João Luz Manchete SociedadeDST | Macau não descrimina turistas “pobres” Helena de Senna Fernandes garante que todos os tipos de turistas são bem-vindos a Macau, incluindo os que não gastam uma pataca no território. A directora dos Serviços de Turismo defende que os desafios de redução dos gastos dos turistas devem ser combatidos com novos produtos turísticos e experiências culturais Depois do fim das restrições fronteiriças devido ao combate à pandemia, nasceu na China um fenómeno intitulado “turista de forças especiais”, que designa os visitantes que “picam o ponto” no maior número de pontos turísticos no mais curto espaço de tempo possível. O principal objectivo das “operações” é alimentar as redes sociais, gastando o mínimo possível de dinheiro. A directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, endereçou o tema, numa série de entrevistas de representantes do Governo a uma comitiva de jornalistas da Grande Baía. Em declarações citadas pelo portal HK01, a responsável admitiu que face à retração económica, as estimativas de consumo dos turistas foram revistas em baixa, mas garantiu que Macau recebe todos os visitantes de igual forma, independentemente da capacidade de compra. Porém, para contornar os desafios actuais, Senna Fernandes sublinha que são necessárias novas ideias, que incentivem os turistas, mesmo que os visitam Macau só por algumas horas, a levar uma lembrança do território. “Temos de proporcionar opções a todos os tipos de turistas, desde produtos das pequenas lojas de bairro, até às experiências de luxo, e oferecer vários cenários de consumo para todas as bolsas”, defendeu a responsável. A líder da DST aponta à área cultural como via para impulsionar o consumo dos turistas, com a organização de concertos e promoção de produtos de indústrias criativas para turistas, como lembranças. Dormir aqui e ali O turismo de “forças especiais” originou polémica em Hong Kong, com a divulgação de fotografias de turistas a pernoitar nos Macdonald’s da região vizinha, assim como no aeroporto. O mesmo aconteceu em Macau, com a partilha nas redes sociais de turistas a dormir nos relvados adjacentes ao Wynn Palace. Apesar da tendência, Helena de Senna Fernandes salientou que o sector do turismo mostra uma boa evolução. No ano passado, mais de 34,9 milhões de pessoas visitaram Macau, cerca de 90 por cento do nível antes da pandemia. Nos primeiros cinco meses deste ano, mais de 16 milhões de turistas visitaram o território, com a ocupação hoteleira a rondar 90 por cento. Em termos anuais, a directora da DST espera que o número de visitantes deste ano chegue aos 39 milhões. No primeiro trimestre deste ano, os gastos médios dos turistas que visitaram Macau voltaram a cair, com uma redução de 13,2 por cento em termos anuais, parte devido ao aumento dos excursionistas, que representaram quase 60 por cento das entradas no território nos primeiros três meses do ano.
Hoje Macau Manchete SociedadeEmprego | Macau com mais 3.000 TNR em 12 meses Nos últimos 12 meses, o número de trabalhadores não-residentes registou um aumento de 3 mil, segundo os dados revelados ontem pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) As empresas e famílias de Macau contrataram mais de três mil trabalhadores não residentes nos últimos 12 meses, foi ontem divulgado. De acordo com dados do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), no final de Maio, Macau tinha 183.783 trabalhadores sem estatuto de residente, mais 3.006 do que no mesmo mês de 2024. A mão-de-obra vinda do exterior, incluindo da China continental, atingiu em Maio o valor mais elevado desde Junho de 2020, no início da pandemia de covid-19. Desde o pico máximo de 196.538, atingido no final de 2019, antes da pandemia, e até Janeiro de 2023, a cidade perdeu quase 45 mil não-residentes, que correspondiam a 11,3 por cento da população activa. Em Janeiro de 2023, quando foi decretado o fim da política ‘zero covid’, que esteve em vigor em Macau e na China continental durante quase mais de três anos, Macau tinha menos de 152 mil migrantes, o número mais baixo desde Abril de 2014. As estatísticas, divulgadas pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, revelam que, desde o fim da política ‘zero covid’, o número de trabalhadores não-residentes aumentou em 31.905. O sector da hotelaria e da restauração foi o que mais contratou nos últimos 12 meses, ganhando 3.379 trabalhadores não-residentes, seguido do dos empregados domésticos (mais 1.553). A área da hotelaria e a restauração tinha sido precisamente a mais atingida pela perda de mão-de-obra durante a pandemia, tendo despedido mais de 17.600 funcionários não-residentes desde Dezembro de 2019. Visitantes em alta A cidade recebeu, em 2024, 34,9 milhões de visitantes, mais 23,8 por cento do que no ano anterior, mas ainda longe do recorde, 39,4 milhões, fixado em 2019, antes da pandemia. Já os estabelecimentos hoteleiros, acolheram mais de 14,4 milhões de hóspedes, um novo recorde histórico. A crise económica criada pela pandemia levou a taxa de desemprego a atingir 4 por cento no terceiro trimestre de 2022, o valor mais alto desde 2006. Apesar da subida do número de trabalhadores não-residentes, a taxa de desemprego manteve-se em 1,9 por cento no período entre Fevereiro e Abril. Ainda assim, vários deputados pediram ao Governo que obrigue as seis concessionárias de jogo a despedir parte da mão-de-obra vinda do exterior, para garantir o emprego dos 5.600 trabalhadores locais que trabalham nos 11 casinos-satélite que irão encerrar até ao final de 2025. Três das seis concessionárias – SJM, Galaxy e Melco – comunicaram às autoridades em 9 de Junho, que vão terminar até 31 de Dezembro a exploração dos 11 ‘casinos-satélite’ existentes no território. Os ‘casinos-satélite’ são geridos por outras empresas, sendo uma herança da administração portuguesa, que já existia antes da liberalização do jogo, em 2002.
João Luz Manchete PolíticaÁreas marítimas | Pedido alargamento de zona protegida O deputado dos Operários, Lam Lon Wai, considera que “os objectivos do planeamento marítimo de Macau” estão “bem definidos”, mas pergunta ao Governo se a zona de protecção pode ser alargada para preservar a biodiversidade e o ambiente. Recorde-se que o Zoneamento Marítimo prevê a construção de dois aterros de lixo ao largo de Coloane, em plena zona protegida Lam Lon Wai quer ver alargada as áreas marítimas protegidas, que representam uma proporção “relativamente baixa”, para salvaguardar com maior eficácia “a biodiversidade e os ecossistemas marítimos. Recorde-se o Zoneamento Marítimo Funcional da RAEM, que entrou em vigor há exactamente um ano (1 de Julho de 2024), estabeleceu apenas uma “zona especial protegida de Coloane”, que inclui as proximidades da Ponte Flor de Lótus, e praias de Cheoc Van e Hac Sá, a sul de Coloane. Além de perguntar ao Executivo se está a ser estudado o alargamento da zona especial protegida, o deputado dos Operários questiona se as autoridades têm outras formas de proteger os recursos naturais e o meio ambiente marinho. Numa interpelação oral divulgada ontem, o legislador demonstra preocupações sobre a qualidade das águas e o ambiente, sem mencionar “duas zonas funcionais, que são a zona para deposição de resíduos do Porto de Ká-Hó e a zona para deposição de resíduos a sul de Coloane”, conforme é indicado no zoneamento marítimo. Aliás, o aterro a sul das praias, intitulado como Ilha Ecológica pela Governo, foi alvo de críticas de ambientalistas devido ao impacto no habitat dos golfinhos brancos chineses. Marés estranguladas Apesar de não referir os depósitos de lixo ao largo das praias, o deputado afirma que “o planeamento das áreas marítimas de Macau continua a enfrentar diversos desafios”. “A nível ecológico, os aterros realizados nas zonas entre Macau e Zhuhai resultaram no estreitamento das águas dos canais do Porto Interior e de Shizimen, com consequente redução da amplitude das marés, da força das correntes marítimas e da capacidade de auto-purificação das águas marinhas”. As alterações provocadas pelos aterros “têm potenciado a degradação da qualidade da água, o surgimento de marés vermelhas, a diminuição dos mangais e a redução dos recursos ecológicos”, indica Lam Lon Wai. O deputado cita o director do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, Xia Baolong, que apresentou expectativas em relação ao uso e planeamento das áreas marítimas de Macau. Como tal, Lam Lon Wai questionou o Governo sobre planos de promoção do turismo relacionados com a ecologia marítima e preservação de ecossistemas, enquanto forma de diversificar a economia de Macau e reforçar a ligação entre os residentes e o mar.
