História | Lançada edição chinesa do livro de Manuel V. Basílio

Chama-se “Histórias e Memórias – Baixa do Monte e Arredores”, é um livro da autoria de Manuel V. Basílio e a sua edição em chinês será lançada no dia 19 de Maio na sede da Associação dos Reformados, Aposentados e Pensionistas de Macau (APOMAC). A obra, apresentada em 2023, ganha agora uma nova versão e conta com prefácio de Lok Po, director do jornal Ou Mun

 

Será lançada na próxima segunda-feira, 19, a edição chinesa de mais um livro de Manuel V. Basílio, professor aposentado que se tem dedicado a várias investigações sobre a história de Macau. Desta vez, trata-se do livro “Histórias e Memórias – Baixa do Monte e Arredores”, já apresentado na sua versão portuguesa em 2023, e que agora conta com prefácio de Lok Po, director do jornal Ou Mun. O lançamento decorre na sede da APOMAC – Associação dos Reformados, Aposentados e Pensionistas de Macau.

Segundo um comunicado da APOMAC, desde o primeiro lançamento da obra que “várias pessoas incentivaram o autor a editar também uma versão em língua chinesa, dado o interesse que poderá haver junto da comunidade chinesa na divulgação de um dos períodos mais marcantes da história de Macau – o da integração da população chinesa na chamada ‘cidade cristã'”, quando se deu “a miscigenação efectiva das culturas ocidental e oriental, com a remoção da barreira criada pela velha muralha e portas da cidade, passando todos a viver em harmonia como vizinhos”.

Estávamos em meados do século XIX. Mais concretamente, a partir de 1844, a administração portuguesa “autorizou todos os estrangeiros a ‘comprarem ou edificarem casas e possuírem qualquer terreno em Macau”. Assim, “esta medida acabou por favorecer, anos mais tarde, os negociantes chineses que possuíam alguma riqueza e que vieram para Macau, provenientes do sul da China, para escaparem da rebelião Taiping, também conhecida como Guerra Civil Taiping, que durou de 1850 a 1864, tendo aqui fixado residência e reiniciado as suas actividades como empresários”.

Segundo a mesma nota, o fim da separação entre a chamada cidade cristã e a zona em que vivia a comunidade chinesa ocorreu graças “ao fim da coexistência de duas jurisdições na península de Macau – a portuguesa e a chinesa, respectivamente, dentro e fora da muralha da cidade que, ao longo de séculos, separavam as duas comunidades”. Foi também fundamental para esta nova fase “o início do chamado período colonial, em que o governo português passou a ter autonomia territorial em toda a península até à Porta do Limite, que mais tarde ficou conhecida como Porta do Cerco”.

Zonas de eleição

Onde se instalaram então os chineses aquando do fim desta separação entre comunidades e modos de vida? O livro descreve que “uma das zonas preferidas pelos negociantes chineses para residir era precisamente a que era então designada por Baixa do Monte, por se situar perto do coração da cidade”.

“Desde então alguns nomes das vias públicas sofreram alterações por desejo dos seus moradores. Sabem, por acaso, o antigo nome da Travessa dos Anjos? E as razões porque foi alterado, e ainda qual foi o método antigo utilizado para dar nomes às vias públicas? Sabiam que alguns chineses também foram agraciados com títulos honoríficos pela corte portuguesa, e que esses títulos tinham prazo de validade para uma ou duas vidas?”, descreve-se na nota. A todas estas curiosidades e factos históricos o livro de Manuel V. Basílio pretende dar resposta.

No caso da Baixa do Monte, e segundo a informação disponível no “Cadastro das Vias Públicas e Outros Lugares da Cidade de Macau, de 1957, tratava-se de uma designação para “a encosta da Colina do Monte voltada ao Sul e abrangendo toda uma área, de limites vagamente definidos, que vai desde a fortaleza até às proximidades das Ruas da Palha, de S. Domingos e de Pedro Nolasco da Silva, entre a Rua de S. Paulo e a Calçada do Monte”.

Esta era uma zona “onde viveram muitas famílias portuguesas e macaenses”, sendo que, para provar este facto, Manuel V. Basílio “recolheu dados relativos a diversas famílias, sobretudo macaenses, que residiram naquela zona da cidade desde meados e finais do século XIX até à segunda metade do século XX, e cuja recolha inclui, nomeadamente, as famílias Batalha, Baptista, Valoma, Manhão, Marques, Xavier, Crestejo, Remédios, Lopes, Morais, Nogueira, Simões, Cameirão, Costa, Silva, Fernandes, Souza, Pires, Gonçalves, Jorge, Eusébio, Placé, Osório, Santos, Rosário e Martins”.

A partir de 1963, constam famílias que viveram nos blocos 3 e 4 do “Kwok Wá Tai Há”, ou seja, “Bairro Capitol”, junto da Calçada das Verdades, e “formaram, durante décadas, um autêntico bairro comunitário de macaenses”. Actualmente “apenas alguns macaenses residem lá”.

Biografias e títulos

Mas nem apenas de ruas fala este livro. O autor escreveu também biografias resumidas de algumas individualidades e negociantes chineses que viveram na Baixa do Monte, nomeadamente Chou Iau e Fong Seng, que, em 1880, foram agraciados com o título de Cavaleiro por mercê honorífica do rei D. Luís I de Portugal, devido aos valiosos contributos que deram à vida económica e social de Macau.

O autor faz também uma breve descrição sobre a divindade Na Tcha, o templo que lhe é dedicado, junto da Calçada das Verdades, bem como as festividades em sua honra que ali se realizam anualmente no 18.º dia do quinto mês do calendário lunar.

Faz, também, um breve resumo da história de alguns edifícios que existiram e outros que ainda existem, situados na zona limítrofe da Baixa do Monte, entre os quais se inclui o edifício do Teatro Capitol, desde a sua inauguração, em 18 de Abril de 1931 até ao seu encerramento, em 1 de Agosto de 1987, e a sua posterior requalificação, em que passou a ser o “Centro Comercial do Teatro Capitol”.

Assim, “Histórias e Memórias – Baixa do Monte e Arredores” inclui “memórias, vivências, usos e costumes, bem como histórias baseadas na história de Macau”, além de informações valiosas sobre a toponímia de algumas zonas de Macau e a sua história.

13 Mai 2025

Igreja | Estabilidade nas comunidades cristãs locais

Robert Francis Prevost foi escolhido há dias como o novo líder da Igreja Católica, tendo adoptado o nome de Leão XIV. O HM ouviu dois analistas sobre eventuais impactos no funcionamento das dioceses em Macau e Hong Kong e o que se espera é continuidade e estabilidade, tal como um relacionamento pacífico com Pequim

 

Durou apenas dois dias a escolha de um novo papa, depois da morte de Francisco. Leão XIV, nascido Robert Francisc Prevost em Chicago, EUA, foi a escolha dos cardeais do conclave do Vaticano. O HM falou com dois analistas para tentar perceber eventuais impactos ou mudanças no funcionamento da Igreja Católica nas dioceses de Macau e Hong Kong, mas o rumo parece ser o da estabilidade.

“Não creio que vá haver nada de concreto. A situação em Hong Kong e Macau é bastante bem compreendida e estável. Sei que os católicos e as pessoas de boa vontade em ambos os locais estarão a rezar e a desejar ao Papa Leão todas as graças, bênçãos e sucessos no seu pontificado”, defendeu Stephen Morgan, reitor da Universidade de São José (USJ).

Já Peter Stilwell, que antecedeu Morgan na reitoria da USJ e que actualmente é director do Departamento das Relações Ecuménicas e Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, defende que “a relação de Hong Kong e Macau com a China continental [no tocante à religião] é determinada pelos acordos dos anos 90”.

“O que sucederá, no final dos 50 anos previstos para a transição, dependerá de muitas variáveis num mundo e num país (China) em rapidíssima transformação. Entretanto, a Santa Sé estabeleceu com as duas dioceses [de Macau e Hong Kong] uma relação que as mantém fora de qualquer conferência episcopal e numa relação directa com Roma. Será isso afectado pelo final do período de transição? Julgo que as dioceses e Roma gostariam de responder ‘Não’. Contudo, aí a evolução do acordo como o de Beijing, sobre a nomeação dos bispos católicos para as dioceses da China Continental, será um factor importante a observar”, notou Peter Stilwell.

Este acrescentou ainda que “os interessados nesta evolução, todavia, estarão a observar de perto como o Papa Leão XIV restrutura, ou não, a Secretaria de Estado do Vaticano – nomeadamente, a equipa que nela acompanha directamente o dossier da China”.

Relação antiga

Questionado sobre o relacionamento do Estado do Vaticano com Pequim com Leão XIV no poder, o antigo reitor da USJ também não prevê grandes alterações. “A relação continuará, discreta, mas persistente, como até aqui. O contacto tem uma história de 400 anos, e não o devemos reduzir ao recente acordo sobre nomeação dos bispos.”

Trata-se de um acordo que “decorre entre duas entidades com memória milenar, que pensam em termos de décadas e de séculos”. “O facto de o novo Papa ser de nacionalidade norte-americana será irrelevante. Como chefe de Estado, a sua nacionalidade passou a ser agora da Cidade do Vaticano; e as interpelações diárias a que irá responder terão a perspectiva de uma comunidade religiosa que hoje se estende a praticamente todos os países do mundo”, defendeu Peter Stilwell.

Stephen Morgan acredita que a escolha de Roberto Prevost para papa nada tem a ver com a presença de Trump na Casa Branca ou jogadas políticas face ao relacionamento China-EUA.

“A sua eleição terá mais a ver com o facto de ele estar familiarizado com a situação dos católicos no mundo em desenvolvimento e de ter tido alguns anos de experiência no Correio Romano, onde se estabeleceu como um par de mãos seguras que pensa por si próprio e ouve de forma ampla.”

Robert Prevost foi trazido para o Vaticano pelo Papa Francisco em 2023 para ser o responsável por examinar as nomeações de bispos em todo o mundo, um dos trabalhos mais importantes da Igreja Católica, ganhando assim destaque no conclave.

13 Mai 2025

Turismo | Andy Wu diz que concertos não bastam para atrair visitantes

O Governo diz querer apostar na organização de espectáculos de grande escala para dinamizar a economia nos bairros com menos turismo, mas Andy Wu, dirigente associativo ligado ao turismo, diz que isso não basta, defendendo a venda de bilhetes com descontos associados para levar mais pessoas a consumir no território

 

Não é música para os ouvidos do turismo. Na visão de Andy Wu, presidente da Associação da Indústria Turística de Macau, não basta a realização de grandes espectáculos em Macau, nomeadamente concertos, para aumentar o número de consumidores nos bairros comunitários, ou seja, que estão mais afastados dos pontos turísticos.

Segundo o jornal Ou Mun, Andy Wu defendeu que são necessárias medidas complementares à realização dos concertos, nomeadamente a venda de bilhetes combinada com descontos associados em lojas locais, para que as pessoas que vão ao concerto possam também consumir antes dos espectáculos.

No tocante à economia nocturna, em bares e discotecas, Andy Wu declarou que ainda não consegue ser atractiva o suficiente para turistas, pelo que é importante ter medidas complementares aos concertos.

O Governo referiu que está a negociar com as plataformas de venda de bilhetes uma parceria para que haja pacotes de bilhetes com descontos em lojas, o que deverá ser uma realidade na segunda metade do ano, na sequência de muitos visitantes oriundos do Interior da China assistirem a concertos ou competições desportivas em Macau.

Sobre o modelo de descontos a adoptar, Andy Wu defendeu que se pode ter em conta o formato do Grande Prémio de Consumo para as Zonas Comunitárias, actualmente em curso, o que permitiria que os visitantes usassem cupões no comércio local. Tal seria mais indicado do que levar os turistas a consumir apenas nas lojas aderentes ao programa de descontos, disse.

Ser eficaz

Tendo em conta as negociações levadas a cabo pelo Executivo, Andy Wu referiu ao jornal esperar que estas parcerias sejam lançadas em tempo oportuno, nomeadamente já em Junho, aquando da realização do segundo concerto de grande dimensão no Cotai, na zona de espectáculos ao ar livre, perto do empreendimento Grand Lisboa Palace.

Andy Wu não esqueceu ainda o factor transportes públicos, essencial para que os turistas tenham melhor acesso aos bairros comunitários antes e depois dos espectáculos. Ficou feita a sugestão de criação experimental de autocarros exclusivos, do género shuttle-bus, com percursos concretos entre a zona de espectáculos e os bairros comunitários, para que os visitantes se desloquem a bairros menos conhecidos de Macau durante o dia e vejam depois o espectáculo à noite.

