Covid-19 | Portugueses resgatados de Wuhan regressam à cidade agora “mais segura” do mundo

[dropcap]P[/dropcap]ortugueses resgatados, em Fevereiro passado, de Wuhan, regressaram, entretanto, à cidade chinesa onde foram diagnosticados os primeiros casos da covid-19, e sentem-se agora “no sítio mais seguro do mundo”, após a China ter contido a epidemia.

Volvido quase um ano desde que foram detectados os primeiros casos de uma misteriosa pneumonia, a vida retornou à normalidade em Wuhan, enquanto o Partido Comunista Chinês parece ter reforçado a sua legitimidade, abalada inicialmente pela epidemia.

Situada no centro da China, a cidade, que permaneceu bloqueada durante mais de dois meses, obrigando ao resgate de milhares de estrangeiros, incluindo 20 portugueses, soma já meio ano sem novos casos. “Estamos no sítio mais seguro do mundo”, observa à agência Lusa o treinador de futebol Miguel Moreira, um dos 20 portugueses que, em Fevereiro passado, voou para Portugal, numa operação coordenada pelas autoridades europeias.

Cerca de um mês e meio depois de Moreira ter sido resgatado, o continente europeu tornou-se o epicentro da epidemia, ultrapassando a China no número total de casos.

No total, a Europa soma hoje mais de 17 milhões de casos e quase 390 mil mortes, segundo dados do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença. A China soma 86.495 infetados e 4.634 mortos desde o início da pandemia, de acordo com dados do Governo chinês.

O antigo guarda-redes dos clubes Paços de Ferreira, Varzim e Mafra regressou, entretanto, a Wuhan, para prosseguir o seu trabalho numa academia de futebol da cidade.

A preocupação em Wuhan, cujos cerca de onze milhões de habitantes estiveram durante mais de dois meses confinados em casa e proibidos de sair da cidade, é agora quem chega do exterior, à medida que a China regista sobretudo casos importados.

“As velhinhas afastam os netos quando me veem; o segurança no meu condomínio faz sempre questão de verificar a minha temperatura antes de me deixar entrar”, descreve à Lusa António Rosa, professor de Design e Arte numa escola internacional de Wuhan, que foi também resgatado, mas acabou por voltar, em Maio passado.

A China, onde os primeiros casos da doença foram diagnosticados, no final de 2019, foi alvo de críticas pela gestão das fases iniciais do surto.

O Governo chinês recusou-se inicialmente a compartilhar amostras do vírus e resistiu a uma investigação transparente e independente.

Na primeira quinzena de janeiro, as autoridades de Wuhan reportaram apenas 41 pacientes, e descartaram que a doença fosse transmissível entre seres humanos.

Durante semanas, o número de pacientes manteve-se inalterado. Em 18 de janeiro, as autoridades de Wuhan permitiram ainda um banquete com 40.000 pessoas, com o objetivo de estabelecer um recorde mundial.

No entanto, já no final de dezembro, vários médicos da cidade começaram a alertar para os perigos de uma doença desconhecida. As autoridades agiram de imediato, não para conter o surto, mas punindo os denunciantes: a polícia deteve oito médicos para os “educar” sobre os perigos associados a espalhar rumores.

Várias evidências sugerem que o vírus quase certamente teve origem num animal, provavelmente um morcego, antes de evoluir e contagiar seres humanos. As autoridades chinesas baniram o comércio e consumo alimentar de animais selvagens, após o início do surto.

No entanto, à medida que a doença se alastrou pelo mundo, as autoridades e a imprensa estatal chinesa passaram a sugerir que a doença não teve origem no país.

Uma exposição temática sobre a luta de Wuhan contra o surto, no Centro de Exposições de Cultura da China, um pavilhão com 1.800.000 metros quadrados, no norte da cidade, exalta o papel do Partido Comunista Chinês, em particular do líder Xi Jinping, na luta contra a epidemia, mas não faz qualquer referência à origem da covid-19.

A exposição enaltece antes o apoio prestado pela China a países estrangeiros, incluindo o envio de equipamento médico e funcionários de saúde, e a generosidade dos líderes chineses em partilharem a “solução chinesa” com “organizações e países estrangeiros”.

Zhao Xiaosong, um estudante chinês, de 24 anos, que assiste à exposição, parece convencido.

“Em dois meses conseguimos derrotar a doença. Um feito único a nível mundial”, explica. “O Partido Comunista desempenhou um papel crucial”, diz.

29 Nov 2020

Construção civil | CCCC compra 23% da Mota-Engil por 169,4 milhões de euros

[dropcap]A[/dropcap] chinesa Communications Construction Company (CCCC) adquiriu uma participação de 23 por cento na Mota-Engil por 169,4 milhões de euros, confirmou sexta-feira a construtora portuguesa, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A empresa liderada por Gonçalo Moura Martins informou que a accionista Mota Gestão e Participações (MGP) vendeu à CCCC 55 milhões de acções a um preço de 3,08 euros por acção, escreve o Jornal Económico.

“A efectividade do acordo está, porém, dependente da verificação de várias condições precedentes, de índole legal e contratual, entre as quais se incluem a aprovação ou o consentimento por parte de diversas Entidade Públicas e a
confirmação por parte da CMVM de que o acordo e as operações nele previstas não impõem para a CCCC a obrigação de lançamento de uma oferta pública de aquisição”, salvaguardou a Mota-Engil.

O grupo, que ontem informou ter ganho três novos contratos no Peru por 125 milhões de euros, vai convocar “em breve” uma assembleia geral para dar ‘luz verde’ ao conselho de administração para aprovar o aumento de capital, “nos termos e condições a decidir por este órgão no momento oportuno”.

29 Nov 2020

Língua portuguesa faz parte do plano de assistência de Macau a Congjiang para erradicação da pobreza

[dropcap]A[/dropcap] Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) participa, desde 2018, no Plano de Erradicação da Pobreza do Conselho de Estado, centrando a sua acção na comarca de Congjiang, na província de Guizhou, um dos locais da China onde se tem verificado a existência dos níveis mais elevados de pobreza.

Curiosamente, o ensino da língua portuguesa faz parte da ajuda prestada pela RAEM. Trata-se de um projecto organizado pela Direcção de Serviços de Educação e Juventude e passa pelo envio de professores de Macau que, durante três semanas, terão como objectivo despertar o interesse dos alunos de Congjiang pelo Português.

A intervenção será efectuada em Maio de 2021, em quatro graus de ensino, do primário ao pré-universitário. Depois serão seleccionados os 30 melhores alunos, que receberão um convite para se deslocarem a Macau, para participarem num curso de Verão de língua e cultura portuguesa, com a duração de três semanas.

No princípio, foi assim

Claro que o ensino da língua portuguesa não passa de um pequeno aspecto no âmbito da ajuda que a RAEM tem prestado à comarca de Congjiang. Desde Maio de 2018, 27 acordos de assistência foram já assinados e implementados entre Macau e Congjiang, nas áreas da educação, saúde, turismo, indústria, trabalho, formação de quadros, etc.

E, na verdade, a assistência prestada pela RAEM tem dado os seus frutos. Congjiang tem uma área de 3244 quilómetros quadrados e conta com 385.330 habitantes, sendo que 94,8% pertencem às minorias étnicas Miao e Dong. Em finais de 2017, o número de pessoas consideradas pobres ascendia a 72.316, ou seja, 21% da população. Ora, em 2019, a incidência de pobreza em Congjiang havia descido já para 3,6% e para isso muito contribuiu a assistência prestada pela RAEM, em coordenação com o Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau (GL).

Só em 2018, na área educacional, a Fundação Macau proporcionou 30 milhões de yuans para a construção de uma escola primária, que viria a ser concluída em 2019 e que se encontra já em funcionamento. Na mesma área, também a Companhia de Construção Estatal da China doou 5 milhões de yuans para a edificação de uma escola primária, isto para além de outras 10 escolas e centros de saúde que contaram com a ajuda da Cruz Vermelha de Macau.

Na área do emprego, foram recrutados 429 trabalhadores para exercerem a sua profissão na RAEM, cada um pertencente a um agregado familiar diferente, no sentido de proporcionar a cada família uma melhoria substancial do seu rendimento. Também o GL financiou a ajuda a 3000 estudantes de famílias carenciadas, por três anos consecutivos, num total de 1,5 milhão de yuans por ano; e a Fundação Macau criou um programa de bolsas de estudo, no valor de 100 mil patacas/ano cada, que permitiu a deslocação e permanência em Macau de estudantes do ensino superior originários de Congjiang.

Na área económica, o Instituto de Promoção e Investimento de Macau (IPIM) convidou diversas empresas de Congjiang para participarem em feiras internacionais, tendo resultado na assinatura de 35 contratos.

