25 de Abril | A ida de Nobre de Carvalho à AL e as palavras de apoio

Foi há 49 anos, a 25 de Abril de 1974, que, em Portugal caiu o Estado Novo às mãos da chamada Revolução dos Cravos. Em Macau, o governador Nobre de Carvalho foi à Assembleia Legislativa, dia 29, dar conta da nova ordem política na metrópole, tendo recebido mensagens de apoio dos vogais e das câmaras municipais do Leal Senado e das Ilhas. A censura foi abolida no dia 6 de Maio. Recordamos os discursos e artigos de opinião publicados nos jornais desses dias

 

Numa época em que telefonar para Lisboa constituía uma missão olímpica e em que as notícias chegavam por telegrama, o impacto do 25 de Abril de 1974 em Macau sentiu-se tardiamente. O fim do Estado Novo e do regime ditatorial comandado por Marcello Caetano, como herança do já falecido António de Oliveira Salazar, só foi oficialmente anunciado na Assembleia Legislativa (AL) no dia 29 de Abril pelo então governador Nobre de Carvalho. Aos deputados, este disse existir, por vezes, a necessidade, “na vida dos povos, de decisões drásticas e audaciosas que sacudam uma Nação”, noticiou o diário “Notícias de Macau” a 1 de Maio de 1974.

No período antes da ordem do dia da mesma sessão plenária, José Maneiras, arquitecto, levou para o seu discurso o poema de Manuel Alegre, histórico do Partido Socialista (PS) e um dos que resistiram à ditadura: “No meu país há uma palavra proibida”. A edição do “Notícias de Macau” de 3 de Maio de 1974 reproduziu, na íntegra, o discurso de Maneiras, que prestou uma “calorosa homenagem” ao Movimento das Forças Armadas (MFA) “pela sua preponderante acção desenvolvida com verticalidade, elevado espírito de missão e de profunda consciencialização dos anseios genuinamente nacionais”.

“Não importa fazer aqui a autópsia do antigo regime. De tal missão se encarregará a história. Importa, pois, que todos nós, imbuídos do espírito democrático, saibamos voltar as costas a um passado e, em comunhão dos ideais mais elevados, esquecendo dissecções antigas ou divisões facciosas, encarar com confiança o futuro que se nos depara, com plena consciência dos direitos e deveres que, sobre nós, recaem na construção do bem comum que estruturará um Portugal renovado, pleno de vitalidade (…)”, disse então.

Outro membro do hemiciclo que usou da palavra foi o engenheiro Humberto Rodrigues. “Desejo apoiar com modéstia e sinceridade as considerações que V. Exª acaba de aduzir a propósito da instalação pelo MFA do novo regime no nosso país. Neste singelo apoio, certamente retratando o sentido de todos os portugueses, votos faço para que, desta nova situação, Portugal se encaminhe para um futuro melhor, para seu maior prestígio e dignificação e para bem de quantos se orgulham da nacionalidade portuguesa, bem como daqueles que, confiadamente, se abrigam à sombra da bandeira verde-rubra”, noticiou então o “Notícias de Macau” na sua edição de 1 de Maio de 1974.

Também Ho Yin, histórico líder da comunidade chinesa, interveio na sessão de 29 de Abril. Segundo o “Notícias de Macau” do dia 6 de Maio de 1974, este exaltou o facto de Nobre de Carvalho permanecer como governador, por decisão da Junta de Salvação Nacional. “Julgo interpretar o sentir de todos os senhores vogais desta Assembleia, afirmando que o facto constitui, sem dúvida, motivo de jubilo para esta província”, disse.

Ho Yin lembrava “os esforços despendidos por V. Exa. para o desenvolvimento desta terra mereceram a melhor apreciação do povo português”, pelo que a continuação de Nobre de Carvalho “nas rédeas do governo de Macau deverá contribuir, indubitavelmente, para o maior progresso desta terra”. “Os trabalhos desta Assembleia, sob a sábia orientação de V. Exa., irão prosseguir da melhor forma, a bem do futuro de Macau e do bem-estar da sua população portuguesa e chinesa”, salientou o pai do futuro primeiro Chefe do Executivo da RAEM, Edmund Ho.