13 Mai 2025

Tabaco | Ron Lam exige calendarização para alterações à lei

Depois de o Governo ter anunciado, nos debates sobre as LAG, mudanças à actual lei de controlo e prevenção do tabagismo, eis que o deputado Ron Lam exige das autoridades um calendário concreto para a implementação de novas medidas, como a criação de mais espaços ao ar livre sem fumo ou a proibição do consumo de “shisha”

 

O deputado Ron Lam U Tou interpelou o Governo sobre o calendário para as novas alterações ao regime de prevenção e controlo do tabagismo, que passam pelo aumento do número de áreas ao ar livre em que é proibido fumar ou a proibição de se fumar enquanto se caminha. As alterações podem também passar pela proibição da tradicional “shisha” em bares, conforme já foi referido por Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde, no contexto da apresentação do relatório sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano.

Ron Lam U Tou espera, assim, que o Governo avance datas concretas para rever a lei e possa também dar a conhecer os detalhes de todas estas novas proibições. O deputado argumenta, na interpelação escrita, que a alteração a esta lei não consta na lista de projectos legislativos para este ano, daí questionar o calendário do Executivo.

Em relação ao imposto sobre o tabaco, o deputado lembrou que não aumenta desde 2015, mantendo-se nos 60 por cento. Ron Lam U Tou defende que o imposto deve aumentar, pois está longe dos 75 por cento de imposto sobre a venda, taxa que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera mais eficiente para travar o consumo.

“O aumento do imposto é mais eficaz para reduzir o número de fumadores mais jovens, além de ser a forma mais eficiente para reduzir a proporção de fumadores. O Governo disse que esta taxa poderia ser alterada oportunamente aquando da revisão do regime de prevenção e controlo do tabagismo em 2022, porque é que não houve avanços concretos? Se o Governo planeia aumentar o imposto até ao valor recomendado pela OMS, qual é o calendário?”, questiona.

Não aos electrónicos

Na sua interpelação, Ron Lam U Tou destacou que o último Relatório de Acompanhamento e Avaliação do Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo, revelou o “problema sério do consumo de cigarros electrónicos por parte de estudantes, em 2021”. Além disso, mostrou que o consumo deste tipo de cigarros aumentou de 2,6 por cento em 2015 para quatro por cento nesse ano.

Em 2022, o Executivo proibiu a publicidade, promoção e patrocínio a este tipo de produto, mas o deputado considera ser necessário estabelecer uma data de proibição para travar o aumento do consumo.

“Será que o Governo pode elaborar um período de transição e um prazo para a proibição do consumo de cigarros electrónicos, para que se possa intervir no consumo, sobretudo reduzir o contacto por parte dos jovens?” perguntou na interpelação escrita.

Ron Lam também sugeriu que os novos produtos de tabaco, tal como cigarros de ervas, saquetas de nicotina e a tradicional “shisha” possam ser incluídos na lista de proibição de produtos importados e compras, também com um prazo de transição e de proibição efectiva, para que haja uma adaptação por parte de pessoas e negócios.

12 Mai 2025

AFA | “Déjà Vu” apresenta trabalhos na área da vídeo-arte

Integrada no cartaz da edição deste ano do festival “French May”, eis a nova exposição da associação local AFA – Art for All Society. Trata-se de “Déjà Vu – Uma Exposição de Intercâmbio Artístico Sino-Francês”, onde os temas da vídeo arte e inteligência artificial ressoam das obras com assinatura de Robert Cahen, Alice Kok e Catherine Cheong. Para ver no The Parisian entre 15 de Maio e 28 de Junho

 

A arte em vídeo, misturada com o real e o ficcionado, artificial e criado com as mãos humanas. É em torno destas ideias e conceitos que gira a nova exposição da AFA – Art for All Society, intitulada “Dejá Vu – Uma Exposição de Intercâmbio Artístico Sino-Francês”, e que ganha o sub-título “Mirroring・Looping・Generating”: Da Videoarte à Inteligência Artificial – Série de Exposições”.

O projecto, patente entre os dias 15 de Maio e 28 de Junho numa das galerias do empreendimento The Parisian, no Cotai, apresenta ao público trabalhos de três artistas: Alice Kok, co-fundadora da AFA, artista e curadora; Robert Cahen e Catherine Cheong. O projecto está integrado no cartaz da edição deste ano do festival “French May”, que traz a Hong Kong uma série de iniciativas culturais.

Segundo um comunicado da AFA, “Déjà Vu” visa estabelecer “uma ponte entre os diálogos culturais sino-franceses através da arte”, promovendo também a investigação sobre “as intersecções filosóficas do tempo, da memória e da percepção”.

Além da presença em Macau, esta mostra estará patente em França, entre os dias 21 e 30 de Agosto, na Galeria Espace Temps em Paris. Desta forma, promove-se o “intercâmbio cultural” entre a China e França, destaca a AFA, sendo que o público é convidado a “testemunhar a evolução da interacção entre a memória e a tecnologia”.

“Déjà Vu”, teoria desenvolvida pelo filósofo francês Henri Bergson, dá o mote a esta mostra, revelando “a divisão simultânea entre percepção e memória”, ou seja, “a coexistência entre o presente ‘actual’ e a sua imagem ‘virtual’ no espelho”. Os trabalhos dos três artistas exploram, assim, este conceito filosófico abstracto, transformando-o em “experiências sensoriais tangíveis através de videoarte, imagens geradas por inteligência artificial e instalações multimédia”.

A mostra, que tem as palavras chave “Mirroring”, “Looping” e “Generating”, remetendo para as ideias de espelho, repetição ou geração de conteúdos, reflecte “não apenas as técnicas dos artistas, mas também metaforiza a forma como a memória e a tecnologia tecem o tecido invisível da realidade contemporânea”.

Workshop inicial

Além da mostra propriamente dita, os artistas vão também juntar-se para ensinar outras pessoas sobre o mundo do digital e da vídeo arte. Robert Cahen, considerado um dos pioneiros na vídeo arte em França, colabora com Alice Kok para o workshop “Video Postcards”, realizado no dia 18 de Maio The Parisian Macau. A ideia é levar os participantes a “mergulhar nas paisagens naturais e históricas de Coloane, inspirando-se na ‘poética das imagens fugazes’, característica do trabalho de Cahen”. Assim, “através de técnicas como a câmara lenta, a sobreposição e o design de som, os participantes irão transformar experiências sensoriais efémeras em ‘postais de memória’ únicos”, descreve a AFA, sendo que a experiência inclui ainda filmagens, orientação em contexto de pós-produção e projecção final dos trabalhos.

Quem é quem

Robert Cahen desenvolve projectos artísticos desde 1972. Segundo o programa oficial do festival “French May”, no trabalho de Cahen “tanto a ficção como a documentação são apresentadas como viagens metafóricas do imaginário, devaneios requintados que descrevem passagens de tempo, lugar, memória e percepção”. Tendo começado pelas cassetes de vídeo, os seus trabalhos foram expostos em todo o mundo, em locais e eventos como a Bienal de Paris, França; o Museu de Arte Moderna (MoMA), Nova Iorque, EUA; ou o American Film Institute National Video Festival, Los Angeles, EUA.

Em 1992 o artista ganhou o prémio da Villa Medicis Hors les Murs e, em 1995, criou uma instalação vídeo permanente para o Espaço Público EURALILLE (Lille), em França.

No caso de Catherine Cheong, é uma artista local que vive entre Macau e Paris, tendo-se formado na área da instalação de vídeo na licenciatura em Artes Visuais na École Supérieure d’Art et de Design Toulon. Além disso, a artista formou-se em criação pessoal e teoria da gravura contemporânea com um mestrado em Artes Visuais na Universidade de Paris VIII.

“Como artista individual, a sua inspiração vem da experiência pessoal. Através das diferenças culturais, contradições e interações entre os seres humanos, o ambiente social e a natureza, explora a realização da vida e os sentimentos da alma. Ela remonta, justapõe e duplica imagens simbólicas para recriar novos significados, procurando a coincidência entre imagens com diferentes linguagens artísticas e meios para expressar sentimentos, pensamentos e desejos pessoais”, pode ler-se no programa do “French May”.

9 Mai 2025

Eleições | PS volta a denunciar alegadas práticas da ATFPM

A Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau está a ser novamente acusada pelo Partido Socialista de cometer ilegalidades no contexto da votação dos eleitores locais para as próximas eleições legislativas em Portugal. Rita Santos e José Pereira Coutinho, da ATFPM, negam tudo

 

A acusação não é nova: a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) foi alvo de uma queixa apresentada pelo Partido Socialista (PS) junto da Comissão Nacional de Eleições (CNE), em Portugal, por realizar “acções que comprometem a liberdade e confidencialidade do voto” dos eleitores locais para as legislativas de 18 de Maio, em Portugal, que servirão para eleger um novo parlamento e primeiro-ministro.

Segundo a queixa do PS enviada à CNE, que inclui fotos das alegadas ilegalidades, “foi reportada e observada a presença de indivíduos que se identificam como ‘voluntários’ à porta de uma estação dos correios de Macau, abordando eleitores para indicar onde devem votar”.

Desta forma, “trata-se da mesma prática que ocorreu nas últimas eleições legislativas que decorreram em 2024 e que se verificou estar a ser conduzida por Rita Santos, figura proeminente da ATFPM e Conselheira das Comunidades Portuguesas”. Rita Santos deixou, entretanto, de ser conselheira.

As imagens anexadas à queixa mostram “um dos voluntários à porta dos correios de Macau, abordando eleitores”, sendo que “em alguns casos solicita a entrega dos boletins de voto”, uma prática que sugere “direccionamento do voto e que põe em causa os princípios fundamentais de um processo eleitoral democrático”.

Cenário de “impunidade”

O HM confrontou Rita Santos e José Pereira Coutinho, presidente da ATFPM, com esta queixa, tendo ambos negado as acusações. “Desconhecemos a situação dos voluntários que está a referir porque a ATFPM não está envolvida nem interfere nas eleições da Assembleia da República de Portugal. Este ano são as eleições da Assembleia Legislativa (AL) de Macau e estamos empenhados para a apresentação da candidatura da lista Nova Esperança”, disse Rita Santos.

Já Pereira Coutinho, também deputado à AL, disse “desconhecer por completo” a acusação. “A ATFPM não tem ninguém a fazer isso, são invenções a que estamos alheios”, referiu.

Recorde-se que a última queixa submetida pelo PS ao CNE foi depois remetida para o Ministério Público em Portugal. A investigação ainda decorre e está em segredo de justiça, conforme já foi noticiado, não tendo sido ainda deduzida qualquer acusação. Já em 2019, o PS tinha apresentado semelhante queixa.

O PS entende que “a constante actuação da associação em contexto eleitoral levanta preocupações sobre o possível uso indevido de recursos para influenciar o processo de votação”, tratando-se de “práticas recorrentes em eleições legislativas potuguesas”.

“A persistência de tais comportamentos, aliada à aparente impunidade, agrava a gravidade dos factos e exige, de uma vez por todas, uma resposta firme das autoridades competentes”, remata o PS.

9 Mai 2025

Startups | Portugal interessado no fundo sino-lusófono de tecnologia

Uma delegação de Macau, com representantes do Governo e de startups locais, está em Portugal para reunir com líderes de empresas portuguesas e participar na Conferência SIM, que termina hoje no Porto. Durante a visita foi assinado um protocolo que firma o interesse português no novo fundo sino-lusófono de tecnologia, gerido pela empresa estatal de Zhuhai Da Heng Qin Group

 

Diversas startups de Macau estão representadas numa viagem a Portugal esta semana, e cuja comitiva integra também representantes da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento de Turismo (DSEDT) e a Associação de Empreendedorismo e Inovação Macau, China e Países de Língua Portuguesa (AEIMCP). O objectivo passa por estreitar laços com os ecossistemas de empreendedorismo de Lisboa e Porto e reforçar o interesse de Portugal no novo fundo sino-lusófono de tecnologia destinado a apoiar startups, e que será gerido pela empresa estatal de Zhuhai Da Heng Qin Group.

Neste sentido, foi assinado na segunda-feira, em Lisboa, um protocolo entre a AEIMCP e a Nascente Value, “empresa portuguesa com vasta experiência na captação de investidores” e também em “aceleração do crescimento de pequenas e médias empresas (PME) e startups em Portugal e nos países de língua portuguesa, com foco em inovação e tecnologia de ponta”, é destacado num comunicado conjunto da AEIMCP e Nascente Value enviado ao HM.