Na área do turismo, a China Travel Service e a China International Travel Service, sediadas em Macau, promoveram a deslocação a Congjiang de mais de cinco mil visitantes e foi também promovido o primeiro Festival de Arte de Luz e Sombras Macau-Congjiang, que atraiu mais de 30 mil pessoas.

O ano das infra-estruturas

2019 foi um ano em que a assistência se centrou em infra-estruturas, de modo a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos de Congjiang. Sob a liderança do GL, foi custeada e implementada a colocação de 560 lâmpadas, no valor de 1,7 milhão de yuans, alimentadas a energia solar, em cinco das mais pobres aldeias da comarca.

Além disso, o GL conseguiu obter da sociedade de Macau 6,64 milhões de yuans para a renovação de casas velhas em más condições, tendo recuperado um total de 715 habitações, em 10 aldeias de minorias étnicas. Também os casinos da RAEM contribuíram com cerca de dois milhões de yuans, aplicados na ajuda a camponeses, nomeadamente na renovação de estruturas como pátios, estradas e iluminação pública.

Por seu lado, a Fundação Macau proporcionou consultas médicas e operações a 193 pessoas com cataratas e forneceu 450 aparelhos de audição a gente necessitada, além de doar sete ambulâncias. Já a DSEJ criou um programa de treino para mais de 300 professores do ensino pré-primário, o que implicou a deslocação a Congjiang de especialista e, posteriormente, convidou 40 professores a deslocarem-se a Macau para a frequência de cursos especializados.

Também o Instituto Cultural da RAEM não quis ficar de fora destas iniciativas e convidou Congjiang para participar na Parada Internacional de Macau e no Festival de Artes de Macau o que, juntamente com a realização de um vídeo promocional em cantonês, feita pelos Serviços de Turismo, proporcionou um melhor conhecimento de Congjiang por parte da população de Macau.

Apesar da pandemia

Já neste ano, a ajuda a Congjiang foi reforçada pela realização de uma vídeo-conferência que juntou elementos do Gabinete de Ligação, do governo de Macau e do governo da província de Guizhou, no fim da qual foram assinados mais nove acordos de assistência.

Assim, foi acordada uma recolha de fundos na RAEM para o estabelecimento de 320 postos de assistência social para famílias necessitadas e sem rendimento estável. O projecto, lançado em Junho deste ano, já recolheu, entre Junho e Setembro a soma de 512 mil yuans.

Por outro lado, Macau comprou produtos agrícolas a Congjiang, como cogumelos secos, piri-piri e óleos, no valor de 2,5 milhões de yuans, beneficiando 2830 unidades familiares. O grupo Galaxy doou 1 milhão de yuans para a implementação de estações de tratamento sanitário em 21 aldeias, o que foi já realizado.

Mais escolas têm igualmente sido construídas com fundos de Macau, bem como mais ajuda na área da saúde tem sido implementada, nomeadamente com a doação de 200 aparelhos auditivos e 100 cadeiras-de-rodas eléctricas. Além disso, só em Agosto, foram instalados, em casas familiares, mais de 1000 esquentadores eléctricos.

Recentemente, o IPIM convidou oito empresas de Congjiang a participarem na Feira Internacional de Macau, onde assinaram vários acordos de exportação dos seus produtos.

No total, desde 2018, a RAEM já disponibilizou, em dinheiro e materiais, cerca de 120 milhões de yuans, como forma de contribuir para a erradicação da pobreza em Congjiang, além de contribuir com assistência cultural e intelectual para a elevação das condições de vida na comarca.

Guizhou, a província mais pobre da China

A província de Guizhou tem sido um dos principais cenários da batalha do Governo Central para a erradicação da pobreza, tendo merecido a especial atenção do presidente Xi Jinping, que a referiu em numerosas ocasiões. Desde 2012, data da realização do 18º Congresso do Partido Comunista Chinês em que foi estabelecida como meta, o plano de erradicação da pobreza em Guizhou fez com que o número de 9,23 milhões de pobres tenha decrescido para cerca de 300 mil em 2019, ou seja, de 26,8% da população total da província para 0,85%.

Em Guizhou, uma província montanhosa com acessos difíceis, habitada sobretudo por minorias étnicas, existiam 66 comarcas consideradas pobres. Em 2019, apenas 9 eram ainda classificadas como tal. Uma das estratégias passou pela construção de estradas que ligam comunidades rurais, dantes isoladas, numa geografia montanhosa que dificultava os acessos e a comunicação entre as diversas comunidades. No total foram construídos 77 mil quilómetros de estradas.

Com o mesmo objectivo, foi também implementado um projecto de recolocação de cerca de 1,8 milhão de pessoas, a maior de toda a China, além de ter sido promovida a modernização agrícola e desenvolvidos novos métodos de trabalho, o que levou a um enorme crescimento da produção.

Este ano, apesar da pandemia e de graves inundações, o plano continuou a as nove comarcas referidas conseguiram também ultrapassar, este Novembro, o nível de pobreza. Resta agora, segundo as autoridades, prosseguir na investigação de eventuais deficiências na execução dos planos, consolidar a produção de alta qualidade e assim eliminar desta província o estado de pobreza que há milhares de anos afligia a sua população.

29 Nov 2020

Hong Kong | Carrie Lam anuncia medidas acordadas com Pequim para resgatar a economia

[dropcap]H[/dropcap]ong Kong anunciou ontem um pacote de estímulos, acordado com Pequim, para resgatar a região semi-autónoma, cuja economia vai sofrer uma contracção de 6,1 por cento, em 2020, devido aos “distúrbios civis, pandemia e situação política internacional”.

Num longo discurso proferido perante o Conselho Legislativo, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, assegurou que a antiga colónia britânica recebeu “golpes sem precedentes”, nos últimos anos, que “minaram gravemente a estabilidade social”.

Lam destacou o impacto económico da pandemia da covid-19, a “agitação social proveniente da oposição” e “actos que ameaçam a segurança nacional devido à interferência de forças externas”.

“Devem ser encontrados meios para tirar Hong Kong do impasse e restaurar a confiança pública”, apontou.
Lam defendeu as suas últimas visitas a Pequim, onde concordou em promover a integração no projeto Área da Grande Baía, que inclui Macau e várias cidades da província de Guangdong, e que visa transformar o sudeste da China numa mega metrópole de referência internacional no sector financeiro e tecnológico.

A líder do governo da antiga colónia britânica anunciou também um plano para ligar as bolsas de valores da China e de Hong Kong, o que permitirá que mais empresas da China continental beneficiem da ligação de Hong Kong ao mundo enquanto praça financeira.

“Hong Kong tem de aproveitar as oportunidades que a China lhe oferece”, acrescentou.
Lam anunciou ainda que o seu Executivo vai apresentar um projecto de lei para “alterar os decretos sobre a tomada de posse de funcionários públicos”, bem como uma campanha educacional para “melhorar a compreensão sobre o Estado de Direito”.

26 Nov 2020

EUA/Eleições | Xi Jinping deu os parabéns pela vitória ao democrata Joe Biden

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, deu ontem os parabéns pela vitória ao Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, expressando esperança num espírito de cooperação entre os dois países, para que todos fiquem a ganhar.

A China foi uma das últimas potências a dar os parabéns a Biden, que venceu este mês o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas. O Ministério dos Negócios Estrangeiros só o fez no dia 13 deste mês, quase uma semana semana depois de Biden ser anunciado como vencedor, no dia 7.

Os analistas dizem que Pequim pode ter querido evitar tensões nas relações com o Presidente cessante, que ainda não reconheceu publicamente a derrota, alegando a existência de “fraude eleitoral” e pedindo a recontagem de votos.

Na mensagem de parabéns, Xi disse a Joe Biden que relações “saudáveis e estáveis” são a “expectativa comum da comunidade internacional”, de acordo com um comunicado divulgado.

“Esperamos que os dois lados mantenham o espírito de não-conflito e não-confronto, respeito mútuo e cooperação em que todos ganham, focando-se na cooperação, controlando as diferenças e promovendo o desenvolvimento saudável e estável das relações entre a China e os EUA”, pode ler-se no comunicado.

As relações entre China e EUA deterioram-se rapidamente desde que Donald Trump assumiu a presidência.

Os dois países enfrentam uma guerra comercial e tecnológica e disputas em torno da soberania do mar do Sul da China, a questão de Taiwan ou o estatuto de Hong Kong.

Trump classificou a China como uma ameaça à segurança dos EUA e impôs restrições sob as exportações de tecnologia para o país asiático.

Nos últimos meses, a insistência de Trump em apelidar a covid-19 de “vírus chinês” contribuiu para antagonizar as percepções sobre o líder norte-americano no país.

Analistas políticos esperam, no entanto, poucas mudanças na relação bilateral, devido à frustração generalizada nos EUA em questões comerciais e de direitos humanos e a acusações de espionagem e usurpação de tecnologia pela China.