Outro importante interveniente na sessão plenária foi o advogado macaense Carlos D’Assumpção. “As notícias divulgadas pelos órgãos de informação e a palavra autorizada de V. Exa. senhor governador vêm pôr termo à expectativa, ansiedade e natural apreensão que acompanhou o desenrolar dos recentes acontecimentos no recanto europeu de Portugal”, começava por dizer.

Carlos D’Assumpção apontava que “não há instituições que dispensem adaptação, revigoramento ou até transformação, mas há-as mais ou menos aptas à realização dos fins que se propõem, como as há que, em si mesmas, encerram o germe da sua inoperância ou destruição”. Além disso, dizia, “não há sistemas políticas eternos ou perfeitos, mas há-os de maior ou menor estabilidade, como os há que, por se adequarem às qualidades e defeitos dos homens e das comunidades a que se destinam, criam e mantém as condições indispensáveis à melhoria e elevação da vida colectiva”.

Moções de apoio

Macau tinha, à época, o poder municipal institucionalizado com as Câmaras Municipais do Leal Senado e das Ilhas. Ambas aprovaram moções de apoio à continuidade de Nobre de Carvalho à frente do Governo e ao novo regime político saído da revolução. Essas moções só foram discutidas e aprovadas no início do mês de Maio.

Segundo o “Notícias de Macau” de 3 de Maio de 1974, a Câmara Municipal das Ilhas aderiu “aos princípios e objectivos da Junta de Salvação Nacional”, governo provisório criado após a queda do regime e comandado pelo general António de Spínola.

“Importa-se, sim, que esta Câmara Municipal das Ilhas, lídimo representante das populações deste concelho, em seu nome no dos habitantes que aqui vivem e labutam, levante também a sua voz e se faça sentir igualmente que todos estão ao lado daqueles ilustres portugueses que fazem parte da Junta de Salvação Nacional, bem como do seu Governador General José Manuel Nobre de Carvalho”, disse o então presidente da câmara aos vereadores na sessão do dia 2.

Já o “Gazeta Macaense”, na sua edição de 1 de Maio de 1974, deu conta da sessão da moção da Câmara Municipal do Leal Senado aprovada e discutida a 29 de Abril. “O Leal Senado, como lídimo representante da população da cidade de Macau e atentas as suas honrosas e gloriosas tradições de lealdade à Pátria, não pode ficar alheio a tão histórico acontecimento que assinala o dealbar para a nação portuguesa da era da reconciliação nacional e da nova ordem política, significativa e expressivamente enunciados no programa da Junta de Salvação Nacional.”

Acrescentava-se ainda que a Câmara não podia “ficar indiferente perante a decisão da Junta de Salvação Nacional em manter o senhor general José Manuel Nobre de Carvalho no cargo de Governador desta província, facto que será segura garantia da continuação da sua esclarecida e meritória acção governativa, sempre inspirada por elevados sentimentos de humanidade e generosidade que, além do mais, tanto têm contribuído para a pacífica e harmoniosa convivência das comunidades portuguesa e chinesa”.

De frisar que da Junta de Salvação Nacional faziam parte Jaime Silvério Marques, que foi governador de Macau entre 1959 e 1962, bem como o general Francisco da Costa Gomes, antigo Chefe do Estado Maior do Comando Territorial Independente de Macau.

O fim da censura

Nos primeiros dias de Maio foram vários os artigos de opinião publicados nos jornais locais sobre a nova ordem política vigente em Portugal. Destacamos o texto de “R. Ferreira”, intitulado “25 de Abril de 1974: Uma nova era para Portugal” e publicado no “Notícias de Macau” a 7 de Maio.

“Às primeiras horas da madrugada do dia 25 de Abril passado nasceu uma nova era para Portugal. 25 de Abril de 1974 – data que marca um acontecimento importante para o futuro de Portugal. Uma data que encerra, em si, um significado profundo e rico, que transcende uma dimensão autêntica e genuinamente nacional. O significado desta data representa uma vitória do MFA, mostrando-nos, mais uma vez, a sua lealdade à Pátria e ao seu Povo.”

Escrevia “R. Ferreira” que era importante o povo “compreender a causa desta vitória, olhando o exemplo heróico daqueles que souberam lutar com honra e, sobretudo, com muita dignidade, esquecendo tudo e todos”. “É motivo para reflexão que certamente ajudará a encontrar novas forças para o futuro de Portugal que temos ânsia de encontrar e construir”, frisou.

