Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLAG 2021 | Governo já trabalha na revisão do Código do Procedimento Administrativo Já há uma equipa a analisar aquilo que pode ser mudado no Código do Procedimento Administrativo em vigor, uma revisão que é considerada essencial para a reforma de toda a Administração pública. Com esta revisão, pretende-se “alargar poderes” e “aumentar a eficiência”, disse o director da DSAJ [dropcap]A[/dropcap] tutela da Administração e Justiça já está a trabalhar na reforma do Código do Procedimento Administrativo, considerado essencial para a reforma da Administração pública. A garantia foi dada ontem na Assembleia Legislativa (AL) pelo secretário André Cheong, que considerou que o Governo “tem de fazer a reforma administrativa por essa via”. Liu Dexue, director dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), explicou que já foi criada uma equipa no seio do Conselho Consultivo para a Reforma Jurídica para analisar aquilo que pode ser alterado no Código. “Criámos um pequeno grupo de trabalho para descobrir quais as deficiências existentes no Código e apresentar soluções para a sua revisão. Como ponto de partida vamos recorrer à ideia de aumentar a eficiência administrativa e alargar poderes”, adiantou. O director da DSAJ disse ainda que este será “um grande trabalho” e que tem como objectivo “concretizar a ideia de que o Governo é servidor da população”. A necessidade de uma reforma administrativa foi um dos temas mais abordados pelos deputados na sessão plenária de ontem. O deputado Lam Lon Wai acusou o Executivo de ainda não ter sido claro quanto aos objectivos a seguir. “O Governo ainda não sabe qual a reforma que quer fazer, qual o método a utilizar e que medidas devem ser adoptadas.” Não basta a quantidade O deputado Si Ka Lon questionou André Cheong sobre quais os serviços públicos que podem vir a ser alvo de uma fusão e exigiu um calendário, mas o secretário disse apenas que “o objectivo não é fazer uma expansão quantitativa mas sim qualitativa”. “Não se resume à fusão de um serviço com outro. Temos de ter em conta a avaliação dos resultados depois dessa reestruturação e tirar conclusões. Daremos início ao trabalho de reestruturação no próximo ano”, disse André Cheong. O secretário frisou também que os cinco secretários têm vindo a reunir com o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, no sentido de ver se “há possibilidade de algumas secretarias poderem tomar a dianteira de realizar um trabalho de coordenação”.
Andreia Sofia Silva EntrevistaFernando Martins, historiador e autor: “Macau e Índia eram indefensáveis” O novo livro do historiador Fernando Martins, “Pedro Theotónio Pereira – O Outro Delfim de Salazar”, revela um almoço entre o diplomata Pedro Theotónio Pereira e o secretário de Estado adjunto dos EUA a propósito da guerra civil chinesa. O encontro aconteceu a pedido de Salazar, devido às crescentes preocupações sobre o impacto que o conflito teria na soberania portuguesa em Macau [dropcap]P[/dropcap]edro Theotónio Pereira foi embaixador nos EUA durante o Governo de Salazar e nesse período deparou-se com a questão da guerra civil chinesa. Quais eram as principais preocupações de Salazar relativamente ao conflito? Caso se registasse uma vitória dos comunistas, como aliás veio a suceder, temia-se que o novo Governo [chinês] não respeitasse a soberania portuguesa em Macau e também poderia não respeitar a soberania britânica em Hong Kong. Aquilo que falo no livro é uma conversa do embaixador Pedro Theotónio Pereira com o secretário de Estado adjunto norte-americano Walton Butterworth, que tratava das questões do Extremo Oriente. Essa é uma conversa informal e eles encontram-se a pedido de Salazar. Nem sequer foi o ministro dos Negócios Estrangeiros a pedir. Salazar queria um esclarecimento de viva voz, sem a mediação dos media, sobre a atitude dos EUA em relação à guerra civil que estava a correr muito mal para o lado dos nacionalistas, que tinham o apoio dos EUA. Salazar queria saber como os norte-americanos estavam a avaliar essa situação. O livro fala de uma “iniciativa diplomática singular” de Pedro Theotónio Pereira. Refere-se a este encontro informal? Sim, por duas razões. É uma questão tratada entre o Presidente do Conselho [Salazar] e o embaixador de Portugal em Washington. É singular pela sua informalidade e gravidade, pois há ali uma grande preocupação de Salazar e das autoridades portuguesas sobre o que poderia acontecer a Macau. Macau já tinha estado no fio da navalha na II Guerra Mundial, com a guerra às portas do território e o receio de que os japoneses pudessem violar a neutralidade portuguesa, e eventualmente também os chineses, embora isso fosse pouco provável. Essa questão voltava-se a colocar e havia receio e também surpresa quando as autoridades portuguesas perceberam que, apesar da ajuda dos EUA, os comunistas iam ganhar a guerra civil. Isso teria implicações para o destino de Macau. De certa forma este encontro serviu de aviso a Hong Kong ou às autoridades britânicas? Houve algum elo de ligação? Havia alguns contactos. Não conheço esse lado da diplomacia portuguesa, de, através de contactos mantidos com a Grã-Bretanha, saber exactamente como as autoridades britânicas iriam reagir caso houvesse uma violação da soberania britânica em Hong Kong, como poderia haver em Macau. Mas o que se percebe é que do lado português houve um desconforto pelo facto de não haver disponibilidade das autoridades britânicas, quer na Europa ou em Hong Kong, para cooperar com Portugal e preparar um plano de acção no caso da vitória comunista na guerra civil, e no caso de essa vitória poder pôr em xeque as duas soberanias. Não havia qualquer preparação para um eventual ataque. Os britânicos tinham meios na região, em Hong Kong e no extremo oriente, muito mais que Portugal. Tinham mais meios militares e recursos político-diplomáticos. Obviamente que estavam mais preparados perante uma ofensiva e jogar a cartada americana para ajudar a defender o território, caso os comunistas chineses tentassem ocupar. São duas potências com características completamente diferentes, e quando o relacionamento com Portugal não servia os interesses britânicos, o país pura e simplesmente ignorava as preocupações ou propostas de Portugal. Para preservar a soberania de Macau, Portugal chega a enviar, em Maio de 1949, tropas para o território. Mas o Governador à época, o comandante Albano de Oliveira, disse que Macau era “indefensável”. Era indiferente enviar novas tropas ou não. Sim. Aliás, é um bocado aquilo que mais tarde acontece na Índia. Tanto Macau como a Índia eram indefensáveis do ponto de vista militar, porque estavam em causa potências com recursos significativos e desproporcionais quando comparados com os portugueses. São enviados cerca de três mil homens para enfrentar com êxito uma ofensiva militar chinesa para afirmação da soberania [portuguesa] e manutenção da ordem política interna. [Foram enviados] também para dar um sinal de que há o interesse em preservar a soberania, mas é um acto que não é apenas simbólico. Mas não faria a diferença caso os chineses quisessem atacar e anexar o território. Diz que a manutenção da soberania portuguesa em Macau foi mais um desejo de Pequim até 1968, ano em que Salazar cai da cadeira. A China não tinha o mínimo interesse em invadir Macau, porquê? O que parece evidente é que, para as autoridades chinesas, interessava manter, através de Hong Kong e de Macau, portas e vias de comunicação com o exterior, com o mundo capitalista. A soberania portuguesa em Macau é preservada porque é o desejo da China e porque serve os interesses do novo regime chinês. Eventualmente, que o preço a pagar por essa anexação unilateral, mesmo no contexto de luta do nacionalismo chinês contra o colonialismo português, poderia até legitimar a acção da China, mas mesmo nesse contexto, as autoridades chinesas preferiram manter o status quo. Mesmo depois do 25 de Abril [de 1974], as autoridades portuguesas tentam passar para as mãos chinesas o território macaense, e a resposta chinesa foi negativa. Pedro Theotónio Pereira tinha uma visão mais aberta do império colonial português que Salazar? Ele, ao contrário de Salazar, esteve em alguns territórios coloniais portugueses. Quando saiu da embaixada em Washington, visitou Angola, e como ministro da Presidência visitou vários territórios, mas a visita mais importante que faz é ao Estado português da Índia. Ele conhecia muito bem a realidade internacional, quando o país tentava preservar o Império. Desse ponto de vista, tinha um conhecimento mais prático e próximo da questão colonial que Salazar. Dizer que ele tinha uma visão diferente, é possível que sim, mas não há nada que diga isso. Nada diz que quisesse iniciar um processo de transferência de poder das autoridades portuguesas para elites nacionais dessas colónias. No caso da Índia, tudo indica que a ocupação militar do Estado português por tropas indianas foi algo que terá afectado Pedro Theotónio Pereira, pois tinha lá estado dois anos antes. Terá sido uma experiência traumática. Como é que o Governo de Salazar encarava Macau? Franco Nogueira [diplomata] chegou a pensar em utilizar Macau e as boas relações com a China para fazer uma aproximação ao país, e para Portugal melhorar a sua posição estratégica face à Índia por causa do confronto no Estado português da Índia, ou para melhorar mais tarde a sua posição nas lutas pela autodeterminação e independência das colónias em África. Essa aproximação formal nunca foi feita, mas havia contactos informais. Sempre houve, foram muito importantes. Macau tinha valor estratégico e histórico, era o testemunho da presença centenária de Portugal no Oriente e das boas relações que Portugal tinha mantido com a China. Portugal e a China não tinham, à época, relações diplomáticas. Qual era a posição de Pedro Theotónio Pereira em relação a esse assunto? Cito no livro uma carta que enviou a Salazar, pois quando está em Londres recebe de um diplomata chinês um cartão muito cordial, que parece ser uma abertura para contactos, ainda que a nível informal, entre embaixadores. Pedro Theotónio Pereira fica um bocado embaraçado, sem saber o que fazer, e remete a Salazar, ficando à espera de resposta. Seguindo a documentação não se conhece que Salazar tenha dado continuidade a esse contacto do diplomata chinês. Também não se percebe a sua natureza, se é cortesia ou se pretendia mais qualquer coisa. Nem tanto Salazar, mas havia muitas personalidades do regime que eram cépticas a uma abertura de Portugal à República Popular da China, pelo que vai ser preciso esperar pelo 25 de Abril de 1974, e não é uma coisa imediata. Que havia contactos informais, sempre houve, mas não passavam por Theotónio Pereira. Seriam mais locais, na China e em Macau. Pedro Theotónio Pereira chegou a ser administrador do Banco Nacional Ultramarino (BNU), numa altura em que o banco sofria uma reestruturação. Ele esteve pouco tempo no BNU, mas isso teve alguma importância porque ajudou a preparar a reestruturação do banco no contexto já do pós-Guerra. Parecia evidente que o banco queria centrar a sua actividade no Ultramar e na sua relação com a metrópole. Ele tenta intermediar a venda de alguns activos que o banco tinha no Brasil e que tinham deixado de ser estratégicos. Mas não se pode dizer que seja algo decisivo. Ele vai para o BNU por duas razões: é uma nomeação política, ele era um homem do regime, e tinha experiência pelo facto de ter sido um alto quadro da companhia de seguros Fidelidade. Mas não é um dos momentos mais importantes da sua carreira. Pedro Theotónio Pereira era falado como o substituto de Salazar. Como seria o diplomata na qualidade de Presidente do Conselho? É muito difícil responder a isso. Ele estava incapacitado quando Salazar foi substituído. Era um homem com origens sociais, uma formação académica e relevância política, além de uma realidade política nacional e internacional, completamente diferentes em relação a Salazar. Mas mesmo com essa experiência internacional, não sei se iria ter uma atitude muito diferente. Não podemos resumir a política portuguesa a partir da década de 60 à questão da guerra colonial, pois havia aspectos importantes ligados ao desenvolvimento económico e social. Mais do que compará-lo com Salazar, talvez possamos compará-lo com Marcelo Caetano. Parece-me que Theotónio Pereira era, do ponto de vista político, um indivíduo tão ou mais bem preparado do que Marcelo Caetano, porque tinha essa experiência na política interna desde a década de 30, mas também a experiência internacional que Marcelo Caetano tinha menos.