Hong Kong | Polícia considera desaparecimento de livreiro caso sensível     

[dropstyle=’circle’]O[/dropstyle] comissário da polícia de Hong Kong, Stephen Lo, disse no sábado que o desaparecimento do livreiro Lee Bo é um caso sensível e que não quer tirar conclusões precipitadas.
Lee Bo desapareceu em Chai Wan (Hon Kong) a 30 de Dezembro, e foi o último de cinco homens relacionados com uma editora da cidade a desaparecer desde Outubro do ano passado. A forma como Lee atravessou a fronteira sem qualquer documento continua por esclarecer.
Ao falar num programa da Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), o comissário da polícia disse que ainda estava a aguardar respostas das autoridades do interior da China, já que actualmente não há um prazo para o mecanismo de notificação entre Hong Kong e a polícia chinesa.
Os misteriosos desaparecimentos despertaram em Hong Kong o receio de que as autoridades chinesas tenham recorrido a agentes clandestinos para proceder à detenção dos cinco livreiros, o que, a ser verdade, constituiria uma flagrante violação do princípio “Um País, dois sistemas” da Região Administrativa Especial chinesa que lhe confere autonomia relativamente a Pequim.
Stephen Lo disse, porém, que até à data não havia casos provados de actuação da polícia chinesa em Hong Kong, e que a investigação iria continuar até ao reaparecimento de Lee Bo.
Numa medida sem precedentes, a polícia de Guangdong (interior da China) respondeu publicamente nos últimos dias, ao enviar uma carta sobre o livreiro Lee Bo à imprensa de Hong Kong.
Na carta, as autoridades chinesas disseram que notaram a onda de preocupação em Hong Kong, mas que não tinham mais nada a acrescentar além do que já tinham dito às autoridades da antiga colónia britânica.
No entanto, o deputado do Partido Democrata James To, que integra o painel para a segurança no Conselho Legislativo, não ficou satisfeito com a resposta.
James To disse que era um “absurdo” que a polícia de Guangdong apenas pudesse repetir o que já tinha sido publicado nos jornais, e pediu ao comissário da polícia para investigar o assunto.

Em parte incerta

A livraria Causeway Books, entretanto de portas fechadas, vende obras muito críticas do regime comunista, proibidos no interior da China.
Dois dos desaparecidos são cidadãos europeus (Gui Minhai tem passaporte sueco e Lee Bo é britânico).
Lee Bo, de 65 anos, foi visto pela última vez na quarta-feira, dia 30 de Dezembro, no armazém da Mighty Current, a casa editora proprietária da livraria, num caso que tem lugar semanas depois de quatro dos seus associados terem desaparecido em circunstâncias idênticas.
Gui Minhai, dono da casa editora, desapareceu enquanto estava de férias na Tailândia em meados de Outubro. O mesmo aconteceu a três outros associados à livraria ou à editora (Lam Wing-kei, Lui Bo e Cheung Jiping) depois de terem visitado, separadamente, o interior da China.

1 Fev 2016

Quatro mineiros resgatados após 36 dias no subsolo

O acidente que levou a que 29 mineiros ficassem presos no subsolo ocorreu durante o dia de Natal. Dos trabalhadores soterrados, 11 foram resgatados no dia seguinte, um faleceu, e 13 continuam desaparecidos

[dropstyle=’circle’]Q[/dropstyle]uatro mineiros que ficaram presos no subsolo durante 36 dias, na sequência do colapso de uma mina de gesso em Pingyi, na província de Shandong, no leste da China, foram resgatados, indicaram sexta-feira meios de comunicação estatais.
A operação para salvar os homens presos a mais de 200 metros de profundidade levou duas horas, tendo cada um sido transportado individualmente para a superfície numa cápsula estreita, segundo a emissora estatal CCTV.
Os homens, que não sofreram ferimentos graves, foram envoltos em cobertores, tiveram os olhos vendados, por causa da luz, e seguiram em ambulâncias.
Os quatro mineiros resgatados faziam parte de um grupo de 29 que ficaram presos no subsolo quando, a 25 de Dezembro, a mina em que trabalhavam desabou, tendo 11 sido resgatados no dia seguinte e um morrido, enquanto 13 continuam desaparecidos.
Identificados pela CCTV como sendo Hao Zhicheng, de 50 anos, Li Qiusheng, de 39 anos, Guan Qingji, de 58 anos, e Hua Mingxi, de 36 anos, os homens foram contactados no passado dia 8 pelas equipas de resgate, que lhes enviaram alimentos, roupas e lâmpadas por um túnel, mas as condições geológicas complicadas – com instabilidade estrutural e queda de pedras – tornaram o resgate difícil.
O proprietário da mina cometeu suicídio por afogamento no local logo após o colapso, que constitui o mais recente acidente mortal num país onde as regras de segurança são frequentemente desrespeitadas para cortar custos, com gestos de corrupção a permitirem que os patrões persigam o lucro à custa da segurança dos trabalhadores.
Quatro funcionários do partido que ocupavam cargos de responsabilidade em Pingyi, onde a mina está localizada, foram afastados dos seus postos na sequência do acidente.
As autoridades locais tinham ordenado à mina em causa que parasse a laboração em Outubro, por motivos de segurança, mas ela continuou a operar secretamente, segundo o jornal Beijing Times.
Os acidentes resultantes da negligência com a segurança industrial, que causaram largas centenas de mortes na China em 2015, incluem deslizamentos de terras, explosões químicas e derrocadas em minas de carvão.
De acordo com o Governo chinês, os acidentes fatais estão em declínio, mas alguns grupos de direitos humanos argumentam que os números reais são significativamente mais elevados do que os oficiais, pois muitas situações não são relatadas às autoridades.

1 Fev 2016

Taiwan | Mulher proibida de entrar em Macau

Uma mulher de Taiwan foi impedida de entrar em Macau na segunda-feira por ter decorado o seu passaporte com autocolantes “Republic of Taiwan” que defendem a independência do território, informou a imprensa de Hong Kong

[dropstyle =’circle’]A[/dropstyle] mulher que na semana passada foi proibida de entrar no território ainda ligou para o Ministério de Negócios Estrangeiros da República da China (Taiwan) para pedir ajuda, mas acabou por ser deportada para Taiwan pelas autoridades da alfândega de Macau, informou o jornal Apple Daily, citado pela Hong Kong Free Press. Em Agosto, apoiantes da independência de Taiwan iniciaram uma campanha para a colocação de autocolantes nas capas dos passaportes taiwaneses.
Os defensores da independência advogam o uso de autocolantes “Republic of Taiwan” para tapar as palavras “República da China” e de autocolantes que retratam os monumentos emblemáticos de Taiwan para cobrir o emblema nacional.
O governo de Taiwan anunciou posteriormente que iria rever o regulamento que proíbe alterações ao passaporte. As alterações entraram em vigor no início de Janeiro. O director da Divisão de Administração de Passaportes, Chen Shang-yu, disse ao Apple Daily que entre 1 e 28 de Janeiro, a Agência Nacional de Imigração foi notificada de um total de 180 casos de viajantes com autocolantes nos respectivos passaportes.

Ouvidos moucos

O Ministério dos Negócios Estrangeiros tem advertido os passageiros para respeitarem a lei. Chen disse que o ministério respeita as opiniões políticas individuais, mas que o passaporte é um documento oficial que serve para propósitos de identificação no estrangeiro e que não deve ser usado como ferramenta política.
Também disse que, de acordo com os actuais regulamentos, os passageiros com autocolantes nos respectivos passaportes podem enfrentar um maior período de espera aquando da revalidação do documento, ou mesmo ver cancelados os seus passaportes. Em Dezembro, três taiwaneses com autocolantes nos passaportes também viram ser-lhes negada entrada em Singapura.
As autoridades disseram que os autocolantes dificultavam a verificação da autenticidade dos documentos. Apesar de esses passageiros se terem disponibilizado para os remover, foram na mesma impedidos de entrar em Singapura. O Instituto Americano em Taiwan pediu aos cidadãos taiwaneses para se dirigirem ao gabinete consular para remover os autocolantes, enquanto o departamento de Imigração das Filipinas advertiu que iria rejeitar os passaportes nessas condições.

1 Fev 2016

Financiamento a Angola prevê criar 365.000 empregos

[dropcap style = ‘circle’]A[/dropcap] Linha de Crédito da China (LCC) a Angola vai financiar 155 projectos com 5,2 mil milhões de dólares, a executar por empresas chinesas, estimando o Governo angolano a criação de quase 365.000 empregos.
A informação consta do plano operacional da LCC, elaborado pelo Governo angolano com as obras a realizar pelas empresas chinesas ao abrigo deste financiamento, fechado durante a visita de Estado de José Eduardo dos Santos à China, documento ao qual a Lusa teve ontem acesso.
O sector da energia e águas lidera, em termos dos montantes a investir, entre nove sectores, com 2.174.238.412 dólares alocados para 34 projectos.
Neste sector, só o projecto para reabilitação e reforço do sistema de abastecimento de água na província de Cabinda, a desenvolver em 18 meses, vai custar 209 milhões de dólares e gerar, na perspectiva do Governo angolano, 42.421 empregos.
O sector da construção contará com 33 projectos, mobilizando 1.644.282.124 dólares.
O sector da educação é o que concentra o maior número de projectos, num total de 55, sobretudo a construção de escolas, num investimento global de 373.348.412 dólares.
A província de Luanda vai mobilizar cerca de um quinto do total do investimento, com 1.026 milhões de dólares em 18 projectos, seguida do Huambo, com 776 milhões de dólares e 12 projectos.
O documento é acompanhado por uma lista com 37 empresas chinesas “recomendadas para o mercado angolano”, ao abrigo da LCC.
china angola
Apesar de executados por empresas chinesas, o Governo angolano garantiu anteriormente que estes projectos terão também uma incorporação maior de materiais e empresas nacionais, face às linhas de crédito anteriores.
O Governo angolano anunciou a 15 de Outubro que o acordo estabelecido com a China em Junho previa a atribuição a Angola de um crédito a rondar os seis mil milhões de dólares, a aplicar em investimento público no país.
A informação foi prestada na Assembleia Nacional pelo vice-Presidente da República de Angola, Manuel Vicente, em representação do chefe de Estado, na anual mensagem sobre o estado da nação.
“Contraíram-se também créditos à China no valor de aproximadamente seis mil milhões de dólares norte-americanos, destinados a investimento público nos domínios da educação, saúde, água, energia eléctrica e estradas, tendo sido já aprovado pelo executivo o plano operacional para assegurar a execução de projectos identificados em 2016 e em 2017”, disse Manuel Vicente.
Angola enfrenta uma crise financeira e económica devido à forte quebra da cotação internacional do barril de crude no mercado internacional, o que provocou também uma crise cambial, pela redução de entrada de divisas no país.