Uma das primeiras medidas adoptadas em Macau com o fim do Estado Novo em Portugal foi a abolição da censura à imprensa, livros e cinema. O Major Henrique Lages Ribeiro, último presidente da Comissão de Censura à Imprensa, reuniu dia 3 de Maio com os directores de todos os jornais portugueses, tendo divulgado então o fim da entidade, expresso num comunicado oficial emitido três dias depois. Assim, a 6 de Maio de 1974 era oficialmente abolida a comissão e criada uma Comissão Ad-Hoc, composta pelo capitão-tenente Augusto António Catarino Salgado e capitão Estrela Soares, que vigorou até serem implementadas novas leis de imprensa.

Na sua edição de 4 de Maio, o “Notícias de Macau” dava conta do sucedido, com a notícia titulada “Foi abolida nesta província a censura à imprensa”. Lê-se, no artigo, que Lages Ribeiro citou algumas passagens referidas por Spínola aos órgãos de informação de Portugal no dia 28 de Abril, em Lisboa, nomeadamente a seguinte: “Com a restituição da liberdade à imprensa, esta pode definir individualmente a sua tendência política, mas será desejável que os órgãos de informação não se tornem extremistas nem da esquerda nem da direita e que evitem atitudes demagógicas que confundam e exaltem as populações.”

Em Junho de 1974, o MFA, representado pelo general Garcia Leandro e major Rebelo Gonçalves, organizou uma sessão de esclarecimento em Macau, no colégio de Santa Rosa de Lima, onde foi explicado o que tinha sido a revolução e o impacto desta em Portugal e Macau. De frisar que Garcia Leandro acabaria por ser nomeado governador do território em Novembro de 1974.

Com o raiar da Democracia, formam-se em Macau duas associações de cariz político – o Centro Democrático de Macau, ligado ao Partido Socialista e fundado por diversas personalidades locais como Jorge Neto Valente e José Maneiras, e a Associação de Defesa da Instrução dos Macaenses, afecta ao CDS-PP e ligado a Carlos D’Assumpção.

Em 1976, seria implementado o Estatuto Orgânico de Macau que daria origem a um novo enquadramento jurídico, e que poria definitivamente um fim ao anterior regime do Estado Novo. No livro “Macau nos anos da revolução portuguesa 1974-1979” Garcia Leandro descreve que esta nova jurisdição “deu aos órgãos do Governo próprio do território verdadeira autonomia legislativa, administrativa, económica e financeira”. Abriu-se, assim, um novo caminho até à assinatura da Declaração Conjunta entre Portugal e a China, a 13 de Abril de 1987.

Descreve Garcia Leandro que, à época, “a soberania [portuguesa] em Macau nunca foi muito efectiva”. “Éramos poucos – entre missionários, comerciantes e militares – perante uma população maioritariamente chinesa. Estando os interesses de Portugal já voltados para África, Macau foi perdendo importância num século XX muito instável”, apontou.

24 Abr 2023

CCCM | UM patrocina base de dados de documentos históricos

O Centro Científico e Cultural de Macau assinou, na quinta-feira, um acordo com a Universidade de Macau para o patrocínio de uma base de dados digital com documentação histórica digitalizada, existente em todo o mundo, sobre as relações entre portugueses e asiáticos, permitindo um acesso mais fácil a investigadores

 

Fazer investigação histórica implica trabalhar com documentos raros, facilmente danificáveis e, muitas vezes, de difícil acesso, espalhados em vários locais. A fim de reunir toda esta documentação online, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) tem vindo a expandir a base de dados intitulada “Portuguese Asian Digital Archives Network” (PADAN) [Rede Portuguesa de Arquivos Digitais Asiáticos] que, na quinta-feira, passou a contar com um novo patrocinador, a Universidade de Macau (UM).

A PADAN é, assim, uma plataforma digital para a agregação do material de investigação sobre a Ásia existente nas bibliotecas, arquivos e centros de documentação de Portugal e outros países. Com esta iniciativa, pretende-se que alguma da documentação à guarda da UM passe a pertencer a esta rede, conforme disse ao HM Rui Martins, vice-reitor da instituição.

“A UM tem muita informação e muitos documentos históricos adquiridos recentemente, nomeadamente o manuscrito, adquirido a privados, sobre a instalação da primeira embaixada portuguesa na China, e que data do reinado de D. João V. Só existem dois exemplares em todo o mundo e um deles está no Palácio Nacional de Queluz.”

Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, destacou no seu discurso que a PADAN irá “promover a investigação internacional sobre a história das relações entre portugueses e asiáticos e uma maior cooperação ao nível dos arquivos internacionais”.

“Os arquivos históricos e documentos escritos à mãos são algumas das mais preciosas e importantes fontes para a investigação histórica, mas o facto é que são materiais frágeis e únicos, o que significa que o acesso é difícil e restrito.

Recentes desenvolvimentos ao nível da tecnologia digital resultaram na possibilidade de haver um maior acesso a imagens e documentos históricos digitalizados, e este desenvolvimento traz um enorme potencial para fomentar e melhorar o estudo em torno de documentos raros sem risco de os danificar”, acrescentou.

Livros e mais livros

O acordo assinado na quinta-feira visa ainda a publicação de mais obras entre o CCCM e a UM, com o apoio financeiro desta universidade. “Temos uma colecção de oito livros publicados e há mais projectos a caminho”, contou Rui Martins. Uma das últimas edições foi sobre os 200 anos do jornal “Abelha da China”, sendo que a primeira edição aconteceu há dez anos com a publicação, na versão portuguesa, da tese de doutoramento de Carmen Amado Mendes, intitulada “Portugal e o estabelecimento da Questão de Macau, 1984-1999: Pragmatismo nas Negociações Internacionais”. Espera-se, assim, um aumento do número de livros editados neste contexto, em diversas áreas académicas.

24 Abr 2023

Acordo | Pansy Ho quer que Macau seja o “Davos do Turismo”

Foi assinado, na sexta-feira, um acordo entre o Fórum de Economia do Turismo Global e a Organização Mundial do Turismo que estipula que o fórum seja organizado em Macau de dois em dois anos. Pansy Ho, secretária-geral do Fórum, defende que Macau deveria ser visto como o “Davos do Turismo”

 

A vice-presidente e secretária-geral do Fórum de Economia do Turismo Global (GTEF, na sigla inglesa) afirmou na sexta-feira que Macau deveria ser encarado como ‘o Davos do Turismo’, ao assinar um acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT). “Queremos fazer do GTEF um Davos do Turismo”, disse Pansy Ho depois de assinar com a OMT, em Lisboa, um acordo para uma parceria ampliada entre estas duas organizações que deverá fazer com que o fórum passe a ser realizado um ano em Macau e no ano seguinte noutra região.

“Estamos a abrir um novo capítulo, com o mundo a recuperar da pandemia e o turismo a ganhar fôlego, é um momento crítico para o sector e para a economia mundial”, disse a responsável que é também directora executiva da MGM China, anunciando que “em 2024 o GTEF vai ser realizado noutra região para encorajar um diálogo maior sobre como o sector do turismo pode contribuir para resolver as necessidades das pessoas e fomentar o desenvolvimento económico e social”.

Este ano, acrescentou, “é o primeiro ano completamente pós-pandémico, e o regresso dos turistas chineses representa uma esperança para o turismo mundial, e o próximo GTEF [agendado para finais de Setembro, em Macau], vai ser uma grande oportunidade para reflectirmos sobre a última década e sobre como nós, enquanto sector, podemos encarar o futuro”.

No encontro em Lisboa, Pansy Ho destacou ainda as “relações muito próximas” com a capital portuguesa, lembrando que o país “foi dos primeiros a apoiar o GTEF, logo no lançamento”, e mostrou-se convicta de que a relação entre Macau e Portugal “vai continuar a florescer”.

Empresas e companhia

O acordo-quadro assinado na sexta-feira vai permitir que o Fórum e a OMT explorem “uma cooperação global mais abrangente em áreas diversificadas como o turismo, economia e cultura no período pós-pandémico”. No seu discurso, Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, esclareceu que esta nova parceria “representa mais oportunidades de desenvolvimento ‘importadas’ para Macau e parceiros”, bem como um novo “marco na estratégia de ‘exportação’ além-fronteiras” do Fórum.

“Acreditamos que, com esta colaboração elevada, iremos contribuir ainda mais para o desenvolvimento sustentável e a longo prazo do turismo global e das indústrias relacionadas, bem como promover o desenvolvimento diversificado de Macau”, rematou.

