Português | Estudo aponta falta de foco do Brasil em Macau e na China

“Brazilian foreign policy and the quest to promote portuguese: building bridges through Macau”, estudo da autoria de João Simões, da Universidade Cidade de Macau, e de Daniel Veras, chama a atenção para a necessidade de o Brasil apostar mais nas vantagens de Macau na promoção do português, assim como na China

 

Um estudo publicado recentemente na revista Janus, da Universidade Autónoma de Lisboa, chama a atenção para o facto de o Brasil não estar a aproveitar devidamente as vantagens que Macau pode oferecer na promoção da língua portuguesa, integrada na política externa do país. “Brazilian foreign policy and the quest to promote portuguese: building bridges through Macau” [A política externa brasileira e a questão da promoção do português: construir pontes através de Macau] tem autoria de João Simões, professor assistente da Universidade Cidade de Macau (UCM) e Daniel Veras, docente na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, no Brasil.

“É tempo de o Brasil ter uma presença mais significativa em Macau, não só através dos canais diplomáticos, mas também estimulando o envolvimento de vários actores não estatais, como câmaras de comércio e investimento, associações profissionais, centros culturais brasileiros, órgãos de comunicação social, fundações artísticas e culturais, entre outros”, lê-se no artigo.

Desta forma, os autores consideram que este conjunto de parceiros poderia ajudar o Brasil “a alavancar o papel de Macau como gerador de oportunidades, algo que o Brasil ainda não aproveitou plenamente”, uma vez que essa “presença reforçada em Macau permitiria a consolidação das parcerias existentes entre universidades brasileiras e da China continental”.

Além disso, ao nível dos alunos, uma presença mais robusta do Brasil na RAEM poderia “aproximar os estudantes chineses que aprendem português das empresas brasileiras, reforçando a ligação entre a educação e o ecossistema empresarial da Grande Baía”, bem como potenciar a produção de “materiais didácticos adaptados localmente ao contexto chinês e, em última análise, aproximando o Brasil e a China através do ambiente único que Macau oferece”.

Baseando-se em documentos oficiais e demais estudos sobre esta temática, os autores consideram que, em termos gerais, existe “a necessidade de o Brasil aproveitar efectivamente a posição estratégica de Macau para capitalizar estas oportunidades”. Destaca-se entre os pontos principais desta posição o facto de, em Macau, vigorar a política de “Um País, Dois Sistemas”, ser “um porto franco internacional, uma zona aduaneira autónoma” e possuir “um regime fiscal simples e reduzido”, sem esquecer o papel de plataforma comercial.

Os académicos referem também o “Plano de Desenvolvimento para a Diversificação Económica Adequada da RAEM (2024-2028)” que “também oferece oportunidades, com destaque para a promoção do desenvolvimento de indústrias-chave como a medicina tradicional chinesa, a indústria financeira moderna, a tecnologia de ponta e os sectores MICE (reuniões, incentivos, conferências e exposições) e da cultura e desporto”.

Uma fraca aposta

Em relação à China, o Brasil também não está a explorar todas as oportunidades, destacam João Simões e Daniel Veras. “A política externa do Brasil tem promovido activamente a língua portuguesa em determinadas geografias, mas não tem dado prioridade à China, apesar da importância da relação bilateral entre os dois países”.

É referido que “a língua portuguesa está a expandir-se na China, mas a participação do Brasil não está à altura da sua magnitude enquanto maior país de língua portuguesa do mundo”. Defende-se que essa “discrepância é ainda mais surpreendente se considerarmos que a China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009”.

O estudo destaca a posição de Victoria Almeida sobre a origem dos professores de português na China, que “historicamente o ensino de português na China teve como referência professores de Portugal”. Assim, “só recentemente os professores do Brasil se tornaram mais predominantes”, e uma das explicações apontadas para esse facto é a criação do Programa de Leitorado, que envia docentes para ensinar português em todo o mundo.

É referida a situação desse programa em 2010, quando “foram selecionados 13 leitores, dois dos quais colocados na China: um no BISU e outro na Guangdong University of Foreign Studies”.

Ainda assim, “os materiais didácticos do Brasil são escassos e, embora haja estudantes chineses que queiram ir para o Brasil, essas oportunidades são limitadas e os custos são elevados”.

Entende-se que o Brasil “poderia tirar partido do que está a acontecer com o ensino do português na China continental”, pois “após anos de rápido crescimento do número de aprendizes de português, estamos agora numa fase de investimento nos chamados estudos de área ou regionais”. Assim, “as instituições de ensino superior e de investigação brasileiras podem contribuir para o reforço dos estudos de área da China sobre os países lusófonos e a América Latina, através da investigação e análise das dinâmicas sociais, económicas, políticas e culturais das regiões-alvo”, sobretudo tendo em conta a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, é salientado pelos autores.

Portugal faz melhor

O estudo denota que, apesar dos diversos intercâmbios entre o ensino superior brasileiro e chinês, a verdade é que “muito mais estudantes chineses retornam de intercâmbios em Portugal, cujas melhores universidades oferecem intercâmbios com estudantes chineses”, considerando-se que “demorará muito até que o Brasil construa uma cultura de ensino na China”.

Desta forma, “em comparação com o Brasil, Portugal tem um maior enquadramento no ensino do português no estrangeiro”, disponibilizando “programas de ensino e bolsas de estudo para estudantes chineses”, de nível de mestrado e doutoramento, sem esquecer “a parceria com o Instituto Camões”. “Portugal também facilita a aquisição de títulos, além de promover a tradução de romances portugueses na China. Em contrapartida, o Brasil não faz um esforço tão estruturado. Como resultado, actualmente, a maioria dos estudantes chineses de língua portuguesa tende a usar o português europeu como base ou, pelo menos, como referência”, destaca-se.

Assim, João Simões e Daniel Veras consideram que “o Brasil pode capitalizar o contexto actual, que engloba vários factores favoráveis, para adoptar uma abordagem mais colaborativa na promoção da língua portuguesa na China”.

O estudo refere que, actualmente, o português é falado por mais de 264 milhões de pessoas nos cinco continentes, prevendo-se que este número suba para quase 400 milhões de pessoas em 2050, com “o continente africano responsável pelo maior aumento”, reforçando a preponderância do português como uma das línguas mais faladas no hemisfério sul. Além disso, o português é uma língua oficial ou de trabalho em 32 organizações internacionais.

Com a chegada de Lula da Silva à Presidência do Brasil pela segunda vez, os autores consideram que este “tem tentado uma aproximação à China”, nomeadamente no compromisso de adesão à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e na nomeação “de um representante permanente no Fórum Macau”. Os académicos citam a ideia de outro autor quanto à existência de “desconfiança e reserva que o Brasil tem demonstrado ao longo dos anos em relação ao Fórum Macau”.

Um maior envolvimento “pode ajudar a garantir à China o acesso a recursos e mercados vitais no Brasil e em África, contribuindo potencialmente para a segurança alimentar e energética interna da China”, bem como potenciar Macau enquanto “canal cultural entre a China e o mundo lusófono”.

Porém, “embora exista vontade política e um ambiente favorável em Macau, serão necessários esforços mais concertados por parte do Brasil para materializar estas oportunidades”, é referido.

7 Fev 2025

Ricardo Clara Couto, autor do documentário sobre Francisco de Pina | O peso da culpa que persiste

“Francisco de Pina – O português que escreveu o futuro do Vietname” conta a história do padre jesuíta, nascido na Guarda em 1586, que fez a romanização do alfabeto vietnamita. O documentário, da autoria de Ricardo Clara Couto foi financiado pela RTP2 e exibido no Centro Científico e Cultural de Macau

Como se deparou com esta personagem da história portuguesa no Oriente?

O meu irmão, que se chama Filipe Pires, viajou pelo Vietname durante algum tempo e quando chegou da viagem disse-me que tinha de conhecer a história incrível do jesuíta Francisco de Pina que tinha feito a romanização do alfabeto vietnamita, proporcionando liberdade e independência culturais tremendas. Fiquei um pouco céptico no início, pois achei estranho ninguém conhecer isto em Portugal, mas comecei a minha pesquisa sobre o tema e descobri um estudo universitário de uma professora franco-vietnamita que dá aulas na Madeira. Confirmei então que a ideia que o meu irmão tinha trazido do Vietname estava correcta. A partir daí, tentei descobrir a origem deste padre, o trabalho que tinha efectuado, e perceber porque havia tão pouco conhecimento sobre Francisco de Pina em Portugal.

Além de ter sido missionário jesuíta, pode destacar alguns pontos biográficos que ajudem a compreender o seu legado?

No documentário não tive o tempo para conseguir fazer uma abordagem biográfica mais exaustiva. Foquei-me meramente na parte em que ele chega ao Vietname. Falamos de um homem com uma cultura incrível e com uma vontade de aculturar e ser aculturado. Um homem que era músico e foi mais fácil, com isso, aprender o vietnamita, que é uma linguagem de seis tons. No fundo, apesar de ser um padre jesuíta, tinha como primeiro desígnio a cultura e não tanto a religião. Isso, para mim, é um motivo de enorme admiração. Para ele o objectivo essencial da evangelização era secundário, porque, para ele, se não conseguíssemos compreender a cultura do Vietname, não conseguiríamos ensinar o povo vietnamita. Era mais importante aprofundar a cultura e a língua locais, fazendo-se entender para poder, a partir daí, explorar a parte mais religiosa. Foi também um homem que teve muita dificuldade quando chegou ao Vietname.

Porquê?

Houve algumas guerras internas perante alguns senhores locais das regiões que não concordavam com a missão dos padres. Isso não está explorado no documentário, mas de facto Francisco de Pina chegou a fazer algumas diligências [para a missão jesuíta], pois os padres não eram totalmente aceites em todo o lugar. Acabou por se refugiar num bairro japonês e, a partir daí, construiu a sua base.

Francisco de Pina, à semelhança do que acontecia com muitos jesuítas na época, fez formação em Macau, no Colégio de S. Paulo. De que forma foi influenciado por esse período passado no território?

Não há muita informação sobre esse tempo. Sabe-se que se formou, de facto, nesse colégio, tal como acontecia com muitos padres jesuítas na época, mas depois foi para o Japão. Só depois vai para o Vietname. Até aí, não houve nada de grande relevo na vida de Francisco de Pina, que seguiu o caminho normal. O Japão já estava a expulsar os padres jesuítas e é nesse contexto que vai para o Vietname. A única coisa de maior relevo desse período é que os 14 navios que saíram de Portugal para chegar a Macau nesse ano restaram apenas três, e o navio onde ia Francisco de Pina foi um dos que sobreviveu à tempestade.

Considera que o seu grande legado terá sido a romanização do vietnamita? Quais os grandes contributos deste processo em termos linguísticos?

É um contributo gigante. Se pensarmos que até na romanização da língua, o Vietname estava muito dependente do alfabeto chinês, e não conseguia ter independência cultural, linguística e económica também. Depois da romanização do alfabeto foi possível ao Vietname crescer nesses domínios e ter a sua própria identidade. O país cresceu imenso até aos dias de hoje, pois sem a escrita uma língua passa apenas para as novas gerações de boca em boca, e o legado de Francisco de Pina também se mantém até hoje. O povo vietnamita é muito agradecido a isto, e a prova é que há dois anos uma delegação da Fundação Vietnammese Language Foundation veio a Portugal e ofereceu um monumento à Câmara Municipal da Guarda (ver caixa) em homenagem a Francisco de Pina. Porém, fiquei surpreendido pelo facto de os vietnamitas, e falamos de académicos catedráticos, conhecerem bem a história, a figura de Francisco de Pina, existindo no país várias referências. Mas em Portugal é uma figura pouco conhecida.

Como explica isso?

Penso que isso terá a ver com a necessidade que Portugal tem de fazer a sua catarse sobre esse período da história. Portugal foi um país completamente diferente de África para o Oriente, e completamente diferente de África para as Américas. Mas, no entanto, existe este peso da culpa. Portugal não consegue falar sobre esse período do tempo, apesar de ter uma história riquíssima entre África e o Oriente, mas essa época não é muito abordada porque o país ainda não assumiu o que aconteceu e, por isso, não pode falar desse período. Por isso, ainda tanta coisa da riquíssima história de Portugal é desconhecida pelos portugueses.

Como foi o processo de pesquisa para o documentário?

Rapidamente cheguei ao estudo da professora Minh Ha Nguyen Lo Cicero, da Universidade da Madeira, e com ela fomos às raízes da língua vietnamita. Quando a descobri foi incrível, porque ela faz parte do triângulo de romanização do alfabeto vietnamita, por ser franco-vietnamita. Até há pouco tempo, a versão oficial que existia era de que Alexandre de Rhodes, jesuíta francês, tinha romanizado o alfabeto, registando-o depois no Vaticano e dizendo que era um trabalho em homenagem ao seu mestre, Francisco de Pina. Porém, o nome de Francisco de Pina desapareceu. Passamos, a partir daqui, à narrativa oficial francesa, nacionalista, de que a romanização do alfabeto tinha sido feita por franceses pelo facto de o Vietname ter sido uma colónia francesa. Depois cheguei também ao professor António Morgado. Os restantes contactos foram feitos no Vietname, de linguistas, professores universitários e especialistas no idioma, sobretudo na escrita, que depois integraram o documentário.

Como descreveria o Vietname da época de Francisco de Pina?

Era muito fragmentado. Eles têm uma cultura muito própria que existia através de uma escrita com hieróglifos chineses, mas lida em vietnamita, o que levava a que apenas 1 a 3 por cento da população soubesse ler e escrever. Com a romanização essa percentagem aumentou exponencialmente, e com isso a cultura desenvolveu-se junto das populações, uniu-as mais em torno de uma escrita comum. Penso que isso tornou o Vietname mais moderno e preparado para se integrar no resto do mundo ao ter uma língua mais acessível.

Sente que vai ajudar a desvendar esta parte da história de Portugal, bem como a história da própria missão jesuíta?

Espero que sim. Portugal parece que tem um certo medo e pudor em falar desta época, e a prova disso é que este povo vietnamita veio à Guarda oferecer um monumento e praticamente não saíram notícias sobre o assunto. Além disso, os representantes da delegação do Vietname ficaram um pouco admirados por não serem recebidos a nível oficial, à excepção do presidente da Câmara Municipal da Guarda. Eu, que fui convidado por eles a estar presente, senti um bocado vergonha alheia, pelo facto de o Vietname ter vindo a Portugal oferecer um monumento e isso ser encarado como um evento secundário, que não é. Seria importante dar a conhecer este padre e este feito ao país e ao mundo, até porque Portugal e o Vietname têm uma história cultural muito próxima e rica, tal como com o Japão e a China. Mas esta é uma vertente pouco conhecida do povo português e [este documentário] pode ser uma boa oportunidade para o país fazer a sua catarse.