22 Jan 2016

China já é o maior gerador mundial de energia solar

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China superou a Alemanha como o maior gerador mundial de energia solar, com 43 gigawatts de capacidade instalada no final de 2015, segundo dados publicados ontem pela Associação da Indústria Fotovoltaica do país asiático.
O país acrescentou 15 gigawatts à sua capacidade de geração, um aumento de 40 por cento face ao início do ano passado e que lhe permite superar a maior economia da zona euro, que tem 40 gigawatts.
“Uma coisa é a instalação, outra coisa é a utilização”, apontou à Lusa o consultor e especialista em alterações climáticas português Renato Roldão, radicado em Pequim há quase uma década.
Ao contrário da Europa – explicou o técnico português -, a China carece de um sistema de consumo de energia que cobre um valor adicional a quem consome energia produzida a partir de combustíveis fósseis.
Como resultado, “o desperdício é enorme”.
Cerca de dois terços da energia consumida no país assentam no carvão, apesar de este ser o maior investidor em energias renováveis entre as nações em desenvolvimento – 89 mil milhões de dólares, só em 2014. o desenvolvimento de energia solar na china
A ambição do “gigante” asiático é potenciar a sua capacidade instalada para que em 2020 15% do total da energia consumida no país proceda de fontes limpas.
A Administração Nacional de Energia da China prevê triplicar a capacidade de geração de energia solar instalada até aos 150 giga watts, nos próximos cinco anos.

22 Jan 2016

Pequim defende validade dos seus dados estatísticos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] vice-director do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês qualificou ontem de “incompletos” os estudos que indicam que os dados oficiais sobre o crescimento da economia chinesa estão sobrevalorizados, num comunicado citado pela agência oficial Xinhua.
Os números do Produto Interno Bruto (PIB) chinês são frequentemente questionados por observadores internacionais, que acusam Pequim de manipular os dados por razões políticas.
Por outro lado, algumas entidades apontam erros causados por aspectos técnicos na forma como as autoridades chinesas calculam a expansão da economia. imagem-trabalho-em-serie-Foxconn-680x420
Xu Xianchun refere que o método utilizado por essas entidades, e denominado de Média Móvel Ponderada (WMA, na sigla em inglês), apenas contabiliza uma parte da produção industrial.
“O método WAM não produz dados acurados, porque apenas contabiliza alguns produtos, incluindo o carvão e ferro, e não reflecte a melhoria na qualidade dos bens produzidos”, lê-se na nota citada pela Xinhua.
Os estudos negativos também “subestimam o rápido desenvolvimento do sector dos serviços, incluindo o sector financeiro e a internet, resultado da melhoria da produtividade do trabalho”, aponta.

Outros ritmos

A economia chinesa, a segunda maior do mundo, cresceu 6,9% em 2015, o ritmo mais lento dos últimos 25 anos, segundo dados revelados por Pequim esta semana.
Ao longo de 2015, a economia do “gigante” asiático continuou a abrandar progressivamente ao crescer 7%, no primeiro e segundo trimestre, 6,9% (terceiro) e 6,8% (quarto).
De acordo com dados do centro de pesquisa sediado em Londres Capital Economics, o crescimento no último quarto do ano fixou-se em 4,5%, enquanto a agência Bloomberg coloca o crescimento para o conjunto do ano em 6,8%, ligeiramente abaixo da estimativa oficial.
Xu argumenta que a China adequou este ano o seu sistema de contabilidade do PIB ao Special Data Dissemination Standard (SDDS), o mecanismo utilizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), visando maior transparência estatística.
O SDDS foi estabelecido em 1996 para guiar os países que pretendiam aceder aos mercados internacionais de capitais na disseminação de informação financeira.
“As práticas da China estão em linha com os padrões internacionais”, defendeu Xu, argumentando que os dados extraídos pelas autoridades são aceites por organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial e o FMI.

22 Jan 2016

Taiwan elege presidente para defender identidade e soberania

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] população de Taiwan deverá eleger no sábado, após anos de aproximação de Pequim, um presidente menos favorável à China, num escrutínio que simboliza a luta pela identidade e soberania da ilha em relação ao gigante asiático.
O principal partido da oposição, o Partido Democrático Progressista (PDP), e a dirigente, Tsai Ing-Wen, de 59 anos, vão ser os principais beneficiários da insatisfação popular e Tsai poderá tornar-se na primeira mulher na presidência da República da China, de acordo com as últimas sondagens.
As últimas sondagens atribuem a Tsai 40% dos votos, ou o dobro do que pode obter o candidato do KMT, Eric Chu, de 54 anos, presidente da Nova Taipé. size_810_16_9_eleicoes-em-taiwan
Um conservador “externo” está também na corrida presidencial: James Soong, de 72 anos, saído das fileiras do KMT e presidente de um movimento favorável a Pequim, o Partido Povo Primeiro.
Uma vitória de Tsai dará ao PDP a segunda presidência, depois dos dois mandatos de Chen Shui-Bian (2000-2008).
O PDP espera aproveitar a insatisfação dos eleitores para conquistar também e pela primeira vez a maioria dos 113 lugares do parlamento, nas legislativas que decorrem no mesmo dia.
Se vencer Tsai sucederá a Ma Ying-Jeou, membro do Kuomintang (KMT) e líder de uma política inédita de oito anos de aprofundamento dos laços com Pequim, que resultou, em Novembro, numa histórica cimeira bilateral entre Ma e o presidente chinês, Xi Jinping, 66 anos depois da violenta separação entre os dois lados do estreito.
A ilha é independente desde 1949, data em que os nacionalistas do KMT ali se refugiaram depois de terem sido derrotados pelos comunistas, que fundaram, no continente, a República Popular da China.
Pequim considera Taiwan parte da China, que deverá ser reunificada, se necessário pela força.

Com peso e medida

O degelo iniciado pelo KMT permitiu a assinatura de acordos comerciais e um aumento do turismo na ilha, mas muitos habitantes receiam que ao tornar o país economicamente dependente de Pequim, a ilha perca identidade e soberania, além de considerarem que esta política só beneficia as grandes empresas.
“Tenho medo de um governo entusiasta das relações com a China sem uma avaliação cuidadosa dos riscos”, disse Lee Yi-Chung, um empresário de Taiwan. “Não quero que Taiwan seja dirigido pela China”.
A oposição acusou regularmente o presidente cessante de ter vendido a ilha, em segredo, à China. Em 2014, o parlamento foi ocupado por manifestantes em protesto contra um acordo comercial que alegaram ter sido negociado em segredo.
Para Lee Shiao-Feng, professor na universidade nacional de Educação de Taipé, a população receia que a ilha seja um dia “engolida” por Pequim. “Eles querem dizer ‘não’ à China. Os estudos mostram que cada vez mais pessoas, mesmo os continentais de segunda ou terceira geração, consideram-se de Taiwan e não chineses”.
Tsai afirmou que a ilha deve voltar as costas à dependência económica de Pequim e prometeu que ouvirá a opinião pública relativamente às relações bilaterais.
Sinal de pragmatismo, a candidata teve o cuidado de sublinhar que o “status quo” será mantido, moderando consideravelmente o discurso tradicionalmente independentista do PDP.
O objectivo é tranquilizar Pequim, mas também os Estados Unidos, principal aliado de Taipé, que querem manter a estabilidade na região. Por outro lado, a grande maioria dos eleitores também quer a paz.
Pequim já advertiu que não negociará com um dirigente que não reconheça o princípio de que Taiwan faz parte “de uma única China”.
Este consenso táctico, concluído em 1992 entre os dois lados, determina a existência de “uma única China”, deixando a cada parte a interpretação deste princípio.

Arrefecimento local

Diversos especialistas consideraram que a China não pretende alienar Taiwan, caso Tsai vença as eleições, dado que o objectivo final é a reunificação.
“Pelo menos durante o primeiro ano, Pequim vai avançar com gestos de conciliação”, afirmou Willy Lam, professor do centro de Estudos Chineses da universidade chinesa de Hong Kong.
Mas “se após dois ou três anos, o governo continuar a mostrar sinais de indiferença em relação ao diálogo político, é possível que Pequim endureça a sua posição”, acrescentou.
“As relações vão arrefecer”, previu Steve Tsang, professor de Estudos sobre a China contemporânea na universidade de Nottingham (Reino Unido). “Tsai não fará nada, nem dirá algo para provocar Pequim, mas Pequim não confia nela” ou no PDP, disse.
Durante o percurso da China em direcção à posição dominante que ocupa agora no mundo, Taiwan foi sendo progressivamente marginalizada na cena diplomática, sendo apenas oficialmente reconhecida por 22 países.
A ilha mantém laços informais com os Estados Unidos.

15 Jan 2016

Hong Kong | CY Leung promete banir comércio de marfim

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong comprometeu-se a iniciar o processo legislativo para banir a importação e exportação de troféus de elefante, e a avançar, em breve, para legislação que proíba totalmente a sua comercialização.
“Hong Kong está a ser visto pela comunidade internacional como um centro de comércio ilegal de marfim. Isto denegriu a reputação da cidade”, disse Leung Chun-ying na quarta-feira, durante a apresentação das suas Linhas de Acção Governativa para2016, citado ontem pelo jornal South China Morning Post.
“[O Governo] vai dar início ao processo legislativo assim que possível, de modo a banir a importação e exportação de troféus de caça de elefantes, e vai activamente explorar outras medidas apropriadas, como avançar com legislação para banir a importação e exportação de marfim e eliminar gradualmente o comércio local de marfim, e impor sanções mais pesadas ao tráfico e comércio ilegal de espécies ameaçadas”, afirmou CY Leung. 400x295xcy-leung1.jpg,qdcff27.pagespeed.ic.QziVDBYvnZ
Uma proibição global do comércio de marfim, abrangendo Hong Kong, foi implementada em 1989, sendo autorizada a comercialização de uma quantidade muito reduzida de presas. No entanto, muitas organizações têm alertado que estas presas pré-1989 foram usadas para esconder o contrabando de marfim nos últimos anos, lembra o jornal.

Bons conselhos

O anúncio do chefe do Executivo de Hong Kong surgiu um mês depois de os deputados da região chinesa com administração especial terem aprovado uma moção, não vinculativa, que instava o Governo a avançar com leis contra o tráfico de presas de elefante e de outras espécies ameaçadas.
“A história mostrou-nos que a venda legal de marfim apenas serve para ajudar a esconder o comércio ilegal, que alimenta a caça desenfreada a que assistimos em África. Hong Kong sempre foi o epicentro desse comércio”, disse o director executivo do grupo WildAid, Peter Knights.
Apesar dos aplausos dos grupos de conservação, o anúncio de CY Leung foi classificado como “ridículo” pelos joalheiros e esculpidores que continuam a vender produtos de marfim. Um dos entrevistados pelo diário acusou mesmo o Governo de querer levar o seu negócio “à extinção”.
“Há 20 anos que o nosso negócio é afectado. Já nem trabalhamos assim tanto com marfim”, queixou-se Daniel Chan, considerando a medida “ridícula”.
O comerciante afirmou que se o Governo realmente avançar com a proibição, terá de compensar as lojas, os esculpidores e os comerciantes. Segundo Chan, a sua empresa ainda tem reservas de marfim compradas há mais de 20 anos.
“Falam sobre a caça aos elefantes, mas quantos é que nós matámos? Nos é que nos estamos a extinguir (…) Não há novas pessoas a juntarem-se à indústria e as antigas estão a reformar-se”, apontou.

