com a consulta e está a correr bem”, disse à Lusa a angolana Inês da Costa, 40 anos, que há dois meses recorre à acupuntura para tratar das dores lombares. Satisfeito por trabalhar em Angola está também o acupunturista chinês, Zhou Zugang, que enumerou vantagens da técnica da aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo, apontando a satisfação dos doentes. “Aqui eu faço o tratamento com acupuntura e muitos pacientes gostam desse tratamento”, garantiu, realçando que a barreira do português tem sido ultrapassada diariamente. Há oito anos com dores lombares, a angolana Edna Silva disse à Lusa que, em dois meses de tratamento com o recurso a acupuntura no HGL, tem registado melhorias significativas. “De princípio não estava a ver melhorias, mas agora já há evolução. Os médicos chineses percebem a nossa comunicação, eles têm um dispositivo no seu telefone que traduz automaticamente algumas palavras difíceis”, realçou. Saúde acordada “Trabalhar para a melhoria da saúde dos angolanos” é o lema do cardiologista Nie Wenzhen que, admitindo dificuldades para se expressar em português, não foge, no entanto, à “pressão diária de doentes”, particularmente no banco de urgência. Para o médico chinês de 32 anos, que se diz feliz por trabalhar em Angola, os colegas angolanos e cubanos são fundamentais para se sentir em casa, porque, observou, “Deus ama o mundo e a medicina ama a humanidade”. A presença destes médicos chineses em Angola faz parte de acordos intergovernamentais, nomeadamente através de um protocolo que é renovado a cada dois anos. Este mecanismo de cooperação voltou a ser reafirmado oficialmente em Setembro, assinado pelo secretário de Estado para a Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas, Domingos Vieira Lopes, e pelo embaixador da China em Angola, Gong Tao. O protocolo estabeleceu que os encargos salariais e de viagens internacionais de ida e volta dos médicos são da responsabilidade do Governo chinês. No final da cerimónia de assinatura do protocolo, o embaixador chinês revelou que, até ao momento, cerca de 200 mil cidadãos angolanos foram atendidos por médicos chineses. Gong Tao informou ainda que, nos últimos 10 anos, já passaram por Angola cinco equipas de médicos chineses, totalizando 70 especialistas. O Hospital Geral de Luanda, edificado em 2006 e que teve de ser reconstruído seis anos depois por problemas estruturais, foi reinaugurado em Junho de 2015, após três meses de testes aos equipamentos chineses e de formação para os técnicos. Milhões do oriente “Nos últimos anos a China é um dos países principais que investiu em Angola e segundo estatísticas incompletas, até agora, o volume do investimento chinês no mercado angolano já ultrapassou 20 mil milhões de dólares norte americanos”, afirmou Gong Tao, em Setembro, num evento sobre as relações entre os dois países. O embaixador deu conta também que a dívida de Angola para com o seu país saiu dos 23,3 mil milhões de dólares, em 2017, para 22,8 mil milhões em 2018. Aludindo ao relatório do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, pedido pela embaixada, referiu que a dívida regista “reduções numéricas” e o seu pagamento “decorre na normalidade”. “A dívida está a diminuir com os números, por exemplo, em 2017 era de 23,3 mil milhões de dólares, e em 2018 já baixou para 22,8 mil milhões, e, entretanto, é uma tendência para redução”, frisou. A China é o maior parceiro comercial de Angola. O país asiático continua a ser o principal destino do petróleo angolano, absorvendo 61,56 por cento das exportações no segundo trimestre de 2019, seguido da Índia com 11,05 por cento e depois a Espanha com 3,80 por cento.
Hoje Macau ReportagemAngola | Médicos chineses rompem barreira da língua e levam acupuntura aos doentes As barreiras linguísticas não impedem que médicos chineses atendam as centenas de pacientes que acorrem diariamente ao Hospital Geral de Luanda (HGL) em busca de cuidados de saúde, oferecendo a acupuntura entre as especialidades desta unidade hospitalar. A saúde é uma das vertentes do investimento chinês em Angola, que já ultrapassou os 20 mil milhões de dólares [dropcap]H[/dropcap]á quatro meses em Angola, no âmbito das relações bilaterais entre os dois países, os médicos chineses manifestam-se felizes por trabalhar no país africano e enaltecem as “relações saudáveis” que mantêm com os pacientes e com os “simpáticos” colegas angolanos e cubanos. Dez médicos chineses, um intérprete e um cozinheiro compõem a equipa asiática que, desde Junho passado, trabalham no HGL, constituindo a quinta equipa médica que é enviada para Angola, desde 2009, no quadro da cooperação no sector. Os médicos chineses contaram à Lusa as dificuldades diárias para comunicar em português, um processo no qual contam com a solidariedade de colegas e dos respectivos pacientes, socorrendo-se também de ‘software’ para traduções imediatas. Huang Nan, pediatra, faz parte do grupo dos dez médicos chineses que trabalham no Hospital Geral de Luanda, edificado em 2006 pelos seus compatriotas, e destaca com satisfação a “ginástica” diária e necessária para falar com os doentes. “Trabalho com angolanos e cubanos, eles são simpáticos e eu gosto. Ensinam-nos como abordar os pacientes em português e temos boas relações, esforçamo-nos todos os dias”, disse o médico à agência Lusa, referindo que o diagnóstico é feito quando os doentes falam “pausadamente”. “Sim, quando eles falam devagar ou pausadamente conseguimos nos entender e aí fazemos o diagnóstico”, adiantou Huang Nan, de 34 anos. Segundo o pediatra asiático, o ambiente laboral transforma-se dia após dia num círculo familiar, com a partilha de experiências profissionais, mas também momentos de convívio nas refeições com os colegas angolanos e cubanos, sobretudo no tempo livre. Agulhas milenares Zhang Xin, cirurgião geral, descreve o trabalho no HGL como “intenso”, particularmente no banco de urgência onde são atendidos mais de 200 pacientes/dia, “muitos em estado grave e com necessidade de cirurgia urgente”, uma afluência que difere do seu país. Feliz por estar em Angola e a aprender com outros colegas a língua portuguesa, o cirurgião de 32 anos assegurou que “muitos doentes” já entendem as suas orientações, “mas, quando está difícil”, sublinha, recorrer aos colegas “é indispensável”. Com uma capacidade para mais de 300 camas e para um atendimento diário de mais de 800 pacientes, o hospital dispõe das especialidades de pediatria, maternidade, neurologia, cardiologia, ortopedia, oftalmologia, cuidados intensivos, ortotraumatologia, bem como laboratórios e equipamentos avançados. Oferece igualmente especialidades