Taiwan | Requisitos de viagem de funcionários a Macau apertam

Taiwan endureceu os requisitos de viagem para funcionários públicos que visitem as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau, numa tentativa de travar a influência de Pequim, informou ontem a imprensa local.

Segundo fontes citadas pelo jornal Taipei Times, próximo das autoridades de Taiwan, o Conselho de Assuntos do Continente (MAC, na sigla em inglês) – responsável pelas relações com o Interior – alterou a regulação vigente para exigir que os funcionários que viajem por “motivos não oficiais” a estas cidades apresentem relatórios antes e depois das visitas.

Os que não entregarem essas informações poderão enfrentar “medidas disciplinares”, indicaram as fontes, acrescentando que as mudanças legislativas serão submetidas ao parlamento para aprovação e implementação definitiva.

“As viagens à China, Hong Kong e Macau implicam riscos crescentes, e Taiwan vai reforçar ainda mais o sistema de gestão do seu pessoal”, referiram as fontes, explicando que os relatórios devem incluir também detalhes sobre reuniões ou contactos com “pessoas específicas” desses territórios.

A mudança ocorre cerca de meio ano após William Lai ter anunciado um conjunto de iniciativas para contrariar as operações de influência do Interior.

Entre as medidas está a obrigação de divulgação, por parte de todos os funcionários dos órgãos das autoridades da Formosa, a nível central e local, de qualquer participação em intercâmbios com entidades chinesas. Em Abril, as autoridades taiwanesas já tinham endurecido os critérios para a atribuição de residência a cidadãos de Hong Kong e Macau, por “razões de segurança nacional”.

5 Ago 2025

Hong Kong | John Lee faz visita oficial a Macau

O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, vai estar hoje em Macau a liderar a visita de uma delegação vinda do território vizinho.

O anúncio foi feito pelas autoridades da RAEHK, através de um comunicado público. Com John Lee, viajam o secretário para as Finanças, Paul Chan, o secretário dos Assuntos Constitucionais do Interior, Erick Tsang Kwok-wai, o secretário da Saúde, Lo Chung-mau, e a secretária dos Transportes e Logística, Mable Chan.

John Lee tem encontro agendado com o Chefe do Executivo de Macau, Sam Hou Fai, e vai ainda realizar visitas a diferentes infra-estruturas. O líder do Governo de Hong Kong regressa à RAEHK no mesmo dia.

5 Ago 2025

Joaquim Surumali ajuda a preservar património cultural timorense

É na sua oficina em Tasi Tolu, em Díli, que Joaquim Surumali preserva o património cultural de Timor-Leste ao replicar em joias, para utilização diária, peças utilizadas nas casas sagradas e em cerimónias e danças tradicionais.

Nas suas mãos, o ‘kaebauk’, ornamento com chifres de búfalo, que representa o sol, a força, segurança, protecção e poder, tradicionalmente usado na cabeça e em cima dos telhados das casas sagradas, ganha a forma de brincos e de pendentes para serem utilizados num colar.

Já o “belak”, um disco de bronze que simboliza a lua e é utilizado ao peito e no interior das casas sagradas, também pode ser comprado em brincos.

Na oficina de Joaquim Sumali também não faltam os colares, denominados de “morten”, por norma com a cor laranja, que trazem sorte e prosperidade e afastam os maus espíritos e as energias negativas.

“Eu quero fazer este trabalho. O meu pai também trabalhava com joias, moldava o belak e o kaebauk desde o tempo dos portugueses, e até agora os meus irmãos e irmãs às vezes ainda fazem joias como kaebauk e belak em Díli”, contou à Lusa Joaquim Surumali.

O joalheiro, de 34 anos, sublinhou que a sua arte é uma tradição da família, que continua até aos dias de hoje. “Aprendi a fazer joias com o meu pai e com os meus irmãos. Mas o nosso trabalho vem do nosso próprio sangue, do nosso pai e dos mais velhos que também faziam joias como as que se fazem hoje”, explicou Joaquim Surumali.

Outros materiais

Joaquim Surumali faz as joias em ouro, prata ou bronze, dependendo da preferência e do dinheiro dos clientes. O material, segundo o joalheiro, é comprado em Timor-Leste, mas a maioria vem da Indonésia ou de Singapura, porque os recursos no país são escassos.

“Como as pessoas compram em ouro para colocar nas casas sagradas, ele já não está disponível. Por isso, tentamos comprar do estrangeiro. Na maioria das vezes, os clientes são eles que trazem o ouro e nós apenas cobramos pela nossa mão-de-obra”, disse o joalheiro.

Questionado sobre os preços das joias, o artesão explicou que um “belak” de ouro puro pode custar 600 dólares e um “morten” 100 dólares. “Muitos timorenses compram estas joias, mas também muitos portugueses, sobretudo professores”, afirmou.

Joaquim explicou que os portugueses apreciam estas peças porque vêem nelas algo único e tradicional de Timor-Leste. Os timorenses compram-nas para as colocar nas casas sagradas das famílias e que podem ser vistas em todos os municípios do país. Os artigos mais comprados são, sobretudo, os “belak” de ouro.

Sobre o rendimento mensal da produção de joias, Joaquim Surumali disse que pode chegar até aos 500 dólares mensais, mas que depende da quantidade de clientes e das visitas.

4 Ago 2025

Médio Oriente | China lamenta sanções dos EUA a funcionários palestinianos

A administração norte-americana decidiu condicionar ainda mais a concessão de vistos a membros da Organização para a Libertação da Palestina e da Autoridade Nacional Palestina. Pequim critica a decisão e acusa os EUA de não contribuírem para a paz na região

 

A China criticou sexta-feira a decisão de Washington de impor restrições de vistos a membros e funcionários da Organização para a Libertação da Palestina e da Autoridade Nacional Palestina, que Washington acusa de “apoiar o terrorismo”.

“Estamos surpreendidos e desapontados com estas sanções. Não compreendemos que os Estados Unidos continuem a menosprezar os esforços da comunidade internacional pela paz. A questão palestiniana é uma questão em que devem prevalecer a equidade e a justiça”, afirmou o porta-voz dos Negócios Estrangeiros Guo Jiakun, em conferência de imprensa.

Guo acrescentou que os Estados Unidos devem “ser responsáveis e implementar as resoluções das Nações Unidas e envidar esforços para alcançar uma solução adequada para esta questão, em vez de fazer o contrário”.

O porta-voz reiterou que Pequim continuará a trabalhar com a comunidade internacional “para pôr fim ao conflito em Gaza, aliviar a crise humanitária e avançar para a implementação do quadro dos dois Estados”.

O Departamento de Estado dos EUA indicou na quinta-feira num comunicado que “é do interesse da segurança nacional dos EUA impor consequências e responsabilizar a Organização para a Libertação da Palestina e a Autoridade Nacional Palestina por não cumprirem os seus compromissos e minarem as perspectivas de paz”.

“Além disso, (ambas as entidades) continuam a apoiar o terrorismo – incluindo a glorificação da violência, especialmente nos livros escolares – e a conceder pagamentos e benefícios em apoio a actividades terroristas a palestinianos envolvidos em terrorismo e às suas famílias”, lê-se no comunicado.

Pressão alta

O anúncio das sanções surge no meio de uma crescente pressão internacional sobre Israel para melhorar as condições na Faixa de Gaza, que atravessa uma grave crise humanitária e onde, nos últimos dias, as autoridades locais denunciaram um pico de mortes relacionadas com a fome.

França, Reino Unido e Canadá, entre outros países, expressaram a sua decisão de reconhecer um Estado palestino perante a ONU em resposta à situação, anúncios que foram recebidos com fortes críticas do governo israelita, que considera essa medida um “apoio ao Hamas”.

O presidente norte-americano, Donald Trump, defendeu na quinta-feira que a maneira “mais rápida” de pôr fim à crise em Gaza é a rendição do grupo islamista palestino e a devolução dos reféns israelitas que mantém em seu poder.

4 Ago 2025

Melco apresenta lucros de 17,2 milhões no segundo trimestre

A operadora de jogo em Macau Melco anunciou lucros líquidos no segundo trimestre de 17,2 milhões de dólares, menos 24,4 por cento do que em igual período em 2024.

Em termos globais, a Melco Resorts & Entertainment registou um aumento de 14,5 por cento nas receitas operacionais totais em relação ao trimestre homólogo de 2024, para 1,33 mil milhões de dólares, e um aumento de 16,2 por cento nas receitas de jogos, atingindo 1,1 mil milhões de dólares entre 1 de Abril e 30 de Junho de 2025, impulsionado pelo forte desempenho dos casinos e resorts em Macau.

O lucro operacional no segundo trimestre de 2025 foi de 124,7 milhões de dólares, resultado que supera os 123,7 milhões de dólares no segundo trimestre de 2024. O EBITDA ajustado foi de 377,7 milhões de dólares no segundo trimestre de 2025, em comparação com 302,8 milhões de dólares no segundo trimestre de 2024.

Lawrence Ho, presidente e director executivo da Melco, citado no comunicado da operadora, sublinhou que “o EBITDA da Macau Property cresceu 35 por cento em relação ao ano anterior e 13 por cento em relação ao trimestre anterior”.

Destacadas maiores receitas

Por outro lado, acrescentou o executivo, “os volumes e receitas dos jogos aumentaram, com o City of Dreams Macau e o Studio City a estabelecerem novos recordes em receitas de jogos de mesa no mercado de massa”.

Este desempenho, sublinhou ainda Lawrence Ho, foi apoiado por aumentos na eficiência de custos, levando a margens mais fortes. “Estamos confiantes de que as iniciativas estratégicas que implementámos nos proporcionaram uma base sólida para um crescimento contínuo”, afirmou.

4 Ago 2025

Jogo | Receitas atingem em Julho o valor mais alto desde pandemia

Após o início do ano em que as receitas desiludiram e obrigaram à revisão do orçamento, o cenário parece estar agora a mudar. As receitas de Julho atingiram 22,125 mil milhões de patacas, o valor mais elevado desde o início da pandemia

 

As receitas do jogo registaram em Julho um aumento anual de 19 por cento e mensal de 5 por cento, alcançando o valor mais elevado do ano e também desde Janeiro de 2020, de acordo com os dados anunciados na sexta-feira.

Os casinos arrecadaram 22,125 mil milhões de patacas em Julho, contra 18,595 mil milhões de patacas no mesmo mês de 2024, de acordo com dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Em Junho deste ano, os casinos tinham registado receitas de 21,064 mil milhões de patacas, sendo que Maio era até agora o mês com o valor mais elevado de 2025: 21,193 mil milhões de patacas.