João Santos Filipe Manchete PolíticaAssembleia Legislativa | Listas do sufrágio directo com 84 candidatos A maior parte dos candidatos provisórios às eleições de 14 de Setembro, pelo sufrágio directo, são homens, com uma proporção de 53 por cento. A média de idades dos candidatos é de 43 anos, variando entre os 20 anos e os 78 anos As listas provisórias de participantes no sufrágio directo das eleições legislativas de 14 de Setembro têm um total de 84 candidatos, 48 do sexo masculino e 36 do sexo feminino. As listas provisórias foram apresentadas na sexta-feira, numa altura em que ainda podem ser vetadas pela Comissão de Defesa da Segurança do Estado. A proporção de homens nas oito listas é de 53 por cento, enquanto a proporção de mulheres é de 47 por cento. A lista em que a representatividade masculina está mais presente é na União Promotora para o Progresso, ligada aos Moradores de Macau, com nove homens (90 por cento) e de 1 mulher (10 por cento) numa lista formada por 10 candidatos. No pólo oposto, a lista com uma maior representatividade feminina é a Aliança de Bom Lar, ligada à Associação das Mulheres, com 10 mulheres (71 por cento) e 4 homens (29 por cento), num total de 14 candidatos. Há duas listas em que a proporção entre homens e mulheres é igual, como acontece com a lista Poder de Sinergia, que apoia o deputado Ron Lam, e que apresenta três homens e três mulheres. A esta junta-se a lista dos Operários, a União para o Desenvolvimento, com seis homens e seis mulheres, em total de 12 candidatos. Entre as restantes quatro listas, há três em que os homens estão em maioria, como acontece com a lista Força da Livelihood Popular em Macau (quatro homens e três mulheres), Associação dos Cidadãos Unidos de Macau (seis homens e quatro mulheres), e União de Macau-Guangdong (11 homens e três mulheres). Além disso, há uma outra lista em que as mulheres estão em superioridade, a lista Nova Esperança (seis mulheres e cinco homens), ligada à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. Média de 43 anos As listas apresentadas têm uma média de idades de 43 anos, de acordo com os cálculos elaborados pelo HM e tendo como referência o dia de ontem. A lista com os membros mais novos é a Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, com uma média de 33 anos de idade. Entre esta lista destaca-se a candidata mais nova de todas, Ng Wan Hei, com 20 anos, que indica ser estudante. A jovem aparece no 10.º lugar, o último desta lista. No pólo oposto, a Nova Esperança é a mais envelhecida, com uma média de 59 anos. A lista liderada por José Pereira Coutinho tem o candidato mais velho do sufrágio directo, Melina Tam leng I, aposentada, com 78 anos, que surge no 5.º lugar da lista com 14 membros. Em termos da naturalidade dos candidatos, a maioria nasceu em Macau, 60 entre o total de 84, o que representa 71 por cento. Em relação aos restantes 24 candidatos, nascidos fora do território, a maioria nasceu no Interior, principalmente das províncias de Cantão ou de Fujian. No entanto, um dos candidatos é natural da Venezuela. Entre os 84 candidatos não há um único nascido em Portugal ou em qualquer outro país de língua portuguesa.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAnabela Santiago, académica: “A China é reformista e moderada” Anabela Santiago acaba de defender na Universidade de Aveiro a tese de doutoramento que analisa como a China se tem posicionado, nas últimas décadas, como actor importante na “Governança Global de Saúde”. Hoje, Pequim procura “mecanismos alternativos” de cooperação no “Sul Global” e tenta construir um modelo alternativo à Organização Mundial de Saúde Comecemos pelo conceito de governança global de saúde (GGS). Trata-se de um conceito mais contemporâneo ou relativo ao período do pós-II Guerra e fundação da Organização Mundial de Saúde (OMS)? Quais têm sido os principais actores desta governança até ao crescimento da China? A GGS é um conceito cuja proeminência e relevância cresceram significativamente no século XXI, em grande parte impulsionada pela globalização económica e pela interconexão mundial. Embora a saúde global tenha desde sempre transcendido as fronteiras nacionais, exigindo abordagens multidisciplinares e cooperação internacional, apenas a partir de da década de 1990 é que se tomou maior consciência dela. Historicamente, a GGS tem sido influenciada predominantemente por potências ocidentais e por valores neoliberais. Os principais actores desta governança, até ao crescimento da China, foram historicamente marcados por intervenções de entidades como a OMS e organizações não-governamentais, predominantemente norte-americanas e europeias. Uma das conclusões da sua tese de doutoramento é que a China tem vindo a posicionar-se de forma progressiva nessa liderança. Esse posicionamento começou concretamente quando e porquê? Sim, a China tem-se posicionado progressivamente como um actor de relevo na evolução do sistema de GGS. Embora não seja possível apontar uma data exacta de início, a China evoluiu de um país relativamente isolado para um actor principal nas arenas política, económica e tecnológica globais. A sua crescente influência económica e política representa uma mudança também na dinâmica histórica da GGS, sendo que já na década de 1960 a China tentava ter um papel de assistência humanitária em saúde nos países vizinhos e em África. A tese destaca que a experiência da China pode ser vista como um exemplo do que é alcançável quando um Estado escolhe o seu próprio caminho em vez de um modelo pré-estabelecido, alinhando-se com a previsão do século XXI como o “Século da Ásia”. Os anos da pandemia influenciaram esse posicionamento? De que forma? A pandemia de covid-19 realçou a necessidade de cooperação global em saúde, bem como as consequências potenciais da falha em priorizar a saúde global. A tese explora a evolução da Rota da Seda da Saúde antes e depois da pandemia, indicando que os anos da pandemia permitiram uma maior conscientização da necessidade de instrumentos como a Rota da Seda da Saúde como plataformas de cooperação mais efectiva entre as Nações. Embora não esteja detalhado nesta secção específica, é implícito que a pandemia intensificou a actuação da China na diplomacia da saúde e na assistência ao desenvolvimento em saúde. Olhando para as reformas internas que a China tem levado a cabo na área da saúde, quais destaca como mais importantes? Abordo, na tese, as reformas do sistema de saúde da China e destaco que o modelo de governança chinês é uma combinação única de reformas económicas orientadas para o mercado e desenvolvimento liderado pelo Estado, incorporando elementos de neoliberalismo e autoritarismo nas questões políticas em geral, sendo que o sector da saúde não é diferente em nada dos restantes. Uma das contribuições da China mencionadas, reconhecida pela OMS, é o seu modelo de atenção primária à saúde baseado na reconhecida boa prática dos “barefoot doctors” (médicos pés descalços). Além disso, a tese analisa as principais políticas de reforma e o seu progresso e desafios no período de 2009-2018, que compreendem as reformas dos cuidados de saúde primários, a reforma hospitalar e farmacêutica. O programa “Healthy China 2030” também é um referencial importante e ambicioso das reformas domésticas da China em matéria de saúde, abarcando igualmente os determinantes sociais. É intenção de Pequim criar uma entidade alternativa à OMS, ou simplesmente criar um movimento alternativo que possa coexistir com a OMS, no contexto do relacionamento com o Sul Global? Como poderia isso funcionar? A tese sugere que a China adopta uma “abordagem dual”: ao mesmo tempo que se integra nas estruturas globais existentes, forja simultaneamente caminhos alternativos, particularmente através de alianças regionais como os BRICS e parcerias com o Sul Global. Isso indica uma intenção de criar um movimento alternativo que possa coexistir e complementar o papel da OMS, em vez de uma entidade alternativa directa. A China demonstra um claro compromisso em alinhar os objectivos da iniciativa “Belt and Road” com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, mostrando a sua vontade de apresentar estas iniciativas como complementos aos mecanismos de cooperação já existentes na ordem liberal internacional. A visão do Presidente Xi Jinping de uma “Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade”, que inclui a noção de “Comunidade Global de Saúde para Todos”, também aponta para uma nova perspectiva no âmbito da cooperação internacional. Máscaras, vacinas e Medicina Tradicional Chinesa (MTC): quais os produtos ou instrumentos usados pela China para se posicionar como um actor cada vez mais global na GGS? A tese destaca que a China é um provedor indispensável de bens públicos globais de saúde, essenciais para a cadeia de suprimentos de produtos, como é o caso das máscaras e das vacinas. A MTC também é mencionada como um dos grandes contributos da China para a governança global da saúde, com os seus tratamentos derivados de ervas chinesas, alguns dos quais já reconhecidos pela OMS em 2017. Além disso, a assistência médica chinesa e as equipas médicas enviadas para outras regiões do globo são instrumentos importantes da diplomacia da saúde chinesa. Na criação de um movimento ou realidade alternativa à OMS, a China poderá estar a tirar partido da falta de uma representatividade plena nessa mesma OMS, ou lacunas no seu funcionamento? A tese não aborda directamente se a China está a tirar partido de uma falta de representatividade plena na OMS ou de lacunas no seu funcionamento. No entanto, ela enfatiza que o trabalho visa preencher uma lacuna no conhecimento científico em relação ao paradigma da governança da saúde de uma perspectiva não-ocidental e liberal, dando ênfase à China como actor do Sul Global. Isto sugere que a China procura fortalecer modelos alternativos que podem oferecer soluções mais personalizadas para desafios de saúde, diferentes dos defendidos pelos países ocidentais, posicionando-se como um actor reformista moderado. De que forma a política externa da União Europeia (UE) em relação à China tem afectado ou influenciado este posicionamento do país na governança global da saúde? Na tese, a quarta publicação, intitulada “Challenges on the European Union-China cooperation in higher education from ‘people-to-people dialogue’ perspective: The case of health-related joint projects”, explora a cooperação no ensino superior, em particular aquela que inclui projectos relacionados com a saúde. Verifica-se, pois, que, apesar do diálogo estratégico e económico, a deterioração das relações bilaterais UE-China intensificou-se, com a Comissão a assumir um declínio de entusiasmo devido a “contramedidas da China às sanções da UE em direitos humanos, coerção económica e medidas comerciais contra o mercado único, e o posicionamento da China na guerra na Ucrânia”. Embora se reconheçam desafios e tensões, a cooperação no ensino superior, incluindo projectos de saúde, é vista como parte de um quadro mais amplo de construção de parceria estratégica entre a UE e a China. No entanto, evidencia-se que não existe uma longa tradição de cooperação em saúde entre a UE e a China no ensino superior, e que existem poucos projectos conjuntos em comparação com o panorama geral. Sugere-se que tanto a UE como a China deveriam fazer mais esforços para alinhar os currículos de estudos médicos e promover mais pesquisa conjunta em áreas relacionadas com a saúde, doenças infeciosas, entre outros. Na era Trump 2.0, e sem pandemia, qual poderá ser o papel da China na governança global da saúde? Embora a tese seja publicada este ano, foca-se no período que antecede e inclui a pandemia, onde não especulo directamente sobre um cenário futuro de “Trump 2.0” sem pandemia. No entanto, a tese argumenta que a China não é apenas um participante, mas uma força reformista moderada na formação das normas de saúde globais. Independentemente de cenários políticos futuros, a sua crescente influência económica e política, a diplomacia estratégica em saúde, as reformas internas e iniciativas como a Rota da Seda da Saúde continuarão a moldar o seu papel na governança global da saúde. A visão de uma “Comunidade Global de Saúde para Todos” também permanece como um princípio orientador para os esforços da China. Este poder da China na GGS verifica-se mais com acordos bilaterais ou multilaterais? A tese sugere que o poder da China na governança global da saúde se manifesta tanto através de acordos bilaterais quanto multilaterais, mas com uma ênfase crescente em certas formas de cooperação que fortalecem o seu papel no Sul Global e através de mecanismos alternativos. Embora a tese não quantifique explicitamente a predominância entre bilateral e multilateral, o foco nas alianças regionais (BRICS) e parcerias com o Sul Global (que frequentemente envolvem acordos bilaterais e iniciativas de cooperação de grupo) e a Rota da Seda da Saúde indicam uma abordagem híbrida.
Hoje Macau Manchete SociedadeDST | Quatro cidades brasileiras participam em festival de gastronomia Quatro cidades brasileiras, Florianópolis, Belém, Paraty e Belo Horizonte, vão participar na Festa Internacional da Cidades de Gastronomia, em Macau, entre 11 e 20 de Julho. O evento, que irá reunir 56 cidades de 21 países, irá decorrer na Doca dos Pescadores No Brasil existem “apenas quatro cidades” reconhecidas como Cidades Criativas em Gastronomia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) e “todas elas vão estar aqui”, sublinhou a directora dos Serviços de Turismo (DST). Numa conferência de imprensa, Maria Helena de Senna Fernandes, disse que “o evento reunirá 34 das 56 Cidades Criativas da UNESCO em Gastronomia oriundas de 21 países distribuídos por seis continentes”. A dirigente lamentou que a cidade de Santa Maria da Feira, em Portugal, tenha decidido não se juntar ao festival. As cidades participantes irão enviar ‘chefs’ para realizar demonstrações culinárias para o público na Praça do Coliseu Romano e no Legend Boulevard da Doca dos Pescadores. A edição deste ano vai ter como tema “Especiarias e Ervas Aromáticas” e irá centrar-se no papel das especiarias e ervas aromáticas como ingredientes essenciais nas culinárias de todo o mundo. “Haverá mais de 100 bancas, das quais 25 do Interior da China (incluindo de Chengdu, Shunde, Yangzhou, Huai’an e Chaozhou), nove da Ásia (incluindo de Phuket, da Tailândia; Hatay, da Turquia; Buraidah, da Arábia Saudita, e Iloilo, das Filipinas) e 52 de Macau com gastronomia local”, disse a DST. Unidos pelo paladar Além disso, as palestras do Fórum Internacional de Gastronomia realizar-se-ão no dia 14, sob o tema “O Sabor da Vida: Conexões Culinárias de Macau”. O evento tem um orçamento de 27,8 milhões de patacas. A RAEM é reconhecida como Cidade Criativa da Gastronomia pela UNESCO desde 2017. Na altura, a organização sublinhou a “experiência importante” que Macau tem na realização de eventos de grande escala relacionados com a gastronomia, como “o Festival de Gastronomia de Macau; um evento marcante que reúne chefes locais e internacionais e as principais partes interessadas do sector de toda a Ásia e Europa”. “Outros festivais importantes são o Festival da Lusofonia, que promove e troca conhecimentos culturais entre os países e regiões de língua portuguesa, e o Festival de Cozinha e Cultura de Myanmar e do Sudeste Asiático”, referiu a UNESCO.