O protocolo assinado na segunda-feira firma o maior acesso português ao novo fundo sino-lusófono de tecnologia. O documento foi assinado no âmbito de uma visita do grupo de Macau à Lispolis – Pólo Tecnológico de Lisboa.

A Nascente Value passa, assim, a ser “agente exclusivo para serviços de captação de investidores em Portugal, com foco no envolvimento de investidores no fundo” sino-lusófono, cujo nome oficial é “Da Heng Qin Sino-Luso Technology and Innovation Investment LPF”. Este “promove investimentos em empresas de inovação em ciência e tecnologia de alta qualidade nos países de língua portuguesa”, explica a mesma nota.

Assim, este protocolo vai permitir que a AEIMCP, enquanto entidade conectora entre Portugal e o fundo via Macau, e a Nascente Value, “reforcem o compromisso de apoiar startups, promover o investimento transfronteiriço e criar novas oportunidades de colaboração entre Macau, Portugal e outros países de língua portuguesa”.

Citado pela mesma nota, Marco Duarte Rizzolio, da AEIMCP, disse que este novo acordo mostra como a entidade, que também organiza o concurso “929 Challenge”, se compromete a “criar pontes para o crescimento global das startups, facilitando a entrada de startups portuguesas no mercado chinês através de Macau, bem como a expansão de startups chinesas para Portugal e para a Europa”.

Por sua vez, Rui Ferreira disse que “a assinatura deste protocolo é um marco importante para conectar ecossistemas de inovação e promover sinergias entre startups de Macau e investidores portugueses”. “Estamos confiantes de que esta parceria trará resultados significativos para ambos os lados”, acrescentou.

Ao HM, Rui Ferreira explicou que a assinatura do protocolo representa o culminar de um trabalho de cerca de um ano.

“Queremos promover um modelo de acolhimento de startups e empresas de Macau que pretendam entrar na Europa através de Portugal, e também nos países de expressão portuguesa, e vice-versa, ou seja, colocar, através de Macau, empresas destes territórios, mas sempre através de Portugal, no Oriente, a fim de obterem ligações mais facilitadas com o mercado chinês.”

Visitas mil

O grupo de Macau visitou vários pontos essenciais do sector de empreendedorismo português. Além da visita à Lispolis, considerada o “momento-chave para fomentar diálogos entre startups de deep tech e potenciais investidores, consolidando a visão de Macau como um hub de inovação e empreendedorismo com alcance global”, a comitiva passou pela Fábrica de Unicórnios, em Lisboa, e ainda pela consultora PwC.

Marco Duarte Rizzolio explicou ao HM os benefícios para Macau do périplo por Portugal. “Além do interesse no fundo sino-lusófono e na sua preparação, uma vez que vai ser lançado em breve, o nosso foco tem sido também as startups. Na visita à Lispolis os representantes das startups de Macau fizeram um ‘pitch’ [tentativa de angariação de investimento], apresentaram os seus produtos e tiveram uma sessão de networking com outras startups. A ideia é que as startups de tecnologia de Macau façam uma imersão no ecossistema de empreendedorismo em Portugal.”

Segundo Marco Duarte Rizzolio, a comitiva de Macau levou apenas a Portugal as startups com uma fase de negócio mais avançada, nomeadamente a Zence Object, fundada por Calvin Sio e que obteve um financiamento de 2,5 milhões de dólares do Fundo de Empreendedores do grupo Alibaba para a zona da Grande Baía. A Zence Object usa tecnologia patenteada para transformar resíduos orgânicos, nomeadamente folhas de chá, em produtos alternativos ao plástico e ao papel. A ideia é que estes produtos reciclados e transformados possam ser usados no dia-a-dia, como utensílios para a casa ou de decoração.

“Há startups em Macau que estão muito avançadas em termos de negócio e foram essas que trouxemos a Portugal. Queremos explorar novas oportunidades de internacionalização, para que explorem outros mercados, uma vez que estas startups já têm algum desenvolvimento. Queremos criar parcerias, para que estes representantes percebam como é o mercado e explorar possíveis clientes”, adiantou o representante da AEIMCP.

Por caminhos invictos

A comitiva de Macau está hoje no Porto para participar na “SIM Conference” [Startups & Investment Matching], onde “terá um stand próprio para apresentar projectos e conectar-se com investidores e possíveis clientes”. Este evento foi organizado pela entidade Startup Portugal, que convidou a RAEM a estar presente.

Também hoje será assinado um outro protocolo, desta vez entre a associação que organiza o concurso “929 Challenge” e a Startup Portugal. A ideia é, segundo Marco Duarte Rizzolio, “estimular a conexão do ecossistema de Portugal com Macau e ajudar no processo de internacionalização das startups dos dois lados, quer as portuguesas que se destinam à Grande Baía, através de Macau, quer as startups de Macau que vão para Portugal”.

O responsável não tem dúvidas de que o que falta em conhecimento, sobra em interesse. “Há um interesse muito grande na China, mas ao mesmo tempo há um grande desconhecimento. O ecossistema de startups em Portugal está muito mais ligado à Europa. Quando falamos com a Fábrica de Unicórnios, há meses, foi-nos dito que havia um grande interesse no mercado de Macau e da China, mas que faltava mais conhecimento. Por isso estas visitas a Portugal visam reforçar conexões e parcerias, porque o interesse é muito grande. Eles [Portugal] sabem que a China está a crescer imenso na área da tecnologia e da inteligência artificial, com o lançamento da DeepSeek, por exemplo”.

Segundo Rui Ferreira, a presença da comitiva de Macau na “SIM Conference” permitirá o acesso a “contactos privilegiados e mais alargados”, por se tratar de um evento de âmbito nacional. “Com esta visita conseguimos fazer duas coisas: iniciar a relação com a AEIMCP de forma mais formal e ajudar as empresas de Macau a ter conhecimento de parceiros e investidores. Queremos ainda apostar no trabalho para o futuro fundo sino-luso, no sentido de prepararmos as empresas com potencial de investimento”, disse.

Para Rui Ferreira, o mercado de Macau tem potencial “para ser usado como plataforma de intercâmbio de empresas, graças à ligação linguística, existindo no território condições para estabelecer toda a parte de acolhimento, apoio e intercâmbio com as entidades da China e criar um ecossistema”. Além disso, “será interessante Macau tornar num hub de inovação especializado nas áreas estratégicas”, que neste caso é a tecnologia. Destaque para o facto de a visita ter contado também com a organização da Associação Plataforma Sino-Lusófona de Macau para o Desenvolvimento Sustentável.

9 Mai 2025

Efeméride | Camilo Castelo Branco lembrado hoje no IPOR

Decorre hoje uma sessão do Clube de Leitura da Associação dos Amigos do Livro que irá centrar-se não apenas na obra “Fanny Owen”, de Agustina Bessa-Luís, mas também na comemoração dos 200 anos do nascimento do escritor português Camilo Castelo Branco. A partir das 18h30 é hora de recordar a sua vida e escritos com intervenções de Pedro D’Alte, Wang Suo Ying e Shee Vá

 

Comemora-se este ano os 200 anos do nascimento do escritor português Camilo Castelo Branco, uma data que é hoje recordada no Instituto Português do Oriente (IPOR) através de uma sessão do Clube de Leitura da Associação dos Amigos do Livro, realizada na Biblioteca Camilo Pessanha, no IPOR, a partir das 18h30.

Segundo uma nota do IPOR, a sessão aborda a obra “Fanny Owen”, da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís, sendo esse o mote para recordar Camilo Castelo Branco, um dos autores de eleição de Bessa-Luís, uma vez que a obra se inspira na vida pessoal do escritor.

Assim, a sessão de hoje “tenta compreender o escritor”, reunindo Pedro D’ Alte, que falará da sua experiência na abordagem da obra de Camilo Castelo Branco junto dos alunos chineses. Este será auxiliado por Wang Suo Ying, que traduziu para chinês algumas das obras mais conhecidas de Camilo, como “Amor de perdição” e “A queda de um Anjo”. Shee Vá, médico e autor, também participa na sessão de hoje, tentando “compreender o homem [Camilo Castelo Branco] através dos seus biógrafos e admiradores como Agustina Bessa-Luís, Manuel de Oliveira e Mário Claúdio”.

Para se perceber o gosto de Agustina Bessa-Luís pela escrita de Camilo, o IPOR cita as suas palavras: “Camilo é manipulador, a sua frivolidade não é senão tentativa de esconder as suas fragilidades”. A escritora nortenha disse também que “Camilo era um insurrecto, com lama até aos ossos e dois livros de gramática em vez de pulmões”.

Vida boémia

A escolha da obra “Fanny Owen” para esta sessão não surge por acaso, uma vez que Agustina se inspirou na história de vida de Camilo, quando este se apaixonou por Ana Plácido quando esta era casada, um caso que levou à prisão de ambos numa altura em que o adultério era considerado crime, no século XIX. Mais tarde, os dois seriam absolvidos, casando e tendo filhos.

“Fanny Owen” baseia-se, assim, nestes factos verídicos ocorridos no meio do ambiente intelectual e boémio da cidade do Porto do século XIX, em que a história de vida de Camilo Castelo Branco se entranha no percurso de um dos personagens do livro, um jovem, filho de um oficial inglês que se deixa envolver pelo amor que só lhe trará problemas e desgraças.

Segundo a nota do IPOR, Camilo Castelo Branco “é um autor maior da língua portuguesa”, com uma obra “extensa que abarca a novela, o romance, a crónica, o folhetim, a poesia, o conto e o teatro”. Além disso, “descreve como ninguém a sociedade da época usando o sarcasmo e a ironia pelo que criou inimizades, mas, também capaz de actos de grande generosidade”. Camilo Castelo Branco “viveu uma vida de romance transportando consigo frustração e enorme complexidade”, destaca o IPOR.

Camilo Castelo Branco foi, além de romancista, cronista, crítico, dramaturgo e tradutor. Recebeu do rei D. Luís o título de Visconde de Correia Botelho. Tendo ficado orfão de pais ainda criança, deixou Lisboa para viver em Vila Real com uma tia, tendo casado aos 16 anos. Estudou medicina no Porto, mas nunca chegou a acabar o curso, tendo definitivamente feito das letras a sua vida.

Depois da polémica em torno do caso amoroso com Ana Plácido, os dois ficam juntos até à morte deste, por suicídio, uma vez que a cegueira lhe impossibilitou continuar a escrever.

8 Mai 2025

Subsídio infância | IAS diz que é incentivo à natalidade

Os bebés nascidos este ano irão receber, nos primeiros três anos de vida, um total de 87 mil patacas no âmbito da concessão do novo subsídio de infância. Hon Wai, presidente do Instituto de Acção Social, defendeu ontem que esta nova medida pode promover o crescimento da taxa de natalidade

 

Estão em marcha os preparativos para a criação do novo apoio às famílias que desejem ter mais filhos, e que foi anunciado nas últimas Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. Segundo afirmou ontem Hon Wai, presidente do Instituto de Acção Social (IAS), no programa matinal Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau, tal medida pode mesmo contribuir para um aumento da natalidade.

“Esperamos que este subsídio possa encorajar as famílias locais a ter filhos. Claro que para aumentar a natalidade temos de considerar vários aspectos, e com este subsídio esperamos poder dar algum apoio financeiro para aliviar a pressão económica das famílias de Macau. Lançamos o subsídio de assistência de infância, e para aumentar a natalidade vamos rever o sistema de serviços de creches”, referiu.

No caso de uma criança nascida este ano, o subsídio de infância implica a atribuição, por parte do Governo, de um total de 87 mil patacas em três anos, tendo em conta o montante mensal de 1.500 patacas.

As 87 mil patacas que as crianças nascidas este ano irão receber dizem respeito ao subsídio da infância somado ao subsídio de nascimento e cheques pecuniários.

Os destinatários do subsídio de assistência na infância têm que ser residentes permanentes, incluindo os bebés nascidos em 2022. Conforme já foi referido, trata-se de um novo apoio que chega a 15 mil bebés e crianças. Nesta fase, o IAS trabalha na elaboração do regulamento administrativo, pois a medida deverá entrar em vigor por altura do Verão.

O montante mensal serve, sobretudo, para aliviar a carga das famílias com despesas essenciais como a compra de fraldas, leite em pó ou alimentação, tendo sido calculado com base nos dados fornecidos pelo Conselho dos Consumidores.