Zurab Pololikashvili, da OMT, afirmou ser necessária “uma plataforma que reúna governos, líderes de negócios, organizações internacionais e empreendedores”, pelo que o Fórum será isso mesmo, desempenhando “um papel insubstituível como local de encontro por excelência de líderes do turismo global”.

A próxima edição do Fórum pretende discutir, com as várias entidades e personalidades participantes, “como melhor abordar a nova normalidade no período pós-pandémico e como, através de cooperação internacional inovadora e sustentável, formar um ecossistema da indústria turística dotado de elevada resiliência, qualidade e personalização”. Xangai será a cidade convidada principal, enquanto Itália será o país parceiro do evento. Com Lusa

24 Abr 2023

Cooperação | Associações de turismo assinam acordo

A Associação do Turismo Chinês em Portugal, a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e a Associação das Agências de Viagens de Macau assinaram na quinta-feira um protocolo que estabelece o compromisso de partilha de “informações e recursos turísticos” e de exploração de “novos projectos e produtos turísticos”.

As entidades acordam também em “realizar visitas entre os participantes do sector de turismo das três partes, assim como conferências, seminários e outras acções, nomeadamente de promoção”, apontou em comunicado a Associação do Turismo Chinês em Portugal.

24 Abr 2023

Investigação | UM assina acordo com Universidade de Lisboa

A tarde de sexta-feira ficou reservada para a assinatura de um novo acordo quadro de cooperação entre a Universidade de Macau (UM) e a Universidade de Lisboa (UL), onde esteve presente o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, e restantes membros do Governo.

Aos jornalistas, Rui Martins, vice-reitor da UM, adiantou que o novo acordo permite “uma colaboração mais aprofundada em áreas importantes como oceanografia, microelectrónica e robótica”. Ao abrigo do compromisso, a “UM oferece 20 bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, bem como para ‘visiting scholars’ [académicos visitantes], que são atribuídas durante três anos, de uma forma competitiva, e que permite que alunos ou doutorados da UL dessas áreas possam trabalhar em Macau com condições muito favoráveis”.

O evento ficou ainda marcado pela apresentação do resultado de uma colaboração entre a UM e a TechnoPhage SA, uma spin-off ligada à UL, que levou ao licenciamento de uma patente na área da medicina tradicional chinesa para a doença de Parkinson, que culminará com a chegada ao mercado da União Europeia de um novo produto que funciona como suplemento alimentar preventivo da doença. “Esta colaboração existe há cerca de uma década e iniciou-se com a última visita do ex-Presidente da República Cavaco Silva a Macau, quando visitou o nosso campus em 2014”, adiantou Rui Martins.

24 Abr 2023

EPM | Macau paga “maioria significativa” das obras

O ministro da Educação português, João Costa, adiantou aos jornalistas que já existe um acordo para as obras de ampliação da Escola Portuguesa de Macau (EPM), sendo que as autoridades de Macau vão custear uma grande parte dos trabalhos.

“Perspectiva-se o arranque do projecto este ano, mas estamos em fase de negociações e de conversas para a apreciação do mesmo. Não sei dizer um prazo concreto de construção, mas já há um acordo para fazermos a ampliação e a mudança de instalações e permitir uma melhoria muito significativa que é muito necessária. Há uma comparticipação muito expressiva, embora não tenhamos ainda valores, do Governo de Macau”, disse, em declarações reproduzidas pela TDM Rádio Macau.

Na conferência de imprensa de sábado, o Chefe do Executivo deixou claro que Macau vai sempre apoiar a EPM, ainda que esta seja um projecto sob responsabilidade do Ministério da Educação português. “O primeiro-ministro, o ministro da Educação e o Presidente da República manifestam grande atenção à situação da EPM, que pertence directamente ao Ministério da Educação de Portugal. O Governo de Macau respeita [o projecto] e a autonomia de desenvolvimento da própria escola. Queremos reforçar o ensino, aprendizagem e formação em português e a utilização da língua. Há aspectos sobre o aumento do número de estudantes, e caso seja necessário daremos o nosso apoio e iremos providenciar as medidas necessárias.”

24 Abr 2023

Ho Iat Seng sugeriu que estudantes de Macau aprendam Direito da China

O futuro do território é a integração regional e, para isso, já não basta aprender o Direito de Macau ou o que vigora em Portugal. A ideia foi deixada pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, num encontro com mais de 130 estudantes de Macau em Portugal, que decorreu em Lisboa.