15 Jan 2016

Detido cidadão sueco co-fundador de ONG

Peter Dahlin foi detido no aeroporto de Pequim quando se preparava para apanhar um voo para a Tailândia. Encontrava-se desaparecido há vários dias e é acusado de pôr em perigo a segurança do Estado

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo chinês confirmou ontem a detenção do sueco Peter Dahlin, o co-fundador da organização não-governamental (ONG) China Action dado como incontactável há dias, e assegurou que permitirá que este contacte com diplomatas do seu país.
“Peter foi detido pelas autoridades de Pequim por suspeita de pôr em perigo a segurança do Estado. Está a ser investigado”, disse ontem em conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Hong Lei.
Hong assegurou que a China protegerá os direitos e interesses de Dahlin “de acordo com a lei” e “facilitará aos funcionários do consulado (sueco) o cumprimento do seu dever”.
Dahlin, de 35 anos, que apoia os defensores dos direitos humanos, nomeadamente nos seus problemas com a justiça – foi abordado no início do mês, quando se preparava para embarcar num voo no aeroporto de Pequim, quando viajava para a Tailândia, via Hong Kong, disse o seu colega Michael Caster à Agência France-Presse, identificando-o como Peter Dahlin.
Anteriormente, um porta-voz da associação norte-americana Chinese Human Rights Defenders havia-o identificado como Peter Beckenridge.
As autoridades confirmaram posteriormente a diplomatas suecos a detenção de Dehlin, acusado de pôr em perigo a segurança do Estado, uma acusação muito grave na China e que a ONG considera “infundada”.
Aquela organização denunciou, em comunicado, que nos últimos dez dias ninguém conseguiu contactar com o sueco, nem sequer diplomatas do seu país, o que supõe uma violação da lei chinesa e das convenções internacionais.
A Chinese Urgent Action Working Group apresentou recentemente à ONU um documento detalhado sobre as “manobras de intimidação, a vigilância, as agressões físicas, os desaparecimentos e as detenções arbitrárias” que afectam os activistas e os dissidentes chineses.
O texto incluía um contacto do homem agora detido, mas ninguém atende nesse número desde terça-feira.

Cerco apertado
Na presidência de Xi Jinping, a China tem endurecido a repressão contra as vozes críticas ao regime comunista, mandando prender tanto activistas como autores de blogues, advogados e intelectuais.
Foi também tornado público um projecto de lei que, entre outras medidas, estipula que as ONG estrangeiras devem estabelecer uma parceria com pelo menos um órgão governamental e submeter os seus planos de acção à polícia, para aprovação.
Segundo meios de comunicação estatais, os voluntários das organizações não-governamentais estrangeiras a operar na China pretendem sabotar a segurança nacional ou tentam “criar problemas” para desencadearem uma “revolução colorida” contra o Partido Comunista.
Muitas organizações e governos ocidentais estão preocupados com a possibilidade de esta legislação restringir significativamente as suas actividades, pois as referências vagas à “segurança do país” podem abrir caminho a uma repressão deixada ao critério da polícia.
Desde Julho passado, cerca de 300 advogados foram interrogados, detidos ou colocados sob vigilância residencial, entre os quais 38 continuam detidos pela polícia.

14 Jan 2016

MNE Britânico | “Liberdade de navegação no Mar do Sul da China não é negociável”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Philip Hammond, afirmou ontem, durante uma visita às Filipinas, que qualquer tentativa de limitar a circulação aérea e marítima no Mar do Sul da China seria vista como “sinal de alerta”. A China anunciou ter feito aterrar três aviões no recife Yongshu Jiao, motivando protestos por parte do Vietname e Filipinas, que reivindicam o território, e gerando receios de que Pequim imponha um controlo militar na zona.
“A liberdade de navegação e sobrevoo não são negociáveis. São sinais de alerta para nós”, disse Hammond, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo filipino, Albert del Rosario, em Manila.
Hammond não elaborou sobre o tipo de medidas que podem ser tomadas caso o “sinal de alerta” seja activado, afirmando apenas que o Reino Unido vai continuar a defender o seu direito de navegar na zona.
Albert del Rosario manifestou-se preocupado com os testes de voo, que acredita serem prova de que a China está a preparar terreno para a declaração de uma Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ, na sigla inglesa), semelhante à declarada no Mar da China Oriental.
“Se isto não for contestado, a China vai assumir uma posição em que a ADIZ seria imposta”, disse.
O Vietname, que também reclama território no Mar do Sul da China, condenou os testes de voo, considerando-os uma violação da sua soberania.
A China tem alarmado os seus rivais com a construção de enormes aterros e instalação de estruturas em recifes disputados, incluindo uma pista de aterragem em Yongshu Jiao.
As Filipinas pediram a um tribunal apoiado pelas Nações Unidas para invalidar a reivindicação da China sobre a quase totalidade do Mar do Sul da China. Uma decisão é esperada este ano.

8 Jan 2016

Livreiros | Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos prepara manifestação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos e Patrióticos na China, de Hong Kong, anunciou ontem que vai realizar um protesto no domingo para exigir respostas por partes das autoridades chinesas relativamente ao desaparecimento de cinco livreiros da antiga colónia britânica. A Aliança é conhecida nomeadamente por organizar anualmente a vigília em homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen, com Hong Kong a figurar como o único local em toda a China a assinalar a efeméride, a par de Macau, que também o faz mas numa escala muito menor.
Segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), o grupo vai realizar uma marcha no próximo domingo, que vai arrancar da sede do Governo, no complexo de Tamar, com destino ao Gabinete de Ligação da China, e espera que cerca de cinco mil pessoas adiram à manifestação.
O vice-presidente da Aliança, Richard Tsoi, instou a população a juntar-se à iniciativa, afirmando que se trata de um momento crítico para Hong Kong defender os direitos humanos e o princípio “Um país, dois sistemas”, que lhe confere autonomia relativamente a Pequim.
O desaparecimento de cinco livreiros associados à publicação de obras críticas do Partido Comunista da China tem desencadeado uma onda de revolta e preocupação face à suspeita de que foram ilegalmente detidos pelas autoridades da China.
No passado domingo, aproximadamente meia centena de pessoas, incluindo figuras públicas como deputados, manifestaram-se também junto ao Gabinete de Ligação da República Popular da China em Hong Kong para exigir respostas sobre o paradeiro dos desaparecidos e pedindo uma investigação aos desaparecimentos.
Esse protesto teve lugar depois de conhecido o mais recente caso, que envolve Lee Bo, um dos responsáveis da livraria Causeway Books – onde se podem encontrar obras críticas do regime e do PCC e, portanto, popular entre muitos turistas provenientes da China, dado que lhes vêem vedado o acesso a este tipo de leituras.
Lee Bo, de 65 anos, foi visto pela última vez no dia 30 de Dezembro, no armazém da Mighty Current, a casa editora proprietária da livraria, num caso que ocorreu semanas depois de quatro dos seus associados terem desaparecido em circunstâncias idênticas e que continua envolto em mistério.
Num espaço de dias, a mulher apresentou queixa à polícia e retirou-a, dando conta de que o marido dera sinais de vida ao enviar um fax, escrito à mão, a um amigo, em que terá indicado ter ido à China “pelo seu próprio método”, que estava a trabalhar numa investigação que “pode levar tempo”, e que teve de gerir o assunto de forma “urgente” para evitar que desconhecidos tomassem conhecimento.
Além disso, terá assegurado, na mesma missiva, que estava bem e que tudo decorria com normalidade.
Os outros desaparecidos, além de Lee Bo, que detém passaporte britânico, são o editor, que tem passaporte sueco, Gui Minhai, desaparecido numa viagem à Tailândia, o gerente geral do estabelecimento, Lu Bo, o principal gestor do negócio, Lin Rongji, e o funcionário Zhang Zhiping.
A estes confusos factos, juntam-se declarações do deputado democrata e advogado dos direitos humanos Albert Ho, segundo o qual estava em preparação um livro sobre a vida amorosa do Presidente chinês, Xi Jinping, em particular sobre uma namorada antiga, o que relacionou com os desaparecimentos.
O Presidente chinês tem levado a cabo uma intensa campanha anti-corrupção para punir o alegado hedonismo no seio do Partido Comunista, o que inclui o que são considerados excessos na vida sentimental dos membros do partido, alguns publicados nas obras vendidas pela livraria Causeway Books.

8 Jan 2016

Yuan desvaloriza pelo oitavo dia seguido

A taxa de referência do yuan foi cortada pelo oitavo dia consecutivo, para o nível mais baixo desde Março de 2011. Foi a maior desvalorização desde Agosto, altura em que a intervenção no mercado cambial também provou uma tempestade nos mercados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Banco Popular da China cortou a taxa de referência do yuan esta quinta-feira, 7 de Janeiro, pelo oitavo dia consecutivo, para o nível mais baixo desde Março de 2011. A decisão levou as acções chinesas a desvalorizarem mais de 7%, acabando por ser suspensas, pela segunda vez esta semana, apenas 30 minutos depois do início da negociação.
O banco central da China fixou a taxa de referência em 6,5646 por dólar americano antes da abertura do mercado, 0,5% abaixo da anterior cotação de 6,5314. Esta foi a maior queda entre as fixações diárias desde a desvalorização realizada em meados de Agosto que, tal como agora, desencadeou um período de forte turbulência nos mercados mundiais.
Actualmente, a moeda chinesa está autorizada a negociar num intervalo de 2% acima ou abaixo da fixação oficial diária.
Nos últimos meses, as autoridades chinesas vinham reduzindo os esforços de intervenção no mercado, depois de a turbulência em Agosto ter obrigado a medidas extremas, que incluíram a obrigação de os fundos estatais comprarem acções e a suspensão de ofertas públicas iniciais.
Segundo fontes citadas pela Bloomberg, o banco central está agora a considerar novas medidas para impedir uma elevada volatilidade na taxa de câmbio do yuan e vai continuar a intervir no mercado cambial. Segundo a mesma fonte, as medidas que estão a ser consideradas têm como objectivo restringir a arbitragem entre as taxas offshore e onshore.
O banco central também reduziu as suas reservas de divisas para 3,33 biliões de dólares no final de Dezembro, o valor mais baixo dos últimos três anos.
Este ano, foi introduzido o mecanismo de suspensão das acções criado para travar fortes volatilidades no mercado. Contudo, este mecanismo tem sido criticado pelos analistas, por considerarem que aumenta ainda mais as desvalorizações, já que os investidores antecipam a venda das suas posições para não correrem o risco de ficarem “presos” com a suspensão.
Esta quinta-feira, o regulador também impôs um novo limite à quantidade de acções que os accionistas de grandes empresas podem vender. Na terça-feira – dia em que as acções chinesas valorizaram – o governo interveio no mercado através dos fundos estatais para impulsionar o mercado.

Reservas internacionais caem para o menor nível em 3 anos

As reservas internacionais da China recuaram ao menor nível em três anos em Dezembro, uma queda que deve intensificar as preocupações sobre a capacidade de Pequim conter a saída de capital. As reservas internacionais do país recuaram US$ 107,92 mil milhões em Dezembro, para US$ 3,330 biliões, informou nesta quinta-feira o Banco do Povo da China (BPC). Os formuladores da política monetária e os agentes do mercado têm acompanhado com atenção as reservas, desde que o BPC desvalorizou o yuan em cerca de 2% em Agosto, gerando preocupações sobre a possibilidade de um enfraquecimento maior da moeda chinesa. Isso levou a uma queda recorde de US$ 93,9 mil milhões nas reservas, enquanto Pequim actuava para apoiar a divisa. Em Novembro, as reservas internacionais da China haviam recuado US$ 87,22 mil milhoes, para US$ 3,438 biliões – que já era o nível mais baixo desde fevereiro de 2013.