“Baseamo-nos no Conselho dos Consumidores face aos preços médios de artigos de bebé, pelo que estimamos custos semanais na ordem dos 900 a 1.300 patacas”, disse no programa.

Após uma análise preliminar, o Governo decidiu que as inscrições serão feitas através da plataforma da Conta Única de Macau, pois esta tem as informações essenciais dos pais e filhos. Hon Wai apontou também que as informações sobre a estrutura básica deste apoio já estão definidas, podendo ficar disponíveis na Conta Única.

“Prevemos que milhares de pais estejam abrangidos pelo programa e possam pedir o subsídio na mesma altura, pelo que o IAS precisa assegurar o funcionamento da plataforma e assegurar questões como a cibersegurança”, disse.

Estudo sobre creches

No mesmo programa, a chefe da Equipa de Trabalho na Área dos Serviços da Primeira Infância do IAS, Wong In Leng confirmou que o IAS vai estudar o panorama da procura pelo serviço de creches e as instalações disponíveis para crianças com idade inferior a dois anos.

Wong In Leng garantiu ainda que além de ser reforçada a formação para profissionais que tomam conta de crianças, vai ser feita uma avaliação externa a nível institucional a fim de assegurar a qualidade das creches.

A responsável concluiu que o IAS atribui anualmente mais de 240 milhões de patacas às creches subsidiadas, sendo que cada vaga é apoiada em 34 mil patacas. As creches oferecem mais de 900 vagas gratuitas.

7 Mai 2025

Literatura | O interesse do linguista Hugo Schuchardt no patuá de Macau

Hugo Schuchardt teve um genuíno interesse pelas línguas crioulas luso-asiáticas, com particular destaque para o patuá, falado pela comunidade macaense. O linguista, que nasceu em 1842, foi tema de uma palestra conduzida pelo investigador Hugo Cardoso, ligado à Universidade de Lisboa

 

Porto, 1883. José Leite de Vasconcelos escreve uma carta ao linguista alemão Hugo Schuchardt que vinha desenvolvendo estudos, ainda que à distância, sobre as línguas faladas na Ásia com origem no português, os chamados crioulos. A carta, escrita segundo o acordo ortográfico da época, entretanto digitalizada e hoje à guarda do arquivo da Universidade de Graz, na Áustria, surge no contexto de pedidos do próprio Schuchardt a Leite de Vasconcelos a propósito do crioulo que se falava então em Macau, conhecido como patuá.

“Meu respeitável amigo: Só hoje posso responder à V. Exa. Aqui no Porto não há os livros que diz, mas escrevi para Lisboa ao meu amigo Vianna e ele respondeu-me que o de Balsemão não aparece, e que na Hist. de Macau não vem nada sobre o dialecto port. de Macau. Se aqui no Porto os houvesse, eu de certo lhes daria uma olhada (V. Exa. queria dizer umlancedeolhos, umavistadeolhos, que é o usual. Desculpe V. Exa. esta reflexão, que V. Exa. de certo estimará).

Já tenho pedido informações sobre os crioulos, mas ainda não obtive nada; este estudo também me interessa pelo que respeita ao portug. Aguardo com interesse os 2 novos opúsculos que me promete. (…) Sem mais sou amigo obrigado, J. Leite de Vasconcelos, Porto, S. Victor, 25”.

O interesse de Hugo Schuchardt sobre os crioulos luso-asiáticos tem sido estudado por Hugo Cardoso, investigador e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), especialista em crioulos e que desenvolveu investigação na Universidade de Macau.

O académico conduziu recentemente uma palestra na Biblioteca Nacional, em Lisboa, sobre o linguista nascido em Gotha, na Alemanha, em 1842 e falecido em Graz, Áustria, em 1927, sendo considerado um dos mais importantes linguistas dos finais do século XIX e primórdios do século XX. A sessão teve como designação “Hugo Schuchardt e a busca pelos crioulos luso-asiáticos”.

Apesar do interesse de Schuchardt sobre o crioulo de Macau, não chegou a publicar nenhum trabalho académico sobre o assunto, conforme disse ao HM Hugo Cardoso. “Schuchardt não publicou nenhum trabalho sobre Macau. Contudo, ao percorrer a sua correspondência, percebe-se que Macau também estava no seu radar, uma vez que ele discute o crioulo de Macau com diversos dos seus correspondentes, incluindo Leite de Vasconcelos e Gonçalves Viana”, adiantou.

Depois do linguista alemão, destaca Hugo Cardoso, “houve efectivamente várias pessoas que se debruçaram sobre o crioulo de Macau, incluindo Danilo Barreiros, José dos Santos Ferreira (Adé), Graciete Batalha, Ana Maria Amaro e, mais recentemente, o Prof. Raúl Gaião e o Prof. Mário Pinharanda Nunes”. Destaque ainda para o estudo de Marie Arana-Ward “sobre o crioulo falado pelos descendentes de macaenses em Hong Kong”.

Eis outra troca de correspondência com Leite de Vasconcelos, datada de 28 de Dezembro de 1889, em que são mencionados livros e dicionários sobre português e chinês. “Exmo. Amigo: Apresso-me a responder ao seu bilhete, visto que tem pressa. O que conheço de china-português é o seguinte: J. A. Gonçalves, − Diccionario portuguez-china e china-portuguez. Macau 1831; – Arte china, constante de alphabeto e grammatica. Macau 1829. Há mais trabalhos portugueses, mas são em latim, e um é ms. (…) Estimo que tivesse boas-festas. Amigo obrigado, José Leite de Vasconcellos”.

O papel de Coelho

Hugo Cardoso, cuja tese de doutoramento se intitula “A língua Indo-Portuguesa de Diu”, antigo território da chamada Índia portuguesa juntamente com Goa e Damão, falou na Biblioteca Nacional dos estudos de Hugo Schuchardt em torno deste crioulo e também do linguajar de Batávia/Tugu, na Indonésia.

Para o docente da FLUL, pioneirismo no estudo dos crioulos é expressão que rima com Schuchardt. O linguista alemão foi “absolutamente pioneiro neste domínio, não só no estudo dos crioulos luso-asiáticos ou sequer dos crioulos de base lexical portuguesa globalmente, mas no estudo das línguas crioulas em geral” e, por essa razão, é “uma figura maior da história da linguística”.

Hugo Cardoso destaca ainda que “no que diz respeito aos crioulos de base lexical portuguesa, antes dele, tinha havido alguma actividade, especialmente por parte de Adolfo Coelho, que, em 1881, publicara ‘Os dialectos românicos ou neo-latinos na África, Ásia e América’, em que fazia um apanhado de diversos crioulos de base portuguesa”. Porém, nesta obra, Adolfo Coelho refere apenas três crioulos luso-asiáticos: “o de Ceilão (no Sri Lanka), o de Malaca e o de Macau -, dando alguns exemplos que conseguira obter a partir de publicações prévias (tais como a revista ‘Ta-Ssi-Yang-Kuo’ de Macau)”.

O académico não tem dúvidas de que “Hugo Schuchardt foi seguramente inspirado pelo trabalho de Coelho, mas os seus esforços para obter dados primários de muitos outros locais asiáticos ampliaram grandemente a cartografia dos crioulos luso-asiáticos e resultaram nas primeiras notícias publicadas e primeiras descrições gramaticais de muitos deles (como os de Diu, Cananor, Mahé, Cochim, Mangalor, etc.)”.

Inspirações futuras

Segundo Hugo Cardoso, o linguista alemão deixou trabalhos que inspiraram académicos futuros e muitos materiais do arquivo pessoal. “Um efeito do seu trabalho foi o de inspirar outros agentes a desenvolverem trabalho semelhante: aí destaca-se a figura de Sebastião Rodolfo Dalgado, que conduziu as suas próprias pesquisas e fez as suas próprias publicações sobre os crioulos indo-portugueses que Schuchardt não tinha abordado, sobre Damão, Bombaim, Ceilão e Negapatão”.

No caso de José de Leite Vasconcelos, que escreveu a carta citada no início deste texto, “também se correspondeu com Schuchardt e revela, nos seus estudos linguísticos, o impacto do trabalho de Schuchardt”.

Questionado pelo HM sobre as possíveis interligações entre os crioulos de Diu, Batávia e de Macau, Hugo Cardoso refere que existem “continuidades entre os diversos crioulos luso-asiáticos, mas também muitas diferenças”. “O crioulo de Batávia/Tugu é o que mais se assemelha ao crioulo de Macau, por exemplo, a nível do léxico. Mas isso é compreensível porque já foi demonstrando que o crioulo de Macau tem uma ligação histórica importante com os crioulos que se desenvolveram no sudeste asiático, em particular o de Malaca”.

Segundo um artigo académico do próprio Hugo Cardoso escrito em parceria com Tjerk Hagemeijer e Nélia Alexandre, intitulado “Crioulos de base lexical portuguesa”, estes “foram, na maioria dos casos, línguas orais até ao século XIX, quando começaram a surgir as primeiras recolhas de tradições orais, textos e traduções”, estando ligados “à expansão marítima em África e em Ásia, resultado do contacto entre o português e diferentes línguas africanas e asiáticas”.

Ainda segundo o mesmo artigo, “alguns destes crioulos, nomeadamente na Ásia, extinguiram-se, tendo ficado apenas registos da transição do século XIX para o século XX. À excepção dos crioulos da Alta Guiné, a vitalidade dos crioulos portugueses vivos está, de uma forma geral, a diminuir”.

No caso dos crioulos de origem portuguesa na zona da Ásia Meridional, surgiram a partir da chegada de Vasco da Gama a Calecute, Índia, em 1498, sobretudo a partir da fase em que toda a base do império português a Oriente se centra em Goa. Segundo o mesmo artigo académico, desenvolveram-se vários crioulos, o chamado “Indo-Português”, em zonas costeiras da Índia, Sri Lanka, Bangladesh e Birmânia. “Actualmente, a sua presença é bem mais reduzida: sobrevivem os de Diu, Damão, Korlai, Cananor e Sri Lanka (Ceilão) – o qual, apesar de ter, em tempos, sido usado um pouco por toda a ilha, actualmente se restringe às cidades de Batticaloa e Trincomalee”, é destacado no artigo. O autor chama a atenção para a extinção, em 2010, do crioulo de Vaipim, em Cochim, devido ao “falecimento do que parece ter sido o último falante fluente nessa região”. Existem depois os crioulos do sudeste asiático e da Ásia oriental, onde se inclui Macau. O patuá é actualmente “falado com fluência nativa apenas por algumas pessoas em Macau e na diáspora macaense”, é referido.

7 Mai 2025

Vila da Taipa | Exposição de Frank Lei em exibição a partir de amanhã

A Associação Cultural Vila da Taipa apresenta amanhã “Frank Lei: Cuba 92”, uma exposição de fotografia dedicada ao artista radicado em Macau e falecido em 2022. Eis a oportunidade de ver imagens de Cuba de 1992, nunca antes mostradas, no que constitui uma homenagem a Frank Lei

 

Nasceu em Pequim e desde os dez anos que vivia em Macau. Frank Lei, homem dedicado às artes e à fotografia, faleceu em 2022 vítima de doença prolongada, mas tem agora direito a uma homenagem através da exibição do seu trabalho. Trata-se da exposição “Frank Lei: Cuba 92”, patente a partir de amanhã, e até 9 de Julho, na Associação Cultural Vila da Taipa, com imagens inéditas captadas por Lei em Cuba, no ano de 1992.

Segundo um comunicado da organização, Frank Lei faleceu deixando “um vasto conjunto de obras fotográficas que permanece pouco conhecido do público em geral”. Desta forma, esta mostra nasceu do esforço conjunto de familiares, amigos e, sobretudo, de Alan Ieong Chon Weng, um dos fundadores do grupo Dialect, dedicado à fotografia.

“Em 1992, Frank Lei viajou pela primeira vez para Cuba, visitando não só a capital, Havana, mas também Santiago de Cuba, na parte mais oriental da ilha, demonstrando a sua profunda atenção e exploração da cultura e comunidade cubanas”, destaca a organização, referindo que dez anos mais tarde o artista lançou não só uma exposição, mas também um livro com essas imagens, com o nome “Cuba Cuba”.

Desse projecto fizeram parte “obras seleccionadas, filmadas em diapositivos a cores”, constituindo “o núcleo de uma narrativa que apresentava uma impressão vibrante e viva da nação insular”. Além disso, os arquivos de Frank Lei sobre Cuba “incluem um conjunto de fotografias a preto e branco inéditas, imagens monocromáticas que captam a vida quotidiana e as emoções do povo cubano de uma perspectiva mais subtil e contida”.