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDe cara lavada, Clube Lusitano de Hong Kong tenta recuperar do impacto da pandemia Depois dos protestos e no meio da pandemia, o Clube Lusitano de Hong Kong, que representa as comunidades macaense e portuguesa no território, quer manter a estabilidade e atrair novas gerações. Esta semana foi inaugurada uma exposição para comemorar os 20 anos da RAEM [dropcap]S[/dropcap]tephen Handley é um homem de esperança. O gerente do Clube Lusitano de Hong Kong, casa dedicada às comunidades macaense e portuguesa, espera recuperar não só do investimento feito na renovação do espaço, que abriu portas em Outubro do ano passado, como do impacto da pandemia da covid-19. “O clube tem tido alguns altos e baixos, com toda a reestruturação dos últimos meses. Investimos muito dinheiro na renovação, tínhamos um plano de negócios que parecia muito bom, mas infelizmente tudo abrandou ao nível das receitas”, disse Stephen Handley ao HM. A renovação estética teve como objectivo mostrar o legado cultural da comunidade. “Não fizemos nenhuma alteração nos últimos anos e precisávamos mesmo de renovar. Quisemos garantir que a nova concepção do projecto fosse buscar inspiração à cultura das comunidades portuguesa e macaense. Também queremos garantir que atraímos a nova geração.” “Desde Abril, temos menos membros a visitar o clube porque há uma preocupação genuína. Agosto foi o pior mês para nós. Mas quisemos manter as portas abertas o máximo de vezes possível, porque os membros têm direito a frequentar o clube, não somos como um restaurante”, disse Stephen Handley. Para dar continuidade aos projectos já pensados, foi inaugurada, esta segunda-feira, uma exposição de fotografias que assinala os 20 anos da RAEM. “Fazemos uma celebração dos 20 anos da RAEM com uma série de fotografias que marcam o progresso e desenvolvimento do território. Essa é a ligação que temos com Macau e esperamos que venhamos a ter mais”, disse. A Fundação Macau apoia a mostra. “Estamos contentes por fazer algo relacionado com a nossa história e com as velhas gerações”, acrescentou Stephen Handley. “Somos sobreviventes” Há 150 anos que o Clube Lusitano de Hong Kong mantém as portas abertas e assim pretende continuar. “Queremos que este legado continue. Os macaenses e portugueses são sobreviventes. Queremos também que as novas gerações possam usufruir do facto de serem membros deste clube.” Stephen Handley contabilizou, nos últimos meses, 80 pedidos de informação para novas inscrições, mas nem todos podem ser elegíveis, assegura. “A nossa base de jovens tem aumentado, e há também uma maior diversidade. Cerca de 42 por cento dos nossos membros são mulheres.” Com um plano de negócios que teve de ser alterado, o clube quer continuar a trabalhar para a comunidade. “Queremos assegurar que temos instalações para macaenses e portugueses. Temos uma presença em Hong Kong, somos próximos do consulado e de algumas organizações. Queremos seguir em frente e adaptar-nos”, concluiu.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaONU | Rita Santos nomeada para vice-presidente de ONG sediada em França Rita Santos é a nova vice-presidente da ONG “Favoriser Les Échanges Culturels entre La France et La Chine”, sediada em França e presidida por Bernard Sok. Esta entidade está ligada ao Conselho Económico e Social do Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais da Organização das Nações Unidas. Ao lado de Rita Santos vão trabalhar outras personalidades de Macau, como Ting Sio Hong, Ng Man Ho e Wong Yuk Sze [dropcap]Q[/dropcap]uando recebeu o telefonema de Bernard Sok, presidente da ONG francesa “Favoriser Les Échanges Culturels entre la France et la Chine” [Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China], ligada ao Conselho Económico e Social do Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), Rita Santos não queria acreditar, pois acabara de ser nomeada para a vice-presidência dessa ONG. Ao HM, a responsável, que é membro da direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), e ex-secretária-geral adjunta do Fórum Macau, disse que nunca conheceu pessoalmente Bernard Sok, mas que, quando foi contactada, este tinha muitas informações sobre o seu percurso profissional. “Estranhei quando me contactaram. Tentaram saber mais sobre mim, mas não sei que canais utilizaram. Disseram-me que conheciam o meu currículo, que eu estava sempre disposta a ajudar as pessoas e que queriam contar com o meu apoio”, disse. Foram também nomeados Ting Sio Hong para o cargo de secretário-geral da ONG, alguém “com uma vasta experiência, pois trabalhou no banco Tai Fung e é auditor, pelo que pode dar apoio na nossa área de controlo financeiro”. Ng Man Ho foi escolhido para secretário-geral adjunto, enquanto que Wong Yuk Sze será directora-executiva. Rita Santos não tem dúvidas de que o trabalho que desenvolveu no Fórum Macau foi importante para esta escolha. “Esta nomeação está mais ligada ao Fórum Macau e às acções sociais de apoio. Disseram-me que apreciam muito o trabalho que fiz nos últimos 30 anos. Sabem até que estou aposentada e que continuo a ser activa. Disseram que precisavam de mim para utilizar Macau como plataforma.” Incentivar os jovens O primeiro acto de Rita Santos com estas novas funções aconteceu no passado dia 18 com a assinatura de um protocolo entre a ONG e uma câmara de comércio de Guangdong [Guangdong Chamber of Commerce of Importers and Exporters]. A agenda de trabalhos passa por incentivar o intercâmbio de jovens e empresários, bem como ajudar outras ONG ou associações, sobretudo no que diz respeito à pandemia da covid-19. “Vamos ver como podemos incentivar os jovens de Macau no intercâmbio económico e cultural com o Interior da China e com os países da ONU. No próximo ano vamos organizar um grupo de jovens para visitar a ONU, alguns países da Europa e o Japão, para vermos quais as oportunidades que eles podem ter em termos de parcerias para a integração no Delta do Rio das Pérolas e na Grande Baía.” Relativamente a Macau, Rita Santos promete analisar “quais as organizações mais necessitadas que estão a apoiar os pobres”. Para 2021, Rita Santos espera ter “muitos encontros com o Interior da China”, uma vez que “há muitas câmaras de comércio e importantes organizações de empresários que querem assinar protocolo connosco e com o departamento [da ONU]”, frisou. O Centro de Promoção do Intercâmbio Cultural França-China foi instituído pelo falecido Presidente francês Jacques Chirac em 1979, e desde esse ano que é presidido por Bernard Sok. O HM contactou o Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais da ONU, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCovid-19 | Portugueses não residentes podem voltar cumprindo quarentena na China A partir do dia 1 de Dezembro os portugueses não residentes que estejam no estrangeiro podem voltar à RAEM depois de cumprirem quarentena na China e de receberem autorização de entrada dos Serviços de Saúde de Macau. No entanto, é necessário visto para entrar no país. Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau, diz tratar-se de uma “janela de oportunidade” [dropcap]F[/dropcap]oi encontrada uma solução parcial para os portugueses não residentes de Macau que estão no estrangeiro e que não conseguem voltar ao território devido às medidas restritivas de circulação impostas devido à covid-19. Segundo disse Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, à TDM – Canal Macau, existe a possibilidade de os portugueses poderem regressar a Macau após cumprirem quarentena na China. Além deste requisito, é necessária autorização de entrada por parte dos Serviços de Saúde de Macau (SSM). A medida entra em vigor no dia 1 de Dezembro. “Estas novas medidas que foram anunciadas há alguns dias abrem, pelo menos, uma janela de oportunidade para permitir que algumas pessoas, com a devida autorização dos serviços de saúde da RAEM, possam viajar para a China, e de Portugal não é complicado porque há voos directos, para Xi’an. A partir daí, [podem] cumprir a quarentena e, uma vez obtida a autorização das autoridades de saúde, entrar na RAEM.” No entanto, há mais um entrave burocrático, pois porque é necessário visto concedido pelas autoridades chinesas, o que nem sempre é fácil. Segundo Paulo Cunha Alves, não está previsto o apoio das autoridades portuguesas nesta matéria. “Os contactos são feitos pelos próprios, não é o consulado-geral que está a tratar do assunto. As orientações que temos é para informar os cidadãos portugueses que estão no estrangeiro para contactarem as embaixadas na República Popular da China no país onde estejam. Temos casos na Tailândia, África do Sul e em Portugal, de portugueses que querem vir para a RAEM”, frisou. Os casos complicados Paulo Cunha Alves destacou o facto de as medidas restritivas de circulação terem causado vários casos complicados de separação de famílias. “É difícil dar um número concreto, mas entre uma dúzia e 20 casos de pessoas que nos pediram auxílio. Esses são, no meu entender, os mais complicados. Do ponto de vista humano, para mim, é impensável uma mãe dar à luz e não ter o apoio do pai para cuidar do bebé. Há também outros casos de empresários, mas, obviamente, que os mais importantes são de reunificação familiar.” O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong assegurou que têm sido tentadas “muitas vias” para se chegar a uma solução para os portugueses não residentes regressarem a Macau, mas que a via “recomendada é esta”. “Em Roma sê romano. Temos de seguir as orientações dadas pela RAEM”, adiantou. Após a ocorrência de alguns casos importados de covid-19, a China proibiu a entrada de estrangeiros no país. Até à data, apenas estrangeiros de dez países, como a França, Reino Unido ou Bélgica, entre outros, não podem entrar. A medida inclui pessoas com autorizações de residência válida para trabalho, assuntos pessoais e reagrupamento familiar. Para já, Portugal não se encontra nesta lista. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China defendeu decisões “razoáveis e justas”, que “se inspiram nas práticas vigentes em muitos países”, para implementar esta proibição.
Andreia Sofia Silva EventosTIMC | Filmes clássicos musicados por artistas locais este fim-de-semana A segunda parte do festival This is My City acontece este fim-de-semana e traz às Oficinas Navais n.º2 cinema clássico do início do século XX musicado por bandas locais. O público poderá assistir, este sábado, ao filme “The Goddess”, realizado em Xangai em 1934 e musicado por Faslane e AKI. No domingo, será exibida uma série de curtas-metragens musicadas por Frog, Rui Rasquinho e Paulo Pereira, entre outros [dropcap]N[/dropcap]um ano diferente de todos os outros, o festival This is My City (TIMC) decidiu trazer uma nova componente que constituísse não só uma surpresa para o público mas também um desafio para os músicos locais. Foi com essa ideia em mente que surgiu a iniciativa de exibir filmes clássicos com uma nova roupagem musical. O evento decorre este fim-de-semana nas Oficinas Navais nº 2. Ao HM, Rui Simões, ligado à organização do festival, contou como surgiu esta iniciativa. “Estávamos a programar o festival numa altura em que ainda havia indecisões sobre o que iria acontecer, mas partíamos da premissa de que só poderiam ser artistas locais. Olhando para os músicos e artistas percebemos que todos eles já tinham tocado ao vivo, num formato conhecido do grande público. E começamos a pensar naquilo que poderíamos fazer de original e que fosse de alguma forma um desafio para os próprios artistas.” De imediato se pensou em criar “um registo mais improvisado”. Quanto às películas, o objectivo não era escolher “filmes demasiado conhecidos, para as pessoas se sentirem atraídas”. “De uma maneira ou de outra são filmes que são uma referência, ou porque têm efeitos especiais ou porque têm algo de diferente. A maior parte dos filmes não tem sequer uma narrativa muito clara, são mais exercícios artísticos”, explicou Rui Simões. Surrealismo e efeitos especiais O primeiro filme a ser exibido, já este sábado, a partir das 19h, é “The Goddess”, feito em Xangai em 1934, e que ganha uma nova composição musical da autoria da banda Faslane e de AKI, “que está bastante habituado a fazer bandas sonoras”. “Este filme retrata a vida de uma mulher, que é mãe, numa sociedade bastante fechada. É uma prostituta que tenta cuidar do seu filho e ela faz tudo por amor ao filho e estabelecem-se depois algumas relações com outros personagens. É uma história muito humana e com muita sensibilidade. A actriz do filme é uma das actrizes chinesas mais famosas da época e também tem uma história de vida trágica. Penso que as pessoas vão ficar apaixonadas por ela e pelo filme”, disse Rui Simões. No domingo, é dia de curtas-metragens. A primeira a ser exibida é “Alice no País das Maravilhas”, de Cecil Hepworth e Percy Stow, e que data de 1903. Este é um filme com muitos efeitos especiais, sendo esta a primeira adaptação feita para cinema da obra de Lewis Carroll. Segue-se “Ghosts Before Breakfast”, de Hans Richter, de 1928, que será musicado por Rui Rasquinho, artista e designer. “The Dancing Pig”, realizado em 1907, foi musicado por Paulo Pereira. Trata-se de um filme mudo com apenas quatro minutos de duração, e que teve produção da Pathé, conhecida empresa francesa. Nesta obra, “um porco gigante veste-se de roupas elegantes e dança com uma rapariga que, mais tarde, o deixa envergonhado quando tira as suas roupas.” Ainda no domingo serão exibidas mais duas curtas-metragens. Uma delas é “A Trip to Jupiter”, de Segundo de Chomón, realizado em 1909, musicado por Iat U Hong. Esta película não é mais do que uma “viagem gótica” feita com inspiração no “Voyage dans la Lune”, realizado em 1902 por George Meliés, quando o cinema dava os primeiros passos. Por último, será exibido “The Frog”, de Segundo de Chomón, de 1908, musicado por Dickson Cheong. Esta sexta-feira, também inserida na segunda parte do TIMC, acontece a inauguração da exposição multimédia de OS Wei, às 18h30. Será também realizada, às 19h30, uma performance de caligrafia com os artistas Elvis Mok e Aquino da Silva. Estão ainda agendadas sessões de yoga, que trazem, pela primeira-vez, a vertente do bem-estar a este festival.