Bolsas voltam a suspender operações

As bolsas da China voltaram a suspender as suas operações nesta quinta-feira, menos de 30 minutos depois do início do pregão, por causa de uma queda de mais de 7%, depois do anúncio oficial da desvalorização do yuan, a maior desde Agosto. As autoridades da China reduziram o nível de referência do yuan em relação ao dólar em 0,51%, a 6,5646 yuans por dólar, a menor taxa desde Março de 2011. Esta foi a segunda vez esta semana que as bolsas chinesas activaram o mecanismo de suspensão, que entrou em vigor na segunda-feira. O índice de Xangai perdia 7,04%, aos 3.125,00 pontos enquanto o Shenzhen recuava 8,35% aos 1.955,88 pontos. Em Hong Kong, o Hang Seng recuou 3,09% aos 20.333,34 pontos; em Tóquio, o Nikkei 225 caiu 2,33% aos 17.767,34 pontos; em Seul, o Kospi teve queda de 1,10% aos 1.904,33 pontos; em Singapura, o Straits Times teve baixa de 2,65%, aos 2.729,91 pontos; e em Taiwan, o Taiwan Weighted caiu 1,73% aos 7.852,06 pontos.

8 Jan 2016

Coreia do Norte diz que testou pela primeira vez bomba de hidrogénio

O regime de Pyongyang afirma ter feito explodir uma bomba de hidrogénio. A condenação é geral. A China retira gente da fronteira

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Coreia do Norte afirmou ontem ter realizado, com sucesso, o seu primeiro teste nuclear de hidrogénio, dando um significativo passo no desenvolvimento do seu programa nuclear. “O primeiro teste com bomba de hidrogénio da República foi realizado com sucesso às 10:00 do dia 6 de Janeiro, 2016, baseado na determinação estratégica do Partido dos Trabalhadores”, anunciou a televisão estatal norte-coreana.
Vários centros de actividade sísmica detectaram ontem um abalo na Coreia do Norte, levantando-se, de imediato, a possibilidade de ter sido causado por um teste nuclear. “Com o sucesso total da nossa histórica bomba-H, juntámo-nos ao grupo dos Estados nucleares avançados”, anunciou Pyongyang, acrescentando que o teste foi feito com um dispositivo “miniaturizado”.
O teste foi encomendado pessoalmente por Kim Jong-un e aconteceu dois dias antes do seu aniversário. No mês passado, durante uma inspecção militar, Kim sugeriu que Pyongyang tinha já desenvolvido uma bomba de hidrogénio, apesar de o anúncio ter sido acolhido com cepticismo por especialistas internacionais.
A bomba de hidrogénio, ou termonuclear, usa a fusão nuclear numa reacção em cadeia que resulta numa explosão poderosa. “O último teste, totalmente assente na nossa tecnologia e pessoal, confirmou que os nossos recursos tecnológicos, recentemente desenvolvidos, são precisos e demonstram cientificamente o impacto da nossa bomba-H miniaturizada”, disse o apresentador televisivo, que transmitiu a mensagem do regime.
A realização efectiva do teste tem ainda de ser confirmada pela comunidade internacional. Apesar de se comprometer a não ser o primeiro a recorrer à bomba, o regime de Pyongyang indicou que continuará a desenvolver as suas capacidades de ataque nuclear. “Enquanto persistir a política anti-Coreia do Norte dos Estados Unidos não vamos parar de desenvolver o nosso programa nuclear”, afirmou.

Chineses deslocados

Entretanto, os chineses que residem em zonas perto da fronteira com a Coreia do Norte foram deslocados de suas casas, após o anúncio da realização de um teste nuclear, informa a imprensa oficial. Os residentes fronteiriços “sentiram claramente tremores”, após Pyongyang ter detonado o que diz ser uma bomba de hidrogénio, afirmou a emissora pública chinesa CCTV. As zonas evacuadas incluem Yanji, Hunchun e Changbai na província de Jilin. Segundo a televisão chinesa CCTV, os residentes de Yanji viram as mesas e cadeiras abanarem durante vários segundos e algumas empresas ordenaram aos funcionários que abandonassem os escritórios. Os estudantes de uma escola secundária foram dispensados durante um exame depois de uma fenda ter surgido no pátio.

Japão e EUA medem radiação no ar

Por seu lado, o Japão e os Estados Unidos enviaram ontem aviões de reconhecimento para uma área próxima da península coreana para medir a radioactividade no ar, depois de o governo norte-coreano ter anunciado o primeiro teste de uma bomba de hidrogênio. Um avião das Forças de Defesa do Japão vai recolher amostras de ar para analisar a presença de partículas radioactivas, o que representaria um indício do novo teste atómico desenvolvido pelo regime de Kim Jong-un, informaram fontes governamentais à agência Kyodo. Os Estados Unidos também enviaram aviões para o local com o mesmo objectivo, como fizeram em testes nucleares anteriores da Coreia do Norte, em 2006, 2009 e 2013, disse à agência Efe um porta-voz do Ministério da Defesa japonês. Os testes para detectar material radioactivo podem fornecer informação sobre a natureza do teste nuclear. No último teste atómico norte-coreano, em 2013, os aviões de reconhecimento não encontraram quaisquer vestígios, o que poderia indicar que o país fechou totalmente os túneis onde ocorreu a explosão.

China | Firme oposição

A China, o principal aliado da Coreia do Norte, disse ontem que se “opõe firmemente” ao teste nuclear de Pyongyang, acrescentado que o ensaio foi realizado “apesar da oposição da comunidade internacional”. “Instamos fortemente a DPRK [Coreia do Norte] a respeitar o seu compromisso de desnuclearização, e a suspender qualquer ação que possa tornar a situação ainda pior”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.

Japão | Condenação veemente

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, condenou hoje o teste de uma bomba de hidrogénio, anunciado pela Coreia do Norte, considerando-o uma “ameaça grave” para o Japão e um “sério desafio” aos esforços de não-proliferação nuclear. “Condeno-o veementemente”, afirmou Abe. “O teste nuclear que foi realizado pela Coreia do Norte é uma grave ameaça à segurança da nossa nação e não podemos, absolutamente, tolerá-lo”, disse. O primeiro-ministro nipónico considerou também que o teste representa “um sério desafio aos esforços internacionais de não-proliferação” nuclear.

Hidrogénio, mas pouco

O Ministério da Defesa da Coreia do Sul afirmou ontem que as autoridades do país acreditam que o ensaio nuclear ontem anunciado por Pyongyang envolveu uma pequena quantidade de hidrogénio.
“Vamos descobrir o que aconteceu depois de uma análise mais aprofundada, mas o que sabemos, para já, é que uma pequena quantidade de hidrogénio foi utilizada no quarto teste nuclear” da Coreia do Norte, explicou o porta-voz do ministério, Kim Min-seok, citado pelo serviço noticioso online MoneyToday.
O anúncio norte-coreano, ontem de manhã, acerca de um primeiro teste com uma bomba de hidrogénio começou por ser recebido com algum cepticismo. Peritos ouvidos pelas agências internacionais levantaram dúvidas sobre a verdadeira composição do ensaio levado a cabo pelo regime de Kim Jong-un, afirmando que a actividade sísmica provocada pela explosão sugere a utilização de um explosivo com menos potência.
O especialista australiano Crispin Rovere, perito em controlo de armas e em política nuclear, entende que o tremor de terra de magnitude 5.1 registado no local de testes nucleares de Punggye-ri, na Coreia do Norte, não sustenta a notícia avançada por Pyongyang.
“Os dados sísmicos que foram recebidos indicam que a explosão é provavelmente mais fraca do que seria de esperar de uma bomba de hidrogénio”, aponta. “Parece que conseguiram conduzir com sucesso um teste nuclear, mas não foram bem-sucedidos na segunda fase da explosão do hidrogénio.”
Também Choi Kang, vice-presidente do Instituto para o Estudo de Políticas Asan, com sede em Seul, tem reticências em relação à verdadeira natureza da explosão. “Não me parece que tenha sido um teste de uma bomba de hidrogénio. A explosão teria de ser maior se fosse uma bomba desse género”, defende.
A Coreia do Norte, um dos regimes mais fechados do mundo, tem feito vários anúncios em torno do armamento nuclear de que dispõe, mas são alegações que, até à data, estão por confirmar. Entre as capacidades bélicas que Pyongyang diz ter está a possibilidade de um ataque aos Estados Unidos, uma hipótese que, até à data, tem sido afastada pelos especialistas na matéria.
Bruce Bennett, analista de defesa a trabalhar para a Rand Corporation, não estava ontem convencido da autenticidade do anúncio norte-coreano: “Se fosse uma verdadeira bomba de hidrogénio, o registo na escala de Richter teria sido muito mais forte do que aquele que vimos”.

Coreia do Sul | Isto muda tudo

A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, disse que o país vai tomar medidas firmes contra qualquer provocação adicional da Coreia do Norte e trabalhar com a comunidade internacional para garantir que Pyongyang pague o preço pelo seu mais recente teste nuclear. Em declarações divulgadas pelo gabinete presidencial sul-coreano, Park disse que o novo teste pode mudar a natureza fundamental da situação sobre o programa nuclear da Coreia do Norte. Separadamente, a agência de notícias sul-coreana Yonhap disse que o serviço de inteligência de Seul acredita que a potência da explosão provocada pelo teste norte-coreano foi equivalente a 6.0 quilotons.

Reino Unido | Grave provocação

“Se um dispositivo nuclear foi detonado pela Coreia do Norte, isto é uma grave violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e uma provocação que eu condeno”, disse o ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Philip Hammond. “Estamos a trabalhar com outros membros do Conselho de Segurança da ONU para garantir que a comunidade internacional responda com urgência e de forma decisiva esta ação da Coreia do Norte”, acrescentou Hammond.

França | Violação inaceitável

“A França condena esta violação inaceitável das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e apela a uma forte reacção da comunidade internacional”, afirmou o gabinete do presidente francês, François Hollande.

Austrália | Um país perigoso

Julie Bishop, MNE australiana, afirmou em um comunicado que a acção “confirma o país como ‘perigoso’ e uma contínua ameaça à paz e segurança internacional”.

Rússia | Violação das resoluções da ONU

A Rússia classificou ontem de violação flagrante das resoluções da ONU o anúncio feito pela Coreia do Norte do seu primeiro teste com uma bomba de hidrogénio. «Se esse teste for confirmado, representará um novo passo de Pyongyang no caminho do desenvolvimento de armas nucleares o que constitui uma violação do direito internacional e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU», afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) em comunicado.

Conselho de Segurança reúne de emergência

O Conselho de Segurança da ONU planeava realizar ainda ontem, quarta-feira, uma reunião de emergência para discutir o teste feito pela Coreia do Norte com uma bomba de hidrogénio, disse a missão dos EUA na ONU. Falando à Reuters sob a condição de anonimato, vários diplomatas disseram que a reunião foi marcada para as 11h (22h, pelo horário de Macau). Os diplomatas disseram que a reunião será provavelmente à porta fechada. “Os Estados Unidos e o Japão solicitaram consultas de emergência ao Conselho de Segurança, com relação ao alegado teste nuclear da Coreia do Norte”, disse a porta-voz da missão dos EUA na ONU, Hagar Chemali, em comunicado. “Condenamos qualquer violação das resoluções do Conselho de Segurança e, novamente, pedimos à Coreia do Norte que se adeque às suas obrigações e compromissos internacionais”, acrescentou. Não ficou imediatamente claro qual atitude a tomar pelo Conselho de Segurança, formado por 15 países, em resposta ao comunicado da Coreia do Norte afirmando ter conduzido um teste nuclear. Um diplomata ocidental disse que, caso seja confirmado o teste nuclear da Coreia do Norte, os membros do conselho expandirão as actuais sanções da ONU contra Pyongyang.