Agora, com esta nova exposição, a exibição destas imagens a preto e branco nunca reveladas ao público “oferece uma nova janela no tempo e no espaço, permitindo ao espectador conhecer a paisagem da ilha que tanto cativou a alma de Frank e que constitui o lado invisível da sua viagem a Cuba”.

“A iniciativa de trazer à luz estas obras é um reconhecimento da relevância da fotografia para documentar as realidades humanas e as circunstâncias da vida das pessoas. Os espectadores têm a oportunidade de revisitar não só as obras de Frank, mas também de abraçar as emoções que elas evocam sobre a sobrevivência de uma sociedade e de um país como Cuba”, destaca ainda a organização.

Citado pela mesma nota, João Ó, arquitecto e presidente da Associação Cultural Vila da Taipa, disse ser “uma honra colaborar com a Dialect para apresentar esta colecção inédita de fotografias a preto e branco da viagem de Frank a Cuba”.

“A selecção de fotografias presta homenagem à dedicação singular de Frank às indústrias criativas artísticas e culturais ao longo dos anos e mostra a paixão pela cultura cubana que impregnava o seu coração e alma”, acrescenta.

Um homem de Macau

Nascido em Pequim, Frank veio para Macau com dez anos de idade. Formou-se em jornalismo e trabalhou como repórter no jornal Ou Mun após a licenciatura. Depois apaixonou-se pelo cinema francês da chamada “Nova Vaga”, tendo ido para Paris estudar cinema e vídeo na Universidade de Sorbonne em 1991. No mesmo ano, foi admitido na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs de Paris, onde estudou fotografia, tendo também ganho o primeiro prémio no concurso internacional de fotografia “Life on the Street”, organizado pelo Musée de la Photographie em Paris.

Frank Lei expôs as suas imagens no Grand Palais de Paris, fazendo parte da colecção permanente do Musée de la Photographie. Em 1992, Frank viajou para Cuba para trabalhar em projectos artísticos e chegou a acenar ao presidente Fidel Castro, destaca a organização da exposição.

Regressou depois a Macau, onde deu aulas na Escola Superior de Artes do Instituto Politécnico de Macau, hoje Universidade Politécnica de Macau.

“O cinema, a fotografia, a música e a literatura foram as paixões de Frank durante toda a sua vida e, logo após o seu regresso a Macau, abraçou o budismo, levando um estilo de vida simples e vegetariano”, destaca-se.

Frank Lei foi expondo o seu trabalho em França, Macau e Hong Kong. Em 1995, funda o grupo artístico Comuna de Pedra de Macau. Em 2004, dois anos depois da sua primeira exposição sobre Cuba, descobriu-se que Frank sofria de cancro no cérebro. Após o tratamento, voltou a leccionar no então Instituto Politécnico de Macau, continuou a trabalhar no Armazém do Boi e começou a desenhar extensivamente durante a sua recuperação.

Em 2006, publicou a antologia fotográfica “Andar e Observar” com a Pin-to Livros. Continuou a fotografar e a criar pinturas, organizando exposições individuais e pequenas exposições de pintura, e viajou para Nova Iorque, Coreia do Sul e França para intercâmbios e mostras fotográficas.

No início de 2017, Frank foi convidado para o Strasbourg Art Photography, um festival permanente de fotografia em França, para uma exposição fotográfica e um intercâmbio. Após o agravamento da doença, Frank Lei faleceu a 18 de Maio de 2022.

6 Mai 2025

Transportes | Chui Sai Peng defende voos para Portugal e Espanha

José Chui Sai Peng defende a internacionalização do mercado da aviação civil de Macau e sugeriu ao Governo a criação de ligações aéreas entre a RAEM, Portugal e Espanha. O deputado pediu também a abertura de mais voos para países asiáticos

 

O deputado José Chui Sai Peng defendeu na quarta-feira a criação de um voo de ligação entre Macau e Portugal, mas também entre Macau e Espanha, no contexto da necessidade de aumentar a internacionalização das ligações aéreas a partir do Aeroporto de Macau. “Nas Linhas de Acção Governativa é referido que vai ser melhorada a rede aeroportuária de Macau para atrair mais visitantes internacionais. Macau já tem acordos aéreos com 50 país. Para que o território possa ser um interlocutor entre a China e o estrangeiro, quando iremos ter ligações com Portugal? Como vamos estabelecer mais ligações com a Península Ibérica, ter mais destinos na Ásia e também uma conexão com a zona do Delta do Rio das Pérolas? Como vai ser concretizado o ‘hub’ na zona do Rio das Pérolas?”, questionou o legislador.

Da parte do responsável pela Autoridade de Aviação Civil ficou a promessa de que gradualmente os planos de internacionalização de voos serão concretizados. De frisar que recentemente o próprio cônsul português em Macau e Hong Kong, Alexandre Leitão, disse ter ficado “muito irritado” com o facto de a única ligação directa de Macau para a Europa não ser feita por Lisboa ou pelo Porto. “Há dias escrevi [uma carta] para Lisboa, muito irritado, quando a Etiópia Airlines inaugurou [há duas semanas] o seu voo de carga triangular Adis Abeba-Madrid-Macau e com isso criou a primeira ligação directa de Macau para a Europa”, afirmou Alexandre Leitão, citado pelo Diário de Notícias (DN).

Obras em curso

De resto, durante o debate de quarta-feira o Governo deixou a promessa do arranque da construção, ainda este ano, de “um ‘hub’ de transporte aéreo internacional de Macau na margem oeste do Rio das Pérolas”, sendo que, neste contexto, o projecto de terminal de carga “Upstream” do Aeroporto Internacional de Macau em Hengqin já começou, afirmou o secretário Raymond Tam.

Este “hub”, que deverá estar concluído em 2027, terá “uma parte das funções aeroportuárias, como a inspecção de segurança, paletização e distribuição de carga, transferidas para Hengqin”. Assim, pretende-se fazer “uma ligação ininterrupta entre as cidades de origem de mercadorias na Grande Baía, aperfeiçoando a rede logística inter-regional”. O projecto conjuga-se com a expansão do Aeroporto Internacional de Macau, que deverá ser realidade em 2030, permitindo, segundo Raymond Tam, “aumentar significativamente a capacidade de processamento de passageiros e carga, contribuindo para o reforço da competitividade do Aeroporto Internacional de Macau enquanto ‘hub’ aéreo regional”.

2 Mai 2025

Táxis | Governo diz estudar implementação de plataformas online

O secretário para os Transportes e Obras Públicas Raymond Tam referiu na quarta-feira aos deputados do hemiciclo que vai ser estudada “a viabilidade de introdução do serviço de transporte através de plataformas online”, para pedir táxis. Sobre esta matéria, o secretário adiantou que se prevê “um aumento prudente do número de táxis”.

O tema foi abordado durante o debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) 2025 na área dos Transportes e Obras Públicas. A deputada Song Pek Kei pediu mais táxis a operar entre fronteiras, nomeadamente com Hengqin.

“O desenvolvimento não vai esperar por nós, e tudo requer uma resposta rápida. No que diz respeito ao desenvolvimento regional, dependemos do consumo do Interior da China, ou então recorremos ao consumo de Hong Kong, que tem uma população acima dos sete milhões de pessoas. Temos actualmente 40 táxis transfronteiriços, é um número reduzido, e não sei se podemos aumentar esse número no futuro. Talvez haja falta de motoristas no nosso mercado”, disse.

O secretário prometeu ponderar a questão: “Segundo os meus dados, temos 40 táxis transfronteiriços, e Hong Kong tem 60. Quanto à viabilidade do aumento do número temos de negociar com as autoridades de Guangdong a fim de encontrarmos um equilíbrio.”

2 Mai 2025

LAG 2025 | Fiscalização de obras viárias não difere face a 1998, diz secretário

Vários deputados abordaram na quarta-feira, durante o debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, a necessidade de melhorar a coordenação das obras viárias, ainda que o Governo tenha criado um grupo de trabalho interdepartamental para o efeito.

Raymond Tam, secretário da tutela dos Transportes e Obras Públicas, disse ter experiência na matéria, pois coordenou as obras viárias na antiga Câmara Municipal do Leal Senado, e que o funcionamento da fiscalização não difere muito face ao que se fazia antes da transição.

“Em 1998, quando comecei a trabalhar no Leal Senado, coordenava as obras viárias, e organizei o trabalho com a realização de reuniões semanais em que havia a intervenção das Obras Públicas e concessionárias de utilidade pública, e eram definidas datas para a realização das obras. Se era apenas um serviço a definir datas, não havia consenso, e cabia ao Leal Senado atribuir licenças com a autorização das autoridades. O modelo de trabalho era semelhante ao de agora, mas o ambiente viário actual é mais complexo por causa da intensidade do tráfego. Surge maior necessidade de escavações, o trânsito é mais complicado e é necessária uma coordenação mais intensa, e por isso foi criado esse grupo interdepartamental.”

Raymond Tam disse ainda querer “reforçar o efeito de fiscalização”. “Por mais que eu fale talvez a população não perceba essa eficácia, e espero que depois do assentamento de redes e tubagens essa eficácia seja mais visível”, frisou.

Cada cavadela

A deputada Loi Choi In foi uma das intervenientes no debate. “As escavações nas ruas preocupam a população e com o aumento demográfico talvez haja necessidade de mais escavações para construir estacionamentos e criar mais serviços, mas isso pode trazer prejuízos. O Governo deve ter uma visão mais pró-activa para a realização de escavações, e do ponto de vista jurídico há medidas que não são vinculativas. Há também vozes a dizer que os trabalhos de escavações são feitos sem uma coordenação efectiva. Será possível o Governo adoptar uma legislação própria para regulamentar a realização das obras e dar esse dossier a um serviço próprio?”, questionou.

2 Mai 2025

Apagão | Normalidade retomada ontem, causa ainda por apurar

A semana arrancou de forma atípica na Península Ibérica. Passavam poucos minutos das 11h30 de segunda-feira, quando uma falha generalizada de electricidade paralisou Portugal e Espanha. Só perto das 23h a luz voltou à casa dos portugueses, mas a conta-gotas

 

Era uma segunda-feira aparente normal, mas essa normalidade dissipou-se ao final da manhã com a falha de electricidade que, gradualmente, levou a falhas de comunicação e impossibilidade de utilização de dados móveis. Portugal e Espanha estiveram sem electricidade durante demasiadas horas na segunda-feira, num episódio sem precedentes em termos de falhas de energia.

No caso de Lisboa, a luz começou a falhar poucos minutos depois das 11h30, seguindo-se a impossibilidade de comunicação via dados móveis. O trânsito no centro da capital portuguesa tornou-se caótico, sem semáforos em funcionamento, gerando alguns acidentes rodoviários. Os supermercados, cafés e restaurantes, sem possibilidade de manter o normal funcionamento e os alimentos devidamente refrigerados, fecharam portas. Muitas pessoas, assustadas com a possibilidade de ficarem vários dias sem luz, correram aos supermercados, açambarcando alimentos enlatados, garrafões de água, velas e pilhas.

Além dos constrangimentos pouco habituais no dia-a-dia das pessoas, com o Metro subitamente fechado e transportes congestionados, houve voos suspensos e aeroportos encerrados. O restabelecimento de energia aconteceu de forma gradual ao longo de segunda-feira, começando pela zona centro de Portugal.

A circulação no Metropolitano de Lisboa (ML) foi retomada na totalidade às 08h38, hora de Lisboa, primeiro nas Linhas Azul e Vermelha às 08h, na Amarela às 08h15 e na Verde às 08h38.

“O Metropolitano de Lisboa teve uma vasta equipa a trabalhar durante a noite de ontem [segunda-feira] e a madrugada de hoje [terça-feira] para assegurar a reposição dos sistemas operacionais afectados pela falha generalizada de energia ontem ocorrida”, informou o ML em comunicado.

Palavras do Governo

Numa nota emitida pelo Governo português nas primeiras horas da manhã de ontem, foi referido que já estavam “praticamente todos os serviços, incluindo o fornecimento de energia, restabelecidos”, disse à Lusa o ministro da Presidência, António Leitão Amaro.

Segundo o ministro, todos os 6,4 milhões de clientes tinham já acesso a electricidade às primeiras horas da manhã de terça-feira, com excepção de 800 que tinham avarias não relacionada com o apagão.

Leitão Amaro referiu ainda que o abastecimento de água está a funcionar em praticamente todo o país, registando-se apenas algumas dificuldades de pressão em “dois ou três concelhos” que serão “resolvidas rapidamente”.