da medicina tradicional chineses como acupuntura, massagens e terapia auricular, entre outras. Pelo menos 25 pacientes com problemas lombares, cervicais, de artrite, ou mesmo paralisia facial acorrem diariamente ao hospital para o tratamento com acupuntura e dizem-se “satisfeitos com os resultados” da terapia milenar chinesa. “Estou a sentir já melhorias. O tratamento vai bem, eles fazem as questões, respondemos prontamente e depois começam com a consulta e está a correr bem”, disse à Lusa a angolana Inês da Costa, 40 anos, que há dois meses recorre à acupuntura para tratar das dores lombares. Satisfeito por trabalhar em Angola está também o acupunturista chinês, Zhou Zugang, que enumerou vantagens da técnica da aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo, apontando a satisfação dos doentes. “Aqui eu faço o tratamento com acupuntura e muitos pacientes gostam desse tratamento”, garantiu, realçando que a barreira do português tem sido ultrapassada diariamente. Há oito anos com dores lombares, a angolana Edna Silva disse à Lusa que, em dois meses de tratamento com o recurso a acupuntura no HGL, tem registado melhorias significativas. “De princípio não estava a ver melhorias, mas agora já há evolução. Os médicos chineses percebem a nossa comunicação, eles têm um dispositivo no seu telefone que traduz automaticamente algumas palavras difíceis”, realçou. Saúde acordada “Trabalhar para a melhoria da saúde dos angolanos” é o lema do cardiologista Nie Wenzhen que, admitindo dificuldades para se expressar em português, não foge, no entanto, à “pressão diária de doentes”, particularmente no banco de urgência. Para o médico chinês de 32 anos, que se diz feliz por trabalhar em Angola, os colegas angolanos e cubanos são fundamentais para se sentir em casa, porque, observou, “Deus ama o mundo e a medicina ama a humanidade”. A presença destes médicos chineses em Angola faz parte de acordos intergovernamentais, nomeadamente através de um protocolo que é renovado a cada dois anos. Este mecanismo de cooperação voltou a ser reafirmado oficialmente em Setembro, assinado pelo secretário de Estado para a Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas, Domingos Vieira Lopes, e pelo embaixador da China em Angola, Gong Tao. O protocolo estabeleceu que os encargos salariais e de viagens internacionais de ida e volta dos médicos são da responsabilidade do Governo chinês. No final da cerimónia de assinatura do protocolo, o embaixador chinês revelou que, até ao momento, cerca de 200 mil cidadãos angolanos foram atendidos por médicos chineses. Gong Tao informou ainda que, nos últimos 10 anos, já passaram por Angola cinco equipas de médicos chineses, totalizando 70 especialistas. O Hospital Geral de Luanda, edificado em 2006 e que teve de ser reconstruído seis anos depois por problemas estruturais, foi reinaugurado em Junho de 2015, após três meses de testes aos equipamentos chineses e de formação para os técnicos. Milhões do oriente “Nos últimos anos a China é um dos países principais que investiu em Angola e segundo estatísticas incompletas, até agora, o volume do investimento chinês no mercado angolano já ultrapassou 20 mil milhões de dólares norte americanos”, afirmou Gong Tao, em Setembro, num evento sobre as relações entre os dois países. O embaixador deu conta também que a dívida de Angola para com o seu país saiu dos 23,3 mil milhões de dólares, em 2017, para 22,8 mil milhões em 2018. Aludindo ao relatório do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, pedido pela embaixada, referiu que a dívida regista “reduções numéricas” e o seu pagamento “decorre na normalidade”. “A dívida está a diminuir com os números, por exemplo, em 2017 era de 23,3 mil milhões de dólares, e em 2018 já baixou para 22,8 mil milhões, e, entretanto, é uma tendência para redução”, frisou. A China é o maior parceiro comercial de Angola. O país asiático continua a ser o principal destino do petróleo angolano, absorvendo 61,56 por cento das exportações no segundo trimestre de 2019, seguido da Índia com 11,05 por cento e depois a Espanha com 3,80 por cento.
Andreia Sofia Silva ReportagemCentro POAO | Comerciantes chineses dizem-se insatisfeitos com espaço Localizado a poucos quilómetros de Lisboa, o Centro POAO foi pensado para ser um novo hub de negócios para comerciantes chineses, mas a verdade é que a maior parte das lojas permanecem vazias. Muitos dos que investiram dizem-se insatisfeitos com a baixa rentabilidade do negócio. Choi Hin Man, sócio da empresa detentora do Centro, encara a situação como normal e assegura que há novos projectos em vista, apesar da queixa de um cliente apresentada às autoridades da cidade de Yiwu, em Zhejiang [dropcap]C[/dropcap]ontam-se pelos dedos das mãos o número das lojas de comércio por grosso e a retalho que mantêm as portas abertas no Centro POAO, na zona do Porto Alto, a cerca de meia hora de Lisboa. O espaço desenvolvido pela POAO II – Investimentos Imobiliários, empresa que está a ser investigada em Portugal por uma alegada burla contra investidores chineses, mais parece uma cidade fantasma. O HM visitou o local num dia de semana e era visível a falta de clientes e de movimento. A maior parte das lojas está vazia e os poucos comerciantes que ali trabalham mostram-se insatisfeitos com a fraca rentabilidade que as lojas estão a ter. É o caso de Lucas Lei, natural da província de Zhejiang, que há vários anos escolheu Portugal como sítio para viver. “Não estou satisfeito, isto está muito fraco, há poucas pessoas. O negócio faz-se muito no Porto e em Lisboa, se este lugar fosse mais longe (de Lisboa) era diferente”, contou ao HM. Questionado sobre se tem conhecimento de outros projectos que possam vir a abrir portas no centro POAO, Lucas Lei assume: “não há clientes, como vão abrir mais lojas?”