7 Jan 2016

Partido Comunista reforça proibição das superstições

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Partido Comunista Chinês reforçou a proibição da crença em “superstições feudais”, como parte de novas regulações disciplinares, avançou ontem a imprensa estatal. O Presidente Xi Jinping tem vindo, nos últimos meses, a apertar o controlo dentro do partido, juntamente com a sua campanha anticorrupção.
Xi Jinping exigiu aos 88 milhões de membros do partido uma maior adesão aos ensinamentos ideológicos e alertou-os contra o questionamento público de políticas oficiais. 110629pcchines2_f_020
As práticas supersticiosas, como a crença em adivinhos e nas práticas tradicionais chinesas de ‘feng shui’, vão contra as crenças centrais marxistas do partido, que dizem ser fundadas em métodos científicos. Vários dirigentes de alto nível do partido foram acusados de participar em práticas supersticiosas nos últimos anos.
Zhou Yongkang, o antigo chefe de segurança e o mais alto detentor de cargo público a sucumbir à campanha anticorrupção, pediu conselhos a Cao Yongzheng, um adivinho e mestre da prática de meditação chinesa de ‘qigong’. Mais tarde, Cao Yongzheng testemunhou contra Zhou durante o julgamento.
As novas regras, que entraram em vigor este ano, ameaçam com expulsão do partido membros que “organizem” actividades supersticiosas, enquanto aqueles que apenas participem enfrentam avisos, diz a agência oficial Xinhua.
A linguagem utilizada é mais severa que a da versão anterior, de 2003, quando a “superstição feudal” estava incluída nas actividades que “perturbam a produtividade, o trabalho e a ordem social”. Agora, as novas regras elevam a “superstição feudal” a uma categoria por si própria, tornando-a uma violação distinta à disciplina do partido.

5 Jan 2016

Mulheres de conforto | Amnistia Internacional teme que Japão não assuma responsabilização legal

Japão e Coreia do Sul reúnem-se hoje para mais uma vez abordar a questão das “mulheres de conforto”, usadas pelo exército nipónico como escravas sexuais durante a II Guerra Mundial. Tóquio propõe um fundo de 100 milhões de yens para ajudar as vítimas, mas a Amnistia Internacional quer responsabilização legal

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s ministros dos Negócios Estrangeiros japonês Fumio Kishida e sul-coreano Yun Byung Se terão hoje uma reunião para resolver uma questão que vem sendo tabu – e até negada pelo Japão – entre os dois países: as “mulheres de conforto”. A ideia deste encontro, avançou ontem a AFP, é definir um novo fundo monetário para ajudar as vítimas, cifrado nos 100 milhões de yens para os japoneses. No entanto, a Coreia atira o montante para lá dos 1000 milhões de yens, de acordo com fontes diplomáticas citadas pela agência Kyodo.
O HM falou com Hiroka Shoji, representante da Amnistia Internacional (AI) no Sudeste Asiático, que não se mostrou muito confiante quanto a resultados efectivos do encontro. O ponto fulcral, defende, é que o Japão assuma responsabilidade legal pelo flagelo causado. No entanto, Shoji mostrou-se céptica perante esse cenário, embora não descarte a possibilidade de Shinzo Abe se mostrar solidário com o sofrimento das vítimas. “É pouco provável que ouçamos um verdadeiro pedido de desculpas”, completou, acrescentando que a AI entende que “o Japão não fez progressos” reais.
“Estamos muito preocupados com dois pontos: o primeiro é o facto do acordo poder não trazer uma solução efectiva, porque o governo japonês tem vindo a negar a responsabilidade legal há anos e o segundo tem que ver aquilo que o povo sul-coreano entende ser uma recompensa monetária para comprar o seu silêncio”, continuou a representante. NIOD-106359_0101-diptych-1024x706
As vítimas da situação continuam a exigir um pedido de desculpas, mesmo depois do Japão o ter feito em 1993 e o HM quis saber, junto de Shoji, qual a razão para a insistência. “Foi um acto simbólico no sentido em que os japoneses reconheceram o seu envolvimento nos actos de violência, mas não assumiram, verdadeiramente, a sua responsabilidade perante as atrocidades cometidas que eles próprios cometeram ao violar estas mulheres”, explicou a responsável.
A questão tem-se arrastado desde o final do conflito, tendo mesmo havido japoneses a negar a factualidade das violações. “As ‘mulheres de conforto’ não eram escravas sexuais, mas sim prostitutas em alturas de guerra que gostavam de passar o tempo com pessoas que lhes pagavam recompensas bastante elevadas por esse tempo”, disse Yumiko Yamamoto, presidente do grupo japonês de defesa das mulheres Nadeshiko Action durante uma cimeira das Nações Unidas (ONU) em Julho de 2014. Foi durante o mesmo debate que o especialista britânico Nigel Rodley defendeu que as famílias e vítimas do flagelo “precisam de um pedido de desculpas oficial, claro e de reconhecimento de total responsabilidade por as terem [às mulheres sul-coreanas] a participar em actividades que podiam ter destruído completamente as suas vidas”.

Esperar para ver

A reunião de hoje deverá servir para os dois governos decidirem se abordam, a 31 de Março do próximo ano, esta questão numa cimeira nuclear com líderes mundiais em Washington. Este é um dos assuntos que mais controvérsia tem trazido às relações bilaterais entre os dois países.
A cimeira contará com a participação da presidente sul-coreana Park Geun-hye e o Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe, de acordo com informação avançada pela agência noticiosa Kyodo. A representante do Clube Zonta de Macau, Christiana Ieong, coloca a questão da seguinte forma: “A reunião é, sem dúvida, um grande progresso na resolução do problema, mas a soma sugerida pelo Japão pode fazer com que surjam dúvidas quanto à honestidade das suas intenções”. Para Christiana Ieong, a ideia passa pela aceitação por parte do Japão de que a história é inegável. “Factos são factos e não podem ser apagados”, reitera. A responsável sublinha mesmo que é “crucial” que se utilize esta calamidade para mostrar “às gerações futuras” os despojos de uma guerra.
É que, tal como adianta a representante do Clube Zonta, várias vítimas reclamam que a criação de um fundo monetário não resolve os problemas que enfrentam, entre os quais humilhação, perda de reputação, danos morais, mentais e físicos. Além disso, sublinha Christiana Ieong, é preciso não esquecer que se trata “de um problema internacional”, pois não envolveu apenas mulheres sul-coreanas, mas também filipinas, malaias, birmanesas e chinesas. “É preciso ver esta questão como um problema mundial, mas isso só vai acontecer quando o Japão aceitar que estas mulheres não eram prostitutas por vontade própria, mas sim escravas sexuais”, adiantou.
Já no ano passado a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, veio apoiar a luta da Coreia do Sul, repreendendo o passado do Japão. “O recrutamento forçado de mulheres de conforto foi um crime atroz e desumano cometido pelo regime imperialista nipónico contra vítimas de países asiáticos. Esperamos que o lado japonês possa lidar correctamente com as questões deixadas pela história”.

Nipónicos e coreanos

Não é, contudo, a primeira vez que se fala de arranjar uma solução para aquilo a que muitos apelidam de disputa. Foi acordada uma normalização diplomática em 1965, mas a presidente sul-coreana insiste numa solução que “agrade às vítimas e ao povo coreano”. Em Novembro passado, a representante reuniu-se com o seu homólogo japonês pela primeira vez em três anos. “Ambos os países concordaram que é precisam acelerar as conversações – sobre as chamadas ‘mulheres de conforto’ e tentar chegar a um acordo o mais breve possível”, disse a presidente. Park recusou-se a fazer previsões sobre quando a disputa estaria resolvida, acrescentando apenas que esperava soluções ainda este ano. “Devíamos fazê-lo este ano, já que é o 50º aniversário das relações diplomáticas, um ponto de viragem para se avançar”. PAULA ALLEN4

Terror que fica

Pelas chamadas estações de conforto foram passando mulheres de toda a Ásia. No entanto, a esmagadora maioria era originária da Coreia do Sul. A tendência de recrutar mulheres, contra a sua vontade, para satisfazer os desejos dos soldados japoneses em combate pela Ásia democratizou-se depois do Massacre de Nanjing, em Dezembro de 1937.
Vários são os relatos de centenas de mulheres que contaram ao mundo a sua história nas estações de conforto, onde era frequente terem de satisfazer 30 a 40 homens por dia, de acordo com investigações académicas feitas desde então. Esta tendência viu o seu final em 1945, quando foram libertadas pelas forças aliadas e seguiram as suas vidas para outros países asiáticos. Estima-se que estiveram envolvidas no processo entre 80 mil e 200 mil mulheres sul-coreanas.

Park Young-Shim | Por essa China fora

Uma das vítimas que em 2005 deu a cara pela promessa de não morrer antes de ouvir um pedido formal de desculpas do Japão é Park Young-Shim, capturada em sua casa em 1938, numa província de Pyongyang. Park trabalhava então como empregada doméstica na sua cidade quando um polícia japonês a colocou dentro de um comboio e a levou para a China. “Ele disse que me ia introduzir um novo emprego, que seria bom para mim”, recorda a vítima num testemunho de há 10 anos. PAULA ALLEN3
Algumas horas de viagem chegaram para que percebesse que estava em Nanjing, onde foi colocada num quarto com uma cama, localizada num espaço denominado “Estação de Conforto Geumsuro”. Park ficou “extremamente chocada” ao entrar no quarto que seria a partir daí o seu. “Pouco depois, um soldado japonês veio ter comigo e percebi o que ia passar-se”, adiantou no depoimento. Várias foram as sessões de abuso sexual e violência corporal levada a cabo a um ritmo diário. “Fiquei tão doente que nem tomar ópio me tirava as dores, pelo que tentei, por várias vezes suicidar-me, mas nem isso era possível”, lamentou. A situação estendeu-se até ao fim da guerra, período durante o qual Park foi obrigada a servir soldados de várias estações por todo o interior da China.

Kim Tokchin | Uma promessa de trabalho

Kim Tokchin é outra das “mulheres de conforto”. Fazia frio em Incheon, quando em Fevereiro de 1937 a jovem de 17 anos ouviu falar de um homem japonês que prometia trabalho em fábricas nipónicas. Kim foi ao seu encontro e recebeu alojamento e comida até ao dia seguinte, quando foi levada para “um barco enorme”, onde seria feita a travessia até Nagasaki. “Naquela altura os jovens não sabiam nada do mundo e eu, que não tinha ido à escola, não sabia nada. A única coisa que sabia era que iria para uma fábrica ganhar dinheiro, nunca pensei que seria perigoso”, começou Kim por declarar num depoimento para efeitos académicos. Finda a viagem marítima e chegadas a uma casa em Nagasaki, Kim e outras raparigas foram violadas consecutiva e seguidamente numa base diária, até serem transportadas até Xangai, onde encontraram mais duas mulheres japonesas e 20 coreanas. “Acordávamos às sete da manhã, lavávamo-nos e comíamos o pequeno-almoço em turnos. A partir das 9h00 começavam a chegar soldados que formavam filas indianas, mas os oficiais de alta patentes só chegavam às 18h00 e alguns passavam lá a noite”, continua Kim. A atenção à protecção contra doenças venéreas era “quase sempre tida em conta”, mas havia quem não se importasse, já que esperava morrer em combate. “Cada uma tinha que servir entre 30 a 40 homens por dia, mas o número era menor quando havia uma batalha nesse dia. Cada quarto tinha uma caixa de preservativos que era reposta frequentemente e àqueles que recusavam usar, eu dizia-lhes que tinha doenças sexualmente transmissíveis e costumava funcionar”, acrescentou a vítima.