João Luz Manchete SociedadeBurla | Polícias de Macau e HK desmantelam rede criminosa Uma operação conjunta de Macau e Hong Kong desmantelou uma rede criminosa que se dedicava a burlas telefónicas. Foram detidas sete pessoas que alegadamente burlaram, pelo menos, 168 pessoas em mais de 20 milhões de dólares de Hong Kong. Os burlões fingiam pertencer ao apoio do cliente da Alipay As polícias de Macau e Hong Kong detiveram sete pessoas suspeitas de pertencerem a uma rede de burlas telefónicas, que terão alegadamente defraudado, pelo menos, 168 vítimas nos dois territórios em mais de 20 milhões de dólares de Hong Kong. Numa conferência de imprensa realizada na sexta-feira, a Polícia Judiciária (PJ) de Macau revelou ter detido ao longo da semana três suspeitos, dois homens oriundos da Malásia e uma mulher indonésia. A operação conjunta foi anunciada menos de um mês depois uma operação, que atravessou sete jurisdições na Ásia, resultando na detenção de 1.858 pessoas ligadas a redes de fraudes e burlas. A operação, que envolveu autoridades de Hong Kong, Macau, Coreia do Sul, Tailândia, Singapura, Malásia e Maldivas, interceptou verbas com origem nos esquemas das redes no valor de 150 milhões de dólares de Hong Kong. Segundo a PJ, a rede liderada por indivíduos da Malásia fazia chamadas em que se faziam passar por funcionários de uma linha de apoio ao cliente da Alipay. As autoridades adiantaram que os burlões trabalhavam com aparelhos que usam o Sistema Global para Comunicações Móveis para fazer chamadas para telemóveis, ocultando a origem da chamada. No terreno Em Macau, as autoridades deram conta da existência de 35 residentes burlados em valores que variaram entre 500 mil e 2.68 milhões de patacas. Segundo as autoridades, os dois homens instalaram os equipamentos para fazer chamadas telefónicas em dois apartamentos, um na zona norte da península, e outro na zona central no bairro San Kio. Um dos suspeitos trabalhava num posto de abastecimento de gasolina, o outro indivíduo de nacionalidade malaia estava desempregado, enquanto a mulher da Indonésia trabalhava como empregada doméstica. O papel desta última seria receber em três contas bancárias o dinheiro das vítimas. Entre os dias 13 e 14 de Junho, as contas da suspeita terão recebido cerca de 1 milhão de patacas. A PJ revelou ter começado a receber queixas de vítimas a partir de meados de Abril. No passado dia 21 de Junho, um dos suspeitos entrou em Macau através do posto fronteiriço das Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e dirigiu-se ao bairro San Kio onde se encontrou com o outro suspeito, a quem terá entregue um saco, que as autoridades suspeitam conter os equipamentos para esconder a origem das chamadas. No dia seguinte, os dois homens foram detidos, um deles no aeroporto quando se preparava para sair do território. A mulher oriunda da Indonésia, foi detida na passada quinta-feira. Os três detidos foram transferidos para o Ministério Público, por suspeitas da prática dos crimes de burla, lavagem de dinheiro, associação criminosa e utilização de dispositivo informático para simular estação de serviços de telecomunicações móveis.
João Santos Filipe Manchete PolíticaDSAL | Ella Lei não quer falsos anúncios de empregos A deputada Ella Lei indica que a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) promove entrevistas de emprego com condições simuladas, que depois não se concretizam, e apenas visam que os empregadores obtenham autorizações para a contratação de não residentes A deputada Ella Lei apelou ao Governo que tome medidas para combater os anúncios de emprego promovidos pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) com condições simuladas que apenas visam obter a autorização para a contratação de trabalhadores não-residentes. O assunto é abordado através de uma interpelação escrita da legisladora ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Na interpelação, a deputada cita a queixa de vários trabalhadores da construção civil que se encontram desempregados devido ao fim das obras em que participavam. De acordo com estes relatos, a DSAL promove as entrevistas de emprego junto dos desempregados, porém, quando estes vão encontrar-se com os potenciais empregadores as condições apresentadas diferem dos anúncios ou apresentam novas exigências consideradas inaceitáveis. “Segundo as queixas dos trabalhadores de construção civil […] a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais arranjou-lhes entrevistas de empregos para novas obras. No entanto, os empregadores apresentaram exigências que não são razoáveis, com o objectivo de levar os entrevistados a desistir do emprego”, relatada Ella Lei. Outra situação ligada aos empregos promovidos pela DSAL, visa a contratação para posições diferentes das prometidas. De acordo com o documento assinado por Ella Lei, num dos casos um residente foi contratado como carpinteiro. Todavia, no local de trabalho o residente teve de desempenhar as funções de soldador, sem que a empresa lhe tivesse fornecido qualquer formação ou preparação. Como consequência, o homem acabou por ser acusado de não saber desempenhar o trabalho e de ser um executante muito lento. Serviço de acompanhamento Face aos casos apresentados, Ella Lei defende que ao Governo não basta prometer que as obras públicas vão dar prioridade ao emprego dos residentes, também é necessário acompanhar a implementação das promessas e garantir que a prioridade é concretizada. A legisladora quer que o Governo assegure que as condições prometidas não divergem do que tinha sido anunciado e que a contratação não é apenas a tempo parcial, mas a tempo inteiro. “Quando a DSAL organiza a promoção de ofertas de emprego, quais são os mecanismos para supervisionar as condições das ofertas, incluindo o período pós-contratação, assim como as garantias tratamento e o mecanismo para impedir recrutamentos simulados?”, questionou. Ella Lei recorda ainda a promessa do Governo de definir uma proporção mínima de trabalhadores locais, de forma a assegurar a prioridades dos trabalhadores locais no acesso ao emprego. “No futuro, como é que o Governo vai concretizar a prática de forma a aumentar as oportunidades de emprego dos residentes nas obras e serviços públicos?”, perguntou.
João Santos Filipe Manchete PolíticaRádio Táxi | Comissariado de Auditoria aponta falhas na inspecção da DSAT O Comissariado de Auditoria apontou sérias falhas de fiscalização à DSAT e ao cumprimento das exigências estabelecidas no contrato de concessão da Rádio Táxi. A empresa ficou quase um quarto aquém dos táxis que deveria operar, o sistema de marcações não cumpriu as exigências contratuais e ficaram multas por aplicar O Comissariado de Auditoria (CA) acusou a Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) de permitir que a Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau circulasse com menos veículos do que os definidos no contrato de concessão. Além disso, apesar das falhas terem sido verificadas, a DSAT perdoou duas vezes a aplicação de sanções à concessionária pelo não cumprimento das obrigações contratuais. Os táxis especiais visam permitir a marcação de um veículo de transporte por telefone, ou através da central de táxis, e também servir pessoas que precisam de cuidados especiais de deslocação. Para satisfazer estas necessidades, o Governo apostou num sistema de concessão, realizado através de dois concursos públicos em que a vencedora foi sempre a Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau, apesar de haver diferentes propostas. No entanto, o CA veio agora apontar que a DSAT permitiu que a concessionária circulasse com menos veículos do que os exigidos, além de ter ajustado os critérios de avaliação, para evitar multar a concessionária. “O CA constatou que, após o cálculo, a Concessionária não cumpriu o critério definido durante um largo período de tempo, sendo o problema particularmente grave durante os horários de pico diurnos de tráfego”, consta no relatório revelado na sexta-feira. “No entanto, a DSAT não só não fiscalizou adequadamente a operação dos táxis especiais, como também, ajustou, por sua própria iniciativa em duas ocasiões distintas, o critério do ‘número mínimo de veículos em operação’, com base na explicação da Concessionária de que o envelhecimento dos veículos estava a afectar a operação dos táxis especiais e no facto de ainda existirem vários horários de inelegibilidade em que se encontrava um determinado número de veículos ‘em espera’ a circular […], o que prejudicou a realização do interesse público”, foi acrescentado. Redução de 24% Como parte dos dois contratos de concessão entre o Governo e a Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau deveriam ter sido colocados em circulação 100 táxis com cor azul, entre os quais 85 táxis com a capacidade regular, 10 com maior capacidade, e cinco com equipamentos de acesso especiais. Além destes, deveriam ainda circular 200 táxis com cor vermelha, entre os quais 173 com dimensões regulares, 10 com maior capacidade, 10 com equipamento mecânico de acesso e sete com acesso especial. Todavia, como resultado do critério mais permissivo, o CA indica que, por exemplo, em Janeiro de 2025, em termos dos táxis vermelhos, a oferta foi reduzida em 24 por cento, praticamente um quarto dos veículos do que deveriam ter circulado. Ao mesmo tempo, o relatório indica que o serviço de marcações por telefone não foi concretizado como estipulado no contrato e que também não foi alvo de fiscalização por essa falha. Na perspectiva do CA, as falhas resultaram “do não cumprimento, por parte da DSAT, das suas atribuições de fiscalização”. “É claramente injusto para os concorrentes e potenciais concorrentes que acreditaram e cumpriram as regras de boa fé, se se permitir que a Concessionária não cumpra as regras depois de passar por um rigoroso processo concursal, uma vez que as dificuldades encaradas durante a operação não devem ser utilizadas como razões subsequentes pela Concessionária para o incumprimento das cláusulas operacionais previamente estabelecidas e acordadas”, foi acrescentado. A CA questiona também o facto de a empresa Rádio Táxi ter vencido o segundo concurso público de concessão quando algumas das falhas já deveriam ter sido conhecidas pela DSAT. Raymond Tam anunciou investigação Após ter sido conhecido o relatório, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam Va Man, revelou que ordenou uma investigação interna às falhas na fiscalização e que vão ser tomadas medidas para corrigir os problemas. “O Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Tam Vai Man, atribui elevada importância às irregularidades identificadas no relatório de auditoria […], sublinhando que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) assume plena responsabilidade pelo ocorrido e que será instaurado um procedimento de investigação interna”, foi comunicado. “Foram dadas instruções à DSAT para proceder a uma revisão abrangente de todos os procedimentos, regulamentos e regimes actuais relativos à fiscalização do serviço de táxis especiais, assegurando o acompanhamento rigoroso e diligente das observações e recomendações apresentadas no relatório de auditoria. Serão adoptadas medidas práticas e eficazes para reforçar e aperfeiçoar a fiscalização da operação dos táxis especiais, corrigindo as deficiências identificadas e garantindo a salvaguarda do interesse público”, foi acrescentado. Raymond Tam prometeu ainda que o assunto vai ser tratado “sem qualquer tolerância”. Por sua vez, a DSAT, liderado por Lam Hin San, indicou que foi exigida a correcção das falhas verificadas e que o assunto mereceu a maior atenção.