Escultura de artista vietnamita lembra Francisco de Pina na Guarda

Em Novembro de 2023, a Fundação da Língua Vietnamita ofereceu à cidade da Guarda a escultura “Nova Estela”, do artista vietnamita Nguyen Huy Anh. A obra pode ser vista no jardim da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço. Segundo uma notícia da agência Ecclesia, o evento decorreu no âmbito das celebrações do 824.º aniversário da atribuição de foral pelo Rei D. Sancho I à cidade. “Trata-se de uma homenagem, a título póstumo, ao padre Francisco de Pina, um sacerdote jesuíta nascido na Guarda, em 1586, cujo percurso religioso passou por uma missão no Vietname, onde viveu nove anos de intensa actividade missionária, de linguística e de interculturalidade”, referiu a Diocese da Guarda, em comunicado.

Segundo a mesma nota, o missionário Francisco de Pina foi o responsável pela introdução do alfabeto latino e sinais diacríticos na transcrição dos sons e dos tons da língua vietnamita, que utilizava, na escrita, caracteres chineses.

O padre embarcou há mais de 400 anos na Nau de Nossa Senhora do Vencimento do Monte do Carmo, tendo completado a formação no Colégio de São Paulo em Macau e recebido a ordenação sacerdotal em Malaca. Foi depois chamado para a recém-criada Missão dos Jesuítas da Cochinchina, zona que corresponde à parte central do Vietname actual. “Nunca mais veio à cidade onde nascera e regressou agora num barco esculpido em bronze por artistas vietnamitas trazido por mar do longínquo Vietname. A partir de agora, o Padre Francisco de Pina ficará na memória histórica da Guarda e dos seus habitantes, materializado neste barco que o trouxe de regresso à sua cidade, deixando lá bem longe o nome da Guarda, escrito também ele em letras de bronze”, concluiu a Diocese.

5 Fev 2025

Cinemateca Paixão | “A Substância”, com Demi Moore, estreia esta semana

A Cinemateca Paixão já tem disponível o cartaz de Fevereiro e a grande novidade é o filme “A Substância”, protagonizado por Demi Moore, que se revela também na cópia restaurada de “Ghost”. Além da exibição destes filmes, destaque ainda para películas como “Vive L’Amour”, “The Way We Talk”, de Hong Kong; ou o japonês “Cells at Work!”

 

Uma das actrizes dos anos 90 de Hollywood, Demi Moore parece ter voltado em grande ao protagonizar “A Substância”, filme que tem dado que falar em todo o mundo por espelhar o confronto permanente entre a imagem, o que somos e aquilo que esperam de nós. O filme será exibido em Macau este sábado na Cinemateca Paixão, tendo uma única sessão a partir das 19h30, por isso é melhor correr antes que os bilhetes esgotem.

Demi Moore é uma bela apresentadora de televisão que, subitamente, deixa de ser bela aos olhos dos produtores do programa. É então que decide começar a tomar uma substância ilegal que a faz ficar mais nova, colocando-se numa situação perigosa e desafiante. É então que Sue, personagem interpretada por Margaret Qualley, passa a substitui-la no programa, sendo uma cópia quase igual ao original, mas muito mais nova que a personagem envelhecida de Demi Moore. É então que o horror começa, com súbitas transformações nos corpos de ambas, categorizando-se este filme no género “horror corporal”.

“A Substância”, que já levou Demi Moore a uma nomeação como Melhor Actriz nos Globos de Ouro, faz parte do cartaz deste mês da Cinemateca Paixão, intitulado “Encantos de Fevereiro”. E a escolha dos programadores recai também nos clássicos, nomeadamente com a cópia restaurada de “Vive L’Amour”, filme de Taiwan de 1994, que será exibido no próximo domingo, e depois no sábado, dia 15, e na quarta-feira dia 19 de Fevereiro.

Com realização de Tsai Ming Liang, “Vive L’Amour” passa-se em Taipei, num apartamento onde três pessoas solitárias acabam por dividir o mesmo espaço, neste caso um condomínio de luxo, sem saber. É então que as intimidades de cada um se começam a entrelançar, numa história de melancolias e sentimentos.

Demi Moore a duplicar

Outro clássico exibido este mês na Cinemateca Paixão, traz uma Demi Moore jovem. Trata-se de “Ghost”, cuja cópia restaurada será exibida no sábado, a partir das 16h30, e depois na sexta-feira, dia 14 de Fevereiro. “Ghost” ganhou um Óscar em 1991 na categoria de “Melhor Argumento Original”, tendo batido todos os recordes de bilheteira nesse ano, com receitas na ordem dos 505 milhões de dólares.

Demi Moore é Molly Jensen, uma artista que está apaixonada por Sam Wheat, personagem do já falecido actor Patrick Swayze. Tudo muda quando Sam é assassinado por um amigo e parceiro de negócios corrupto, Carl Bruner, e começa a vaguear pela terra como um espírito sem poderes.

Já o japonês “Cells at Work!” estreia mais cedo, esta quarta-feira, e prossegue com sessões domingo, e depois nos dias 15 e 18. A película baseia-se numa história de Manga com o mesmo nome, da autoria de Akane Shimizu, remetendo para um mundo de ficção científica.

O enredo gira em torno dos 37 triliões de células existentes no corpo humano, com personagens a representar os glóbulos vermelhos e brancos. Mas há também a estudante de liceu Niko Urushizaki, que vive com o seu pai e que está sempre focada em ter uma alimentação exemplar para ter células saudáveis.

Mas o pai faz exactamente o contrário, o que faz com que tenham corpos completamente diferentes. Apesar de se darem bem no meio da vida agitada que levam, os agentes patogénicos estão prestes a invadir o corpo e a planear um próximo passo que irá culminar numa guerra de células, que mudará a vida desta família.

Outro clássico presente este mês na Cinemateca Paixão, é “Picnic at Hanging Rock”, de 1974, apresentando-se também uma cópia restaurada deste filme de Peter Weir e que ganhou um BAFTA em 1977 para “Melhor Cinematografia”. Além da exibição nesta quarta-feira, o filme repete na quinta-feira, dia 13, e depois no domingo, dia 16.

A história remete para o início do século XX, quando Miranda frequenta um colégio interno para raparigas na Austrália. No Dia dos Namorados, a directora da escola, bastante rigorosa, oferece às raparigas uma visita de estudo para um piquenique numa formação vulcânica invulgar, mas cénica, chamada Hanging Rock. Apesar de não poderem sair do percurso traçado pela escola, Miranda e várias amigas aventuram-se por outro caminho, percebendo-se no final do dia que as meninas e um professor desapareceram de forma misteriosa.

Da região vizinha de Hong Kong chega-nos também o filme “The Way We Talk”, do ano passado, que será exibido na próxima semana. Trata-se da nova película de Adam Wong, tendo já sido nomeado para três categorias dos Prémios Cavalo de Ouro do ano passado. A história gira em torno de jovens surdos e das suas vivências.

4 Fev 2025

Estudo | Maior satisfação de vida associada a relações e dinheiro

Um estudo que avalia a satisfação de vida em 65 países e regiões, incluindo China, Taiwan e Hong Kong, conclui que em todos os países a segurança financeira e ter uma relação amorosa são factores chave para a felicidade. Porém, durante a pandemia houve uma “grande variabilidade na satisfação global”

 

O que é necessário para ter uma vida plena e com felicidade? A questão, que pode ter várias conotações e tendências espiritais, procurou ser respondida e quantificada pelos autores do estudo “Life satisfaction around the world: Measurement invariance of the Satisfaction With Life Scale (SWLS) across 65 nations, 40 languages, gender identities, and age groups” [Satisfação com a vida em todo o mundo: Invariância de medição da Escala de Satisfação com a Vida (SWLS) em 65 países, 40 línguas, identidades de género e grupos etários].

O estudo, editado recentemente pela revista académica “PLOS One”, partiu de análises feitas por dezenas de académicos e contribuidores em 65 países e regiões, incluindo a China, Taiwan e Hong Kong, o que perfaz 57 mil pessoas analisadas.

Em termos gerais, os autores concluem que “em todos os países uma maior satisfação com a vida foi significativamente associada à segurança financeira e à existência de uma relação de compromisso ou casamento”. Desta forma, os resultados apontam que “uma maior satisfação com a vida está significativamente associada a uma maior segurança financeira e a qualificações educacionais mais elevadas (o que pode ser um indicador do estatuto socioeconómico, embora a dimensão do efeito desta relação específica fosse insignificante)”.

Em termos gerais, “estes resultados são consistentes com as provas que indicam que a satisfação das necessidades humanas básicas e o bem-estar material é um forte – possivelmente o mais forte – preditor do bem-estar psicológico em geral e da satisfação com a vida especificamente”.

É certo que os autores chamam a atenção para o facto de a ideia de bem-estar poder variar de país para país consoante a cultura das populações, mas os resultados “sugerem que, quando considerada ao nível do indivíduo, a associação entre a satisfação com a vida e os indicadores de bem-estar material parece ser relativamente robusta entre nações”.

No tocante aos relacionamentos, as respostas penderam mais para a importância de não se estar só. “Verificámos que o estado civil estava significativamente associado à satisfação com a vida. Mais especificamente, verificámos que os inquiridos em relações de compromisso tinham maior probabilidade de relatar mais satisfação com a vida do que os não casados. Este resultado é consistente com a literatura mais alargada que mostra que o estado civil é um correlato robusto do bem-estar psicológico.”

Porém, uma vida satisfatória não está directamente ligada exclusivamente a relações amorosas, podendo também ocorrer quando a pessoa tem uma vida social activa. “Tem sido sugerido que a formação e manutenção de relações sociais é fundamental para a promoção da satisfação com a vida, particularmente em culturas ou comunidades que enfatizam os valores familiares, porque satisfazem uma necessidade humana básica de pertença e são uma fonte de afirmação positiva”. Além disso, “reforçam comportamentos saudáveis e protegem contra o impacto de acontecimentos negativos”.

Assim, o estudo considera ser “provável que as pessoas que vivem em relações de compromisso possam reportar um maior apoio emocional e integração social, o que, por sua vez, contribui de forma independente para a satisfação com a vida”.

Os tempos covid-19

Se a socialização é tida como muito importante para uma vida satisfatória, como terá sido em tempos de covid-19, que obrigou a longos períodos de confinamento e isolamento? O estudo recorreu a critérios específicos e estatísticas para avaliar a questão, concluindo que houve “uma grande variabilidade na satisfação global com a vida no contexto da pandemia de covid-19. Os inquiridos no Canadá (francófono) e de Israel apresentaram as médias SWLS mais elevadas e os inquiridos no Japão e na Ucrânia a apresentarem as médias mais baixas”.

Tendo em conta a grande dimensão da amostra, os resultados permitem concluir “que a satisfação com a vida variou substancialmente entre os grupos nacionais na altura da pandemia da covid-19″, embora, destacam os autores, “seja necessário ter cuidado ao interpretar as médias latentes” referidas no trabalho para não se avançarem com conclusões definitivas. Ainda assim, os académicos entendem que estes dados podem ser importantes para quando “profissionais e os decisores políticos tentarem compreender as diferenças na satisfação com a vida entre as nações”, além de ser uma “forma de apoiar melhor o bem-estar subjectivo na era pós-pandémica”.

Destaque ainda para a menor satisfação de vida por parte dos grupos populacionais minoritários. “Verificámos que a identificação como parte de uma minoria racializada estava associada à menor satisfação com a vida. Embora este facto seja consistente com alguns trabalhos anteriores e reflicta provavelmente o efeito deletério das experiências de racismo na satisfação com a vida, é de notar que a dimensão do efeito desta relação foi insignificante.”

Além disso, os autores destacam que “a urbanidade estava associada à satisfação com a vida de forma pouco significativa”, tendo sido avaliada se viver numa cidade ou outro contexto urbano mudava o nível de satisfação com a vida.

Meios e fins

Para se atingirem os dados da escala SWLS acima descritos, foi feito o “Inquérito sobre a Imagem Corporal na Natureza” (BINS, na sigla inglesa) por parte de 253 cientistas ou académicos dos 65 países envolvidos, que recolheram dados entre Novembro de 2020 e Fevereiro de 2022.

No total, foram entrevistadas 56.968 pessoas, 58,9 por cento eram mulheres, 40,5 por cento homens e 0,6 por cento eram de outra identidade de género. Em termos de raça e etnia, a maioria, 74,2 por cento, “identificou-se como fazendo parte de uma maioria racializada”, enquanto 11,3 por cento “se identificou como fazendo parte de um grupo racializado ou étnico minoritário”.

Em relação ao sítio onde vivem os participantes, 27 por cento disse viver numa capital, 13,7 por cento no subúrbio de uma capital, 25,1 por cento numa cidade de província, ou seja, com mais de 100 mil habitantes; enquanto 18,7 por cento disse residir numa cidade de província com mais de 10 mil habitantes. Apenas 15,5 por cento dos inquiridos vivia numa zona rural.

Quanto às habilitações literárias, 33,5 por cento terminou o ensino superior, sendo que 42 por cento estavam solteiros e 19,5 por cento estavam numa “relação de compromisso, mas não eram casados”. Por sua vez, 33,5 por cento eram casados.

Relativamente à segurança financeira, 24,9 por cento dos participantes referiram sentir-se menos seguros do que outros da sua idade no seu país de residência, enquanto 49,6 por cento disseram sentir-se “igualmente seguros” e 25,5 por cento consideraram estar “mais seguros”.

Os dados do inquérito permitiram aos autores do estudo “examinar as associações entre a satisfação com a vida e as principais variáveis sociodemográficas ao nível do indivíduo”. Foram avaliados factores como “satisfação com a vida”, “segurança financeira” e “urbanidade”, em que os participantes preencheram a SWLS utilizando uma escala de resposta de 7 pontos, em que 1 ponto representava a opinião “discordo totalmente” e 7 pontos “concordo totalmente”. Foram também avaliados dados demográficos como a idade, educação, estado civil ou a raça.

No que respeita à China, o país é dividido entre “China – Cantonês”, “China – Inglês” e “China – Mandarim”. No caso da “China – Cantonês”, respeitante a Hong Kong, responderam 409 pessoas, com 58 por cento de mulheres e apenas dois por cento dos inquiridos pertencentes a uma minoria racial. A totalidade dos participantes vive em contexto urbano, enquanto 96 por cento terminou o ensino secundário ou superior. Dos inquiridos, apenas dois por cento diz estar num relacionamento, seja ou não casamento.

No caso da “China – Mandarim” participaram 1,231 pessoas, 69 por cento das quais mulheres, em que 95 por cento reside em zonas urbanas. 86 por cento dos inquiridos tem um compromisso ou relacionamento.