A posse de Biden como 46.º Presidente dos Estados Unidos está marcada para 20 de Janeiro de 2021.

26 Nov 2020

Tailândia | Novos protestos junto ao banco do qual o rei é o maior accionista

[dropcap]A[/dropcap] sede do Banco Comercial do Sião (SCB), cujo maior accionista é o rei da Tailândia, vai ser hoje o centro de um novo protesto do movimento estudantil que exige reformas democráticas na política e na Casa Real. O protesto centra-se nas finanças do rei Vajiralongkorn, a quem foi concedido o poder de controlar pessoalmente uma fortuna real de pelo menos 35 mil milhões de dólares quando subiu ao trono.

Inicialmente convocada para junto do gabinete das propriedades da coroa (Crown Property Office), a manifestação mudou de local, de acordo com um anúncio dos organizadores na terça-feira à noite, depois da instalação de cerca de seis mil barricadas de polícia e de arame farpado no local, e também para evitar protestos dos apoiantes do rei.

Apesar de as manifestações pró-democracia lideradas por estudantes, que começaram regularmente em julho, serem pacíficas, as autoridades tailandesas utilizaram já canhões de água e granadas de gás lacrimogéneo para reprimir os manifestantes.

“O recurso à violência, ou a medidas duras, para tentar pôr fim aos protestos só irá reforçar ainda mais a opinião de que o actual Governo não representa os ideais do povo”, disse Mu Sochua, representante do grupo parlamentar da ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático] para os direitos humanos, numa declaração, apelando às autoridades para que adoptem um “tom conciliatório”.

O protesto de hoje tem lugar na sede do banco SCB onde o rei Vajiralongkorn é o maior accionista com 23,38% das acções, de acordo com os últimos dados publicados no mercado de ações tailandês.

Lideradas por grupos de estudantes, as manifestações tem sido realizadas quase diariamente, algumas delas em grande número, e desafiam publicamente o estatuto do rei e da Casa Real, protegidos por lei de insultos ou críticas, um crime punido com duras penas de prisão.

Nos últimos dias, a polícia acusou vários ativistas pró-democracia de crimes de lesa-majestade, puníveis com 15 anos de prisão, e estão a considerar alargar a acusação a mais líderes dos protestos.

O rei Vajiralongkorn, de 68 anos, ascendeu ao trono em 2016, sendo menos respeitado do que o falecido pai, o venerado Bhumibol Adulyadej. Uma das críticas do movimento pró-democracia são as longas estadas do monarca na Alemanha, onde vive habitualmente.

Na sequência dos protestos, o monarca está na Tailândia desde meados de outubro. Vajiralongkorn aumentou o poder, depois de em 2017 ter assumido o controlo de várias unidades militares em Banguecoque e da fortuna real.

A pedido do monarca, o parlamento tailandês eleito pela antiga junta militar (2014-2019) aprovou uma emenda à lei, em julho de 2017, para colocar o Crown Property Office, que gere a fortuna da família real, sob a autoridade única de Vajiralongkorn.

A Casa Real da Tailândia é a mais rica do mundo, de acordo com um estudo publicado em 2011 pela revista Forbes, e tem uma grande carteira de investimentos em propriedades e empresas.

25 Nov 2020

Filipinas | Duterte já despediu cerca de 800 funcionários por corrupção

[dropcap]O[/dropcap] Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, despediu cerca de 800 funcionários governamentais por actividades ilegais, desde que iniciou o mandato em 2016, no âmbito de uma campanha anti-corrupção. “Continuarei a perseguir todos os trabalhadores do governo envolvidos em casos de corrupção”, advertiu na segunda-feira à noite o chefe de Estado filipino, num discurso televisivo.

Acusado por vozes da oposição de alegadamente esconder uma fortuna ilegal em contas estrangeiras, Duterte adiantou que, na próxima semana, vai identificar mais funcionários despedidos por terem cometido ilegalidades.

Alfândegas, Imigração, Obras Públicas, Receita Federal ou Filhealth, empresa pública de Segurança Social, têm sido algumas das agências governamentais afetadas por casos de corrupção durante o mandato de Duterte.

O Presidente filipino acrescentou que os funcionários despedidos foram punidos com multas administrativas e que o Provedor de Justiça é a figura encarregada de apresentar acusações criminais contra funcionários do Governo envolvidos em crimes como suborno ou corrupção.

A guerra contra a corrupção, juntamente com a guerra antidroga e contra os rebeldes comunistas, é um dos pilares da política de Duterte. No mês passado, ordenou ao Departamento de Justiça, que atua como Ministério Público, que “investigasse todo o Governo por corrupção” até ao fim do mandato, em 2022.

Duterte mostrou ainda uma lista da Comissão Presidencial Anticorrupção que inclui nomes de congressistas que alegadamente solicitaram comissões em troca da aprovação de projetos de lei, sem identificar os suspeitos.

O chefe de Estado filipino sublinhou que o cargo não lhe confere jurisdição para acusar os congressistas suspeitos de corrupção, mas indicou que ia transmitir a lista ao Provedor de Justiça para que este tome medidas.

“Segundo a lei política, não tenho o direito de investigar os congressistas, eles pertencem a um órgão governamental separado”, disse Duterte, instando o parlamento a abrir uma investigação interna.

24 Nov 2020

MNE chinês no Japão para negociar retoma de viagens e questões regionais

[dropcap]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, chegou hoje ao Japão para abordar com o homólogo japonês formas de reavivar as economias dos dois países, atingidas pela pandemia da covid-19, e questões regionais.

Durante a visita de dois dias, Wang Yi e Toshimitsu Motegi vão abordar a retomada de viagens de negócios entre a segunda e a terceira maiores economias do mundo, o que permitiria aos visitantes participarem em atividades comerciais limitadas durante os períodos de quarentena de 14 dias. O Japão lançou recentemente acordos semelhantes com alguns países asiáticos.

A visita ocorre numa altura em que o Japão enfrenta nova vaga de infeções pelo novo coronavírus e o Executivo japonês tenta equilibrar medidas de prevenção contra a doença e a necessidade de reavivar a economia. Wang Yi deverá reunir-se com o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, durante a visita a Tóquio.

O Japão e a China não estão a considerar reagendar a visita de Estado do Presidente chinês, Xi Jinping, ao Japão, originalmente planeada para a primeira metade deste ano, mas adiada devido à pandemia.

As relações entre os dois países são frequentemente abaladas por disputas territoriais e memórias da invasão japonesa da China, mas os laços melhoraram nos últimos anos.

O Japão, um importante aliado de Defesa dos Estados Unidos, vê a China como um parceiro comercial crucial e enfrenta o desafio de equilibrar as relações com os dois países. A visita também ocorre numa altura de preocupações crescentes sobre a crescente influência da China na região.

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, manteve conversações na semana passada com Suga, com quem concordou intensificar a parceria militar para “promover a paz e a estabilidade na região do Indo-Pacífico”, numa reação à crescente assertividade da China.

O Japão e a Austrália, junto com os EUA e a Índia, estão a tentar recrutar outros países para se juntarem a um bloco que visa conter a assertividade territorial da China, o que foi alvo de críticas de Pequim. Após visitar o Japão, Wang Yi vai-se deslocar à Coreia do Sul.

24 Nov 2020

Austrália lamenta “deterioração desnecessária” das relações com Pequim

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, denunciou hoje a crescente pressão exercida pela China sobre o seu país, acusando Pequim de estar a causar uma “deterioração desnecessária” das relações bilaterais.

Numa intervenção durante um encontro ‘online’ com um ‘think tank’ do Reino Unido, Morrison destacou o desejo da Austrália de ter relações “mutuamente benéficas” com Pequim e com os Estados Unidos, enquanto persegue os seus próprios interesses de forma independente.

O primeiro-ministro também negou que a Austrália esteja subjugada aos Estados Unidos, num contexto de deterioração das relações sino-americanas.

Nos últimos meses, o relacionamento entre Camberra e Pequim deteriorou-se rapidamente.

A Austrália excluiu o grupo chinês das telecomunicações Huawei das suas redes de quinta geração (5G) e solicitou uma investigação independente sobre a origem do novo coronavírus.

A China, o maior parceiro comercial da Austrália, retaliou ao suspender as importações de um grande número de produtos australianos, incluindo carne, cevada e madeira.

De acordo com Morrison, esta diplomacia coerciva é apenas uma “amostra” do que outros países poderão sofrer no futuro.

Aludindo ao futuro governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, o primeiro-ministro insistiu que países como a Austrália não deveriam ser forçados a escolher entre Washington e Pequim.

“Será necessária mais latitude por parte das maiores potências do mundo, para satisfazer os interesses individuais dos seus parceiros e aliados. Todos nós precisamos de um pouco mais de espaço para avançar”, disse Morrison, no encontro com a unidade de investigação Policy Exchange, do Reino Unido.