Andreia Sofia Silva EventosAFA | Art Garden recebe “A Way to Exist, Away to Exist”, nova exposição de Alice Kok É já este sábado, dia 21, que é inaugurada no espaço Art Garden a exposição “A Way to Exist, Away to Exist”, da autoria de Alice Kok. Desta vez, a artista apostou num trabalho multicultural, feito entre Macau e o Tibete, e que revela o contraste entre a natureza e a ocupação pelo ser humano, com as estruturas artificiais por si criadas [dropcap]A[/dropcap] artista Alice Kok está de regresso às exposições em nome individual com “A Way to Exist, Away to Exist”. A mostra será inaugurada este sábado, dia 21, no espaço Art Garden, da associação AFA – Art for All Society, onde estará patente até ao dia 18 de Dezembro. Esta é uma exposição onde Alice Kok, que preside ainda à AFA, decidiu apresentar um conjunto de trabalhos que “exploram a troca entre a prática espiritual e a comunidade usando a produção de imagem, objectos, entrevistas e pintura”. A ideia para esta exposição começou a ser trabalhada no Tibete, para onde a artista viaja com frequência. A pandemia da covid-19 obrigou-a a repensar a ideia e a trabalhá-la em Macau, o que faz com que esta mostra tenha obras dos dois lugares. “Comecei esta exposição o ano passado com algumas imagens que tirei no Tibete. Este ano tinha planeado regressar e continuar esta série de imagens, mas depois não consegui regressar devido à pandemia. Tenho estado em Macau este ano e comecei a pensar em fazer algo aqui, continuando a ideia que tive no Tibete, onde captei imagens da paisagem e de estruturas artificiais à volta”, contou ao HM. Alice Kok criou então este contraste sobre a forma como existimos na natureza e recriamos estes espaços à nossa medida. “No Tibete o meio ambiente natural está rodeado por estruturas artificiais criadas por humanos, ou por uma arquitectura mais comercial. Quando voltei para Macau percebi que também temos lugares assim. Temos as ilhas, temos terra reclamada ao mar. Em muitos destes locais há posters que mostram aquilo que vai ser construído. Temos o Galaxy, por exemplo, onde se vê como vai ser o novo hotel. Trabalho com isso mas faço uma pixelização das imagens, colocando as partes que deveriam pertencer à natureza”, explicou a artista. Além desta modificação da imagem, Alice Kok coloca também, em alta definição, “as imagens do que é suposto ser o futuro, mas que ainda não existe”. “É um paradoxo em como se pode sobreviver, em como somos parte da natureza mas, ao mesmo tempo, construímos muitos espaços artificiais à sua volta. Parece que não vemos a realidade como é, vemos, ao invés disso, imagens dos espaços artificiais que estamos a construir. O título da exposição é a minha forma de interpretar esta questão existencial”, frisou. Sonho meu Além do trabalho feito em fotografia e com a modificação das imagens, Alice Kok apresenta também uma instalação de vídeo, com o nome “Through the Looking Glass”. “Convidei pessoas da comunidade, amigos de amigos, a virem ao meu atelier e a contarem-me os seus sonhos, mas uso mosaicos para cobrir a identidade das pessoas. Tudo isto é também sobre privacidade, porque os sonhos podem revelar o inconsciente da pessoa, é algo muito íntimo. Aqui há também muita comunicação porque adoptei o formato de entrevista”, contou a artista. Alice Kok decidiu também colocar, do lado de fora do edifício do Art Garden, alguns excertos de um livro auto-biográfico que começou a escrever no Tibete. Esses excertos serão acompanhados por caracteres chineses de cor amarela. “Isso também envolve muito a comunidade, porque quem passa por ver os cartazes, são mensagens que podem ser vistas por todos.” Esta é, sobretudo, uma mostra onde se revela a relação da artista ao nível da identidade, escrita e paisagem, experiências que são “pessoais e que são partilhadas com outros”. Para a AFA, “as fotografias da artista tiradas em Macau e no Tibete têm em conta a produção de identidades interculturais. Alice Kok distorceu parcialmente as imagens convidando-nos a ver novamente a relação com o movimento e a comunicação com lugares distantes. Estes temas, abstractos para muitos de nós, têm um significado directo para a artista, cuja família está separada entre estes dois lugares”.
Andreia Sofia Silva PolíticaRevisão da lei orgânica do FDIC chega este ano ao Conselho Executivo Tai Kin Ip, director dos Serviços de Economia, assegurou ao deputado José Pereira Coutinho que o projecto de revisão da lei orgânica do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, de onde saíram os empréstimos para a falida Viva Macau, chega ainda este ano ao Conselho Executivo [dropcap]O[/dropcap] projecto de revisão da lei orgânica do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) deverá chegar ao Conselho Executivo para análise ainda este ano. A garantia é dada por Tai Kin Ip, director dos Serviços de Economia, numa resposta a uma interpelação escrita do deputado José Pereira Coutinho. “Procura-se que o projecto de alteração seja submetido este ano ao Conselho Executivo para discussão”, apontou Tai Kin Ip, que adiantou alguns detalhes daquilo que poderá mudar na lei orgânica. “Serão regulamentados os mecanismos de apreciação e aprovação das candidaturas de apoios e de supervisão. Serão incluídas as normas relativas à verificação de qualificação e à prestação de garantia adequada, a fim de assegurar o património do fiador que possa ser executada de forma mais eficaz no futuro através do processo judicial.” Além disso, “no que concerne ao mecanismo de monitorização, aplicar-se-á, pela abordagem baseada no risco, uma monitorização dinâmica aos apoiados”, aponta ainda a resposta do director dos Serviços de Economia. Relatório acompanhado Tai Kin Ip destacou o facto de o FIDC ter vindo a acompanhar as sugestões e críticas feitas pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) este ano relativamente ao caso dos empréstimos concedidos à Viva Macau, no valor de 212 milhões de patacas. “O FDIC manifestou a sua total aceitação das opiniões e sugestões levantadas pelo CCAC, tendo já sido iniciados os trabalhos de acompanhamento. O FDIC também irá aperfeiçoar o seu processo de apreciação, aprovação e gestão, através da alteração do diploma legal, criação do mecanismo de garantias, realização de gestão e de alerta de risco, e reiteração das responsabilidades profissionais e deveres do pessoal”, lê-se. Os empréstimos à Viva Macau foram concedidos em 2009, mas só este ano é que o CCAC concluiu a investigação sobre o caso. No relatório, conclui-se não ter havido crime de corrupção ou fraude no empréstimo, mas que houve negligência por parte do Executivo.
Andreia Sofia Silva PolíticaLAG 2021 | Relatório com soluções para problemas, mas sem visão de futuro As Linhas de Acção Governativa para o próximo ano apresentam algumas soluções práticas para problemas socioeconómicos causados pela pandemia, dizem analistas ouvidos pelo HM, embora Eilo Yu pense que pecam pela falta de orientação de futuro. A ideia de transformar o cheque pecuniário em cartão de consumo é bem acolhida [dropcap]T[/dropcap]rês analistas políticos ouvidos pelo HM consideram que as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano apresentam medidas concretas para a resolução da crise socioeconómica causada pela pandemia. No entanto, Eilo Yu, professor de ciência política da Universidade de Macau, desejava ver orientações mais abrangentes para o futuro do território. “Podemos dizer que estas são umas boas LAG para responder aos problemas actuais”, começou por dizer. “São uma aproximação pragmática às dificuldades sociais e apresentam uma forma para lidarmos com a pandemia e a crise económica, mas estas são as primeiras LAG depois de um ano de mandato [de Ho Iat Seng] e esperava-se alguma projecção para o futuro de Macau. Nestas LAG, não vemos direcções”, apontou. O analista político Camões Tam disse não ter grandes críticas a apontar ao plano de acção do Governo, apresentado num ano atípico. “Estou satisfeito com estas LAG, porque neste ano duas questões afectaram Macau seriamente. Uma foi a guerra comercial entre a China e os EUA, e depois a covid-19. As receitas de Macau baixaram e não sei se no próximo ano iremos recuperar.” Nesse sentido, Camões Tam esperava respostas mais conclusivas sobre a potencial crise de desemprego no sector do jogo. “A questão das licenças de jogo vai afectar muita gente”, disse, frisando que a estabilidade do sector foi posta em causa. “As concessionárias de jogo vão despedir trabalhadores. Todos sabem isso, mas nestas LAG não se faz menção a essa questão. Como a poderemos resolver?”, questiona. Para Larry So, analista político, o relatório das LAG para 2021 “é apropriado para resolver os problemas dos próximos anos”. No entanto, a questão essencial é “como vamos recuperar a nossa economia, pois está muito dependente dos sectores do jogo e do turismo”. Larry So, ao contrário de Camões Tam, defende que as LAG apresentadas por Ho Iat Seng “tentam lidar com estes problemas de uma forma lógica”. Ho Iat Seng deixou a promessa de apresentar no próximo ano, na Assembleia Legislativa, a revisão do regime jurídico da exploração de jogos de fortuna e azar em casinos, mas a mesma está ainda dependente da consulta pública. Para Eilo Yu, não é a altura ideal para mexer no diploma. “Acredito que o Governo queira adiar a discussão sobre o concurso público [para a atribuição de novas licenças], porque, neste momento, há muita incerteza no mercado. No próprio sector do jogo, há vozes que já referiram que esta não é a altura certa para falar do concurso público até o mercado estar mais estável.” Cheque vs cartão consumo Os três analistas contactados pelo HM consideram que a ideia de transformar o cheque pecuniário em cartão de consumo é boa, mas sugerem alternativas. Larry So pede a criação de dois cartões diferentes. “A maior parte das pessoas necessita do dinheiro não apenas para gastar no supermercado, mas em outras coisas onde não pode usar o cartão, tal como o pagamento da renda. Temos de olhar para as diferentes necessidades da população.” Para Eilo Yu, alterar a forma do apoio pode conduzir os residentes a gastar o dinheiro exclusivamente na economia local. “Penso que o Governo quer apostar mais no cartão de consumo do que no cheque, porque isso faz com que se gaste o dinheiro apenas na economia local, uma vez que há pessoas que usufruem do dinheiro do cheque, mas vivem no estrangeiro. Acredito que é essa a aproximação que Ho Iat Seng quer fazer.” Mudar mentalidades A apresentação das LAG ficou também marcada pelas críticas do Chefe do Executivo ao funcionamento da Administração Pública e da falta de iniciativa de alguns funcionários e dirigentes. Para Eilo Yu, não é a primeira vez que um governante é directo a apontar os problemas existentes, lembrando as críticas já feitas por Edmund Ho. “O Chefe do Executivo e os restantes líderes devem melhorar a comunicação para resolver os problemas que têm pela frente, ao invés de transferirem os problemas para as camadas de base da Administração. Esta tem sido a abordagem dos últimos Governos e, se esta mentalidade continuar, não creio que consigamos resolver os problemas da falta de coordenação e de pró-actividade”, frisou. Ho Iat Seng alertou também para o facto de os residentes não gostarem de realizar trabalhos pesados, posição também defendida por Larry So. “Penso que, nos próximos anos, a nossa população tem de ser mais realista e tentar ajustar-se a uma nova realidade, pois as indústrias do jogo e do turismo podem não ser tão prósperas como no passado.”
