Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos

[dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China.

“Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado.

“É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia.

A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”.

Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo.

Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014.

A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos.

O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim.

12 Jun 2019

ONG identifica centenas de locais usados para execuções na Coreia do Norte

[dropcap]U[/dropcap]m grupo de defesa dos direitos humanos sul-coreano anunciou o tem ter identificado centenas de lugares onde, segundo testemunhas, o Governo da Coreia do Norte terá alegadamente realizado execuções públicas e assassínios extrajudiciais.

O Grupo de Trabalho de Justiça Transicional, com sede em Seul, disse que a sua investigação foi baseada em entrevistas com 610 desertores norte-coreanos, feitas ao longo de quatro anos, e que ajudaram a localizar os locais com imagens de satélite.

A organização não revelou onde ficam exactamente os 323 locais porque está preocupada que a Coreia do Norte os possa adulterar.

No entanto, referiram que 267 deles estavam localizados em duas províncias do nordeste do país, perto da fronteira com a China, região onde morava a maioria dos desertores que participaram na investigação.

Segundo o relatório, as execuções públicas da Coreia do Norte tendem a acontecer perto de rios, em campos e colinas, mas também em mercados e escolas, lugares onde os moradores e familiares dos condenados são frequentemente forçados a assistir aos assassínios.

O Grupo também disse que documentou três locais onde pessoas morreram durante o tempo em que estavam detidos e 25 locais onde os mortos teriam sido descartados pelo Estado.

Também referiram que encontraram locais oficiais que podem ter documentos ou outras evidências relacionadas com os assassínios.

Amigo americano

A agência de notícias Associated Press (AP) não pôde verificar o relatório independentemente e o grupo reconheceu que as suas descobertas não eram definitivas porque não tem acesso directo à Coreia do Norte e não conseguiu visitar os sítios que os desertores relataram.
Ethan Hee-Seok Shin, um dos autores do relatório, também disse que entrevistas com desertores sugerem que as execuções públicas na Coreia do Norte estão a tornar-se menos frequentes, embora não esteja claro se isso acontece porque mais pessoas estão a ser executadas em segredo.

O Instituto Coreano para a Unificação Nacional da Coreia do Sul, um grupo de investigação patrocinado pelo Estado, expressou opiniões semelhantes no seu relatório anual sobre os direitos humanos da Coreia do Norte divulgado na semana passada.

O Instituto disse que a Coreia do Norte ainda usa execuções públicas para provocar medo e controlar o comportamento dos seus cidadãos, particularmente nas cidades e zonas de fronteira, onde os crimes são mais frequentes.

O Grupo de Trabalho de Justiça Transicional é uma organização não-governamental fundada por defensores dos direitos humanos e investigadores da Coreia do Sul e outros quatro países.

O grupo disse que o novo relatório foi possível graças ao financiamento do National Endowment for Democracy, com sede em Washington, que é financiado pelo Congresso dos Estados Unidos.

Mancha negra

A Coreia do Norte não reagiu ainda ao relatório, mas o Governo norte-coreano irrita-se com as críticas externas ao seu histórico de direitos humanos e afirma que avaliações negativas fazem parte de campanhas de pressão lideradas pelos Estados Unidos para manchar a imagem da sua liderança e destruir o sistema político do país.

Num relatório para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Maio, a Coreia do Norte disse que “mantém consistentemente o princípio de garantir precisão científica, objectividade e imparcialidade, bem como proteger os direitos humanos para lidar com casos criminais”.

Um relatório das Nações Unidas de 2014 sobre os direitos humanos na Coreia do Norte disse que as autoridades do Estado promovem execuções “com ou sem julgamento, pública ou secretamente”, em resposta a crimes políticos e a outros crimes que não estão entre os mais graves.

12 Jun 2019

Protestos “violentos” em Hong Kong devem-se a “interferência estrangeira”, escreve imprensa chinesa

[dropcap]U[/dropcap]m jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) descreveu hoje como “violentos” os protestos em Hong Kong contra a proposta de lei que permite extradições para a China, atribuindo-os à interferência de “poderosas forças estrangeiras”.

Numa das raras referências aos protestos na imprensa chinesa, o Global Times, jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, considerou que “sem a interferência de poderosas forças estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos, os grupos da oposição não teriam a capacidade de protagonizar incidentes tão violentos em Hong Kong”.

O jornal cita vários portais noticiosos de Hong Kong, próximos do Governo central, para descrever os manifestantes como “separatistas extremistas”, armados com “garrafas cheias de gás e tinta, ferramentas, barras de ferro e catapultas, para atacar a polícia”.

Num protesto contra o documento, milhares de manifestantes juntaram-se hoje nas imediações do Conselho Legislativo de Hong Kong, que se preparava para debater a proposta de lei da extradição.

Tratou-se da segunda manifestação em massa no território, no espaço de poucos dias.
No domingo, centenas de milhares de pessoas protestaram contra aquela proposta de lei, com os organizadores a falaram de mais de um milhão de pessoas na rua e as forças policiais a admitirem apenas a participação de 240 mil.

O Global Times afirmou que os incidentes “violentos” foram alvo de “fortes críticas” por diferentes grupos de Hong Kong, já que “prejudicam gravemente” a “estabilidade” e a “prosperidade” da cidade.

Uma pesquisa no motor de busca chinês Baidu, líder no país, – o Google está bloqueado na China -, indica que a imprensa em língua chinesa, sob apertado controlo da censura do regime, não noticiou as manifestações.

O jornal cita ainda Tian Feilong, professor na Universidade Beihang, em Pequim, e especialista em assuntos de Hong Kong, que disse que “embora os EUA e outras forças estrangeiras não tenham direito a participar da governação em Hong Kong, eles têm poderosa influência para gerar problemas na cidade”.

“Isto prova que o sistema legal e a aplicação da lei em Hong Kong devem ser melhorados”, afirmou, citado pelo jornal.

Na segunda-feira, a porta-voz da diplomacia norte-americana, Morgan Ortagus, considerou que as manifestações do fim de semana “demonstraram claramente a oposição da opinião pública” àquela proposta, que pode “colocar em risco a autonomia” da região administrativa especial chinesa.

Ortagus considerou que a “contínua erosão do princípio ‘um país, dos sistemas’ põe em risco o estatuto especial de Hong Kong nos assuntos internacionais.

Washington “partilha a preocupação de muitos residentes de Hong Kong com a falta de salvaguardas nas emendas propostas, o que poderá pôr em risco a autonomia de Hong Kong” e a “protecção dos direitos humanos” naquele território, acrescentou.

Citando o mesmo académico, o Global Times observou que a China “precisa de aprender com o fato de que alguns grupos de oposição em Hong Kong estão firmemente do lado de forças estrangeiras” para “instigar conflitos internos” e “sequestrar a opinião pública da cidade”.

“Trata-se de forças ilegais e não grupos políticos normais”, apontou. Centenas de milhares de manifestantes concentraram-se hoje em Hong Kong em protesto contra a proposta de lei de extradição, cujo debate no Conselho Legislativo devia ter começado esta manhã.

A polícia carregou sobre os protestos e lançou também gás pimenta para obrigar os manifestantes a dispersar, tendo a Lusa constatado a existência de feridos.

Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.

Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

12 Jun 2019

Polícia de Hong Kong carregou sobre manifestantes

João Carreira, enviado da agência Lusa

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong carregou hoje sobre os manifestantes, numa das zonas de acesso ao Conselho Legislativo local, onde devia ter começado esta manhã o debate da polémica lei de extradição. A polícia lançou também gás pimenta para obrigar os manifestantes a dispersar.