Hoje Macau Entrevista MancheteFórum Macau | Secretário-geral diz que nunca se discutiu alargamento a países hispânicos Numa entrevista à agência Lusa, o secretário-geral do Fórum Macau, Ji Xianzheng, garantiu que “nunca discutiu” o alargamento da acção aos países hispânicos, mas que a concretizar a vontade já enunciada pelo Governo de Sam Hou Fai terão de ser as autoridades a decidir um novo rumo à estratégia de cooperação O secretário-geral do Fórum Macau afirmou que a instituição “nunca discutiu” a criação de uma entidade para alargar aos países hispânicos serviços de promoção de cooperação económica semelhantes aos que presta à ligação entre a China e os países de língua portuguesa. “Dentro do Fórum Macau, nunca discutimos esse tema”, afirmou o secretário-geral do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, Ji Xianzheng. O responsável reconheceu que, “na sociedade, houve algumas conversas para discutir ou abordar a possibilidade de promover mais contacto e cooperação com os países da língua espanhola, mas, a nível do Fórum, nunca abordámos este tema”. O Executivo de Macau anunciou, em meados de Abril, a intenção de criar um centro para promover os serviços económicos entre a China e os países de línguas portuguesa e espanhola na vizinha zona económica especial de Hengqin. A ideia é proporcionar às empresas de países hispânicos serviços no “âmbito linguístico, jurídico, fiscal, de verificação da observância das normas, de formação, de arbitragem e de mediação”, segundo o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong. Dias antes, o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, tinha também anunciado a intenção de “promover o intercâmbio e a cooperação”, através de Macau, entre a China e o universo de países de língua espanhola. Apesar de Macau querer alargar o foco aos países que falam castelhano, “o Fórum continuará a ser o Fórum para a China e os países da lusofonia”, garantiu Ji Xianzheng. O secretário-geral esclareceu que a instituição que dirige “pode aportar contributos para a maior abertura da Macau na cooperação internacional”, como é a intenção anunciada pelo novo Governo da RAEM. Fórum complementar Pessoalmente, o secretário-geral garantiu ter “todo o prazer em trabalhar com todas as partes”, mas sublinhou que essa é uma “decisão que cabe aos governos centrais tomar” e que o Fórum nunca foi contactado nesse sentido. “Sim, trabalhei na América Latina, em Espanha, nove anos em Madrid e em Caracas. Mas isto não é uma decisão de interesse pessoal, cabe aos políticos tomar a decisão”, afirmou, explicando que a ideia será promover a relação entre Macau e o Brasil e daí a outros países da América Latina, assim como, alargar a relação com Portugal à Espanha. “Não há limite. O Fórum de Macau é complementar. Não restringe nenhuma promoção da cooperação das outras partes”, disse. De acordo com o gabinete de comunicação do Governo de Macau, Sam Hou Fai admitiu no passado dia 21 de Junho que adiou para o Outono uma deslocação a Portugal, prevista para Julho, e que deverá também passar por Espanha e pela sede da União Europeia, em Bruxelas. Más interpretações Na mesma entrevista à Lusa, o secretário-geral do Fórum Macau imputou aos governos nacionais a responsabilidade pela condução das políticas de desenvolvimento e cooperação económica, sublinhando que a instituição “não tem projectos de investimento”. Ji Xianzheng atribui as críticas ao Fórum Macau a uma interpretação errada relativamente à missão do organismo. “O Fórum é um mecanismo de cooperação entre os governos centrais. Muita gente pensa que é ao secretariado que cabe a execução das políticas, mas temos um número de pessoas limitado”, acrescentou Ji. “O secretariado não tem projectos de investimento, é um mecanismo de preparação da conferência ministerial, de ligação com os governos, não é uma agência de promoção. Não foi pensado assim, faz ligação com as agências de promoção. Somos quatro pessoas enviadas pela China e um delegado por cada país”, concretizou. Na última conferência ministerial, em Abril de 2024, o então ministro da Economia português Pedro Reis defendeu que o Fórum e o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa deviam apostar mais nas pequenas e médias empresas (PME). O fundo de cooperação foi criado em 2013 pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Macau, com mil milhões de dólares, dos quais cerca de 60 por cento já foram investidos, segundo o secretário-geral. Planos de acção Ji Xianzheng admitiu que as PME são “um tema difícil para qualquer Governo” e que “a cooperação internacional para a promoção do desenvolvimento e cooperação das pequenas e médias empresas é ainda mais difícil. É um tema que está a ser debatido diariamente a nível mundial”. Porém, admitiu, “aqui, pouco”. “Mas está estipulado no plano de acção [2024-2026]. Cabe aos governos centrais e às câmaras de comércio, agentes de promoção, trabalhar conjuntamente para fazer isso. O secretariado assume a responsabilidade conforme autorizado pelos governos centrais, concretamente, no programa de actividades”, reforçou. Responsáveis políticos de vários países, incluindo Portugal, Angola e Moçambique, têm apelado a uma alteração das regras da candidatura ao fundo. As actuais regras obrigam, por exemplo, que os projectos candidatos tenham um investimento mínimo de cinco milhões de dólares, sendo que o Fundo apenas cobre 20 por cento do investimento total, remetendo o resto para os governos ou empresas. Ji Xianzheng afirmou que a nova direcção do Fundo “está empenhada em promover um investimento mais amplo, com melhor cobertura para todos os países do Fórum, [relativamente] aos projectos que têm um impacto estratégico ou significativo para o desenvolvimento socioeconómico dos países participantes”. Segundo o secretário-geral, “os termos de aplicação [das regras de acesso ao Fundo] vão ser mais flexíveis e as formas de aplicação também vão ser mais diversificadas”. “Em vez de ser só investimento directo, eles também estão a estudar formas de aplicar o fundo, em cooperação com outros fundos ou com outras instituições financeiras”, deu como exemplo. “Este fundo tem uma operação segundo as regras do mercado. Não é um fundo de ajuda humanitária. Por isso, tem que garantir o mínimo retorno de benefício. Mas, em cima disso, eles estão muito abertos para estudar, caso por caso, as condições de cada projecto”, acrescentou Ji Xianzheng, escusando-se, porém, a dar exemplos da “flexibilização das regras”. Sobre a aproximação do universo China e países da Península Ibérica, já cimentada nos discursos oficiais, a economista Maria Fernanda Ilhéu, presidente da Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda, disse ao HM, no início deste mês, que esta intenção é “muito objectiva e pragmática e pode resumir-se ao projecto de diversificação da economia de Macau, para a qual estão a convocadas empresas e investidores não só de Macau, mas também de países de língua portuguesa”. “Mas o facto é que as empresas e instituições de países de língua portuguesa não estão a ser eficazes na resposta a essa necessidade de Macau. Portanto, alargar às empresas e às instituições de língua espanhola esse convite para cooperação parece-me lógico”, disse a economista.
João Luz Manchete SociedadePJ | Primeira detenção por uso de “space oil” A Polícia Judiciária anunciou ontem a primeira detenção por tráfico de etomidato, a droga vulgarmente conhecida como “space oil”. O suspeito detido é um cidadão vietnamita, que foi apanhado com 635 gramas, cujo valor no mercado negro é de cerca de 37.000 patacas A Polícia Judiciária (PJ) fez a primeira detenção por suspeitas de tráfico de etomidato, a droga conhecida como “space oil” desde a revisão da legislação que passou a incluir a substância na lista de estupefacientes cuja venda e consumo constitui crime. Em conferência de imprensa, as autoridades revelaram que o detido é um homem vietnamita e que durante a operação policial, que ocorreu na quarta-feira, foram apreendidas várias garrafas contendo etomidato e líquido para cigarros electrónicos, com um peso total superior a 635 gramas. A PJ estima que as substâncias apreendidas tenham um valor de 37 mil patacas no mercado negro. Segundo o relato das autoridades divulgado pelo canal chinês da Rádio Macau, a investigação ao suspeito começou com uma denúncia. Uma equipa de agentes da PJ dirigiu-se ao domicílio do suspeito, na zona central da península, onde encontrou parafernália necessária para fazer os cigarros electrónicos com a droga. O material estava escondido no quarto do suspeito, nas escadas do prédio e até na caixa de correio. Após a realização de um teste rápido, a polícia identificou a substância como sendo “space oil”. As autoridades indicaram ainda, apesar da falta de cooperação do suspeito na investigação, que os clientes do homem detido eram conterrâneos do Vietname, que compravam cada cigarro electrónico com “space oil” por 1.000 patacas. Teste do ácido O director da PJ, Sit Chong Meng, revelou ontem que as autoridades da RAEM compraram nas regiões vizinhas testes rápidos que detectam em cerca de três minutos se uma pessoa consumiu “space oil”. O responsável indicou que a PJ tem estado atenta ao possível consumo da droga em campus universitários, mas também na comunidade, e que tem organizado programas de sensibilização para os perigos do consumo. O etomidato, um anestésico de curta acção, administrado por via intravenosa, utilizado principalmente em serviços de urgência, unidades de anestesia, salas de cirurgia e unidades de cuidados intensivos. A substância entrou no radar das forças policiais da região depois da morte de, pelo menos três pessoas em Hong Kong, situação que levou a região vizinha a aumentar as penas para quem produz e trafica “space oil”. Em Macau, antes da entrada do etomidato na lista de substâncias proibidas, foram encontrados cinco casos de consumo, um deles envolvendo dois adolescentes com 16 e 18 anos.
João Santos Filipe Manchete SociedadeImobiliário | Pedidas políticas para atrair investidores Os presidentes de duas associações ligadas ao sector imobiliário pedem ao Executivo de Sam Hou Fai que siga os exemplos de Hong Kong e do Interior, para trazer capitais de fora que invistam nas compras e arrendamentos de habitações Face à contracção do mercado imobiliário, alguns dirigentes de associações locais defendem que o Governo deve lançar medidas para atrair investidores de fora. As ideias foram defendidas por Ip Kin Wan, presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau, e Lok Wai Tak, presidente da Associação Comercial de Fomento Predial de Macau, em declarações ao jornal Ou Mun. Na perspectiva de Ip Kin Wan, Macau atravessa uma grave crise ao nível do sector imobiliário, pelo que deve seguir os exemplos do Interior e de Hong Kong, na forma como lidaram com as dificuldades neste sector e nos mercados bolsistas, através de medidas de estímulo. Ip realçou que as notícias mais recentes são negativas para o imobiliário, uma referência implícita ao encerramento dos casinos-satélite, pelo que considera que o Governo deve pensar em outras formas de promover a procura neste mercado. Uma das sugestões do dirigente da associação passa pela adopção de medidas para atrair quadros qualificados com uma forte capacidade financeira, assim como investidores de fora. “Actualmente, as cidades de primeira e segunda categorias do Interior e Hong Kong estão a atrair activamente quadros qualificados e fundos mundiais”, referiu o dirigente. “Só através da atracção destes quadros qualificados e investidores é possível impulsionar o consumo, gerar mais vendas de habitação, contratos de arrendamento e outras necessidades de alojamento. Se o sector imobiliário estiver mais activo, também os sectores bancário, jurídico, construção, engenharia de decoração, entre outros vão ser beneficiados, o que vai estimular toda a economia”, acrescentou. Copo meio vazio Por sua vez, Lok Wai Tak, presidente da Associação Comercial de Fomento Predial de Macau, lamentou a situação actual, ao destacar que até ao final do ano os preços dos imóveis vão cair mais 30 por cento. Lok admitiu que a suposta recuperação do mercado do imobiliário “é mais lenta do que era esperado” e que “a oferta de imóveis supera a procura”. Ao mesmo tempo, o presidente da Associação Comercial de Fomento Predial de Macau reconheceu que nesta fase não existem razões no mercado para que se evitem maiores quebras dos preços porque a procura não existe como no passado. Neste sentido, Lok reconheceu que a expectativa é para que os preços continuem em quebra nos próximos meses. Como forma de destacar a fragilidade do mercado, Lok Wai Tak também indicou que um dos sinais mais evidentes é o facto de o número de transacções não estar aumentar, apesar dos preços continuarem a cair.