Andreia Sofia Silva EventosTeatro | D’As Entranhas apresenta Medeia no edifício do Antigo Tribunal A companhia teatral D’As Entranhas apresenta, nos próximos dias 26 e 28, quinta-feira e sábado, a tragédia grega Medeia, da autoria de Eurípedes. Vera Paz interpreta este monólogo desconstruído e criado a partir de uma tradução de Sophia de Mello Breyner. Nos dias 27 e 29, sexta-feira e domingo, sobe ao palco o espectáculo “I’ll Be Your Mirror”, com Mónica Coteriano [dropcap]M[/dropcap]edeia, tragédia grega escrita por Eurípedes no ano de 431 a.c., será representada em Macau na próxima quinta-feira, dia 26, numa adaptação feita pela companhia teatral D’As Entranhas Macau – Associação Cultural. A actriz Vera Paz, também directora artística da companhia, protagoniza um monólogo criado a partir da tradução de Sophia de Mello Breyner e que estará em cena no espaço Black Box do edifício do Antigo Tribunal nos dias 26 e 28 deste mês, às 20h30. “Fizemos uma adaptação livre do texto clássico, porque este tem 1419 versos e 11 personagens. Desconstruímos porque é uma tragédia muito pesada, um espectáculo sobre o amor, mas mais sobre a morte do amor, a vingança e a traição”, contou Vera Paz ao HM. A sua personagem “é uma mulher que é um monstro”. “Na primeira cena ela é enganada, perseguida, e volta-se contra tudo. Ela escolhe o seu destino, pois é um coração partido, e mata tudo o que se coloca à sua frente”, adiantou. Por forma a aliviar a carga dramática deste texto, a companhia teatral D’Entranhas resolveu criar uma tragicomédia, pois além da personagem principal há uma outra, que apresenta a peça. “É uma tragédia cómica. Nós trabalhamos sempre nesta fronteira, não é uma paródia, mas é um limite. Dentro da personagem da Medeia ela tem uma outra personagem que apresenta a peça, e que é uma forma de cortar aquele horror todo.” Vera Paz revela os desafios enfrentados para levar a cabo este espectáculo em tempos de pandemia, uma vez que a encenação foi feita a partir de Portugal via Zoom, além de que outros actores também estão no país e trabalharam neste projecto à distância. “São os novos tempos. Mas é uma honra fazer este texto. Pegámos numa tradução de Sophia de Mello Breyner, que é uma referência poética. Está muito bem escrito e traduzido.” Para Vera Paz, a Medeia “é um espectáculo sobre a condição humana, sobre estas coisas irracionais, que não se explicam”. “Foi escrito há 2500 anos e acho que é das tragédias mais encenadas até hoje”, frisou. A actriz reconhece que transmitir a mensagem do teatro clássico ao público chinês nem sempre é fácil. “A peça vai ser em português embora tenha sempre uma componente visual muito forte, como têm sempre os nossos espectáculos. Tenho essa dificuldade de como chegarmos ao público chinês, de como se traduzem os clássicos. A parte plástica e visual está lá, mas a linguagem é sempre uma barreira e neste caso é.” Este espectáculo tem direcção artística, autoria e criação de Vera Paz e Ricardo Moura, enquanto que a interpretação e dramaturgia está a cargo de Vera Paz. O corpo e o espelho A companhia teatral D’As Entranhas Macau – Associação Cultural apresenta ainda outro espectáculo, nos dias 27 e 29 de Novembro, intitulado “I’ll Be Your Mirror”, protagonizado por Mónica Coteriano, que tem formação de bailarina. “Este é um espectáculo conceptual, sobre o corpo físico e humano. Colocámos este nome porque é um espectáculo sobre como nos espelhamos, como é que nos projectamos no outro e como nos relacionamos com o nosso corpo”, disse Vera Paz. “I’ll be Your Mirror” terá uma transmissão em directo da interpretação de Mónica Coteriano numa tela de grandes dimensões, para que o público possa ter uma melhor percepção “dos detalhes do corpo”. O espectáculo será será apresentado no espaço Black Box do edifício do Antigo Tribunal.
Andreia Sofia Silva EntrevistaCheong Kin I, encenadora de “The Dress Looks Nice on You”: “Quero descobrir o mundo da esquizofrenia” “The Dress Looks Nice on You” [em cantonês, Hoi Vong Seng] é a nova peça de teatro encenada por Cheong Kin I. Escrito pelo dramaturgo taiwanês Chen Hung-Yang, este espectáculo inspira-se na experiência pessoal da encenadora de Macau, que lidou com o vício do jogo do pai, além de abordar o tema da esquizofrenia. Depois de uma leitura pública do argumento em Outubro, a estreia oficial em Macau acontece em Junho do próximo ano, no teatro do edifício do Antigo Tribunal. Entre os dias 19 e 22 de Novembro “The Dress Looks Nice On You” dá um salto a Taiwan [dropcap]F[/dropcap]oi difícil voltar a abordar questões familiares neste novo projecto teatral? Porque decidiu enveredar novamente por este tema? A família é algo que teve muito peso durante o meu processo de crescimento e amadurecimento. Esta é a segunda peça onde falo da família, depois de “Rua de Macau – Sabores”. Toda a minha inspiração vem do meu pai, porque ele sempre teve e continua a ter impacto na minha vida. Com a família tornamo-nos naquilo que somos enquanto seres humanos. Em “Rua de Macau – Sabores”, conto a história de como o meu pai lutou toda a vida para sobreviver em Macau depois da sua vinda clandestina do Continente. “The Dress Looks Nice on You” parte da minha própria experiência, mas também tem a ver com o meu pai e de como a sua dependência do jogo me perturbou imenso, e ao mesmo tempo contribuiu para me formar como pessoa. Tinha medo que viessem cobradores de dívidas à nossa casa. Isso nunca aconteceu, mas muitas vezes não sabia exactamente quais os barulhos verdadeiros ou aqueles que partiam da minha imaginação. É justamente isso que quero abordar na minha nova peça. Primeiro vem a parte da audição, depois a parte visual. Quero descobrir com os meus espectadores o mundo da esquizofrenia. De que forma é que vai abordar este assunto? Nesta peça falamos da esquizofrenia, no sentido em que parece que o passado já passou. Mas não, volta e voltará sempre, sobretudo as coisas infelizes da vida. A minha ambição é discutir mais profundamente este tema, e também a essência do teatro. Numa peça, ou numa qualquer criação artística, estamos a criar mais sofrimento ou a ajudar as vítimas a libertarem-se de tudo isso, quando abordamos estas questões ou falamos destas pessoas? Para mim não é difícil abordar uma questão de família, mas sim criar uma história e transformar a minha própria experiência numa criação artística. Porquê o nome “The Dress Looks Nice on You”? O vestido tem aqui algum simbolismo especial? Isso refere-se ao conto “O tio Novelo em Connecticut” [Uncle Wiggily in Connecticut] do escritor americano Jerome David Salinger. Neste conto, a Eloise, uma das personagens, chorou porque lhe foi dito que em Nova Iorque ninguém veste o tipo de vestido que a Eloise comprou. A Eloise pensa que era uma boa rapariga, por simplesmente ter chorado por causa disso. Gosto muito desta passagem. Para mim o vestido está muito relacionado com a diferença de géneros, e também com o processo de transformar um vestido em algo feminino. Sempre associei isso com a socialização no geral. A Eloise encarna uma das personagens da peça, que fica socializada. Mas aqui uso a palavra socialização com a máxima educação. Posso mesmo dizer que esta personagem, na minha peça, é violada socialmente, no sentido em que, enquanto seres humanos, temos sempre de nos adaptar para sermos aquilo que a sociedade quer ou necessita. Não temos escolha na sociedade a não ser que respeitemos as suas regras. Construímos aqui um mundo de ouvido das vítimas de esquizofrenia, pois a alucinação auditiva é um ponto principal da peça. Quais as suas expectativas em relação à apresentação deste projecto em Taiwan? Para tentar reconstruir um mundo imaginativo da esquizofrenia o argumento tem 60 fragmentos. Isso não é muito comum em Macau. Por isso, os espectadores de Macau terão de ver toda a peça para conseguir compreendê-la e digeri-la, incluindo as suas personagens. Há diferenças entre o público de Macau e de Taiwan? Os espectadores de Macau estão mais habituados a ver algo linear. Mas aqui não estou interessada em criar um ponto culminante para nenhuma história, pois estou a criar uma banalidade da vida que, afinal, nem é algo tão banal. É como, por exemplo, a fantasia sobre o amor, o absurdo da vida, o sofrimento da sobrevivência. Tomo os fragmentos da vida para construir e representar os diversos estados de uma vida banal que todos nós vivemos. Em contrapartida, o público de Taiwan está mais habituado a esta espécie de argumentos. É um público que gosta de reflectir, adivinhar e mastigar o que vê. Isso tem a ver com a educação na ilha, que incentiva e proporciona um pensamento independente. Porquê a estreia em Macau só no próximo ano? Por causa da pandemia. Segundo as medidas do Governo, teríamos de reduzir para metade os lugares dos espectadores e depois de dois anos de preparação seria muito frustrante ver um teatro inteiro meio vazio. Se apresentássemos a peça mais vezes iríamos perder dinheiro, para que o público não pagasse mais pelos bilhetes. No período da pandemia fazer teatro tem sido muito difícil e, ainda por cima, as boas peças têm menos visibilidade. Teme algumas repercussões negativas pelo facto de apresentar peças de teatro em Taiwan, tendo em conta a questão política? Macau não é o continente chinês e o continente chinês não é Macau. Ainda não temos problemas por cá. Além disso, o que faço não tem que ver com política, por isso nem poderia ser alvo de uma repercussão negativa. Em 2018, quando encenei “A Reunificação das Duas Coreias”, que não tinha a ver com política mas abordava o amor, convidei intencionalmente actrizes e actores de Macau e Taiwan. Os falantes das duas línguas, cantonense e mandarim, sem aprender os idiomas, não se compreendem. Mas isso não tinha que ver com a política. Foi uma maneira para reinventar, de forma criativa, a impossibilidade de comunicação entre os amantes. Macau não é um lugar onde a sensibilidade política tenha destaque, como é o caso de Hong Kong. Além disso, Taiwan é um território muito aberto e abraça todo o tipo de opiniões. Não temos nenhuma pressão política.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeObituário | Mio Pang Fei, pintor e professor de artes, faleceu sexta-feira aos 84 anos Mio Pang Fei, expoente máximo da pintura em Macau e do chamado neo-orientalismo, faleceu na sexta-feira com 84 anos. A morte do homem que ensinou uma geração de novos artistas a partir da década de 80 e que revolucionou o mundo das artes de Macau encerra uma era na arte contemporânea, considera Alice Kok. Várias personalidades do mundo artístico falam da “sorte” que Macau teve em acolher Mio Pang Fei [dropcap]“A[/dropcap] arte é inútil, mas os trabalhos artísticos são úteis.” É desta forma, sentado num carro, olhando Xangai, a sua cidade natal, que Mio Pang Fei fala da sua percepção do que é arte, filmado pela lente de Pedro Cardeira. Dono de uma carreira imensa no mundo das artes, percursor da arte contemporânea em Macau, Mio Pang Fei faleceu na sexta-feira aos 84 anos, segundo fonte da família à TDM Rádio-Macau. Considerado o pai do neo-orientalismo, o seu traço único serviu de inspiração a uma geração de pintores, além de que o seu ensino das artes deixou uma marca que jamais se apagará. Ao HM, Alice Kok, pintora, curadora e presidente da associação AFA – Art For All Society, considera que a morte de Mio Pang Fei representa “o fim de uma era”. Agora virá uma outra coisa, resta saber o quê. “Mio Pang Fei foi, sem dúvida, o artista mais importante na fase da formação da arte contemporânea em Macau, que começou nos anos 80. Macau teve muita sorte em ter tal artista e professor de artes.” Mas não foi só Macau que ganhou com a chegada de Mio Pang Fei. O próprio artista descobriu um lugar onde pôde pôr em prática todas as experimentações e dúvidas que tinha sobre o que era arte e qual o caminho que deveria seguir enquanto artista. Nascido em Xangai em 1936, Mio Pang Fei estudou na Universidade de Belas Artes de Fujian, tendo-se dedicado à caligrafia chinesa. Era a única forma de escapar e de se manter ligado ao mundo das artes, numa altura em que o artista já pensava de maneira diferente. Mio Pang Fei chegou a ser acusado de práticas contra-revolucionárias por demonstrar um grande interesse no modernismo que se fazia no Ocidente. Esteve preso e sujeito a trabalhos forçados. “As pessoas brindavam e desenhavam o Presidente Mao. Mas eu estava a fazer algo diferente. Destruí os quadros porque não podia mantê-los, tinha muito medo. Estava a pensar em qual caminho deveria seguir. O Ocidente já tinha abraçado a arte abstracta. Fizeram-no muito bem, mas nós não”, disse Mio Pang Fei sobre este período, no documentário de Pedro Cardeira. Alice Kok dá conta dessa liberdade criativa que Macau proporcionou a Mio Pang Fei. “A arte contemporânea começou a ganhar forma em Macau nos anos 80 e foi nesse período que ele experimentou muitas ideias ligadas ao modernismo, a ligação entre o Ocidente e o Oriente, e depois de muitos anos de experimentação chegou ao novo orientalismo. O território precisava de Mio Pang Fei. Ele veio da Revolução Cultural e em Macau pôde experimentar as suas ideias sobre a arte. Fez isso com tal energia que se abriu uma porta para o público, estudantes e jovens artistas.” Uma das últimas entrevistas que deu, provavelmente a última, foi em Abril deste ano à TDM Canal Macau, no âmbito de uma reportagem intitulada “A China Vermelha”. Nela, Mio Pang Fei volta a recordar os seus tempos de estudante de belas artes. “Quando estudava na universidade, aprendemos o Realismo de [Gustave] Courbet. Courbet foi o autor introduzido pelo professor. Só isso. E eu pensei ‘isto não está certo’. Disse que Courbet esteve activo em meados de 1850. Estava na universidade na década de 50, então fui à biblioteca ler e investigar, para ver o que aconteceu nesse século. Secretamente li sobre eles, tirei notas e comecei a experimentar.” O início de algo Sorte e “benção” são outras palavras usadas para descrever o trabalho e vivência de Mio Pang Fei no território. Konstantin Bessmertny, pintor russo radicado há vários anos em Macau, disse à TDM Rádio Macau que “Macau foi abençoado por ter tido Mio Pang Fei”. “Era difícil comunicar com ele por causa do meu chinês e do inglês dele, mas senti que era um dos pilares do edifício cultural de Macau. Mas ele trazia uma espécie de saber oriental, a sua técnica, a dimensão, a escala, a apresentação”. Carlos Marreiros, arquitecto, artista plástico e ex-Presidente do Instituto Cultural, disse também à TDM Rádio Macau que Mio Pang Fei foi pioneiro por “misturar expressões tradicionais chinesas e contemporâneas ocidentais renovando um discurso de uma contemporaneidade assinalável para a época e ainda com força hoje em dia”. Marreiros recordou o facto de Mio Pang Fei ter fundado o Círculo de Amigos da Cultura de Macau, juntamente com outros artistas do território, tendo deixado um “legado muito grande”. “Ele foi um combatente no sentido das ideias e da formação artística porque era uma pessoa extremamente pacífica, serena, inteligente, extremamente culto”, acrescentou Marreiros, que considera que Mio Pang Fei deve ser considerado um pintor de Macau, apesar de ter nascido na China. “Ele está em Macau desde 1983. Gosta de Macau, assume Macau, representou Macau em tantas exposições e ele adorava Macau assim como Portugal onde tinha casa e ia sempre que podia”, disse. A Bienal de Veneza A última grande exposição de Mio Pang Fei em nome próprio aconteceu no Galaxy, em 2012, mas em 2015 foi seleccionado pelo Museu de Arte de Macau (MAM) para representar Macau na 56.ª Bienal de Veneza. Filipa Queiroz, à data jornalista da TDM Canal Macau, entrevistou Mio Pang Fei na cidade italiana. “Quando o encontrei lá, junto a uma das suas instalações, a que representava o período da Revolução Cultural, o brilho nos seus olhos aliado ao orgulho de toda a família e comitiva em volta era absolutamente comovente. A entrevista em si foi curta porque, além de discreto, Mio Pang Fei acusava cansaço da viagem, mas disse logo que, apesar de não sair da China há muito tempo, e estando debilitado em termos de saúde, não podia faltar”, contou ao HM. Filipa Queiroz recorda também que Paolo Baratta, presidente da Bienal de Veneza, “não escondeu o entusiasmo” pelo momento. “Lembro-me que disse que Macau tinha realmente acertado com a exposição do ‘grande maestro’ na maior mostra internacional de arte do mundo. Para mim Mio Pang Fei personificava as ideias de força e liberdade e acredito que perdurem para sempre na sua obra.” Pedro Cardeira, realizador do documentário sobre a vida e obra de Mio Pang Fei, conheceu o pintor e professor em 2010. Com ele criou uma relação de amizade graças à proximidade entre famílias, uma vez que o seu cunhado foi aluno de Mio Pang Fei. O realizador recorda o facto de ele “conhecer a arte ocidental tão bem como a arte chinesa”. “Mio Pang Fei surge num contexto muito especial, no início dos anos 80, quando Macau começou a ter uma transformação e abertura para as artes. Os artistas de Macau eram ainda amadores e quem queria fazer alguma coisa tinha de sair de Macau. Não havia uma escola de artes, um movimento, e a vinda de Mio Pang Fei para Macau veio criar isso”, frisou ao HM. A rodagem do documentário foi feita em Xangai, onde Mio Pang Fei esteve com amigos que também sofreram as consequências da Revolução Cultural. Só depois desse convívio é que o pintor ganhou “coragem” para contar a sua experiência para a câmara. “Foi muito difícil ele falar desse período. Não queria fazer um documentário sobre a Revolução Cultural, mas insisti porque isso foi muito marcante na obra dele, foi traumatizante, mas afectou todo o seu percurso em Macau. Quando ele fez a exposição ‘A Condição Humana’ é evidente que está lá esse episódio da vida dele”, destaca Pedro Cardeira. Por ter iniciado um movimento novo numa época específica, será difícil que algum artista venha a substituir ou a criar um legado tão importante como o de Mio Pang Fei, aponta o realizador. “É difícil vir outro artista que consiga chegar a esta posição, porque o contexto já vai ser diferente. Isso faz com que Mio Pang Fei seja único”, conclui. Em 2017, Mio Pang Fei recebeu a medalha de mérito cultural atribuída pelo Chefe do Executivo de então Chui Sai On.