“Deve haver uma apreciação mais matizada dos interesses dos diferentes estados na maneira como lidam com as grandes potências. As escolhas difíceis não atendem aos melhores interesses de ninguém”, acrescentou o primeiro-ministro australiano.

24 Nov 2020

Ex-PM japonês investigado por utilização ilegal de fundos para financiar eventos privados

[dropcap]P[/dropcap]rocuradores no Japão estão a investigar o gabinete pessoal do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe pela alegada utilização ilegal de fundos para financiar eventos privados, para os quais foram convidados apoiantes do líder japonês entre 2013 e 2019.

Como parte desta investigação, a acusação começou a recolher declarações de secretários que trabalharam para Abe e de funcionários de organizações políticas, para obter mais informação sobre a forma como estes eventos foram financiados, de acordo com as notícias hoje publicadas nos meios de comunicação locais.

Estas festas foram realizadas todos os anos em hotéis de luxo, entre 2013 e 2019, para as quais foram convidados centenas de apoiantes da Abe, que são suspeitos de receber um financiamento de cerca de oito milhões de ienes, disseram fontes judiciais à agência local Kyodo.

A lei japonesa exige que os partidos e organizações privadas simpatizantes dos políticos declarem todas as suas receitas e despesas, algo que o gabinete pessoal da Abe não teria feito neste caso, de acordo com as mesmas fontes.

O antigo primeiro-ministro japonês, que renunciou ao cargo em meados de setembro, devido a problemas de saúde, disse hoje que o seu gabinete privado “está a cooperar plenamente com a investigação”.

A acusação abriu a investigação na sequência de um processo instaurado em maio por um grupo de cerca de 660 advogados e académicos contra Abe e os seus assistentes, acusando-os de infringir a lei.

O último destes jantares realizou-se na primavera de 2019, no Hotel New Otani, em Tóquio, na véspera de um feriado tradicional para ver as flores de cerejeira, e contou com a presença de cerca de 800 convidados, incluindo figuras proeminentes e apoiantes de Abe, muitos deles de Yamaguchi, a sua terra natal.

24 Nov 2020

Espaço | Preparação final para recolha de material lunar

A China continua a dar passos em frente na conquista do espaço. Pela primeira vez, desde os anos 70, uma nave vai pousar na superfície lunar para recolher rochas e destroços que poderão vir a ser determinantes na compreensão do sistema solar

 

[dropcap]T[/dropcap]écnicos chineses estiveram ontem a fazer os preparativos finais para uma missão que visa trazer de volta material da superfície lunar, no que seria um grande avanço para o programa espacial da China.

A nave Chang’e 5 vai realizar a missão lunar mais ambiciosa do país asiático até à data e marca a primeira vez em quatro décadas que um país tenta trazer rochas e destroços da Lua para a Terra.
Isto poderia aumentar a compreensão humana sobre a Lua e o sistema solar em geral.

Os quatro módulos da Chang’e 5 devem ser enviados para o espaço esta terça-feira, a bordo do foguete Longa Marcha-5, a partir do centro de lançamento de Wenchang, na província de Hainan, extremo sul da China, de acordo com uma descrição da missão feita pela agência norte-americana NASA.
A Administração Espacial da China disse apenas que o lançamento está programado para o final de Novembro.

A principal tarefa da missão é perfurar dois metros abaixo da superfície da Lua e recolher cerca de dois quilogramas de rochas e outros detritos para serem trazidos de volta à Terra, de acordo com a NASA.
Esta seria a primeira oportunidade que os cientistas teriam para estudar o material lunar, desde as missões norte-americana e russa das décadas de 1960 e 1970.

A missão é “realmente desafiadora”, mas a China já conseguiu pousar por duas vezes na Lua com as missões Chang’e 3 e Chang’e 4 e mostrou com um teste da Chang’e 5, realizado em 2014, que pode fazer com que a cápsula volte à Terra, entrando novamente na atmosfera e aterrando na superfície terrestre, disse Jonathan McDowell, astrónomo do Centro de Astrofísica da Harvard-Smithsonian.

Agora só falta mostrar que pode recolher amostras e descolar novamente da lua, disse McDowell.
“Estou bastante optimista de que a China conseguirá fazê-lo”, disse.

Bom exemplo

O módulo da Chang’e 5 só pode permanecer na lua por um dia lunar, ou cerca de 14 dias terrestres, porque não tem as unidades de aquecimento de radioisótopos que a actual sonda lunar na China, a Chang’e 4, possui, para resistir às noites gélidas da lua.

O módulo de pouso cavará em busca de materiais com uma broca e braço robótico. Os materiais serão transferidos para um elevador.

Os materiais serão então movidos para a cápsula de retorno, que regressará à Terra.
A complexidade técnica do Chang’e 5, com os seus quatro componentes, torna-o “notável em muitos aspectos”, disse Joan Johnson-Freese, especialista em assuntos do Espaço do Colégio de Guerra Naval dos Estados Unidos.

Se for bem-sucedido, pode ser um projecto replicado para recolher amostras em Marte ou mesmo para uma missão lunar tripulada, disse Johnson-Freese.

“A China está a revelar-se capaz de desenvolver e executar com sucesso programas sustentados em alta tecnologia, importantes para aumentar a sua influência regional e realizar parcerias potencialmente globais”, disse.

A missão, baptizada em homenagem à deusa chinesa da lua Chang’e, está entre as mais ousadas da China desde que colocou um homem no espaço, pela primeira vez, em 2003, tornando-se a terceira nação a fazê-lo, depois dos EUA e da Rússia.

Embora muitas das conquistas anteriores do programa espacial da China, incluindo a construção de uma estação espacial experimental e a realização de uma caminhada espacial, reproduzam feitos alcançados por outros países anteriormente, o país está agora a progredir para a realização de feitos únicos.

Sempre a abrir

A Chang’e 4 foi a primeira sonda a pousar no lado relativamente inexplorado da Lua, que não é visível a partir da Terra, e está a fornecer medições completas da exposição à radiação da superfície lunar, que são vitais para qualquer país que planeie enviar astronautas à Lua.

Em Julho passado, a China tornou-se um dos três países a lançar uma missão a Marte, que vai procurar sinais de água no planeta vermelho. As autoridades chinesas dizem que a nave Tianwen 1 está em curso para chegar a Marte por volta de Fevereiro.

Embora os EUA tenham seguido de perto os sucessos da China, é improvável que colaborem com o país, numa altura de crescentes tensões e desconfiança política, rivalidade militar e acusações de usurpação de tecnologia por parte da China.

23 Nov 2020

Hong Kong | Eurodeputada Isabel Santos quer visitar Tsz Lun Kok

A eurodeputada, ligada ao Partido Socialista, enviou um pedido às autoridades da China para visitar o jovem com nacionalidade portuguesa e chinesa detido em Shenzhen desde 23 de Agosto, sem oportunidade de contactar a família ou o advogado. Isabel Santos defende o total esclarecimento da situação e a libertação de Tsz Lun Kok

 

[dropcap]A[/dropcap] eurodeputada Isabel Santos enviou um pedido às autoridades da República Popular da China para visitar Tsz Lun Kok, o estudante de nacionalidade chinesa e passaporte português que se encontra detido em Shenzhen desde Agosto e que continua incontactável deste então.

Segundo avançou a TDM – Canal Macau, a eurodeputada comunicou a intenção de se encontrar com o jovem de 18 anos, através de uma publicação na rede social Facebook, onde informa ter enviado cartas aos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Justiça da China.

Recorde-se que Tsz Lun Kok enfrenta acusações relacionadas com os protestos pró-democracia em Hong Kong no ano passado, após ter sido detido pela guarda costeira chinesa a 23 de Agosto, juntamente com mais 11 activistas, quando tentavam chegar por mar a Taiwan, onde se pensa que procuravam asilo.

Sobre aquilo que considera ser a “nova e sinistra Lei de Segurança Nacional imposta em Hong Kong”, Isabel Santos lembra que o estudante é acusado de participar em motins, sendo essa “uma acusação cada vez mais utilizada pelas autoridades para conter a revolta popular e o combate pela Democracia nas ruas de Hong Kong”.

A eurodeputada revela ainda que, além das autoridades da China, comunicou o envio do pedido ao embaixador da China em Lisboa, ao chefe de missão da China junto da União Europeia e ainda a Josep Borrel, Alto Representante e vice-presidente da Comissão Europeia, a quem pediu “intervenção na defesa dos direitos deste cidadão português”.

“A todos manifestei a minha profunda preocupação com as condições de detenção deste estudante, que possui nacionalidade portuguesa, e de todos os seus colegas detidos nas mesmas condições”, pode ler-se na publicação.