A Lusa constatou no local a existência de feridos, o que obrigou os manifestantes a abrirem corredores para permitir que equipas médicas prestassem assistência a pessoas estendidas no chão. Alguns manifestantes tentaram travar o avanço da polícia com grades, mas a esmagadora maioria colocou as mãos no ar.

Outros começaram a distribuir máscaras de protecção contra gás lacrimogéneo. Este é o culminar de um momento de tensão que nas últimas horas se tem vivido nesta zona central de Hong Kong, onde centenas de milhares de manifestantes estavam concentrados em protesto contra a proposta de lei, cujo debate no Conselho Legislativo devia ter começado esta manhã.

O Governo de Hong Kong já tinha advertido os manifestantes que deviam “dispersar e respeitar a lei”. “Apelo aos cidadãos que se reuniram para exercerem a maior contenção possível, para que dispersem pacificamente e não desafiem a lei”, declarou o secretário para a Administração, Matthew Cheung, “número dois” do Governo liderado por Carrie Lam.

Cerca das 12:30, o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização.

Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recue na intenção de avançar com as alterações à lei.

Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Em teoria, os tribunais locais analisariam os casos individualmente e poderiam usar o poder de veto para impedir certas extradições no território semi-autónomo da China e antiga colónia britânica.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.

Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

12 Jun 2019

Lei da Extradição | Lojas de Macau fecham em solidariedade com Hong Kong

A causa de Hong Kong contra a extradição para o Interior da China gera apoios em Macau e dois negócios vão fechar hoje, em solidariedade com a mais recente acção de protesto. Um terceiro negócio também fecha, mas para protestar contra as decisões da Associação de Futebol de Macau em não participar no jogo com o Sri Lanka

 

[dropcap]A[/dropcap]pesar do protesto com mais de um milhão de pessoas, a lei da extradição entre Hong Kong e o Interior da China vai voltar a ser discutida hoje no Conselho Legislativo. Como resposta ao protesto, o presidente do Conselho Legislativo, Andrew Leung, marcou a votação para o próximo dia 20. Entretanto, estão organizadas acções de protesto na RAEHK, com vários negócios a fecharem as portas ao público para demonstrar discórdia face à legislação.

Em Macau também há que mostre solidariedade com o movimento, como reportou ontem o portal Macau Concealers. Entre os negócios envolvidos está a livraria Júbilo 31 e a agência de viagens alternativa online Little Nomad.

Em declarações ao HM, Lei, proprietária da Little Nomad explicou que não é totalmente contra o diploma da extradição, mas considera que não houve tempo de discussão suficiente para garantir que não haverá extradições por motivos políticos. Lei antevê também que depois do documento ser aprovado em Hong Kong o mesmo acontecerá em Macau.

“Sou uma pessoa que apoia o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e acho que esta lei é um sinal de alarme. As pessoas têm de perceber o que se está a passar e mostrar-se solidárias com Hong Kong”, disse a proprietária da agência de viagens. “Não posso dizer que a lei vai acabar com o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, ninguém pode ter a certeza que seja isso que vai acontecer porque as coisas não são claras. Também não posso dizer que sou 100 por cento contra a lei, mas se olharmos para Hong Kong nem houve tempo de discussão”, considerou. “O Governo e os deputados pró-sistema querem aprovar a lei, sem que haja discussão. Eles não querem ouvir, só querem apressar as coisas”, acrescentou.

Hoje a Little Nomad não vai responder às mensagens e pedidos de clientes. Um dos objectivos passa por alertar os residentes de Macau para este problema, que também acabará por surgir na RAEM. “Estou a mostrar o meu apoio com Hong Kong porque também sinto que em Macau não vai haver oposição e as pessoas vão sofrer as consequências de nem sequer haver qualquer discussão sobre a lei”, defendeu.

Mais parca nas justificações, Lin Daxiang, uma das proprietárias da livraria Júbilo 31, explicou a adesão ao protesto com a importância do tema, tanto para Hong Kong como para Macau.

“Aderimos ao protesto com o encerramento da loja porque queremos apoiar as manifestações de Hong Kong. Achamos que é um assunto muito importante”, afirmou.

Lin disse também que a livraria, que tem um espaço para crianças, vai organizar sessões de leitura, dedicadas aos mais novos, sobre este tema. “É um assunto que deve ser explicado às crianças e vamos ler para elas”, apontou.

Contra a AFM

Outro estabelecimento que vai estar encerrado amanhã é o Café Xie Xie. Porém, a solidariedade com as manifestações em Hong Kong é apenas um pequeno factor entre as decisões por de trás do encerramento.

Para o proprietário, Gabriel Yung, o principal objectivo do encerramento é mesmo o apelo à população para que se preocupe mais com a impunidade dos decisores, como aconteceu com a Associação de Futebol de Macau, que impediu os jogadores de defrontarem ontem o Sri Lanka.

“A lei da extradição não é um factor que me leve a fechar. Talvez seja uma parte, mas muito pequena. O que acho é que as pessoas de Macau precisam de saber melhor o que se passa aqui e as decisões com as quais não se chateiam”, afirmou Gabriel Yung. “Temos de ver o que aconteceu com a Associação de Futebol de Macau. Impediram os jogadores de defrontar o Sri Lanka. Fazem tudo com impunidade. Sabemos que Macau aprovou o artigo 23.º [da Segurança Nacional], ao contrário de Hong Kong, mas isso não quer dizer que as pessoas não se possam preocupar com o que se passa”, defendeu. “O que se passou com a selecção foi ridículo, prejudica-se Macau e estes episódios não param de se repetir”, acrescentou.

A decisão da AFM poderá levar a selecção e os clubes de Macau impedidos de competir nas provas para selecções da FIFA e AFC durante alguns anos.

12 Jun 2019

Livro | Jornalista norte-americana alega que Kim Jong Nam foi informador da CIA

O meio-irmão do líder norte-coreano, que residiu em Macau cerca de uma década antes de ser assassinado, pode ter sido informador da CIA. A revelação está presente no livro “The Great Successor: The Secret Rise and Rule of Kim Jong Un”, de autoria de Anna Fifield, jornalista do The Washington Post. Além da alegada colaboração de Kim Jong Nam com os serviços secretos norte-americanos, a obra desvenda alguns detalhes sobre o líder do mais hermético regime político da actualidade

 

[dropcap]A[/dropcap]pesar da vida de Kim Jong Nam em Macau ser discreta, compreensível para quem era meio-irmão do líder norte-coreano que, por inerência, nunca se deu bem com potenciais concorrentes ao poder, um livro publicado ontem refere relações com a CIA. Além de colaborar com os serviços secretos norte-americanos, Kim Jong Nam terá alegadamente mantido ligações ao crime organizado e à lavagem de dinheiro através dos casinos.

Um artigo publicado na segunda-feira no Wall Street Journal cita uma fonte próxima dos serviços de informação norte-americanos que diz que a relação entre Kim Jong Nam e a CIA não é clara. A mesma fonte divulga a opinião de vários antigos oficiais de informação que dizem que o meio-irmão do líder norte-coreano, que vivia fora do país há muito tempo, não tinha acesso a informação e não estaria numa posição de fornecer detalhes sobre os segredos políticos de Pyongyang. Além disso, as fontes ouvidas pelo Wall Street Journal consideram que, muito provável, Kim Jong Nam tenha contactado com serviços de informação de outros países, em particular da China.

As alegações partem do livro “The Great Successor: The Secret Rise and Rule of Kim Jong Un”, de autoria de Anna Fifield, jornalista e directora da delegação de Pequim do The Washington Post. O livro da jornalista norte-americana, publicado ontem, traça a ascensão política de Kim Jong Un, o seu perfil desde criança e as complicadas e sangrentas relações familiares em torno da cúpula do poder de Pyongyang.