João Santos Filipe Manchete PolíticaDSEDJ | Escolas “encorajadas” a ver cerimónias da guerra contra o Japão O Governo quer fortalecer o patriotismo dos jovens através dos exemplos dos chineses de Macau que participaram no esforço de guerra contra a invasão japonesa. Os eventos para homenagear as vítimas arrancam em Agosto, e incluem intercâmbios, exposições temáticas e até uma cerimónia de homenagem às vítimas do massacre de Nanjing As escolas do território vão ser “encorajadas” pela Direcção de Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) a organizar sessões para os alunos e professores assistirem em directo às cerimónias do “80.º aniversário da vitória do povo chinês na guerra contra o Japão e da vitória mundial contra o fascismo”. As comemorações estão agendadas para 3 de Setembro, em Pequim, e a DSEDJ quer organizar vários eventos em Macau, para promover o espírito nacionalista. Numa conferência de imprensa conduzida pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultural, O Lam, o director da DSEDJ, Kong Chi Meng, explicou que é esperado que todas as escolas do território disponibilizem nos pavilhões desportivos meios para que os alunos assistam às cerimónias em directo de Pequim. Além disso, antes de 3 de Setembro, a partir dos finais de Agosto, os professores e os alunos das escolas primárias e secundárias vão ser levados a participar em exposições temáticas para ficarem a conhecer “os eventos históricos relevantes” sobre a guerra. É ainda esperado que nestes dias o conteúdo das aulas verse sobre estes acontecimentos. O responsável pela DSEDJ indicou igualmente que foram desenvolvidos materiais didácticos para ensinar aos alunos os eventos históricos, que visam a ligação entre os chineses de Macau e a sua contribuição para os esforços da guerra. Tendo em conta as celebrações, a DSEDJ revelou também que os eventos anuais de intercâmbio realizados com o Interior vão sofrer alterações, para que os professores e os alunos tenham paragens obrigatórias em diferentes monumentos de celebração da vitória na guerra. Massacre de Nanjing Na apresentação dos vários eventos, O Lam destacou que o objectivo do Governo passa por “promover o grande espírito da Guerra de Resistência” e “inspirar o fervor patriótico”. Todas as actividades vão estar subordinadas ao tema: “Recordar a História, Acarinhar a Memória dos Mártires, Acarinhar a Paz e Criar o Futuro”. Em termos das comemorações e eventos para assinalar os eventos históricos, a 13 de Dezembro vai também ser organizada uma homenagem às vítimas do massacre de Nanjing e a todos os chineses mortos durante a guerra. Os moldes da homenagem foram apresentados de forma genérica, mas espera-se que incluam intercâmbios entre escolas e acções de promoção sobre o passado. O massacre de Nanjing aconteceu em 1937, tendo decorrido durante algumas semanas após a conquista pelos tropas japonesas daquela que era a capital da República da China. Após a conquista, as tropas japonesas massacraram a população, incluindo crianças, mulheres e não combatentes. No pós- Segunda Guerra Mundial, o Julgamento de Tóquio, que levou à justiça os responsáveis japoneses, foi estimado que o número de vítimas tinha variado entre 100 mil e 200 mil. A invasão da China pelo Japão começou em 1931 com a ocupação da Manchuria, num primeiro momento. Em 1937, o Japão expandiu o escopo da guerra, procurando a ocupação total da China. O que começou como um conflito localizado na Ásia acabaria por integrar-se na 2.ª Guerra Mundial, a partir de Dezembro de 1941, com os ataques de Pearl Harbour. Ao longo de vários anos, as estimativas apontam para que no lado chinês entre 3,8 milhões e 10,6 milhões de pessoas tenham morrido. A paz foi alcançada a 2 de Dezembro, depois dos Estados Unidos terem atacado o Japão com a segunda bomba atómica, em Nagasaki.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Zheng Anting e Lo Choi In saem da lista de Jiangmen Os deputados eleitos pela União Macau-Guangdong em 2021 ficam fora da lista encabeçada pelo economista Joey Lao, anterior deputado nomeado preterido em 2021 por Ho Iat Seng. Na apresentação da lista, o mandatário Chan Sio Cheng prometeu uma nova dinâmica, enquanto Joey Lao diz que a lista quer uma “Macau mais feliz” Os deputados Zheng Anting e Lo Choi In foram afastados da lista União Macau-Guangdong, de acordo com os nomes revelados ontem, o último dia para entregar os nomes dos candidatos e os programas políticos das listas candidatas às eleições legislativas. No pólo oposto, a lista passa a acolher o economista Joey Lao Chi Ngai, ex-deputado nomeado entre 2017 e 2021, que foi afastado do parlamento pelo então Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, após um mandato. No segundo lugar surge agora Lee Koi Ian, empresário local, que apresentou como principais credenciais da candidatura o conhecimento da realidade da economia local e das pequenas e médias empresas. Em terceiro lugar da lista com 14 candidatos surge Ng Nga Fan. Na apresentação dos nomes da lista, Chan Sio Cheng prometeu que os candidatos vão apresentar uma nova dinâmica com base em três aspectos: nova equipa, novas acções e uma nova perspectiva. Por sua vez, Joey Lao, o candidato principal, destacou que a lista vai trabalhar para concretizar o conceito “Macau mais feliz” e que a felicidade é o objectivo que os residentes procuram, assim como a visão política do Governo e a missão original da equipa para esta eleição. No caminho para a felicidade, Joey Lao garante que é fundamental “impulsionar a economia de Macau através de uma nova dinâmica”, e estudar a indexação da pensão para idosos ao índice mínimo de subsistência. Exportar idosos Na perspectiva de Joey Lao, a felicidade de Macau passa ainda por criar condições para que os idosos reformados que vivem na Grande Baía tenham acesso a consultas médicas em qualquer das onze cidades, recebem pensão para idosos e o subsídio. O cabeça-de-lista destacou também que vai dar prioridade ao desenvolvimento económico, bem-estar da população, cooperação entre Guangdong e Macau, políticas sociais e desenvolvimento da juventude. Por seu turno, Lee Koi Ian defendeu que como empresário no activo percebe bem as dificuldades e problemas do actual ambiente de negócios em Macau, pelo que deixou a esperança que o Governo lance mais medidas de revitalização económica e apoie a transformação das pequenas e médias empresas. Lee Koi Ian indicou ainda esperar que o Governo embeleze os bairros antigos e leve mais turistas a consumir nestas zonas. Ao mesmo tempo, o empresário prometeu pressionar o Governo para lançar medidas para criar mais emprego. Além disso, apontou que pretende aprofundar a cooperação entre Guangdong e Macau, para que as grandes empresas na Grande Baía apoiem à entrada das PME de Macau no Interior e criem espaço no outro lado da fronteira para os jovens de Macau.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteIsabel Rio Novo, autora da biografia de Luís de Camões: “Tempo em Macau foi de tranquilidade” Será lançada amanhã, no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, a biografia de Luís de Camões, da autoria de Isabel Rio Novo. Em entrevista ao HM, a autora desvenda alguns segredos sobre a vida do poeta em Macau, um período de relativa calma no meio de uma vida quase sempre turbulenta Porque decidiu embrenhar-se na escrita de mais uma biografia sobre Camões? É verdade que Luís Vaz de Camões foi biografado muitíssimas vezes ao longo de 500 anos. No entanto, há 50 anos que não havia uma biografia sobre ele. Do meu ponto de vista e do editor, Camões merecia uma biografia mais actual que revisitasse de uma forma desprovida todo tipo de preconceitos, buscando fontes conhecidas, a pesquisa de informação ainda não descoberta e onde se fizesse a releitura de todas as obras anteriores. Esta biografia não é apenas uma súmula, mas também a reinterpretação daquilo que já se sabia, mas que raramente tinha sido relacionado. O livro traz também alguns dados novos com alguma documentação que foi descoberta. Como nasceu a sua relação com a escrita de Camões? Apaixonei-me e fui daquelas jovens leitoras que não ficou atormentada com Camões. Pelo contrário, gostei logo e deixei-me seduzir pelo Camões lírico. Sou das áreas de Literatura Comparada e da História, e nesse sentido sempre compreendi a dimensão e importância da obra de Camões. E quais são? É uma obra e um autor muito do seu tempo e da sua época, que foi extraordinária, com o Renascimento, o Humanismo e as viagens da navegação. Mas, ao mesmo tempo, é uma obra que é produto de um génio literário fora de série, daqueles que podemos contar um punhado na história da literatura universal. Que Camões encontramos nesta biografia? Tentei ir ao fundo, retirar camadas do sentido que estes 500 anos foram acrescentando a Camões, no sentido em que cada época leu o seu Camões e produziu a sua interpretação. Quis descobrir o substracto, o homem de carne e osso que viveu e escreveu há 500 anos. Foi um homem sofrido, com muitas dificuldades financeiras. Foi um homem com uma relação complexa e difícil com a realidade, não só do seu tempo, mas também com a realidade [em si]. O tema da época, do desconcerto do mundo, de como a sociedade parece funcionar ao invés daquilo que deveria funcionar, tratando-se de um tópico literário do Renascimento, foi algo que Camões sentiu de forma pessoal e genuína. De que forma? Ele viveu uma série de dissabores, de experiências extremas. Basta dizer que esteve preso várias vezes e por razões diversas. Fez grandes viagens numa altura em que estas eram empreendimentos absolutamente arriscados, morosos e complicados. Camões esteve envolvido em expedições militares, e quase toda a sua vida foi soldado. Mas esse conjunto de experiências permitiu-lhe ser quase tudo aquilo que alguém podia ser na época em que viveu. Foi um dos autores mais viajados da época, tendo estado no Brasil, Goa… Sim. Mesmo a ligação a Macau, que é contestada por alguns estudiosos, mas não por mim… sou persuadida, face à documentação existente e testemunhos indirectos, que Camões passou pela China com o cargo de provedor dos defuntos e ausentes. Quando isso aconteceu já existia, ainda que de forma muito incipiente, o estabelecimento português na China, que já era Macau. Não se sabe se Camões exerceu esse cargo que lhe foi atribuído pelo vice-rei D. Francisco Coutinho, se ele estava exactamente designado para ser provedor durante a viagem, ou provedor no estabelecimento de Macau. Mas o que ele conheceu da China foi, seguramente, esse pequeno entreposto que Portugal tinha conseguido, a muito custo, com muita dificuldade e depois de muitas tentativas, obter na China. O que fazia um provedor dos defuntos? Sempre que um português morria no Oriente, um soldado ou mercador, era preciso assegurar os direitos dos herdeiros, das famílias que normalmente estavam em Portugal. O provedor tinha de identificar o falecido, a sua naturalidade, origem e fazer com que os herdeiros fossem conhecidos. Tinha ainda de guardar os bens do falecido antes que fossem roubados, levá-los a leilão, guardar as moedas que daí resultassem e depois levar tudo isso para Lisboa. Era um processo que, se corresse bem, demorava muitos meses, pois era preciso enviar esse dinheiro para as autoridades de Goa que depois o enviavam na carreira da Índia para Lisboa. Podemos falar de um período de estabilidade na vida de Camões em Macau? Sim. Até essa nomeação como provedor dos defuntos, tudo o que Camões conhecia do Oriente tinha sido como soldado. Mal chega a Goa [1553], embarca semanas depois numa primeira expedição militar. Sabemos porquê: não porque tivesse alguma apetência bélica, mas porque só participando em expedições ganhava o seu soldo. Embora toda a gente dissesse que os soldados viviam muito pobremente, o soldo era o que Camões tinha para sobreviver. O tempo vivido em Macau, em que esteve liberto das obrigações de soldado, foi um tempo de tranquilidade em relação à subsistência, que estava assegurada. Dispunha de algum tempo e calma para prosseguir o trabalho com “Os Lusíadas”. Mais do que isso, tanto quanto as fontes permitem deduzir, Camões conheceu em Macau uma fase de equilíbrio em termos de vida pessoal e amorosa, na medida em que, na viagem de regresso, trazia consigo, segundo o testemunho de Diogo do Couto, uma rapariga chinesa. Dinamene. Esse foi o termo usado pelo cronista. Não sabemos se seria uma rapariga chinesa ou asiática. Essa rapariga com quem Camões vivia maritalmente era alguém de quem gostava muito, segundo o testemunho de Diogo do Couto. Mas Dinamene não seria, certamente, o nome dela, por ser um nome mitológico que, aliás, já Camões usava na sua lírica, mesmo antes de ter embarcado para o Oriente. As raparigas chinesas com quem os soldados e mercadores em Macau viviam amancebadas eram baptizadas e recebiam um nome cristão. Portanto, Dinamene até teria um nome cristão e português. Mas como não sabemos o nome dela, e se for com consciência de que usamos uma espécie de metáfora, podemos chamar-lhe Dinamene. Ela morre depois numa viagem e deixa Camões muito abalado. Na viagem de regresso de Macau a Goa, provavelmente no fim do seu mandato como provedor, Camões sofre o célebre naufrágio, no qual perde os bens pessoais que tinha amealhado, incluindo os bens dos defuntos de que era guardião, e isso vai trazer-lhe complicações. Sofre também a perda de Dinamene. O naufrágio foi junto a alguns nos mares da China, provavelmente junto à foz do rio Mekong. Considera improvável que tenha perdido aí parte de “Os Lusíadas”. Os primeiros biógrafos dizem que Camões se salvou desse naufrágio com uma tábua. Não é descabido que tenha conseguido salvar, nessa tábua, o manuscrito dos Lusíadas. Mas também não é de excluir que Camões soubesse de cor o seu poema. A memória das pessoas no século XVI era diferente. Estavam muito habituadas a guardar as coisas de memória. E nós sabemos, porque a prova obtém-se na obra de Camões, que este tinha uma memória extraordinária. Tenho forma de o provar, claro, que Camões seja um dos raros autores que conhecia de cor o seu poema. Considera que Camões teve uma vida inferior ao seu verdadeiro talento? Sem dúvida. Segundo um conjunto demasiado extenso de testemunhos concordantes, ele morre pobre, mesmo