Relativamente aos transportes, o ministro avançou que os “comboios estão a funcionar”, sendo ainda necessário estabilizar alguns pontos da operação, mas devido aos efeitos de greve de 24 horas que decorreu na segunda-feira.

Sobre os aeroportos, “estão operacionais”, referiu Leitão Amaro, reconhecendo que, no caso do Aeroporto de Lisboa, que foi o mais afectado pela falha de energia, devendo demorar dois dias [até hoje] a ter os fluxos estabilizados, embora os sistemas estejam todos operacionais.

Escolas e saúde normalizados

O governante português adiantou ainda que, relativamente às escolas, a orientação emitida durante a madrugada a todos os directores foi para abrirem e funcionarem normalmente, com excepção dos casos em que pode, eventualmente, verificar-se alguma razão de segurança específica.

“O fornecimento de combustíveis está normalizado e não se registaram, durante a noite, ocorrências relevantes de segurança ou de protecção civil” no país, avançou Leitão Amaro, salientando ainda que a situação está estabilizada também nos serviços de saúde.

“Os hospitais e centros de saúde estão com condições, em termos de fornecimento e abastecimento, para funcionarem normalmente”, assegurou. “Neste momento, o que podemos dizer é que os sistemas [energéticos] estão estabilizados, quer no transporte, quer no abastecimento aos consumidores”, realçou o ministro da Presidência.

Em Espanha também houve vários constrangimentos, sobretudo ao nível dos transportes. Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, disse na segunda-feira, citado pela Lusa, que este episódio foi inédito no país. O governante falou ao país após a segunda reunião do dia do Conselho Nacional de Segurança de Espanha. “Estão a analisar-se todas as causas potenciais sem descartar qualquer hipótese”, acrescentou.

Perda de gigawatts

O líder do Governo espanhol revelou que, segundo explicaram os técnicos e peritos da rede eléctrica espanhola, 15 gigawatts de geração “perderam-se subitamente do sistema, em apenas cinco segundos, algo que nunca tinha acontecido”.

Segundo explicou, para dar uma dimensão do ocorrido, 15 quilowatts de geração correspondem aproximadamente à procura de electricidade total no país à hora do apagão (12h33 em Espanha, 11h33 em Lisboa). “O que provocou este desaparecimento súbito do abastecimento” é algo que os especialistas ainda não conseguem explicar, acrescentou.

Nas primeiras horas após o apagão começaram a circular informações sobre um possível ciberataque, que nunca se confirmaram. Poucas horas depois do apagão, Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, referiu na rede social Linkedin que tinha falado com os primeiros-ministros Pedro Sánchez e Luís Montenegro sobre o acompanhamento do caso.

“Reafirmei que a Comissão Europeia tem apoiado e monitorizado a situação com as autoridades nacionais e europeias e juntamente com o nosso Grupo de Coordenação de Electricidade. Vamos reunir esforços e partilhar informações para ajudar a restaurar o sistema de fornecimento de electricidade, concordando em mantermos um contacto estreito”, pode ler-se numa das publicações.

Eduardo Prieto, chefe de operações da espanhola Red Eletrica, disse à Associated Press que a situação não tinha precedentes, tratando-se de algo “excepcional e extraordinário”. Uma das possíveis causas apontadas para o apagão é um fenómeno atmosférico raro, referido como “vibração atmosférica induzida”, que pode ter originado “oscilações anómalas” nas linhas de alta tensão da rede de energia espanhola. “Estas oscilações provocaram falhas de sincronização entre os sistemas eléctricos, levando a perturbações sucessivas nas redes europeias interligadas”, disse a empresa portuguesa de energia REN à BBC na tarde de segunda-feira. Porém, mais tarde a REN desmentiu estas informações.

Muitas questões

Outra das causas poderá ter sido problemas técnicos na própria rede eléctrica. Onyema Nduka, professor catedrático de sustentabilidade energética na Universidade de Londres, afirmou que as redes eléctricas estão normalmente interligadas porque as centrais de produção que as alimentam estão localizadas longe das cidades. Isto significa que um corte de energia numa parte da rede pode “levar a um efeito de cascata noutras áreas”.

“Idealmente, as redundâncias são incorporadas no sistema, como ter vários pontos de abastecimento, geradores de reserva situados em diferentes locais, fios e cabos interligados, etc.”, afirmou. A solução passa por as empresas de energia restabelecerem a electricidade aos clientes afectados o mais rapidamente possível, mas o procedimento para o fazer “ainda não foi revelado”, acrescentou Nduka.

As autoridades portuguesas, citadas pela AP e pelos meios de comunicação social locais, atribuíram até agora a falha de energia a problemas técnicos não especificados, com origem no exterior do país, mas referiram que a investigação ainda está em curso.

A possibilidade de um ciberataque está, para já, afastada. “Espanha tem mecanismos para lidar com este tipo de situações. Mais uma vez, apelo aos cidadãos para que colaborem com todas as autoridades e actuarem de forma responsável e civilizada, como sempre fizemos”, escreveu Pedro Sánchez nas redes sociais. O Centro Nacional de Cibersegurança português também afirmou, em comunicado, não existirem indícios de que a falha tenha sido causada por um ataque informático.

Em declarações à Euronews, Taco Engelaar, director-geral da Neara, especialista em infra-estruturas energéticas, afirmou que a interconectividade das redes nacionais e dos seus sistemas significaria que uma falha ou um ataque teria o mesmo resultado líquido.

“Uma falha tão generalizada da rede é extremamente invulgar e pode ser causada por uma série de factores: uma falha física na rede que provoque o corte de energia, um ciberataque coordenado ou um desequilíbrio dramático entre a procura e a oferta que tenha feito o sistema da rede ultrapassar os limites”, afirmou.

“Se for uma falha do sistema, então a interconectividade entre as diferentes redes regionais e nacionais pode levar à grande quantidade de cortes de energia a que estamos a assistir hoje [segunda-feira]”, acrescentou. “O mesmo se aplica a um ciberataque – muitos destes sistemas estão ligados e partilham activos – derrubar um pode derrubar muitos”, rematou. Com agências

30 Abr 2025

LAG 2025 | Secretária diz que cabe aos doentes reagirem contra doenças mentais

O Lam, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, defendeu ontem que o consumo de cultura e a prática de desporto podem ajudar a resolver muitos problemas do foro mental da população, defendendo que muitas vezes cabe aos próprios doentes ter uma outra reacção perante o problema.

“Todos prestam atenção à questão da saúde psicológica, e este é um dos temas com que o Governo se preocupa neste sexto mandato. Há que ter uma vida mais activa, a saúde mental é um trabalho a longo prazo e temos de ter medidas a curto, médio e longo prazo, mas também tem a ver com a atitude da própria pessoa”, começou por dizer.

“Sabemos que a cultura e o desporto são importantes na nossa vida, e com o desporto pode-se, por exemplo, conviver com outras pessoas num grupo. Com o esforço de todos os departamentos públicos, vamos reforçar as políticas a partir da idade infantil, pensando sempre na interacção com os pais. Há diferentes pressões em todas as idades, desde os jovens que chegam ao ensino superior, procuram o primeiro emprego e até os idosos. Podem dialogar uns com os outros sobre as suas emoções, e a cultura e o desporto podem ajudar a digerir tudo isso. Podem, por exemplo, ver um filme em conjunto”, referiu.

Mais vagas

O Lam disse também que recentemente foram criadas medidas de reforço da resposta em termos de saúde mental. “Vai ser reforçado o desporto para todos e nas escolas a curto prazo, além de que os centros de saúde criaram serviços para esta área com mais de dez mil vagas criadas. O Instituto de Acção social tem trabalhado bastante e temos hoje oito plataformas de linha aberta para diferentes gerações de pessoas.”

Só no ano passado 90 pessoas perderam a vida devido a suicídio, segundo dados dos Serviços de Saúde (SS). Foram criadas mais consultas externas em nove centros de saúde, além de terem sido atribuídos apoio financeiro a duas associações que trabalham de perto com a comunidade. Recentemente, Alvis Lo, director dos SS, referiu que foram criadas “equipas de prestação de serviços psicológicos comunitários”, para estreitar proximidade com casos latentes e fornecer consultas de psiquiatria na comunidade e em lares de idosos.

29 Abr 2025

Hospital das Ilhas | Prometido reforço de profissionais de saúde

O debate de ontem sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) na área dos Assuntos Sociais e Cultura centrou-se na saúde, nomeadamente na falta de resposta do Hospital das Ilhas, o Peking Union Medical College Hospital.

“Sabemos que há muita pressão no serviço de urgência. Como pode haver uma melhor distribuição de trabalhadores entre o Centro Hospitalar Conde de São Januário e o Peking Union Hospital? Como se pode equilibrar a nossa equipa médica com a centralização de recursos”, questionou a deputada Ella Lei.

O responsável pelo novo hospital prometeu uma melhor distribuição de recursos humanos. “Temos um plano em que definimos para 2026 e 2027 prestar um serviço de saúde em termos macro. Prevemos que até 2027 o pessoal do nosso hospital seja composto por mais 1.200 pessoas, 200 dos quais serão médicos. Naturalmente que esperamos contratar mais locais para as vagas de médicos. Neste momento temos 150 especialistas. Depois da construção gradual do nosso hospital teremos maior procura por parte de profissionais de saúde de Macau e de Hong Kong”, adiantou.

Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde, disse que o novo hospital presta atenção “aos cuidados de saúde comunitários e à pressão sentida pelo hospital público”. “Temos colegas que saíram do nosso sistema [público] e temos de recrutar mais pessoal para colmatar a saída de pessoas para a reforma. Espero que a situação [dos recursos humanos] possa ser melhorada”, frisou.

29 Abr 2025

Ensino | Deputados pedem estabilização de escolas e docentes

Vários deputados colocaram questões ao Executivo sobre a necessidade de estabilização do corpo docente e equilibrar o número de alunos por turma, tendo em conta a quebra de natalidade.

“Temos uma baixa taxa de natalidade, e a curto prazo como podemos manter a estabilidade do nosso corpo docente e manter os recursos nesta área? Temos de estabilizar o corpo docente”, questionou Ron Lam U Tou.

Já Lei Chan U disse que é necessário “ajustar o número de alunos por turma para que a baixa taxa de natalidade não afecte o funcionamento das escolas”. “O Chefe do Executivo referiu que serão investidos 14 mil milhões de patacas, mas muitos docentes referem que o investimento público não basta, e que nas actividades extra-curriculares necessitam de apoio dos encarregados de educação, pois demora-se muito tempo a receber do Fundo Educativo (FE)”, acrescentou.

Kong Chi Meng, director dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, explicou que o ajustamento do número de alunos por turma será entre 25 e 35. “Damos apoio às escolas que têm menos de 25 alunos por turma”, adiantou.

Quanto ao FE, o responsável mencionou ajustes para aumentar celeridade na distribuição de fundos. “Simplificámos procedimentos e comunicamos com os contabilistas das escolas, sendo que a assinatura pode agora ser digital e pode ser feito um conjunto de pedidos de uma só vez. Em 2023, o pagamento chegava depois das actividades, mas agora adiantamos uma parte do subsídio, e essa maior flexibilidade pode ajudar”, explicou.

29 Abr 2025

Regime de previdência central | Obrigatoriedade afastada

Não será para breve a entrada em vigor da obrigatoriedade do sistema de previdência central. A garantia foi dada ontem pela secretária O Lam, da área dos Assuntos Sociais e Cultura, quando questionada por vários deputados. “Vemos que ainda não é oportuno, pois temos de ter consenso da sociedade e esse processo leva tempo”, frisou.

O deputado Lei Chan U foi um dos que questionou o Governo sobre a entrada em vigor da obrigatoriedade do regime de previdência central e sobre a divulgação do mais recente estudo encomendado. “Quanto ao estudo sobre a previdência central não obrigatória, o relatório foi finalizado em 2024. Quando será divulgado? Temos uma calendarização para implementar a obrigatoriedade do sistema?”, inquiriu no âmbito do debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. “O relatório está concluído e será divulgado em tempo oportuno”, disse O Lam.

No último estudo sobre o assunto, elaborado pela Universidade de Macau e divulgado em 2021, uma das conclusões apontava para a obrigatoriedade do sistema em 2026 ou 2028, sugerindo-se duas propostas de “Período de preparação de 5 anos” e “Período de preparação de 7 anos” para a mudança do sistema.