Julho apresenta-se ainda como o melhor mês desde Janeiro de 2020, quando as receitas dos casinos alcançaram um valor muito próximo: 22,126 mil milhões de patacas. Desde final de Janeiro de 2020, a pandemia da covid-19 teve um impacto sem precedentes no jogo, motor da economia de Macau, com os impostos sobre as receitas desta indústria a financiarem a esmagadora maioria do orçamento governamental.

Em termos de receita bruta acumulada, os primeiros sete meses deste ano registaram um aumento de 6,5 por cento em relação ao ano anterior, com um total de 140,896 mil milhões de patacas contra 132,348 mil milhões de patacas entre Janeiro e Julho de 2024.

Macau fechou o ano passado com receitas totais de 226,782 mil milhões de patacas, mais 23,9 por cento do que no ano anterior.

Revisão orçamental

O Governo previu, no orçamento inicial para 2025, que o ano iria fechar com receitas totais de 240 mil milhões de patacas, o que representaria um aumento de 6 por cento em comparação com o ano passado.

Mas, em 11 de Junho, a Assembleia Legislativa aprovou um novo orçamento, proposto pelo Executivo, que reduz em 4,56 mil milhões de patacas a previsão para as receitas públicas. O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, admitiu aos deputados que o corte se deve ao facto de as receitas brutas do jogo no primeiro trimestre de 2025 terem “ficado ligeiramente abaixo do previsto”.

Desde Maio deste ano que as receitas mensais nunca ficaram abaixo de 20 mil milhões e patacas, uma séria de três meses consecutivos. No entanto, até Abril, inclusive na altura do Ano Novo Lunar, um dos picos altos da indústria, as receitas nunca tinham atingido 20 mil milhões de patacas.

4 Ago 2025

Chikungunya | Registados os dois primeiros casos locais

Os Serviços de Saúde (SS) anunciaram no Sábado os primeiros dois casos locais de febre de Chikungunya. Os dois casos estão ligados à Zona A dos Novos Aterros, anteriormente associada como uma zona de contágio, pelas autoridades do Interior.

O primeiro caso local de febre de Chikungunya diz respeito a um residente local, do sexo masculino, com 34 anos que vive na Areia Preta e trabalha num estaleiro da Zona A. O homem começou a apresentar sintomas a 27 de Junho, com a garganta inflamada, embora não tivesse febre nem dores nas articulações. O primeiro teste foi negativo.

Os sintomas pioram nos dias seguintes, o que fez com que se tivesse deslocado no dia 1 de Agosto ao Centro Hospitalar Conde São Januário. Neste dia, o diagnóstico foi positivo. Durante o período anterior ao contágio, o homem não saiu de Macau.

O segundo caso, envolve uma residente com 34 anos que trabalha nos estaleiros da Zona A dos Novos Aterros. De acordo com os SS, a mulher começou a desenvolver sintomas a 30 de Julho, inicialmente com as pernas a ficarem vermelhas. No entanto, os sintomas alastraram-se à cara, ao mesmo tempo que começou a desenvolver febre. Por isso, no dia 1 de Agosto, a mulher foi ao Hospital Kiang Wu. O diagnóstico foi feito no dia seguinte, pelo Laboratório Público de Saúde.

A paciente encontra-se numa situação estável, longe de perigo, e a receber tratamento no Centro Hospitalar Conde São Januário.

A mulher esteve no Japão entre os dias 13 e 21 de Julho, mas afirmou não ter sido picada por mosquitos. A partir dessa data esteve sempre a trabalhar na Zona A dos Novos Aterros, até durante os dias de fim-de-semana. Além destes dois casos locais, registaram-se outros seis casos importados de febre de Chikungunya.

4 Ago 2025

Imigração | Menos portugueses a chegar. Peso acima de 6%

O mais recente relatório sobre a emigração portuguesa indica que em 2023 vieram viver para Macau 53 cidadãos portugueses, fazendo com que este seja o destino com menos imigração portuguesa

 

Macau foi o destino para onde os portugueses menos emigraram em 2023, de acordo com o mais recente relatório elaborado pelo Observatório da Emigração e Rede Migra, Centro de Investigação e Estudos de Sociologia e pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Os dados do estudo foram divulgados pela Lusa na sexta-feira.

Segundo a mesma fonte, em 2023 passaram a viver em Macau mais 53 cidadãos portugueses. Este é um registo que equivale a praticamente metade dos portugueses que começaram a viver na Austrália, o segundo destino com menor emigração de Portugal em 2023, que registou 91 entradas.

Em 2022, o número de novas entradas em Macau vindas de Portugal, de acordo com o relatório anterior, era de 20, o que significa que o número subiu para mais do dobro. O relatório não aponta o número de imigrantes portugueses que deixaram a RAEM.

Apesar das alterações, o relatório indica que a imigração portuguesa em Macau continua a assumir alguma expressão: “Embora a imigração portuguesa tenha perdido relativa importância ao longo dos anos, o impacto desses fluxos nos países de destino continua a ser expressivo. No Luxemburgo, por exemplo, os portugueses representaram cerca de 13,5 por cento do total de entradas de imigrantes, enquanto em Macau o número foi de 6 por cento e na Suíça 5,2 por cento”, é apontado pelos autores.

Saídas estabilizadas

Em relação à tendência geral da imigração, o estudo aponta que em 2023 deixaram o país cerca de 70 mil portugueses, um número que se manteve estável relativamente ao passado recente. O principal destino foi a Suíça.

“Estima-se que terão saído 70.000 portugueses em 2023, o mesmo número de 2022, continuando assim a recuperação da emigração portuguesa para valores próximos dos anos anteriores à pandemia do covid-19”, lê-se no relatório da Emigração Portuguesa 2024, com dados referentes ao ano anterior.

Segundo o documento, apenas não se verificou uma recuperação total uma vez que a emigração para o Reino Unido caiu mais de 40 por cento, mantendo a trajectória descendente iniciada com o ‘Brexit’ e para França desceu 25 por cento.

Ainda assim, a emigração portuguesa é superior aos níveis pré-covid na maioria dos seus principais destinos. Em 2023, a Suíça voltou a ser o principal país de destino para os portugueses, contabilizando-se 12.652 entradas, seguida por Espanha, com 11.554.

Destacam-se ainda países como França (7.426), Alemanha (6.375), Holanda – agora Países Baixos (4.892), Reino Unido (4.414), Bélgica (3.857) e Luxemburgo (3.638). Seguem-se a Dinamarca (1.818), Moçambique (1.439) e Canadá (1.005).

Com menos de 1.000 entradas aparecem destinos como EUA (890), Áustria (778), Noruega (709), Itália (702), Suécia (688), Brasil (547), Venezuela (532), Irlanda (426) e Angola (381). No fundo da tabela estão a Austrália (91) e Macau (53). Lusa / JSF

4 Ago 2025

Caso Au Kam San | MNE critica “comentários ilusórios” da UE

O Ministério dos Negócios Estrangeiros manifestou “forte descontentamento” face à reacção da União Europeia, após a detenção de ex-deputado Au Kam San. Horas depois, o Governo de Macau também repudiou “veemente” o comunicado vindo da Europa

 

O Comissariado para os Assuntos de Macau do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China repudiou “os comentários ilusórios” de Bruxelas, que condenou a detenção do ex-deputado de Macau e cidadão português Au Kam San, manifestando preocupação com a erosão das liberdades na região.

Num comunicado enviado à Lusa, no sábado, o porta-voz do Comissariado para os Assuntos de Macau do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, liderado por Liu Xianfa, manifestou “descontentamento” e “firme oposição aos comentários ilusórios do Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE) da União Europeia (UE) sobre a aplicação da lei relativa à segurança nacional da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM)”, classificando-os como uma “interferência grosseira nos assuntos de Macau e nos assuntos internos da China”.

“Exortamos a União Europeia a deixar imediatamente de fazer observações e acusações infundadas sobre os assuntos de Macau e a deixar imediatamente de interferir nos assuntos de Macau e nos assuntos internos da China!”, afirma o gabinete de Liu Xianfa.

O principal representante diplomático de Pequim em Macau sublinhou ainda apoiar “firmemente o Governo da RAE de Macau no desempenho das suas funções em conformidade com a lei”, assim como “a polícia de Macau na tomada de medidas de aplicação da lei contra os rebeldes anti-China contra Macau, em conformidade com a lei”.

Macau defende-se

Também o Governo de Macau repudiou “de forma veemente” as afirmações da União Europeia sobre o “procedimento criminal e as acções de execução preventiva”. “O Governo da Região Administrativa Especial de Macau [RAEM] repudia de forma veemente e opõe-se firmemente às afirmações proferidas [no sábado] pelo Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE) [da União Europeia (UE)] sobre o procedimento criminal e as acções de execução preventiva previstas da lei recentemente desencadeados pela RAEM nos termos da Lei relativa à defesa da segurança do Estado”, foi escrito em comunicado, emitido horas da mensagem do Gabinete de Ligação.

O Executivo de Sam Hou Fai destacou que vai ser tudo feito de acordo com a lei: “as autoridades policiais e judiciárias da RAEM trataram sempre o caso escrupulosamente nos termos da lei, e o direito processual do arguido é efectivamente garantido nos termos da lei”, foi apontado. “Os direitos fundamentais dos residentes da RAEM, incluindo o direito de sufrágio e a liberdade de expressão, estão plenamente salvaguardados pela Lei Básica da RAEM e demais legislação relevante, pelas convenções de Direitos Humanos aplicáveis na RAEM, e pela prática das autoridades administrativas, legislativas e judiciárias da RAEM”, foi acrescentado.

Macau recusou ainda a “interferência externa” nos seus assuntos pela União Europeia: “a aplicação da lei relativa à defesa da segurança do Estado pela RAEM é estritamente assunto interno da China e da sua região administrativa especial”, pelo que, “quaisquer organismos estrangeiros ou do exterior, incluindo a União Europeia, não têm direito de interferência”. “A Região Administrativa Especial de Macau continuará, como sempre, a cumprir as atribuições da defesa da segurança do Estado nos termos da lei, em prol da aplicação bem-sucedida duradoura e estável do princípio ‘um país, dois sistemas'”, concluiu o comunicado.

UE condenou

As reacções das autoridades locais surgiram depois da União Europeia condenar a detenção do ex-deputado, que surge identificado como cidadão da UE, pelo facto de ter nacionalidade portuguesa.

“A UE [União Europeia] condena a detenção de Au Kam San, cidadão da UE e antigo deputado de Macau, no dia 30 de Julho, sob acusações de [violar a Lei de] Segurança Nacional”, avançou um porta-voz do Serviço Diplomático de Bruxelas, em comunicado.

A mensagem sublinhou que esta “constitui a primeira aplicação da Lei de Segurança Nacional da Região Administrativa Especial de Macau desde a sua adopção em 2009”, e o Serviço Europeu para a Acção Externa afirmou que o acontecimento “agrava as preocupações existentes sobre a contínua erosão do pluralismo político e da liberdade de expressão” na região.