Até ao fim

Afirmando que irá continuar a acompanhar a situação “sem descanso” e no exercício das suas funções como eurodeputada, Isabel Santos compromete-se a tomar “as iniciativas que entender necessárias” na defesa “dos Direitos Humanos e dos valores da Democracia e Liberdade”. Quanto a Tsz Lun Kok, a eurodeputada defende a sua libertação e mais esclarecimentos.

“Esta é uma causa que merece uma grande mobilização de todos na defesa destes valores, batendo-nos pelo total esclarecimento desta situação e pela libertação de Tsz Lun Kok. E peço que se juntem a mim neste combate”, apontou.

Recorde-se que, sobre o caso, o embaixador de Portugal na China, José Augusto Duarte, considerou, durante a sua passagem por Macau no mês passado, que uma abordagem discreta é preferencial e que tem visto “elementos alentadores” num “jogo diplomático que é delicado e que exige muita paciência e determinação”.

Em Setembro, tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) como o Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong afirmaram que estão a acompanhar o caso, apontando, no entanto, que “a China não reconhece a dupla nacionalidade a cidadãos chineses”, o que limitaria a intervenção das autoridades portuguesas “ao domínio humanitário, procurando assegurar que o detido se encontra bem, que lhe seja dispensado um tratamento digno e que possa ser defendido por um advogado”.

23 Nov 2020

Hong Kong | Activistas Joshua Wong, Agnes Chow e Ivan Lam detidos a aguardar sentença

[dropcap]O[/dropcap]s activistas de Hong Kong Joshua Wong, Agnes Chow e Ivan Lam vão ficar detidos enquanto aguardam pela sentença de um tribunal por terem organizado uma manifestação não autorizada em Junho de 2019.

A informação foi avançada à agência de noticias espanhola EFE por fontes do extinto partido Demosisto, ao qual pertenciam os três jovens activistas. Os três arguidos, que testemunharam perante o tribunal, estão agora detidos no centro Lai Chi Kok, à espera que os juízes pronunciem a sentença, que poderá ir até cinco anos de prisão. A leitura da sentença deverá ser feita a 2 de Dezembro, indicou Agnes Chow na rede social Facebook.

Horas antes, Joshua Wong anunciou que os três activistas iam declarar-se culpados no julgamento, pela organização e participação numa manifestação não autorizada. “Não ficaria surpreendido se fosse detido ainda hoje”, disse Wong aos jornalistas ao chegar ao tribunal, esta manhã. “Continuaremos a lutar pela liberdade, e este não é o momento de nos achatarmos perante Pequim ou de nos rendermos”, disse o rosto do movimento dos ‘guarda-chuvas amarelos’ em 2014.

Joshua Wong denunciou a detenção de 23 activistas, jornalistas e conselheiros, nas últimas três semanas. “Todos os dias temos activistas em julgamento, manifestantes enviados para a prisão”, de acordo com uma nota enviada aos jornalistas e a que Lusa teve acesso.

“Sob as contínuas investidas contra os dissidentes da cidade, gerações de jovens vão de protestos a prisões. Para salvaguardar a liberdade do lugar onde nascemos, todos eles fizeram um sacrifício silencioso, mas sem arrependimento. Alguns deles foram torturados, forçados ao exílio”, frisou.

A mobilização pró-democracia no território foi muito forte até ao final do ano passado com manifestações que chegaram a ter dois milhões de pessoas, segundo os organizadores dos protestos.

Em junho, a resposta de Pequim aos protestos em Hong Kong surgiu com a imposição da lei da segurança na região administrativa especial chinesa, o que levou activistas a refugiarem-se no Reino Unido e em Taiwan.

23 Nov 2020

Tailândia | Milhares de estudantes pedem reforma escolar e mais democracia

[dropcap]M[/dropcap]ilhares de estudantes do ensino secundário reuniram-se este sábado no centro de Banguecoque para exigir uma reforma do sistema escolar e apoiar os mais velhos que reclamam a demissão do primeiro-ministro e a reforma da monarquia.

Encorajados pelo movimento pró-democracia que abala a Tailândia desde o verão, os jovens organizaram o seu próprio protesto, intitulado “Maus Alunos”, para pedir mudanças em todos os pilares da educação, como programas renovados, flexibilização de regras, igualdade e direito à palavra.

Na escola, “dizem-nos o que devemos aprender, como nos vestir e nunca fazer perguntas”, conta Pung, de 15 anos.

Na Tailândia, os livros didáticos encobrem muitas das turbulências políticas das últimas décadas, focando a vida dos monarcas, e os estabelecimentos de ensino seguem normas de vestir muito rígidas, com rabo de cavalo e fita no cabelo obrigatório para as meninas e corte militar para os meninos.

Na manifestação, muitos jovens falaram da importância da igualdade de género.

“A escola não é um lugar seguro” para as meninas, escreveu uma estudante do ensino secundário num cartaz, com a boca amordaçada com fita adesiva, em sinal de protesto.

Eles riem-se de mim, “os professores dizem que pareço muito feminino”, revelou Tian, de 16 anos, que quer ser capaz de reivindicar livremente a sua homossexualidade.

Entre os adereços dos estudantes, havia pessoas em trajes de dinossauros e bolas de praia grandes a simular asteroides para dizer que, da mesma forma que se acredita que um asteróide atingiu a Terra e levou à extinção dos dinossauros, também os membros antiquados da Tailândia que impedem a mudança enfrentarão uma colisão com o movimento pró democracia do país.

Os manifestantes também exigiram, como os estudantes mais velhos, uma reforma da poderosa monarquia e a demissão do primeiro ministro, Prayut Chan-O-Cha, na sequência do golpe de Estado de 2014.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro endureceu o tom de voz ao avisar que “o governo iria fazer cumprir todas as leis”, mesmo potencialmente a de lesa majestade, que pune com até 15 anos de prisão qualquer difamação contra o rei, e que não tem sido usada desde há alguns anos.

“Os limites foram ultrapassados”, acrescentou.

Na quarta-feira, milhares de manifestantes reuniram-se na capital, alguns a expressar slogans muito duros contra a monarquia.

No dia anterior, seis pessoas foram baleadas e feridas durante confrontos entre manifestantes, forças da ordem e ultrarrealistas, numa escalada de violência sem precedentes desde o início das contestações.

O rei Maha Vajiralongkorn ascendeu ao trono em 2016 e é uma figura controversa que reside frequentemente na Alemanha.

22 Nov 2020

Arábia Saudita | Cimeira virtual do G20 aborda pandemia, crise económica e ajudas a países pobres

[dropcap]A[/dropcap] pandemia de covid-19, a crise económica daí oriunda e as ajudas económicas aos 73 países mais pobres do mundo vão centrar, no próximo fim de semana, a cimeira virtual das 20 economias mais industrializadas do planeta (G20).

Organizada pela primeira vez por um país árabe, a Arábia Saudita, e no formato inédito de videoconferência, a cimeira vai abordar a questão das implicações da pandemia no contexto económico e sanitário mundial – a covid-19 já infectou quase 56 milhões de pessoas e matou mais de 1,3 milhões – e eventuais medidas para relançar a economia no mundo.

Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), se, por um lado, a esperança na eficácia das vacinas está a subir, a economia, por outro, está ainda longe de ver a luz ao fundo do túnel, uma vez que as projeções apontam para que o Produto Interno Bruto (PIB) global deva diminuir 4,4% em 2020.

Os países do G20 gastaram já cerca de 11.000 biliões de dólares para salvar a economia mundial e têm pela frente uma “bomba-relógio”: a dívida dos países pobres, que se confrontam com um colapso (menos 700.000 milhões de dólares, segundo a Organização para a Cooperação e desenvolvimento Económico – OCDE) do seu financiamento externo.

A 13 deste mês, os ministros das Finanças do G20 acertaram um “quadro comum”, que implica pela primeira vez a China e os credores privados, para aliviar o peso da dívida, um avanço em relação à moratória de pagamento de juros implementada em abril, mas ainda insuficiente para as organizações não-governamentais (ONG).

“O G20 está a manter a cabeça na areia e não responde à urgência da situação”, numa altura em que, segundo perspectivou o Banco Mundial (BM), entre 88 e 115 milhões de pessoas deverão cair na extrema pobreza”, referiu Katherine Tu, dirigente da Action Aid.

Uma das soluções seria usar os Direitos Especiais de Saque (SDR, em inglês) do FMI, um instrumento de financiamento já usado durante a crise económica de 2008.

Numa entrevista recente ao Financial Times, o ministro das Finanças saudita, Mohammed al-Jaddan, disse estar confiante nessa solução, apesar das reservas iniciais dos Estados Unidos, cuja participação ao mais alto nível na cimeira ainda está em dúvida, uma vez que Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden nas eleições presidenciais norte-americanas de 03 deste mês, não confirmou a presença.