4 Fev 2025

Estudo | Académicos destacam lado “egocêntrico” do Natal em oposição ao Ano Lunar

Um estudo de três académicos chineses afirma que enquanto o Ano Novo Chinês tem um menor cariz menor e “é claramente representativo da sociedade chinesa contemporânea”, o “Natal no Ocidente é egocêntrico, exalta a individualidade e mostra mais interactividade”. Porém, o trabalho, publicado numa revista da Universidade do Estado da Bahia, aponta para a maior convergência de características culturais

 

Natal e Ano Novo Chinês: como são, o que representam para o Ocidente e Oriente, e quais os pontos de convergência? É a estas perguntas que o estudo “Comparações das culturas entre o Ano Novo Chinês e o Natal Ocidental”, da autoria de Zhen Zhao, Yin Xuelu e Qiao Jianzhen pretende responder. O trabalho académico foi publicado recentemente na revista “Pontos de Interrogação – Revista de Crítica Cultural”, da Universidade do Estado da Bahia, no Brasil.

Os autores destacam, em termos gerais, que “o Natal no Ocidente é egocêntrico, exalta a individualidade e mostra maior interactividade”, nomeadamente com a “participação da multidão” e demonstração de “emoções carnavalescas apaixonadas das pessoas”.

Por outro lado, o Ano Novo Chinês “é um festival nacional, claramente representativo da sociedade chinesa contemporânea”. Em termos gerais, este tipo de celebrações surge descrito como tendo “um significado sociocultural especial que se intercala com as rotinas diárias”, sendo “uma exibição concentrada da vida colorida das pessoas” bem como “um resumo e extensão da política, economia, cultura e religião de várias regiões, grupos étnicos e países”.

Descrevem ainda os autores que o Ano Novo Chinês, que também pode ser denominado de Ano Novo Lunar ou Festival da Primavera, tem raízes “numa pequena economia camponesa e baseia-se frequentemente no confucionismo, com uma mistura de cultura budista e taoista”, estando ligado a “rituais religiosos feudais”.

Por sua vez, o Natal é apresentado como tendo uma maior componente religiosa, estando “enraizado na cultura cristã ocidental e encarna os valores da liberdade e igualdade, do pecado original e do individualismo em toda a parte”.

Interligações inevitáveis

Porém, o estudo descreve como inevitável o futuro intercâmbio de demonstrações culturais nestas épocas do ano: no caso do Natal, no mês de Dezembro; no caso do Ano Novo Chinês, durante os meses de Janeiro e Fevereiro de cada ano, consoante o calendário.

“O futuro intercâmbio das culturas chinesa e ocidental, incluindo a cultura do festival, é uma parte inevitável do desenvolvimento social e histórico”, é descrito, bem como “um processo evolutivo de complementaridade entre as culturas chinesa e ocidental”.

Desta forma, afirmam os autores, deve descobrir-se pontos de contacto de ambas as culturas “a partir das diferenças entre o Ano Novo Chinês e o Natal, para que possam ser promovidos” e para que haja uma maior preservação “das respectivas culturas nacionais”.

Os autores dizem notar “a aceleração do intercâmbio cultural entre o Oriente e Ocidente” neste campo, uma vez que os “chineses celebram os festivais ocidentais e os estrangeiros celebram os festivais chineses”.

“Na era da globalização, e devido ao desenvolvimento e aprofundamento da economia e da cultura, as festas tradicionais chinesas e ocidentais têm sido gradualmente aceites por ambos os povos numa tolerância mútua”, pode ler-se.

Pontos diferenciadores

Os três autores do estudo recordam que, na China, os festivais mais tradicionais têm uma ligação à agricultura, com costumes tradicionais baseados na comida e na bebida. “A principal razão disso é a busca do povo chinês na ida ser orientada para uma vida longa e saudável”. Enquanto isso, “as festas tradicionais ocidentais têm principalmente origem na religião e eventos relacionados”, tendo, por isso, “fortes conotações religiosas”.

Acrescenta-se que, no Ocidente, “os costumes tradicionais no período de férias baseiam-se principalmente no tema da diversão”, sendo a principal razão o facto de “a busca dos ocidentais na vida ter como objectivo a saúde e felicidade”.

Em termos comparativos, “tanto o Ano Novo Chinês como o Natal são uma época de reunião familiar e uma época maravilhosa para as pessoas olharem para trás e também para o futuro”, embora “com conotações diferentes nas culturas chinesa e ocidental”.

Uma das diferenças apontadas no estudo é a forma como se celebram os dias anteriores a estas datas. “A passagem do ano [no Ano Novo Chinês] é o momento em que as pessoas tentam ir para casa dos seus entes queridos, não importa onde estejam. O jantar de Ano Novo é o ponto alto, também conhecido como o jantar de reencontro, sendo a refeição mais importante do ano.”

Um dos rituais passa por, a partir do pôr-do-sol, “as famílias começarem a acender os foguetes”, começando-se a preparar as refeições com esse ambiente. “Embora os pratos de jantar do Ano Novo variem de lugar para lugar, cada prato tem um certo significado simbólico. Os chineses gostam de usar os harmónicos para atrair boa sorte, e, por exemplo, os harmónicos de frango ‘Ji’ significam ‘auspicioso'”, enquanto “os harmónicos de peixe ‘Yu’ significam ‘ano após ano'”.

“A véspera do Ano Novo é um costume do povo chinês Han. Depois de comer a refeição do Ano Novo, as pessoas reúnem-se em família a fim de esperar pela chegada do Ano Novo à meia noite”, apontam os autores, descrevendo também que “em muitas partes da China, na noite de Ano Novo, as pessoas preparam sumptuosas oferendas, acendem incenso e velas, despejam vinho e queimam dinheiro de papel, prestando homenagem aos antepassados em família para expressar a nostalgia por eles”, além de esperarem bençãos “para os filhos e netos do céu, inspirando os descendentes a trabalharem mais e a viverem à altura dos desejos dos seus antepassados”.

No caso do Natal, celebrado a 25 de Dezembro, a véspera é marcada por um jantar em família que também conta com pratos e doces tradicionais, como o bolo-rei, o bacalhau ou o peru assado. “Ao contrário da vigília chinesa de Ano Novo, os ocidentais celebram o Natal como uma festa única de fantasia na véspera de Natal que se prolonga ao longo da noite. Na festa não há um código de vestuário rigoroso, bastando ser natural e informal, subir para dizer ‘olá’ e enviar desejos sinceros [de boas festas]”, é referido.

Outro ponto diferenciador apontado é as ofertas. Se no Ano Novo Chinês é habitual a oferta de dinheiro nos envelopes “lai si”, no Natal Ocidental distribuem-se presentes entre família e amigos.

A distribuição de dinheiro no Ano Novo Chinês tem diversas conotações, existindo um tipo de dinheiro para os mais velhos, servindo “para lhes desejar uma longa vida”; enquanto que há depois o dinheiro dado dos mais velhos aos mais novos, representando uma transmissão de cuidado da parte dos mais séniores.

Por sua vez, “as primeiras lendas sobre presentes de Natal referem-se ao nascimento de Jesus”, com as oferendas dos reis magos. “Actualmente tornou-se costume dar presentes entre familiares e amigos no Natal”, é referido, existindo também a ideia de que é o Pai Natal a distribuir os presentes. “Por vezes as pessoas fingem ser o Pai Natal para dar presentes às crianças, a fim de acrescentar o espírito festivo”, refere-se.

Outra grande diferença apontada pelo estudo é o facto de, no Ocidente, o Natal não ter a mesma conotação dos antepassados. “No Ocidente as pessoas não adoram os seus antepassados, sendo que as pessoas vão à igreja para celebrar o nascimento de Jesus. As pessoas não se limitam a estar nas reuniões familiares, mas convidam [outros] de forma calorosa para as suas casas, e não é considerado rude festejar juntos. Durante as férias muitas pessoas participam em actividades comunitárias para ajudar os pobres e dar presentes, reflectindo a ideia de busca de igualdade.”

Pontos de semelhança

Segundo o estudo, as duas celebrações têm como ponto em comum servir para “manter a estabilidade social”. “Na China antiga a produção agrícola era fortemente influenciada pelo clima. Os trabalhadores pobres que pertenciam às classes mais baixas tinham muitas vezes de trabalhar todo o ano, o que inevitavelmente levava à insatisfação com a realidade da situação”. Neste sentido, a chegada do Ano Novo Chinês é “um bom momento para libertar emoções”, decorando-se a casa e acendendo-se foguetes na criação “da esperança de que o próximo ano seja bom, com boas colheitas e melhores dias”.

No tocante ao Natal, é descrito que as pessoas “vão à igreja adorar [os santos], cantar canções de Natal e rezar a Deus, esperando que este as ajude a sair das dificuldades quando estão em apuros ou quando estão doentes e enfrentam a morte. Esperam que Deus as perdoe pelos pecados para que possam ascender ao céu depois da morte”, existindo aqui um paralelismo com a “libertação de emoções” acima descrita.

Além disso, ambas as celebrações constituem formas de transmissão de cultura, segundo os autores do estudo. “A cultura do Ano Novo é uma acumulação da cultura tradicional chinesa, sendo a cristalização do trabalho e da sabedoria do povo chinês, expressando as aspirações do povo trabalhador que anseia por coisas boas.” Além disso, estas celebrações “transportam e transmitem a cultura tradicional de forma subtil”, nomeadamente com pinturas e demais decorações das casas, ou ainda eventos como as danças do dragão e do leão ou ainda sessões de caligrafia.

“Através destas actividades transmite-se o património cultural extremamente valioso às gerações mais jovens”, é referido. Por sua vez, no Natal existem as decorações próprias da época, com a árvore, as luzes ou o presépio, em cores verde, vermelho e demais tons brilhantes.

“As pessoas que estiveram ocupadas todo o ano a trabalhar regressam para reviver o calor da família. As pessoas vão à igreja celebrar o nascimento de Jesus, sendo este um acontecimento regular e uma herança da cultura religiosa. Tornou-se costume enviar um cartão de Natal a amigos e familiares, e todos estes costumes carregam profundas conotações culturais que são transmitidas.”

3 Fev 2025

Ano Novo Lunar | Feriados decisivos para analisar despesas além jogo

O professor da Universidade de Macau e especialista em turismo Glenn Mccartney considera que os feriados associados ao Ano Novo Chinês serão essenciais para se perceber a dimensão do turismo regional e as despesas não relacionadas com o jogo

 

O Ano Novo Lunar da Serpente começa na próxima quarta-feira e, mais uma vez, abre um período de feriados que vão trazer muitos turistas a Macau. Segundo o professor assistente da Universidade de Macau (UM) Glenn Mccartney os feriados associados ao Ano Novo Chinês serão importantes para “medir e avaliar o interesse e as despesas não relacionadas com o jogo, bem como os números de visitas regionais, dado o investimento em eventos à escala da cidade e o esperado grande número de visitantes “, disse ao HM.

“Do ponto de vista empresarial, a questão fundamental é a forma como o número de visitantes se traduz em despesas efectivas e o impacto que isso traz às pequenas e médias empresas, como restaurantes, bares e lojas, quer se tratem de visitantes que pernoitem ou de excursionistas que regressem a Hong Kong ou Zhuhai no mesmo dia.”

Desta forma, “há expectativas de que a taxa de ocupação dos hotéis de Macau seja elevada, sendo que haverá alguns visitantes de um dia que regressarão para ficar em Zhuhai”, estimou.

Mais de um milhão

Uma vez que no período homólogo do ano passado o território recebeu quase 1,4 milhões de turistas durante o período de 8 dias do Ano Novo Chinês, é esperado para os próximos dias “um elevado número de visitantes”, sendo que “como este ano o Ano Novo Chinês começa a 29 de Janeiro, Macau pode beneficiar do aumento do número de turistas nos fins-de-semana anteriores e posteriores”.

Mas Glenn Mccartney destaca também outros factores que podem potenciar os números do turismo, “uma vez que temos assistido a uma maior acessibilidade e facilidade na passagem das fronteiras como um factor importante desde a reabertura após a covid, por exemplo, com o aumento de visitantes de Hong Kong através da ponte”.

Glenn Mccartney defende também que as acções promocionais dos resorts e as festividades nas ruas também podem atrair turistas, sendo que “uma característica importante das actividades do Ano Novo Chinês é a componente de ‘feedback'”, com os “residentes e visitantes a poderem dar a sua opinião, permitindo às autoridades perceberem o impacto dessas actividades do Ano Novo Chinês”.

“Este tipo de feedback pode ser uma fonte valiosa para melhorar vários aspectos da organização, das operações e do marketing dos eventos do Ano Novo Chinês, a fim de analisar os visitantes actuais e potenciais no futuro. A utilização das redes pode fazer parte da avaliação da análise de impacto das promoções do Ano Novo Chinês”, descreveu.

Para estes dias Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, disse esperar uma média diária de 185 mil visitantes, dos quais apenas oito mil deverão ser internacionais. A principal atracção durante este período em Macau será a Parada do Ano Novo Lunar, realizada em 31 de Janeiro e repetida a 8 de Fevereiro.

24 Jan 2025

Trabalho | Ásia Oriental com baixa satisfação laboral e desmotivação

O relatório mundial sobre o panorama laboral, da Associação Internacional Gallup, concluiu que em países e regiões da Ásia Oriental, como a China, Taiwan ou Hong Kong, a maioria dos trabalhadores procura um novo emprego. Em Hong Kong, apenas seis por cento dos inquiridos estão empenhados com os seus empregos

 

Perceber como se sentem os trabalhadores de todo o mundo no local de trabalho, e em relação ao emprego que têm, é o objectivo do relatório da Associação Internacional Gallup, intitulado “State of the Global Workplace 2024”. Se no panorama mundial e regional a Ásia Oriental se sai bem em alguns indicadores, o cenário não é nada favorável no que diz respeito ao compromisso ou empenho que os trabalhadores têm pela empresa a que estão vinculados ou pelas funções que desempenham.

Dentro da Ásia Oriental incluem-se países e regiões como a China, Hong Kong, Japão, Mongólia, Coreia do Sul e Taiwan. Esta zona do globo tem “a mais baixa percentagem, a nível regional, de empregados que sentem tristeza diária”, mas tem “a terceira percentagem mais elevada, a nível regional, de empregados que dizem estar à procura, e de forma activa, de um novo trabalho”. Além disso, a Ásia Oriental tem “a terceira percentagem mais baixa a nível regional de empregados comprometidos” com o trabalho que têm (18 por cento, o que ainda assim representa uma subida de 1 por cento face ao período correspondente entre 2022 e 2023).

Bem pelo contrário, 67 por cento dos inquiridos não estão, de todo, comprometidos ou empenhados com o trabalho, mais cinco por cento face a igual período. Além disso, 14 por cento diz estar totalmente descomprometida com a empresa para onde trabalham, menos seis por cento.

Quanto a emoções negativas vividas diariamente, e com maior frequência, o factor “stress” lidera, com 46 por cento de respostas, menos seis por cento face ao período entre 2022 a 2023. Destaque para a entrada do sentimento “raiva”, com 17 por cento de respostas, e que não gerou quaisquer respostas no último inquérito. “Tristeza” foi um sentimento revelado por 12 por cento dos inquiridos, mais 1 por cento face ao inquérito anterior, e “solidão”, que tem também entrada directa para esta lista de sentimentos menos bons vividos no trabalho, com 18 por cento.