Bruxelas “recorda que o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais é um elemento central da Lei Básica de Macau e da máxima ‘um país, dois sistemas’”, acrescentou-se no comunicado.

Portugal a acompanhar

Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal declarou à Lusa estar a acompanhar a detenção do ex-deputado de Macau e cidadão português Au Kam San. O MNE “está a acompanhar este assunto, através do Consulado-Geral de Portugal em Macau”, disse à Lusa fonte oficial do ministério liderado por Paulo Rangel.

“O assunto merecerá a melhor atenção das autoridades portuguesas, desde logo em futuros encontros a nível político, no espírito da Declaração Conjunta”, continuou, em referência ao tratado sino-português assinado em 1987, onde os dois países declararam os termos em que Pequim assumiria a administração de Macau após 1999.

As reacções em Portugal não se ficaram por aqui. No parlamento o Partido Iniciativa Liberal vai apresentar um voto de condenação da detenção. De acordo com o projecto de voto ao qual a Lusa teve acesso, a detenção “é a primeira ao abrigo da legislação de segurança nacional de Macau, aprovada em 2009 e revista em 2023, e ocorre num contexto de acelerada repressão das liberdades fundamentais na Região Administrativa Especial de Macau”.

O documento redigido pela IL afirma que o Estado português tem o “dever de acompanhar com rigor” o caso e posteriormente garantir o respeito pelos compromissos assumidos na Declaração Conjunta Luso-Chinesa de 1987, documento vinculativo ao abrigo do direito internacional.

Em prisão preventiva

Na quinta-feira ao final do dia, o Ministério Público confirmou que Au vai aguardar o julgamento em prisão preventiva, considerando que há “fortes indícios da prática do crime de estabelecimento de ligações com organizações, associações ou indivíduos de fora da RAEM para a prática de actos contra a segurança do Estado”. O crime implica uma pena que pode chegar aos 10 anos de prisão e obriga sempre à aplicação da prisão preventiva como medidas de coacção.

4 Ago 2025

Sim, a China contribuiu de forma decisiva para a vitória de 1945

Por Bruno Guigue

Em 3 de Setembro de 2025, a República Popular da China celebrará o 80º aniversário da vitória da guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa. Vitória conquistada nas mas duras condições contra um adversário dotado de enorme superioridade em armamento, e no mais prolongado combate de toda a II Guerra Mundial: desde o início da agressão japonesa em Julho de 1937 até os meses finais de 1945. A historiografia “oficial” ocidental, desde sempre empenhada em reescrever a história dessa guerra – cujas principais vitórias não lhe pertencem – é particularmente omissa em relação a esses 8 anos de heroica resistência. Mas o povo chinês e toda a memória progressista do mundo a celebram.

É um facto: há décadas que a doutrina ocidental lança uma cortina de fumo sobre a realidade de um conflito cujo desenrolar efectivo pouco tem em comum com o relato acreditado nas «democracias».

Se é verdade que a narrativa histórica é frequentemente tributária dos preconceitos daqueles que a fazem, a forma como se relata a Segunda Guerra Mundial não escapa à regra. A historiografia ocidental caracteriza-se, de facto, por uma cronologia contestável dos acontecimentos, uma contagem muito parcial das vítimas e uma avaliação parcial da contribuição das nações combatentes para a vitória final sobre as potências do Eixo. Naturalmente, esta observação aplica-se à corrente dominante da investigação histórica e não aos esforços dos investigadores, menos numerosos é verdade, que revelaram precisamente as suas lacunas. Mas é um facto: a doxa ocidental lançou, durante décadas, uma cortina de fumo sobre a realidade de um conflito cujo desenrolar efectivo tem pouco em comum com o relato acreditado nas «democracias».

A Segunda Guerra Mundial começou na China

Começando, como se pode imaginar, por esse erro monumental que consiste em datar o início do segundo conflito mundial em Setembro de 1939, quando ele já assolava o coração da China desde Julho de 1937 e, se prestarmos atenção aos últimos trabalhos da historiografia chinesa e japonesa, desde Setembro de 1931 nas províncias do nordeste da China. Nessa data, teve início uma invasão maciça do território chinês pelas forças japonesas, o que provocou um confronto quase ininterrupto entre os dois países até 1945. E embora o governo de Chiang Kai-shek tenha negociado uma trégua em 1932, os combates nunca cessaram realmente durante catorze anos (1931-1945) entre as tropas de ocupação japonesas e as forças chinesas, fossem elas os exércitos governamentais ou a resistência comunista.

A este argumento, poder-se-ia responder que a narrativa corrente no Ocidente se concentra principalmente nos acontecimentos que o afectaram, que se trata, no máximo, de um erro de perspectiva compreensível, e não de uma ocultação deliberada do papel de outras regiões do mundo neste confronto planetário. Porque não? Mas, nesse caso, que legitimidade tem tal narrativa histórica quando pretende dar conta da «Segunda Guerra Mundial»? Ou a narrativa visa relatar o curso dos acontecimentos no Ocidente, e a sua focalização nessa área geográfica é legítima. Ou pretende contar a história de uma verdadeira guerra mundial, e essa focalização já não o é.

O facto histórico, dizia Paul Veyne, não existe como tal, «é um cruzamento de itinerários». Ele não estava errado, mas ainda assim é preciso evitar seguir o caminho errado na escolha dos itinerários e, neste caso, tomar o Ocidente como o mundo inteiro. A este respeito, o relato russo-soviético do conflito tem o mérito da coerência, uma vez que faz coincidir logicamente os factos mencionados e a sua denominação: ao seguir uma cronologia válida para a URSS, a «Grande Guerra Patriótica» de 1941-1945 designa bem a experiência histórica vivida pelo povo soviético e não pretende fornecer uma explicação exaustiva dos acontecimentos planetários durante o período em questão.

O esquecimento das vítimas chinesas

Se a primeira distorção do discurso dominante diz respeito à datação do seu verdadeiro início, a segunda diz respeito, evidentemente, ao balanço humano do conflito mundial. Desde o fim da guerra, são raras as obras ocidentais que indicam com um mínimo de exactidão histórica as perdas humanas sofridas pela China. A profusão de detalhes sobre o balanço europeu contrasta geralmente com a sua minimização e imprecisão quando se trata da Ásia. Pior ainda, algumas instituições nem sequer mencionam a existência das vítimas chinesas. No site francês do muito oficial «Mémorial de l’Armistice», ficamos a saber, por exemplo, que «a URSS teve 21 400 000 mortos, a Alemanha 7 060 000, a Polónia 5 820 000, o Japão 2 000 000 e a França 541 000. Quanto ao balanço total, ele está entre 50 e 60 milhões de mortos, ou seja, 22 milhões de militares e 31 milhões de civis”.

Se o Japão não é esquecido, a China nem sequer figura na lista dos países beligerantes, apesar da enormidade das perdas chinesas causadas pela guerra! Por mais escandalosa que seja, tal ocultação contamina o ensino da história nas nossas escolas: raramente mencionado, o desenrolar dos combates na China é relegado para as margens da história militar em benefício do teatro de operações europeu e da «guerra do Pacífico». Esta última expressão foi imposta por Washington, de forma a reduzir a guerra nesta parte do mundo a um duelo entre duas potências aeronavais pelo controlo das ilhas do Pacífico, ignorando convenientemente o teatro de operações chinês e os seus vastos confrontos terrestres.

Os factores de uma ocultação

Afectada por miopia histórica, a narrativa ocidental dominante geralmente omite dizer que a China imobilizou no seu solo a maior parte das forças terrestres japonesas durante catorze anos, que sua resistência impediu Tóquio de lançar um perigoso ataque de flanco contra a URSS, que as forças americanas enfrentaram de 1941 a 1945 apenas uma pequena parte das tropas terrestres japonesas, que 70% das perdas militares do império nipónico foram infligidas na frente chinesa, que 100 milhões de chineses foram deslocados e que 20 milhões deles perderam a vida por causa da guerra devastadora travada pelo invasor: tudo factos ignorados por uma narrativa ocidental que, no mínimo, pode-se dizer que toma liberdades com a verdade histórica.

Sendo esses factos agora claramente estabelecidos e conhecidos por um vasto público, pelo menos fora dos círculos ocidentais, resta a questão de saber por que razão a sua ocultação resistiu tão bem ao progresso do conhecimento objectivo dos acontecimentos: por outras palavras, quais são os factores, políticos ou ideológicos, que explicam a minimização persistente, até aos dias de hoje, do papel da China durante a Segunda Guerra Mundial?

A primeira resposta a esta questão é óbvia: influenciada por uma visão ocidentalocêntrica do conflito, a historiografia dominante relega espontaneamente a Ásia Oriental ao estatuto de teatro de operações secundário. A distância geográfica, no entanto, não é a única causa. A minimização do papel de certas populações, na narrativa dominante, também se inspira no preconceito colonial que lhes nega qualquer capacidade de acção autónoma. Incapazes de fazer a sua própria história, como é que esses povos passivos teriam contribuído para a vitória sobre as potências do Eixo? Há mais. No início do conflito, e pela mesma razão, a China foi frequentemente desvalorizada em relação ao Japão, como se o mundo ocidental lamentasse inconscientemente ter lutado com um contra o outro.

«Este Japão desperto, ardente, guerreiro, vencedor, fomos nós, ocidentais, que o criámos. Sob o impulso do genial imperador Mutsuhito, ele lança-se na era industrial. Arsenal, oficinas, fábricas, ele cria tudo ao mesmo tempo. E quando, finalmente, possui essa força, percebe que é obrigado a usá-la: pois, mais uma vez graças à Europa, que lhe trouxe a sua ciência da medicina e da higiene, as crianças japonesas já não morrem: de 1870 a 1930, a população triplicou e o Japão está, literalmente, a sufocar nas suas ilhas. Se não quiser perecer, tem de sair delas».

Uma linha essencialista com traços coloniais

É assim que se expressa, em agosto de 1937, a prestigiada Revue des Deux Mondes. O expansionismo japonês aparece aqui como um rebento turbulento da modernidade ocidental, cujas ambições são legitimadas pelo avanço tecnológico e pelo dinamismo demográfico. O tom é admirativo, e nenhuma consideração moral ou jurídica mancha a absolvição por assimilação de que Tóquio beneficia. Para os especialistas europeus imbuídos de racialismo e eugenismo, é verdade que a hierarquia das raças coloca os japoneses acima dos chineses, e as ambições territoriais japonesas parecem ditadas por uma obscura lei natural que presidiria ao destino das nações.