. “Isto nem sequer encheu, mas antes havia 30 ou 40 lojas que já fecharam. Isto está cada vez pior”, assegura. Uns metros mais à frente, Ting Ting tem um discurso semelhante. Sentada ao balcão e sem clientes, a empresária, que abriu a loja com o marido, referiu que esperava que os negócios tomassem outro rumo. Se Lucas Lei arrenda o espaço, Ting Ting decidiu comprar o imóvel em 2017 juntamente com o marido. “No Martim Moniz há mais pessoal e mais clientes. É raro virem para aqui e vão mais ao Martim Moniz, onde já há um centro. Há clientes que me dizem que escusam de gastar gasóleo para vir para aqui.” Apesar disso, Ting Ting mantém-se firme em continuar o seu negócio no centro POAO. “Há poucas lojas e não há, por exemplo, roupa de criança ou pijamas, mas por enquanto vamos continuar por aqui, se não é pior. Espero que a situação melhore, também não gosto de mudanças.” O Centro POAO foi notícia em Portugal por estar, alegadamente, envolvido num caso de burla na venda de uns terrenos a empresários chineses, relacionado com um processo de vistos gold. Estes dizem terem assinado contratos para a compra de lojas quando, na verdade, adquiriram armazéns, um tipo de imóvel em que não tinham qualquer interesse. Uma das entidades que também está sob investigação é o escritório de advogados Rui Cunha, Glória Ribeiro e Associados, de que é sócio Rui Cunha, advogado radicado em Macau e fundador do escritório C&C Lawyers. Este assegurou nada ter a ver com o assunto e que o escritório em causa apenas deu “apoio jurídico” em todo o processo. Ao HM, o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa garantiu que o caso continua a ser investigado e que os autos estão em segredo de justiça. Processo obscuro Ting Ting, também oriundo da província de Zhejiang, assegura que nunca ouviu falar do processo que envolve a POAO II. “Não têm entrado mais comerciantes para aqui, talvez haja um problema com os donos, mas nada mais do que isso”, assegura. Também Lucas Lei diz nunca ter ouvido falar do processo, pois alugou a loja a outra pessoa. “Não conheço o senhor Choi. Aqui somos todos conhecidos e eu resolvi alugar a loja.” O comerciante adiantou ainda que nada sabe sobre contratos celebrados no âmbito da política dos vistos gold. “Quem tem vistos gold está na China, no máximo fica cá uma semana. Mas não me interessam esses casos, eu pago a renda e vou-me embora.” Para o empresário, comprar o espaço está fora de questão. “Comprar? Isto aqui não vale nada”, defende. António Chi Fang Yu, que tem uma loja logo à entrada do centro POAO, assegura que “não tem muitos lucros”. “Só há aqui nove lojas abertas, não há muitas pessoas que venham para cá.” Num outro espaço é Chiara Chen que conversa com o HM, por ter mais facilidades em falar português. No seu caso, conhece o empresário Choi Man Hin, mas garante nunca ter tido problemas, apesar da incerteza do futuro. “Aqui há pouca gente, mas vamos ver se conseguimos ter mais oportunidades, pois temos produtos diferentes. Já tínhamos uma loja na zona (do Martim Moniz) mas decidimos mudar para aqui. Não temos nada a apontar, há segurança e foi tudo construído a partir de 2010, mas não temos a certeza se vamos cá ficar.” Também Chiara Chen garante “nunca ter ouvido falar de nada” no que diz respeito ao alegado processo de burla. Nuno Grilo, director de uma agência imobiliária que ali funciona mediante contrato de arrendamento assinado em Junho do ano passado, diz apenas ter tido conhecimento do processo através dos meios de comunicação social. “O assunto apanhou-me de surpresa”, disse ao HM. “Havia aqui uma farmácia e um café ao lado que fecharam entretanto, mas não sei porquê. Não temos qualquer relacionamento nem vínculo com a POAO que nos permitam opinar.” No entanto, o cenário de lojas vazias pouco ou nada mudou desde que a agência imobiliária abriu portas. “Desde 2018 que tem estado tal e qual como está.” O responsável assegura que a escolha do centro POAO recaiu no facto de este estar próximo de uma estrada nacional, a poucos quilómetros da capital lisboeta. “Somos uma rede imobiliária e instalámo-nos neste espaço um pouco na projecção do que viria a ser o mercado imobiliário na zona, tendo em conta a proximidade do futuro aeroporto. Nunca tivemos negócios de mediação imobiliária com estes espaços. Ideias para o futuro Contactado pelo HM, Choi Man Hin encara como normal o facto do centro POAO estar, na sua maioria, vazio. “A decisão de sair do centro é determinada pelo comerciante, de acordo com suas próprias necessidades e modelo de negócios. Numa plataforma comercial, a entrada e saída ou rotação de comerciantes é perfeitamente normal.” O responsável aponta ainda que “existem muitos factores determinantes para os comerciantes entrarem, permanecerem ou saírem duma plataforma comercial. Estes pretendem instalar-se num local de maior popularidade para vender o mais possível. A decisão de aí se manterem ou mudarem ocorre de acordo com seus próprios custos operacionais (rentabilidade), sendo na verdade essa a lei do mercado.” O empresário, que é também presidente da comissão executiva do grupo Estoril-Sol, assegura que o encerramento de duas lojas no centro POAO se deveu a mudanças na estratégia por parte dos próprios comerciantes. “Dois dos comerciantes que deixaram o centro POAO passaram a depender principalmente de pedidos feitos online. As lojas físicas deixaram de ser em muitas situações um elemento essencial nalguns negócios, bastando um espaço mais barato, um bom software/uma boa aplicação para gerir os pedidos e a logística das entregas, todos temos essa consciência.” Na visão do empresário, o arrendamento é uma opção natural para muitos comerciantes chineses. “A maioria dos empresários chineses desenvolvem a sua actividade através de pequenas empresas que constituem o seu meio de subsistência. São micro ou pequenas empresas que operam com capacidade limitada. Arrendar é simplesmente a opção mais realista e flexível para eles.” “Portugal está cheio de exemplos dessa natureza, os pequenos comerciantes costumam optar por arrendar lojas em vez de comprá-las, para manter um fluxo de caixa mais forte. Para a POAO, vender ou rentabilizar o seu património são soluções totalmente compatíveis e igualmente importantes”, acrescentou. Questionado sobre as estratégias de desenvolvimento do centro POAO para os próximos tempos, Choi Man Hin revelou que há ainda dossiers a serem negociados. Ainda assim, está a ser desenvolvido um software de gestão de pedidos e logística de entregas”, sendo que a POAO II – Investimentos Imobiliários “está a trabalhar com uma empresa para encontrar uma solução adequada”. Está também a ser pensada a construção de um “centro de exibição de produtos de qualidade”. “Tínhamos chegado a um acordo preliminar com (a cidade de) Yiwu sobre este projecto, mas infelizmente, a queixa infundada apresentada pelo cliente Cao Yu, ao Governo municipal de Yiwu, provocou a suspensão do projecto, que aguarda agora o seu prosseguimento”, rematou. Choi Man Hin afirmou publicamente que o Centro POAO foi pensado como uma alternativa à zona do Martim Moniz, por esta já estar sobrecarregada em termos de espaços de negócio. No Norte existe outra zona importante de armazéns e lojas de comércio por grosso e a retalho destinada a comerciantes chineses em Varziela, concelho de Vila do Conde. Estas zonas são as principais fornecedoras de produtos destinados às várias lojas espalhadas por todo o país.