“Quando nos integrarmos na Grande Baía teremos de nos assegurar que conhecemos bem os ordenamentos jurídicos de Portugal e de Macau, devendo aprender bem o Direito da China. Teremos de saber como adaptar as leis de Macau e as leis da China e não nos podemos cingir ao conhecimento do Direito português, mas sim ao de Macau e da China.”

Ho Iat Seng adiantou também que na Zona de Cooperação Aprofundada de Guangdong e Macau em Hengqing irão vigorar apenas algumas leis locais.

“Com o desenvolvimento da Zona de Cooperação vamos introduzir a lei civil e comercial de Macau, mas a lei penal terá de ser a da China”, disse o Chefe do Executivo, que referiu que “os quadros terão de ser formados de acordo com as necessidades de Macau e do país, para a construção da Grande Baía e da plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”.

Na plateia estavam mais de 130 alunos de Macau bolseiros que estudam em várias instituições de ensino superior do país em cursos como medicina dentária, Direito, línguas e tradução e sociologia, entre outros. O HM perguntou a alguns se pretendiam, um dia, trabalhar na Grande Baía ou em Hengqin, mas a resposta foi negativa.

“Pretendo voltar para Macau e fazer um mestrado em Direito na Universidade de Macau. Tudo depende da escolha de cada um, mas no meu caso penso ficar em Macau porque a minha família está lá”, disse Jéssica Yue. Wong Cheng, aluna de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa, diz preferir “voltar para Macau e trabalhar lá”, não apenas pelo mercado de trabalho em si, mas “também para estar perto da minha família”.

24 Abr 2023

“Um país, dois sistemas” | Autoridades portuguesas apoiam jurisdição vigente

Portugal entende que a implementação do princípio “um país, dois sistemas” tem sido bem-sucedida em Macau. Ho Iat Seng diz que nunca houve pressões nos media e que existe liberdade de imprensa e de expressão no território. O governante deixou claro que “não pediu [para os portugueses] saírem”

 

As autoridades portuguesas entendem que o princípio “um país, dois sistemas”, consagrado na Lei Básica, tem sido bem implementado no território desde a transferência de soberania do território de Portugal para a China, em 1999. A garantia foi dada, no sábado, por Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, na conferência de imprensa que serviu de balanço à visita oficial a Portugal.

“Houve uma resposta muito positiva da parte do Governo português em relação à manutenção do princípio ‘um país, dois sistemas’, defendendo também a ideia de ‘um país’, respeitando a Lei Básica. [Portugal] concorda que [a jurisdição] é bem concretizada. Um sistema que está bom, não precisa de ser alterado, portanto, sabemos que depois de 50 anos o sistema vai manter-se.”

Recorde-se que este assunto foi abordado na reunião entre o Chefe do Governo e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à qual só puderam estar presentes dois órgãos de comunicação social [um jornal diário, Jornal Tribuna de Macau, e um canal de televisão, a TDM], escolhidos por sorteio, sendo que não houve direito a quaisquer declarações.

Num evento na sexta-feira, inserido no programa da visita, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, com quem Ho Iat Seng também reuniu, defendeu que a jurisdição em Macau definida no quadro da Declaração Conjunta tem sido cumprida.

“Actualmente podemos estar muito satisfeitos com aquilo que foi uma abordagem inovadora e que continua a representar um objectivo e uma ambição para ambos os lados. O Direito nunca é perfeito, há sempre melhorias possíveis, mas há uma vontade clara da parte de todos que a Lei Básica seja cumprida na sua plenitude. Verificámos que há um interesse que a Lei Básica seja inteiramente cumprida e que possa vir a ser projectada no futuro, depois dos 50 anos [da existência da RAEM]. Obviamente que ainda é um pouco cedo, mas essa foi a vontade expressa da parte das autoridades de Macau e convergimos nessa vontade”, disse, em declarações reproduzidas pela TDM Rádio Macau.

Sem interferências

Ainda sobre a manutenção do segundo sistema, Ho Iat Seng frisou que Macau não é um território igual a outras cidades do país, existindo total liberdade de expressão. “Em relação aos residentes, o nosso sistema teve impacto? As pessoas podem pronunciar-se e fazer os seus comentários nos jornais. É isso que permite o princípio ‘um país, dois sistemas’, que as pessoas tenham as suas ideias. São livres para isso. Não podemos dizer que há falta de liberdade. Macau é diferente de outras cidades da China, pode-se criticar o Governo e haver ideias pessoais. Penso que nos anos em que tem vigorado a implementação da Lei Básica tem sido bem-sucedida. Não nos equiparamos às cidades do interior da China.”