“Isso diz muito do seu interesse [de Trump] na cimeira do G20. Estas grandes reuniões são, de facto, menos válidas para um programa oficial muito consensual ou para o comunicado de imprensa final, muitas vezes muito suave, do que para as separações entre pessoas poderosas, os laços forjados à mesa, nos intervalos para café, nos corredores ou salas de ginástica dos hotéis”, comentou John Kirton, diretor do Centro de Investigação do G20.

No entanto, para o também professor da Universidade de Toronto, a “diplomacia digital” também tem as suas vantagens, ainda que apenas por questões de logística e segurança, numa região sob grande tensão.

Por outro lado, para Camille Lons, investigadora do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIEE), a cimeira é “uma oportunidade claramente perdida” para a Arábia Saudita, que “quis aproveitar para melhorar um pouco sua imagem”, maculada pelo assassínio, há dois anos, do jornalista Jamal Khashoggi.

Menos importante a nível global, o tema dos direitos humanos na Arábia Saudita não deixa de estar em foco, uma vez que as organizações não-governamentais terão a oportunidade de interpelar a comunidade internacional sobre uma questão que gera grandes críticas à atuação das autoridades de Riad.

Parentes de ativistas presos chegaram mesmo a apelar aos líderes mundiais para boicotarem a cimeira ou para, pelo menos, pressionarem os líderes sauditas a libertar os presos políticos e a garantir o respeito pelos direitos humanos.

A repressão às vozes dissidentes manchou a imagem do príncipe herdeiro Mohammad bin Salmane, que está, simultaneamente, a operar reformas para aligeirar as leis muito conservadoras no reino muçulmano.

Além da Arábia Saudita, o G20 é integrado pela África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, bem como pela União Europeia (UE) e pela Espanha, como país convidado permanentemente.

19 Nov 2020

Xi Jinping rejeita que a China queira desassociar-se economicamente dos EUA

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, rejeitou hoje sugestões de que o seu país procurará desassociar-se economicamente dos Estados Unidos e outros parceiros comerciais, numa altura de crescentes tensões em torno do comércio e tecnologia.

Numa intervenção ‘online’ durante uma reunião com executivos da região Ásia Pacífico, Xi prometeu continuar a abrir o mercado chinês, mas não anunciou nenhuma iniciativa para responder às reclamações de que o Partido Comunista subsidia indevidamente as empresas chinesas, enquanto as protege da competição externa.

Xi rejeitou as sugestões de que Pequim poderia responder às sanções dos EUA contra as suas empresas de tecnologia libertando-se da ligação a parceiros globais, visando a auto-suficiência.

O Partido Comunista promoveu os seus próprios padrões tecnológicos, ao bloquear o acesso de firmas estrangeiras à rede doméstica. Isto gerou temores de que os mercados mundiais se possam dividir em segmentos menores, com padrões industriais incompatíveis, prejudicando a produtividade.

“Nós nunca iremos recuar na História e tentar separar-nos ou formar um ‘pequeno círculo’ para manter os outros de fora”, disse Xi.

O evento de hoje ocorreu na véspera da reunião entre os líderes da Organização de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) organizada pela Malásia.

Os comentários de Xi seguiram-se à assinatura, no domingo, do maior acordo de livre comércio do mundo, a Parceria Económica Compreensiva Regional, que inclui a China e 14 países asiáticos.

O acordo atrai outros países em desenvolvimento porque reduz as barreiras ao comércio de produtos agrícolas, bens manufaturados e componentes.

O documento é, no entanto, pouco abrangente para serviços e acesso de empresas estrangeiros nas economias de cada país, um objetivo dos Estados Unidos e outras nações desenvolvidas.

A administração de Donald Trump cortou o acesso do grupo chinês de tecnologia Huawei à maioria dos componentes e tecnologia dos Estados Unidos, por motivos de segurança.

A Casa Branca está ainda a pressionar o proprietário chinês do serviço de vídeo TikTok a vender a sua operação nos Estados Unidos.

Xi prometeu reduzir taxas alfandegárias, mas não deu detalhes.

“Vamos reduzir ainda mais as taxas alfandegárias e custos burocráticos, cultivar uma série de zonas de inovação e promoção do comércio de importação, e expandir as importações de produtos e serviços de alta qualidade de vários países”, prometeu.

As repetidas promessas da China de estabelecer zonas de comércio livre e aliviar as restrições às importações geraram reclamações por parte dos Estados Unidos, Europa, Japão e outros parceiros comerciais, de que Pequim está a usar essas medidas isoladas para evitar cumprir com as promessas feitas quando aderiu à Organização Mundial do Comércio, em 2001, de permitir às empresas estrangeiras competirem livremente na sua economia, nos setores bancário, financeiro e outros serviços.

19 Nov 2020

Covid-19 | Quase um milhão de pessoas foram vacinadas na China, diz farmacêutica estatal Sinopharm

[dropcap]Q[/dropcap]uase um milhão de pessoas foram testadas com uma das vacinas em desenvolvimento na China para o novo coronavírus, até à data, “sem efeitos adversos significativos”, disse Liu Jingzhen, presidente da farmacêutica estatal Sinopharm.

Liu apontou numa entrevista divulgada hoje pela imprensa local que “a vacina foi testada em quase um milhão de pessoas” e que “apenas um pequeno grupo teve efeitos adversos leves”.

O responsável acrescentou que “diplomatas e estudantes que viajaram para mais de 150 países não apresentaram teste positivo para o coronavírus após serem vacinados”.

Em 22 de julho passado, a China autorizou o uso de vacinas candidatas contra o coronavírus para certos casos excecionais, como “proteção de pessoal da saúde, funcionários de programas de prevenção, inspectores portuários e funcionários do serviço público”.

Embora Liu não tenha detalhado se a vacina testada foi em todos os casos a da Sinopharm, indicou que este grupo está prestes a concluir a terceira fase de testes clínicos, realizados em dez países, com a participação de cerca de 60 mil pessoas.

“Terminamos a coleta de sangue de 40 mil pessoas 14 dias depois de receber as duas injeções necessárias para vacinação. O resultado é muito bom”, afirmou.

As autoridades chinesas não revelaram quando poderão comercializar as vacinas em larga escala, mas o diretor do Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Comissão Nacional de Saúde, Zheng Zhongwei, indicou no final de outubro que o país asiático planeia fabricar 610 milhões de doses, antes do final deste ano, e mil milhões em 2021.

19 Nov 2020

Polícia de Hong Kong detém três ex-deputados pró-democracia por desacatos no parlamento

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong deteve hoje três antigos deputados da oposição por perturbarem as reuniões legislativas em Maio, num momento em que crescem as preocupações com a repressão sobre o campo pró-democracia.

Ted Hui, Eddie Chu e Raymond Chan deixaram mensagens na rede social Facebook a informar que tinham sido detidos devido aos incidentes no parlamento local, quando o trio tentou impedir as reuniões legislativas nas quais se procurava aprovar a lei do hino, em maio e junho.

A polícia de Hong Kong indicou que tinha detido três antigos deputados sob a acusação de desacatos no Conselho Legislativo. Os três antigos legisladores perturbaram as reuniões em que se debateu a agora aprovada portaria do hino, que criminaliza qualquer insulto ou abuso sobre o mesmo.

Entre maio e junho, Hui largou uma planta podre e tentou pontapeá-la na direção do presidente do Conselho Legislativo, Chu espalhou um líquido malcheiroso, algo que Chan também tentou fazer, antes de ter sido detido pelos seguranças. Os três tentaram novamente perturbar a aprovação da proposta de lei em 04 de junho, mas foram todos expulsos.

A lei passou nessa sessão e o trio foi mais tarde condenado a pagar até 252 mil dólares de Hong Kong por danos causados. Os serviços de emergência chegaram a ser chamados ao local e vários deputados pró-Pequim disseram sentir-se indispostos.

18 Nov 2020

Covid-19 | Estudo indica que vacina chinesa Coronavac é “segura”

[dropcap]A[/dropcap] fórmula da Coronavac, potencial vacina chinesa contra a covid-19, é “segura” e induziu resposta de anticorpos em 97% dos voluntários saudáveis testados, segundo um estudo publicado na terça-feira na revista The Lancet.

Os resultados preliminares são provenientes de um ensaio clínico aleatório da Coronavac, em 744 voluntários entre os 18 e 59 anos, e revelaram que as respostas de anticorpos podem ser induzidas dentro de 28 dias após a primeira imunização, administrando duas doses da vacina com 14 dias de intervalo.

A investigação, realizada por uma equipa chinesa, identificou a dose ideal para gerar as respostas imunológicas mais altas nas fases um e dois dos testes, enquanto observou os efeitos secundários, que foram leves e desapareceram em 48 horas.