Observamos também, na mesma linha essencialista, que circulava nos círculos intelectuais ocidentais da década de 1930 o lugar-comum de que a língua chinesa ignorava a palavra «pátria», enquanto a língua japonesa desconhecia a palavra «paz». Se os japoneses querem subjugar a China, é em virtude de uma predestinação meio biológica, meio cultural: os primeiros seriam guerreiros destinados a dominar os seus vizinhos, enquanto os chineses formariam uma massa amorfa à espera de um senhor que os ocidentais pretensiosos cometeram o erro de acreditar que seria necessariamente o homem branco.

Modernizado a todo o custo, rivalizando com os europeus no campo do expansionismo, o Japão pré-guerra desperta assim sentimentos ambivalentes nos ocidentais. Réplica oriental da supremacia europeia, a sua suposta brutalidade goza de circunstâncias atenuantes. Demasiado ativo para ser pacífico, demasiado avançado para permanecer de braços cruzados, o seu espírito de conquista recebe a absolvição dos realistas, que lhe perdoam tanto mais facilmente a sua agressividade contra a China, quanto esta é considerada decadente e caótica. O facto de a língua chinesa ignorar a palavra «pátria» não é prova da sua inferioridade intrínseca? E se ela é fraca, não é tanto por covardia quanto por impotência?

A doxa antitotalitária

Se o peso dessas representações imaginárias contribui para a frequente ocultação do papel positivo da China, isso também tem origem no reflexo anticomunista que, desde o início da Guerra Fria em 1947, contamina retrospectivamente o relato ocidental da Segunda Guerra Mundial. O mito dos «gémeos totalitários», inventado por Leon Trotsky em 1939, foi rapidamente erigido pela doxa como um artigo de fé que, a partir de 1950, beneficiou da aprovação filosófica de Hannah Arendt. Exilada nos Estados Unidos, a fervorosa discípula do nazi Heidegger fez dele o modelo explicativo de toda a história do século XX, que seria caracterizada pela luta implacável entre os «regimes totalitários» e as «democracias liberais».

É essa narrativa que figura hoje, em França, nos manuais de história. A minimização da contribuição soviéto-chinesa para a derrota do nazismo é a consequência lógica disso, com especialistas em programas de televisão chegando a sugerir que as tropas americanas libertaram os campos de extermínio, enquanto as empresas industriais do outro lado do Atlântico se beneficiavam cinicamente de sua mão de obra cativa. Quanto à China, ela passou para o lado das forças malignas quando se tornou comunista em 1949, e o seu papel na luta antifascista foi rapidamente esquecido no Ocidente. Não foi preciso mais do que isso para reforçar o anticomunismo mais retorcido e, consequentemente, para credibilizar a vulgata da «guerra justa» travada pelas «democracias».

A primeira agressão fascista

No entanto, foi a China que sofreu a primeira agressão fascista do século XX. Antes da invasão da Etiópia pela Itália de Mussolini (1935) e da intervenção ítalo-alemã para apoiar Franco na Espanha (1936), o Japão invadiu as três províncias orientais da China em Setembro de 1931, aproveitando-se do «incidente (fabricado) de Moukden». E se esta agressão pode ser qualificada como «fascista», é devido ao carácter abertamente racista e belicista da política japonesa, mesmo antes da assinatura do muito fascista «pacto anti-komimtern» de 1936 entre Berlim, Roma e Tóquio.

Para aqueles que ficam perplexos com essa qualificação, lembremos que o Japão do final da década de 1930 reunia as principais características de um fascismo análogo ao dos seus homólogos europeus: uma mística da raça superior, uma devoção absoluta ao Imperador como encarnação divina da nação, uma militarização integral da sociedade e uma compulsão irresistível pela expansão territorial, sendo a guerra de conquista sacralizada a ponto de justificar antecipadamente as piores brutalidades contra populações civis desumanizadas.

Além da submissão da China, as ambições expansionistas do Império japonês incluíam o domínio de toda a Ásia e do Pacífico. Mas foi o povo chinês o primeiro no mundo a resistir à barbárie fascista. Com a invasão das forças japonesas em todo o território chinês, a partir de 1937, a resistência chinesa deu origem ao primeiro campo de batalha da Segunda Guerra Mundial. E de Julho de 1937 ao ataque a Pearl Harbor em Dezembro de 1941, durante quatro anos, a China só pôde contar consigo mesma para enfrentar o invasor.

Uma luta ainda mais difícil, pois o Japão, potência industrial, podia fabricar armamento pesado, do qual as tropas chinesas geralmente careciam: porta-aviões, navios de guerra, aviões, tanques, artilharia. Os oficiais superiores japoneses que invadiram a China afirmavam com arrogância que três meses, no máximo, seriam suficientes para resolver o «incidente chinês», e tentaram conquistar a China mobilizando meios colossais: 600 000 homens em 1937, aumentando para mais de um milhão em 1939, com a maior parte do orçamento militar japonês sendo dedicado à ocupação do continente e aos combates incessantes com as tropas chinesas.

Batalhas frontais e guerrilha

Apesar dos seus esforços, o Japão não conseguiu vencer a resistência do povo chinês. Este reuniu as suas forças para formar uma barreira contra o invasor, seja nas batalhas frontais de Taiyuan, Songhu, Xuzhou, Nanjing, Wuhan, lideradas pelo Guomindang, ou nas lideradas pelo Partido Comunista Chinês atrás das linhas inimigas, como a «Batalha de Pingxingguan», a «Ofensiva dos Cem Regimentos», ou ainda os combates travados pelo Exército Unido Antijaponês do Nordeste no coração da Manchúria, sem contar as inúmeras acções da guerrilha comunista para estabelecer bases anti-japonesas e abrir brechas na rectaguarda.

Exigindo a formação de uma «Frente Unida» com os nacionalistas, o Partido Comunista fez da luta pela libertação nacional uma prioridade absoluta. Para cumprir essa tarefa histórica, Mao compreendeu que era necessário «aproveitar o carácter revolucionário da guerra de resistência para transformá-la numa guerra do povo». Porque a guerra de movimento está prestes a ser vencida pelo Japão, explicou ele, e durante esta primeira fase, é o exército nacionalista que desempenha o papel principal. Mas quando passarmos para a segunda fase, por outro lado, será a guerra de guerrilha que assumirá o comando.

Ao atacar os flancos do inimigo, ensinava Mao, o Exército Vermelho esgotaria o inimigo. Aproveitaria o alongamento das suas linhas de comunicação para o hostilizar. Dar-lhe-ia o golpe de misericórdia, quando chegasse o momento, lançando todas as suas forças na batalha. Esta guerrilha anti-japonesa seria determinante para o desfecho do conflito. Porque a China é «um grande país fraco atacado por um pequeno país poderoso», e a guerra de guerrilha terá uma função não só táctica, mas estratégica: o invasor «acabará por ser engolido pelo imenso mar chinês» (1).

O papel decisivo da resistência chinesa

«O Japão pensava que a conquista da China resolveria os seus problemas económicos, proporcionando-lhe matérias-primas e mercados promissores», observa o historiador Olivier Wieworka. «Esperava também que a sua cruzada erradicasse a influência e o modo de pensar ocidentais no país de Confúcio. Desiludiu-se. No norte da China, a guerrilha maoísta impedia-o de explorar as zonas rurais, atacava comboios e sabotava camiões. (..) Assim, o Eldorado sonhado transformou-se num pesadelo. Um pesadelo caro. Na véspera de Pearl Harbor, o império tinha perdido mais de 180 000 mortos e 323 000 feridos na aventura. Estas constatações amargas levaram então os dirigentes japoneses a voltar o olhar para o sul» (2).

Contribuindo para selar o destino do conflito mundial, a resistência obstinada do povo chinês teve duas consequências importantes.

Em primeiro lugar, contribuiu para frustrar o plano japonês de agressão contra a URSS, mobilizando a maior parte das forças nipônicas na frente chinesa, o que permitiu a Staline concentrar as suas tropas para a defesa de Moscovo em Dezembro de 1941. Já abalado pela derrota frente a Zhukov na Mongólia em Dezembro de 1939, o estado-maior japonês passou a privilegiar a ofensiva para o sul (o sudeste asiático e as colónias europeias) em detrimento da ofensiva antissoviética em direcção ao norte. E, em Agosto de 1945, foi o exército soviético, passando à ofensiva, que deu o golpe final nas tropas japonesas estacionadas no norte da China.

Em segundo lugar, a resistência chinesa teve como efeito influenciar a política dos EUA, reforçando a convicção de Roosevelt de que a guerra poderia ser vencida graças à «magnífica luta defensiva da China, que, tenho motivos para o acreditar, ganhará força» (27 de Maio de 1941). Por isso, enviou o general Stilwell para ocupar o cargo de chefe do Estado-Maior junto a Chiang Kai-chek. A ajuda dos EUA permitiu aproveitar o imenso território da China para manter o Japão em xeque e imobilizar as suas forças terrestres, que faltariam cruelmente ao Estado-Maior japonês diante das forças americanas nas ilhas do Pacífico.

Em Fevereiro de 1942, o presidente dos EUA elogiou a resistência chinesa num telegrama enviado a Chiang Kai-chek: «A sua resistência heróica ao cruel agressor valeu ao exército chinês os mais dignos elogios do povo americano e de todos os outros povos amantes da liberdade. O povo chinês, armado e desarmado, que há quase cinco anos oferece uma resistência feroz a um inimigo muito melhor equipado, bem como o espírito indomável que demonstra diante de tal contraste, são uma fonte de inspiração para todos os combatentes e povos das outras nações unidas na resistência» (3).

Orgulho nacional e garantia de unidade

A contribuição chinesa para a luta antifascista também explica a assinatura da China ao lado dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da União Soviética quando essas nações publicaram a Declaração das Nações Unidas na Casa Branca, em 1 de Janeiro de 1942. Juntando-se a outros 22 países no dia seguinte, esse compromisso marcou o estabelecimento oficial de uma aliança mundial contra o fascismo e a criação de uma estrutura diplomática chamada “Quatro Grandes”, selando essa grande coalizão contra as potências fascistas defendida incansavelmente, desde 1937, pelo governo chinês. E foi essa contribuição decisiva da China para a luta comum que também provocou a abolição dos tratados desiguais herdados do século anterior.

É por isso que Xi Jinping declarou no 70º aniversário da vitória de 1945: “A vitória da guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa foi um triunfo para toda a nação chinesa. Não só frustrou a tentativa do militarismo japonês de colonizar e escravizar a China, como também aboliu os tratados desiguais assinados com as potências imperialistas desde os tempos modernos, permitindo à China lavar um século de humilhação nacional (..) A vitória lançou bases sólidas para a independência e a libertação da China, estabeleceu um ponto de viragem histórico para o grande renascimento da nação chinesa e proporcionou a condição prévia essencial para a sua realização».