Também o deputado Ron Lam U Tou defendeu alterações a pensar no envelhecimento populacional. “É importante que tenhamos várias formas de resolver os problemas relacionados com os idosos, e a longo prazo teremos o regime de previdência central obrigatório, mas como vamos fazer? O Governo diz que quando a economia não está boa não se podem implementar políticas, mas tem de liderar os trabalhos sobre o que se pode ou não fazer”, rematou.

29 Abr 2025

Taipa | Fins-de-semana culturais na Fábrica de Panchões e Casas-Museu

Workshops de desenho ao ar livre, no meio da natureza da Antiga Fábrica de Panchões e Casas-Museu da Taipa, e muita música. É esta a oferta para os fins-de-semana culturais de Maio na zona da Taipa Velha, promovidos pela operadora de jogo Sands. Depois de um primeiro workshop este domingo, segue-se no sábado o próximo com Lio Man Cheong

 

O próximo fim-de-semana, marcado por mais um feriado, do 1º de Maio – Dia do Trabalhador, traz eventos culturais para a zona da Taipa, nomeadamente workshops de desenho ao ar livre com artistas chineses e vários concertos. A organização cabe à operadora de jogo Sands China. Porém, a iniciativa estende-se por vários fins-de-semana de Maio.

O segundo workshop de desenho decorre sábado, 3 de Maio, junto às Casas-Museu da Taipa com o artista Lio Man Cheong. Segue-se, no dia 10 de Maio, no mesmo local, outro workshop criativo com Lei Tak Seng, seguindo-se, a 17 de Maio, a sessão com Lam Chi Ian, desta vez na Antiga Fábrica de Panchões Iec Long. O horário de funcionamento é, em todas as sessões, das 14h30 às 17h30.

Segundo um comunicado da Sands China, estes eventos pretendem “mostrar o charme” das zonas antigas do território, bem como “promover Macau através da integração da cultura e turismo”.

Dado o “enorme sucesso” da primeira edição do workshop de desenho, no ano passado, a operadora de jogo “convidou novamente quatro artistas de Macau para orientarem workshops de desenhos em locais históricos”, proporcionando “aos amantes de arte uma oportunidade de intercâmbio artístico com quatro artistas de renome, que partilharão os seus conhecimentos e ideias sobre desenho”.

Depois dos desenhos feitos em conjunto, os participantes terão a oportunidade de mostrar os trabalhos numa exposição nas Casas-Museu. “Através destes trabalhos, as pessoas são encorajadas a apreciar a paisagem de Macau sob diferentes perspectivas, melhorando a atmosfera artística e promovendo o envolvimento da comunidade”.

Música para todos

Mas nem só de desenho se faz este evento. Jovens músicos terão também a oportunidade de actuar no fim-de-semana, mais concretamente entre sábado e segunda-feira, dias 3 e 5, todos os dias às 15h30 e 16h30, à entrada da Antiga Fábrica de Panchões Iec Long.

Os músicos convidados prometem criar “uma atmosfera melodiosa e festiva a este local histórico rico em património industrial de Macau”, além de se proporcionar “aos jovens músicos locais uma oportunidade para ganharem experiência e aperfeiçoarem as suas capacidades através de actuações públicas”, refere a operadora de jogo, em comunicado.

Citado pela mesma nota, Wilfred Wong, vice-presidente executivo da Sands China, disse que a Antiga Fábrica de Panchões Iec Long “representa a história e a cultura industrial únicas de Macau de há mais de 100 anos, enquanto as Casas-Museu da Taipa, de estilo português, são um local popular para visitantes de todo o mundo, oferecendo interesse arquitectónico nas paisagens pitorescas das zonas húmidas [mangal da Taipa]”.

A empresa pretende continuar “a injectar novos elementos nos bairros [antigos], reforçando a integração das artes e da cultura com o turismo para desenvolver ainda mais o encanto multicultural e a vitalidade artística de Macau”, referiu Wong.

28 Abr 2025

Segurança nacional | Governo vai criar “sistema de alerta de riscos”

O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, disse na sexta-feira, no âmbito da apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, que o Executivo pretende criar “um sistema de alerta de riscos para a defesa da segurança nacional, com recurso à tecnologia”.

Wong Sio Chak acrescentou que este novo sistema visa “promover com maior eficácia a modernização das capacidades da RAEM na defesa da segurança nacional”. Além disso, pretende-se fazer “a reestruturação da composição da Comissão de Defesa da Segurança do Estado (CDSE) e das entidades que executam trabalhos complementares”.

O objectivo desta renovação é “aperfeiçoar o funcionamento da organização, por forma a ampliar a participação no trabalho da defesa da segurança nacional a todas as áreas, e mesmo a todo o Governo”.

O secretário explicou também que irá continuar a ser promovida “a reestruturação das entidades responsáveis pela execução de trabalhos complementares, no sentido de reforçar as funções da CDSE de coordenação, de tomada de decisão e de impulso para execução”. A ideia é garantir que “a defesa da segurança nacional é responsabilidade de todos, todos devem cumprir essa responsabilidade e todos podem agir”.

Além disso, o Governo vai apreciar a os trabalhos de “qualificação dos candidatos a deputados à 8.ª Legislatura da Assembleia Legislativa pela CDSE nos termos da lei, garantindo a concretização do princípio ‘Macau governado por patriotas'”, rematou o governante.

28 Abr 2025

Teatro D. Pedro V | Celebração de nascimento de Carlos Paredes acontece amanhã

Para celebrar o centenário do nascimento de Carlos Paredes, um dos grandes nomes da guitarra portuguesa, acontece amanhã, no Teatro D. Pedro V, o “Concerto de Homenagem a Carlos Paredes”, com Paulo Soares, na guitarra portuguesa, e Rui Poço Ferreira, na viola. Em entrevista ao HM, Paulo Soares desvenda um pouco as notas que se farão ouvir amanhã

 

Cumprem-se este ano os 100 anos sobre o nascimento de Carlos Paredes, nome sonante da guitarra portuguesa, e a pensar nisso a Casa de Portugal em Macau (CPM) decidiu assinalar a data com um concerto que decorre amanhã no Teatro D. Pedro V, a partir das 20h00. Ao palco, sobe Paulo Soares, guitarrista, seguidor dos passos dos “Paredes”, nomeadamente Carlos Paredes e o seu pai, Artur, e Rui Poço Ferreira, na viola de acompanhamento.

Paulo Soares, que se assume como “especialista em toda a música dos Paredes [Artur e Carlos Paredes], e não só”, ensina guitarra portuguesa há 35 anos e tem-se dedicado a estudar o legado do músico português. Mas o espectáculo de amanhã não vai ser apenas pautado pelas composições dos Paredes.

“O espectáculo vai ser sobre a influência dos Paredes na guitarra portuguesa. Antes do Carlos Paredes temos o pai, Artur Paredes, que foi um guitarrista revolucionário e virtuoso no seu tempo, com quem Carlos Paredes muito aprendeu. Aliás, ele sempre referiu que aquilo que sabia tocar tinha aprendido com o pai. Carlos Paredes teve também aulas de violino, e expandiu aquilo que aprendeu com o pai, na composição e na forma como usou a guitarra.”

Esta influência verificou-se em muitos guitarristas portugueses, sobretudo na cidade de Coimbra, onde também existe o género musical Fado de Coimbra.

Assim, amanhã apresentam-se músicas de dois desses guitarristas influenciados pelos Paredes. “Um deles, Octávio Sérgio, que tem agora 88 anos, foi o último guitarrista a acompanhar José Afonso, tendo uma obra muito interessante. Podemos colocar essa obra na continuidade de Carlos Paredes, até mais do que de Artur Paredes. Conheço pessoalmente Octávio Sérgio e tenho estudado a sua obra. Depois termino com obras minhas, porque a melhor forma de homenagear os Paredes é continuarmos tudo isto, expressarmo-nos através da forma como eles nos inspiraram. Será um espectáculo bem mais abrangente do que uma mera interpretação das composições de Carlos Paredes”, explicou ao HM.

Limitações do génio

Carlos Paredes nasceu em 1925 em Coimbra, a 16 de Fevereiro, no seio de uma família com fortes ligações à guitarra portuguesa. Aos nove anos de idade já acompanhava Artur Paredes e com 14 anos estreia-se com o pai num programa radiofónico, na então Emissora Nacional.

A família muda-se para Lisboa em 1934. A par da carreira de músico, Carlos Paredes foi sempre funcionário administrativo do Estado, começando em 1949 a trabalhar no arquivo de radiografias do Hospital de S. José, até se reformar a 1 de Novembro de 1986.

Musicalmente, Carlos Paredes foi também influenciado por músicos dos anos 60 que mudaram a guitarra portuguesa de forma conjunta, como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e António Bernardino. O primeiro álbum de Carlos Paredes, o EP em nome próprio, saiu em 1962.

Porém, e apesar de uma vida dedicada ao dedilhar da guitarra, Carlos Paredes “nunca foi capaz de ensinar ninguém”, recorda Paulo Soares. “Sei que tentou fazê-lo, mas a verdade é que não se conhece ninguém que toque guitarra e que tenha aprendido com Paredes. Artur Paredes também não ensinou ninguém, apenas o filho, era algo natural. Carlos Paredes referiu que Artur só lhe deu uma indicação de mão direita a tocar guitarra.”

Paulo Soares confessa que sempre quis aprender com Paredes, mas também “quis transmitir”. “Faço o oposto daquilo que os Paredes fizeram. Há 35 anos que ensino guitarra portuguesa e esta não morre, porque não tem como, já que há muitas pessoas interessadas em aprender.”

Paulo Soares destaca ainda outra curiosidade sobre a capacidade musical de Paredes. “Carlos Paredes também dizia que a sua forma de tocar estava cheia de limitações, o que é verdade, embora estivesse também cheia de qualidades. Tocar como Carlos Paredes é uma forma de mostrar as suas qualidades e também que é possível ultrapassar as limitações, e é interessante em termos culturais e da perspectiva da guitarra.”

Mais concretamente, o músico tinha “uma forma de tocar que o permitiu expressar-se extraordinariamente bem, a tocar as suas próprias composições”. “Sei de duas pessoas que tentaram trabalhar com Carlos Paredes e ele não foi capaz de sair do seu mundo musical. Mas isso não tem de ser um problema”, referiu Paulo Costa.

Sem contratos

Outra limitação de Carlos Paredes, parece ter sido a falta de capacidade para gerir uma carreira musical. “Penso que teve o devido reconhecimento em vida, mas ele próprio não foi capaz de gerir a sua vida pessoal e musical de forma comercial. Isso está escrito e documentado, teve hipótese de assinar contratos chorudos que o poderiam ter tirado de uma certa miséria em que vivia e ele não foi capaz de aceitar isso.”

“A sensação que tenho é que era uma pessoa que levou tanta pancada na vida que só quando tocava guitarra se sentia bem. Acho que nunca foi capaz de assumir a guitarra como um compromisso”, remata Paulo Soares.

Segundo uma biografia divulgada pela CPM, Paulo Soares nasceu em 1967 e é hoje “um dos mais versáteis e generosos guitarristas de sempre da guitarra portuguesa”, estudando e investigado este instrumento “há mais de 40 anos, buscando a excelência da sonoridade e do discurso musical”, sendo também “o mais profundo conhecedor da guitarra de Carlos Paredes”.

“A sua síntese inovadora das técnicas e intenções das guitarras tradicionais de Coimbra e de Lisboa são o alicerce para a sua enorme versatilidade musical e guitarrística, plena de entusiasmo e profundidade”, descreve a mesma nota biográfica.

“Como pedagogo e impulsionador da guitarra portuguesa, a obra de Paulo Soares é indubitavelmente das mais importantes. É autor e editor do Método de Guitarra Portuguesa, obra de referência na aprendizagem do instrumento. Tem ensinado consistentemente, tem auxiliado outros professores e tem partilhado generosamente várias transcrições de sua autoria, sendo um dos maiores impulsionadores do desenvolvimento moderno da nossa guitarra”, é ainda referido.

25 Abr 2025

25 de Abril | A Revolução dos Cravos vista pela imprensa chinesa

A queda do Estado Novo a 25 de Abril de 1974 foi noticiada pela imprensa de língua chinesa em Macau. Revelaram-se preocupações da comunidade, nomeadamente quanto à permanência do Governador Nobre de Carvalho em prol da estabilidade e bom ambiente de negócios, assim como o “status quo” de Macau no contexto da descolonização

 

Os ecos da revolução do 25 de Abril de 1974 chegaram com atraso a Macau, mas isso não significou ausência de notícias nos dias seguintes, inclusivamente na imprensa chinesa local.