em condições miseráveis, e segundo uma testemunha ocular, sem ter um cobertor com que se cobrir. Por outro lado, Camões ficou conhecido a seguir à publicação dos Lusíadas, que foram comentados e lidos [no tempo de vida do poeta]. Temos o testemunho de Faria de Sousa, um dos primeiros biógrafos de Camões, que diz que quando este passava nas ruas as pessoas paravam e apontavam. Camões tinha também uma figura que se destacava, com o olho vazado e a usar uma pala. Nessa altura, já estaria bastante doente, a usar muletas. Mas há um conjunto de poetas, que é muito pouco crível que não conhecessem Camões, que nunca se lhe referem. Há, por outro lado, outros humanistas, como Pedro Magalhães Gândavo, que desde logo o elogia como o príncipe dos poetas portugueses. Mas o rei dá-lhe uma tença por feitos prestados e pela publicação de “Os Lusíadas”. Essa famosa tença, que não devia ser grande coisa, porque todos os biógrafos antigos dizem que era irrisória, é-lhe atribuída como uma espécie de reforma militar, por causa dos 17 anos de serviço no Oriente, e não propriamente como recompensa pela publicação de “Os Lusíadas”. A carta de mercê de D. Sebastião, que lhe atribui o título de Cavaleiro Fidalgo, não tinha, na prática, nenhuma repercussão, mas dava-lhe 15 mil reais. [A publicação de “Os Lusíadas”] terá sido um argumento adicional [para a carta] e não o argumento principal. Isso leva-nos a crer que D. Sebastião nem sequer terá lido ou ouvido ler “Os Lusíadas”, terá recebido uma informação indirecta, favorável sobre o poema. Como se deu o processo de edição de “Os Lusíadas”? Foi um acontecimento, porque tanto a imprensa como os livros que se publicavam por ano eram uma quantidade muito pequena. No ano em que “Os Lusíadas” são publicados foram a única obra de cariz não religioso [a ser editada]. Para custear a edição é mais que provável que Camões tenha tido o apoio de um mecenas, provavelmente D. Manuel de Portugal, da família dos Condes do Vimioso. Conseguir que a obra fosse imprensa era um processo moroso e complicado, pois tinha ainda de passar pelo Exame Prévio das autoridades civis, da autoridade régia e da censura da Inquisição. O revedor do Santo Ofício acaba por não só deixar passar o livro, como tecer uma quantidade de elogios quase inédita no alvará que autoriza a publicação da obra. Se formos pegar nos pareceres emitidos pelo mesmo revedor, não há nenhuma outra obra sobre a qual ele seja tão elogioso como foi com a epopeia de Camões. Na Indonésia, fez amizade com um escravo da Ilha de Java. Camões esteve, pelo menos uma vez, na ilha de Ternate, na Indonésia, no arquipélago das Molucas, numa altura em que houve conflitos motivados por um capitão português extremamente cruel para com o rei ou sultão de Ternate, e que originaram uma espécie de guerra entre os portugueses e os locais. Camões tem uma canção que descreve a ilha de Ternate. Não sabemos se foi nessa altura, ou em outra passagem pelo Extremo Oriente, que Camões se ligou a um jaú, ou javanês, mas que podia não ser exactamente do Extremo Oriente, mas um escravo liberto que se tivesse ligado por amizade a Camões. E isto porque numa das primeiras biografias de Camões lê-se que jaú, com o nome cristão António, pedia esmola à noite. Essa liberdade de movimentos de um escravo indicia que, provavelmente, seria um escravo liberto. Pedia esmola para Camões, para ele próprio e para a mãe de Camões, com quem Camões terá vivido nos últimos anos de vida.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJustiça | Património de Isabel Chiang em hasta pública A empresária, ligada a várias burlas, foi declarada falida em Outubro de 2019, e mais de 200 credores, entre os quais o empresário Chan Meng Kam, esperam ver as suas dívidas pagas com a venda de 23 imóveis avaliados em pelo menos 147,28 milhões de patacas Cerca de 23 imóveis pertencentes à empresária Isabel Chiang foram colocados em hasta pública, para pagar as dívidas a mais de 200 credores, de acordo com o portal dos Tribunais da RAEM. A empresária, que se encontra em lugar incerto, foi acusada, em 2019, por vários empresários, inclusive Chan Meng Kam de ter pedido empréstimos e promover esquemas de investimento sem ter a intenção de devolver o dinheiro. Os imóveis, que não se limitam a apartamentos, e incluem pelo menos um edifício na sua totalidade, foram avaliados com um valor base de venda de cerca de 147,28 milhões de patacas. O valor mais elevado dos bens à venda é de 28,96 milhões de patacas e diz respeito a um centro comercial com rés-do-chão e três andares na Rua dos Ervanários. Entre os bens mais valiosos, encontram-se ainda um apartamento com dois pisos num prédio na Avenida de Sagres, avaliado em 21,72 milhões de patacas, e também uma cave no Pátio de São Lázaro, avaliada em 15,16 milhões de patacas. Os imóveis estão a ser vendidos através da apresentação de propostas por carta fechada, e com dois processos de venda diferentes, embora ambos tenham como data limite 17 de Julho. Entre os credores consta o nome de Chan Meng Kam, mas também de membros ligados à comunidade portuguesa, como Armando de Jesus, ex-conselheiro das comunidades. No entanto, na lista consta também a RAEM, a empresa de fornecimento de electricidade CEM e vários bancos, como o Banco Nacional Ultramarino, sucursal de Macau do Banco da China, ICBC ou Tai Fung. Terra prometida Em 2019, quando o escândalo com Isabel Chiang rebentou, a empresária foi acusada de pedir empréstimos ou promover investimentos com retornos elevados no desenvolvimento da Rua dos Ervanários, perto das Ruínas de São Paulo, e também no pátio Chon Sau ou na Rua da Nossa Senhora do Amparo. Até 2015, a empresária terá gasto pelo menos 100 milhões de patacas para comprar lojas nessa zona. Parte do dinheiro utilizado para essas compras, terá tido como origem Chan Meng Kam, que reconheceu ter emprestado dinheiro à empresária, tendo recebido como garantia dois imóveis. No entanto, mais tarde, quando o dinheiro ficou por devolver, Chan apercebeu-se de que os imóveis tinham sido utilizados como garantia para outros empréstimos. O caso levou a uma investigação da Polícia Judiciária que em 2019 reconhecia que haveria mais de 30 vítimas da burla, com os prejuízos avaliados em pelo menos 200 milhões de patacas. Isabel Chiang foi declarada insolvente a 3 de Outubro de 2019, de acordo com um aviso publicado no Boletim Oficial.
Hoje Macau Manchete SociedadeReserva financeira | Registado valor mais alto desde 2021 Os activos da reserva financeira de Macau atingiram no final de Abril 632,6 mil milhões de patacas, o valor mais elevado desde o final de 2021. Nos primeiros quatro meses de 2025, a reserva cresceu 16,3 mil milhões de patacas, mais de metade desse valor foi acrescentado em Abril De acordo com um balanço publicado ontem no Boletim Oficial pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), a reserva está no nível mais alto desde o registado em Dezembro de 2021: 643,2 mil milhões de patacas. Ainda assim, permanece longe do recorde histórico de 663,6 mil milhões de patacas, atingido no final de Fevereiro de 2021, apesar de o território estar em plena pandemia de covid-19. A reserva começou 2025 em alta, com o valor dos activos a subir 16,3 mil milhões de patacas nos primeiros quatro meses. Mais de metade deste valor (8,99 mil milhões de patacas) foi ganho só no mês de Abril. Os dados oficiais mostram que é o melhor arranque de ano desde os primeiros quatro meses de 2021, período em que a reserva se valorizou em 42,7 mil milhões de patacas. De acordo com a AMCM, a reserva tinha registado em 2024 o melhor ano desde a pandemia, ao ganhar 35,7 mil milhões de patacas. Este foi o aumento anual mais elevado desde 2019, quando o valor da reserva aumentou em 70,6 mil milhões de patacas. O valor da reserva extraordinária no final de Abril deste ano era de 459,7 mil milhões de patacas e a reserva básica, equivalente a 150 por cento do orçamento público de Macau, era de 164,2 mil milhões de patacas. Pano de fundo O orçamento inicial do território para 2025 prevê uma subida de 7 por cento nas despesas totais, para 109,4 mil milhões de patacas. A Assembleia Legislativa está actualmente a discutir uma proposta apresentada pelo Governo para um novo orçamento, que inclui um aumento extra de 2,86 mil milhões de patacas nas despesas. A reserva financeira de Macau é maioritariamente composta por 257,8 mil milhões de patacas em investimentos subcontratados, depósitos e contas correntes no valor de 252,9 mil milhões de patacas e até títulos de crédito no montante de 116,6 mil milhões de patacas. Em 2024, os investimentos renderam à reserva financeira quase 31 mil milhões de patacas, correspondendo a uma taxa de rentabilidade de 5,3 por cento, disse a AMCM no final de Fevereiro.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Rita Santos sai da corrida e Coutinho diz ser o Cristiano Ronaldo O deputado da ATFPM desvalorizou a desistência das eleições de Rita Santos, por ser o Cristiano Ronaldo da lista Nova Esperança. Por sua vez, Rita Santos diz que vai dedicar mais tempo à família. Ainda assim vai voltar a assumir as funções de conselheira das Comunidades Portuguesas José Pereira Coutinho vai ser o primeiro candidato da lista Nova Esperança, que tem como destaque a ausência de Rita Santos, que foi indicada pelo deputado como candidata da lista em lugar elegível. Minutos antes da apresentação da lista, que decorreu ontem à tarde, a presidente da Assembleia Geral da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) partilhou um vídeo nas redes sociais a anunciar que não seria candidata, por querer passar mais tempo com a família. A ausência foi desvalorizada por José Pereira Coutinho que, através da analogia com o capitão da selecção portuguesa de futebol, Cristiano Ronaldo, recusou a ideia de que a lista tenha ficado privada de um membro com qualidade ímpar e muita experiência: “Na Nova Esperança, o Cristiano Ronaldo sou eu, eu sou o Cristiano Ronaldo”, afirmou o deputado, com Rita Santos e os restantes membros da lista ao lado. O legislador disse também que a posição de deputado exige dedicação e tempo, com prejuízo pessoal, e indicou que Rita Santos não queria fazer esse sacrifício: “Quem não tem disponibilidade temporal, porque tem família, filhos e netos para acompanhar e dá a prioridade ao neto, então, meu caro amigo, eu não posso aceitar [essa pessoa na lista]. Ela gosta muito do neto, anda sempre a pôr as fotos dele na Internet, e eu disse-lhe que isto não é uma brincadeira, é uma coisa séria”, relatou Coutinho. “Nós somos muito amigos desde infância, mas uma coisa é pão, pão, outra coisa é queijo, queijo”, acrescentou. Apesar da candidatura a deputado, um cargo político, José Pereira Coutinho recusou que a lista da Nove Esperança seja classificada como “política”, entendendo que é uma lista “cívica” e de “amigos”. O deputado afirmou também não ter sentido qualquer pressão política na definição dos candidatos da lista: “Acha que eu não sou livre? Eu nunca tive pressão para nada”, respondeu Coutinho, quando questionado sobre o assunto. Conselheira de volta Presente na apresentação da lista, minutos depois de ter publicado o vídeo a explicar que não se candidatava, Rita Santos não quis prestar declarações em nome próprio aos jornalistas. Contudo, a presidente da mesa da Assembleia Geral da ATFPM confirmou que vai voltar a assumir a posição de conselheira das comunidades portuguesas. A informação foi igualmente transmitida por José Pereira Coutinho, nas declarações prestadas aos jornalistas. A desistência das eleições de 14 de Setembro para a Assembleia Legislativa acontece dias depois de o Ministério Público da RAEM ter revelado que Rita Santos, embora sem revelar o nome, tinha sido interrogada, a pedido das autoridades de Portugal, devido a investigações relacionadas com um “crime contra a Lei Eleitoral de Portugal em Macau”. Quando questionados sobre se a desistência estava relacionada com as investigações, tanto Rita Santos como José Pereira Coutinho recusaram qualquer ligação. Os dois indicaram também que a possível inclusão de Rita Santos nas listas tinha partido de Coutinho, como uma “obrigação” que a colega não quis aceitar. A pedido da família Sobre a opção de justificação para ficar de fora das eleições, Rita Santos indicou que partiu de “um pedido dos membros da família” para “passar mais tempos com eles”, principalmente devido “ao neto” e os 10 irmãos que mais se queixam da distância. “Respeitando o desejo da minha família, eu não vou participar nas eleições da Assembleia Legislativa deste ano”, anunciou. “Mas, prometo continuar a dar o meu apoio ao deputado José Pereira Coutinho e também dar apoio à Associação de Trabalhadores da Função Pública e atender pessoalmente os sócios. Espero que vocês aceitem e respeitem a minha decisão”, acrescentou. A participação de Rita Santos nas eleições legislativas tinha sido anunciada pela primeira vez em meados de 2024, na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, aquando uma visita a Macau de José Cesário, então secretário de Estado para as Comunidades Portuguesas. Che sem andamento Em relação à lista da Nova Esperança, Coutinho vai ser o primeiro candidato, seguido por Chan Hao Weng. O deputado Che Sai Wang foi relegado para terceiro lugar, depois de ter sido eleito em 2021, quando era o número dois. Sobre estas alterações, Coutinho indicou que Che não conseguiu acompanhar a “pedalada” dos trabalhos legislativos. “O cargo de deputado é exigente. Tens que intervir, tens que trabalhar, tens que manusear os projectos de lei. Nem todos conseguem acompanhar a pedalada”, considerou o legislador sobre o colega de bancada. “O meu colega é excelente comparsa, mas não tem conseguido acompanhar a pedalada. Isto é como a maratona, é preciso ter dedicação, porque os projectos são cada vez mais, complexos e uma pessoa tem de estar preparada”, notou. O candidato esteve presente durante alguns momentos na apresentação da lista, mas saiu mais cedo. Segundo Coutinho, a saída antecipada ficou-se a dever a uma deslocação a Hong Kong. Além dos três candidatos indicados, a lista é ainda constituída por Chan Ka Wai, Melina Tam Leng I, José Miguel de Sales da Silva, Fong Im Ha, Chang Fong, Fok Chao Iu, Hung Oi Ming e Ho Sio Peng.