Se a insatisfação com o trabalho se demonstra nos números anteriores, as certezas sobem de tom na categoria “ambiente de trabalho – boa altura para encontrar um trabalho”, com 51 por cento a responder afirmativamente, mais 11 por cento de respostas face ao inquérito anterior. Além disso, a categoria “Intenção de deixar – Olhando ou procurando de forma activa por um novo trabalho” foi escolhida por 54 por cento dos inquiridos, menos dois por cento face aos anos de 2022 a 2023.

Na categoria “Avaliação de Vida”, os que dizem ter uma vida próspera são 32 por cento, menos sete por cento, em contraste com os 62 por cento de inquiridos que diz estar a sofrer algum tipo de dificuldades, mais sete por cento em relação ao último inquérito. A categoria “sofrimento” relacionado com o posto de trabalho foi escolhida por seis por cento dos participantes no inquérito, uma entrada directa neste estudo.

Tristeza em baixo

Para o estudo da Gallup, foram entrevistadas 40.428 pessoas em 41 países, sendo que a amostra por país contém cerca de 1.000 homens e mulheres. A margem de erro da sondagem “está entre +3-5 por cento com um nível de confiança de 95 por cento”, é referido.

O estudo compara ainda os dados registados pelos trabalhadores da Ásia Oriental com os restantes países. E mais uma vez se denota a falta de compromisso e da sensação de “vestir a camisola” que persiste em muitas empresas. Em termos mundiais, 62 por cento das respostas apontam para a ausência de compromisso, quando na Ásia Oriental essa percentagem sobre para os 67 por cento.

No tocante à “Avaliação de Vida”, se a nível mundial 58 por cento dos inquiridos diz estar a passar dificuldades, a percentagem da Ásia Oriental é de 62 por cento. Porém, o sofrimento sentido está apenas em seis por cento das respostas, enquanto a nível mundial a fasquia fica nos oito por cento. Em relação a este factor destaca-se ainda a baixa percentagem do sentimento de “tristeza diária”, com 12 por cento de respostas, quando a nível mundial a fasquia sobe para os 22 por cento.

A sensação de “stress” é também superior, com 46 por cento de respostas, quando a nível global é de 41 por cento.

China: raiva e dificuldades

Olhando para os critérios em cada país, 19 por cento dos trabalhadores da China disseram estar comprometidos com o trabalho, mais dois por cento em termos anuais, enquanto em Hong Kong apenas seis por cento de pessoas estão comprometidas e que gostam do que fazem, o que constitui uma quebra de um por cento.

Na “Avaliação de Vida”, 36 por cento dos trabalhadores da China dizem estar a enfrentar dificuldades, mais 1 por cento, enquanto em Taiwan 41 por cento diz enfrentar momentos menos bons, representando uma entrada directa na classificação, sem pontuação anterior para comparar. Já no caso de Hong Kong, 17 por cento de inquiridos assumem atravessar dificuldades, mais 1 por cento face ao inquérito anterior.

Quanto ao sentimento de “stress diário”, a China sobe ao primeiro lugar do ranking com 53 por cento de respostas, ainda assim menos 2 por cento em termos anuais, com Hong Kong a seguir-lhe as pisadas, com 49 por cento de respostas. O Japão está em terceiro lugar com 41 por cento de pessoas a sentirem stress diariamente.

Em resposta à pergunta se sentiu raiva no dia anterior, a China lidera novamente com 18 por cento de respostas, apesar da quebra anual de 2 por cento; seguindo-se a Coreia do Sul, com 17 por cento de respostas afirmativas, e depois Hong Kong com 16 por cento. Na China apenas 12 por cento dos trabalhadores disseram sentir tristeza, colocando, assim, o país em terceiro lugar. Já em relação a Hong Kong houve 11 por cento de respostas afirmativas neste domínio.

Jon Clinfton, CEO da Gallup, deixa um alerta sobre o aumento dos problemas de saúde mental em todo o mundo, sobretudo relacionados com o meio laboral e a forma de relacionamento no meio empresarial. Cerca de 20 por cento dos trabalhadores de todo o mundo “experienciam solidão diária”, sendo que este sentimento “é maior entre trabalhadores em teletrabalho total”.

“No relatório deste ano, 41 por cento dos trabalhadores afirmam sentir ‘muito stress’. No entanto, o stress varia significativamente em função da forma como as organizações são geridas. Quem trabalha em empresas com más práticas de gestão (activamente desmotivadas) têm quase 60 por cento mais probabilidades de estar stressadas do que as pessoas que trabalham em ambientes com boas práticas de gestão (empenhadas). De facto, a experiência de ‘muito stress’ é referida cerca de 30 por cento mais frequentemente pelos empregados que trabalham sob má gestão do que pelos desempregados”, disse o CEO da Gallup.

Para o responsável, “os líderes sabem que o stress no local de trabalho é um problema – viram os dados, ouviram colegas e sentiram-no eles próprios”. “Um quarto dos líderes sente-se esgotado frequentemente ou sempre, e dois terços sentem-no, pelo menos, algumas vezes. Muitos estão a tentar resolver o problema, mas muitas vezes de forma ineficaz”, conclui-se.

24 Jan 2025

Óbito | Morreu Rocha Vieira aos 85 anos

Vasco Rocha Vieira, o último Governador português de Macau, morreu ontem aos 85 anos. O general encontrava-se doente há bastante tempo. Marcelo Rebelo de Sousa recordou-o como “um dos mais ilustres oficiais” do Exército, mas, para Macau, Rocha Vieira fica para a história como o grande obreiro das medidas decididas na Declaração Conjunta de 1987

 

Há muito que se encontrava doente, falhando mesmo alguns eventos recentes em Lisboa sobre Macau e a transição. Vasco Rocha Vieira, general, antigo Chefe do Estado-Maior do Exército, e último Governador português de Macau, morreu na madrugada de ontem com 85 anos de idade.

Nascido a 16 de Agosto de 1939, exerceu o cargo de Governador de Macau entre 1991 e 1999, quando se processou a transferência do território para a China. Porém, Rocha Vieira já tinha uma ligação a Macau, pois esteve no território após o 25 de Abril. Além disso, foi ainda ministro da República dos Açores entre os anos de 1986 e 1991.

Uma das primeiras personalidades a reagir à sua morte, em Portugal, foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que manifestou, numa nota oficial, o “profundo pesar” pela morte de Vasco Rocha Vieira, recordando-o como “um dos mais ilustres oficiais” do Exército e enaltecendo o seu “marcado patriotismo”.

Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado recorda Rocha Vieira como “um dos mais ilustres oficiais do Exército Português na transição para a Democracia e nas primeiras décadas da sua afirmação”. “Desde sempre muito ligado aos Comandos, exerceu ainda funções políticas como as de Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores”, é recordado na nota.

Marcelo Rebelo de Sousa destaca ainda que Rocha Vieira foi “muito próximo do Presidente António Ramalho Eanes”, tendo sido por ele “designado Chanceler das Antigas Ordens Militares”.

“O simbolismo do momento da transferência da administração portuguesa para a chinesa permanecerá na memória de muitos portugueses como um exemplo de sentido de Estado, sentido de serviço da causa pública e de marcado patriotismo”, lê-se na nota de pesar.

O Presidente da República, que afirma ter acompanhado “de perto os últimos meses” da vida de Rocha Vieira, “apresenta à sua família, e, muito em especial, à sua viúva e filhos, o testemunho de gratidão de Portugal, com muito saudosa amizade”.

Na sua biografia, intitulada “A todos os portos a que cheguei”, descreve-se o momento em que Mário Soares, então Presidente da República, disse a Rocha Vieira: “Preciso de si. Vá para Macau e veja se põe aquilo na ordem”, numa referência ao caso do fax de Macau, relacionado com a construção do Aeroporto Internacional de Macau, que tantas dores de cabeça deu ao seu antecessor, Carlos Melancia, também já falecido.

O general terá então respondido que nada exigiu para ir para Macau. “Não lhe perguntei nada, nem lhe pus condições. Fui para Macau com o mesmo espírito com que fui para os Açores. Não era um cargo político inerente a uma carreira. Era, de facto, uma missão”, descreve-se.

Coube então a Rocha Vieira e à sua equipa a concretização de todos os objectivos e ideais para o futuro de Macau presentes na Declaração Conjunta que tinha sido assinada entre Portugal e a China em 1987. O Governo liderado por Rocha Vieira viu nasceu o aeroporto, construiu todo o quadro legislativo bilingue que ainda hoje está em vigor e ergueu o Centro Cultural de Macau, inaugurado já por Jorge Sampaio a 19 de Março de 1999, entre tantas outras iniciativas, inclusivamente na área do urbanismo.

Um “grande amigo”

Rocha Vieira chegou, aliás, a pôr o lugar à disposição à frente do Executivo de Macau quando Jorge Sampaio foi eleito Presidente da República, na viragem de 1995 para 1996. “Quando fui para Macau não sabia como as coisas iam correr e quanto tempo ia lá ficar”, recordou na sua biografia. Porém, e apesar de uma inicial hesitação de Sampaio numa mudança, a verdade é que Rocha Vieira acabou por ficar, pois “a sua substituição iria afectar a regular sequência do processo” de transição, numa altura em que “já estava à vista a passagem da administração do território para a China”, descreve-se em “A todos os Portos a que cheguei”.

Em declarações à RTP, Chito Rodrigues, general que foi governador de Macau em exercício, deixou palavras de pesar pelo falecimento daquele que foi um amigo.

“Recordo-o como grande amigo e sócio honorário da Liga dos Combatentes. Sempre se relacionou connosco e é uma referência nossa. Sabíamos que estava mal e não fomos, de certo modo, surpreendidos [com a notícia da morte], mas é sempre uma surpresa desagradável.”

Chito Rodrigues recorda-o no exercício de funções em Macau como alguém que contribuiu “para que Macau fosse um lugar tranquilo para que a descolonização fosse feita de forma ‘exemplar'”. “Estive com ele na abertura do aeroporto e tive relações próximas com ele na qualidade de Governador. Foi alguém que substituiu os seus antecessores com êxito e humildade, repondo a tradição de Governadores militares em Macau”, acrescentou.

No livro “Macau entre dois mundos”, de Fernando Lima e Eduardo Cintra Torres, o antigo Governador de Hong Kong, Chris Patten, recordou Rocha Vieira como “um homem corajoso e judicioso, com enorme integridade e um excelente servidor do seu país”. “Acho que Portugal teve muita sorte em ter um homem tão bom como último Governador, um lugar tão difícil”, apontou.

As polémicas

O nome de Rocha Vieira esteve, no entanto, envolto em algumas polémicas, nomeadamente com a criação da Fundação Jorge Álvares e Fundação Oriente, sobretudo no tocante aos fundos alocados para estas duas entidades. “O grosso da opinião pública do território e as autoridades de Pequim contestavam a legitimidade de um contrato nos termos do qual uma entidade com sede em Lisboa era alimentada com recursos gerados em Macau”, lê-se na biografia de Rocha Vieira. Este apenas pretendia que a fundação “desempenhasse um papel útil para Macau”, tendo a polémica sido diluída com o tempo.

Nas redes sociais, o jornalista e antigo director do Macau Hoje, João Severino disse “lamentar muito” o desaparecimento de Rocha Vieira. “O General Vasco Rocha Vieira deixou-nos, após várias semanas internado no hospital. O último Governador de Macau foi um homem bom para muita gente e discriminatório para muitos. De todo o modo a sua carreira militar foi exemplar e deixou marcas na administração de Macau. Mantive com o ilustre Governador alguns momentos controversos, sempre dentro da maior cordialidade e consideração pelo representante máximo do meu país em Macau. Apresento à sua esposa dra. Leonor e aos seus filhos as minhas condolências e que descanse em paz”, escreveu.

Uma entidade que reagiu ao desaparecimento de Rocha Vieira foi a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), que nas redes sociais divulgou uma nota de pesar sobre a morte daquele que foi o 138.º Governador português de Macau e que presidia ao conselho estratégico da CCILC.

“O General Rocha Vieira desempenhou um papel marcante e exemplar ao longo de toda a sua vida, destacando-se pelo compromisso com o serviço à nação, pela dedicação às relações entre Portugal e a China, e pelo papel histórico no encerramento do ciclo da administração portuguesa em Macau.”

A mesma nota refere ainda que “na liderança do conselho estratégico da CCILC, a sua visão estratégica, sabedoria e valores humanos foram sempre fonte de inspiração para toda a Direção e equipa executiva”.

Também a Câmara Municipal de Lisboa reagiu oficialmente ao seu desaparecimento. “Rocha Vieira dedicou a sua vida à defesa do interesse nacional, servindo notavelmente Portugal como Chefe do Estado-Maior do Exército e como último Governador de Macau. Estadista de visão, assegurou uma transferência pacífica da soberania de Macau para China. Homem de coragem, contribuiu para a consolidação do processo democrático, sendo peça fundamental do 25 de Novembro de 1975. Foi uma honra contar com o seu depoimento na primeira cerimónia de evocação do 25 de novembro nos Paços do Concelho, em 2023.”

O adeus a Macau

São célebres as imagens de Rocha Vieira a segurar a bandeira portuguesa ao peito no dia 19 de Dezembro de 1999, com o rosto visivelmente emocionado, como quem diz adeus à “missão” que aceitou desempenhar em Macau.

Terminada a sua função de Governador, Rocha Vieira foi mantendo laços estreitos com o território, sendo que a última vez que esteve em Macau foi em 2023, para receber a distinção de doutoramento honoris causa da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau.

Aí, destacou que as “boas relações históricas” com a China são “um trunfo para Portugal” e que hoje o país é “uma superpotência em afirmação”. O general disse que “um outro grande trunfo” para Portugal é o interesse na China pela língua portuguesa, sublinhando o número crescente de universidades chinesas que ensinam português. No final de 2020, o Coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa da Universidade Politécnica de Macau, Gaspar Zhang Yunfeng, disse que havia cerca de 50 instituições de ensino superior com cursos de português na China continental.

“A China está interessada em que o português se desenvolva (…) também para poder ter, através de Portugal, uma relação mais estreita com os países de língua portuguesa”, salientou Rocha Vieira.
Numa última entrevista concedida à agência Lusa, em 2019, Rocha Vieira recordou os tempos em Macau e as suas vicissitudes, sobretudo no tocante ao processo de transição.

“Tive mais problemas com a parte portuguesa do que com a parte chinesa (…) muitas vezes, por falta de percepção. Normalmente, as pessoas estão longe, em Lisboa – isso é uma coisa histórica, que não é só de agora – e acham que sabem melhor as soluções do que aqueles que estão em Macau”, afirmou.

Rocha Vieira assegurou que, quando foi necessário definir “o rumo, os objectivos fundamentais das políticas para Macau, foram discutidos pelo Governo de Macau, em Lisboa, com quem deviam ser discutidos, com o Presidente da República e com o primeiro-ministro”, havendo “sempre” sobre isso “uma grande compreensão por parte dos órgãos de soberania portugueses e uma grande prova de confiança em relação a quem estava no território”.