Em 3 de Setembro de 2025, os chineses celebrarão o 80º aniversário dessa vitória conquistada com muito esforço, organizando um impressionante desfile militar no coração da capital, Pequim. Para eles, essa vitória é, de facto, uma fonte legítima de orgulho nacional e uma garantia insubstituível de unidade nacional. A China reconhece que os nacionalistas e os comunistas chineses tiveram um papel importante na luta pela libertação contra o invasor japonês, quer se trate dos exércitos do governo de Nanjing, depois de Chongqiing, ou das forças guerrilheiras que combateram com sucesso as tropas japonesas. Celebrada por todo o povo chinês, essa unidade na luta vitoriosa contra o invasor tem um valor exemplar e constitui um antídoto sério contra todos os fermentos de divisão.

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(1) Mao Zedong, “Problemas estratégicos da guerra dos guerrilheiros contra o Japão”, Maio de 1938.

(2) Olivier Wieworka, História global da Segunda Guerra Mundial, Perrin, 2023, p. 241.

(3) Gu Yunshen, A Segunda Guerra Mundial e a China, Conferências chinesas da Rua d’Ulm, 2022.

Fonte: https://www.legrandsoir.info/oui-la-chine-a-contribue-de-maniere-decisive-a-la-victoire-de-1945.html

1 Ago 2025

ONU | Pedido à Tailândia e Camboja respeito pelo cessar-fogo

As Nações Unidas pediram à Tailândia e o Camboja para respeitarem o cessar-fogo, depois de os dois países do Sudeste Asiático se terem acusado mutuamente de violar o acordo de tréguas.

“Este acordo crucial deve ser totalmente respeitado de boa-fé por ambas as partes, enquanto os diplomatas continuam a abordar as causas do conflito”, afirmou o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, em comunicado.

Banguecoque e Phnom Penh concordaram com uma trégua, que começou na noite de segunda para terça-feira, após cinco dias de troca de tiros na sua fronteira partilhada de 800 km de comprimento devido a uma disputa territorial. No entanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tailândia anunciou que vários soldados tailandeses da província oriental de Sisaket foram atacados “por forças cambojanas” equipadas com “armas de pequeno porte” e granadas. “Isto representa uma flagrante violação do acordo de cessar-fogo”, afirmou o ministério, em comunicado.

O porta-voz do Governo tailandês, Jirayu Huangsab, também relatou confrontos na noite de quarta-feira, afirmando que “o lado tailandês manteve o controlo da situação” e que a situação geral ao longo da fronteira só normalizou às 08h locais (09h em Macau). Por seu lado, um responsável do Ministério da Defesa do Camboja também acusou a Tailândia de violar o cessar-fogo por duas vezes.

1 Ago 2025

Economia | Banco do Japão melhora previsão de crescimento para 2025

O Banco do Japão melhorou ontem as previsões económicas para o ano fiscal de 2025, estimando um crescimento de 0,6 por cento, mais uma décima face à projecção anterior, e manteve a taxa de juro de referência em 0,5 por cento

 

O Banco do Japão (BoJ) antecipa uma desaceleração da economia enquanto se assimila o impacto real da guerra comercial lançada pelos Estados Unidos, mas prevê que o PIB retome uma trajectória de crescimento moderado à medida que a situação estabiliza.

O banco central japonês reviu também em alta, em cinco décimas, para 2,7 por cento, a previsão de subida dos preços no ano fiscal de 2025, que termina em Março de 2026, em linha com o encarecimento registado nos últimos meses, sobretudo dos alimentos, com o arroz como principal exemplo.

A instituição salientou ter tido em conta riscos ainda presentes ao rever as projecções incluídas no relatório trimestral de previsões económicas, divulgado no final da reunião de dois dias sobre política monetária. “Continua a ser muito incerto como evoluirão o comércio e outras políticas em cada jurisdição e como reagirão a actividade económica e os preços”, referiu o BoJ, que considera necessário acompanhar o impacto destes factores nos mercados financeiros e cambiais.

Neste cenário, o banco central manteve inalterada a previsão de crescimento do PIB para 2026 e 2027, em 0,7 e 1 por cento, respectivamente, mas reviu em alta, em uma décima, a estimativa de inflação para esses anos, para 1,8 e 2 por cento.

Preços e salários

O BoJ acompanha de perto a evolução dos preços, que subiram 3,7 por cento em Maio, o sétimo mês consecutivo acima dos 3 por cento, e vê como positiva a tendência generalizada das empresas para aumentar salários, embora estes ainda não acompanhem o ritmo da inflação.

A instituição teme, contudo, que estes esforços sejam comprometidos pela incerteza tarifária e pela possibilidade de o sector empresarial optar por reduzir despesas, numa referência indirecta a políticas proteccionistas como as adoptadas pelos Estados Unidos.

1 Ago 2025

Hebei | Chuvas torrenciais causam oito mortos no norte da China

Oito pessoas morreram e outras 18 continuam desaparecidas na província chinesa de Hebei devido às chuvas torrenciais que caíram esta semana no norte da China, informou a imprensa local.

As mortes ocorreram na vila de Xinlong, na referida província, um dos pontos mais afectados na quarta-feira pelas intensas chuvas e inundações, de acordo com autoridades locais citadas pela agência de notícias oficial Xinhua.

As tempestades causaram grandes desastres em aldeias do município de Liudaohe, de acordo com o departamento local de Emergências, que continua as tarefas de busca e resgate na zona.

As chuvas torrenciais registadas nos últimos dias em nove regiões do país deixaram 30 mortos nos dois distritos montanhosos de Pequim e outros oito por um deslizamento na província norte de Hebei, além de danos materiais consideráveis e dezenas de milhares de pessoas retiradas.

Os ministérios das Finanças e de Gestão de Emergências da China atribuíram 350 milhões de yuan em fundos de ajuda às zonas afectadas, enquanto o Presidente chinês, Xi Jinping, instou a envidar “todos os esforços possíveis para garantir a segurança das vidas e dos bens das pessoas”.

1 Ago 2025

Economia | Actividade industrial cai em Julho pelo quarto mês seguido

A actividade na indústria transformadora da China diminuiu em Julho pelo quarto mês consecutivo, e fê-lo a um ritmo mais acentuado do que nos dois meses anteriores, de acordo com dados oficiais divulgados ontem.

O índice de gestores de compras (PMI, indicador de referência do sector), difundido pelo Gabinete Nacional de Estatística (GNE) chinês, situou-se em Julho em cerca de 49,3 pontos, 0,4 menos do que os 49,7 registados no mês anterior, ficando abaixo das previsões dos analistas. Neste indicador, um valor acima do limiar de 50 pontos representa um crescimento da actividade no sector em comparação com o mês anterior, enquanto um valor abaixo representa uma contracção.

Entre os cinco subíndices que compõem o PMI industrial, os de produção e prazos de entrega foram os únicos que ficaram acima da marca mencionada, enquanto os de novas encomendas – fundamentais para medir a procura -, inventários de matérias-primas e emprego permaneceram na zona de contracção.

Zichun Huang, da consultora britânica Capital Economics, considerou que os indicadores divulgados ontem sugerem que a economia chinesa “perdeu algum impulso em Julho, com um crescimento mais lento nos sectores industrial, de serviços e de construção”.

“Dada a ausência de sinais de estímulo na reunião do Politburo – a cúpula do Partido Comunista Chinês – de quarta-feira, vemos poucas razões para esperar uma recuperação económica durante o segundo semestre do ano”, previu.

Quanto à contracção do PMI industrial, Huang salientou que, apesar de o GNE ter atribuído parte da descida a interrupções na produção por causas meteorológicas, a análise sugere que a procura “também enfraqueceu”.

1 Ago 2025

Demografia | Casamentos sobem 3,2% na China após mínimo histórico

Cerca de 3,54 milhões de casais chineses casaram-se no primeiro semestre de 2025, o que representa um aumento homólogo de 3,2 por cento e sugere uma ligeira recuperação após o mínimo histórico em 2024. Por outro lado, 1,33 milhões de casais divorciaram-se durante o mesmo período

 

De acordo com as estatísticas mais recentes do Ministério de Assuntos Civis da China, 3,54 milhões de casais casaram-se e 1,33 milhão divorciaram-se no país asiático entre Janeiro e Junho deste ano, o que marca uma tímida recuperação em relação aos 3,43 milhões de casamentos registados no mesmo período de 2024.

Especialistas citados pela imprensa local apontam que, se a tendência actual se mantiver, o número total de casamentos em 2025 poderá superar ligeiramente os níveis de 2024, quando atingiu o nível mais baixo desde 1980.

Entre os que se casaram em 2024, de acordo com a mesma fonte, pelo menos 1,63 milhões eram pessoas nascidas a partir do ano 2000. Este número ilustra que, apesar da tendência geral de adiar o casamento, uma parte significativa dos jovens adultos do país continua a optar por formalizar as relações na casa dos vinte anos.

De acordo com o ministério, a faixa etária com mais casamentos em 2024 foi a de 25 a 29 anos, com 4,29 milhões de pessoas, o que representou 35,1 por cento do total. Este é o décimo segundo ano consecutivo em que esta faixa etária concentra a maioria dos casamentos, reflectindo o adiamento progressivo da idade do primeiro casamento que se observa há mais de uma década.

Numa tentativa de reverter a queda nos casamentos e nascimentos, as autoridades chinesas implementaram várias medidas nos últimos meses. Em Maio passado, entraram em vigor novas normas nacionais para o registo de casamentos que eliminam restrições geográficas, permitindo que os casais se casem em qualquer lugar do país sem a necessidade de apresentar o registo de residência, conhecido como “hukou”.

Padrinho oficial

Além disso, 28 províncias ampliaram a duração da licença por casamento, sendo Shanxi (centro) e Gansu (noroeste) as que oferecem o período mais longo, com 30 dias. Algumas localidades, como a cidade de Lüliang em Shanxi, começaram mesmo a oferecer incentivos económicos aos casais recém-casados, com bónus de até 1.500 yuan (182 euros) se a mulher tiver 35 anos ou menos.

No XX Congresso do Partido Comunista Chinês, realizado em 2022, o partido no poder enfatizou que o país precisa de um sistema que “aumente as taxas de natalidade e reduza os custos da gravidez, do parto, da escolarização e da criação dos filhos”.

A China registou um declínio na sua população em 2022, 2023 e 2024, as primeiras contrações desde 1961, quando o número de habitantes diminuiu como consequência da política falhada de industrialização do Grande Salto em Frente e da consequente fome.

1 Ago 2025

Contos tradicionais chineses recontados por Fernanda Dias

O travesseiro prodigioso

O travesseiro do sono
Despojou-o dos dias sobrepostos
Acalmou-lhe a voz dos ossos

A fome da terra
Devorou o seu nome
Como se não tivesse acontecido nada

Yao Jingming, A noite deita-se comigo.