João Luz Manchete PolíticaGrande Baía | Sam Hou Fai termina périplo em Foshan O Chefe do Executivo regressou a Macau na terça-feira à noite depois de um périplo de três dias por cidades da Grande Baía. Na última paragem, em Foshan, Sam Hou Fai sugeriu articulação entre a indústria de medicina tradicional chinesa de Foshan e as universidades de Macau, assim como a cooperação na chamada “economia prateada” O líder do Governo regressou na terça-feira à noite a Macau depois de uma visita de três dia a cidades da Grande Baía, que culminou em Foshan, cidade vizinha da capital de província, onde reuniu com ao secretário do Comité Municipal de Foshan do Partido Comunista da China (PCC), Tang Yifeng. Sam Hou Fai salientou as vantagens de combinar a “indústria da medicina tradicional chinesa de Foshan, em articulação “com os quadros qualificados de instituições de ensino superior de Macau e as capacidades em investigação científica”. Este nível de cooperação pode “elevar ainda mais a competitividade nuclear das respectivas indústrias dos dois territórios”, apontou. Também ao nível dos cuidados para idosos, as duas cidades devem estabelecer pontes, na óptica do Chefe do Executivo. “Tendo em conta a procura dos idosos de Macau para passarem a velhice no Interior da China, podem-se potenciar as vantagens dos serviços integrados dos cuidados a idosos com os cuidados de saúde de Foshan”. As semelhanças de costumes e afinidade cultural entre as duas cidades foram também trunfos elencados pelo governante para a promoção da “economia prateada”. A “forte indústria manufactureira” de Foshan é outro factor que Sam Hou Fai gostaria de aproveitar, tanto ao nível da cooperação indústria-universidade-investigação, unindo empresas da cidade chinesa a universidades de Macau, como aproveitando o papel de plataforma da RAEM para promover os produtos de Foshan nos países de língua portuguesa. Sete estrelas Antes da visita a Foshan, o Chefe do Executivo passou pela cidade mais a ocidente das que integram o projecto da Grande Baía: Zhaoqing. Aí, Sam Hou Fai agradeceu aos líderes políticos “o empenho na protecção, a longo prazo, da qualidade da água do Rio Xijiang, garantindo, de forma eficaz, a segurança da água potável para a população de Macau”. O líder do Governo da RAEM destacou também o papel de Zhaoqing enquanto a “única ‘cidade-porta’ da Grande Baía que liga as regiões sudoeste e também um dos elos importantes para impulsionar o intercâmbio das culturas chinesa e do ocidente. Importa referir que Zhaoqing faz fronteira com a província de Guangxi. Sam Hou Fai referiu que a cidade tem uma “rica tradição cultural” ligada à medicina tradicional chinesa, que Macau poderia ajudar a chegar aos mercados da União Europeia e países lusófonos. O património ecológico e natural de Zhaoqing foi outro aspecto destacado pelo Chefe do Executivo como oportunidade para forma uma “sinergia de vantagens e desenvolver, em conjunto, rotas ‘premium’ de ‘uma viagem com vários destinos’”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteChina-Portugal | Pavilhão em Chengdu mostra produtos portugueses No empreendimento Euro-Asia National Commodity Pavillion, em Chengdu, estão instalados pavilhões destinados a países e empresários estrangeiros que querem estabelecer negócios na China. Portugal também lá está, representado pelo Pavilhão de Portugal, mas segundo o gestor Ângelo Sousa, faltam apoios do Governo português e força para combater a concorrência “Para nós não há barreiras entre Portugal e a China. Estamos 365 dias cá e lá.” É desta forma que são apresentados os objectivos da equipa que está por detrás do Pavilhão de Portugal presente no Euro-Asia National Commodity Pavillion, em Chengdu, e que é gerido por dois sócios: Yinhui Tui e Ângelo Freitas de Sousa. Os dois perceberam que a zona de Xangai tinha atingido um ponto de saturação no comércio de produtos e que era necessário ir mais para o interior do país tentar vender coisas tão portuguesas como o vinho, bacalhau ou azeite. O HM conversou com Yinhui Tui sobre este projecto à margem de um almoço promovido, em Lisboa, pela Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda, presidida por Fernanda Ilhéu. O evento serviu, precisamente, para Yinhui Tui apresentar os objectivos do Pavilhão de Portugal e tentar captar interesses empresariais. “Trata-se de um mercado muito importante para os produtos portugueses. Na China separamos o país [em termos comerciais] em quatro mercados. Temos a região de Pequim e Xangai, que chamamos de ‘Yangtze River Economic Zone’, e a ‘Pearl River Economic Zone’. A quarta zona é composta pelas cidades de Chengdu e Chongqing e que se trata de uma nova área económica estabelecida em 2020. Os produtos portugueses têm bastante potencial nestes mercados”, referiu. O empresário lembra que o marketing dos produtos portugueses está ainda aquém daquele que é feito por empresários franceses, espanhóis ou de outros países, mas que quando o comprador chinês descobre o vinho ou o azeite, fica surpreendido. “Em Xangai, por exemplo, alguns clientes já têm a sua opinião formada sobre os produtos franceses ou australianos. Mas muitos acham que os produtos portugueses têm mais qualidade”, disse Yinhui Tui, referindo que na zona em que o Pavilhão de Portugal opera, na província de Sichuan, “as pessoas são um pouco mais conservadoras e preferem experimentar, provar e sentir antes de comprar”. “O nosso pavilhão está junto ao pavilhão francês e muitas vezes vemos clientes a optar pelo vinho francês. Mas quando passam pelo nosso pavilhão, veem as nossas marcas e perguntam o que é que nós temos. Quando percebem que temos vinho mais barato em relação ao francês, ficam surpreendidos e dizem que é melhor, e aí compram.” Este responsável explica que a população na quarta zona económica é de 130 milhões de pessoas, bem mais do que o número de pessoas a viver na Península Ibérica. “Daí achar que é um mercado com muito potencial”, frisou. O papel da Lusosino Yinhui Tui e Ângelo Freitas de Sousa criaram a Lusosino que funciona como a entidade gestora do pavilhão, que nasceu “com a intenção de promover os produtos portugueses no grande mercado da China”. Assim, existe um “showroom” de produtos bem portugueses, representando-se algumas marcas conhecidas como é o caso das bolachas Vieira, vinho Esporão, o sal Marnoto, as compotas Prisca ou a Vista Alegre, entre outras. É neste pavilhão que “os expositores exibem os melhores produtos, os compradores descobrem tendências e onde ambos encontram as condições para concretizar negócios”. De resto, a Lusosino, através deste pavilhão, ajuda empresários portugueses nas campanhas de marketing e na melhor forma de contactar potenciais clientes chineses. Concretamente, a Lusosino promete realizar “registos de produtor e marcas, representação comercial, análise do mercado, apoio e preparação de viagens ao mercado, entre outros serviços”, lê-se no website. Porém, e segundo contou Ângelo Freitas de Sousa ao HM, há muitos obstáculos para colocar produtos portugueses na China. “[A zona de Chengdu e Chongqing] tem a vantagem de ser um mercado em crescimento e que não está sobrecarregado de exportadores e não tem vícios como acontece na zona de Xangai. É um mercado com uma área muito grande e em que existem muitos produtores.” Por vícios, o empresário refere a “concorrência” de outros países e hábitos de compra dos clientes chineses, que mais depressa procuram produtos de outras nacionalidades do que de Portugal. “Há hábitos de certas marcas que estão implementadas e as pessoas já nem olham para outras, nem as experimentam.” O projecto do Pavilhão de Portugal começou por uma ideia de Ângelo Ferreira de Sousa, que tem uma esposa chinesa que o ajuda no negócio. “Conheci o Yinhui Tui, ele gostava de produtos portugueses, ficámos amigos e depois acabámos por juntar energias”, referiu, explicando que o interior do país está ainda a conhecer os produtos estrangeiros, e não apenas portugueses. “A zona de Xangai já não tem por onde crescer mais e esta é uma zona económica em crescimento. Há muitas fábricas que se estão a deslocar para Chengdu, pelo que haverá mais desenvolvimento”, adiantou. Ausência de marketing O empresário português lamenta que as autoridades portuguesas tenham dado pouco apoio ao projecto, à excepção de algum acompanhamento por parte da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. “Todo o investimento foi feito por nós e não temos tido muito apoio. Tivemos alguma ajuda da AICEP, mas nada de especial. Nós é que fazemos feiras, os ‘showrooms’, para dar a provar e a conhecer os nossos produtos nas principais cidades”, disse Ângelo Ferreira de Sousa. O empresário lamenta também que, apesar da relação de centenas de anos entre Portugal e a China, haja ainda falhas na estratégia comercial para a exportação de produtos portugueses no país. “Os espanhóis estão muito mais à frente do que nós”, exemplificou. Relativamente ao papel de Macau como plataforma, o empresário diz que é igualmente difícil trazer produtos de Portugal para a China ou de Macau para a China, devido à falta de acordos aduaneiros e pouca flexibilidade. “Não é por termos a ligação a Macau que eu consigo, por exemplo, colocar enchidos, bacalhau ou as conservas na China, ou ainda outros produtos portugueses. Para passar de Portugal para Macau é fácil, mas já não é tão fácil levar depois produtos portugueses de Macau para a China. Não temos conseguido fazer muita coisa através de Macau, mas também não temos procurado muito”, disse. Na apresentação em Lisboa, Yinhui Tui adiantou alguns números que estão por detrás da construção do Euro-Asia National Commodity Pavillion, e que ajudam a compreender a sua dimensão: cerca de 70 mil milhões de euros de investimento e um espaço de 300 mil metros cúbicos. O Pavilhão de Portugal não faz apenas sessões de contactos ou feiras: se um empresário quiser lá deixar armazenadas toneladas de produtos, pode fazê-lo. Depois, o Pavilhão fica encarregue da distribuição por várias zonas da China. “No mercado do Sul, mais perto de Macau, já existe muita competição em algumas zonas, pelo que se deve apostar no Interior da China”, frisou Yinhui Tui, referindo-se ao potencial e ao factor novidade que existe em algumas zonas do país no tocante ao comércio.