23 Jan 2025

Exposição | “Flora Macanensis” revela memórias de Macau na Polónia

O antropólogo local Cheong Kin Man, a residir em Berlim há muitos anos, juntou-se a Marta Sala, artista polaca, para realizar uma nova exposição, “Flora Macanensis”, que pode ser vista na cidade de Katowice, Polónia, até 28 de Fevereiro. Nesta mostra, o casal explora memórias de família e o passado de Macau, numa conjugação de instalações artísticas e peças têxteis

 

Estreou ao público no passado dia 7 a exposição “Flora Macanensis”, o mais recente projecto da dupla de artistas Cheong Kin Man, natural de Macau, e Marta Stanisława Sala, polaca. Esta mostra está patente até ao dia 28 de Fevereiro na Biblioteca Pública Municipal de Katowice, na Polónia, mas a ideia é que possa visitar vários países e territórios, incluindo Macau.

Segundo uma nota divulgada pelo Instituto Camões na Polónia, esta mostra é um trabalho da dupla composto por “uma série de sete cartazes que conta a história da Flora, mãe do artista, que chegou a Macau clandestinamente nos anos 80 e como a amnistia portuguesa concedida aos imigrantes ilegais no território, depois de uma visita de Mário Soares em 1990, mudou a vida de Macau”.

Mas a mostra inclui também o projecto “A Bússola da Utopia”, com três peças têxteis, que conta a história do pai de Cheong Kin Man. Nesta peça, o artista e antropólogo natural de Macau acaba por “entrelaçar a travessia a nado do pai da China a Macau em 1979 com as estadias do jesuíta polaco Miguel Boym em meados do século XVII e também com a passagem do aventureiro polaco Conde Benyowsky pela colónia portuguesa em 1771”.

Gonzaga Gomes e outros

Desta forma, este trabalho mistura não só memórias pessoais do artista, há muitos anos a residir em Berlim, mas também outros pedaços da história de Macau. Também em “Flora Macanensis” se pode ver o vídeo experimental “O Monumento Pronto-a-Vestir”, que inclui uma entrevista com o navegador e investigador António Abreu Freire. “A obra audiovisual, inspirada no karaoke, demonstra, letra a letra, as traduções inglesa, polaca e cantonesa das palavras de Freire em português”, destaca-se.

A mostra completa-se com “duas dúzias de livros em português e publicados em Macau do tempo da administração portuguesa, incluindo obras do sinólogo Luís Gonzaga Gomes (1907-1976), o jornalista Francisco de Carvalho e Rêgo (1898-1960), bem como um mapa ‘tentativa de reconstituição geográfica da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto feita pelo Visconde de Lagoa'”.

Ao HM, a dupla de artistas contou que esta é a primeira vez que expõem no país de onde é natural Marta Stanisława Sala, com os dois a quererem “concretizar o plano de viver entre Berlim, Macau, Cracóvia e Lisboa”. A dupla trabalha junta desde 2021, tendo vindo a criar “várias línguas fictícias”, sempre dentro das áreas da arte e da antropologia visual.

Marta Sala destaca, sobre “Flora Macanensis”, que “não só é importante ligar o têxtil e o texto nas narrativas auto-etnográficas, mas também a convivência com as pessoas entre Berlim, a Polónia, Macau e Portugal, fontes da nossa criatividade”.

A cidade de Katowice é bastante próxima de Marta Sala, pois no lugar onde hoje existe a biblioteca pública, o seu avô materno teve uma oficina de construção de móveis nos anos do comunismo. Porém, Marta Sala nunca viveu nesta pequena cidade, embora permaneça lá toda a família. A ideia de ali expor surgiu da mãe de Marta.

“A directora pediu-nos a contextualizar o nosso trabalho e propôs-nos a tematizar mais Macau”, destacou Marta, sendo que na sessão de apresentação da mostra teve lugar uma conversa sobre a participação da dupla na edição da Bienal de Macau de 2023.

Marta Sala adianta que, como dupla, procuram “sempre o universal”, enquanto Cheong Kin Man destaca que é-lhe sempre natural falar da sua terra, Macau. “Tanto na Alemanha como na Polónia, sempre queremos falar de Macau de uma forma a que consigamos ter algum reflexo. Quando falámos [na conversa inaugural da exposição] da existência de três passaportes em China, Macau e Hong Kong, pedimos ao público para imaginar as alfândegas entre Katowice, Cracóvia e Varsóvia. Os casos de Macau e da Polónia não são comparáveis, mas a Polónia foi dividida durante séculos”, explicou.

No último ano, a dupla não parou de produzir artisticamente, tendo realizado “De Copenhaga com Amor” e “As Espantosas e Curiosas Viagens” em Nuremberga, que teve o apoio da Fundação Oriente, entre outras entidades. Cheong Kin Man adiantou que esta última mostra poderá realizar-se em Lisboa ainda este ano, estando o projecto em fase de negociações.

22 Jan 2025

Toponímia | Estudo relaciona ruas com nomes lusos com colonialismo

Na dissertação de mestrado “Cultura Sino-portuguesa em Macau – História nas Ruas”, Zhao Zhen defende que a Administração portuguesa diluiu “a identidade nacional” da população chinesa, ao colocar nomes com referência a Portugal nas ruas, nomeadamente de escritores, navegadores, governadores e funcionários públicos

 

Zhao Zhen, autor da dissertação de mestrado “Cultura Sino-portuguesa em Macau – História nas Ruas (História e Cultura Sino-portuguesa sob perspectiva dos nomes das ruas de Macau)”, defende que a escolha de nomes de ruas com referência a Portugal durante os anos da Administração portuguesa foi uma forma eficaz de colonização e de criação do sentimento de pertença à nação colonizadora, sobretudo no que diz respeito à comunidade chinesa.

Na dissertação, defendida na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), conclui-se que “antes do regresso de Macau à China o Governo português levou a cabo uma prática política e cultural através da atribuição de nomes de ruas à maneira portuguesa”.

Assim, os nomes das ruas de Macau serviram “como meio de transmissão de uma memória colectiva, começando com a construção da imagem do Governo português em Macau e a orientação dos seus principais valores”, com recurso a “figuras e acontecimentos históricos icónicos para reforçar a identificação dos colonizados com a sua identidade colonizadora”.

Zhao Zhen acrescentou ainda que “durante os 400 anos da colonização de Macau pelo Estado português foram aplicados símbolos linguísticos aos habitantes de Macau através da nomeação das ruas, diluindo a identidade nacional tradicional dos chineses e implantando a dos colonizadores, alcançando assim o objectivo de remodelar a identidade nacional dos habitantes locais”.

Para o autor do estudo, a questão da toponímia muito particular do território trouxe consequências no que diz respeito à identidade nacional. “Os nomes das ruas de Macau são diferentes dos de outras cidades chinesas, e isto teve impacto na identidade cultural da população local, que cresceu com a história e cultura chinesa e portuguesa e que não tem um forte sentido de identidade cultural. Dilui, assim, a sua missão de transmitir a sua cultura nacional.”

Uma forma de domínio

É certo que o trabalho académico de Zhao Zhen, na área das Ciências da Cultura, chama a atenção para o facto de a toponímia de Macau ser reflexo de uma mistura de culturas. Porém, o autor vai mais longe, analisando quantas ruas existem em português e chinês com nomes de personalidades importantes, destacando-se o facto de a cultura portuguesa ser dominante.

O facto de existirem em Macau ruas com nomes de militares, de antigos governadores ou de políticos portugueses, como Mário Soares, Sidónio Pais ou Ramalho Eanes, é apontado como sinónimo de que os portugueses apostaram “num processo eficaz” de transmitir “uma visão materializada do mundo que influencia e transmite as relações sociais entre pessoas e diferentes classes sociais”. Assim, o que ocorreu foi “um acto que não utiliza a violência como forma de controlo forçado das mentes e da consciência da população”, em que não foi aplicado “um meio de coerção”.

Zhao Zhen refere que “no total existem 26 ruas com o nome de funcionários governamentais portugueses em Macau que se distinguiram pelo contributo que deram à cidade, não havendo qualquer rua com o nome de um funcionário chinês em Macau”.

Tal mostra “a distinção feita pelos colonizadores portugueses enquanto classe dominante e os chineses como classe dominada”, é indicado. Porém, o autor ressalva que “a colonização portuguesa de Macau não foi uma agressão ou domínio absolutos”, pois “os colonizadores tentaram alcançar a liderança a partir de uma variedade de perspectivas, incluindo ideológicas”, em que “o processo de alcançar esta liderança foi intercalado com uma existência cinzenta racial e cultural mais complexa”.

Segundo o autor, “a primeira delimitação sistemática de ruas e o estabelecimento de nomes pelo Governo português de Macau foi em 1869”, sendo que foram usados bastantes nomes com ligação aos Descobrimentos e ao antigo Império português.

Zhao Zhen dá o exemplo da Rua de João de Almeida, que “tem o nome de um general que se destacou nas campanhas de afirmação do poder colonial em Angola, África, no princípio do século XX”.

No total, há 26 ruas com referências aos Descobrimentos e antigos navegadores portugueses, mostrando-se que “a Administração colonial [portuguesa] utilizou forças políticas externas para doutrinar os habitantes de Macau com a intenção de alcançar a liderança, guiando a sociedade através da manipulação espiritual, moral e cultural”. Além disso, o autor considera que foi utilizado “um vocabulário colonial para criar um sentido de identidade e subordinação entre os habitantes, a fim de alcançar uma colonização permanente”.

Destaque para a existência de nove ruas em Macau com o nome de macaenses, como é o caso da Rua Francisco H. Fernandes, que nasceu no território a 13 de Fevereiro de 1863, filho de pais portugueses, e que foi amigo próximo de Sun Yat-sen, pai da Revolução Republicana na China, em 1911.

O lugar dos chineses

Na mesma dissertação lê-se que, em contraste com a primazia das referências à cultura e história portuguesas, existem apenas 12 ruas em Macau “com o nome de chineses”, sendo que a maioria “eram mercadores da península e todos tinham ligações com o Governo português da região”. Por sua vez, “a Avenida Dr. Sun Yat-sen é a única rua com o nome de uma figura política chinesa”.

Citando outro académico, de apelido Kuan, Zhao Zhen refere que “no caso das denominações com nomes de celebridades chinesas, além de serem inferiores em número, foram figuras não políticas”. “O Governo português de Macau, quando baptizava as vias públicas, teve intencionalmente em conta factores políticos, querendo transmitir a mensagem de que Macau se encontrava sob domínio português e que, politicamente falando, era uma colónia portuguesa”, referiu este mesmo académico.

Destaque para duas ruas nomeadas após o regresso de Macau à China, nomeadamente a Avenida Doutor Henry Fok e Avenida Doutor Ma Man Kei. “Estas personalidades distinguiram-se pelas contribuições notáveis para a reunificação de Hong Kong e Macau e para o desenvolvimento da China, pelo que a atribuição do nome da rua a estas personalidades reflecte a influência de factores políticos após o fim da longa história colonial de Macau e a reunificação suave com a China. A adição da palavra ‘doutor’ aos seus nomes mostra ainda mais respeito por eles”, pode ler-se.

Destaque ainda para a existência de 140 ruas em Macau cujos nomes são traduzidos foneticamente do chinês, destacando-se a Avenida de Ip Heng, Avenida de Lok Koi, Pátio de Iong Loc, Pátio Fu Van ou Rua de San Lei. “Todas estas palavras chinesas expressam o desejo do povo numa vida melhor e a procura de qualidade de vida. Outras nomeações estão relacionadas com a religião chinesa, como o Largo de Pao Cong Mio, Rua de Kun Iam Tong”, é referido, sem esquecer as 69 ruas com nomes parafraseados em chinês com ligação a crenças chinesas.

“A fim de viver uma vida melhor e de a encaminhar na direcção que se espera, a nomeação das ruas reflecte elementos geográficos, bem como as esperanças das pessoas para as suas vidas futuras. Os nomes das ruas são mencionados e usados com tanta frequência que as pessoas tendem a dar-lhes bons significados para satisfazerem as suas próprias intenções de uma vida melhor. Influenciados por conceitos culturais tradicionais chineses, muitos dos nomes das ruas em Macau têm significados auspiciosos e de sorte, com as palavras ‘Harmonia, Tranquilidade, Amizade, Benevolência, Concórdia'”.

Há ainda ruas cujos nomes “mostram o desejo dos comerciantes de ter um negócio próspero e de conseguirem todos os lucros que advém da realização dos negócios”.

Em termos gerais, Zhao Zhen conclui que “a experiência de Macau prova a possibilidade de coexistência harmoniosa de diversas comunidades e culturas”, sendo que a toponímia “reflecte a coexistência e mistura do Oriente e do Ocidente, a harmonia e diferença entre eles, que hoje é espelho da cultura e dos valores fundamentais da sociedade”.

21 Jan 2025

TSI | Condenado por vender marcas contrafeitas

Um homem foi condenado a uma pena de oito meses de prisão, suspensa na sua execução por dois anos, devido à venda de artigos contrafeitos em Macau, em violação do “Regime Jurídico de Propriedade Intelectual”. O condenado recorreu para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), que manteve a pena decidida na Primeira Instância.

O caso remonta a Dezembro de 2021, quando o homem encomendou a dois indivíduos, através do “WeChat”, roupas de marcas como “Adidas”, Chanel”, “Nike”, “LouisVuitton” e “MLB”, “a preços que variavam entre dezenas e centenas de renminbi por peça, e as pôs à venda em duas lojas que abriu na Rua de Pedro Nolasco da Silva e na Avenida de Almeida Ribeiro”.

Segundo o acórdão do TSI, o homem “sabia bem que os referidos vestuários eram produtos de marcas contrafeitas, por serem baixos os preços de compra e a qualidade”. A ilegalidade foi descoberta a 28 de Fevereiro de 2022, após uma inspecção à loja na Rua de Pedro Nolasco da Silva.

Além da pena de prisão suspensa, o homem foi condenado a pagar 5 mil patacas de contribuição a favor da RAEM, no prazo de 3 meses contados a partir da sentença transitar em julgado.

21 Jan 2025

Fotografia | Ochre Space com mostra inédita sobre Hosoe Eikoh

Fundada por João Miguel Barros, advogado e residente de Macau, a galeria Ochre Space, em Lisboa, continua a mostrar alguns dos grandes fotógrafos contemporâneos. Desta vez é Hosoe Eikoh, o protagonista da nova exposição da galeria disponível até 8 de Fevereiro

 

Falecido a 16 de Setembro de 2024 em Tóquio, Hosoe Eikoh é homenageado com a nova exposição na galeria Ochre Space, em Lisboa, disponível até ao dia 8 de Fevereiro. Fundada por João Miguel Barros, advogado, curador e residente de Macau, a Ochre apresenta agora uma exposição inédita com um dos nomes mais conhecidos da fotografia japonesa contemporânea, mas também da história de arte feita no país.