Andreia Sofia Silva ReportagemCentro POAO | Comerciantes chineses dizem-se insatisfeitos com espaço Localizado a poucos quilómetros de Lisboa, o Centro POAO foi pensado para ser um novo hub de negócios para comerciantes chineses, mas a verdade é que a maior parte das lojas permanecem vazias. Muitos dos que investiram dizem-se insatisfeitos com a baixa rentabilidade do negócio. Choi Hin Man, sócio da empresa detentora do Centro, encara a situação como normal e assegura que há novos projectos em vista, apesar da queixa de um cliente apresentada às autoridades da cidade de Yiwu, em Zhejiang [dropcap]C[/dropcap]ontam-se pelos dedos das mãos o número das lojas de comércio por grosso e a retalho que mantêm as portas abertas no Centro POAO, na zona do Porto Alto, a cerca de meia hora de Lisboa. O espaço desenvolvido pela POAO II – Investimentos Imobiliários, empresa que está a ser investigada em Portugal por uma alegada burla contra investidores chineses, mais parece uma cidade fantasma. O HM visitou o local num dia de semana e era visível a falta de clientes e de movimento. A maior parte das lojas está vazia e os poucos comerciantes que ali trabalham mostram-se insatisfeitos com a fraca rentabilidade que as lojas estão a ter. É o caso de Lucas Lei, natural da província de Zhejiang, que há vários anos escolheu Portugal como sítio para viver. “Não estou satisfeito, isto está muito fraco, há poucas pessoas. O negócio faz-se muito no Porto e em Lisboa, se este lugar fosse mais longe (de Lisboa) era diferente”, contou ao HM. Questionado sobre se tem conhecimento de outros projectos que possam vir a abrir portas no centro POAO, Lucas Lei assume: “não há clientes, como vão abrir mais lojas?”. “Isto nem sequer encheu, mas antes havia 30 ou 40 lojas que já fecharam. Isto está cada vez pior”, assegura. Uns metros mais à frente, Ting Ting tem um discurso semelhante. Sentada ao balcão e sem clientes, a empresária, que abriu a loja com o marido, referiu que esperava que os negócios tomassem outro rumo. Se Lucas Lei arrenda o espaço, Ting Ting decidiu comprar o imóvel em 2017 juntamente com o marido. “No Martim Moniz há mais pessoal e mais clientes. É raro virem para aqui e vão mais ao Martim Moniz, onde já há um centro. Há clientes que me dizem que escusam de gastar gasóleo para vir para aqui.” Apesar disso, Ting Ting mantém-se firme em continuar o seu negócio no centro POAO. “Há poucas lojas e não há, por exemplo, roupa de criança ou pijamas, mas por enquanto vamos continuar por aqui, se não é pior. Espero que a situação melhore, também não gosto de mudanças.” O Centro POAO foi notícia em Portugal por estar, alegadamente, envolvido num caso de burla na venda de uns terrenos a empresários chineses, relacionado com um processo de vistos gold. Estes dizem terem assinado contratos para a compra de lojas quando, na verdade, adquiriram armazéns, um tipo de imóvel em que não tinham qualquer interesse. Uma das entidades que também está sob investigação é o escritório de advogados Rui Cunha, Glória Ribeiro e Associados, de que é sócio Rui Cunha, advogado radicado em Macau e fundador do escritório C&C Lawyers. Este assegurou nada ter a ver com o assunto e que o escritório em causa apenas deu “apoio jurídico” em todo o processo. Ao HM, o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa garantiu que o caso continua a ser investigado e que os autos estão em segredo de justiça. Processo obscuro Ting Ting, também oriundo da província de Zhejiang, assegura que nunca ouviu falar do processo que envolve a POAO II. “Não têm entrado mais comerciantes para aqui, talvez haja um problema com os donos, mas nada mais do que isso”, assegura. Também Lucas Lei diz nunca ter ouvido falar do processo, pois alugou a loja a outra pessoa. “Não conheço o senhor Choi. Aqui somos todos conhecidos e eu resolvi alugar a loja.” O comerciante adiantou ainda que nada sabe sobre contratos celebrados no âmbito da política dos vistos gold. “Quem tem vistos gold está na China, no máximo fica cá uma semana. Mas não me interessam esses casos, eu pago a renda e vou-me embora.” Para o empresário, comprar o espaço está fora de questão. “Comprar? Isto aqui não vale nada”, defende. António Chi Fang Yu, que tem uma loja logo à entrada do centro POAO, assegura que “não tem muitos lucros”. “Só há aqui nove lojas abertas, não há muitas pessoas que venham para cá.” Num outro espaço é Chiara Chen que conversa com o HM, por ter mais facilidades em falar português. No seu caso, conhece o empresário Choi Man Hin, mas garante nunca ter tido problemas, apesar da incerteza do futuro. “Aqui há pouca gente, mas vamos ver se conseguimos ter mais oportunidades, pois temos produtos diferentes. Já tínhamos uma loja na zona (do Martim Moniz) mas decidimos mudar para aqui. Não temos nada a apontar, há segurança e foi tudo construído a partir de 2010, mas não temos a certeza se vamos cá ficar.” Também Chiara Chen garante “nunca ter ouvido falar de nada” no que diz respeito ao alegado processo de burla. Nuno Grilo, director de uma agência imobiliária que ali funciona mediante contrato de arrendamento assinado em Junho do ano passado, diz apenas ter tido conhecimento do processo através dos meios de comunicação social. “O assunto apanhou-me de surpresa”, disse ao HM. “Havia aqui uma farmácia e um café ao lado que fecharam entretanto, mas não sei porquê. Não temos qualquer relacionamento nem vínculo com a POAO que nos permitam opinar.” No entanto, o cenário de lojas vazias pouco ou nada mudou desde que a agência imobiliária abriu portas. “Desde 2018 que tem estado tal e qual como está.” O responsável assegura que a escolha do centro POAO recaiu no facto de este estar próximo de uma estrada nacional, a poucos quilómetros da capital lisboeta. “Somos uma rede imobiliária e instalámo-nos neste espaço um pouco na projecção do que viria a ser o mercado imobiliário na zona, tendo em conta a proximidade do futuro aeroporto. Nunca tivemos negócios de mediação imobiliária com estes espaços. Ideias para o futuro Contactado pelo HM, Choi Man Hin encara como normal o facto do centro POAO estar, na sua maioria, vazio. “A decisão de sair do centro é determinada pelo comerciante, de acordo com suas próprias necessidades e modelo de negócios. Numa plataforma comercial, a entrada e saída ou rotação de comerciantes é perfeitamente normal.” O responsável aponta ainda que “existem muitos factores determinantes para os comerciantes entrarem, permanecerem ou saírem duma plataforma comercial. Estes pretendem instalar-se num local de maior popularidade para vender o mais possível. A decisão de aí se manterem ou mudarem ocorre de acordo com seus próprios custos operacionais (rentabilidade), sendo na verdade essa a lei do mercado.” O empresário, que é também presidente da comissão executiva do grupo Estoril-Sol, assegura que o encerramento de duas lojas no centro POAO se deveu a mudanças na estratégia por parte dos próprios comerciantes. “Dois dos comerciantes que deixaram o centro POAO passaram a depender principalmente de pedidos feitos online. As lojas físicas deixaram de ser em muitas situações um elemento essencial nalguns negócios, bastando um espaço mais barato, um bom software/uma boa aplicação para gerir os pedidos e a logística das entregas, todos temos essa consciência.” Na visão do empresário, o arrendamento é uma opção natural para muitos comerciantes chineses. “A maioria dos empresários chineses desenvolvem a sua actividade através de pequenas empresas que constituem o seu meio de subsistência. São micro ou pequenas empresas que operam com capacidade limitada. Arrendar é simplesmente a opção mais realista e flexível para eles.” “Portugal está cheio de exemplos dessa natureza, os pequenos comerciantes costumam optar por arrendar lojas em vez de comprá-las, para manter um fluxo de caixa mais forte. Para a POAO, vender ou rentabilizar o seu património são soluções totalmente compatíveis e igualmente importantes”, acrescentou. Questionado sobre as estratégias de desenvolvimento do centro POAO para os próximos tempos, Choi Man Hin revelou que há ainda dossiers a serem negociados. Ainda assim, está a ser desenvolvido um software de gestão de pedidos e logística de entregas”, sendo que a POAO II – Investimentos Imobiliários “está a trabalhar com uma empresa para encontrar uma solução adequada”. Está também a ser pensada a construção de um “centro de exibição de produtos de qualidade”. “Tínhamos chegado a um acordo preliminar com (a cidade de) Yiwu sobre este projecto, mas infelizmente, a queixa infundada apresentada pelo cliente Cao Yu, ao Governo municipal de Yiwu, provocou a suspensão do projecto, que aguarda agora o seu prosseguimento”, rematou. Choi Man Hin afirmou publicamente que o Centro POAO foi pensado como uma alternativa à zona do Martim Moniz, por esta já estar sobrecarregada em termos de espaços de negócio. No Norte existe outra zona importante de armazéns e lojas de comércio por grosso e a retalho destinada a comerciantes chineses em Varziela, concelho de Vila do Conde. Estas zonas são as principais fornecedoras de produtos destinados às várias lojas espalhadas por todo o país.