28 Dez 2015

Pequim levanta alerta vermelho devido à poluição

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades de Pequim levantaram ontem aquele que foi o primeiro alerta vermelho por poluição que emitiram, 48 horas depois de medidas para controlar níveis de poluição inferiores aos de ocasiões anteriores.
O alerta terminou formalmente às 12:00, mas já desde madrugada uma frente fria com ventos ligeiros levou o manto de névoa e de poluição que desde o fim de semana cobria a capital chinesa.
As autoridades chinesas anunciaram na segunda-feira que, pela primeira vez desde que se instaurou, em 2013, um sistema de alerta de quatro cores, a activação do nível mais grave, o vermelho, a partir das 7:00 de terça-feira e até ao meio-dia de ontem.
Durante esse período, Pequim pôs em marcha medidas como a circulação dos automóveis privados de acordo com o último número da matrícula – um dia pares, noutro ímpares – ou a proibição de saída para a estrada de veículos pesados.
Além disso, também foram suspensas as obras e as fábricas reduziram ou pararam a produção, incluindo as de geração de energia, as siderurgias e as de cimento.
O pacote de medidas aliviou o habitual denso tráfego de Pequim, também reduzido pela recomendação às escolas primárias e secundárias para que suspendessem as aulas e ao pedido de empresas e instituições oficiais para que fossem permitidos horários flexíveis para os seus funcionários.
Apesar de a medida ter sido aplaudida por organizações como a Greenpeace e a Organização Mundial da Saúde (OMS), que sublinhou que “as autoridades estão a levar a sério a qualidade do ar”, alguns moradores em Pequim consideraram-na excessiva e demasiado prolongada.
Enquanto por estes dias os níveis de poluição rondaram picos de 400 microgramas por metro cúbico das partículas PM 2.5 – as mais prejudiciais à saúde –, na semana passada, quando se activou apenas o alerta laranja após vários dias da maior poluição de 2015 na capital, foram superados os 650 microgramas.
A OMS estabelece em 25 microgramas o máximo recomendado para que não prejudique a saúde.

11 Dez 2015

Kim Jong-un afirma possuir bomba de hidrogénio

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] líder da Coreia do Norte afirmou pela primeira vez que o país tem a bomba de hidrogénio, noticiou ontem a agência oficial KCNA, embora vários peritos duvidem que Pyongyang tenha conseguido desenvolver esta arma.
Kim Jong-un disse que a Coreia do Norte “se transformou num poderoso Estado, que possui armas nucleares, capaz de fazer detonar uma bomba atómica e também uma bomba H (de hidrogénio) para defender eficazmente a soberania e dignidade da nação”, de acordo com a KCNA.
O “Grande Sucessor” proferiu esta afirmação durante uma visita ao sítio de Phyongchon, na capital norte-coreana, onde foi construída a primeira fábrica de munições do país há seis décadas.
O líder, de 32 anos, reafirmou em várias ocasiões que a Coreia do Norte possui armas nucleares e que este recurso é o principal pilar da defesa contra os alegados planos de invasão pelos Estados Unidos.
De acordo com peritos sul-coreanos, esta é a primeira vez que o regime da Coreia do Norte assegura possuir a bomba de hidrogénio, um explosivo que pode multiplicar por milhares a potência de um míssil nuclear comum, como os que foram lançados sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Os serviços secretos sul-coreanos (NIS) afirmaram desconhecer que o regime de Kim Jong-un tenha desenvolvido a bomba de hidrogénio, indicou um dos responsáveis do NIS à agência noticiosa sul-coreana Yonhap, em Seul.
“A Coreia do Norte não teve êxito na miniaturização das bombas nucleares, por isso não pode contar com a tecnologia para produzir uma bomba H”, acrescentou a mesma fonte, que considerou as declarações de Kim Jong-un de “simples retórica”.
No caso das bombas nucleares comuns, a Coreia do Norte conseguiu um grande desenvolvimento tecnológico, tendo realizado três explosões em 2006, 2009 e 2013.
Os especialistas desconhecem se Pyongyang é ou não capaz de miniaturizar os explosivos atómicos para serem instalados nas ogivas dos seus mísseis.

11 Dez 2015

Poluição | Alerta vermelho em Pequim deve-se a “mudança de postura” do Governo

Apesar de ter sido decretado o alerta vermelho de poluição na capital chinesa, a verdade é que quem lá vive diz que pouco ou nada mudou e que os níveis de poluição são iguais. O que mudou foi a postura do Governo Central face ao problema

[dropcap style=’circle’]“L[/dropcap]á fora está mesmo horrível, quase não dá para ver nada.” Foi desta forma que Zhou Xuefei descreveu ao HM o estado da poluição na cidade de Pequim, de onde é natural. Apesar de ter sido decretado o alerta vermelho pelas autoridades na noite de terça-feira, a verdade é que esta gestora de produtos numa empresa chinesa do ramo da internet teve que ir trabalhar.

“Não estou em casa porque mesmo que o Governo recomende que trabalhemos em casa, a empresa não nos disse nada. Quase ninguém aqui está a usar máscara, porque já estamos habituados a esta poluição”, contou Zhou Xuefei.

Esta foi a primeira vez que o Governo chinês emitiu o alerta vermelho sobre o mau estado do ambiente na capital, tendo sido suspensas as aulas nas escolas do ensino básico e médio, enquanto que as empresas foram aconselhadas a adoptar um “sistema de trabalho flexível”. Quanto à circulação automóvel, foi decretado que os carros irão circular alternadamente nos próximos três dias, de acordo com o último número da matrícula: um dia pares, noutro ímpares.

Ainda assim, os residentes com quem o HM falou afirmam que isso não significa que a poluição aumentou. A única coisa que se alterou foi a postura dos governantes face à questão, numa altura em que acontece também a cimeira sobre o ambiente em Paris.

“No ano passado já passámos por algo assim, só que o Governo não lançou o alerta vermelho. A poluição não está pior, mas o Governo começou a dar mais importância, ou pelo menos parece que dá”, referiu Zhou Xuefei.

Também João Pimenta, delegado da Agência Lusa em Pequim, fala de níveis de poluição “normais” para esta época. “O Inverno aqui é sempre cinzento, devido ao aquecimento central. O que não é normal é as autoridades terem colocado a cidade em alerta vermelho”, disse ao HM por e-mail. “A verdade é que até há pouco tempo quase ninguém usava máscara em Pequim. E era normal ver crianças a brincar ao ar livre nos dias de maior poluição. Mas sem dúvida que hoje existe maior consciencialização dos riscos e consequências”, acrescentou.

Sinais do alerta

Jacinta Jiang, também natural de Pequim, não teve de ir trabalhar porque encontra-se na fase final da sua licenciatura em Língua Portuguesa. Ficou em casa, ao contrário dos pais, que tiveram de enfrentar o intenso nevoeiro das ruas. “O meu irmão não foi à escola. Temos dois purificadores em casa, a poluição é muito grave”, disse.

Também esta estudante considera que o Governo está a dar mais atenção ao problema. “A poluição sempre existiu e não acontece só por causa da população, mas também por causa das fábricas. Mas o Governo chinês já presta mais atenção ao problema.”

João Pimenta antevê tempos difíceis caso os dirigentes chineses emitam mais alertas vermelhos. “A semana passada a densidade das partículas PM 2.5 – as mais finas e susceptíveis de se infiltrarem nos pulmões – situou-se entre os 450 e 600 microgramas por metro cúbico ao longo de três dias consecutivos, mas o nível de alerta não ultrapassou o laranja – o segundo mais alto. Hoje (ontem), o mesmo indicador ronda os 300 microgramas por metro cúbico. É estranho, e se passar a ser norma, acarretará um impacto significativo na vida dos locais”, disse.

Isto porque “o alerta vermelho inclui o encerramento de escolas e o condicionamento do trânsito, com os automóveis a circular alternadamente, de acordo com o último número da matrícula. Inclui também que os trabalhos sejam suspensos nas fábricas e estaleiros mais poluentes. Se for decretado o alerta vermelho de cada vez que os níveis de poluição atinjam o nível de hoje, isto corresponderá seguramente a mais de metade dos dias de Inverno”, frisou o jornalista.

Menos tolerância

Apesar da China ser um dos países participantes da Cimeira do Clima em Paris, a verdade é que o problema da poluição no continente é cada vez mais notório, embora as autoridades continuem, ao mesmo tempo, a querer escondê-lo. Uma publicação na rede social Facebook feita ontem pela agência noticiosa Xinhua, na página “China Xinhua News” é disso exemplo. Imagens de pessoas a usar máscara foram publicadas, com a seguinte legenda: “O nevoeiro está de volta! Várias máscaras começam a aparecer. Será importante manterem-se saudáveis e felizes ao usarem a vossa máscara preferida.”

Nas ruas, o sentimento popular é bem diferente. “A população tolera cada vez menos a poluição e eu acho que isso está relacionado com a informação que circula na internet e, particularmente, com o documentário ‘Under the Dome’, da ex-jornalista da CCTV Chai Jing, que foi viral na internet chinesa, apesar da censura”, contou João Pimenta.

“Temos de assumir responsabilidades, o Governo tem culpa, mas nós também temos”, defendeu Zhou Xuefei.
“Pequim é a capital da China e ainda é melhor do que as outras cidades e muitas pessoas querem trabalhar e viver aqui. Mas há limites para tudo e, se este limite for ultrapassado, o problema vai ser muito complicado”, concluiu Jacinta Jiang.

Macau imune

O director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, Fung Soi Kun, garantiu que a situação de extrema poluição sentida em Pequim não vai ter consequências em Macau. “O alerta é para a parte central da China, à volta de Pequim e na província de Hunan. Macau está no sul da China, por isso o alerta sobre a poluição não vai afectar Macau. O tempo na parte central da China é diferente, mais do interior, e Macau é um território junto ao mar e temos um ambiente bastante diferente de Pequim. Macau não vai ser afectado pelo mesmo fenómeno. Desde 1999 até agora nunca se registou uma poluição tão concentrada como em Pequim”, disse ao HM.

9 Dez 2015

Xi Jinping e José Eduardo dos Santos reúnem em Joanesburgo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, e o homólogo angolano, José Eduardo dos Santos, reuniram-se ontem na África do Sul, à margem da segunda cimeira do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), que arranca esta sexta-feira em Joanesburgo.
De acordo com informação do ministro das Relações Exteriores angolano, Georges Chikoti, além da cooperação bilateral, sobretudo ao nível do desenvolvimento económico, a reunião servirá para os dois estadistas analisarem assuntos das relações internacionais.
“Penso que os dois presidentes vão tratar também questões relacionadas com o Conselho de Segurança [da ONU], com a paz e a estabilidade na região da África central e provavelmente alguns aspectos bilaterais, entre Angola e a China”, disse ontem Georges Chikoti.
A segunda cimeira do FOCAC realiza-se esta sexta-feira e no sábado em Joanesburgo, com Angola a prever o reforço dos mecanismos de cooperação bilateral.