Na estalagem

Corria a Era Kaiyuan. Um sacerdote taoista, conhecido como Mestre Lu, famoso por comunicar com os imortais, ia em peregrinação pela estrada de Handan, capital do Estado de Zhao, quando parou para descansar na Hospedaria dos Caminhantes.
Retirou o chapéu de viajante, desapertou o cinto, sentou-se encostado ao seu bornal, e soltou um profundo suspiro, apreciando o merecido repouso depois da longa jornada. Foi então que reparou num jovem viajante vestido com uma curta túnica de burel, que acabava de desmontar do seu poldro negro, para passar a noite na hospedaria. Vendo que partilharia a esteira com o velho mestre, o moço, que disse chamar-se Liu, saudou-o com cortesia, e, como é hábito entre viajantes, logo trocaram impressões de viagem e partilharam aventuras insólitas, o que os fez rir de bom grado, como velhos amigos.
Por fim o jovem Liu soltou um melancólico suspiro, e, chamando a atenção para a sua farpela coçada e suja, disse: “o que um homem tem de suportar, por viver num mundo hostil!” Ao ouvir este lamento, o velho respondeu com doçura: “tu aparentas excelente saúde, és um rapaz muito bem apessoado, porque te queixas, quando estávamos a passar um bom momento, numa agradável cavaqueira? ”
Então Liu prosseguiu: “ Como não hei-de lamentar a triste vida que levo? Sendo aspirante a letrado, faço tudo para alcançar mérito, para ter um nome e chegar ao menos a general ou a ministro. Poderei então sentar-me a comer numa mesa como a das nobres famílias, bem fornecida de tripés com toda a espécie de manjares, ouvindo música sublime. E sobretudo, enriquecer a família e cobrir de glória o meu clã. Estarei feliz no dia em que alcançar estes propósitos. Tenho sacrificado a juventude devotado aos estudos; dediquei todo o entusiasmo às artes literárias; esperava ao menos ao fim destes anos ter direito à púrpura do mandarinato! Mas aqui estou eu, montado no meu poldro, por essas estradas a caminho dos campos e levadas! Como não sentir desânimo e frustração? ”
Com a voz embargada, calou-se por finalmente, mas os seus olhos estavam marejados de lágrimas que teimavam em ficar retidas nas pestanas. Nisto assomou o estalajadeiro, que anunciou alegremente que tinha acabado de pôr a cozer ao vapor umas saborosas papas de milho-miúdo glutinoso. Em silêncio, Mestre Lu aproveitou a interrupção para esquadrinhar a fundura do seu bornal, de onde retirou um travesseiro de cerâmica, que estendeu a Liu, dizendo: “Pousa a tua cabeça sobre o meu travesseiro, e conhecerás finalmente honra, glória e todos os prazeres que ambicionas. ”
Com ambas as mãos o jovem Liu recebeu o singular travesseiro. Era uma antiga peça de cerâmica de um admirável azul, com aberturas nas duas extremidades. O moço pousou-o na esteira, sem por um momento sequer duvidar das virtudes ocultas de um objecto que pertencia a um virtuoso mestre taoista. Naquela abençoada era, cada pedra, cada nuvem, cada fenómeno astrológico, cada obra de arte criada por mãos de artista, encerrava em si não só um simbolismo determinado, mas presságios aleatórios, inenarráveis prodígios, significados ocultos, avisos de futuras trevas e tribulações, ou grandes feitos e honrarias. Foi pois em confiança total que o jovem letrado se inclinou para o objecto maravilhoso, e logo as duas aberturas se alargaram como portais de templo, mostrando o interior suavemente iluminado. Liu entrou sem entraves, e depois ergueu-se e saiu do portal azul. Estava em casa!

O feliz enlace

Uma donzela de Ribeira-clara, cuja família os pais de Liu conheciam, tinha chegado à idade de casar. Era uma menina de grande formosura, e, por acréscimo, o seu dote vinha aumentar confortavelmente a fortuna do esposo. Casaram, e conheceram a ventura do amor. Feliz e confiante ao lado da sua educada esposa, Liu começou a vestir-se com esmero, e a escolher criteriosamente os meios que frequentava.
No ano seguinte, passou nos exames e recebeu o grau de Jinshi, a mais prestigiosa categoria, que lhe proporcionava o acesso a uma bela carreira de Mandarim; e logo trocou o burel de estudante pela toga de Secretário dos Arquivos Imperiais. Sendo o mais baixo cargo dos dezoito graus para atingir o mandarinato, era no entanto um estádio reservado aos jovens letrados, prometidos a uma bela carreira. Em breve um decreto o destacou para o comando da Guarnição da Sub-Prefeitura de Weinan, que, estando sobre a dependência da prefeitura da capital, deixava antever boas oportunidades de acesso a cargos no Governo Central. O que se confirmou, quando foi transferido para os Censos e nomeado Analista dos Factos e Gestos de Sua Majestade, sendo logo de seguida promovido a Redactor dos Éditos Imperiais. Estava agora a meio do percurso para o topo da carreira.
Três anos mais tarde partia para dirigir a Prefeitura de Tongzhou, próximo da capital, a que se seguiu o cargo de Governador de Shaanzhou, e das cinco respectivas prefeituras na região de Henan. Muito dedicado aos projectos públicos, começou por empreender a construção de um canal a Oeste de Shaanzhou, o que vinha facilitar a navegação em toda a região, melhorando o fluir das embarcações, para comodidade da população e grande benefício dos mercadores. Instados pelo povo, os notáveis fizeram erigir uma estela, imortalizando na pedra o mérito das iniciativas da sua governação. O que talvez tenha contribuído para que Liu fosse de novo transferido, desta vez para Bianzhou, onde assumiu o cargo de Comissário Imperial da Circunscrição de Henan. De tal modo desempenhou as suas atribuições nesse cargo, que se viu enfim nomeado como Prefeito na capital.

A Campanha contra os Bárbaros

Naquele ano o Imperador Xuanzong, fazendo jus ao seu título de Shenwu Huangdi, o Divino Guerreiro, empreendia uma campanha contra os Rong Di, para enfim recuperar os vastos territórios que tinham sido anexados por aqueles bárbaros do Oeste. Simultaneamente, dois chefes tibetanos tinham contra-atacado e ocupado a região entre Guazhou e Shazhou. Na desordem bélica que se instalou entre o Rio Amarelo e Huang, o governador Wang Junhuan foi assassinado. O povo, inquieto, temia acima de tudo a vida sem lei nem ordem. Foi então que o Imperador fez apelo aos méritos de comando de Liu, e às suas capacidades para gerir tempos de crise, nomeando-o Vice-Presidente do Tribunal dos Censores, isto é, chefe operacional desse tribunal, que acumulava com o cargo de Governador Militar da Província a Oeste do Rio Amarelo. Dedicado de corpo e alma a esta nobre tarefa, Liu venceu os invasores, derrotou mil exércitos, e retomou novecentas mil léguas de território. Aí fez construir e equipar três grandes praças-fortes, a fim de assegurar a protecção dessa região estratégica. A população das zonas de fronteira, grata pelo estabelecimento da paz, levantou uma estela em seu louvor no Monte Juyan. De regresso à corte, foi recebido com valiosas recompensas e os seus feitos registados nos Arquivos do Império. Em consequência, foi nomeado Vice-presidente da Função Pública, mas rapidamente alcançou o cargo de Ministro das Finanças e a atribuição do título de Grande Mestre do Recenseamento. Muitos nobres e letrados comentavam a sua fidelidade às boas causas, a sua humildade e a sua conduta desinteressada. O povo das terras que servira com zelo pronunciava o seu nome com gratidão e respeito, comentando a sua cortesia, modéstia e generosidade. E contudo…

A inveja

Onde proliferam as raras flores da competência e do mérito, e surgem os eflúvios das honrarias e recompensas, inevitavelmente, nos recantos sombrios desse ingrato meio, cresce também a erva ruim da inveja.
O Primeiro-ministro vivia envenenado pelo mais sombrio ciúme. Manobrando com falsidade os seus atrozes desígnios, fazia um trabalho de sapa, no intento de conseguir a perda do rival. Não perdia nenhuma ocasião de espalhar rumores e calúnias, que insidiosamente faziam o seu caminho até aos ouvidos da Corte. O Imperador, na dúvida de haver algum laivo de verdade em tanta maledicência, exilou Liu longe da Corte, no cargo de Magistrado em Duanzhou, na região de Cantão, que, à época, era conhecida pelo clima malsão. Porém, três anos mais tarde, tendo arrefecido a sanha da inveja, a Corte reconsiderou; Liu foi convocado e admitido como Conselheiro, o que consistia em estar permanentemente à disposição do Imperador. Esta proximidade trouxe reconhecimento do seu carácter por parte da Corte, e novamente foi promovido para o cargo que tinha sido do seu inimigo, cabendo-lhe regulamentar os trâmites do Alto Secretariado e da Chancelaria. Contando com a leal colaboração de Xiao Song, director do Alto Secretariado, e Pei Guangting, presidente da Chancelaria Imperial, manteve durante uma dezena de anos as linhas da sua orientação política, realizando projectos com discrição e inteligência.
Três vezes ao dia conferenciava com o Imperador, dando contas das suas iniciativas e de mudanças benéficas a implementar, e desse modo ficou conhecido como Sábio Ministro. Contudo, nada é mais resistente do que a erva daninha, e de novo os intriguistas da Corte manobraram para o denegrir. Mais uma vez caluniado, acusaram-no de tentativa de conjura com os comandantes das fronteiras, que, corrompidos com cargos e presentes, testemunharam contra ele. Assinado o decreto de prisão, os guardas da prefeitura, vieram com larga escolta surpreendê-lo em casa. Desesperado, ferido no seu mais profundo sentimento de honra, Liu virou-se para sua esposa e desabafou, num profundo lamento: “em nossa casa em Shandong, eu possuía seis ares de boa terra de cultivo, que nos dava alimento, e um bom lar ao abrigo de intrigas. Por que perniciosa ambição me cansei a subir na carreira? Tenho tantas saudades da minha túnica curta de burel, e das cavalgadas no meu poldro preto a caminho de Handan! Enfim! A vida não retrocede conforme a vontade dos mortais. ” Dito isto desembainhou um punhal, mas num ápice a esposa travou-lhe o gesto, percebendo que ele intentava cortar a garganta. Fazendo da fraqueza força, a nobre dama lembrou-lhe maus momentos passados, a vasta obra realizada, e as suas obrigações como pai de família. E Liu, entendendo que não estava só, retomou coragem para agir em defesa própria. Não sabemos como derrotou traidores e presumidos cúmplices. O que sabemos é que, protegido pelos eunucos, com quem sempre fora cortês, conseguiu que a pena de morte que lhe tinha sido aplicada fosse comutada em expulsão para Huanzhou. Banido, mas não esquecido. Anos mais tarde o Imperador desinteressou-se dos denunciantes, reconheceu o erro e entregou-lhe a gestão do Alto Secretariado. Atribuiu-lhe o título de Duque de Yan, e cumulou-o de favores, na esperança de o fazer esquecer as injustiças de que fora vítima.