Os cientistas frisaram que as descobertas da fase três serão “cruciais” para determinar se a resposta imunológica gerada pela Coronavac é suficiente para proteger contra a infeção por SARS-CoV-2.

De acordo com o estudo, a persistência da resposta de anticorpos deve ser verificada em estudos futuros para determinar quanto tempo durará a proteção contra o vírus.

Como apenas participaram nos testes adultos saudáveis com idades entre 18 e 59 anos, terão de realizar-se mais investigações em faixas etárias diferentes, assim como em pessoas que padeçam de uma condição médica prévia.

“Os nossos resultados mostram que a Coronavac é capaz de induzir uma resposta rápida de anticorpos em cerca de quatro semanas de imunização, administrando duas doses da vacina com 14 dias de intervalo”, disse o coautor do estudo, Fengcai Zhu, investigador do Centro Provincial de Controlo e Prevenção de Doenças de Jiangsu, na China.

“Acreditamos que isso torna a vacina adequada para uso de emergência durante a pandemia. No entanto, são necessários mais estudos para verificar quanto tempo a resposta de anticorpos permanece após a vacinação”, sublinhou Zhu.

O especialista acrescentou que “a longo prazo, quando o risco da covid-19 for menor, as descobertas sugerem que administrar duas doses com intervalo de um mês, ao invés de deixar um intervalo de duas semanas, poderá ser mais apropriado para induzir respostas imunológicas mais fortes e potencialmente mais duradouras”.

A Coronavac, uma das 48 candidatas a vacinas contra o novo coronavírus atualmente em desenvolvimento, baseia-se numa cepa viral do SARS-CoV-2, originalmente isolada de um paciente chinês.

Esta primeira fase dos testes foi realizada na província de Jiangsu (China), com pessoas sem histórico médico e que não haviam viajado para áreas com alta incidência da covid-19.

Gang Zeng, um dos autores da investigação, do centro Sinovac Biotech de Pequim, destacou que a Coronavac “poderia ser uma opção [de vacina] atrativa porque pode ser armazenada num frigorífico padrão entre 2 e 8 graus”, algo típico em muitos imunizantes já existentes, como da gripe.

“A vacina também poderia permanecer estável durante três anos, armazenada, o que ofereceria vantagens para a sua distribuição em regiões onde o acesso à refrigeração é difícil”, observou.

Os autores identificaram algumas limitações no estudo, como o facto de que o ensaio da fase dois não avaliou as respostas das chamadas células T (células do sistema imunológico), que representam outra variante da resposta imunológica às infeções do vírus.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.328.048 mortos resultantes de mais de 55 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

18 Nov 2020

Polícia tailandesa dispersa manifestação com canhões de água e gás lacrimogéneo

[dropcap]A[/dropcap] polícia usou ontem canhões de água e gás lacrimogéneo em Banguecoque contra manifestantes reunidos perto do Parlamento, onde deputados e senadores estão a debater uma possível reforma da Constituição exigida pelo movimento pró-democracia.

Na tentativa de pressionar os parlamentares, várias centenas de manifestantes reuniram-se ao redor do prédio, protegido por blocos de cimento, arame farpado e centenas de polícias.

Alguns activistas tentaram abrir caminho e a polícia usou canhões que misturavam água e produtos químicos e, pela primeira vez desde o início do protesto, gás lacrimogéneo, de acordo com jornalistas da agência de notícias AFP.

Os manifestantes exigem a destituição do primeiro-ministro, Prayuth Chan-O-Cha, no poder desde o golpe de 2014, reformas para limitar os poderes da rica monarquia e uma revisão da Constituição, aprovada em 2017 e considerada também favorável ao exército.

O parlamento reúne-se para decidir quais os projetos de emendas constitucionais que aceita considerar e deve votar na quarta-feira.

“O seu voto é uma solução de compromisso, assim como a Tailândia é uma terra de compromisso”, disse numa mensagem publicada no Twitter Ford Tattep, um dos líderes do movimento pró-democracia, uma alusão a uma das raras reações do rei Maha Vajiralongkorn ao protesto que abala o país desde o verão.

Várias propostas de alterações foram apresentadas ao parlamento por parte da oposição e por uma organização não-governamental (ONG), visando nomeadamente reformar o Senado, a Comissão Eleitoral e o Tribunal Constitucional, considerados demasiado próximos do exército.

Uma das propostas também prevê que o primeiro-ministro seja nomeado a partir das fileiras do parlamento.

Os 250 senadores, nomeados pela junta, não deverão concordar facilmente em reduzir as suas prerrogativas e uma possível mudança constitucional levará muito tempo de qualquer maneira, segundo a avaliação de especialistas.

Os defensores da realeza também se reuniram perto do parlamento pela manhã para se opor a qualquer reforma.

“A modificação da Constituição levará à abolição da monarquia”, declarou Warong Dechgitvigrom, fundador do grupo de defesa da realeza Thai Pakdee (“Tailandeses Leais”).

O movimento pró-democracia garante que deseja modernizar a monarquia, mas de forma alguma quer aboli-la.

17 Nov 2020

Covid-19 | Jornalista chinesa enfrenta prisão por informar sobre surto em Wuhan

[dropcap]A[/dropcap] jornalista chinesa Zhang Zhan foi acusada de “causar altercações e problemas” por ter reportado sobre o surto do novo coronavírus na cidade de Wuhan, centro da China, e pode enfrentar até cinco anos de prisão.

Segundo informou a organização de defesa dos Direitos Humanos Chinese Human Rights Defenders (CHRD), um tribunal da cidade de Xangai vai julgar Zhang por informações publicadas nas redes sociais sobre a disseminação da doença em Wuhan, no início deste ano. A jornalista pode ser condenada a uma pena de entre quatro e cinco anos de prisão.

Zhang, de 37 anos, foi presa há seis meses por “provocar altercações e criar problemas”, uma acusação frequentemente usada contra críticos e ativistas na China.

O CHRD relatou em setembro que a mulher havia sido detida em maio por ter difundido em redes sociais como o Wechat, Twitter ou YouTube que os cidadãos de Wuhan receberam comida estragada durante o confinamento de 11 semanas da cidade, ou que foram forçados a pagar para fazerem testes de despistagem do novo coronavírus.

Zhang também informou sobre as prisões de outros jornalistas ou o assédio a familiares de vítimas da pandemia que exigiram que as autoridades se responsabilizassem pela má gestão nos estágios iniciais do surto.

Outros cidadãos que também narraram o que se passou em Wuhan desapareceram ou foram presos este ano, incluindo o empresário Fan Bing, o advogado Chen Qiushi ou o jovem repórter Li Zehua.

Em Wuhan, as autoridades locais atrasaram a divulgação de informações sobre o surto, nos estágios iniciais, porque, de acordo com o então presidente da câmara, Zhou Xianwang, precisavam da aprovação do Governo central para o fazer.

17 Nov 2020

BRICS | Xi Jinping defende Acordo de Paris e promete ajuda na recuperação económica

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, defendeu o Acordo de Paris sobre o clima e prometeu que o seu país se integrará mais activamente na recuperação da crise económica provocada pela pandemia de covid-19.

Durante uma reunião por videoconferência dos líderes dos países BRICS (sigla em inglês para o grupo de países que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Xi Jinping disse acreditar que é necessário “cumprir o Acordo de Paris com base no princípio da responsabilidade comum”, duas semanas depois de os EUA se terem retirado oficialmente desse tratado.

“Anunciei recentemente na ONU a decisão da China de aumentar as suas contribuições voluntárias nacionais para que as nossas emissões de CO2 diminuam até 2030 e sejamos um país neutro em carbono até 2060”, disse o líder chinês.

“Temos de alcançar a harmonia entre o homem e a natureza. O aquecimento global não parou porque há uma pandemia”, explicou o Presidente chinês.

Xi Jinping deixou ainda a promessa de que o seu país se aplicará no mercado global, “para impulsionar a recuperação económica”, perante os efeitos da pandemia de covid-19.

“A economia global está a passar pela sua pior recessão desde a Grande Depressão, na década de 1930, e a abertura e a inovação são necessárias para alimentar a recuperação global. A China estará mais activamente integrada no mercado global, para criar mais oportunidades e contribuir para a recuperação”, disse o Presidente chinês, durante a cimeira dos BRICS.

Estabilidade e segurança

Xi também prometeu “aprofundar a solidariedade e a cooperação” para “enfrentar os desafios da pandemia”, e observou que várias empresas chinesas estão a participar na terceira fase dos testes clínicos das suas vacinas, na Rússia e no Brasil, acrescentando que espera também cooperar a esse nível com a África do Sul e com a Índia.

“Temos de olhar para o futuro juntos”, concluiu o Presidente chinês, apontando para a necessidade de abordagens multilaterais para os grandes problemas mundiais.