Moeda de troca

Na apresentação desta cimeira, na segunda-feira, o embaixador chinês em Luanda, Cui Aimin, revelou que decorrem reuniões entre grupos técnicos dos dois países que visam alcançar acordos monetários (troca de moeda), de investimentos recíprocos e de facilitação de vistos entre Angola e a China.
“Temos boas perspectivas para o futuro da nossa cooperação”, sublinhou o embaixador Cui Aimin, relativizando o arrefecimento económico actual em Angola, fruto da crise do petróleo.
A representação angolana será liderada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, que voltará a reunir-se com o homólogo chinês, depois da sua visita a Pequim em Junho último, em que foi garantido um novo empréstimo da China a Angola, de seis mil milhões de dólares.
A Lusa noticiou a 12 de Outubro passado que os bancos centrais de Angola e da China estão a acertar os pormenores de um acordo que vai permitir o uso das moedas nacionais de ambos os países nas trocas comerciais bilaterais.
O governador do Banco Nacional de Angola, José Pedro de Morais, disse que esse acordo vai trazer “muitas vantagens”, tendo em conta a falta de divisas que o país enfrenta para garantir as necessidades de importação.
“A moeda chinesa hoje é uma moeda vastamente utilizada nas trocas comerciais internacionais e vamos ter muitas vantagens quando este acordo puder ser utilizado”, referiu José Pedro de Morais.
O acordo vai permitir que os agentes económicos de ambos os países possam usar a moeda chinesa em Angola e a angolana na China, facilitando as trocas comerciais.
“Hoje em dia, há um apoio muito grande das instituições financeiras internacionais a este tipo de acordos, porque ele permite garantir que o comércio externo se continue a fazer sem recurso a uma terceira moeda, que neste caso seria o dólar”, frisou o governante angolano.

4 Dez 2015

Pequim amanhece com céu limpo

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]equim amanheceu ontem com céu limpo e azul graças a uma corrente de ar frio que, na noite passada, afastou a espessa nuvem de poluição que envolvia a capital há três dias, os piores em termos de qualidade do ar em todo o ano.
Segundo a embaixada dos Estados Unidos, que faz medições da qualidade do ar, pelas 10:00 de ontem verificava-se uma concentração de partículas PM 2,5 (as mais perigosas para a saúde) de 25 microgramas por metro cúbico, a contrastar com os 634 microgramas registados na terça-feira, ou os 666 de segunda-feira.
O valor de hoje corresponde ao máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde para as PM 2,5.
Depois dos piores três dias de poluição atmosférica do ano, uma corrente de intenso ar frio limpou a cidade durante a noite, sentindo-se ainda hoje o vento forte.
Os níveis de poluição registados nos últimos três dias colocaram Pequim em alerta laranja, o segundo mais elevado, forçando as autoridades a impor restrições às actividades contaminantes como a indústria, transportes e construção.
Se a poluição tivesse durado mais de três dias tinha sido declarado o alerta vermelho, o mais elevado, obrigando a fechar escolas e permitindo que os automóveis circulem apenas em dias alternados.

3 Dez 2015

Banco Asiático vai emprestar até 15 mil milhões de dólares por ano

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII), a nova instituição financeira internacional proposta por Pequim, vai emprestar entre 10 mil milhões e 15 mil milhões de dólares anualmente nos primeiros cinco a seis anos. Os empréstimos serão destinados ao desenvolvimento de infra-estruturas e melhores ligações entre os países asiáticos, disse o presidente da instituição, o ex-vice-ministro das Finanças chinês Jin Liqun, citado pelo jornal oficial China Daily.
O BAII, cujo acordo constitutivo foi assinado em Junho, será estabelecido este mês com um capital de 100 mil milhões de dólares, cerca de 30% dos quais assegurados pela China, e terá sede em Pequim. Com uma participação de cerca de 13 milhões de dólares, Portugal é um dos cinquenta e sete membros fundadores, enquanto o Brasil é o nono maior accionista, com uma participação de 3.181 milhões.
O BAII “não é nem um banco chinês, nem um banco detido pelo Governo chinês, mas antes um banco que pertence a todos os países participantes”, realçou Jin Liqun.
Proposto pelo Presidente da China, Xi Jinping, a instituição é vista pelos Estados Unidos da América como uma reacção de Pequim ao que considera o domínio norte-americano e europeu na ordem financeira internacional. Entre as grandes economias do planeta, apenas EUA, Canadá e Japão não fazem parte do BAII, mas Jin Liqun lembrou que “as portas estão abertas”.
No ‘top 10’ dos principais investidores estão Alemanha, França e Reino Unido, todos países membros da União Europeia. “O BAAI não se deve limitar aos países asiáticos, e poderá apenas ser bem-sucedido se os países da Europa e de outros continentes participarem”, frisou Jin.

3 Dez 2015

Presidente da China reúne-se com líderes africanos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, reúne-se a partir de sexta-feira com vários líderes de África, em Joanesburgo, numa altura em que o continente procura assegurar o investimento chinês, apesar do abrandamento na segunda maior economia mundial. Embora o investimento chinês em África tenha registado uma queda acentuada este ano, durante a cimeira de dois dias é esperado o anúncio de acordos para a construção de centrais eléctricas, infra-estruturas e projectos de desenvolvimento agrícola.
Entre Janeiro e Junho, o investimento directo estrangeiro em África, proveniente de Pequim, recuou 43%, para 1,2 mil milhões de dólares (cerca de 1,1 mil milhões de euros), segundo dados do Ministério do Comércio da China. A China tornou-se em 2009 o principal parceiro comercial do continente africano, evidenciando o enorme “apetite” chinês por matérias-primas. O “gigante” asiático é, por exemplo, o maior cliente do petróleo angolano.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Zhang Ming disse ontem que a transição económica na China, para um modelo de crescimento menos intensivo, poderá ser aproveitada pelos países africanos. “A cooperação China-África atingiu um ponto onde precisa de ser renovada e transformada”, disse, lembrando que a industrialização do continente se encontra num “estágio inicial”.
Antes de aterrar na África do Sul, Xi Jinping realizou uma breve visita de Estado ao Zimbabué, onde os projectos desenvolvidos por empresas chinesas ajudaram a dinamizar uma economia paralisada pela crise. Xi, que foi o primeiro líder chinês a visitar o país governado por Robert Mugabe, desde 1996, assinou vários acordos nas áreas infra-estruturas, finanças, cultura, e conservação da vida selvagem, destacou hoje a imprensa estatal chinesa.

Água | Empresas chinesas abastecem Angola

Entretanto, duas empresas chinesas foram escolhidas pelo Governo angolano para obras de abastecimento de água nas províncias do Cuanza Sul e Huambo no valor de 211 milhões de euros, segundo despachos presidenciais a que a Lusa teve acesso.
O primeiro destes despachos, de 25 de Novembro, refere-se à obra de reforça do sistema de abastecimento de água de Porto Amboim, na província do Cuanza Sul, no valor de 60 milhões de dólares (56,6 milhões de euros) a realizar pela filial angolana da CGC Overseas Construction. Outra filial de uma empresa chinesa, a Sinohydro Construction, vai realizar, de acordo com outros dois despachos presidências da mesma data, obras idênticas na província do Huambo.
Uma refere-se ao primeiro lote da segunda fase do projecto de abastecimento à cidade do Huambo, no valor de 72,4 milhões de dólares. A outra diz respeito ao segundo lote do mesmo projecto, a contratar igualmente pelo Ministério da Energia e Águas por 91,1 milhões de dólares.
O Governo angolano tem vindo a contratar nas últimas semanas várias empresas chinesas para obras em Angola com “enquadramento financeiro” nas Linhas de Crédito da China.
O novo empréstimo concedido pelo Governo da China a Angola, que se segue a linhas de apoio anteriores, prevê mais 6.000 milhões de dólares de financiamento a obras cuja execução estão programadas para 2016 e 2017, segundo informação anterior do Governo angolano.
Aludindo ao novo entendimento com a China, José Eduardo dos Santos disse em Julho tratar-se de um “novo capítulo” nas relações bilaterais, perspectivando alterações no modelo de negócio entre empresas chinesas e angolanas, dos sectores público e privado. Na altura, referiu que seria produzida em Angola “parte dos materiais que serão usados nas empreitadas de obras públicas levadas a cabo no quadro dos contratos celebrados com empresas chinesas”.

3 Dez 2015

Clima | ONU junta países para encontrar soluções

Arrancou ontem a 21ª Conferência das Organizações das Nações Unidas em Paris, dias depois dos atentados terroristas que abalaram o mundo. 150 líderes, de 195 países, já estão na cidade francesa onde tentam chegar a um acordo para manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]futuro do planeta e dos seus recursos está em discussão em Paris, França, e todos esperam que da 21ª Conferência das Organizações das Nações Unidas (ONU) saia finalmente um documento com regras bem definidas sobre os travões a colocar ao aquecimento global e à utilização de energias não renováveis.
Até ao dia 12 de Dezembro, o mundo espera ter um novo acordo que saiba vencer no meio das diferenças económicas dos países, numa altura em que 2015 já é considerado como o ano mais quente de sempre, segundo a Organização Mundial de Meteorologia.
O grande objectivo é encontrar soluções para que o aquecimento global não vá além dos 2º, número que colocaria o planeta numa situação dramática ao nível da subida das águas. Para manter esse número, os países terão de cortar as emissões de dióxido de carbono e adoptar a utilização de energias renováveis a 100% até 2050.
Na agenda está também a criação de um fundo de 100 mil milhões de euros para ajudar os países em desenvolvimento a lidar com as consequências das alterações climáticas.

É agora ou nunca

No primeiro dia de reuniões, os líderes dos países esperam que se possam encontrar soluções para a redução da dependência das economias mundiais em relação ao petróleo. Para François Hollande, presidente da França, o mundo já atingiu um “ponto de ruptura”.
Entretanto, o Papa Francisco também fez declarações sobre a cimeira e as conclusões que dela poderão surgir, afirmando que o mundo “está à beira do suicídio”. “Não estou seguro, mas posso dizer que é agora ou nunca. A primeira cimeira creio que foi em Tóquio e fez-se pouco. A cada ano que passa os problemas agravam-se”, disse o Papa durante o voo que o levou de volta a Roma, depois de uma viagem até à República Centro-Africana. O líder da Igreja Católica disse ainda ter “confiança nestas pessoas para que façam algo”.
A COP21 surge como uma forma de resolver e implementar aquilo que nunca foi concretizado, especialmente depois do fracasso do Acordo de Copenhaga há seis anos atrás. Pede-se sobretudo que se chegue a um acordo sem claras fissuras entre países ricos e pobres e que haja uma responsabilização dos maiores países emissores, a China e os Estados Unidos.
Em Paris, aguarda-se a concretização numa cimeira que reúne algumas das maiores potências mundiais que estiveram ausentes no Acordo de Copenhaga. Os Estados Unidos e a China, que têm evitado assumir compromissos em relação à protecção ambiental, revelaram logo no primeiro dia vontade de cumprir metas.
Para combater o aquecimento mundial, espera-se uma duplicação do investimento feito e à investigação na área das energias limpas para os próximos cinco anos.
Mas nem só de países é feita esta cimeira. Líderes de instituições como Bill Gates (Fundação Bill e Melinda Gates), Mark Zuckerberg (Facebook), Jeff Bezos (Amazon), Jack Ma (Alibaba) e Richard Branson (Virgin) prometem dar uma ajuda ao nível do sector privado.
Quatro países europeus – Alemanha, Noruega, Suécia e Suíça – irão disponibilizar 500 milhões de euros para ajudar países pobres a reduzirem emissões de CO2. E a Índia lançou uma aliança com 120 países, com a qual pretende juntar 400 milhões de dólares para acelerar o uso da energia solar.