De acordo com a Reuters, Fifield alega que Kim Jong Nam se encontrava, normalmente, com os agentes em Singapura e na Malásia. Aliás, é referido que na última viagem à Malásia, o meio-irmão de Kim Jong Un foi apanhado por uma câmara de segurança num elevador de um hotel, acompanhado por um homem de aparência asiática, alegadamente um agente dos serviços norte-americanos. Fifield alega também que Kim Jong Nam transportava uma mochila com 124 mil dólares americanos. A autora de “The Great Successor” não tem a certeza quanto à proveniência do dinheiro, alegando que tanto poderiam ser pagamento por informações prestadas aos serviços secretos, como ganhos do seu negócio de casinos. Quanto às repercussões da colaboração com a CIA, a jornalista não tem dúvidas que “o seu irmão consideraria falar com um espião americano um acto de traição”.

Família montanhosa

Durante a investigação, Anna Fifield contactou a família próxima de Kim Jong Nam, que se encontra em Pequim, e que desapareceu de vista desde o assassinato em Fevereiro de 2017 na Malásia. “Toda a gente desapareceu, compreensivelmente. Em particular, os homens da família têm razões para temer o que lhes pode acontecer”, comentou a autora em entrevista ao Japan Times.

As razões para recearem pela vida, além de se fundarem na crueldade de Kim Jong Un, têm uma forte origem mitológica que está na génese do regime norte-coreano. Como as sucessões no poder têm laivos monárquicos, os homens da família Kim têm legitimidade para aspirar o poder com base na suposta “linhagem de Paektu”, a ideia de que a família descende da Montanha Paektu, que tem um vulcão activo, e que é o berço mítico do povo norte-coreano.

Nesta acepção, a jornalista destaca Kim Han Sol, filho de Kim Jong Nam, como uma das pessoas que corre mais perigo. Não só devido à legitimidade para disputar a liderança do país, mas porque prestou declarações à comunicação social a criticar abertamente o regime de Pyongyang, algo que colocou o seu pai em grande risco. Na face do perigo que enfrentam, Kim Han Sol, acompanhado pela mãe e irmã, desapareceram de vista depois do assassinato do pai.

Apesar de parte da família “real” norte-coreana viver no estrangeiro, as suas vidas sempre foram fortemente condicionadas pela iminente ameaça de brutalidade do regime de Pyongyang. O controlo do Governo norte-coreano não se faz sentir apenas dentro de fronteiras e sobre pessoas com menos poder, mas também sobre as elites que vivem no estrangeiro. Anna Fifield discorre sobre essa realidade comparando as vidas de Kim Jong Nam e do seu primo, Ri Nam Ok, a pássaros enjaulados, que vivem severamente restritos de movimentos e envoltos em paranoia, mesmo na Europa.

De um modo geral, a família do líder norte-coreana tem permissão para viajar e levar uma vida desafogada e luxuosa no exterior, apesar dos variados graus de secretismo e controlo a que estão sujeitos. Por exemplo, a mãe de Kim Jong Nam, apesar de afastada do poder pelo pai de Kim Jong Il, viveu exilada confortavelmente em Moscovo desde os anos 70 até 2003 quando morreu de cancro da mama. Ainda hoje, a sua campa (em Moscovo) é visitada e decorada por oficiais da embaixada norte-coreana.

Esta atmosfera de privilégio faz com que muitos dos familiares do clã Kim mantenham lealdade ao regime.

Problemas japoneses

Quando ascendeu ao poder, em Dezembro de 2011, poucos analistas previam um longo “reinado” de Kim Jong Un. A Coreia do Norte encontrava-se completamente isolada do mundo, sujeita a debilitantes sanções impostas pelas Nações Unidas e com a economia nas ruas da amargura. Além disso, Kim Jong Un não tinha qualquer tipo de experiência de gestão. Ainda assim, o jovem líder mostrou-se implacável, sem medo de fazer correr sangue e com noções de geoestratégica que poucos anteciparam.

No entanto, sempre permaneceu erguida uma espécie de barreira psicológica no caminho da ascensão política de Kim Jong Un: a origem japonesa da sua mãe, Ko Yong Hui que, apesar de ser etnicamente coreana, nasceu em Osaka. Quando tinha 10 anos, Ko Yong Hui regressou à Coreia, assim como outros 93 mil coreanos que estavam imigrados no Japão movidos pela ideia de construir a pátria. Decisão que muitos se vieram a arrepender profundamente.

Importa recordar que a Coreia sofreu uma ocupação brutal pelos japoneses e que, ainda hoje, a imprensa oficial de Pyongyang diaboliza o Japão quase tanto quanto os Estados Unidos.

A ascensão de Kim Jong Un dá-se, finalmente, com a caída em desgraça do seu meio-irmão, que viveu em Macau. Kim Jong Nam era visto pelo seu pai como o natural sucessor ao poder. Depois da juventude passada na Europa, onde estudou, o retorno à Coreia do Norte como sucessor era visto como uma inevitabilidade, inclusive porque Kim Jong-il vinha-o preparando para assumir a liderança do país. Porém, em 2001, Kim Jong Nam comete um erro fatal ao ser preso quando tentava entrar no Japão usando um passaporte falso da República Dominicana, com o nome Pang Xiong, que significa urso gordo. O meio-irmão de Kim Jong Un viajava acompanhado por três familiares, duas mulheres de 30 e 33 anos e um rapaz de 4 anos. À altura, foi reportado que o grupo tinha como destino a Disneyland de Tóquio e acabou por ser deportado para Pequim.

Ainda nesse ano, Kim Jong Nam era considerado o natural sucessor da dinastia Kim, facto visível quando em Janeiro de 2001 acompanhou o seu pai numa visita oficial à China, reportadamente para uma visita de estudo com a intenção de retirar lições sobre a modernização e abertura da economia chinesa. Inclusivamente, a revista oficial chinesa Guang Jiao Jing, que fez a cobertura da visita, anunciou Kim Jong Nam como o sucessor no poder referindo-se ao “herdeiro” como o “Pequeno General”.

Depois do incidente da Disneyland, que envergonhou a liderança norte-coreana, Kim Jong Nam foi afastado da sucessão e o seu pai começou a procurar o herdeiro do “trono”. O próximo na linha sucessória foi Kim Jong Un.

12 Jun 2019

Adiado debate sobre polémica lei de extradição em Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Hong Kong adiou hoje um debate no Conselho Legislativo sobre a proposta de lei da extradição, quando milhares de manifestantes estão concentrados junto ao edifício num protesto contra o documento.

Uma nota de imprensa do Governo referiu que a sessão de debate no Conselho Legislativo, que devia ter começado às 11:00, foi adiada para “hora posterior a ser determinada”. De acordo com outro comunicado, os acessos às instalações do Governo foram bloqueados e os funcionários aconselhados a não irem trabalhar.

Junto ao parlamento, os manifestantes, sobretudo jovens, gritavam palavras de ordem como: “Não à China!” e “Precisamos de democracia!”. Uma esmagadora maioria envergava máscaras ou lenços a cobrir quase a totalidade da cara.

Alguns dos manifestantes que falaram com a agência Lusa disseram estar dispostos a permanecer no local até que o Governo recue na intenção de avançar com as alterações à lei da extradição.

É a segunda manifestação em massa no território em menos de uma semana. No domingo, centenas de milhares de pessoas protestaram contra esta proposta de lei, com os organizadores a falaram de mais de um milhão de pessoas na rua e as forças policiais a admitirem apenas a participação de 240 mil.

Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitirá que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios.

Os defensores da lei argumentam que caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.