O governante salientou que nunca foram feitas pressões sobre meios de comunicação social locais. “Muitas pessoas podem pensar que Macau não difere muito [das cidades chinesas], mas não vamos comentar [o que é dito] ou ir contra a liberdade de expressão e de comentário. O Gabinete de Comunicação Social alguma vez telefonou a dizer que não podem escrever isto ou aquilo? Sabem muito bem que nunca foram limitados. O Chefe do Executivo, eu, Ho Iat Seng, nunca telefonei a dizer que não podem fazer determinada cobertura noticiosa. A liberdade de imprensa sempre existiu em Macau.”

O Chefe do Executivo foi ainda confrontado com a realidade dos últimos três anos que levou a uma redução do número de portugueses, que deixaram o território de vez. Ho Iat Seng entende que as medidas adoptadas pelo Governo em nada contribuíram para este cenário.

“Não pedimos para eles [portugueses] saírem. Não sabíamos quando as fronteiras poderiam reabrir, daí que devido à questão da união familiar algumas pessoas optaram por sair de Macau, mas com a melhoria da situação as pessoas voltaram. Precisamos de recrutar vários trabalhadores, na área jurídica por exemplo, não nos preocupamos com as pessoas que “perdemos” nestes três anos. Houve um consenso entre nós e o primeiro-ministro [António Costa], que nos deu apoio para que recrutemos profissionais para trabalhar em Macau, bem como ao nosso desenvolvimento”, concluiu.

Num outro evento inserido na agenda oficial da visita, Ho Iat Seng deixou elogios à comunidade portuguesa que, “enquanto parte importante da população local, e apesar dos momentos difíceis que se viveram em Macau, tem desempenhado o seu papel com total lealdade no empenho do exercício das mais variadas funções e no âmbito dos diversos sectores sociais, contribuindo para a aceleração da recuperação socio-económica de Macau”.

24 Abr 2023

Conferência Ministerial | António Costa deverá vir a Macau

Da visita de Ho Iat Seng a Portugal foi manifestada a possibilidade de o primeiro-ministro português, António Costa, poder deslocar-se a Macau para participar na próxima Conferência Ministerial do Fórum Macau, embora ainda não haja uma data acertada.

“Falámos com o primeiro-ministro e ele poderá tentar deslocar-se a Macau e participar na reunião. A data [da Conferência] tem ainda de ser programada, pois há vários países participantes. Esperamos que no segundo semestre ou início do próximo ano possamos tentar organizar a conferência ministerial. Nunca parámos as reuniões do Fórum Macau”, disse Ho Iat Seng na conferência de imprensa de balanço da visita. A deslocação de António Costa deverá também servir para marcar presença na sétima reunião da Comissão Mista Macau-Portugal, que deverá realizar-se este ano, segundo anunciou o Chefe do Executivo.

24 Abr 2023

Empreendedorismo | Lisboa quer maior união com Macau

Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, esteve ontem na Câmara Municipal de Lisboa onde assinou o Livro de Honra e reuniu com o presidente, Carlos Moedas. Moedas quer maior união na área das startups e empreendedorismo, tendo também destacado a importância da língua portuguesa. Ho Iat Seng lembrou a permanência do bilinguismo na Administração e no hemiciclo

 

Empreendedorismo, língua portuguesa e gestão municipal. São estas as áreas nas quais Lisboa e Macau podem cooperar no futuro. Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), recebeu ontem o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng e da comitiva que o acompanhou, tendo o governante assinado o Livro de Honra da CML.

No seu discurso, Moedas lembrou o papel cada vez maior que Lisboa desempenha na área das startups, de que a Fábrica de Unicórnios é um exemplo, espaço visitado pela delegação de empresários de Macau, e a Web Summit. “Lisboa está aberta a Macau, ao seu talento e às suas empresas”, disse.