Opulência e declínio

Liu voltou a gozar as bênçãos de uma tranquila vida familiar, com a sua devotada esposa e os seus talentosos cinco filhos. Jian, o primeiro, obteve o grau de doutor e um cargo no Gabinete de Avaliação do Mérito; Zhuan, o segundo, tinha assento nos Censos; Wei,o terceiro, era assistente no Departamento dos Sacrifícios Imperiais; Ti, o quarto, era Comandante em Wannian. O quinto, o jovem Yi, era já suplente num dos grandes departamentos do Estado. Todos se tinham casado com jovens educadas, oriundas de boas famílias, e já tinham dado aos pais uma dezena de netos.
Por duas vezes banido para os confins do Império, Liu tinha conseguido vencer os obstáculos e retomar o caminho da honra, com o apoio da família. À beira da idade sénior, viajava, frequentava letrados e cortesãos. Por toda a parte, na Corte ou na província o seu nome era conhecido e respeitado, e a suas advertências eram ouvidas. Amante de arte e dos belos atavios, rodeado de luxo, diz-se que nos pátios para lá dos jardins, na ala oeste da sua mansão, viviam cantoras e bailarinas de celebrada beleza. Possuía vastos domínios, faustosas residências secundárias, cavalos soberbos, presentes que acumulara ao longo dos anos. Nada mais tinha a desejar!

Mas o homem sabe que um frágil fio liga tudo o que vive à obsolescência. O seu vigor declinava, a sua mente aspirava ao repouso, longe das intrigas da Corte e da luta por bens e prestígio. Quando adoecia, choviam as mensagens da Corte indagando da sua saúde. Os mensageiros cruzavam-se no caminho da sua casa, e os médicos afadigavam-se receitando elixires que deveriam devolver-lhe a energia e o poder.
Quando Liu sentiu o fim próximo, ditou a seguinte carta, dirigida ao Imperador:

Este vosso servo era apenas um estudante de Shandong, feliz nos campos em flor da sua terra, quando o destino lhe proporcionou um encontro com Vossa Majestade Imperial, e a Vossa generosa protecção o fez atingir os mais altos cargos, excepcionais distinções, e os mais prestigiosos favores. Portador dos estandartes imperiais, subiu os degraus do estrado de honra, indigno de tão insigne favor. Assim vivi, entre o Palácio e os confins da Província. Insignificante servo, que tantas vezes caiu em opróbrio, mesmo quando avançava prudentemente, como a raposa que caminha sobre gelo fino. Pensando no futuro, ignorei o inevitável avançar da idade. Este ano completo oitenta anos de vida, ainda no pleno usufruto da minha posição. Eis que a clepsidra chega ao fim do seu périplo. O meu corpo chega à decrepitude. O meu fim não tardará. Beneficiei indevidamente da Vossa benevolência; os trabalhos que concretizei não mereceram a luz do Vosso apreço. Sinto que vou desligar-me da Vossa presença sem ter conseguido expressar a devoção e a profunda gratidão que voto à Vossa Imperial Pessoa. Na despedida, permita-me apresentar este humilde testemunho da minha gratidão.

Em resposta, o Imperador fez-lhe chegar o seguinte édito:

A tua eminente virtude foi o Nosso principal suporte. Longe, consolidaste a orla de protecção; internamente favoreceste a harmonia. Cabe-te o mérito da paz e da prosperidade dos últimos vinte anos. Fazemos incessantes votos pela tua cura desde que sabemos dos teus recentes problemas de saúde. Está contigo a Nossa mais terna compaixão. Enviamos Gao Lishi, Comandante da Intrépida Cavalaria à tua cabeceira, para que Nos traga notícias do teu estado. Pelo amor que Nos dedicas, encarecidamente te rogamos que tenhas cuidado com a tua saúde. Na esperança de boas notícias, contamos com o teu completo restabelecimento.

Nessa mesma noite Liu morreu, e a sua alma juntou-se aos antepassados.

O despertar

Liu espreguiçou-se e bocejou. Estava na Hospedaria, deitado na esteira. O sábio taoista estava sentado a seu lado, e informou-o de que as papas de milho glutinoso ainda não estavam prontas. Em redor tudo estava como dantes. O crepúsculo ainda tingia de belas cores a estrada para Hanan. Erguendo-se, Liu viu na semi-obscuridade o brilho perfeito da cerâmica azul do velho travesseiro. “Não passou de um sonho?”, pensou.
“Assim são as etapas da vida”, confirmou o velho como se lhe tivesse ouvido o pensamento. O moço quedou-se perplexo um bom momento. No seu íntimo sabia que devia agradecer ao seu companheiro pela valiosa lição, e disse:
— “Acabo de experimentar a vida das benesses e a das humilhações; da miséria e da fortuna; de entender as causas das derrotas e das vitórias. Conheci todas as emoções: as alegrias do coração e a desolação das perdas. Mestre, ensinaste-me como livrar-me da escravidão do desejo. Para sempre serei grato à lição do travesseiro de cerâmica azul.”
Dito isto, com um suave sorriso, inclinou-se numa sentida saudação. Saiu para a estrada e assobiou ao seu poldro negro. Ecoou o trote nas lajes do pátio da hospedaria. Liu montou, saudou mais uma vez, e partiu.

1 Ago 2025

Curtas-metragens | Galaxy associa-se a festival de Veneza

O “2.º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau do Galaxy Entertainment Group” acaba de firmar uma colaboração com o Festival Internacional de Cinema de Veneza, nomeadamente com a secção do evento “Giornate degli Autori”, a fim de mostrar o trabalho dos realizadores locais neste evento.

Assim, será realizada nos dias 29 e 30 de Agosto uma série de eventos associados ao “Dia de Macau” no festival de Veneza, nomeadamente a exibição de curtas-metragens locais e uma sessão de partilha na “Casa degli Autori”, um dos principais locais desta secção do festival.

Segue-se “uma recepção para apresentar aos profissionais da indústria cinematográfica e ao público internacional as produções cinematográficas e a singularidade cultural de Macau”, descreve uma nota do Instituto Cultural (IC), que apoia o festival de curtas-metragens organizado pela Galaxy.

Pretende-se, com a colaboração em Veneza, dar “maior visibilidade internacional às obras cinematográficas de Macau e criar oportunidades para que cineastas emergentes possam alcançar o palco global”.

“Giornate degli Autori” é uma importante secção paralela do Festival Internacional de Cinema de Veneza, dedicando-se à promoção de filmes independentes e de obras de cineastas emergentes. É um dos três programas oficiais do Festival, juntamente com o Festival Internacional de Cinema de Veneza e a Semana Internacional da Crítica de Cinema de Veneza.

Depois desta passagem por Itália, a segunda edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens em Macau realiza-se em Setembro nos Cinemas Galaxy, no Auditório Galaxy do Centro de Convenções Internacional Galaxy e no Andaz Hotel, e na Cinemateca Paixão.

1 Ago 2025

MGM | Receitas sobem para 8,7 mil milhões de dólares de Hong Kong

Na apresentação dos resultados, Kenneth Feng, presidente e director Executivo da MGM China, destacou a subida da quota de mercado da concessionária para 16,6 por cento

 

A MGM China registou receitas líquidas de 8,7 mil milhões de dólares de Hong Kong (HKD) no segundo trimestre do ano. Os resultados da concessionária foram apresentados ontem, e mostram um aumento das receitas face ao período homólogo, quando as receitas líquidas tinham sido de 8,0 mil milhões de HKD.

Em relação ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) ajustado, a empresa aponta ter gerado um valor de 2,5 mil milhões de HKD, um ligeiro aumento face ao período homólogo, quando o EBITDA ajustado tinha atingido 2,4 mil milhões de HKD.

“Estamos muito satisfeitos por assistir a mais um trimestre de crescimento, impulsionado pelo nosso profundo conhecimento dos clientes e pela nossa capacidade de renovar os nossos produtos e ofertas para satisfazer o gosto dos clientes” afirmou Kenneth Feng, presidente e director Executivo da MGM China, através de um comunicado.

No comunicado consta igualmente que a quota de mercado da concessionária cresceu de 16 por cento para 16,6 por cento. Entre este valor, cerca de 10,4 por cento da quota resulta dos resultados do casino MGM Cotai, com os restantes cerca de 6,2 por cento conseguidos do casino MGM Macau.

A MGM China registou ainda no segundo trimestre do ano um aumento de visitas de 12 por cento em termos homólogos, com a ocupação média nos hotéis do grupo em Macau a alcançar os 94,5 por cento.

Novos projectos

O grupo anunciou também conclusão da construção de 28 vilas no MGM Macau, que estão disponíveis desde o início de Julho, e começou a construir novas suites. “Após o lançamento do Alpha Villas, o MGM Cotai iniciou a conversão de quartos em cerca de 60 novas suites, e esta oferta complementar de acomodação vai ajudar-nos a manter o nosso posicionamento, com o MGM Macau a liderar na Península e o MGM Cotai como o destino preferido dos clientes premium”, indicou Kenneth Feng.

“Estamos empenhados em proporcionar mais experiências únicas e de qualidade aos nossos visitantes, de modo a alinhar a nossa oferta com a visão do Governo de Macau de transformar a cidade num destino turístico global e diversificado”, acrescentou.

A posição financeira do grupo em 30 de Junho de 2025 registava uma liquidez total de aproximadamente 22,5 mil milhões de HKD, incluindo caixa, equivalentes de caixa e linha de crédito não utilizada. A operadora de jogo em Macau tinha anunciado uma queda de 5,2 por cento nos lucros líquidos no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2024, no qual tinha registado “resultados recorde”. Lusa / JSF

1 Ago 2025

Grandview | DICJ destaca encerramento sem incidentes

O casino-satélite Grandview fechou as portas no final de quarta-feira e a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) considerou que tudo decorreu “de acordo com os procedimentos previstos”.

Num comunicado emitido ontem, a DICJ afirmou ter coordenado o encerramento em “estreita colaboração interdepartamental”, para assegurar “a conformidade dos termos legais e o ordenamento do processo”.

Com o fecho das porta do casino, a DICJ indicou que “procedeu, de imediato, ao processo de suspensão do funcionamento das mesas, tendo coordenado, de forma activa, com os diversos serviços públicos, o acompanhamento da retirada do respectivo recinto, entre outros, tendo o processo decorrido de forma ordenada”.

Durante o processo, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais também esteve no casino, para “prestar esclarecimentos aos trabalhadores e prestar-lhes apoio através da linha aberta”. O Corpo da Polícia de Segurança Pública e a Polícia Judiciária estiveram igualmente presentes para preservar a ordem pública.