Hoje Macau ReportagemNo ‘hub’ tecnológico da China também se produzem os artistas do futuro João Pimenta, jornalista da agência Lusa [dropcap]S[/dropcap]entados em frente ao portátil nos escritórios da Star Master Entertainment, funcionários produzem, das 09:00 às 17:00, letras sobre o amor, enquanto, no piso abaixo, divididos em cubículos, jovens chineses treinam coreografia, técnicas vocais ou etiqueta. “Nós concebemos bandas”, resume à agência Lusa Nikki, administradora da Star Master, uma das maiores promotoras chinesas de artistas pop e dona de centenas de espaços nocturnos no país. “Eles vêm de diferentes escolas de música e nós construímos a sua imagem”, descreve. “É como criar um produto”, acrescenta. Milhares de potenciais ídolos acorrem semanalmente aos testes e exames na academia da Star Master, ilustrando o ‘boom’ da indústria pop na China, apesar do controlo ideológico exercido pelo regime chinês, que submete os artistas aos “valores socialistas”. A academia fica em Shenzhen, uma das mais prósperas cidades chinesas, usada como laboratório à abertura do país à economia de mercado, nos anos 1980. Situada na fronteira com Hong Kong, Shenzhen tornou-se um ‘hub’ global para fabrico de instrumentos electrónicos e sede das principais firmas tecnológicas do país, como o grupo de telecomunicações Huawei, a fabricante automóvel BYD ou o gigante da Internet Tencent. Apenas 1.200 candidatos são aceites a cada seis meses – o tempo de duração do programa. “A boa aparência é uma condição básica”, revela Nikky. Os jovens, alguns adolescentes, moram em regime de internato, e treinam e estudam até doze horas por dia, incluindo canto, dança, relações públicas, etiqueta, maquilhagem ou desporto. “Os artistas têm uma dieta e rotina de exercício físico rigorosa: nós é que definimos a alimentação”, descreve a administradora. O peso é verificado “diariamente” e sair com amigos “não é autorizado”. “Se eles querem ser artistas, têm que estar dispostos a sacrificar tudo”, aponta. Regras do jogo A promotora não cobra propinas, mas fica com um valor gerado pelas futuras performances dos artistas nos mais de 600 espaços de entretenimento que gere em toda a China, incluindo restaurantes, bares, discotecas ou clubes da karaoke. A febre pelo pop na China advém da vizinha Coreia do Sul, onde a multibilionária indústria K-pop criou já alguns sucessos mundiais, como as bandas BTS (Bangtan Boys) e Black Pink ou o artista PSY. A indústria é ainda impulsionada por concursos televisivos de talentos como Super Girl ou Voice of China, no qual Nikky participou, e que permitem criar estrelas pop da noite para o dia, alimentando o sonho de milhões de jovens chineses. A Star Master tem alunos a participar em concursos por toda a China. “Alguns deles tornam-se famosos, outros desaparecem”, conta Nikky. Os fãs podem ser adolescentes (“uma geração louca”), mas também mães, nascidas nos anos 1970 ou 1980. “Existe o clube Fãs Mães. Elas não apreciam tanto a música, mas mais a imagem: a boa aparência dos artistas”, revela. À semelhança de outros agentes culturais, e apesar de privada, a Star Master Entertainment ostenta nos seus escritórios painéis com as directrizes do Partido Comunista Chinês, lembrando que, na China, a criatividade cultural deve obedecer aos “valores socialistas”. Tatuagens, por exemplo, são proibidas, seguindo uma ordem do Governo chinês, no ano passado, que abrange todas as figuras públicas do país, incluindo músicos, actores ou futebolistas. Mas Nikky desdramatiza: “Não é como há vinte anos. As gerações mais novas não sentem tanta pressão ideológica”. Mas admite que por vezes as letras têm que ser alteradas, excluindo conteúdo perceptível de ser “contra o comunismo ou a sociedade no geral”. É um “acordo tácito”, diz. “Desde que não vás contra o Governo, o Governo não vai contra ti”, sintetiza.
Hoje Macau ReportagemHong Kong | Moisés ou como usar a religião [dropcap]À[/dropcap] frente do protesto ‘religioso’ de sábado em Hong Kong, havia um manifestante destacado entre os demais. Intitula-se Moisés e exibe num cartaz os “cinco mandamentos” do movimento pró-democracia. O cuidado na escolha de todos os acessórios para ‘encarnar’ a figura bíblica esconde também a vontade de não querer ser identificado. “Eu sou um mensageiro. O meu nome é Moisés e tenho uma mensagem para a população de Hong Kong: são os cinco mandamentos”, disse à Lusa. Os ‘mandamentos’ são inspirados nas cinco reivindicações do movimento pró-democracia : “Retirem a lei ‘chinesa’ da extradição; revoguem o termo motim; retirem todas as acusações que pendem sobre os manifestantes; criem uma comissão independente de inquérito [à actuação da polícia], e finalmente, o 5.º mandamento, verdadeira democracia para a população de Hong Kong”, enumerou o manifestante. Um dos pontos de ‘peregrinação’ foi a Catedral de São João, com muitos dos manifestantes a transformarem-se em ‘devotos fiéis’ para reforçarem o cariz ‘religioso’ da manifestação, para “rezar pelos pecadores’. Os bancos de madeira da igreja anglicana foram oferecendo descanso aos manifestantes que iam entoando cânticos de inspiração religiosa, entre estandartes onde se podia ler “Sigam Cristo: Fé na cidade”. A manifestação terminou junto aos acessos para a residência da chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, cortados pela polícia antimotim. Uma manifestante mais idosa ajoelhou-se, ou para rezar ou para meditar, a poucos metros das forças de segurança, munidas de espingardas, escudos e bastões. ‘Moisés’ juntou-se à idosa e, à distância, dirigiu-se aos polícias: “Deus abençoe a polícia de Hong Kong. Vocês serão protegidos do perigo. Tenham fé no vosso juramento”. Lusa (editado)
Hoje Macau ReportagemHong Kong | Moisés ou como usar a religião [dropcap]À[/dropcap] frente do protesto ‘religioso’ de sábado em Hong Kong, havia um manifestante destacado entre os demais. Intitula-se Moisés e exibe num cartaz os “cinco mandamentos” do movimento pró-democracia. O cuidado na escolha de todos os acessórios para ‘encarnar’ a figura bíblica esconde também a vontade de não querer ser identificado. “Eu sou um mensageiro. O meu nome é Moisés e tenho uma mensagem para a população de Hong Kong: são os cinco mandamentos”, disse à Lusa. Os ‘mandamentos’ são inspirados nas cinco reivindicações do movimento pró-democracia : “Retirem a lei ‘chinesa’ da extradição; revoguem o termo motim; retirem todas as acusações que pendem sobre os manifestantes; criem uma comissão independente de inquérito [à actuação da polícia], e finalmente, o 5.º mandamento, verdadeira democracia para a população de Hong Kong”, enumerou o manifestante. Um dos pontos de ‘peregrinação’ foi a Catedral de São João, com muitos dos manifestantes a transformarem-se em ‘devotos fiéis’ para reforçarem o cariz ‘religioso’ da manifestação, para “rezar pelos pecadores’. Os bancos de madeira da igreja anglicana foram oferecendo descanso aos manifestantes que iam entoando cânticos de inspiração religiosa, entre estandartes onde se podia ler “Sigam Cristo: Fé na cidade”. A manifestação terminou junto aos acessos para a residência da chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, cortados pela polícia antimotim. Uma manifestante mais idosa ajoelhou-se, ou para rezar ou para meditar, a poucos metros das forças de segurança, munidas de espingardas, escudos e bastões. ‘Moisés’ juntou-se à idosa e, à distância, dirigiu-se aos polícias: “Deus abençoe a polícia de Hong Kong. Vocês serão protegidos do perigo. Tenham fé no vosso juramento”. Lusa (editado)