Segundo uma nota de imprensa, esta mostra “é a primeira em Portugal e no mundo após a morte de Hosoe”, tendo sido planeada um ano antes, “ainda com o conhecimento do artista”.

Trata-se, assim, de uma exposição que “celebra a vida e o legado de um verdadeiro visionário da fotografia”, tido como “o mestre dos mestres”. “Hosoe Eikoh destacou-se pela sua abordagem única, que elevou a fotografia a uma forma de arte performativa e colaborativa. Trabalhos como ‘Barakei’, criado com Mishima, e Kamaitachi, em parceria com o dançarino butoh Tatsumi Hijikata, exploram os limites entre corpo, identidade e desejo, capturando momentos de intensidade visceral e beleza simbólica”, descreve-se na mesma nota.

A escolha da data para a inauguração da mostra, 14 de Janeiro, deveu-se ao simbolismo que esta acarreta, pois marca “o centenário do nascimento de Yukio Mishima, icónico escritor japonês que inspirou um dos projectos mais emblemáticos da carreira de Hosoe, ‘Ordeal by Roses’ (Barakei)”. Este trabalho é mesmo o grande destaque da exposição na Ochre Space, onde Hosoe usou “a lente para reinterpretar a vida e a obra de Mishima, criando composições carregadas de força estética, e emoção”.

Em 1961 Yukio Mishima, conhecido dramaturgo japonês, convidou Hosoe para o fotografar para um livro de ensaios que ia publicar. Mishima “pretendia uma fotografia de capa menos convencional”, mas segundo João Miguel Barros, Hosoe perguntou se “o podia fotografar à sua maneira”, ao que Mishima respondeu afirmativamente.

“A série de fotografia tiradas foram totalmente inesperadas: Mishima envolto numa mangueira em diversas posições, de pé ou deitado no jardim de sua casa. Uma dessas fotografias acabou por ser a capa do livro de ensaios publicado em 1961, com o título ‘The Attack of Beauty’. E esse foi também o começo de ‘Barakei’, sendo essa fotografia e essa série uma parte importante do início do livro”, descreveu o fundador da Ochre Space.

Assim, na galeria, o público pode ver uma selecção de imagens do livro “Barakei”, editado pela primeira vez no Japão em 1963, e que originalmente teve como nome “Killed by Roses”.

Legado intemporal

A galeria descreve ainda o facto de, ao longo da sua vida, Hosoe ter sido “amplamente reconhecido pela sua contribuição para a fotografia mundial, tendo recebido, entre outros, o Prémio de Realização de Vida da Sociedade Fotográfica do Japão (1963) e a Ordem do Sol Nascente, atribuída pelo governo japonês em 2017”.

Esta mostra visa mostrar esse legado intemporal do fotógrafo e o “impacto duradouro de Hosoe na arte contemporânea, celebrando a sua capacidade de transcender barreiras culturais e temporais, desafiando e inspirando gerações futuras”.

No dia 8 de Fevereiro, a partir das 16h, a exposição encerra com uma conversa em torno da obra do fotógrafo, sob o tema “Hosoe e Mishima juntos na Imortalidade”. Esta conversa reúne José Bértolo, professor na Universidade Nova, Tânia Ganho, autora e tradutora da obra de Yukio Mishima em Portugal, e João Miguel Barros.

Promete-se “a exploração de diferentes ângulos da obra e legado de Hosoe”, nomeadamente as várias edições de “Barakei”, “a visão literária de Mishima e a potência da fotografia de Hosoe enquanto arte performativa e simbólica”. Trata-se, segundo a organização, de “uma oportunidade única para celebrar a intersecção entre artes visuais e literatura, no espírito visionário do mestre japonês”.

21 Jan 2025

Desporto | Pereira Coutinho quer construção de mais infra-estruturas

O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre a necessidade de construir mais infra-estruturas desportivas a pensar no desenvolvimento saudável dos jovens, lamentando que, nos últimos anos, o território tenha sofrido “um desordenado processo de planeamento citadino e rodoviário que contribuiu para a destruição de meia dúzia de campos de futebol de 11 jogadores”.

Assim, “neste momento é extremamente difícil encontrar um campo de futebol público com estruturas adequadas a esta prática desportiva”, tendo em conta o desaparecimento “de dois dos mais frequentados campos de futebol, o Campo Desportivo ‘Lin Fong’ e o campo de futebol do Tap Seac”.

“Que medidas concretas vão ser implementadas pelo Governo para substituir estes dois campos, permitindo que, no futuro, os jovens futebolistas tenham mais oportunidades para se dedicarem a esta modalidade?”, questionou.

Além disso, Pereira Coutinho quer saber quais são os planos existentes para a formação de atletas de futebol e hóquei em campo, a fim de “melhorar a qualidade, o nível e o ranking das equipas e selecções representativas da RAEM em futebol, hóquei em campo e em patins que participam em competições regionais e internacionais”.

21 Jan 2025

Oxfam | Relatório diz que fortunas dos mais ricos aumentaram em 2024

Um relatório divulgado ontem pela Oxfam indica que as fortunas dos mais ricos do mundo aumentaram dois biliões de dólares no ano passado, o equivalente a 5,7 mil milhões de dólares por dia. A organização não governamental sugere medidas que favoreçam a igualdade e alerta para os riscos da concentração de riqueza e poder

 

Chama-se “Takers not Makers – The unjust poverty and unearned wealth of colonialism” [Os que recebem e não criam – A injusta pobreza e a riqueza não merecida do colonialismo] e é o mais recente relatório da Oxfam, organização não governamental (ONG) que reúne 19 países. O documento chama atenção para a pobreza no mundo e para as desigualdades na distribuição da riqueza.

O relatório divulgado ontem conclui que a desigualdade não dá sinais de abrandar. Isto porque, no ano passado, a riqueza combinada de multimilionários, a nível global, aumentou dois biliões de dólares, o equivalente a 5,7 mil milhões de dólares por dia, segundo a Oxfam.

Tal significa que cresceu a um ritmo três vezes superior ao do ano anterior, de acordo com a ONG.

Esta foi a principal conclusão do relatório divulgado ontem por ocasião do início do Fórum Económico Mundial de Davos, que todos os anos reúne os principais líderes políticos e económicos do mundo na cidade alpina.

Só no último ano, refere o relatório, surgiram em média quase quatro novos multimilionários por semana, dado que a Oxfam põe em contraste com os dados da pobreza do Banco Mundial, que estima que o número de pessoas que vivem com menos de 6,85 dólares por dia quase não se alterou desde 1990.

Em 2024, havia em todo o mundo 2.769 multimilionários, em vez de 2.565 no ano anterior, e a sua riqueza combinada aumentou de 13 para 15 biliões de dólares em apenas 12 meses. É o segundo maior aumento da riqueza combinada dos multimilionários num único ano desde que há registo.

Mais 100 milhões

A riqueza conjunta dos dez homens mais ricos do mundo aumentou, em média, quase 100 milhões de dólares por dia, indica o estudo. Mesmo que perdessem 99 por cento da sua riqueza de um dia para o outro, “continuariam a ser multimilionários”.

A ONG prevê que, em menos de uma década, surja o primeiro “bilionário” do planeta e não exclui a possibilidade de haver pelo menos cinco. A nível mundial, o relatório revela que 36 por cento da riqueza dos mais ricos é herdada e 61 por cento é também marcada pelo clientelismo e/ou ligada ao poder monopolista.

A Oxfam baseia-se nos dados do ‘ranking’ de riqueza da revista Forbes, que mostram que todos os multimilionários com menos de 30 anos herdaram a sua riqueza e, segundo dados do banco suíço UBS, nos próximos 20 a 30 anos, mil dos multimilionários actuais deixarão aos seus herdeiros mais de 5,2 biliões de dólares.

Dinheiro do Sul

Para a Oxfam, o sistema “faz com que se movam grandes fluxos de dinheiro do Sul global para o Norte, beneficiando a população mais rica”, numa espécie de “colonialismo moderno”.

Só em 2023, através do sistema financeiro, terão sido retirados 30 milhões de dólares por hora dos países do Sul global para o 1 por cento mais rico dos países do Norte global, como o Reino Unido, os Estados Unidos e França.

Deste modo, os “super-ricos” dos países do Norte global controlam 69 por cento da riqueza mundial, concentram 77 por cento da riqueza conjunta de todos os multimilionários e representam cerca de 68 por cento do total, embora constituam apenas 21 por cento da população mundial.Para contextualizar esta desigualdade, a Oxfam refere o problema da habitação em Espanha e estima que “os cinco futuros bilionários do planeta terão tanto dinheiro que poderão comprar todas as casas do país”.

Em contraste, é chamada a atenção para o facto de a “classe trabalhadora lutar para sobreviver.” “Quem vive em pobreza em todo o mundo continua a enfrentar múltiplas crises, pois as cicatrizes da pandemia ainda estão connosco sob forma de dívidas impagáveis, salários mais baixos e preços de géneros alimentícios muito mais elevados”.

Além disso, “os conflitos também estão a aumentar, o que contribui para a pobreza, fome e desigualdade”, sem esquecer “o enorme impacto humano da degradação climática que aumenta todos os anos, com mortes causadas por calor excessivo, condições climáticas extremas e fome”.

A Oxfam diz mesmo que a reeleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, em Novembro último, “deu um enorme impulso às fortunas dos bilionários, enquanto as suas políticas estão preparadas para atiçar ainda mais as chamas da desigualdade”.

A ONG destaca também dados do Banco Mundial no seu mais recente relatório sobre pobreza, onde é referido que “se as actuais taxas de crescimento se mantiverem e a desigualdade não diminuir, será necessário mais de um século para acabar com a pobreza”. O documento mostra que “se reduzirmos a desigualdade, a pobreza poderia ser eliminada três vezes mais depressa”.

Um dos destaques vai para a contribuição das mulheres para a riqueza de poucos. “As mulheres racializadas que vivem na pobreza, especialmente as que estão no ‘Sul Global’, continuam a subsidiar a economia global. Estima-se que todos os dias as mulheres contribuem com 12,5 biliões de horas de trabalho não remunerado, acrescentando pelo menos 10,8 triliões de dólares em valor à economia global”. Nesse contexto, “a contribuição económica do seu trabalho de prestação de cuidados é três vezes superior ao valor financeiro da indústria tecnológica mundial”.

Um novo colonialismo

É certo que a descolonização de regiões colonizadas por potências europeias começou a ocorrer com mais força a partir da Conferência de Bandung, em 1955, mas persistem sinais de desequilíbrio de poder entre povos e países que explicam, em parte, a desigualdade de riqueza que ocorre hoje.

A ideia de um novo colonialismo, no sentido em que regiões como a Europa ou América do Norte continuam a explorar os países do Sul, sobretudo os menos desenvolvidos, está bem patente no relatório da Oxfam. “A ascensão de uma nova oligarquia em que a herança, o clientelismo e o poder de monopólio geram riqueza extrema. Sem controlo, estamos prestes a ver a maior transferência da maior riqueza geracional da história da humanidade, dificilmente ganha, dificilmente tributada”.

O que se passa hoje é um panorama de “colonialismo bilionário”, descreve a Oxfam, com a “transferência de riqueza não apenas para os ultra-ricos, mas desproporcionadamente para os ultra-ricos do Norte Global”. Há um “acerto de contas com o colonialismo não só como uma história de extração brutal de riqueza, mas também como uma força poderosa que conduz a níveis extremos de desigualdade hoje”.

A Oxfam chama também atenção para uma nova onda de colonialismo patente nas acções das grandes instituições económicas e financeiras que decidem o rumo da economia global, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial. “As instituições globais, os mercados financeiros e as empresas multinacionais, todas elas moldadas pelo colonialismo e domínio dos países ricos, continuam a facilitar a transferência sul-norte de triliões de dólares todos os anos.”

Para a Oxfam, a ONU, FMI e Banco Mundial “foram criados há 80 anos, perto do fim do período colonial histórico, e a sua governação desigual pouco se alterou desde então”.

“Os países do G7 continuam a deter 41 por cento dos votos no FMI e Banco Mundial, apesar de terem menos de dez por cento da população mundial. Os líderes do Banco Mundial e do FMI continuam a ser decididos pelos Estados Unidos e Europa, respectivamente. De igual modo, os países europeus e outras nações do Norte Global detêm 47 por cento do total de assentos no Conselho de Segurança da ONU, apesar de representarem apenas 17 por cento da população mundial”.

De referir que “o FMI e o Banco Mundial continuam a ter uma enorme influência no sistema económico global e, em particular, nas políticas económicas dos países de baixo e médio-baixo rendimento”. Estas entidades, segundo a Oxfam, “insistem sistematicamente na implementação de cortes em despesas críticas”.

Um dos exemplos apresentados é do FMI, que “exige que os países devedores priorizem o pagamento das dívidas a credores acima de tudo e que implementem políticas que incluam a privatização, liberalização do comércio e redução dos défices públicos para obter novos empréstimos”. “Estas políticas prejudicam o acesso a uma educação de qualidade e a preços acessíveis e cuidados de saúde, com um impacto negativo na saúde pública”, acrescenta-se.

O que fazer?

A Oxfam propõe uma série de medidas para mitigar a crescente desigualdade entre os mais ricos e o resto do planeta, sugerindo, entre outras, que os Governos se comprometam a garantir que o rendimento dos dez por cento mais ricos da população não excederá o dos 40 por cento mais pobres, tanto a nível nacional como mundial.

O relatório insta também a um aumento dos impostos sobre as grandes fortunas, através de um sistema fiscal internacional concebido pela ONU, e a eliminação dos paraísos fiscais. Com Lusa

21 Jan 2025

Burla | Mais de três anos de prisão por uso de notas falsas

Um homem foi condenado a três anos e três meses de prisão efectiva por usar “notas de treino”, ou seja, falsas, num esquema de burla de troca de dinheiro que envolveu contactos via WeChat e um intermediário que apresentou queixa do caso. O acusado recorreu da sentença, sem sucesso

 

Um homem foi condenado a três anos e três meses de prisão efectiva por ter ajudado a transportar “notas de treino”, ou seja, notas falsas num esquema de câmbio promovido através da rede social WeChat. O caso remonta a Outubro de 2023. O acusado recorreu da sentença para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), que, no entanto, não deu provimento ao recurso.

Tudo começou quando o acusado “alcançou um acordo de cooperação com vários indivíduos via WeChat”, em que estes “mentiam, dizendo que eram capazes de trocar RMB [renminbis] por dólares de Hong Kong”, descreve o acórdão do TSI. Para tal, era feito um pedido nesse grupo para que “quem quisesse cambiar RMB para os transferir para uma designada conta bancária no Interior da China”.

O acusado mostrou, nesse grupo”, as chamadas “notas de treino”, em tudo semelhantes às notas de mil dólares de Hong Kong, sendo que o objectivo era “enganá-los visualmente e apoderar-se ilegitimamente do dinheiro”.