Opositores dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

12 Jun 2019

Washington opõe-se ao plano de Hong Kong sobre extradições para a China

[dropcap]O[/dropcap]s Estados Unidos expressaram na segunda-feira uma “grande preocupação” com a proposta de lei do Governo de Hong Kong que visa permitir extradições para a China, um dia depois de um protesto maciço contra a medida.

“Manifestações com centenas de milhares de pessoas” têm “demonstrado claramente a oposição da opinião pública” a este texto, que pode “colocar em risco a autonomia” da região administrativa especial, disse à imprensa a porta-voz da diplomacia norte-americana, Morgan Ortagus.

Um dia depois de uma manifestação em massa, que segundo a organização reuniu mais de um milhão de pessoas, o Governo de Hong Kong anunciou que não vai ceder, alegando “obrigações internacionais em matéria de criminalidade transfronteiriça e transnacional”.

Washington “partilha a preocupação de muitos residentes de Hong Kong com a falta de salvaguardas nas emendas propostas, o que poderá pôr em risco a autonomia de Hong Kong” e a “protecção dos direitos humanos” naquele território, acrescentou Ortagus.

Sobre os visitantes e os norte-americanos a viver e a trabalhar na região, a porta-voz disse temer que fiquem “submetidos ao sistema judicial caprichoso da China”.

Na segunda-feira, um dia depois do maior protesto em mais de uma década no território, o Governo anunciou que vai mesmo avançar com a proposta de lei que poderá abrir portas a extradições para a China.

“Trata-se de uma lei muito importante que vai garantir que a justiça prevaleça e Hong Kong cumpra as suas obrigações internacionais em matéria de criminalidade transfronteiriça e transnacional”, disse a chefe do Executivo, Carrie Lam, em declarações aos jornalistas.

Os organizadores da manifestação de domingo afirmaram que mais de um milhão de pessoas desfilaram pelas ruas da cidade, enquanto a polícia da antiga colónia britânica indicou que o protesto juntou 240 mil participantes.

A proposta de lei apresentada pelo Governo ao Conselho Legislativo (LegCo, parlamento local) autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países com os quais o território não tem actualmente acordos de extradição, incluindo a China continental.

Nas últimas semanas, várias petições circularam contra a proposta de lei, milhares de advogados organizaram uma marcha silenciosa e várias câmaras de comércio manifestaram preocupação.

O Governo considerou esta proposta um instrumento vital para combater o crime transnacional e manter o Estado de direito, enquanto os críticos afirmaram temer que a população fique à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado. A controversa proposta começa a ser debatida na quarta-feira no hemiciclo.

11 Jun 2019

Empresas de Hong Kong fecham portas para funcionários se manifestarem contra lei da extradição

[dropcap]D[/dropcap]ezenas de empresas de Hong Kong anunciaram hoje a intenção de fechar as portas na quarta-feira para protestar contra o plano do Governo local de permitir a extradição para a China.

Na segunda-feira, a chefe do Executivo de Hong Kong assegurou que o Governo vai mesmo avançar com a proposta de lei da extradição, apesar da antiga colónia britânica ter sido palco de um protesto em massa no domingo contra o controverso texto.

Segundo os organizadores, mais de um milhão de pessoas enfrentaram o calor sufocante no domingo e saíram à rua para pedir ao executivo de Hong Kong que abandonasse a proposta.

No entanto, a magnitude do protesto não dissuadiu Carrie Lam, que reiterou que o Conselho Legislativo (LegCo), o parlamento de Hong Kong, vai mesmo debater o texto na quarta-feira, como previsto.

A proposta provocou críticas por parte dos países ocidentais e um protesto de centenas de milhares habitantes de Hong Kong que receiam um sistema judicial chinês opaco e politizado.

Os opositores do texto já anunciaram uma manifestação na quarta-feira perto da LegCo e convocaram a população a participar ou a fazer greve.

Outros também pediram um comício na terça-feira à noite para passar a noite perto do parlamento.

Os comerciantes já se mobilizaram nas redes sociais, sob uma ‘hashtag’ que poderá ser traduzida como “#strike1206” (greve1206), para anunciar que as lojas vão fechar portas para que os seus funcionários se possam manifestar.

São sobretudo empresas familiares e pequenas lojas no centro da economia local, que raramente fazem ouvir a sua voz no debate político.

11 Jun 2019

Estados Unidos ameaçam novas taxas se não houver avanços com China

[dropcap]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ficaria “satisfeito” em impor novas taxas à China, se não surgirem avanços na próxima reunião com o Presidente chinês, afirmou o secretário de Estado do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin.

“O Presidente tomará uma decisão depois do encontro”, disse Mnuchin numa entrevista difundida hoje pelo canal CNBC. Trump e Xi Jinping deverão reunir-se no final de Junho, durante a cimeira do G20 em Osaka, no Japão, a 28 e 29 de Junho.

Segundo o titular do Tesouro, os Estados Unidos querem assegurar-se que os dois países irão pelo “caminho adequado para um acordo” comercial. “Se a China quer avançar com o acordo, nós estamos prontos a fazê-lo nos termos que temos. Se a China não quer avançar, então o Presidente Trump ficará satisfeito com a aplicação de mais taxas para reequilibrar a relação” entre os dois países, avisou Mnuchin.

Trump e Xi reuniram-se pela última vez em Dezembro passado em Buenos Aires, onde decidiram suspender os aumentos de taxas enquanto ambas as partes intensificavam as negociações.

O Governo dos Estados Unidos insistiu que actuou desta forma em resposta a uma intenção chinesa de renegociar partes do acordo já reguladas, algo que Pequim negou.

“Fizemos enormes progressos. Creio que o acordo estava alcançado até 90 por cento. A China quis fazer marcha atrás em certas coisas”, disse Mnuchin.

Na entrevista, o secretário do Tesouro referiu-se também ao choque entre os dois países devido ao veto de Trump à companhia tecnológica chinesa Huawei por questões de segurança.

Mnuchin insistiu que a medida é unicamente uma questão de “segurança nacional” e não está vinculada à guerra comercial.

10 Jun 2019

Huawei lança novo sistema operativo este verão

[dropcap]A[/dropcap] Huawei vai lançar um novo sistema operativo para os seus telemóveis, no terceiro trimestre deste ano, avançou hoje a imprensa chinesa, depois de Washington ter proibido empresas norte-americanas de transaccionarem com a gigante chinesa das telecomunicações.

O sistema pode estar pronto já em Agosto ou Setembro, segundo o jornal chinês Global Times, que cita fontes da empresa. Richard Yu, chefe executivo da divisão de consumo da Huawei, tem reiterado que é “muito provável” que a empresa avance com o seu próprio sistema operativo.

A empresa não comentou, no entanto, quais serão as vantagens e desvantagens do seu sistema em relação ao Android. O sistema operativo desenvolvido pela norte-americana Google é actualmente usado nos dispositivos da Huawei, mas a decisão do Governo norte-americano de cortar o fornecimento levou a empresa a anunciar o seu próprio sistema.

O fim das transacções comerciais entre a Alphabet (empresa-mãe da Google) e outras empresas norte-americanas com a Huawei deve ter um grande impacto no mercado europeu, incluindo em Portugal, onde a firma chinesa é líder no mercado dos ‘smartphones’.

Seis fabricantes de componentes electrónicos americanos anunciaram já que romperam as suas relações comerciais com a Huawei. As fabricantes norte-americanas de processadores Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom, a alemã Infineon Technologies e as fabricantes de chips de memória Micron Technology e Western Digital deixarão de fornecer à Huawei, por exigência do Governo norte-americano.