O HM consultou algumas das notícias dos jornais chineses da época sobre este período, traduzidas para português por funcionários da Comissão de Censura à Imprensa (CCI), o organismo público que funcionou em Macau durante o regime ditatorial português. Este material está hoje à guarda do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa.

A sua leitura permite não só perceber alguns dos acontecimentos que se sucederam à revolução, mas também as percepções e preocupações que a comunidade chinesa teve face ao que se passou em Portugal.

Os chineses queriam manter a estabilidade e a continuação dos negócios. E se o Governador Nobre de Carvalho, no poder desde 1966, passava a estar, para muitos, conotado com o regime fascista, e, por isso, tinha de sair, a verdade é que muitos desejavam a sua permanência para garantir a paz social.

Conforme se lê no livro “Macau nos anos da revolução portuguesa 1974-1979”, de Garcia Leandro, ex-Governador português, “os chineses de Macau procuravam, acima de tudo, estabilidade para poder dar continuidade tranquila aos seus negócios, e não desejavam conflitos ou desentendimentos com Pequim ou com Cantão”.

A Administração era “fraca, muito mal apoiada tecnicamente e com fama de ser facilmente corrompida”, pelo que havia, no território, “fortes razões para o MFA [Movimento das Forças Armadas] local e para o CDM [Centro Democrático de Macau] quererem mudanças, principalmente pela corrupção permanente e pela sensação de excessiva fraqueza da Administração portuguesa, que parecia nada decidir sem consulta prévia aos representantes chineses”.

As explicações do MFA

Logo a seguir ao 25 de Abril, Macau recebeu a visita de dois representantes do MFA, nomeadamente o Major Rebelo Gonçalves e o próprio Garcia Leandro, para explicar a revolução e objectivos do MFA para Portugal e as colónias, não apenas à população como aos jornalistas.

Um dos encontros, com os jornalistas locais, foi descrito pelo jornal Tai Chung Pou a 6 de Maio de 1974. “Rebelo Gonçalves recebeu os repórteres e narrou-lhes pormenorizadamente o golpe de Estado. No dia (do acontecimento), a canção ‘Quem manda é o Povo’ serviu de sinal de acção”. O tradutor da CCI atribuiu à canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, escolhida para ser a segunda senha da revolução na rádio, o nome “Quem manda é o Povo”, numa referência ao verso da letra “O povo é quem mais ordena”. A notícia prosseguia, citando Rebelo Gonçalves: este disse “que o golpe de Estado foi desejo do povo, pelo que alcançou êxito no período de um só dia”.

Apoio a Nobre de Carvalho

Caído o regime em Lisboa, e exilado Marcelo Caetano, depressa se colocou a questão sobre a permanência do Governador à frente dos destinos de Macau. Porém, Nobre de Carvalho recebeu apoio popular para continuar, como descreve uma notícia do jornal Si Man de 4 de Outubro de 1974.

“Portugal não tenciona modificar o ‘status quo’ de Macau, disse um delegado português a comerciantes chineses. O referido delegado manifesta-se contente com a campanha pela recondução do Governador, promovida por diversos sectores sociais. No entanto, o senhor general Nobre de Carvalho já pedira a exoneração do cargo de Governador por motivos de saúde.”

Além disso, criou-se um grupo “para a recolha de assinaturas a favor da recondução do senhor general Nobre de Carvalho no cargo de Governador de Macau”, e que foram entregues a Garcia Leandro, ainda na qualidade de oficial do MFA. Este recebeu “duas caixas contendo livros-cadernos com assinaturas”. Foram transmitidos “pareceres de entidades dos círculos industrial e comercial, na esperança de o senhor Governador poder permanecer em Macau, o qual dadas as suas largas experiências e conhecimentos dos condicionalismos, possa vencer as dificuldades resultantes do declínio económico que ora se verifica em todo o mundo”.

Mas se era desejo de muitos a continuidade de Nobre de Carvalho, a saída de muitos funcionários públicos passou a ser conotada com a mudança de regime. Como é referido numa notícia do jornal Si Man de 11 de Maio de 1974. “O chefe dos Serviços de Saúde e Assistência, dr. António Joaquim Paulino, regressará no dia 27 do corrente mês a Portugal Continental, o que segundo consta, está relacionado com a queda do Governo de Marcelo Caetano. As autoridades competentes recusaram-se a fazer comentários sobre a partida do dr. Paulino.”

O jornal acrescentava ainda: “Contudo, uma notícia de fonte fidedigna informou: Crê-se que o regresso inopinado para Lisboa do dr. Paulino, cuja comissão de serviço nesta província ainda não terminou, está relacionada com o golpe de Estado ultimamente registado em Portugal (continental). Segundo se diz, o dr. Paulino tem sido um simpatizante entusiástico do deposto Governo de Marcelo Caetano.”

Ainda no início de Maio, permaneciam ainda muitas perguntas sem resposta, e o jornal Si Man associava a partida de Vasco Rocha Vieira do território, à época Chefe do Estado-Maior do Comando Militar, com a ausência de explicações para a situação política. “Já se passou uma quinzena após a ocorrência do golpe de Estado em Portugal sem que fosse completamente esclarecida a situação política daquele país. Apesar de Macau ser pouco afectada pelo referido acontecimento, o Chefe do Estado-Maior das Tropas Portuguesas estacionadas em Macau, Major Rocha Vieira, afastou-se ontem silenciosamente desta província, facto que levou muita gente a conjecturar e suspeitar que a Junta de Salvação Nacional que tomou conta do Governo português já tivesse começado a actuar em Macau.”

As explicações de Ho Yin

O jornal Tai Chung Pou noticiou, a 22 de Maio de 1974, que “alguns portugueses declararam em Hong Kong que estavam descontentes com as medidas tomadas pelo Governador e com o Governo de Macau”, tendo seguido “para a metrópole a fim de pedirem a concessão de liberdade aos portugueses de Macau”.

Ho Yin, empresário e figura marcante da comunidade chinesa local, que dialogava directamente com o Governador em representação das autoridades chinesas, deu explicações numa sessão com “repórteres estrangeiros, assim como os de Hong Kong e Macau” sobre os acontecimentos de Abril. Estes “visitaram o sr. Ho Yin, pedindo-lhe opinião”, descreve o Tai Chung Pou.

E, mais uma vez, Ho Yin apaziguou os ânimos, referindo que Nobre de Carvalho tinha toda a legitimidade para continuar como Governador. “Desde o golpe de Estado português, registado a 25 de Abril, Macau, dadas as suas circunstâncias especiais, tem-se sentido, até à presente data, muito tranquila, não sofrendo qualquer alteração. O sr. Governador, General Nobre de Carvalho, que se encontra em Macau há mais de sete anos, tem profundo conhecimento dos condicionalismos desta cidade, tendo resolvido muitos assuntos através de conversações e envidado grandes esforços para esta cidade”, disse Ho Yin aos jornalistas, segundo o relato do jornal.

No mesmo encontro, questionou-se a possibilidade de dissolução da Assembleia Legislativa, proposta do CDM. Mas Ho Yin afastou qualquer mudança política brusca.

“Sabe-se que o Centro Democrático de Macau, constituído por alguns portugueses, pediu a dissolução da Assembleia Legislativa e da Vereação Municipal [Leal Senado], assim como a remodelação de alguns serviços públicos. Alguns habitantes julgaram que as asserções do referido Centro afectariam a ordem social, mas vieram a saber que as mesmas se tratavam apenas de opiniões de um reduzido número de portugueses, quando a cidade se encontra ainda tranquila, decorridos alguns dias.”

O jornal acrescenta que Nobre de Carvalho explicou publicamente “que a AL não seria dissolvida, pelo que a população de Macau se tornou despreocupada e confiou na prosperidade desta cidade”. Além disso, “os turistas provenientes de Hong Kong, assim como do estrangeiro, também acham que Macau se encontra tranquila e não está de modo nenhum afectada”, lia-se no Tai Chung Pou.

O jornal Seng Pou noticiou também este encontro entre Ho Yin e os jornalistas, em que o líder da comunidade chinesa comentou os benefícios de um regime democrático.

“Dadas as suas circunstâncias peculiares e devido ao facto de os portugueses e chineses se respeitarem reciprocamente e viverem em paz desde há muito, Macau não sofreu nenhumas repercussões resultantes do referido golpe de Estado português”, disse Ho Yin, frisando que “quanto à liberdade da palavra, a mesma tem existido sempre em Macau”.

Porém, o empresário apelava a alguma contenção nas críticas políticas feitas. “A democracia e a liberdade que ora se verificam em Portugal Continental são felicidades para o povo português. E os portugueses e chineses têm vivido no passado em paz, esperando-se que tal continue a suceder no futuro. No então, as críticas sobre pessoas particulares ou sobre repartições públicas devem ser fundadas, visto que qualquer ataque irreflectido faria sobrevir complicações à questão, além de afectar a tranquilidade e prosperidade desta.”

Macau sem descolonização

Uma das questões emanadas do 25 de Abril de 1974 foi o processo de descolonização, mais urgente na chamada África portuguesa onde decorria a Guerra Colonial desde 1961. Desde logo, as autoridades esclareceram que Macau ficaria de fora desse processo, até porque “a República Popular da China teve o cuidado de, em 1972, no Comité de Descolonização da ONU, deixar bem claro que o futuro destas duas possessões europeias [Macau e Hong Kong] não faria parte da agenda das actividades daquele organismo, sendo o assunto tratado bilateralmente”, lê-se no livro de Garcia Leandro.

Na edição de 11 de Setembro de 1974, o jornal Tai Chung Pou escreveu que “o Chefe da Repartição do Gabinete do Governo de Macau, Tenente Coronel Henrique Manuel Lages Ribeiro, apontou que uma notícia emanada da agência noticiosa Reuters fora mal interpretada, e que Macau tem uma posição peculiar”, pois “a maneira de resolver o seu futuro é diferente em relação a outros territórios ultramarinos portugueses.”

Citam-se palavras de Almeida Santos, à data ministro português da Coordenação Interterritorial, que referiu “que seria permitido a todos os territórios ultramarinos portugueses escolher a forma de independência como meio para solucionar o seu próprio problema, com a excepção de Macau que, sendo um território muito especial, requer uma maneira também especial para solucionar o seu problema”. Na tradução desta notícia, acrescenta-se também uma nota escrita pelo próprio redactor da peça: “Isto quer dizer que não existe o problema da independência em Macau”.

As visitas de Rebelo Gonçalves e Garcia Leandro a Macau decorreram em “finais de Maio, princípios de Junho” de 1974. Almeida Santos esteve em Macau em Setembro desse ano e foi nessa fase que Garcia Leandro foi escolhido Governador de Macau, tomando posse a 13 de Novembro desse ano.

25 Abr 2025

TNR | Lam U Tou exalta-se no plenário por ausência de medidas

O deputado Lam U Tou interveio ontem no debate a propósito do alegado excesso de trabalhadores não residentes (TNR) em alguns sectores de actividade, como é o caso do jogo. “Não vejo, neste relatório das LAG, nenhuma palavra sobre os TNR, e tal está desfasado da realidade de Macau. Estou muito insatisfeito, disse aqui que há vagas nas áreas da restauração e retalho, mas vemos que há mais desemprego nestes sectores e, por outro lado, há mais TNR nas operadoras de jogo”, acusou.

Lam U Tou deu o exemplo de “outros sectores, como mediadores de seguros e o sector das exposições e convenções que fazem esse truque, contratando TNR que falam mandarim”. “Porque é que não estabelecemos uma meta mais elevada para o rácio de trabalhadores, em prol dos locais? Nas LAG não vemos nada em concreto sobre isso. Porque permitimos que haja um grande número de TNR nas concessionárias? Porque é que só três ramos de actividade são exclusivas a locais, e porque não podemos alargar a mais actividades? Sim, estou emocionado, mas de facto é um problema.”

No lado oposto, o deputado Chan Chak Mo disse que o território precisa de TNR para a economia funcionar. “Se não conseguirmos preencher esses lugares, quem vai trabalhar? Vamos incentivar a natalidade para termos mais trabalhadores? Não! Se não houver trabalhadores as empresas fecham. Queremos ser um centro mundial de turismo e lazer e cidade da gastronomia, e temos de prestar um bom serviço. Também estou exaltado como o colega”, disse.

O secretário explicou que nos três anos de pandemia o número de TNR baixou, tendo crescido gradualmente, mas sempre segundo o princípio de ser um complemento ao trabalho dos locais.

24 Abr 2025