A 12.ª cimeira dos BRICS, que tem por tema a “estabilidade global, segurança comum e crescimento inovador”, esteve marcada para Julho, em São Petersburgo, na Rússia, mas foi adiada para agora, devido à pandemia, estando a realizar-se em formato de videoconferência.

A cimeira é liderada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, contando ainda com a presença, para além de Xi Jinping, do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, do Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

17 Nov 2020

ASEAN | Países da Ásia-Pacífico assinam um dos maiores acordos comerciais de sempre

No domingo foi assinado um dos maiores acordos de comércio de sempre abrangendo uma área com 2,2 mil milhões de habitantes e quase 30 por cento do comércio mundial. O acordo junta a China e 14 países da região, incluindo Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia e estabelece regras para transaccionar bens e serviços, investimento externo e regulação de mercados de comércio electrónico e propriedade intelectual

 

[dropcap]P[/dropcap]arceria Económica Abrangente Regional (RCEP, na sigla em inglês). Este é o nome do histórico acordo comercial assinado no domingo, enquanto o resto do mundo, em particular o ocidente, está mergulhado em assuntos internos, debates infinitos entre ciência e direitos fundamentais no combate à pandemia e o ressurgimento de movimentos políticos radicais.

O maior acordo comercial do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB) junta os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), agregando 2,2 mil milhões de pessoas oriundos de países que representam 28 por cento de todo o comércio global.

O RCEP, que abre caminho para a criação de uma zona livre de comércio, abrange dez economias do sudeste asiático (Indonésia, Tailândia, Singapura, Malásia, Filipinas, Vietname, Birmânia, Camboja, Laos e Brunei), China, Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália.

Após cerca de oito anos de negociações, o acordo foi assinado no domingo, durante a cimeira anual da ASEAN. Numa cerimónia por vídeo conferência, que acabou por não incluir a Índia na lista de signatários, depois da saída do Governo de Narenda Modi, os líderes dos países signatários acolheram o acordo como uma nova esperança de recuperação das economias fortemente afectadas pela pandemia.

No final das negociações, o primeiro-ministro do Vietname, Ngueyen Xuan Phuc, era um homem satisfeito. “Estou muito feliz por poder anunciar que, depois de oito anos de trabalho intenso, conseguimos concluir as negociações do RCEP, que está pronto para ser assinado. Este é o maior acordo de comércio livre do mundo e é uma mensagem forte na afirmação da ASEAN como líder no apoio aos sistemas de mercado multilateral.

Cria uma nova estrutura de comércio na região, permite a facilitação comercial, revitaliza as cadeias de abastecimento destabilizadas pela covid-19 e é instrumental na recuperação pós-pandemia”, apontou o líder do país anfitrião da cimeira, citado pela agência Associated Press.

Outros tratados

Numa declaração conjunta, os líderes dos países-membros afirmaram que o RCEP seria um ponto crucial nas estratégias nacionais para recuperar economicamente, depois da paralisia global ditada pela pandemia da covid-19. “O acordo demonstra o nosso forte compromisso em implementar políticas de recuperação económica, com o apoio ao desenvolvimento, criação de emprego, ao fortalecimento das cadeias de abastecimento regionais, assim como o nosso empenho em garantir um acordo de comércio e investimento baseado em regras claras, aberto e inclusivo”, aponta a declaração.

Feitas as contas, os PIBs dos países signatários juntos representam 30 por cento do PIB global, valor que poderia ser ainda mais substancial caso a Índia tivesse permanecido nas negociações, alargando a aplicação do tratado a mais 1,4 mil milhões de pessoas. Porém, o Governo de Narendra Modi levantou dúvidas quanto aos riscos que o acordo poderia representar para a indústria e o sector agrícola da Índia.

Ainda assim, a declaração conjunta dos signatários deixou uma porta aberta para a Índia se juntar ao RCEP no futuro, sublinhando que seria “bem-vinda”.

Apesar de não conferir o mesmo nível de integração verificado na União Europeia, ou mesmo no Acordo entre Estados-Unidos, México e Canadá, o RCEP dá passos importantes na remoção de barreiras comerciais, assim como na expansão da influência de Pequim na economia mundial.

O acordo irá baixar as tarifas de importações entre os países-membros, que já por si eram reduzidas, ao longo do tempo, mas, acima de tudo, tem implicações de grande carácter simbólico, depois da saída dos Estados Unidos da Parceria Transpacífica, uma das primeiras medidas da Administração Trump. O novo tratado materializa a afirmação regional de que o compromisso nos esforços multilaterais é para manter, com vista a estabelecer o mercado livre como a fórmula para a prosperidade.

Em contrapartida, ao contrário de outros tratados, como o estabelecido com a UE, o RCEP não define padrões unificados de direitos laborais e de metas ambientais, nem obriga os signatários a abrir os seus mercados em áreas económicas vulneráveis internamente.

Na sombra das eleições

O momento da assinatura do RCEP é algo que também merece atenção, pouco depois da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais, de quem se espera uma mudança de 180 graus na gestão da política externa dos Estados Unidos, depois de Trump ter relegado a posição geoestratégia de Washington para segundo plano.

Durante a campanha eleitoral, e tendo em conta o discurso de Biden muito virado para a reconstrução e “salvação” interna dos Estados Unidos, fortemente assolados pela pandemia, foram muitos os analistas a mostrar cepticismo perante a possibilidade de o democrata querer restituir o tratado transpacífico, ou mesmo revogar sanções aplicadas à China. Uma das críticas mais comuns aos acordos de comércio livre é que resultam em desemprego em países mais desenvolvidos, à medida que os centros de produção são deslocados.

Depois de recuperar os votos do Michigan e da Pensilvânia, é improvável que Biden deite a perder a fé depositada pelos eleitores nestas zonas altamente industrializadas regressando à Parceria Transpacífica. No entanto, a crescente influência de Pequim pode levar os Estados Unidos a firmar acordos “avulsos” com países do sudeste asiático.

Vantagem de Xi

“É a vitória do multilateralismo e do mercado livre”, foi assim que o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, descreveu o RCEP. “O proteccionismo e o unilateralismo estão em crescimento, provocando sérios impactos na economia mundial, desafiando os regimes de comércio multilateral e expondo fraquezas económicas”, disse, citado pela agência Xinhua.

O governante teceu rasgados elogios à capacidade da ASEAN para ocupar o centro decisório económico, com base em regras e princípio, como a não interferência em assuntos internos, a construção de consensos ou respeitando os níveis de conforto de cada país-membro. Li Keqiang destacou o papel da ASEAN para os avanços na região em termos políticos e de cooperação em segurança, economia e desenvolvimento social.

“Este acordo também demonstra que perante desafios, os países devem escolher a via da solidariedade e cooperação, em vez da confrontação e conflito. Devem encarar-se uns aos outros com um espírito de parceria e não recorrendo a políticas económicas egoístas, que apenas favorecem um lado”, acrescentou Li.

Também o vice-ministro do Comércio, Wang Shouwen, adiantou que “o acordo é um novo marco na integração económica do Ásia oriental”, em declarações citadas pela Xinhua. O representante considera que o tratado irá injectar confiança nos mercados da região, melhorar a capacidade dos países-membros para combater com a pandemia e promover a prosperidade.

Por outro lado, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, afirmou que o acordo “irá abrir novas portas aos investidores, empresas e agricultores”.

Este acordo cimenta a posição da China enquanto parceiro económico dos países do sudeste asiático, a Coreia do Sul e Japão, colocando Pequim ao leme do comércio regional.

Outra consequência mencionada pelo Governo chinês é que o RCEP marca a primeira vez que a China e o Japão chegam a um acordo bilateral de redução de tarifas, “alcançado um progresso histórico”.

16 Nov 2020

Pelo menos sete mortos e sete em estado crítico num incêndio em Hong Kong

[dropcap]P[/dropcap]elo menos sete pessoas morreram e sete estão em estado crítico, na sequência de um incêndio num edifício residencial em Hong Kong, noticiou hoje a imprensa local. As vítimas mortais foram três homens, três mulheres e uma criança de 09 anos, noticiou o jornal South China Morning Post (SCMP).

Três homens e quatro mulheres foram hospitalizados, no domingo à noite, em estado crítico. Duas outras pessoas encontram-se em estado grave, indicou. O incêndio foi o mais mortal em Hong Kong em quase uma década.

O apartamento terá acolhido uma reunião familiar, mas as autoridades estão a investigar se funcionava no local um restaurante sem licença. A maioria das vítimas é nepalesa.

Os bombeiros informaram hoje numa conferência de imprensa que não havia medidas de segurança contra incêndios no edifício e que um dos presentes durante o evento conseguiu salvar-se ao subir pela janela da casa de banho do apartamento.

16 Nov 2020