O Governo dos EUA decretou que a Huawei tem três meses para se adaptar até ficar impedida de utilizar tecnologia norte-americana, depois de ter sido colocada numa lista negra de empresas suspeitas de fazerem espionagem para o Governo chinês.

Washington acusa a empresa de utilizar os seus equipamentos, em particular de tecnologia de comunicações quinta geração (5G), para aceder a informação confidencial de outros países, em colabora com os serviços de inteligência chineses.

10 Jun 2019

Seis condenados na Índia pela violação e morte de uma menina de 8 anos

[dropcap]U[/dropcap]m tribunal da Índia condenou hoje seis pessoas pelo homicídio de uma menina de 8 anos, após repetidas violações durante vários dias, no Estado de Jammu e Caxemira, um caso que chocou o país.

O principal arguido, um funcionário local agora reformado, e dois membros das forças de segurança acusados de destruir provas e aceitar subornos para encobrir os responsáveis encontram-se entre os seis condenados, disse o advogado da acusação, Mubeen Farooqui, aos jornalistas, à saída do tribunal.

Havia um sétimo acusado, mas que foi considerado inocente, adiantou o advogado, antes de acrescentar que a pena a aplicar aos culpados será anunciada pelo tribunal hoje à tarde.

A menor, pertencente a uma comunidade nómada muçulmana, foi sequestrada em Janeiro de 2018 na cidade de Kathua, uma área de maioria hindu de Jammu e Caxemira. A menina foi sedada e violada em grupo durante dias antes de ser assassinada e abandonada numa floresta, de acordo com a investigação policial, que concluiu também que era intenção dos autores enviar uma mensagem a essa comunidade para que não voltassem àquela zona.

O caso provocou uma onda de indignação na Índia, com manifestações a pedir a condenação à morte dos culpados. Mas a violação e o assassinato também causaram tensão na região, a ponto de as autoridades terem que aumentar a segurança dos parentes da vítima e dos seus advogados, e transferir o julgamento para o Estado vizinho devido ao clima de insegurança.

Todos os arguidos professavam a religião hindu e o crime ocorreu num templo da pequena cidade, o que levou alguns vizinhos e políticos locais a exigir a libertação imediata dos acusados.

Um grupo de advogados tentou inclusivamente impedir que a polícia registasse acusações em Kathua em Abril de 2018.

A Índia endureceu as leis contra as agressões sexuais, depois do caso de uma jovem universitária que morreu após ser violada em grupo num autocarro, em 2012, em Nova Deli, um acontecimento que chocou o país e passou além fronteiras.

10 Jun 2019

Governo de Hong Kong mantém proposta de lei sobre extradição apesar de protesto

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Hong Kong anunciou hoje que vai manter a proposta de lei que permite extradições para a China, na sequência do protesto maciço no domingo.

“Trata-se de uma lei muito importante que vai garantir que a justiça prevaleça e Hong Kong cumpra as suas obrigações internacionais em matéria de criminalidade transfronteiriça e transnacional”, disse a chefe do Executivo da região administrativa especial chinesa, Carrie Lam, em declarações aos jornalistas.

Os organizadores da manifestação de domingo afirmaram que mais de um milhão de pessoas desfilaram pelas ruas da cidade, enquanto a polícia da antiga colónia britânica indicou que o protesto juntou 240 mil participantes.

A marcha de protesto decorreu sem grandes incidentes durante quase dez horas, mas cerca da meia-noite manifestantes invadiram uma zona barricada e a polícia respondeu com gás pimenta, de acordo com o jornal de Hong Kong, South China Morning Post.

As alterações à lei da extradição já tinham motivado, em Abril, a maior manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos Guarda-chuvas”, em 2014, num protesto que reuniu meio milhão de pessoas.

A proposta de lei apresentada pelo Governo de Hong Kong ao Conselho Legislativo autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países com os quais o território não tem actualmente acordos de extradição, incluindo a China continental.

Nas últimas semanas, várias petições circularam contra a proposta de lei, milhares de advogados organizaram uma marcha silenciosa e várias câmaras de comércio manifestaram preocupação.

O Governo considerou esta proposta um instrumento vital para combater o crime transnacional e manter o Estado de direito, enquanto os críticos afirmaram temer que a população fique à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado. A controversa proposta vai começar a ser debatida na quarta-feira no hemiciclo.

10 Jun 2019

Imprensa chinesa culpa “interferência estrangeira” por protestos em Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] imprensa chinesa culpou hoje a “interferência estrangeira” pelos protestos deste fim de semana, em Hong Kong, contra a proposta de lei que permite extradições para a China, acusando os organizadores de “conluio com o Ocidente”.

Os organizadores da manifestação de domingo afirmaram que mais de um milhão de pessoas desfilaram pelas ruas da cidade, enquanto a polícia da antiga colónia britânica indicou que o protesto juntou 240 mil participantes.

O Governo considerou esta proposta um instrumento vital para combater o crime transnacional e manter o Estado de direito, enquanto os críticos afirmaram temer que a população fique à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado.

A controversa proposta vai começar a ser debatida na quarta-feira no hemiciclo. Em editorial, o jornal oficial Global Times minimizou, na segunda-feira, o protesto de domingo, um dos maiores da região semi-autónoma, desde o retorno à China, em 1997.

“Deve-se ter atenção que algumas forças internacionais fortaleceram significativamente as suas relações com a oposição de Hong Kong recentemente”, afirmou o jornal, acusando os opositores de “conluio com o Ocidente”.

O jornal refere reuniões entre membros da oposição de Hong Kong com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e com a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

O jornal chinês China Daily afirma ainda que 700 mil pessoas assinaram uma petição online em apoio ao projecto de lei, e que acredita que muitos manifestantes “foram enganados pela oposição e os seus aliados estrangeiros”.

Imagens aéreas das ruas de Hong Kong, cheias de manifestantes, percorreram o mundo neste fim de semana. Na China continental, porém, os acontecimentos não foram noticiados.

10 Jun 2019

Quase um milhão de pessoas protestam em Hong Kong contra lei das extradições

[dropcap]Q[/dropcap]uase um milhão de pessoas estiveram hoje ruas de Hong Kong em protesto contra plano do Governo que visa permitir extradições para a China continental.

O parque Vitória foi o local convocado para o protesto e, segundo relata a agência noticiosa Efe, esteve lotado durante várias horas. O branco foi a cor predominante e a escolhida para este protesto, bem como guarda-chuvas amarelos, símbolo das manifestações em favor da democracia em 2014.

O plano do executivo chinês também já foi criticado pelo último governador de Hong Kong, o britânico Chris Patten, que disse na semana passada que se trata de um “terrível revés” para a reputação daquele território.

O Governo de Hong Kong apresentou ao Conselho Legislativo (parlamento) uma proposta de lei que autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países, incluindo a China continental, com os quais não tem actualmente acordos de extradição.

As alterações à lei da extradição – que muitos críticos afirmam colocar a população à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado – motivou, em Abril, a maior manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos Guarda-chuvas”, em 2014.

Esse protesto foi liderado por organizações de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, e reuniu meio milhar de pessoas.

“Esta proposta inflige um terrível golpe no Estado de Direito, na estabilidade e segurança de Hong Kong e no seu estatuto de importante centro de comércio internacional”, disse Pattern, governador de Hong Kong até 1997, quando a administração passou para a China.

A fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’ serviu para a integração de Hong Kong e Macau na República Popular da China, em 1997 e em 1999, respectivamente, com o estatuto de regiões administrativas especiais, e garante que as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam nos territórios, que gozam de “um alto grau de autonomia”, à excepção da Defesa e das Relações Externas, que são da competência exclusiva do Governo Central chinês.