Andreia Sofia Silva EventosTIMC | Pixels e ARI and The Party Animals trazem novidades este fim-de-semana Por um lado, os Pixels, banda de tributo aos Pixies, que trazem novas músicas. Por outro, ARI junta-se ao projecto The Party Animals que pretendem reunir num só palco a energia de músicos profissionais que já tocaram em bares de casinos e hotéis. Eis os espectáculos deste fim-de-semana do festival This is My City [dropcap]I[/dropcap]ntegrados no cartaz deste ano do festival This is My City (TIMC), os Pixels e ARI and The Party Animals actuam esta sexta-feira e sábado, respectivamente, na discoteca D2. São duas noites que prometem ser, acima de tudo, diversas e divertidas, mas também repletas de novidades. Os Pixels, banda de tributo aos Pixies, trazem músicas novas, enquanto ARI and The Party Animals resolveram introduzir um novo conceito junto do público de Macau, a fim de concretizarem novas experiências em palco. Ao HM, Nuno Gomes, membro integrante dos Pixels, levantou a ponta do véu daquilo que os amantes da banda poderão ouvir amanhã. Recentemente os Pixels deram um concerto no Live Music Association (LMA) e o espectáculo no D2 será um pouco a extensão desse evento. “Quando demos o concerto no LMA o público pediu mais duas músicas e ficamos com pena de não as podermos tocar. Decidimos aprender essas músicas”, contou. Desta forma, “o público pode esperar músicas melodicamente bonitas, típicas do pop rock, e também uma ou outra música mais punk”. “Temos mais de 20 músicas preparadas e quem é fã de Pixies vai, de certeza, adorar o nosso concerto. Quem não conhece vai lá ter as músicas icónicas da banda, como o ‘Where’s My Mind?” Ou “Here Comes Your Man” e será surpreendido com uma parte dos Pixies mais visceral”, acrescentou Nuno Gomes. Quem também actua no D2 amanhã é o músico Ryan Carroll, que já trabalhou com Nuno Gomes em outros projectos musicais. “Vai ser uma excelente noite pela diversidade musical. O Ryan Carroll já tocou comigo e outro músico numa banda que tivemos e é um músico de eleição em Macau.” Para os Pixels, o concerto de amanhã no D2 será uma espécie de encerramento para um período de reflexão. “As pessoas adoram e temos tido uma boa adesão, mas como tocamos músicas dos Pixies receamos estar a ficar repetitivos. Estamos a pensar fazer uma paragem depois do TIMC, dar um grande espectáculo no D2 e descansar depois durante uns tempos e ver se há vontade de continuar. Não queremos saturar as pessoas, mas a intenção é continuar e aprender mais músicas”, adiantou Nuno Gomes. A noite encerra com o DJ Set dos Trainsportters. Recordar o Bellini ou Lion’s ARI, músico nascido em Macau e conhecido pelas suas sonoridades funk, decidiu juntar a sua banda, os ARICLAN, ao projecto The Party Animals, composto por vários músicos de Macau, de várias nacionalidades. O espectáculo acontece no sábado e promete ser uma experiência que poderá atingir novos rumos, contou ARI ao HM. “Pensámos em apresentar ao público, nesta edição do TIMC, uma espécie de entretenimento. Algo diferente da parte de uma banda, pois vamos tocar canções, mas também temos elementos diferentes para interagir com o público. Chamemos-lhe uma experiência musical, pois queremos levar a música a um outro nível na sua relação com o público”, contou. ARI, nascido em Macau, tem já uma vasta experiência como músico, que teve início ainda adolescente em Hong Kong. Depois da participação num concurso televisivo para músicos, fundou a sua banda, “What The Fuck”, que viria a mudar de nome para ARICLAN, em 2018. Sobre a fusão com os The Party Animals, ARI não sabe ainda onde é que essa experiência o vai levar, mas diz querer recordar os tempos em que bares como o Bellini, no Venetian, e o Lion’s, no MGM, tinham as portas abertas com música ao vivo. Até porque grande parte dos músicos que compõe os The Party Animals tocaram lá. “É como se pegássemos em todos os músicos que têm experiência em tocar vários tipos de canções e juntá-los num grupo só. É como juntar a energia de espaços como o Lion’s e o Bellini num só lugar”, exemplificou. ARI espera, com os The Party Animals, dar um primeiro passo que os possa levar no futuro a crescer enquanto banda. “Será a primeira apresentação deste projecto. Se as pessoas ficarem interessadas podemos começar a tocar novamente em hotéis, por exemplo, e criar aqui uma série de espectáculos. O nosso primeiro passo é ter reconhecimento em Macau, mas temos de nos desenvolver um pouco mais enquanto banda. Os The Party Animals querem ir a muitos eventos agora, ter muita exposição, para ver o que podemos construir.” A noite fica completa com um DJ Set de Lobo Ip. As portas do D2 abrem às 22h30, tanto na sexta-feira como no sábado, e os espectáculos começam às 23h. Os bilhetes custam 180 patacas e dão direito a duas bebidas.
Andreia Sofia Silva EntrevistaJoaquim Ramos de Carvalho: “IPM está sintonizado com o Governo” Criado em Dezembro, o novo Centro Internacional Português de Formação do Instituto Politécnico de Macau visa dar respostas a todas as perguntas sobre o projecto da Grande Baía. Mas, acima de tudo, pretende ser um local de formação e conhecimento destinado não só a estudantes, mas a profissionais com ligação à China e a Macau, em áreas que vão além da tradução. Joaquim Ramos de Carvalho promete anunciar novidades já em Janeiro [dropcap]F[/dropcap]oi vice-reitor da Universidade de Coimbra (UC) até 2019. O que o levou a abraçar agora este desafio no IPM? Primeiro, porque a oportunidade ocorreu. Enquanto vice-reitor da UC, tive muitos contactos com o IPM, era o nosso parceiro preferencial em Macau, porque tinha muita actividade na área da língua portuguesa. Já conhecia o IPM e, depois de acabar o meu mandato, em 2019, o IPM fez-me o desafio. Este era um desafio muito aliciante, sobretudo porque também tinha a ver com uma área em que me tinha empenhado bastante: as relações entre a China e os países de língua portuguesa. É uma excelente oportunidade e estou muito contente que se tenha concretizado. O Centro é muito recente, foi criado em Dezembro. Quais os seus objectivos principais, para já? A missão que me foi definida foi diversificar aquilo que tem sido a oferta actual do IPM em relação à língua portuguesa e no contexto da relação entre a China e os países de língua portuguesa. O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM tem feito um excelente trabalho, tem se focado, com muito sucesso, na formação de professores de língua portuguesa. Mas a percepção que temos é que há mais solicitações variadas de oportunidades de formação, e também mais específicas, que não sejam apenas centradas na língua. Como assim? São formações que passam por um conhecimento maior, em matéria académica, das oportunidades que existem de ambos os lados para cooperação futura, ou para uma articulação de projectos que envolvam a China e os países de língua portuguesa e em que haja um plano académico. Penso que o IPM está muito bem colocado para isso e eu tenho alguma experiência nessa área. O âmbito vai além da interpretação e tradução e terá essa ambição de diversificar a oferta e corresponder ao interesse crescente que existe de ambas as partes de conhecimento e motivo de estabelecimento de ligações. Essa formação específica pode, portanto, chegar também a outro tipo de profissionais, além de professores? Vou dar-lhe o exemplo da Grande Baía. Neste momento, há muita necessidade de informação nas universidades e nos institutos politécnicos dos países de língua portuguesa sobre as oportunidades e áreas de foco. O IPM tem capacidade para criar pequenas formações e cursos, ou conferências on-line, que permitam transmitir o que representa e significa o projecto e qual o papel de Macau na Grande Baía, ou qual o papel que se espera da China e dos países de língua portuguesa. Por outro lado, há muita actividade crescente com as visitas de Estado, com os acordos académicos. São dois planos, em que há desenvolvimento contínuo das relações económicas e comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. Noutro nível, há cada vez mais acordos de cooperação, declarações políticas de vontade de cooperar, e no meio é preciso fazer surgir projectos, pôr as pessoas em contacto e, para isso, é preciso fazer circular informação. O Centro irá, portanto, agilizar todos esses acordos e cooperações, não só no projecto da Grande Baía, mas também na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Penso que em relação à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” as pessoas já têm uma ideia [do que se trata], pois é um processo que está em curso há mais tempo. Mas em relação à iniciativa da Grande Baía há muita necessidade de informação. Não me cabe a mim, ou ao IPM, dizer que se vai fazer isto ou aquilo, mas sim criar condições e fazer as pontes necessárias para que isso ocorra. Em termos concretos, o que está a ser feito para esse fim? Devemos utilizar algumas das redes que já existem, tal como as redes académicas no contexto do ensino superior dos países de língua portuguesa. Esse é um canal que devemos explorar. Espero que, em breve, estejamos em condições de anunciar iniciativas relevantes nesta área. Depois, no contexto actual, as formações e oportunidades online são muito importantes e é inevitável que o façamos. Espero poder iniciar uma série de conferências online, pequenas palestras que vão focar-se nas oportunidades de cooperação académica. No fundo, [o Centro] vai revisitar os acordos que já foram feitos, as declarações de prioridades, e fazer revisão sucessiva, em várias conferências, daquilo que são as oportunidades bilaterais entre a China e os países de língua portuguesa e do que se poderá fazer em conjunto a nível multilateral. O Centro vai, portanto, tentar desbloquear essa informação sobre o projecto da Grande Baía. Nos últimos anos lidei com muita gente que estava atenta aos desenvolvimentos da China. Se perguntar quem sabe o que é “Uma Faixa, Uma Rota”, a possibilidade de as pessoas saberem é elevada, mas com o projecto da Grande Baía isso não acontece. Estas coisas demoram tempo e é preciso criar canais de divulgação. Quando falo em falta de informação refiro-me à informação que ainda não chegou às pessoas que potencialmente têm interesse [na Grande Baía], mas que não têm conhecimento específico da forma como esta região vai ter um papel importante nesse quadro geral e no futuro. Qual é o público alvo do Centro? Estudantes da China que estudaram língua portuguesa e que agora precisam de se focar em áreas específicas, além da tradução e interpretação. Esse é um público alvo que existe em grande quantidade na China. Mas também começa a existir em Portugal um número crescente de pessoas que seguiram formações dedicadas às relações com a China, com uma componente maior ou menor de língua chinesa, e que passam pelas relações internacionais ou pela economia. Temos ainda outro público alvo, muito importante, que são as pessoas que, nas instituições académicas, têm a responsabilidade de dinamizar oportunidades de cooperação com impacto no desenvolvimento profissional dos estudantes e também na capacidade das instituições de trazerem valor acrescentado à sociedade. Nas universidades há cada vez mais serviços especializados e cada vez mais internacionalizados. Aí há muita necessidade de informação sobre aquilo que se passa nesta região do globo. Por aqui vai passar muito do desenvolvimento económico de ponta, e também tecnológico. No caso de Macau, vai também existir um desenvolvimento na área do lazer. Outro público alvo são os profissionais que já estão a trabalhar e que podem ter interesse em determinadas formações. Quando começam as primeiras acções do Centro? Em Janeiro. Acabei