O medo dos mais fracos

Entretanto, 43 países considerados mais vulneráveis já assinaram um acordo onde dizem não quererem ser “sacrificados” por aquilo que venha a ser decidido na COP21. No fundo, pedem um objectivo “mais ambicioso”.
“Nós nos recusamos a sermos sacrificados pela comunidade internacional em Paris”, disse Anwar Hossain Manju, Ministro do Meio-Ambiente do Bangladesh. Para o dirigente, a COP21 “tem a obrigação de agir. Não fazer isso é um crime”, acrescentou.
Esta declaração foi adoptada em Manila há semanas no Fórum do Clima Vulnerável e exige o limite de aquecimento global a 1,5 graus. O fórum pediu ainda uma “descarbonização completa até 2050″ com um pico de emissões globais de gases com efeito de estufa “no mais tardar até 2020”.
Manter o aquecimento abaixo de 1,5 graus “não vai simplesmente garantir a segurança e a prosperidade, também vai garantir a justiça”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Costa Rica, Manuel Gonzalez, ressaltando que o desequilíbrio climático “fere os direitos humanos”.
“Individualmente, nós já somos sobreviventes. Colectivamente, somos uma força” permitindo ir rumo a um mundo “mais justo e activo sobre o clima”, declarou o presidente filipino Benigno Aquino.

Xi Jinping diz que países desenvolvidos devem investir mais

A COP21 promete fazer história sobretudo porque o principal emissor de gases poluentes do mundo, a China, prometeu agir, tal como os Estados Unidos. Ban Ki-moon fala de um grande momento político

Poderá Paris trazer um novo rumo para a protecção do ambiente a nível mundial? A COP21 arrancou com os grandes poluidores a traçarem promessas. Xi Jinping, o presidente chinês, defendeu que os países mais ricos devem investir mais na protecção do meio ambiente.
“Os países desenvolvidos devem honrar o seu compromisso de mobilizar 100 biliões de dólares todos os anos antes de 2020 e fornecer um apoio mais forte aos países em desenvolvimento depois disso”, disse o presidente chinês no primeiro dia de discursos.
Xi Jinping sugeriu que cada país procure uma solução que se adapte às suas necessidades, mas assine um modelo de cooperação em que todas as partes saiam a ganhar.
O líder chinês defendeu um acordo que se foque no fortalecimento das acções globais contra as mudanças climáticas, nas quais os países desenvolvidos respeitem seus compromissos de financiamento e os países em desenvolvimento acelerem sua transição energética.
“Além dos governos, deveria haver a mobilização do sector empresarial, das ONGs e de todos os actores da sociedade”, declarou Xi, que disse ser importante a transfência das tecnologias necessárias aos países pobres, mas que sejam respeitadas as diferenças entre cada nação.
Para combater a mudança climática, o líder chinês ressaltou que “não se deve privar os países em desenvolvimento da necessidade legítima de fazer diminuir a pobreza e melhorar as condições de vida de sua população”. 21215P2T2
A 21ª Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) não é a meta, segundo Xi, mas sim um ponto de partida que sirva para fomentar a recolha de recursos, controlar o aumento das emissões e iniciar o mecanismo que trace o caminho para um desenvolvimento verde.
“É preciso que em Paris rejeitemos as visões estreitas e chamemos todos os países, principalmente os que estão em desenvolvimento, para que assumam sua responsabilidade para conseguir uma solução que nos beneficie a todos”.
O líder chinês destacou que o seu país está “a trabalhar no duro” e que a ecologia terá um papel essencial no seu terceiro plano de cinco anos, no qual procura conseguir um desenvolvimento “sustentável e aberto”, partindo da base da inovação.
“O nosso objectivo é atingir um pico de emissões daqui até 2030, e queremos completar isso o mais depressa possível”, indicou Xi, demonstrando a intenção de reduzir as emissões de CO2 por unidade de PIB entre 60% e 65% para essa mesma data em relação aos níveis de 2005.
O presidente da China alegou que o país está actualmente “na liderança dos países em relação à conservação energética e ao uso de energias novas ou renováveis”, e comprometeu-se em manter seus esforços, especialmente em termos de cooperação com os países do sul.
Recorde-se que os países desenvolvidos já se comprometeram antes a investir esse montante todos os anos, na forma de financiamento público e privado, até 2020, ano em que os acordos já feitos sobre o clima vencem. Contudo, os países menos poluidores, e mais pobres, querem que os mais ricos paguem mais.
Os Estados Unidos, enquanto segundo maior país poluidor do mundo, assumiram as suas responsabilidades. “Aqui estou como Presidente da maior economia mundial, e o segundo maior emissor [de CO2], para dizer que não só os Estados Unidos reconhecem o seu papel na criação deste problema, como não enjeitamos a nossa responsabilidade em fazer algo a respeito”, afirmou o presidente Barack Obama.
Obama falou ainda da necessidade de um acordo que fixe “uma estratégia de longo prazo” e que tenha um “forte sistema de transparência”, com mecanismos de verificação de tudo o que está agora a ser prometido. Numa frase, sintetizou a lógica adoptada, e que está a transformar a diplomacia climática: disse que as metas já não são definidas “para nós”, mas “por nós”.

Índia | Escolhas difíceis

A Índia, outro dos países onde a industrialização teve o seu boom, e com ela maiores emissões de gases poluentes, o compromisso também se fez notar.
“Os mais prósperos ainda têm uma forte pegada de carbono e os milhares de milhões de pessoas que estão no fundo da ladeira do desenvolvimento precisam de espaço para crescer. Portanto as escolhas não são fáceis”, disse o primeiro-ministro Narendra Modi.
Seis anos depois, pode ser que Paris faça história. “Um momento político como este pode não voltar a existir. Nunca tivemos uma oportunidade tão grande”, disse Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, no discurso da cerimónia de abertura.
Mais de duas mil fábricas encerradas na China
Enquanto Xi Jinping fala sobre um mundo mais amigo do ambiente em Paris, o seu país continua a registar níveis de poluição que constituem um perigo para a saúde pública. A China ordenou o encerramento de 2.100 fábricas devido ao agravamento da poluição, que ontem registou em Pequim valores 24 vezes acima do que é considerado seguro. Uma densa névoa cinzenta envolveu Pequim, com a concentração de PM 2,5, partículas microscópicas que penetram os pulmões, a disparar até aos 598 microgramas por metro cúbico. A leitura, disponibilizada pela embaixada dos Estados Unidos, ultrapassa largamente o máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 25 microgramas por metro cúbico. Em Jinan, a centenas de quilómetros da capital, os valores chegaram aos 400. As companhias áreas cancelaram mais de 30 voos de Pequim e Xangai, muitos para a província de Shaanxi, muito poluída e grande produtora de carvão.

Joe Chan: Cortar emissões “não é uma coisa fácil”

O presidente da Associação de Ecologia de Macau olha para a COP21 e lamenta que a sociedade local não esteja a prestar tanta atenção sobre o assunto. “Acho que este é um tema de máxima importância e acho, sinceramente, que este é uma problemática que deveria receber mais atenção por parte da sociedade de Macau. Considero que devíamos estar mais preocupados com o clima, o ambiente”, disse ao HM.
Em relação às palavras de Xi Jinping, Joe Chan acredita que vai ser difícil cortar as emissões daquele que é o país mais poluente, a China. “A China é o maior emissor de gases poluentes, por isso, deveria ser também a primeira a cortar essa mesma emissão. Mas confesso que não é uma coisa fácil, ainda assim acho que é tempo da China pensar nisto. Sei que não é fácil que todas as nações, especialmente a China, definam um plano para atingir o fim, ou seja, diminuir os gases. Não é fácil, porque está altamente relacionado com questões económicas.”
Para o ambientalista, “o dinheiro não é a solução”, diz, referindo-se à possível criação de um fundo financeiro que cubra a protecção do meio ambiente. “Criar um fundo em que os países mais ricos pagam mais não é a solução. Devíamos estar mais preocupados com o desenvolvimento ambiental de cada país. É uma decisão difícil de tomar. Se todas as pessoas não assumirem esta preocupação nada se pode fazer. Não é o fundo que resolverá”, rematou.

2 Dez 2015

Xi Jinping admite que diminuir pobreza é “uma tarefa árdua”

O Presidente chinês recomendou aos governantes locais das zonas menos desenvolvidas que considerem a redução da pobreza durante os próximos cinco anos como uma questão prioritária nas políticas regionais

[dropcap style=’circle’]X[/dropcap]i Jinping, reconheceu que tirar da pobreza os 70 milhões de cidadãos que se calcula viverem nessa situação é ainda “uma tarefa árdua”, comprometendo-se a construir “uma sociedade moderadamente próspera” até 2020.
“Nenhuma região ou indivíduo que viva na pobreza será deixado para trás”, disse Xi durante uma reunião do Conselho de Estado, no sábado, indicou ontem a agência oficial Xinhua.
Xi apelou aos governantes locais, sobretudo os das regiões menos desenvolvidas, para que elevem a redução da pobreza a prioridade para os próximos cincos anos, e defendeu que os rendimentos dos agricultores das áreas mais desfavorecidas cresçam a um ritmo superior ao da média nacional nos próximos cinco anos.
Por seu lado, o primeiro-ministro, Li Keqiang, também presente no encontro, defendeu a melhoria das infra-estruturas nas zonas rurais, incluindo estradas, acesso a água, electricidade e internet.
Li propôs, como medida para tirar 10 milhões de chineses da pobreza até 2020, a aposta na relocalização, e sublinhou que os governos locais devem assegurar que as pessoas realojadas têm empregos estáveis no local de acolhimento.
Os líderes manifestaram-se também a favor de um aumento do orçamento nacional para a educação nas áreas pobres, de modo a prestar mais serviços aos chamados “left-behind children” (crianças deixadas para trás), casos em que um ou dos pais se mudaram para outra zona do país em busca de emprego.

Da desigualdade

Na China ainda existem quase 70 milhões de menores separados dos seus pais, cerca de 30% da população infantil, segundo números da Unicef, um fenómeno que ganhou força em 1980 com o incentivo à industrialização do país e o aparecimento de novas oportunidades de emprego nas cidades.
Xi assegurou que a despesa do Governo vai aumentar, bem como o investimento privado, as políticas fiscais preferenciais, os empréstimos e subsídios, entre outros incentivos financeiros para combater a pobreza.
Nas últimas décadas a China conseguiu tirar 400 milhões de pessoas da pobreza graças ao seu rápido crescimento económico, uma situação que, no entanto, agravou o fosso entre ricos e pobres no país, que hoje tem um dos maiores índices de desigualdade do mundo.
Após décadas de crescimento a dois dígitos, a China vive um momento de desaceleração económica que está a tentar aproveitar para implementar com um modelo mais sustentável, centrado no aumento da procura interna e não nas exportações e investimentos.

30 Nov 2015