9 Jun 2019

Japão e EUA discutem desequilíbrios comerciais entre os dois países

[dropcap]O[/dropcap] secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, discutiram hoje como lidar com o desequilíbrio no comércio entre os dois países.

“Discutimos a cooperação entre os Estados Unidos e o Japão em diferentes questões económicas e de segurança”, disse o secretário do Tesouro dos EUA através de sua conta no Twitter.

Ambos os representantes discutiram essas questões à margem da reunião dos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais do G20 que decorre neste fim de semana em Fukuoka, no sudoeste do Japão.

Os dois países aliados, estão actualmente a negociar um tratado comercial bilateral. No final do mês de maio, o Presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a criticar o “tremendo desequilíbrio” no comércio entre o Japão e os Estados Unidos, uma alusão ao excedente japonês, uma das razões que motiva Washington a negociar um novo acordo com Tóquio.

“Temos que alcançar o Japão, eles têm feito muito mais negócios connosco, mas gostaríamos de fazer um pouco mais de negócios” com eles, insistiu. Nestas negociações, os Estados Unidos procuram garantir um maior acesso ao mercado japonês em produtos como carne bovina e suína e trigo.

O Japão importa grande parte destes produtos da Austrália e da Nova Zelândia, graças ao acordo comercial transpacífico, conhecido como TPP, do qual a administração Trump decidiu retirar os Estados Unidos.

Tóquio, por sua vez, pede tarifas mais baixas para produtos industriais japoneses, incluindo veículos, uma das principais exportações para os EUA. Na reunião de hoje, o ministro das Finanças do Japão informou o representante norte-americano que posição japonesa é de que o acordo de comércio não deve incluir qualquer disposição sobre a sua política monetária.

Donald Trump, tem acusado repetidamente o Japão de desvalorizar o iene para impulsionar as suas exportações de automóveis para os Estados Unidos e ameaçou impor limitações ao sector industrial japonês.

A moeda japonesa permaneceu fraca em relação ao dólar, ao euro e a outras moedas nos últimos anos, como resultado de várias medidas de flexibilização monetária aplicadas pelo Banco do Japão, uma estratégia projectada para tirar o país asiático do seu longo ciclo de deflação.

Essa desvalorização do iene favoreceu as exportações japonesas, tornando as empresas nipónicas mais competitivas no exterior.

Durante a reunião dos ministros do G20, que será concluída neste domingo, espera-se analisar os efeitos sobre a economia global do surgimento de políticas proteccionistas, os crescentes desequilíbrios entre os fluxos comerciais e os impactos da tecnológica.

9 Jun 2019

Filipinas recusam qualquer inquérito da ONU sobre os direitos humanos

[dropcap]A[/dropcap] Presidência filipina rejeitou o apelo a uma investigação às violações dos direitos humanos, lançado na sexta-feira por 11 especialistas da ONU, considerando tratar-se de uma “interferência” nos assuntos do país.

Os especialistas pediram, na sexta-feira, aos membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU, abertura de um inquérito sobre as graves violações de direitos humanos, notando em particular “o grande número de pessoas mortas pela polícia no quadro da alegada luta contra o tráfico de droga”.

Segundo dados oficiais, mais de 5.300 suspeitos foram mortos pela polícia desde o início da “guerra contra a droga”, lançada pelo presidente Rodrigo Duarte após a sua eleição, há três anos.

Os defensores dos direitos humanos estimam que o número real seja três vezes mais elevado.
Este apelo dos especialistas da ONU “é não só idiota, mas uma ingerência inadmissível na soberania das Filipinas”, afirmou hoje, em comunicado, o porta-voz da Presidência filipina Salvador Panelo.

O responsável acusa estes especialistas de “difundirem informações parciais e absolutamente falsas”, antes de sublinhar que, nas Filipinas, “aqueles que falam contra a campanha antidroga e acusam o presidente de violações dos direitos humanos foram rejeitados pelo eleitorado filipino”.

Os aliados do Presidente venceram as eleições no mês passado, assumindo o controle do Senado e da Câmara dos Representantes.

A “guerra contra a droga” é a bandeira política do Presidente Duterte, que a defende vigorosamente contra todas as acusações vindas do exterior.

Os seus críticos consideram que esta luta se tornou uma “guerra contra os pobres”, alimentando um clima de ilegalidade e impunidade no país.

9 Jun 2019

Putin e Xi Jinping em consonância sobre Venezuela e outros temas internacionais

[dropcap]O[/dropcap]s presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, apelaram hoje ao diálogo para a resolução da crise política na Venezuela e anunciaram medidas para contrariar as restrições às exportações de altas tecnologias.

A declaração emitida no final de um encontro que durou várias horas entre Putin e Xi no Kremlin apela a todas as partes envolvidas no conflito venezuelano a “apoiar uma solução pacífica dos problemas no país através de um diálogo político inclusivo” e rejeitaram uma possível “intervenção militar” na Venezuela.

“Seguimos atentamente o desenvolvimento dos acontecimentos na Venezuela e apelamos a todas as partes a cumprir com a Carta da ONU, assim como as normas do direito internacional e as relações entre os Estados”, acrescenta o documento.

Putin e Xi, líderes de dois países que possuem importantes interesses económicos na Venezuela, expressam também a intenção de continuar a manter consultas sobre a América Latina e reforçar os contactos e acções conjuntas para aprofundar as relações com os países da região.

Numa alusão à actual guerra comercial entre o gigante asiático e os Estados Unidos, a declaração russo-chinesa assinala que as duas partes se propõem “contrariar a imposição de restrições infundadas ao acesso aos mercados de produtos de tecnologia da informação com a desculpa de garantir a segurança nacional, assim como a exportação de produtos e altas tecnologias”, assinala a declaração conjunta emitida no final das negociações entre os dois estadistas.

O documento também sublinha a disposição de se “oporem à ditadura política e à chantagem na cooperação comercial e económica internacional, e condenar a aspiração de alguns países de se arrogarem no direito de decidir os parâmetros da cooperação entre outros países”.

Putin e Xi Jinping, acusados de promoveram a censura no universo digital, também prometem “garantir o funcionamento pacífico e seguro da Internet na base da igualdade de condições de todos os países no dito processo”.

“E também contribuir para instaurar a regularização de um espaço informativo global”, acrescenta.
Num contexto de fortes tensões entre a Rússia e os Estados Unidos, as trocas comerciais entre Moscovo e Pequim aumentaram 25% em 2018, para atingir um nível recorde de 108 mil milhões de dólares (96 mil milhões de euros), um aspecto também sublinhado no comunicado conjunto.

Estes números contrastam com a actual guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que ocorre também após Moscovo acusar Washington de competência desleal no caso do gasoduto Nordstream-2 entre a Rússia e a Alemanha, um projecto que hoje voltou a ser criticado por Washington.

O líder russo enfatizou a perspectiva comum de Moscovo e Pequim sobre numerosos temas internacionais, em particular a oposição conjunta à retirada os Estados Unidos do Tratado sobre Forças nucleares de alcance intermédio (INF), um decisivo pacto sobre o controlo de armamento firmado no final da Guerra fria.

Os dois presidentes consideraram que esta decisão dos EUA “corrói a estabilidade estratégica”, e também manifestaram preocupação pela crescente ameaça de uma corrida ao armamento no espaço, apelando à abolição global do envio de armamento para a órbita terrestre.

Putin e Xi Jinping também enfatizaram a necessidade de preservar o acordo nuclear com o Irão, e prometeram contribuir para o avanço das conversações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte.

Hoje, os dois líderes também assistiram à inauguração de uma fábrica de automóveis chinesa no sul de Mosovo, e à oferta de dois pandas ao zoo da capital russa.