de chegar e preciso de um bocado de tempo de adaptação. A eficácia daquilo que posso fazer está muito ligada à compreensão do próprio contexto institucional, mas penso que em Janeiro poderemos anunciar as primeiras conferências e iniciativas. Penso que serão anunciadas ainda antes do fim do ano. Quais os desafios com que já se deparou e que podem influenciar o trabalho do Centro? É preciso ver o meu contexto. Venho de Coimbra, que não tem o contexto de centralidade clássica das grandes capitais. Venho de um contexto em que se explora um tipo de centralidade diferente, que é a capacidade de juntar aquilo que de outra forma não se juntaria. Coimbra é uma cidade de 120 mil habitantes, mas onde se juntam estudantes de 100 países num espaço muito pequeno. De um certo critério de centralidade e relevância, que é a dimensão, número de ligações, é substituído de uma forma específica pela capacidade de ter diversidade muita grande de, num espaço muito pequeno, multiplicar encontros. A minha esperança é que Macau possa reproduzir um bocado esse tipo de lógica. Aliás, até a um nível muito superior, porque o faz há muito mais tempo e com diversidade muito maior, num espaço mais pequeno. O grande potencial é a capacidade de juntar aquilo que, de outra forma, não se juntaria. Em termos de infra-estruturas existe capacidade do IPM, ou estas formação podem vir a decorrer em outros locais? Nesta fase, fazemos uma grande aposta no online. Vejo que o IPM teve de fazer uma enorme transformação na sua capacidade de fazer formação online. Também já pude constatar que é uma instituição extremamente eficaz e bem organizada, se bem que numa dimensão mais pequena daquilo que eu estava habituado. Não tenho receio e sei que aquilo que o IPM está muito sintonizado com as prioridades do Governo e com as prioridades gerais do Governo Central. Isso assegura uma sustentabilidade deste projecto que, apesar desta fase menos boa que estamos a passar, não me coloca grandes preocupações. O Centro planeia trabalhar com outras universidades ou instituições locais ligadas ao ensino do português? Há a ideia de criar sinergias? Penso que sim. Também existe o IPOR [Instituto Português do Oriente]. Em matéria de divulgação e promoção do português na China e no Oriente no geral todas as entidades envolvidas não são demais. No curto espaço de tempo em que aqui estive, vi que há de facto muita colaboração, com o IPOR nomeadamente. Sei também que há uma grande articulação entre as pessoas dedicadas a esta área nas várias instituições. Todos são poucos para o trabalho que se faz e todos, no fundo, são muito próximos. Quanto tempo vai ser este seu mandato? O meu contrato é de dois anos. Acima de tudo, a minha missão prevista para o centro passa pela demonstração do empenho que o IPM tem colocado em ser um agente eficaz nesta ligação entre a China e países de língua portuguesa do ponto de vista académico. Era a experiência que tinha antes e que agora deste lado vejo de maneira mais clara. Esta fase corresponde a um aumento da capacidade do IPM de responder às necessidades e consolidar o que já foi feito com bastante sucesso na área da língua.
Andreia Sofia Silva SociedadeObituário | Manuela Martins, a mãe “avant-garde” e a pintora “honesta” Manuela Martins faleceu na madrugada desta segunda-feira, em Lisboa, aos 88 anos. Residente em Macau durante vários anos, deixou um cunho pessoal no mundo das artes do território, onde também deu aulas. Os amigos recordam a mãe e a professora, mas também “a companheira de tertúlias”, cuja energia “contagiava conversas” [dropcap]A[/dropcap] última de tantas exposições que protagonizou em Macau realizou-se em Janeiro de 2017 e teve como título “Observações”. Na Casa Garden, revelavam-se 25 a 28 telas pintadas a óleo e que continham o habitual e característico traço da pintora Manuela Martins, falecida esta segunda-feira, de madrugada, em Lisboa, aos 88 anos de idade. Perante a sua morte, os amigos recordam as várias perspectivas que a sua vida tomou. Não foi apenas artista ou professora, mas foi também mãe. É desta forma que a descreve Rui Paiva, artista e académico, que com ela privou numa Macau de outros tempos. “Nos anos 80 e inícios de 90, Manuela era a companheira de tertúlias, jantares e almoços que um grupo, talvez o seu núcleo duro, organizava. Éramos artistas, professores, jornalistas, funcionários públicos, pessoas. Não estávamos nem emigrados nem exilados, numa lufada de ar fresco na complexa sociedade de Macau. Sentíamos todos que fazíamos parte de Macau. Manuela sempre com a sua observação profunda e o sorriso irónico e calmo.” Manuela Martins foi também “uma mãe muito avant garde”, mãe de “dois talentosos”, Rui e Nuno Calçada Bastos. Rui Paiva recorda também Manuela Martins como uma “artista muito respeitada, como que a decano das artes na comunidade, com a sua formação superior nas artes e o seu talento”. O seu trabalho tinha “um traço muito bonito, uma pintura de velaturas muito peculiares”. Mas Rui Paiva lamenta que a obra de Manuela Martins tenha sido pouco conhecida. “Fosse Manuela mais virada para a sua pintura, geralmente figurativa, teria sido outra a sua exposição e reconhecimento geral.” Para esta questão talvez tenha contribuído o facto de Manuela Martins ter feito um caminho diferente que não passou apenas pelas artes. Rui Calçada Bastos assim o lembrou, em 2017. “O que aconteceu com a minha mãe foi ter mudado de vida várias vezes, foi viver para Moçambique, apaixonou-se, teve filhos, tudo rumos complicados para uma carreira artística. Sempre foi honesta consigo própria, pintando aquilo que via.” Sempre a alegria Manuela Martins sempre fiel ao óleo sobre tela e às representações figurativas. Estudou Belas Artes nos anos 50 ao lado de artistas conceituados como Lourdes Castro e José Escada. Também Joaquim Franco, pintor e residente em Macau, privou com a artista. Recorda “a professora, a artista plástica e sobretudo a amiga que tive o privilégio de conhecer aquando da minha chegada a Macau. A sua alegria, amabilidade, a sua energia contagiavam as nossas conversas”. Joaquim Franco ainda hoje tem um trabalho assinado por Manuela Martins, uma aguarela. Trata-se de um “figurativo seu, muito próprio, que transborda alegria e simplicidade quase comoventes, realçando a energia, sensualidade e vitalidade que punha na vida e fazia delas as suas qualidades humanas mais visíveis”. José Drummond, outro artista de Macau, também recordou a importância da obra de Manuela Martins nas redes sociais. “Obrigada Manuela pelo tanto que me ajudaste e que as palavras não são suficientes para o exprimir.” No texto introdutório da exposição “Observações”, Drummond falou da “alegria de viver de Manuela Martins que foi sempre complementada pelo amor e satisfação de pintar”. “É também importante o facto de Manuela Martins ter residido em Macau, ganhando por isso o estatuto de artista da terra, e esta exposição marca o retorno para o público local de uma artista que foi também uma referência na educação visual do território”, escreveu José Drummond em 2017.
Andreia Sofia Silva EntrevistaJustin Cheong, activista: “Trump é o regresso da barbárie” Residente de Macau e com passaporte português, Justin Cheong vive em Oakland, na Califórnia, onde lidera uma ONG que luta pela defesa dos direitos dos imigrantes sem cidadania americana. O activista acredita que a derrota de Donald Trump nas eleições só foi possível graças às acções de rua realizadas nos últimos anos contra o racismo e em prol dos direitos das minorias. A eleição de Joe Biden representa “uma vitória do movimento dos direitos civis”, assegura [dropcap]J[/dropcap]oe Biden foi eleito o 46º Presidente dos EUA. Em termos gerais, que impacto social e económico acha que vai ter no país? Estas eleições presidenciais representam a vitória do movimento dos direitos civis e da luta pelos direitos dos imigrantes, que tem vindo a perder contra Donald Trump e o seu movimento racista. O resultado da eleição leva a uma reflexão do desenvolvimento histórico na luta pela igualdade social. Não é exagerado dizer que se não tivessem ocorridos demonstrações em massa e mobilizações nas ruas nos últimos anos, e particularmente este ano, a derrota de Donald Trump não teria sido viável. A mudança mais significativa e o impacto desta eleição é a lição que o movimento social de massas trouxe à causa pela igualdade. Esta acção pode fazer história e determinar a direcção do país. No que diz respeito à BAMN [Coalition to Defend Affirmative Action, Integration and Immigrant Rights and Fight for Equality by Any Means Necessary] vamos continuar a providenciar liderança para que as acções do movimento continuem a ser encorajadas e para que vençam. A liderança do nosso movimento é um factor determinante para sabermos se os EUA irão enfrentar uma mudança dramática para o melhor ou para o pior. O movimento dos direitos civis e dos imigrantes deve continuar a lutar de forma independente em relação aos partidos políticos para atingir os seus objectivos. Teme uma espécie de guerra civil entre republicanos e democratas, com mais violência nas ruas? O conflito social entre o movimento da defesa dos direitos civis e dos imigrantes, por um lado, e o movimento racista de Donald Trump, por outro, não vai terminar e vai continuar a aumentar enquanto existir desigualdade social. Vai continuar enquanto os imigrantes continuarem presos em campos de concentração, as minorias raciais continuarem a ser assassinadas por uma polícia racista e o Governo priorizar os lucros ao invés das vidas, ao reabrir a economia no meio da pandemia da covid-19. A BAMN acredita que a única forma de pôr término à violência incitada pelo movimento racista de Donald Trump é continuar a afirmar a sua autoridade e manter o poder de mobilizar as ruas, ganhando uma verdadeira igualdade de direitos para os imigrantes e terminar com o racismo. A derrota eleitoral de Donald Trump é apenas o início do despertar do movimento pela igualdade social. A BAMN reconhece a importância da independência do movimento, tanto do ponto de vista do partido democrata como do partido republicano, para ganhar os direitos reais dos oprimidos. A desumanização e o tratamento de segunda classe para os imigrantes devem terminar ou, de outra forma, não haverá paz. Que tipo de mudanças espera de Joe Biden no que diz respeito às políticas de imigração? Nos últimos anos, tornámos claro que queremos o direito a ter cidadania plena para todos os imigrantes, com ou sem papéis. Temos mobilizado massas com acções directas para travar as deportações de imigrantes por parte da Immigration Customs and Enforcement (ICE). Fizemos uma mobilização nacional para exigir a prisão dos polícias racistas que assassinaram pessoas negras ou latinas. Mobilizámos e fomos a tribunal para travar a reabertura de escolas e prevenir os contágios de covid-19 nas nossas cidades. Estas são as exigências do nosso movimento e queremos que Joe Biden e o partido Democrata as conheçam. Espera uma relação mais harmoniosa entre os EUA e a China, em oposição ao proteccionismo de Trump? É claro que tanto o partido Democrata como o Republicano concordam que os EUA devem impor uma série de políticas externas para manter a hegemonia do país. Os dois partidos partilham este objectivo, apesar de terem métodos diferentes. No entanto, do ponto de vista da BAMN, a nossa preocupação é diferente porque pretendemos criar um movimento internacional. Acreditamos que as pessoas oprimidas na China e no resto do mundo têm o interesse comum de lutar contra a desigualdade e isso vai unir-nos no mais básico. A competição pelo mercado mundial entre a China e os EUA tem sido, de facto, a grande