Sucede que outro homem travou conhecimento com um cambista a operar em Macau “por intermédio de amigos”. Este cambista disse “poder trocar 482.500,00 RMB por 500.000,00 HKD em numerário”, tendo dado todas as informações desse negócio ao acusado, que depois entregou num quarto de hotel um “saco de viagem preto contendo seis maços de ‘notas de treino’ agrupados com gazes brancas”, a fim de concluir o câmbio com o homem que contactou o cambista.

Fraca ilusão

Já na posse dos 500 mil dólares de Hong Kong, o homem que fez o contacto com o cambista em Macau transferiu o dinheiro, “através de um amigo”, para a conta bancária que tinha sido indicada no grupo do WeChat, mas apercebeu-se então “da falsidade dos dólares de HK entregues por A [acusado]”. Foi aí que, “percebendo que foi enganado por este, participou o acontecimento à polícia”.

Na primeira instância houve, assim, uma condenação de três anos e três meses de prisão pelo crime de burla de valor consideravelmente elevado, “cometido em co-autoria material e de forma consumada”, sendo que o acusado foi levado a “assumir responsabilidade solidária com os associados, se houvesse de pagar 482.500,00 RMB a B [homem que contactou o cambista], a título de indemnização”.

No recurso apresentado junto do TSI, o acusado argumenta que “foi enganado e utilizado por outrem e que aproveitara a sua viagem a Macau para transportar dinheiro, a fim de ajudar outros”. Este disse ainda não saber “que as notas em questão eram ‘de treino'”, até o homem que fez a queixa à polícia ter verificado isso.

O acusado referiu também, para provar a inocência, que nunca teve “intenção de burlar outrem para se enriquecer e em termos objectivos, que nunca havia posto em prática uma artimanha para iludir” o homem que fez a queixa. Assim, “não estavam verificados os requisitos constitutivos do crime de burla”.

Porém, o TSI não teve o mesmo entendimento, tendo comprovado que o acusado procurou obter “benefícios ilegítimos tanto para si próprio como para outrem”, juntando-se “a outros por acordo de cooperação, para induzir B [o queixoso] em engano acerca da autenticidade das notas”.

20 Jan 2025

AMAGAO | Obras de 32 artistas para ver até Março no Artyzen Grand Lapa

A exposição da galeria AMAGAO, no Artyzen Grand Lapa, traz uma panóplia de artistas locais e estrangeiros, com ligações à lusofonia, muitos deles que já expuseram em Macau. “Good Time” [Bom Momento] faz-se já sem José Isaac Duarte à frente do projecto da AMAGAO, que conta agora com Vítor Hugo Marreiros

 

Chama-se “Good Time” [Bom Momento] e é com ela que a galeria AMAGAO dá as boas vindas ao ano de 2025. A nova exposição patente no Artyzen Grand Lapa até 17 de Março traz uma variedade de artistas e de trabalhos artísticos, num total de 32, oriundos de 12 países e regiões diferentes, não só da China, Macau e Hong Kong como de países como Brasil, França, Guiné-Bissau, Indonésia, Itália, Portugal, São Tomé e Príncipe, Tailândia e Estados Unidos da América.

A exposição foi inaugurada na última sexta-feira e apresenta trabalhos de artistas já bem conhecidos do público local, nomeadamente o arquitecto Alexandre Marreiros ou Alice Kok, ligada à curadoria de diversos projectos artísticos e co-fundadora da AFA – Art For All Society. Destaque ainda para o trabalho de joalharia de Cristina Vinhas ou dos desenhos de Eric Fok, conhecido pelos seus mapas artísticos cheios de detalhes, ou ainda Giulio Acconci e Fortes Pakeong Sequeira, só para enumerar alguns residentes que voltam a expor os seus trabalhos.

De resto, a AMAGAO resolveu trazer de novo alguns artistas que já expuseram em Macau em mostras anteriormente promovidas por esta galeria, como é o caso de Suzy Bila, artista que trouxe, em 2023, “Paisagens Interiores”, integrada na Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau.

Nascida em Moçambique e a residir em Portugal, Suzy Bila confessou ao HM, por altura da exposição, que “a pintura não tem territórios”, e que não faz arte para todos, sujeitando-se a múltiplas análises e olhares.

Outro nome que estará representado em “Bom Momento”, é Abílio Febra, natural de Leiria e que trabalha essencialmente com escultura.

Além de inaugurar um novo ano com esta exposição, a galeria AMAGAO apresenta uma nova reestruturação interna, uma vez que José Isaac Duarte, co-fundador, deixou o projecto, apurou o HM, estando neste momento o artista e designer macaense Vítor Hugo Marreiros na equipa, ao lado de Lina Ramadas.

Inspirações dinásticas

“Bom Momento” vai buscar parte da sua essência a um poema do período da dinastia Song, reflectindo, segundo uma nota da organização, “um sentimento de serenidade e gratidão pelas estações da vida”.

“Na Primavera há todo o tipo de flores, no Outono há lua, no Verão há brisas frescas e no Inverno há neve. Quando não há nada com que nos preocuparmos, essa é uma boa estação da vida humana”, é descrito. Desta forma, a exposição “convida os visitantes a abrandar o ritmo, a apreciar a arte e a encontrar tranquilidade no seu ‘jardim’ diversificado de expressões criativas”.

Esta mostra é, ao mesmo tempo, “um presente de Ano Novo que a galeria AMAGAO oferece à comunidade, enfatizando a capacidade da arte de promover a paz e a harmonia”.

Joey Ho, curadora convidada, disse que o objectivo é fazer com que o público possa “abrandar o ritmo e apreciar as obras”, sendo, assim, possível “desfrutar do bom momento partilhado pelos artistas”.

Rutger Verschuren, director-geral do Artyzen Grand Lapa, destacou que a colaboração desta unidade hoteleria com a galeria AMAGAO “continua a proporcionar oportunidades inigualáveis de intercâmbio artístico”, sendo que esta mostra “é um reflexo impressionante de como a arte pode unir-nos e enriquecer as nossas experiências, marcando um início de ano significativo”.

20 Jan 2025

LAG | Associação pede alterações à lei de habitação económica

A Associação Geral dos Conterrâneos de Fukien em Macau entende que a lei de habitação económica deve ser alterada para modificar o tipo de fracção consoante a evolução do tamanho dos agregados familiares. A ideia foi defendida num encontro com o secretário para os Transportes e Obras Públicas a propósito das novas linhas de acção governativa

 

No decorrer dos encontros do Governo com associações locais a propósito das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, foi defendida a alteração da lei de habitação económica para que os moradores possam mudar de tipologia de apartamento conforme as mudanças no tamanho dos agregados familiares.

A ideia foi deixada pelo deputado Nick Lei, vice-presidente da Associação Geral dos Conterrâneos de Fukien, num encontro de sexta-feira com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam. Segundo uma nota oficial, Nick Lei sugeriu “a optimização da lei de habitação económica”, sendo que, nesse contexto, “o Governo deve considerar melhorar a lei da habitação pública com base na realidade, permitindo aos residentes mudarem das fracções em que habitam devido a alteração da estrutura familiar, com o intuito de elevar a sua qualidade de vida”.

O deputado defendeu ainda o “aproveitamento sensato e de acordo com a lei das reservas de terrenos”.

Por outro lado, Chan Meng Kam, presidente da associação e antigo deputado, defendeu melhorias “na tutela dos Transportes e Obras Públicas” ao nível dos procedimentos administrativos, assim como a elevação “do processo de autorização e acelerar o planeamento de construção” em prol do “aperfeiçoamento do desenvolvimento urbano”.

As sugestões dos conterrâneos da província de Fujian, para a área das obras públicas, vão ainda no sentido de rever “a gestão de activos da concessão de telecomunicações, o aperfeiçoamento dos serviços de táxi, a gestão de fluxo de passageiros no aeroporto e a reconstrução de prédios antigos na zona norte”, entre outras. Raymond Tam prometeu focar-se “nas construções e instalações complementares nas zonas antigas, procurando conseguir um desenvolvimento equilibrado”.

Recorde-se que entre as empresas escolhidas pelo Governo para explorar as novas licenças de táxis surgem os nomes de vários dirigentes de associações ligadas à comunidade de Fujian e à Fundação de Chan Meng Kam.

Transportes preocupam

Raymond Tam reuniu também, a propósito das LAG, com a Associação Comercial de Macau, na sexta-feira. Ma Chi Ngai, presidente da direcção, lembrou a importância das áreas dos transportes e obras públicas por estarem “intrinsecamente ligadas à vida da população”, tendo sido apresentadas cinco sugestões. Uma delas prende-se com a necessidade de garantir que “a linha este do Metro Ligeiro e outras infra-estruturas essenciais sejam promovidas com sucesso e finalizadas conforme o calendário previsto, melhorando assim a eficiência do trânsito da cidade, proporcionando à população local e aos turistas uma deslocação mais facilitada e confortável”.

Foi também pedido um “plano destinado à rede de trânsito nos arredores da zona este da cidade”, tendo sido sugerida “uma concepção e aperfeiçoamento mais sistemático, com vista a aliviar a pressão do trânsito”.

Neste encontro, o secretário garantiu que irá tentar resolver estes problemas e que “a que a população está mais atenta, como as deslocações, habitação, planeamento urbano, coordenação entre estradas rodoviárias e obras públicas e o combate às inundações no Porto Interior”, sem esquecer “a protecção ambiental”.

No sábado o secretário reuniu com dirigentes da Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM) que sugeriram a elaboração “de um programa especial de trânsito e transportes em articulação com o desenvolvimento dos transportes transfronteiriços”. O organismo representado na Assembleia Legislativa pediu também “a operação estável do Metro Ligeiro e o aperfeiçoamento de instalações complementares”. Foi também solicitada a “optimização do número de táxis e elevar a qualidade dos serviços prestados pelos seus condutores”.

Raymond Tam disse que dará “primazia aos transportes públicos”, “crucial para melhorar a situação de tráfego em Macau”, ficando a promessa de resolver “alguns problemas existentes no Metro Ligeiro”, como “a suspensão de serviços por falhas técnicas, a morosidade na retoma dos serviços após condições meteorológicas extremas e a insuficiência relativa ao pagamento electrónico”.

Pedido desenvolvimento do sector financeiro

Dirigentes da União Geral das Associações de Moradores de Macau defenderam na sexta-feira, num encontro com o secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, a importância do “desenvolvimento do sector financeiro moderno e sector segurador” na elaboração de medidas para o novo relatório das Linhas de Acção Governativa. Segundo uma nota oficial, os dirigentes dos Moradores salientaram também a necessidade de promover a “economia comunitária, o programa de introdução de quadros qualificados e a exploração das actividades por pequenas e médias empresas”. Por seu lado, Tai Kin Ip disse que pretende “analisar de forma séria as opiniões e sugestões apresentadas”.

FAOM pede mais recursos para saúde mental

Dirigentes da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) pediram mais recursos para tratamento de doenças do foro mental, num encontro no sábado com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam. Segundo uma nota oficial, foi defendida a necessidade de “aumentar os recursos de apoio à saúde mental, reforçando a ligações entre instituições públicas e privadas”. Para o novo relatório das Linhas de Acção Governativa para 2025, foi também discutida a necessidade de “formar mais quadros qualificados médicos locais” e “implementar medidas amigáveis às famílias, melhorando o ambiente e serviços das creches”, bem como “promover serviços profissionais de voluntários”. O Lam prometeu “a contínua revisão integral dos actuais serviços médicos”, além de se analisar o aumento das pensões e “aperfeiçoar o regime de segurança social”. A secretária reuniu também, no sábado, com a Associação Comercial de Macau, cujos dirigentes apontaram a necessidade de “aperfeiçoar o regime de registo do medicamento tradicional chinês”.

20 Jan 2025

Aviação | HK Express considerada a companhia low-cost mais segura

A nova edição do ranking de companhias áreas mais seguras, da Airline Ratings, destaca a low-cost Hong Kong Express como líder do top 10. Na lista surgem outras companhias com voos para Macau, nomeadamente a AirAsia, em sexto lugar, e a JetStar, de Singapura, em segundo lugar

 

Foi divulgado na semana passada a nova edição do ranking de companhias áreas mais seguras do mundo pela Airline Ratings. E o destaque, no ramo das empresas de baixo custo, vai para a Hong Kong Express, com os organizadores da lista a explicarem que “em comparação com a lista do ano passado não houve mudanças significativas”. A HK Express “não teve nenhum incidente sério e mantém um registo de segurança relativamente impecável “, é ainda referido.

Citando a OAG, uma plataforma global que fornece dados de viagens, a Airline Ratings destaca, numa outra nota de 7 de Janeiro, que a HK Express, uma subsidiária da Cathay Pacific, “expandiu as suas operações de forma significativa no ano passado”, aumentando o número de voos em 46 por cento, “passando de 23.940 voos em 2023 para 35.015 em 2024”, graças “a uma rede alargada e à capacidade adicional da frota”.

O crescimento da HK Express parece estar em consonância, também segundo a OAG, com a “recuperação abrangente do Cathay Pacific Group, que restaurou totalmente as suas operações para níveis anteriores à pandemia”, tendo actualmente voos para 30 destinos em toda a Ásia, incluindo China, Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Vietname, Tailândia e Filipinas.

Ainda no top 10 das mais seguras do mundo, e a preços mais baixos, estão a JetStar, de Singapura, e a AirAsia em sexto lugar, esta última com uma grande oferta de voos de e para o Aeroporto Internacional de Macau, nomeadamente para as cidades e regiões de Kuala Lumpur, Penang e Kota Kinabalu, na Malásia; Banguecoque e Chiang Mai, na Tailândia; Manila, capital das Filipinas, e ainda Jacarta e Bali, na Indonésia. Em oitavo lugar encontramos a VietJet Air, e a Cebu Pacific em 22º lugar, só para dar alguns exemplos.

No caso das companhias aéreas europeias, a Ryanair encontra-se em terceiro lugar em matéria de segurança, seguindo-se a EasyJet em quarto lugar. Os organizadores destacam ainda novas entradas para o ranking das companhias aéreas de baixo custo mais seguras do mundo, tal como a Zipair, Jet2 e a Air Baltic. Pelo contrário, verifica-se “uma notável omissão, este ano, com a Spirit Airlines”, que abriu falência, em Novembro de 2024, “para restruturação das suas finanças e redução da dívida”.

Air New Zealand em 1º

No que diz respeito às companhias áreas que operam no mercado regular, a mais segura é a Air New Zealand, seguindo-se a Qantas. Hong Kong volta a marcar pontos por ocupar a terceira posição com a Cathay Pacific, lugar partilhado com a Emirates, do Dubai; e a Qatar Airways. Da Ásia constam ainda companhias como a EVA Air, de Taiwan, em quarto lugar; e a Korean Air, em quinto. A portuguesa TAP Portugal surge em oitavo lugar.