Após o programa moscovita, Xi Jinping, que prolonga por vários dias a sua visita à Rússia, desloca-se à antiga capital dos czares e da Revolução de Outubro, onde entre quinta e sexta-feira será convidado de honra no Fórum económico de São Petersburgo, o principal encontro empresarial da Rússia, que deverá reunir 17.000 pessoas.

A economia russa tem sido duramente atingida pelas sanções europeias e norte-americanas desde 2014, na sequência da crise ucraniana e da anexação da Crimeia.

6 Jun 2019

Parlamento tailandês elege líder do golpe de Estado de 2014 como primeiro-ministro

[dropcap]O[/dropcap] parlamento da Tailândia elegeu esta quarta-feira o líder do golpe de Estado de 2014 como primeiro-ministro, reforçando o domínio militar da política desde que o país se tornou uma monarquia constitucional há quase nove décadas.

O partido apoiado pelos militares que nomeou Prayuth Chan-ocha conquistou o segundo maior número de assentos na Câmara dos Representantes numa eleição geral em Março.

Contudo, a escolha ficou praticamente assegurada porque o primeiro-ministro é escolhido numa votação conjunta da Câmara de Representantes (500 assentos) e do Senado (250), cujos membros foram nomeados pela junta militar liderada por Prayuth.

Prayuth foi eleito para servir um segundo mandato por um voto de 500 a 244, derrotando o líder do grupo Futuro Novo, Thanathorn Juangroongruangkit.

Prayuth, um ex-comandante do Exército, era o candidato do partido Palang Pracharath, apoiado pelos militares, que detém 116 assentos na Câmara, bem como de deputados de partidos menores.

A nomeação de Prayuth torna-se oficial quando é endossada pelo rei Maha Vajiralongkorn.
“As pessoas ainda pedem liberdades. As pessoas ainda pedem justiça”, disse Thanathorn após a votação.

“Este não é o momento para perder a esperança. A esperança ainda está do nosso lado. O tempo ainda está do nosso lado. Quero agradecer a todas as 244 pessoas que amam a democracia por votarem em mim”, acrescentou.

Prayuth não disputou o cargo nas eleições de março – a constituição promulgada sob a junta militar que liderou não exige que o primeiro-ministro seja eleito entre os deputados do parlamento.

Leis aprovadas durante o seu mandato visaram a existência de partidos políticos estabelecidos, levantando preocupações de que a eleição não foi realizada em igualdade de condições.

Os críticos também questionaram a imparcialidade da comissão eleitoral, alegando que as regras foram adulteradas após a votação para beneficiar Palang Pracharath.

As novas leis eleitorais visavam especialmente o partido Pheu Thai, que liderou o Governo derrubado pelo golpe de 2014 e venceu a maioria dos assentos da Câmara em março.

6 Jun 2019

FMI revê em baixa crescimento da economia chinesa face à guerra comercial

[dropcap]O[/dropcap] Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu ontem em baixa as perspectivas de crescimento da economia chinesa, nos próximos anos, face à guerra comercial com os Estados Unidos, e encorajou Pequim a acelerar as reformas estruturais.

Num relatório, o organismo estima um crescimento de 6,2 por cento, para este ano, e de 6 por cento, em 2020 – uma décima abaixo da previsão anterior. O ritmo de crescimento da economia chinesa continuará a desacelerar e fixar-se-á nos 5,5 por cento, em 2024.

“A incerteza em torno das disputas comerciais permanece alta e os riscos empurram a economia para baixo”, lê-se na mesma nota.

Os governos da China e Estados Unidos impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados um do outro, numa disputa motivada pelas ambições de Pequim para o sector tecnológico.

O vice-director do FMI, David Lipton, que integrou a delegação numa visita à China, afirmou que o crescimento “estabilizou”, durante os primeiros meses de 2019, após medidas de estímulo adoptadas pelo Governo chinês.

No entanto, a incerteza gerada pelo agravamento das disputas comerciais afeta o ambiente de negócios, apontou.

“As políticas de estímulo anunciadas até à data são suficientes para estabilizar o crescimento em 2019 e 2020, apesar do recente aumento das taxas nos Estados Unidos. Contudo, se as disputas comerciais se agravarem, e colocarem a estabilidade económica e financeira em risco, recomendamos alguma flexibilidade política adicional”, advertiu.

O responsável citou, como exemplo, reduções fiscais adicionais para famílias com baixos rendimentos.

“As nossas discussões, nas últimas duas semanas, focaram-se na agenda das autoridades para apoiar a economia, face ao aumento das tensões comerciais, enquanto [a China] continua a progredir na mudança de um crescimento de alta velocidade para um crescimento de alta qualidade”, afirmou.

Sobre a guerra comercial, Lipton afirmou que “deve ser resolvida rapidamente, através de um acordo abrangente, que suporte o sistema internacional”.

As previsões do Fundo apontam ainda um aumento de 2,3 por cento da inflação, em 2019, devido ao aumento dos preços dos alimentos.

Boas medidas

A economia da China, a segunda maior do mundo, cresceu 6,6 por cento, em 2018, ou seja, ao ritmo mais lento dos últimos 28 anos, mas o dobro da média mundial, e acima da meta oficial, definida pelo Governo chinês, de 6,5 por cento.

Para este ano, o Governo chinês estabeleceu como meta um crescimento “entre 6 e 6,5 por cento”.
Lipton enalteceu ainda as medidas adoptadas por Pequim para restringir o ‘boom’ no endividamento corporativo, mas voltou a recomendar ao país “maior abertura” e “outras reformas estruturais que aumentem a concorrência”, diminuindo o peso e as “garantias implícitas” das empresas estatais.

6 Jun 2019

Espanha | Comboios chineses já transportaram 500 mil contentores

[dropcap]O[/dropcap]s comboios de mercadorias entre a cidade chinesa de Yiwu, leste da China, e Madrid, fizeram 600 viagens e transportaram 500.000 contentores, desde a inauguração, em 2014, como parte da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.

Citado pela agência EFE, o embaixador chinês em Espanha, Lyy Fan, explicou que aquela ligação ferroviária é um “marco importante” do gigantesco projecto de infraestruturas internacional lançado por Pequim, e que visa reforçar a conectividade entre o Sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa.

Lyy destacou ainda que a China é o maior parceiro comercial de Espanha fora da União Europeia, com as trocas anuais a fixarem-se, no ano passado, em 33.700 milhões de dólares.

As autoridades portuguesas querem incluir uma rota atlântica no projecto, o que permitiria ao porto de Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

Nesse caso, Madrid deixaria ser a ligação ao extremo ocidental, passando antes a ser Lisboa, reforçando a ligação portuguesa ao mercado chinês.

6 Jun 2019

Graça Fonseca inicia no domingo deslocação oficial a Pequim

A ministra vai inaugurar o Festival de Cultura Portuguesa na China marcado por exposições, concertos, espectáculos e encontros literários e que integra aristas como a maestrina Joana Carneiro, a soprano Elisabete Matos e os escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto, entre outros

 

[dropcap]A[/dropcap] ministra da Cultura de Portugal, Graça Fonseca, inicia no domingo uma visita oficial a Pequim, no âmbito do Festival Cultura Portuguesa na China, anunciou ontem o Ministério da Cultura.

Num comunicado ontem divulgado, o ministério adianta que Graça Fonseca estará em Pequim entre domingo e o dia 12 de Junho.

Na segunda-feira, a ministra presidirá à cerimónia do Dia de Portugal, no Beijing Concert Hall, “onde serão ouvidos o Hino Nacional e o Hino da República Popular da China”.