causa para conflitos sociais e políticos. Estes conflitos têm afastado pessoas das suas casas, tornando-as refugiadas, pois são apanhadas no fogo cruzado da competição entre os EUA e a China. A BAMN coloca-se ao lado dos oprimidos e luta pelos seus interesses. Damos as boas-vindas a quem venha para os EUA na qualidade de refugiados. Lutamos ao seu lado para a partilha dos nossos interesses em prol da defesa dos direitos humanos e de um tratamento igualitário com respeito e dignidade. Além das políticas de imigração, que análise faz à Administração Trump? Donald Trump não tem quaisquer interesses a não ser os dele próprio. A sua Administração, na história americana, representou um dos lados mais racistas e retrógrados da sociedade americana. Donald Trump é um ideólogo e demagogo para a América branca, rica e privilegiada. Esta visão é antiga, ultrapassada e morta. A tentativa de trazer isto de volta é um retrocesso no desenvolvimento humano e o regresso da barbárie. É a antítese da civilização e da ciência. Quatro anos depois, os EUA são um país mais racista? É algo que está mais polarizado. O movimento de defesa dos direitos civis e dos imigrantes nunca foi tão forte como agora. Está mais sofisticado, e mais maduro. Olhando para os últimos 10 a 15 anos, as lições que aprendemos colocaram-nos na posição histórica de vencer direitos verdadeiramente iguais. Ainda temos um longo caminho a percorrer para atingir os nossos objectivos, mas estamos mais determinados agora que sabemos o que conquistámos. No que diz respeito aos racistas, o seu medo de igualdade social e da perda de privilégios vai continuar a crescer. O seu medo do nosso poder é real. Os opressores vão tentar manter a sua posição até ao último minuto e até não poderem mais. Espera uma nova estratégia de Joe Biden em relação à situação política de Hong Kong? Esta questão é complicada. Há muito mais em comum entre as pessoas oprimidas dos EUA, de Hong Kong ou da China. Muito do que tem acontecido em Hong Kong tem levado a divisões. Há um sentimento anti-China, e é também cultivado um sentimento anti-Ocidente. Mas há apenas uma coisa importante, que é a igualdade, os direitos de cidadãos viverem sem opressão ou exploração. Partilhamos esta luta com as pessoas oprimidas de Hong Kong e da China. Estes direitos nunca poderão ser obtidos se as pessoas oprimidas de todo o mundo falharem na quebra destas tácticas de dividir para reinar ou divisões nacionalistas. Joe Biden não pode resolver este problema com Hong Kong. Joe Biden e o partido Democrata estão mais preocupados com aquilo que Hong Kong pode fazer tendo em conta os interesses da economia americana e os círculos de poder. Com um novo Presidente, planeia alterar a estratégia na luta pela defesa dos imigrantes? Durante a Administração Trump, a BAMN continuou a lutar pelo meu caso e pelos casos de outros imigrantes. Mobilizámo-nos para travar os ataques e as deportações da ICE nos tribunais, nas ruas e nos aeroportos. Muitas pessoas perderam a esperança quando Trump foi eleito. Mas muitas mais pessoas escolheram lutar. E por termos lutado, vencemos. Eu ganhei o meu caso e agora o movimento ganhou ao colocar o Trump fora. O Justin estava em litígio para obter Green Card. O processo está, então, concluído? Sim, estou a planear candidatar-me à cidadania dentro de dois anos. Em Junho do ano passado, fui a tribunal e recebi o Green Card. Pensando nisso, quando fui colocado num centro de detenção para imigrantes, em Junho de 2016, Trump estava em campanha eleitoral. Saí do centro em Janeiro de 2017, quando Trump tomou posse.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Projecto de lei sindical de Pereira Coutinho e Sulu Sou reprovado Apenas sete deputados votaram a favor do projecto de lei sindical de José Pereira Coutinho e Sulu Sou. A maioria do hemiciclo prefere esperar pela proposta que o Governo entregou ao Conselho Permanente de Concertação Social. No entanto, Coutinho acusa: “era o que mais faltava, a AL andar a reboque de um conselho consultivo” [dropcap]P[/dropcap]ela 12ª vez, a Assembleia Legislativa (AL) voltou a reprovar um projecto de lei sindical da iniciativa de deputados. No caso de José Pereira Coutinho, autor do diploma em parceria com Sulu Sou, já é a oitava vez que a reprovação é o resultado final. Na sexta-feira, apenas sete deputados votaram a favor numa votação com várias abstenções. Um dos argumentos usados por quem votou contra foi o facto de o Executivo ter entregue a sua proposta ao Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) para análise. Mas, ao HM, José Pereira Coutinho teceu duras críticas ao desempenho do hemiciclo. “Uma coisa não impede a outra e a AL não deve andar a reboque de um órgão consultivo. Era só o que faltava!”, apontou. Já Sulu Sou disse “lamentar” este desfecho. O debate arrancou com o deputado Iau Teng Pio a lembrar que “o CPCS é um órgão que assegura o equilíbrio entre as três partes [Governo, patrões e trabalhadores], portanto cabe ao Executivo pedir o parecer do CPCS e isso é que mais corresponde ao que consta na Lei Básica”. Mak Soi Kun começou por dizer que vê quase todos os anos este projecto de lei. “Coloco as mesmas questões. O Governo faz leis e nós, deputados, dizemos que nunca faz consultas públicas. Se queremos legislar sobre esta matéria sem consulta pública não será um problema?”, questionou. Para o deputado, Pereira Coutinho e Sulu Sou deveriam ter comunicado com o hemiciclo antes de apresentar o projecto de lei. “Uma anedota” Pereira Coutinho respondeu a Mak Soi Kun dizendo que nem todas as propostas de lei apresentadas pelo Governo foram submetidas a consulta pública antes de chegar à AL. “Quando um projecto é submetido ao CPCS para consulta nunca sabemos quanto tempo lá vai ficar. Não percebo porque é tão difícil obter a aprovação dos colegas quando sabemos que temos de cumprir a Lei Básica.” O deputado considerou que a lei sindical é ainda mais importante numa altura em que muitos trabalhadores estão em regime de licença sem vencimento devido à pandemia. “Segundo a DSAL, só houve uma queixa durante a pandemia, e muitos trabalhadores estão com licença sem vencimento. Isso é uma anedota, só uma queixa? Os trabalhadores têm receio de apresentar queixas e sofrer consequências.” Sulu Sou frisou o facto de o Governo não ter apresentado, até agora, um calendário concreto para legislar sobre os sindicatos. “O secretário Lei [Wai Nong] disse-me numa resposta que a consulta pública poderia avançar em Julho, mas já estamos em Novembro. Podemos ver que passaram quatro anos desde o início desses trabalhos e ainda não vi nenhuma iniciativa do Governo”, disse. Além disso, o CPCS “reúne à porta fechada”, rematou. No plenário de sexta-feira foi também aprovado, na generalidade, o “regime de benefícios fiscais para o exercício das actividades destinadas à inovação científica e tecnológica”.
Andreia Sofia Silva PolíticaMedicina tradicional chinesa | Aprovada na generalidade lei que regula licenciamento [dropcap]F[/dropcap]oi aprovada na sexta-feira, por unanimidade, a proposta de “Lei da actividade farmacêutica no âmbito da medicina tradicional chinesa e da inscrição de medicamentos tradicionais chineses”. Pereira Coutinho questionou o facto de o diploma não definir quais os membros da comissão técnica responsável pela apreciação e inscrição dos medicamentos tradicionais chineses. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elise Ao Ieong U, adiantou que essa questão poderá ser resolvida durante a discussão na especialidade. Outro membro do Governo explicou que a comissão “será composta por especialistas na área da medicina tradicional chinesa e na análise de medicamentos”, além de que o parecer emitido por esta entidade “será obrigatório, mas não vinculativo”. “Respeitamos a opinião de especialistas e académicos e quando houver divergências pedimos a uma terceira entidade para emitir o seu parecer”, esclareceu o responsável.
Andreia Sofia Silva PolíticaOrçamento 2021 | Deputados aprovam, mas pedem medidas de apoio [dropcap]F[/dropcap]oi aprovada na generalidade, na sexta-feira, a proposta de lei do Orçamento para 2021 que retira à Reserva Financeira da RAEM cerca de 26,5 mil milhões de patacas para equilíbrio das contas. Apesar dos votos a favor, muitos deputados voltaram a pedir mais medidas de apoio à população. “Vai ou não haver uma terceira ronda de medidas?”, questionou Sulu Sou. “Esperávamos que na Semana Dourada houvesse uma recuperação, mas essa não foi a realidade, pois tivemos 60 mil visitantes no mês passado.” O deputado do campo pró-democracia também defendeu que o saldo de 39 mil milhões de patacas da Fundação Macau poderia ser canalizado para mais apoios. Também Leong Sun Iok disse esperar que o Executivo “possa lançar uma terceira ronda de apoios à população”. Ella Lei fez o mesmo pedido. Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, pediu para a população se preparar “psicologicamente” para o prolongamento da crise e lembrou que o montante da Reserva Financeira deve ser “bem usado” a pensar no futuro. A proposta de lei do Orçamento para 2021 determina ainda que o Governo não irá depositar as habituais sete mil patacas nas contas individuais dos residentes permanentes do regime de previdência central não obrigatório. Uma medida que irá afectar os idosos, lembrou Sulu Sou. Lei Wai Nong disse nada poder fazer tendo em conta a quebra nas receitas da Administração.
Andreia Sofia Silva PolíticaDeputados exigem revisão da lei e medidas preventivas contra abuso sexual de menores [dropcap]O[/dropcap] crescente número de casos de abuso sexual de menores nos últimos tempos levou os deputados Lei Chan U e Wong Kit Cheng a exigirem medidas preventivas. Na sessão plenária de sexta-feira, o deputado Lei Chan U, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), alertou para o facto de “a idade das vítimas de abuso sexual ter vindo a diminuir”, e de um terço dos casos ter ocorrido em estabelecimentos de ensino. Desta forma, o deputado pede o reforço “da fiscalização dos estabelecimentos e dos formadores”, e a rápida conclusão da revisão do decreto-lei que regula o funcionamento dos centros de explicações. Além disso, o deputado considera importante “reforçar a educação sexual das novas gerações”. Para isso, o Governo deve criar “o quanto antes um programa de educação sexual sistemático, generalizado e adaptado às diferentes faixas etárias”. Também Wong Kit Cheng levantou a problemática dos abusos sexuais de menores, citando dados oficiais. Estes mostram que o número de processos relacionados com materiais pornográficos envolvendo menores passou de um para 19, enquanto que o número de casos de abuso sexual foi de 10 na primeira metade deste ano, o dobro em relação a 2019. A deputada também defende celeridade na revisão da legislação que regulamenta os centros de explicações, porque “alguns casos de abuso sexual aconteceram em instituições de ensino ou de serviço social e envolveram trabalhadores destas instituições”. Base de dados precisa-se Para controlar o perfil de funcionários destas instituições, a deputada pede que o Governo “estude a viabilidade da criação de um mecanismo de consulta de registos semelhante ao que está relacionado com os crimes sexuais”, ou que crie mesmo “uma base de dados sobre criminosos sexuais”. No entanto, “o empregador só os pode consultar com o consentimento do trabalhador que tenha contacto próximo com menores”. Wong Kit Cheng pede também a “introdução da regra de actualização anual do registo para quem trabalha nas creches e nas instituições de ensino, com vista a salvaguardar o nível do pessoal e contribuir para uma melhor protecção das crianças”.