Sharon Peterson, CEO da Arline Ratings, frisou que “a Air New Zealand e a Qantas voltaram a disputar o primeiro lugar com apenas 1,50 pontos de diferença”. “Embora ambas as companhias aéreas mantenham os mais elevados padrões de segurança e formação de pilotos, a Air New Zealand continua a ter uma frota mais jovem do que a Qantas, o que separa as duas”, acrescentou.

A edição deste ano do rating destaca a posição solidificada da Vietnam Airlines, que foi considerada a 22ª mais segura para viajar do mundo e que se destacou em prémios recentes da Airline Ratings. “A Vietnam Airlines não teve nenhum acidente fatal em 27 anos, nem nenhum incidente grave. A companhia aérea opera uma frota de 100 aeronaves modernas, com uma idade média inferior a 10 anos, e a empresa tem passado sem falhas a sua certificação IOSA desde 2006. Além disso, o Vietname também fez grandes progressos na segurança da aviação com melhores aeroportos, actualizações do sistema de navegação e protocolos muito mais rigorosos. Tudo isto, em conjunto, garante-lhes um lugar no nosso top 25”, disse Sharon Peterson.

A United Airlines surge em 23º lugar da lista das companhias áreas regulares mais seguras, quase nos últimos lugares. No caso do segmento low-cost, a Air Baltic ocupa a última posição, sendo uma estreia da empresa no ranking.

Singapore Airlines de saída

Ainda sobre os lugares cimeiros, Sharon Peterson destacou que “o empate a três para o terceiro lugar deveu-se ao facto de simplesmente não conseguirmos separar estas companhias aéreas”, isto porque “desde a idade da frota até às competências dos pilotos, práticas de segurança, dimensão da frota e número de incidentes, as pontuações foram idênticas”, referiu.

A CEO estabeleceu ainda uma comparação com a lista de 2024, sendo que “algumas das alterações mais significativas incluem a inclusão da Iberia e da Vietnam Airlines (que fizeram a sua estreia na lista), bem como a subida da Korean Air para o top 10”.

No tocante a ausências, refere-se a saída da Singapore Airlines e KLM. “Embora estas companhias aéreas continuem a ser excepcionalmente seguras e mantenham a sua classificação de segurança de sete estrelas, perderam por pouco um lugar este ano devido a incidentes ocorridos”, referiu na mesma nota.

Os critérios utilizados pela Airline Ratings prendem-se com a ocorrência de “incidentes sérios nos últimos dois anos”, a idade e tamanho da frota, o rácio de acidentes, o número de mortos, a formação e competências dos pilotos e demais certificações internacionais possuídas pela empresa. Um dos factores a ter em conta na hora de avaliar as empresas é também a forma como os acidentes são geridos.

Um estudo recente sobre segurança na área da aviação destaca que entre 2018 e 2022 o risco de mortes por voo foi de um por 13.7 milhões, sendo que, em comparação, “a Organização Mundial de Saúde estimou 1.19 milhões de mortes por acidentes nas estradas em 2023, o que representa mais de duas mortes por minuto”.

Trauma recente

Um dos acidentes aéreos mais recentes ocorreu na Coreia do Sul, praticamente no final do último ano. Um voo da Jeju Air teve um grave acidente de aterragem no aeroporto de Muan, levando à morte de 179 das 181 pessoas que seguiam a bordo. Os dois sobreviventes eram tripulantes do voo.

O Airline Ratings foi criado em 2012, analisando mais de 230 companhias áreas de todo o mundo que abrangem 99 por cento do mercado mundial de passageiros. De fora do top 25 estão companhias aéreas chinesas, incluindo a Air Macau.

20 Jan 2025

Mulheres | Defendida maior aposta no patriotismo dos jovens

Dirigentes da Associação Geral das Mulheres entendem que, aquando da elaboração do relatório para as Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, a tutela dos Assuntos Sociais e Cultura deve “reforçar continuamente os trabalhos relacionados com a educação patriótica dos jovens”, bem como “fortalecer a sensibilização para as comemorações importantes” e ainda “reforçar a cooperação regional sobre a educação patriótica”. Estas ideias foram deixadas por Un Sio Leng, presidente da direcção, num encontro com a secretária O Lam.

A reunião, que decorreu na quarta-feira, serviu para a recolha de opiniões sobre as LAG, integrando-se na ronda de encontros com associações tradicionais que o Governo tem levado a cabo. As restantes membros da direcção, como Cheung Pui Peng, Chong Leng Leng e Chau Wai I sugeriram “a criação da reserva de quadros qualificados diversificados, a implementação da transversalização de género e o apoio na participação das mulheres na política”. Foi também sugerido “o aumento dos valores dos subsídios para aliviar o custo de vida”.

O Lam, por sua vez, assegurou que vai ter em atenção, na elaboração das LAG para a tutela, “aos assuntos relacionados com o envelhecimento da sociedade, o crescimento dos jovens e a protecção das mulheres e das crianças”.

16 Jan 2025

Cheques | Pedidos limites para residentes que estão fora

A deputada Lo Choi In defende que o novo Executivo deve rever o sistema de comparticipação pecuniária, a fim de limitar a atribuição de cheques pecuniários aos residentes que estão fora de Macau. Para a responsável, deveria ser criado um mecanismo permanente de atribuição e definir que, para os receber, os residentes teriam de ficar em Macau 183 dias por ano

 

Numa altura em que o Governo já começou a ronda de auscultações a propósito do novo relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, a deputada Lo Choi In apresenta a sua sugestão: limitar a atribuição dos cheques pecuniários apenas aos residentes que vivem, de facto, em Macau, para uma melhor utilização dos fundos públicos.

Segundo o Jornal do Cidadão, a deputada afirmou que são necessárias alterações ao sistema de comparticipação pecuniária, que existe desde 2008 e que, actualmente, atribui aos residentes não permanentes seis mil patacas, e aos permanentes dez mil patacas, por ano.

A deputada ligada à comunidade de Jiangmen recordou que apoios como a pensão para idosos, o subsídio de sete mil patacas nas contas de previdência e o regime de segurança social obrigam os beneficiários a estar em Macau 183 dias por ano para os poderem receber, a fim de assegurar que estes mantêm uma relação estreita com o território. Assim, Lo Choi In afirmou que o mesmo argumento deveria ser aplicado no caso dos cheques pecuniários, a fim de melhor se aproveitar o erário público.

Para os residentes que já não vivem em Macau, a deputada defende limites na atribuição dos cheques, para que esse montante seja poupado e aplicado nos apoios ao desenvolvimento dos bairros comunitários e a incentivos à economia local.

Mudar a lei

Actualmente, o sistema de comparticipação pecuniária, nomeadamente quanto ao calendário de distribuição e valores, é decidido anualmente por regulamento administrativo, mas a deputada pede alterações na legislação para que a atribuição dos cheques passe a ter um funcionamento permanente. Lo Choi In lembrou que, nos últimos tempos, têm surgido opiniões sobre a necessidade de se melhor aproveitar os saldos orçamentais extraordinários e utilizá-los apenas com residentes que mantém uma ligação estreita a Macau.

Em 2022, o deputado Leong Sun Iok defendeu que o Executivo deveria deixar de atribuir cheques às pessoas com estatuto de residente que “já não têm contacto” com a região e que vivem “permanentemente” fora da China.

Nesse ano, a medida custou aos cofres públicos 7,23 mil milhões de patacas, sendo que mais de mil milhões de patacas foram distribuídos às “mais de 100.000” pessoas com estatuto de residente permanente, mas que “residem permanentemente no estrangeiro”, disse Leong Sun Iok numa sessão plenária.

16 Jan 2025

Encontro | Chineses Ultramarinos pedem melhores transportes a Raymond Tam

Dirigentes da Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau reuniram esta terça-feira com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam, a propósito da preparação do novo relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, tendo defendido a necessidade de melhores meios de transporte.

Lao Nga Wong, presidente da assembleia-geral, defendeu cinco medidas, nomeadamente a promoção dos veículos eléctricos e a construção de um “sistema de interligação entre os aeroportos de Macau, Hong Kong, Cantão, Shenzhen e Zhuhai”. Cheang Chan U, membro do conselho fiscal da associação, defendeu no encontro a “transformação do Aeroporto de Macau como um centro de trânsito internacional”, bem como “a abertura de mais destinos aéreos”, entre outras sugestões.

O secretário prometeu que a sua equipa vai analisar estas sugestões “de forma séria”, e que irá “aproveitar o posicionamento do desenvolvimento de Macau, integrando os excelentes recursos e potenciando sinergias”. Raymond Tam esclareceu ainda que “a criação de uma cidade inteligente é um dos trabalhos fundamentais” do novo Executivo.

16 Jan 2025

Economia | Previsto desenvolvimento estável para 2025

A Associação Económica de Macau acredita que o território terá, este ano, um desenvolvimento estável, tendo em conta os dados do Índice de Prosperidade publicados por esta entidade na terça-feira. Espera-se um crescimento do Produto Interno Bruto de 5 por cento em termos anuais

 

Dados divulgados esta terça-feira pela Associação Económica de Macau, relativos ao Índice de Prosperidade, apontam para uma estabilidade do desenvolvimento económico do território para este ano. Segundo um comunicado da associação, a economia local deverá ficar no nível considerado estável mediante este Índice, com 6,4 a 6,5 pontos, numa escala de 0 a 10. Os dados dizem respeito ao primeiro trimestre.

A associação denota que este nível estável é semelhante ao indicado nos meses de Novembro e Dezembro do ano passado, quando Macau registou também com 6,4 a 6,5 pontos. A entidade, liderada pelo antigo deputado nomeado Joey Lao, denota que é esperada a continuidade da estabilidade económica, com mais estímulos à confiança e uma maior modernização em alguns sectores, sendo estes “elementos importantes” para que a economia continue a estabilizar depois de três anos difíceis devido à pandemia. Outra previsão da associação, prende-se com o crescimento anual de 5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do território.

As causas

A equipa responsável pelo Índice destacou factores para o bom desempenho económico, nomeadamente a entrada em vigor do regime de múltiplas entradas para os residentes de Zhuhai e Hengqin em Macau, que vigora desde o dia 1 de Janeiro, esperando-se benefícios para os sectores do retalho e restauração.

Sobre o jogo, a associação alertou que o nível dos preços das acções das seis concessionárias se tem mantido baixo nos últimos tempos, bem como o índice de confiança do consumidor na China. Quanto a estes dois factores, prevê-se que se mantenham num nível baixo até Março deste ano, o que denota falta de confiança da parte dos investidores e também dos consumidores.

Além disso, foi apontado que a China pode ter um melhor desempenho económico este ano, prevendo-se que no Interior se reduzam as taxas de juro e taxas de reserva obrigatória para manter a liquidez e juros baixos, a fim de dar resposta “à incerteza dos mercados exteriores e para proporcionar condições para o crescimento económico”.

Ainda no tocante ao impacto da economia mundial, a associação destaca que persiste um cenário de incerteza, sobretudo no que diz respeito ao ritmo dos cortes nos juros. Um dos exemplos apontados foi o dos EUA, cuja Reserva Federal aplicou apenas dois cortes de juros este ano, o que significa que para muitos países o custo do capital permanece relativamente elevado a curto prazo.

Estima-se que tenha lugar um novo aumento dos juros, mas a chegada de Donald Trump à Casa Branca e as suas futuras políticas de tarifas alfandegárias dificultam as previsões da associação, é referido na mesma nota.

16 Jan 2025

Tribunal | Pai condenado por agredir filha

Um pai foi condenado a seis meses de prisão, suspensa na sua execução por dois anos pelo crime de ofensa qualificada à integridade física à filha, que passa a receber acompanhamento do Instituto de Acção Social.

O Ministério Público entendeu tratar-se de um crime de violência doméstica, mas o Tribunal Judicial de Base não teve a mesma análise.

O homem recorreu da sentença junto da Segunda Instância, que manteve a pena. Entre 2019 e 2021, este terá provocado “de forma não apurada emoções negativas na filha”, com brigas potenciadas pelo divórcio com a mãe desta. O homem chegou “a dar estalos na cabeça, puxando-lhe os cabelos e agarrando com força as mãos dela, o que lhe causou lesões”.

O tribunal entendeu que o pai foi o grande potenciador do estado mental da filha, cujo diagnóstico clínico “identificou maus-tratos físicos infantis e transtornos de adaptação com perturbação mista de emoções de ansiedade e depressão”.

16 Jan 2025

Coloane | Terminadas escavações arqueológicas

Terminaram em Outubro as escavações arqueológicas no terreno que dará origem ao Campo de Aventuras Juvenis da Praia de Hac Sá, cabendo agora ao Instituto para os Assuntos Municipais continuar a desenvolver o projecto que foi alvo de remodelações

 

Está tudo a postos para o arranque da construção do Campo de Aventuras Juvenis da Praia de Hac-Sá. Numa resposta do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) a uma interpelação escrita do deputado Lei Chan U, foi referido que as escavações arqueológicas no terreno, coordenadas pelo Instituto Cultural, terminaram em Outubro. Uma vez que os trabalhos de recuperação do campo também foram concluídos em Novembro, o IAM já dispõe do terreno para dar continuidade ao projecto.

Na resposta, assinada pelo actual presidente do IAM, Chao Wai Ieng, é referido que este organismo decidiu “aprofundar o projecto do Campo de Aventuras Juvenis da Praia de Hac Sá, a fim de criar uma base de treino ao ar livre para os jovens e um espaço de lazer agradável para todas as idades”, e tendo em conta “a auscultação das opiniões da sociedade.

Porém, os detalhes não foram, para já, avançados. “Os pormenores do projecto serão divulgados ao público em tempo oportuno”. O futuro Campo de Aventuras Juvenis será, no fundo, um parque de diversões com uma grande componente recreativa e desportiva, com uma área total de 10 hectares, 12 áreas funcionais temáticas e mais de 200 modalidades aquáticas e terrestres, incluindo um espaço de restauração. A ideia do Governo é “criar o maior campo de aventuras em Macau e das regiões vizinhas, oferecendo experiências de aventura a crianças, adolescentes e jovens”.

Mais trilhos

Ainda no que diz respeito ao desenvolvimento de Coloane, o IAM destaca os avanços na criação de mais trilhos. “Em 2024 iniciou-se a construção, em três fases, do trilho de lazer da Estrada de Hac Sá, localizado entre a Avenida de Luís de Camões e a Rotunda do Altinho de Ká Hó, sendo que a primeira fase já se encontra concluída.”

Desta forma, “a conclusão da segunda e terceira fases, que vão dos edifícios “Man Hong Un” até à Rotunda do Altinho de Ká Hó, está prevista para o segundo trimestre de 2025″, adiantou o presidente do IAM, em substituição de José Tavares.

É ainda referido na mesma resposta à interpelação de Lei Chan U que o IAM “continua a promover a construção do trilho de lazer de Coloane, que liga os principais pontos turísticos de Coloane, tendo concluído a construção de um troço do trilho que começa no Parque de Seac Pai Van, passando pela vila de Coloane, Granja do Óscar, com ligação à Praia de Cheoc Van”.

16 Jan 2025