João Santos Filipe Manchete SociedadeUPM | Empresa de investigação com prejuízo de 47 mil patacas No ano de início de actividade, a Inovação Tecnológica da Universidade Politécnica de Macau (UPM) registou um prejuízo de 47,2 mil patacas. Contudo, a administração prevê lucros no corrente ano, devido a um contrato que pode atingir o valor de 640 mil patacas Nos primeiros dois meses de operação, a Inovação Tecnológica da Universidade Politécnica de Macau (UPM) teve um prejuízo de 47,2 mil patacas. Os resultados da empresa de investigação da UPM de 2024 foram divulgados ontem, através do portal da Direcção dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos (DSSGAP). Segundo o relatório anual de actividades, em dois meses de 2024 a empresa registou receitas de 10.522 patacas, sendo que a despesa atingiu 57.771 patacas, o que levou a um prejuízo final de 47.249 patacas. A principal despesa, no valor de 55 mil patacas, prendeu-se com gastos com a contratação de “serviços profissionais. Além disso, houve despesas administrativas relacionadas com o pessoal da empresa de 2.771 patacas. “Uma vez que a empresa ainda se encontra na fase inicial de operações, as despesas prenderam-se essencialmente com as despesas para estabelecer e iniciar as operações”, foi explicado sobre os montantes gastos. Apesar das perdas, Marcus Im Sio Kei, presidente do conselho de Administração da empresa e reitor da UPM, mostra-se confiante em relação ao futuro. “O ano de 2024 foi o de fundação da empresa. Apesar dos desafios iniciais, foram lançadas fundações sólidas para o desenvolvimento futuro”, justificou Im. Perspectivas optimistas O relatório deixa ainda uma mensagem optimista para o futuro, uma vez que no final de 2024 a empresa assinou um contrato de cooperação que se espera que possa gerar receitas de 640 mil patacas. O documento não adianta pormenores sobre este contrato, como partes envolvidas, nem as condições variáveis que podem afectar as receitas. Contudo, o conselho de administração acredita que o novo projecto vai garantir que a empresa consegue obter lucros no final deste ano. Em termos dos objectivos da empresa para o ano em curso, Marcus Im Sio Kei definiu o contributo para o desenvolvimento económico e social do território e a diversificação da economia. “Em 2025, a empresa vai desempenhar a sua actividade com base nos recursos académicos e a força inovadora da Universidade Politécnica de Macau e focar-se no desenvolvimento tecnológico para alcançar os dois objectivos de contribuir para o desenvolvimento económico e social e injectar uma nova vitalidade à diversificação económica de Macau”, é apontado. A Inovação Tecnológica da Universidade Politécnica de Macau (UPM) é detida a 100 por cento pela UPM e tem um capital social de 200 mil patacas. A empresa foi criada no final do ano passado para desenvolver “actividades nas áreas de investigação profissional, serviços profissionais, inovação tecnológica, científica e educação contínua”. Os serviços disponibilizados incluem ainda actividades de “consultoria, aconselhamento, transferência de tecnologia e assistência”, “gestão de financiamento comercial em outras empresas, testes de engenharia” e “disponibilização de cursos de formação”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeEstreito de Ormuz | Encerramento pode fazer disparar inflação O presidente da Associação da União dos Fornecedores de Macau, Ip Sio Man, avisa que em caso de bloqueio o impacto deve começar a ser sentido dentro de dois a três meses. Alguns preços podem subir até 10 por cento A possibilidade de o Irão avançar com o encerramento do Estreito de Ormuz pode fazer disparar a inflação em Macau. O cenário foi traçado pelo presidente da Associação da União dos Fornecedores de Macau, Ip Sio Man, em declarações ao jornal Ou Mun. Após os bombardeamentos norte-americanos e israelitas contra o Irão foi adiantada a possibilidade de o país encerrar o Estreito de Ormuz. Ip Sio Man reconheceu que os efeitos negativos do encerramento vão afectar a RAEM ao nível dos preços dos bens de consumo e que deverão começar a sentir-se mais intensamente cerca de dois a três meses após o bloqueio. O presidente da associação estimou que o encerramento vai levar ao “aumento inevitável dos preços” de cerca de 5 a 10 por cento. O crescimento dos preços vai demorar cerca de dois a três meses a fazer-se sentir, porque muitos dos importadores e distribuidores têm reservas dos produtos que podem vir a ser afectados, pelo que podem ser vendido aos preços actuais. No entanto, quando forem importados novos produtos mais caros, os preços em Macau também vão reflectir esse aumento. Ip Sio Man também indicou que depois do início da guerra entre Israel, os EUA e o Irão, o custo dos seguros para o transporte marítimo aumentou 50 por cento. Os preços do petróleo subiram cerca de seis por cento. O presidente da associação indicou ainda que com o bloqueio do Estreito de Ormuz, o transporte marítimo que actualmente demora três meses vai passar a demorar quatro a cinco meses. Face a esse cenário, Ip acredita que o impacto a nível do transporte de mercadorias entre e Ásia e a Europa vai ser semelhante ao que aconteceu durante a pandemia. China mais protegida Apesar do panorama negativo, Ip Sio Man destacou ainda que a China está mais bem preparada para enfrentar o impacto do que regiões como o Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Macau ou outras do Sudeste Asiático. O presidente destacou que o transporte ferroviário entre a China e a Europa pode ser uma alternativa para o transporte de alguns produtos e que actualmente já é utilizado para bens mais consumidos pela classe média-alta, como vinhos, licores, produtos lácteos, doces, chocolates e bolachas. Uma área em que Macau deverá sofrer pouco impacto é ao nível dos bens de primeira necessidade, como cereais, óleo alimentar e outros alimentos, dado que estes produtos têm como origem o Interior da China e os países do Sudeste Asiático. O artigo do jornal Ou Mun cita também um fornecedor anónimo que indica que a Europa não é uma fonte de importações em Macau e que por isso o impacto não deve ser muito sentido. A mesma fonte anónima indicou que desde a pandemia, Macau começou a diversificar o destino de origem das importações, procurando alternativas no sudeste Asiático. Este fornecedor indicou ainda esperar um impacto moderado a nível da inflação, porque o consumo no Interior da China está em retracção, devido à crise do emprego no outro lado da fronteira.
Hoje Macau Manchete PolíticaEleicões | Wong Wai Man definitivamente excluído O presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa confirmou ontem o afastamento definitivo da lista de Wong Wai Man, após o activista, conhecido como ‘capitão Macau’, não ter recorrido da exclusão “Não recebemos até agora qualquer recurso ou informação sobre qualquer recurso”, disse ontem numa conferência de imprensa o juiz Seng Ioi Man, que preside à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). De acordo com a cronologia do processo eleitoral, Wong Wai Man tinha apenas um dia para recorrer, para o Tribunal de Última Instância (TUI), da rejeição da candidatura, decisão anunciada pela CAEAL em 16 de Junho. O TUI teria depois cinco dias, até domingo passado, para tomar uma “decisão definitiva” sobre a exclusão. Em 10 de Junho, a CAEAL deu a Wong Wai Man dois dias para recolher pelo menos 78 assinaturas em apoio à sua candidatura. Isto depois da comissão decidir que, das 395 assinaturas submetidas pelo activista, apenas 222 eram válidas. As candidaturas à AL devem ser apresentadas com o apoio mínimo de 300 eleitores. “A maior parte das assinaturas não era de eleitores que reúnem as condições, também há repetição de subscritores e assinaturas que não correspondem à do documento de identidade”, disse Seng Ioi Man em 16 de Junho, notando ainda problemas com o logótipo da lista Ajuda Mútua Grassroots. No dia seguinte, Wong Wai Man, também presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço, acusou as autoridades de perseguição política, disse que esteve detido entre 11 e 16 de Junho e rejeitou as acusações de corrupção eleitoral e exploração ilícita de jogo. Espaço reduzido A 14 de Junho, o Juízo de Instrução Criminal aplicou medidas de coação a cinco indivíduos, alegadamente por terem pagado subornos para obter o apoio a listas candidatas à Assembleia Legislativas ou por terem falsificado assinaturas. Wong Wai Man, também conhecido como “Soldado de Mao” por aparecer frequentemente com um uniforme verde e uma mala com o rosto do antigo líder chinês Mao Zedong, garantiu não ter dinheiro para pagar subornos. O presidente da CAEAL, Seng Ioi Man, disse ontem que não pediu nem irá solicitar informações ao Comissariado Contra a Corrupção, porque a investigação ainda está “sob segredo de justiça”. Estas serão as primeiras eleições após a exclusão, em 2021, de cinco listas e 21 candidatos, 15 dos quais pró-democracia, por “não defenderem a Lei Básica” e não serem “fiéis à RAEM “. A comissão eleitoral validou oito pedidos de candidatura por sufrágio directo à AL, menos do que os 19 registados inicialmente nas anteriores eleições, em 2021. Trinta e três deputados integram a AL, sendo que 14 são eleitos por sufrágio directo, 12 por sufrágio indirecto, através de associações, e sete são nomeados pelo Chefe do Executivo.
João Luz Manchete PolíticaFunção Pública | Pedida revisão de controlo da assiduidade Nick Lei sugeriu ao Governo a instalação de sistemas de reconhecimento de identidade para reforçar o registo de assiduidade e faltas de funcionários públicos. O deputado pediu o aumento da fiscalização na sequência de um relatório do CCAC relativo ao ano passado, onde foram identificados casos de falsificação de presenças O último relatório da Comissariado Contra a Corrupção (CCAC), relativo ao ano passado, revelou o aumento de queixas em relação a 2023, casos de abuso do sistema de registo de assiduidade e faltas entre funcionários da administração, com particular destaque para os casos mais gritantes envolvendo o Corpo de Polícia de Segurança Pública e os Serviços de Alfândega. As conclusões do CCAC foram alvo de uma interpelação escrita de Nick Lei, divulgada ontem, que vincou uma posição de maior controlo dos serviços públicos nos mecanismos de registo de assiduidade e faltas. O deputado ligado à comunidade de Fujian pergunta ao Governo se vai fazer “uma análise exaustiva dos actuais métodos de registo de assiduidade dos vários serviços públicos”. Além disso, sugere a actualização do equipamento de registo de assiduidade, através de sistemas de reconhecimento de identidade, para eliminar irregularidades. O deputado argumenta que o CCAC demonstrou que entre as forças de segurança há quem se “aproveite das suas posições”, “saindo frequentemente durante o serviço e mesmo abandonando o território”. Nick Lei não esqueceu também o papel de médicos na obtenção de justificações falsas para longas ausências do serviço, ou as situações em que “alguns funcionários públicos marcavam o ponto uns pelos outros”. O legislador argumenta que “estas violações não só prejudicam o Estado de Direito em Macau, como também afectam a confiança da sociedade na governação do Executivo”. Diabo nos detalhes Nick Lei lembra que o relatório do CCAC realçou o trabalho realizado para aumentar a consciência da população e funcionários públicos em relação à promoção de condutas integras e honestas. No ano passado, foram realizadas 622 palestras, seminários, workshops de formação e actividades de vários tipos, com 41.901 participantes, entre funcionários públicos, instituições públicas e privadas e estudantes. No entanto, o CCAC revelou o aumento das infracções à disciplina e à lei cometidas por funcionários públicos. Como tal, o deputado pergunta se o Governo irá avaliar a eficácia destas acções. Outra área em que Nick Lei gostaria de ver melhorias, é nos próprios relatórios do CCAC. O deputado indica que o organismo deixou de especificar, a partir de 2018, estatísticas pormenorizadas sobre os serviços públicos alvos de queixas. O deputado sugeriu que o CCAC volte a detalhar os serviços públicos alvos de queixas “para que o público possa conhecer os problemas de cada área funcional e facilitar a fiscalização conjunta da sociedade”.