Andreia Sofia Silva PolíticaCovid-19 | Deputados defendem mais medidas para recuperação económica [dropcap]V[/dropcap]ários deputados voltaram a defender hoje no hemiciclo uma nova ronda de apoios à população como forma de combate à crise causada pela pandemia do novo coronavirus, além de outras medidas para fomentar a economia. Segundo a deputada Ella Lei, é necessário lançar uma terceira ronda de apoios tendo em conta os elevados números do desemprego. “Prevê-se que, face ao aumento contínuo dos factores de incerteza nas regiões vizinhas, a economia possa não ter melhores perspectivas nos próximos meses, por isso o Governo ainda necessita de lançar medidas para apoiar os diferentes sectores e os residentes a ultrapassarem as dificuldades”, disse a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) no período de interpelações antes da ordem do dia. “Tendo em conta uma eventual recessão económica e uma subida contínua da taxa de desemprego, o Governo deve definir, o quanto antes, planos de contingência, lançando a terceira ronda de apoio”, acrescentou. Ella Lei frisou que, apesar do lançamento do programa “Vamos, Macau!”, com vista à recuperação do turismo, “o número de turistas não tem sido o ideal”, pelo que espera que o Executivo “continue a negociar com o Interior da China a retoma gradual de excursões em Macau e da emissão de vistos electrónicos para turismo”. A deputada deseja também que sejam promovidas as excursões entre Macau e a ilha de Hengqin “para que a indústria turística possa recuperar a vitalidade e para que os trabalhadores tenham mais oportunidades de emprego”. Além disso, “devem-se continuar a implementar medidas de apoio aos trabalhadores do sector do turismo e aos desempregados”, tal como “continuar com o plano de visitas guiadas aos pontos turísticos”. Um bom carnaval Wang Sai Man, deputado eleito pela via indirecta, destacou o programa “Carnaval para desfrutar Macau”, apresentado esta semana pelo Governo. Trata-se de uma iniciativa “que merece reconhecimento e que contribuirá para estimular a economia que se encontra em recessão”. O deputado entende que o Governo “pode impulsionar a prestação de apoios à indústria para desenvolver mais produtos online, como viagens e exposições”. “Durante a pandemia ou depois, vai ser necessário um tempo bastante longo para a normalização das viagens e reabertura das convenções e exposições. Proponho ao Governo que aproveite mais a publicidade online para estimular potenciais turistas a viajar e promova a organização de convenções e exposições”, disse o deputado. Mais emprego O deputado Si Ka Lon, por sua vez, defendeu que o Governo deve investir em infra-estruturas públicas “para aumentar os postos de trabalho”, uma vez que “não há outra indústria em Macau que possa acolher um número tão elevado de desempregados”. Na visão deste membro do hemiciclo, que representa a comunidade de Fujian em Macau, o Executivo “continuar a impulsionar a economia interna e criar mais emprego”, pedindo também o alargamento do plano de subsídio para a formação de desempregados. “Espero que as autoridades procedam ao acompanhamento do mercado de emprego nos próximos seis meses e introduzam outros planos de forma atempada, de modo a estabilizar o mercado” laboral, frisou. Olhar a pobreza Agnes Lam optou por destacar o impacto da pandemia nas famílias “quase pobres” ou que “estão em risco de cair na rede de pobreza devido ao desemprego”, ou ainda os cuidadores informais. A deputada citou mesmo um inquérito recentemente divulgado pela Caritas de Macau e pelo Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau que revela que cerca de 18 por cento dos utentes dos serviços do banco alimentar estão a tratar-se de depressão, enquanto que 16 por cento afirmaram ter intenção de suicidar-se. Neste sentido, Agnes Lam considera que o Governo “deve reforçar os diversos apoios às pessoas em situação vulnerável”, adoptando o conceito de “prevenção da pobreza”. Este conceito passa por “tomar como referência os limites dos activos das famílias com elementos empregados” e “flexibilizar a exigência do pedido de apoio financeiro, prestar apoio básico, no prazo de seis meses, às pessoas que ficaram sem emprego devido à epidemia, a fim de poderem ultrapassar as dificuldades”. Além disso, a deputada defende que o Executivo de Ho Iat Seng adopte a política “trabalho sim, caridade não”, criando “mais postos de trabalho, de curta duração, para a prestação de cuidados domiciliários aos idosos”. Mais lugares nos casinos O deputado Zheng Anting destacou, no período antes da ordem do dia, os problemas que o sector do jogo atravessa devido à pandemia. “Alguns profissionais do sector confessam que, neste momento, o sector do jogo está a enfrentar muitas dificuldades e só se pode manter com a ‘base anteriormente acumulada’”, apontou. Zheng Anting considera que o sector acabou por não beneficiar das medidas de apoio lançadas pelo Governo nos últimos meses, pelo que o Executivo “deve reforçar a comunicação com o sector do jogo e tomar atenção às dificuldades com que se depara actualmente”. O deputado defende, por isso, que, com o “abrandamento da pandemia seja permitido o aumento adequado do número de lugares sentados em cada mesa de jogo”, a fim de aumentar as receitas.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaSegurança nacional | “Temos de aprender com as experiências do território vizinho”, diz Chan Wa Keong [dropcap]O[/dropcap] deputado Chan Wa Keong defendeu hoje na Assembleia Legislativa (AL) a revisão da lei relativa à segurança e defesa do Estado e diplomas legais complementares. “Temos de aprender com as experiências do território vizinho, colmatando lacunas e apresentar as ideias sobre o sistema e o mecanismo de defesa da segurança do Estado com características de Macau” apontou. Para Chan Wa Keong, o Governo deve aperfeiçoar “os mecanismos institucionais de defesa da segurança do Estado com características de Macau e melhore os respectivos mecanismos de execução”. O deputado sugere a criação da “figura de assessores”, a fim de “manter bem a nossa posição e definir bem o nosso rumo para que as políticas possam ser implementadas”. Chan Wa Keong pediu também que o Governo “reforce a capacidade de governação do pessoal relacionado com a defesa da segurança do Estado”, através do aumento de salários e regalias. Além disso, deve ser planeada “seriamente a educação e formação desse pessoal, para que as pessoas envolvidas tenham um pensamento firme e estejam constantemente alerta em relação à segurança”. Em Macau, a lei relativa à segurança e defesa do Estado vigora desde 2009. O Governo já mostrou vontade de rever o diploma mas não apresentou ainda quaisquer detalhes ou um calendário para o efeito. Em Hong Kong, a lei de segurança nacional vigora desde Junho de 2020.
Andreia Sofia Silva SociedadeBurla | Estudante chinês obrigado a apresentar-se às autoridades [dropcap]U[/dropcap]m jovem natural do interior da China, que estuda “numa universidade em Macau”, suspeito do crime de burla telefónica, está obrigado a apresentar-se periodicamente às autoridades, além de estar proibido de deixar Macau para evitar a sua fuga do território. As medidas de coacção aplicadas pelo Juiz de Instrução Criminal tiveram como objectivo evitar que o suspeito “continue a prática das actividades criminosas” e a perturbar a ordem pública. Segundo o Ministério Público (MP), o arguido “telefonou à ofendida, alegando que ela se envolveu em uma actividade criminosa e solicitou-lhe, além do fornecimento de dados pessoais, que transferisse os seus depósitos bancários para a conta definida através do ‘e-banking’, no sentido de ser efectuada a respectiva inspecção”. Uma vez que a ofendida “não sabia usar os serviços bancários pela Internet, o arguido contactou-a e acompanhou-a ao banco para proceder às formalidades bancárias, tendo a ofendida transferido, por várias vezes, mais de dois milhões de dólares de Hong Kong da sua conta”. Depois deste acto a mulher “suspeitou ter sido burlada e participou o sucedido à polícia, que, posteriormente, encontrou o arguido no seu dormitório”. As autoridades apuraram que o estudante “aproveitou documentos falsificados para efectuar a burla de valor consideravelmente elevado, prática esta que constitui os crimes de burla de valor consideravelmente elevado e de falsificação de documento”. O crime de burla é punível com uma pena de prisão até dez anos de prisão, enquanto que o crime de falsificação de documentos é punível com pena de prisão de até três anos. O MP prossegue agora com a investigação, “no sentido de encontrar os restantes suspeitos” da prática do crime de burla telefónica.
Andreia Sofia Silva EventosTIMC | Música, Yoga e cine-concertos são as novidades do festival que arranca dia 13 Sob o tema dos Neons, a edição deste ano do festival This Is My City traz um cartaz diverso que vai muito além dos concertos com músicos locais. Uma das novidades é a realização de cine-concertos, que não são mais do que clássicos do cinema mudo musicados por artistas locais. Em ano de pandemia, a organização do festival decidiu incluir uma vertente de saúde e bem-estar com um programa de yoga [dropcap]E[/dropcap]stá aí a nova edição do festival This is My City (TIMC) que, dedicada ao tema dos Neons, promete uma diversidade de conteúdos e apresentações ao grande público. Entre os dias 13 e 22 de Novembro, haverá espaço para a melhor música que se faz em Macau, mas não só: estão previstas exposições multimédia, actividades ligadas à prática do Yoga e ainda cine-concertos, onde clássicos do cinema mudo ganham uma nova roupagem musical composta por músicos locais. No total, são mais de 30 artistas que integram esta iniciativa. A organização decidiu fazer “uma aposta exclusiva nas criações locais”, uma vez que estamos “num ano extraordinário” marcado pela pandemia. O TIMC divide-se em dois blocos e o primeiro começa já no próximo fim-de-semana, nos dias 13 e 14, no palco da discoteca D2, na Doca dos Pescadores. A noite de sexta-feira será dedicada ao Rock e à música independente, com a participação de bandas como os Pixels, Ryan Carroll, Trainspotters, ARI, Party Animals e o DJ Lobo Ip. Os 澳門 Pixels são um “projecto que, por admiração e talento, interpreta alguns dos temas da irónica banda de rock alternativo americana Pixies”. Já Ryan Carroll “é conhecido entre a comunidade local por tocar um pouco por todo o lado e representar o conceito de one-man show”, explica a organização. Depois destes concertos segue-se um longo DJ Set, primeiro com os Trainspotters. Trata-se de um “colectivo que, por carolice, se dedica às melhores escolhas de música independente”. No sábado, dia 14, é o dia de apresentar “o melhor da música Funk que se faz por cá”. Primeiro sobe ao palco o músico ARI com os Party Animals, seguindo-se o DJ Set de Lobo Ip. Nestes dois dias, as portas do D2 abrem às 22h30 e os bilhetes custam 180 patacas, com direito a duas bebidas. Musicar o cinema mudo Uma das novidades do TIMC deste ano passa pela introdução do cinema, mas de uma forma original. “Na continuidade da aposta em conteúdos originais, o grande destaque do TIMC 2020 é a apresentação de duas sessões de cine-concertos”, aponta a organização, que não são mais do que a exibição de “clássicos do cinema mudo que marcaram o início da sétima arte e que até hoje se destacaram internacionalmente”. Para dar uma nova roupagem a estes clássicos, a organização do TIMC “desafiou os músicos locais a compor e a interpretar os acompanhamentos sonoros, tendo em consideração a adaptação da personalidade dos artistas aos conteúdos das películas”. Esta iniciativa arranca a 21 de Novembro com a exibição da longa-metragem “The Goddess”, de 1934, realizada por Yonggang Wu e interpretada pela icónica actriz Ruan Lingyu. A película que marca o fim dos últimos dias do cinema mudo vai ser sonorizada pelo projecto Faslane e pelo artista Akitsugu Fukushima. A 22 de Novembro serão exibidas seis curtas-metragens “seleccionadas pela sua estética e relevância na história do cinema mudo”. São elas “Alice in Wonderland” de Cecil Hepworth & Percy Stow, de 1903 musicado pela pianista Frog.W, “The Dancing Pig” (1907) musicado por Paulo Pereira, “Vormittagsspuk” (Ghosts Before Breakfast) de Hans Richter (1928) acompanhado por Rui Rasquinho, “Le Voyage sur Jupiter” (Voyage to Jupiter) de Segundo de Chomón de 1909 com música de Iat U Hong, “La Grenouille” (The Frog), de 1908, também realizada por Segundo de Chomón, que vai ser musicada por Dickson Cheong. Caligrafia e Yoga Na segunda parte do festival, o TIMC propõe-se ainda apresentar uma outra novidade, desta vez associada à saúde e bem-estar. “A promoção de hábitos saudáveis de vida é também uma das características que diferenciam o TIMC de 2020 e é traduzida com a criação de um programa dedicado ao Yoga. Num ano marcado pela pandemia a ideia é alertar para a importância de manter a saúde e contribuir para a saúde pública”, anuncia a organização. Desta forma, as sessões de Yoga acontecem nos dias 20, 21 e 22 com os instrutores Rita Gonçalves, Lily Li e Valentina. Estas sessões serão acompanhadas pelas Taças Tibetanas de Gil Araújo. Além desta vertente ligada ao bem-estar, o TIMC traz também iniciativas ligadas à caligrafia oriental e ocidental com dois calígrafos que vão fazer uma performance com as suas técnicas. As imagens do espectáculo serão manipuladas pelo VJ Os Wei, tendo acompanhamento musical do DJ A Long. Os Wei é também protagonista de uma instalação de fotografia que será inaugurada dia 20, sendo que nesse dia a banda Concrete Lotus actua ao vivo. No dia seguinte é a vez do Live Music Association acolher a after-party do TIMC. O cartaz encerra-se com mais uma vertente, onde a participação da população é o objectivo principal. Desta forma, será realizada uma open call onde os Neons são o tema principal, em que a população “é desafiada a pegar nos telefones e ir em busca dos emblemáticos Neons que caracterizam esta ‘nossa’ idade e publicar as suas fotos com o hashtag #timcneonhunt2020”. As imagens vão ser projectadas ao longo do segundo bloco de eventos, de 20 a 22 de Novembro, nas Oficinas Navais 2. “O objectivo passa por recuperar o imagético que caracteriza Macau e fazer um tributo aos Neons que resistem e a quem ainda se dedica à sua produção”, conclui a organização.