“No programa das comemorações estão previstas as exibições de filmes sobre Portugal e sobre o Festival de Cultura Portuguesa na China, e a cerimónia encerrará com o concerto da Orquestra Sinfónica Nacional da China, dirigido pela maestrina Joana Carneiro, e com actuação da soprano Elisabete Matos”, lê-se no comunicado.

Ainda na segunda-feira, Graça Fonseca irá inaugurar a exposição “Histórias da Torre do Tombo/Chapas Sínicas”, na Biblioteca Nacional de Pequim.

O conjunto das Chapas Sínicas, recorda a tutela, é “um dos mais importantes documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa”.

Na terça-feira, a ministra irá reunir-se, no Museu do Palácio Imperial, com o homólogo chinês, o ministro da Cultura e do Turismo da República Popular da China, Luo Shugang.

Mais tarde, no mesmo local, estará presente na inauguração da exposição “A Evolução do Azulejo em Portugal dos séculos XVI ao XX”.

Ao final da tarde de terça-feira, Graça Fonseca assistirá ao espectáculo “Quinze Bailarinos e Tempo Incerto”, da Companhia Nacional de Bailado (CNB), no Teatro Tiangiao.

No último dia da visita oficial, 12 de Junho, a governante fará a intervenção de abertura do II Fórum Literário Portugal-China, no Museu Nacional da Literatura Moderna Chinesa, no qual participam os escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto.

Nessa ocasião, Graça Fonseca “pretende destacar iniciativas de promoção internacional da literatura em língua portuguesa, nomeadamente os apoios à tradução, mas também o ‘Catálogo Gram Bem Querer’ que o Ministério da Cultura, em cooperação com outras entidades, vai conceber, editar, publicar e divulgar, como uma grande mostra de literatura em língua portuguesa”.

Depois de uma primeira edição em Lisboa, em Junho de 2017, o Fórum Literário vai cruzar os três autores portugueses com os chineses Lu Min, Liu Zhenyun e Xu Zechen, numa conversa que será moderada por outro escritor, Qiu Huadong, de acordo com a informação já divulgada pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.

José Luís Peixoto participou igualmente na primeira edição, então ao lado de Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso.

Programa paralelo

À margem do II Fórum Literário Portugal-China, a ministra tem agendado um encontro com a presidente da Associação de Escritores da China, Tie Ning.

Ainda no dia 12, Graça Fonseca irá realizar uma visita ao Distrito Artístico 798, e assistirá à entrega dos Prémios Tomás Pereira, que distinguem os melhores alunos de Língua Portuguesa, em universidades chinesas.

Este ano, Portugal e China assinalam os 40 anos das relações diplomáticas e os 20 anos da retrocessão de Macau. “Na lógica de intercâmbio destas comemorações”, este ano irá realizar-se também, em Portugal, o Festival da Cultura Chinesa.

O Festival de Cultura Portuguesa na China inclui a realização, ao longo do ano, de “diversos eventos culturais em domínios tão variados como a música clássica, o fado, o teatro, as artes plásticas, a dança contemporânea, o canto lírico, o cinema e a tradução de obras literárias portuguesas para mandarim”.

Inaugurado em Março, na Cidade Proibida, em Pequim, com o guitarrista português Pedro Jóia, e Duan Chao, virtuosa de huqin, o Festival de Cultura Portuguesa na China.

6 Jun 2019

Mais de cem mil manifestantes em Hong Kong recordaram massacre de Tiananmen

[dropcap]M[/dropcap]ais de cem mil pessoas reuniram-se ontem em Hong Kong para uma vigília com velas, assinalando o 30.º aniversário do massacre de Tiananmen, um dos poucos locais na China onde o evento pode ser recordado.

Na China continental estão proibidas todas as cerimónias que assinalem o evento de 4 de Junho 1989, em que o exército chinês matou um número indeterminado de estudantes que defendiam um movimento pró-democracia.

Ontem, muitos chineses deslocaram-se até Hong Kong para recordar o massacre de Tiananmen, desfilando com velas na mão e assistindo a discursos, tirando proveito do estatuto da região sob a regra de “um país, dois sistemas”.

Há 29 anos que Hong Kong assiste a vigílias que assinalam a intervenção do exército chinês na praça da Paz Celestial, mas este ano os observadores acreditam que terá sido batido o recorde de afluência de manifestantes.

A Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos e Patrióticos de Hong Kong, que organizou a vigilia, indicou a presença de 180 mil pessoas, mas as autoridades policiais da cidade dizem que esse número não terá excedido as 37 mil, com vários ‘media’ internacionais a confirmarem a presença de mais de cem mil manifestantes.

Muitos dos presentes compareceram em trajes de luto e com velas na mão, entoando cânticos que recordavam os momentos em que milhares de estudantes enfrentaram as forças do exército chinês.

Iniciado por estudantes da Universidade de Pequim, o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen acabou quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de protestos.

O número exacto de pessoas mortas continua a ser segredo de Estado, mas as “Mães de Tiananmen”, associação não-governamental constituída por mulheres que perderam os filhos naquela altura, já identificaram mais de 200.

As autoridades chinesas defendem que a acção do Governo foi necessária para abrir caminho ao crescimento económico, e que se o Exército não interviesse, “a China mergulharia no caos”, como aconteceu em outros países socialistas.

Hoje, 30 anos depois, os manifestantes repetiam que “o povo não esquecerá” e diziam que se recusavam a acreditar nas mentiras, referindo-se às versões apresentadas pelo Governo de Pequim, para explicar a contestação estudantil.

“Ao demonstrar o nosso apoio ao movimento estudantil, estamos também a expressar a nossa insatisfação com o regime violento da China”, disse Amy Cheung, de 20 anos, que deslocou desde o interior da China até à manifestação de Hong Kong.

“Tenho medo de ficar numa lista negra e ser perseguido quando regressar”, confessou um dos manifestantes, que viajou desde a região de Chengdu (centro da China) que preferiu preservar a sua identidade.

Também em Taiwan, um território reclamado pela China, decorreram hoje manifestações de memória ao “rapaz do tanque”, recordando o estudante que simbolicamente se colocou em frente de um dos tanques da Praça de Tiananmen e cuja imagem fotográfica simbolizou em todo o mundo este acontecimento.

5 Jun 2019

Japão | Oposição quer legalizar casamento entre pessoas do mesmo sexo

[dropcap]O[/dropcap]s principais partidos da oposição no Japão apresentaram um projecto de lei para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, semanas depois de Taiwan se tornar o primeiro território na Ásia a legalizar o casamento ‘gay’.

O projecto, submetido na segunda-feira, provavelmente não vai longe na Dieta japonesa, o parlamento que é composto pela Câmara dos Representantes e pela Câmara dos Conselheiros, onde o Partido Liberal Democrata, no poder, apenas avançou em matéria de direitos civis de pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgéneros), noticia o jornal The Japan Times.

O projecto de lei apresentado por partidos como o Partido Democrático Constitucional do Japão e o Partido Comunista Japonês propõe que o casamento seja estabelecido com base na igualdade do casamento.

A linguagem neutra seria adoptada com os termos “parte do casamento” para substituir “marido” e “mulher”, enquanto “pai e mãe” seria alterada pela designação “pais”.

Um dos problemas reside no artigo 24 da Constituição, no qual se declara: “O casamento deve ser baseado apenas no consentimento mútuo de ambos os sexos e deve ser mantido através da cooperação mútua com base na igualdade de direitos entre marido e mulher”.

Enquanto alguns defendem que este artigo é focado nos registos familiares e não afecta o casamento entre pessoas do mesmo sexo, os opositores sustentam que é necessária uma mudança constitucional para permitir essas uniões.

5 Jun 2019