Hoje Macau ReportagemProtesto no aeroporto de Hong Kong, da caça a polícias chineses infiltrados às fotos de Carrie Lam nos urinóis Reportagem de João Carreira [dropcap]O[/dropcap] protesto de ontem no aeroporto de Hong Kong ficou marcado por momentos de tensão e descompressão entre os manifestantes, ilustrados na ‘caça’ a supostos polícias chineses infiltrados e nas fotografias da chefe do Governo colocadas nos urinóis. Entre as rondas de recolha do lixo que se acumulava no terminal 1 do aeroporto, as explicações aos passageiros – sobre a motivação dos protestos -, e a distribuição de comida e bebida, os jovens manifestantes protagonizaram alguns momentos de tensão. Em duas ocasiões, uma à tarde e outra ao início da noite (hora local), centenas de jovens que participaram no protesto rodearam dois homens, acusando-os de serem polícias do interior da China infiltrados entre os manifestantes, que os manietaram e agrediram, obrigando um deles a receber tratamento hospitalar. Mais tarde, foram divulgadas algumas imagens nas redes sociais de documentos de identificação de pelo menos um destes homens que confirmariam, alegadamente, as suspeitas dos manifestantes. Um dos alvos dos protestos pró-democracia que duram desde o início de Junho em Hong Kong é a chefe do Governo, Carrie Lam, cuja imagem foi colocada em cada um dos urinóis, uma acção que motivou alguns sorrisos entre passageiros e manifestantes, que se deslocaram ao local propositadamente para filmarem ou tirarem fotografias. Ao final da tarde, na área onde se efectua o ‘check-in’, uma jovem manifestante sentava-se junto a uma passageira brasileira que ficara retida no aeroporto, na viagem de regresso a São Paulo, via Joanesburgo. A manifestante, de apelido Ng, que se juntou ao protesto depois de concluir uma jornada de trabalho numa empresa próximo do aeroporto, explicava a razão da manifestação, junto à brasileira que desconhecia a natureza das reivindicações. A jovem de Hong Kong explicou que o Governo não tem ouvido as reivindicações dos manifestantes e que esta nova fase dos protestos procura pressionar as autoridades através de acções com impacto económico. Ng reiterou as acusações de violência policial ao longo dos quase dois meses de protestos, nos quais se começou com a exigência de retirada da lei de extradição, à qual se somaram as reivindicações de um inquérito independente à actuação policial, demissão de Carrie Lam e libertação dos detidos. Lisete Castro, do Estado brasileiro de Goiás, que participou numas olimpíadas de matemática em Taiwan e passou quatro dias em Hong Kong, chegou ao aeroporto para apanhar um voo com destino a Joanesburgo, onde fazia escala para o destino final, São Paulo. Sem saber cantonês, mandarim ou inglês, sem funcionários das companhias de aviação nos balcões de atendimento e sem qualquer informação sobre o voo, a brasileira estava conformada com as horas que adivinhava ter pela frente até conseguir entrar num avião: “O que não tem remédio, remediado está”, disse, com um sorriso cansado. Após o caos que se viveu no aeroporto, sobretudo durante a tarde, a calma reinava ao final da noite em ambos os terminais, muito por culpa de uma acção policial que dispersou os jovens que protagonizaram o protesto pelo quarto dia consecutivo, depois das autoridades terem garantido junto de um tribunal uma providência cautelar na qual se determinava a retirada dos manifestantes da estrutura aeroportuária, segundo a imprensa local. Os protestos em Hong Kong duram há mais de dois meses e têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, com recentes dados a apontarem para um impacto económico na indústria de viagens na ex-colónia britânica. O clima de contestação social em Hong Kong resulta da apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica.
Andreia Sofia Silva ReportagemPilotos do raid terrestre Macau-Lisboa relembram a aventura passados 31 anos Foi há 31 anos que sete homens se fizeram à estrada com o objectivo de fazer o raid Macau-Lisboa. A viagem de jipe incluía atravessar, em 1988, uma China fechada ao mundo, sem telemóveis ou GPS, passando por zonas complicadas como o deserto de Gobi, Himalaias, Paquistão e Irão. O objectivo foi lembrar a presença portuguesa em Macau e o regresso do território à China, que aconteceria 11 anos depois João Severino partiu com João Queiroga, Jorge Barra, Vitalino Carvalho, José Babaroca, João Santos e Mok Wa Hoi, em três UMMs, nos primeiros dias de Março de 1988. [dropcap]A[/dropcap] ideia começou a germinar na cabeça de João Severino, à época jornalista da TDM e ex-director do Macau Hoje. Amante da velocidade, Severino sentia-se preso no pequeno território de Macau que não o deixava acelerar. Pensou arranjar jipes, atravessar pelas Portas do Cerco e desbravar caminho. Uma ideia que parecia impossível. Um dia, no Clube Militar, a coincidência uniu um conjunto de companheiros que partilhavam a mesma vontade. Mexeram-se cordelinhos para angariar apoios públicos e privados, onde se destaca o do empresário Ng Fok e do ex-governador Carlos Melancia, que agilizou muitas questões de ordem prática. À altura, corria o ano de 1988, só João Severino tinha experiência em automobilismo, tendo chegado a competir no Grande Prémio de Macau. Mas a falta de experiência ao volante não impediu que outros seis companheiros, João Queiroga, Jorge Barra, Vitalino Carvalho, José Babaroca, João Santos e Mok Wa Hoi lhe fizessem companhia naquele que foi o primeiro raid terrestre Macau-Lisboa. Em 50 dias percorrerem 22 mil quilómetros, com deserto, neve e conflitos pelo caminho. A viagem terminou na Torre de Belém no dia 25 de Abril de 1988, depois de ter partido das Ruínas de São Paulo, em Macau. “Quando chegámos a Lisboa, Mário Soares (à época Presidente da República) ainda esperou por nós, porque saíamos da capital às 5h da manhã e quase não podíamos andar. Custou-nos mais Covilhã-Lisboa do que Macau-Lisboa, porque a chuva era tanta e intensa que não víamos um metro à frente, com uma estrada horrível. Depois, Mário Soares anunciou que seríamos condecorados e fomos condecorados com ordem de mérito desportivo.” Anos depois, o primeiro raid terrestre Macau-Lisboa foi a aventura de uma vida para muitos, e, apesar das inúmeras