Face ao encerramento, a DICJ prometeu “optimizar o mecanismo de fiscalização, promovendo a normalização, o desenvolvimento saudável e ordenado do sector do jogo, criando condições mais favoráveis para a diversificação adequada da economia de Macau”.

O casino-satélite foi o primeiro de 11 casinos a fechar as portas até ao final do ano. As datas de encerramento dos restantes ainda não são conhecidas. Entre os trabalhadores residentes que trabalhavam no casino Grandview sete tinham o emprego em perigo. Os restantes estavam ligados contratualmente com a concessionária SJM, pelo que voltam a trabalhar nas instalações da entidade patronal.

1 Ago 2025

Economia | PIB regista crescimento de 5,1 por cento

No segundo trimestre deste ano o Produto Interno Bruto (PIB) teve um crescimento de 5,1 por cento, face ao período homólogo, para 100,38 mil milhões de patacas. Os dados preliminares foram revelados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), através de um comunicado.

“No segundo trimestre de 2025 a economia de Macau voltou a crescer, devido à recuperação significativa das exportações de serviços, impulsionada pelo aumento notável do número de visitantes que foi beneficiado por uma série de medidas para atrair visitantes, e à manutenção da despesa de consumo privado no mercado local se ter estabilizado”, considerou a DSEC.

O valor do PIB encontra-se assim ao nível de 88,8 por cento do volume económico do segundo trimestre de 2019, apontou a mesma fonte. A DSEC indicou que “as exportações globais de serviços aumentaram 5,8 por cento em termos homólogos, visto que o número de entradas dos visitantes em Macau subiu cerca de 20 por cento no segundo trimestre do corrente ano”.

Em termos de procura interna, “a despesa de consumo final do Governo e a despesa de consumo privado também aumentaram 1,1 por cento e 0,3 por cento, respectivamente, em termos anuais”.

No pólo oposto, o investimento, conhecido como a formação bruta de capital fixo teve uma redução de 3,6 pro cento, o que foi justificado com o “decréscimo do número de obras de construção privadas”.

A DSEC aponta também que na primeira metade de 2025 os dados preliminares do PIB foram de 200,14 mil milhões de patacas, o que significa um crescimento real de 1,8 por cento, em termos anuais. O PIB na primeira metade deste ano foi de 87,0 por cento do volume económico do mesmo período de 2019.

1 Ago 2025

DSEDJ | Condenado uso de menor em rede de contrabando

A Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) condenou o aproveitamento que uma rede de contrabando fez de um menor. A mensagem sobre o caso que envolveu o aluno com 14 anos foi deixada através de um comunicado divulgado na noite de quarta-feira.

Segundo o comunicado, depois de o caso ter sido tornado público, a DSEDJ entrou em contacto com a escola do aluno, que garantiu estar a disponibilizar aconselhamento e apoio. A DSEDJ recordou ainda que estabeleceu um mecanismo de comunicação para que os alunos aprendam “valores correctos” e tenham “consciência do cumprimento da lei”.

Este mecanismo inclui formas de divulgação de mensagens como materiais educativos, organização de palestras e publicidades nos postos fronteiriços. No âmbito das férias de Verão, a DSEDJ apelou ainda “aos alunos e aos pais para aproveitarem” o período de descanso e que evitem utilizar o maior tempo livre para praticarem “actividades ilegais”.

1 Ago 2025

PJ | Au Kam San é o primeiro detido ao abrigo da lei de Segurança Nacional

O ex-deputado entre 2001 e 2021, pela Associação Novo Macau Democrático, é o primeiro detido por suspeitas de infringir a Lei de Salvaguarda da Segurança Nacional. A PJ afirma que Au Kam San passou informações “incendiárias” e “imprecisas” a “organizações Anti-China” e a meios e comunicação social para incentivar o ódio contra o Governo Central

 

O ex-deputado Au Kam San foi detido na quarta-feira pela Polícia Judiciária (PJ) e está indiciado de violar a Lei de Segurança Nacional. Esta é a primeira detenção tornada pública ao abrigo da Lei de Segurança Nacional desde o estabelecimento da RAEM, em 1999, e o caso foi encaminhado para o Ministério Público.

Num comunicado emitido ontem, a PJ apenas identificou o detido pelo apelido Au, que acusou de alegado “conluio com forças externas” que colocou “em perigo a segurança nacional”. De acordo com a imprensa em língua chinesa, a esposa de Au Kam San, Virginia Cheang Mio San, de 68 anos, esteve na manhã de ontem no Ministério Público (MP), onde se fez acompanhar por outros familiares, para ser ouvida como testemunha.

Segundo a PJ, Au actuou em conluio com “uma organização estrangeira anti-China” desde 2022, a quem forneceu “uma grande quantidade de informações imprecisas e incendiárias” para serem divulgadas fora da China e também na Internet. A polícia indicou também que este tipo de actividade continuou a ser praticada apesar da aprovação das alterações da Lei de Segurança Nacional em 2023.

Au é igualmente acusado de ter “ligações de longa data” com várias entidades estrangeiras anti-China e de lhes ter fornecido “repetidamente” informações “imprecisas” sobre Macau, assim como a órgãos de comunicação social controlados por esses entidades.

A PJ acusa o detido de ter como objectivo “despertar o ódio dos residentes de Macau” e “da população desinformada em geral” contra Governo Central e o Governo de Macau.

O deputado entre 2001 e 2021, é ainda acusado de ter tentado “prejudicar as eleições para o Chefe do Executivo em 2024” e incitar acções de países estrangeiros contra Macau, o que foi entendido como “colocando seriamente em causa a segurança nacional”.

Estabelecimento de ligações

O comunicado da PJ aponta que o caso foi encaminhado para o Ministério Público, depois de “uma longa investigação” e que Au Kam San está indiciado pelo crime de “estabelecimento de ligações com organizações, associações ou indivíduos foram da RAEM para a prática de actos contra a segurança do Estado”.

Este tipo de crime é punido com uma pena mínima de três anos de prisão, mas que pode chegar aos 10 anos de prisão. A acusação não permite liberdade condicional, pelo que Au vai ter de aguardar o julgamento na prisão. Também não há possibilidade de cumprir pena suspensa.

Ao contrário da acusação por outros crimes previstos na Lei de Salvaguarda da Segurança Nacional, os julgamentos pelo crime de “estabelecimento de ligações com organizações, associações ou indivíduos foram da RAEM para a prática de actos contra a segurança do Estado” são públicos, pelo que devem decorrer à porta aberta. No entanto, o juiz do processo pode optar por fechar a porta em certas sessões, se considerar que a publicidade vai prejudicar a Segurança do Estado.

1 Ago 2025

Diplomacia | Trump diz poder reunir-se com Xi “antes do final do ano”

O presidente dos Estados Unidos disse ontem que a reunião com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, poderá ocorrer “antes do fim do ano”, considerando ter havido um diálogo comercial “positivo” entre delegações de ambos os países, em Estocolmo. “Espero ansiosamente pela reunião, diria que (pode acontecer) antes do fim do ano.

Seria uma forma de fechar um círculo”, respondeu Donald Trump, a bordo do Air Force One, a uma pergunta da imprensa sobre um futuro encontro entre ambos os líderes, que já tinha anunciado em Junho passado.

O presidente indicou que as delegações comerciais de Pequim e Washington tiveram “uma troca muito boa hoje [ontem]” na capital sueca, o que lhe permite ser mais optimista sobre a possibilidade de falar cara a cara com Xi.

“Se me tivessem perguntado ontem, não parecia muito bem (…). Scott acabou de me dizer que a reunião com a China foi muito bem”, precisou em referência ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, que lidera a conversa por parte dos EUA juntamente com o representante comercial, Jamieson Greer, entre outros.

A reunião de dois dias em Estocolmo ocorreu após os encontros em Genebra e Londres em Maio e Junho, respectivamente, e a conversa telefónica entre Trump e Xi, no passado dia 5 de Junho, na qual o presidente chinês convidou o seu homólogo americano a Pequim.

Bessent e Greer anunciaram que se reunirão esta quarta-feira com Trump na Casa Branca para informá-lo sobre o andamento das negociações e obter a sua aprovação para a extensão por mais 90 dias da trégua tarifária acordada por ambos os países, que deve terminar a 12 de Agosto.

31 Jul 2025

Agências de emprego : ilegalidade consentida?

Por Luís Almeida Pinto

Ninguém controla a ganância, nem fiscaliza a cobrança ilegal de honorários por parte das agências de emprego em Macau?

De acordo com o estipulado no artigo 28.º, nº 3, 2) e nº 4 da Lei nº 16/2020, de 14 de Setembro, o montante total dos honorários a cobrar pelas agências de emprego aos trabalhadores não pode exceder 50% da remuneração de base do primeiro mês, estabelecida no contrato de trabalho, e as agências de emprego só podem cobrar honorários aos trabalhadores pela prestação dos serviços por uma única vez, e 60 dias após da data do início da relação de trabalho, salvo o caso especial da duração da relação de trabalho ser inferior a 60 dias, podendo então cobrar honorários aos trabalhadores, por uma única vez, no dia da cessação da relação de trabalho.

Ora, não é isso que se passa hoje em dia na generalidade das situações de agenciamento de emprego em Macau.

São bem conhecidas as dificuldades sentidas pelos trabalhadores estrangeiros que procuram Macau para terem emprego e um melhor salário, porquanto os montantes cobrados aqui pelas agências de emprego aos trabalhadores chegam a valores de MOP$20,000, ou ainda mais, por postos de trabalho cujos salários mensais não ultrapassam as dez mil patacas, e sendo muitas vezes os honorários exigidos antecipadamente, e não cobrados quando o trabalhador recebe o vencimento.

E tudo isto se passa impunemente há muitos anos, sem que haja controlo algum por parte das autoridades de Macau, nem se perceba a existência de fiscalização das agências de emprego, tudo em benefício da ganância dos proprietários das agências de emprego, e em grave prejuízo dos trabalhadores estrangeiros que buscam um emprego em Macau, por terem grandes carências económicas, e tentando encontrar aqui melhores condições de vida, para si e para a sua família.

Veja-se, como bom exemplo, o que se passa na vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong:

De acordo com as disposições relevantes da Portaria do Emprego (Cap. 57) e do Regulamento das Agências de Emprego (Cap. 57A), o montante máximo que uma agência pode cobrar legalmente a um trabalhador doméstico, que constitue uma grande parte da força de trabalho estrangeira em Hong Kong, é 10% do primeiro mês de salário.

Qualquer agência que cobre mais do que este valor prescrito está a infringir a lei, e em Hong Kong, as agências de emprego são efectivamente inspeccionadas e multadas, com sanções que incluem a suspensão e revogação das licenças comerciais.

É tempo de ser exigido às autoridades que acabem com as práticas ilegais das agências de emprego em Macau!

31 Jul 2025