peripécias, os jipes UMM chegaram intactos ao seu destino. “Naquele tempo, só para arranjar vistos e autorizações… o Irão estava em guerra com o Iraque, o Paquistão com o Afeganistão, e íamos atravessar a China pela primeira vez, quando o país era muito fechado. Não havia hotéis, telemóveis, helicópteros de apoio. Foi uma expedição que hoje, passados tantos anos, é considerada única no mundo”, recorda João Severino. Na China, todo o trajecto ficou definido pelas autoridades, como recorda João Queiroga, outro dos pilotos, à época presidente do Instituto do Desporto. “Durante ano e meio, a China negociou connosco porque era a primeira vez que passavam no país viaturas estrangeiras conduzidas por estrangeiros. A própria rota na China teve de ser negociada. Depois perceberam quem éramos e qual o nosso objectivo e, pela primeira vez, a China autorizou a nossa passagem por um trajecto que eles decidiram.” Isso implicou proibições de passagem. “Não podíamos passar pela trajectória até à URSS e também não podíamos ir muito para sul, porque havia ali problemas com a fronteira. Assim, seguimos pelos Himalaias, na única estrada de ligação por terra entre a China e o Paquistão.” “A viagem tinha uma simbologia muito grande. Queríamos fazer a ligação entre as Ruínas (de São Paulo) e a Torre (de Belém), e havia o simbolismo da presença lusa em Macau.” – João Queiroga Deserto e neve João Queiroga, hoje a residir em Portugal, foi um dos nomes mais envolvidos na organização da viagem, e fala do enorme simbolismo da odisseia de estrada. “Em 1986 houve uns aviadores que tentaram fazer a ligação entre Macau e Lisboa por monomotor, mas tiveram tanto azar. Quando estavam quase no fim da jornada, o avião aterrou num campo de arroz em Cantão.” Queiroga foi uma das pessoas que se encontrou com Jorge Barra e João Severino naquele dia decisivo no Clube Militar. “A viagem tinha uma simbologia muito grande. Queríamos fazer a ligação entre as Ruínas (de São Paulo) e a Torre (de Belém), e havia o simbolismo da presença lusa em Macau. Também fazíamos a representação da comunidade portuguesa em Macau nas celebrações do 10 de Junho em Lisboa.” Um ano antes, em 1987, havia sido assinada a Declaração Conjunta que determinava que Macau seria território chinês em 1999. Severino assegura que “o raid foi muito difícil”, e que pelo caminho viram a morte “mais de cinco vezes”. “Há uma altura em que chegámos ao deserto do Gobi (na China), com 70 graus de calor e 75 graus dentro do jipe. O Gobi tinha quase três mil quilómetros e a respiração começava a faltar, porque não tínhamos ar condicionado.” Depois, nos Himalaias, o problema foi o oposto. “A neve é uma coisa horrível, e chegámos a ter três metros de altura de neve acima do jipe. Não sabíamos onde estava a estrada, e um de nós ia à frente a bater com o ferro para ver onde estava duro. Porque caindo para o precipício, e eram precipícios de 500 metros de altura ou mais, morríamos logo”, acrescentou Severino. Vitalino Carvalho, médico urologista reformado, é o único dos pilotos que ainda reside em Macau. Ao HM, recorda a passagem pelo “Khunjerav Pass, a 4,693 metros na fronteira entre a China e o Paquistão”, depois de terem deixado o último posto fronteiriço chinês. “Durante horas, sozinhos na imensidão branca da neve que tombava, seguido pela descida da montanha até ao vale do primeiro posto paquistanês, por estradas ladeadas por precipícios profundos, onde só cabia um carro.” Os pilotos partiram, mas demoraram a dar notícias a quem tinha ficado à sua espera. “Só ao fim de dez dias é que conseguimos um telefone para ligar para Macau e dizer que estava tudo bem connosco. As famílias ficaram contentes, foi uma festa na rádio”, recorda Severino. O Irão e os blue jeans Era tudo anti-americano”, contou Severino. “Se apanhassem um maço de Marlboro levávamos um tiro, porque era americano. Faziam-nos perguntas malucas na fronteira. Até que, a certa altura, eu pergunto a uma guarda, mulher, se tinha estado nos EUA, porque vi os jeans dela da Levis. Aí, deixaram-nos passar.” Chegados ao Irão, os sete pilotos passaram por uma série de peripécias. As fronteiras constituíam quase sempre um problema. “Era tudo anti-americano”, contou Severino. “Se apanhassem um maço de Marlboro levávamos um tiro, porque era americano. Faziam-nos perguntas malucas na fronteira. Até que, a certa altura, eu pergunto a uma guarda, mulher, se tinha estado nos EUA, porque vi os jeans dela da Levis. Aí, deixaram-nos passar.” Era tudo anti-americano”, contou Severino. “Se apanhassem um maço de Marlboro levávamos um tiro, porque era americano. Faziam-nos perguntas malucas na fronteira. Até que, a certa altura, eu pergunto a uma guarda, mulher, se tinha estado nos EUA, porque vi os jeans dela da Levis. Aí, deixaram-nos passar.”[/caption] No país dos aiatolas, os três jipes eram mandados parar a cada 100 quilómetros por “miúdos drogados, cheios de cocaína”. Mas foi aí que se depararam com outra curiosidade. “Tínhamos de beijar a fotografia do aiatola. Perdi a cabeça quando vi um dos miúdos com uma arma que eu conhecia, e que me tinha espezinhado o passaporte. Foram os meus colegas que me seguraram. Depois percebi que Portugal, na língua do Irão, é laranja, e aí disseram-nos que espezinhavam os passaportes gozando com isso, como se fosse uma bola. E ainda por cima, os nossos fatos eram laranja. Riam, riam.” A passagem pelo país implicou ainda a dormida numa prisão. “Atravessámos o Irão com uma grande dificuldade. Dormimos no átrio de uma prisão, porque era o sítio mais seguro. As autoridades mandaram-nos para lá e dormimos num anexo. Depois guiámos mais 1200 quilómetros quase, eu sozinho a conduzir, já não via nada, porque tinha os meus companheiros doentes.” A condição feminina no Irão foi uma novidade para os pilotos. “Recordo o facto de nos depararmos com todas as mulheres do Aiatola Khomeini vestidas com o hijab e a roupa larga a cobrir o corpo de forma a não deixar mostrar as curvas femininas”, frisou Vitalino Carvalho. Este recorda também “o artifício feminino de na recepção do Consulado de Portugal, irem em linha directa para a casa de banho, a fim de vestirem e calçarem o último grito da moda de Paris”. Às portas da Europa, a Turquia também constituiu um problema. “Foi muito mau porque tínhamos de parar a toda a hora. Os polícias só queriam tabaco americano. Inventavam coisas para pararmos, íamos para a prisão, depois dávamos tabaco e seguíamos”, contou Severino. A partir daí, as dificuldades foram diminuindo. “A Bulgária foi uma surpresa, um país muito bonito. Jugoslávia fantástico, já aí não queriam nada com a URSS. Era um país diferente, com as mulheres mais bonitas do mundo. Em Itália descansámos porque vínhamos muito cansados. Ainda hoje tenho problemas de costas por causa disso, porque no deserto não se pode andar devagar, senão o jipe atola. O jipe dava 115 quilómetros por hora, como se fossemos no ar”, referiu o antigo jornalista. Marreiros relatava tudo “Custou-nos mais Lisboa-Covilhã do que Macau Lisboa, porque a chuva era tanta e intensa que não víamos um metro à frente, com uma estrada horrível.” – João Severino A viagem contou ainda com o apoio dos irmãos Marreiros. Se Vítor, designer gráfico, tratou da decoração dos jipes UMM, Carlos Marreiros, arquitecto, esteve quase a embarcar na viagem. Não o fez por motivos pessoais, mas ajudou nos relatos para os media e, mais tarde, ajudou na edição do livro. “Foram quase dois meses, aparecia sempre na televisão e nos jornais também. Apelidaram-me de raidista platónico, porque estava no ar, mas não sentia as dificuldades da viagem”, adiantou ao HM Carlos Marreiros. Por telefone, os pilotos iam relatando tudo ao arquitecto. “Fui tomando notas do que eles me diziam e do que iam fazendo. Diziam-me que tinham encontrado minhotas em terras do deserto do Gobi, depois contactaram com guerrilheiros e houve um encontro engraçado no Irão. Eles conheciam Portugal como orange, a terra da laranja, e os citrinos tem origem nos países árabes. E quando souberam que os jipes eram portugueses foram muito bem tratados”, aponta, numa referência à história de João Severino. O livro acabaria por ser publicado pelo Instituto Cultural (IC). “Fui apenas o braço-direito, porque as histórias são deles. Bons tempos, tinha tempo para conviver.” Décadas depois, e no ano em que Macau celebra 20 anos de transferência de soberania para a China, Vitalino Carvalho fala de um enorme companheirismo que vingou ao longo de toda a viagem. Carlos Marreiros assume que, se fosse feita hoje, todos os olhos do mundo estariam postos em Macau. “Não tínhamos nenhum propósito comercial, queríamos apenas conviver, fizemos tudo pelo gosto pela aventura e pelo desenrascanço. Mas havia um propósito cultural. Estávamos longe de pensar que os jipes UMM tivessem a performance que tiveram, sem avarias de maior. Se acontecesse num país estrangeiro seria muito noticiado e seria objecto de exploração de marketing. Hoje, com as redes sociais, teria mais impacto.” Vitalino Carvalho não duvida de que hoje voltaria a fazer o mesmo. “Quando partir o próximo carro, de preferência um UMM, mesmo velhinho e em segunda mão, dá-se um jeito e lá vamos outra vez.”
Hoje Macau ReportagemPortugal | Criadores de galgos dizem que polémica em torno das corridas “não passa de populismo barato” Reportagem de José Pedro Gomes, da Agência Lusa [dropcap]E[/dropcap]m Portugal, os criadores de galgos consideram que a intenção de alguns partidos políticos em proibir a realização de corridas com estes animais “não passa de populismo barato”, rejeitando as acusações de maus tratos aos cães. “É uma questão política, porque partidos como o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) ou o Bloco de Esquerda criaram um movimento contra esta actividade, mas sem conhecimento de causa. Não passa de um populismo barato”, afirmou à Lusa Vítor Costa, vice-presidente da Associação Galgueira e Lebreira do Norte. O dirigente garantiu que todos os criadores registados na associação, e que participam nas provas, “têm o máximo de cuidado com o bem-estar dos animais”, lembrando que esta é uma actividade que está “devidamente regulamentada”. “A associação é inflexível nas regras de tratamento destes cães. Todos têm documentos a comprovar o seu bom estado de saúde. Só pode participar quem tiver as devidas licenças. As regras são rígidas e as autoridades são envolvidas neste processo. Todas as provas são devidamente licenciadas”, garantiu Vítor Costa. Quanto à alegada existência de apostas ilegais em torno das corridas, o líder associativo também respondeu negativamente. “Da parte dos criadores não acontece. Isto é uma actividade lúdica, que se desenvolve por carolice, com pessoas que não têm fundo de maneio para se envolverem nessas coisas”, vincou Vítor Costa, que supervisionou a corrida que hoje aconteceu na freguesia de Estela, na Póvoa de Varzim, no distrito do Porto. A vontade dos criadores de galgos desmistificarem a polémica em torno da realização deste tipo de eventos foi presenciada no local pela agência Lusa, com vários a lembrarem que “corridas como esta, devidamente tuteladas e supervisionadas, podem ser presenciadas por toda gente”. “Qualquer um pode vir cá ver a forma como tratamos estes animais. E se, ainda assim, o PAN e o Bloco de Esquerda continuarem e mentir e dizerem que estes animais têm uma vida de sofrimentos, convido-os, desde já, a virem a minha casa e ver a forma como cuido dos meus galgos”, desafiou Susana Martins, criadora desta raça. Apaixonada por estes animais há vários anos, Susana garantiu que os seus cães “são diariamente acarinhados, bem alimentados e com condições de acomodação muito especiais”, vincando que “nunca são abandonados”. “Mesmo quando já não têm condições para correr, ficam connosco até ao fim da sua vida, e sempre muito mimados com tudo do melhor. São animais que, por instinto, gostam de correr, é genético, não são forçados a fazer. Sinto, até, que se não o fizessem seriam infelizes”, apontou a criadora. Para Susana Martins, toda polémica que se instalou recentemente “é um questão política de pequenos partidos que se querem impor e dar nas vistas, mas sem fazer o trabalho de casa”, considerando que se está a chegar a “extremismos”. “Qualquer dia vão querer proibir que a minha filha possa brincar com o cão e atirar-lhe uma bola para ele apanhar?”, ironizou. A acusação de maus tratos a estes animais é o que mais tem revoltado os criadores de galgos, e António Ressurreição, que há quase 50 anos está no meio, garante que são os próprios criadores a “supervisionarem-se mutuamente”. “Há como se fosse um código de honra que não nos permite compactuar ou estar indiferente aos maus tratos animais. Em tantos anos que levo disso nunca vi um ‘galgueiro’ fazer mal a um cão. Fala-se muito deste tema, mas sem conhecimento”, afirmou António Ressurreição. Embora não estando, actualmente, ligado à actividade de criador, que passou para outra geração da família, António, de 70 anos, ganhou o gosto pelos galgos através do seu pai, lembrando que, em Portugal, esta é uma actividade feita “meramente por prazer e pela paixão por estes animais”, deixando um desafio aos mais cépticos. “Tenho a certeza que os criadores são os maiores interessados em mostrar o gosto que têm por estes animais. E se os que têm dúvidas tiverem a inteligência de vir ao terreno e, até de surpresa, aparecer nas corridas ou em casa dos criadores, as portas estarão certamente abertas”, reiterou António Ressurreição. Em Macau o Governo encerrou as portas do Canídromo, local onde se faziam apostas em corridas de galgos, depois de várias denúncias de alegados maus tratos cometidos aos animais. A ANIMA concluiu recentemente um longo processo de adopção dos galgos que diariamente corriam na zona do Fai Chi Kei.