Falando de Lisboa e de Macau como “cidades irmãs”, Carlos Moedas referiu a sua nomeação, em Outubro, para a presidência da União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa (UCCLA). “Vejo em Macau um parceiro fundamental no ensino da língua portuguesa na Ásia e sei que o interesse pela nossa língua cresce na China. Macau pode tornar-se num espaço central para o ensino desta língua emergente que caminha para os 300 milhões de falantes. Vejo também em Macau um parceiro fundamental para a cooperação entre as cidades do espaço lusófono.”

Moedas não esqueceu ainda o momento da transferência de soberania. “Durante todo este tempo, Macau serviu de ponte nesta ligação secular entre Portugal e a China. E foi em Macau onde assistimos à grandeza de um momento que marcou um passo fundamental na nossa ligação: a transferência de soberania para a República Popular da China. Este longo passado é um impulso para um futuro entre Lisboa e Macau.”

Tem bilingues

Ho Iat Seng, por sua vez, lembrou que, tanto na Administração, como na Assembleia Legislativa, existe ainda um bilinguismo vivo. “Temos 77 escolas do ensino não superior, 36 das quais onde se ensina a língua portuguesa. Quando estava na escola não havia muitas escolas que ensinassem português, mas depois com o surgimento do Fórum Macau surgiu uma necessidade constante e procura pelo ensino da língua. Surgiu, assim, um enorme interesse pela língua portuguesa em Macau e na China. Na AL temos todos os documentos em versão bilingue e agora o Governo continua com as duas línguas a funcionar.”

O Chefe do Executivo disse estar “grato” por Portugal ter fornecido, nos últimos anos, docentes e profissionais de língua portuguesa para as mais diversas áreas, do ensino à tradução. “Temos uma grande equipa de tradução para podermos manter esta máquina administrativa [a funcionar].”

Sobre 1999, Ho Iat Seng disse que se tratou “de uma manifestação da continuação da nossa amizade abençoada por uma cultura e laços de cooperação entre Macau e Portugal”. O Chefe do Executivo não deixou de referir ainda os “três anos de luta na pandemia”. “Ao longo dos últimos anos a economia sofreu muito, mas a vida da população foi assegurada. Com o apoio da República Popular da China temos vindo a controlar os preços das mercadorias e fomos bem-sucedidos, pois a inflação nunca foi além de um por cento”, frisou.

Sobre a área municipal, Ho Iat Seng fez referência às novas zonas urbanas. “Há sempre mais exigências e preocupações para a população, que exige que a rede viária seja boa, que haja abastecimento de gás natural. Vamos ter novas zonas urbanas e, com a tecnologia, poderemos facilmente acrescentar mais redes de canalização. Os serviços municipais de Lisboa podem servir Macau e fornecer mecanismos mais inteligentes para obtermos o reconhecimento da população. Digo sempre aos colegas que o vencimento já abrange esta parte das queixas”, ironizou.

A visita de ontem ficou ainda marcada por uma deslocação da comitiva de empresários à Fundação Champalimaud, na parte da manhã, onde foram apresentadas as últimas investigações na área do tratamento do cancro e neurociência.

21 Abr 2023

Hengqin | Novo centro de ciência e tecnologia em Julho

António Lei Chi Wai, director dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin anunciou no fórum de quarta-feira que as obras de interiores do novo Centro de Cooperação e Intercâmbio de Ciência e Tecnologia entre a China e os países de língua portuguesa estarão concluídas em Julho.

Este Centro “irá apoiar a introdução e promoção externa das empresas científicas e tecnológicas, além de servir de cooperação e intercâmbio nestas áreas ao mais alto nível entre entidades governamentais”.

Referindo que “Hengqin não é um deserto”, António Lei Chi Wai falou de infra-estruturas já existentes como a Praça Ponto Legend, em estilo Manuelino, um investimento da Macau Legend, o parque Chimelong, ou o “Novotown”, um empreendimento turístico com o Hengqin Hyatt Hotel e uma área de 1,47 milhões de metros quadrados. Não faltou na apresentação a referência ao Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong e Macau, já com 86 empresas residentes, e o “Innovalley para os Jovens de Macau”, espaço com 130 mil metros quadrados e já tem 406 empresas.

Apelando a uma maior autonomia em matéria de gestão e administração, o responsável frisou que a entidade gestora da Zona de Cooperação pode actuar em 159 áreas de intervenção. “Hengqin pode dar novas oportunidades a Macau e aos países de língua portuguesa, nomeadamente a Portugal”, adiantou perante a plateia de empresários no âmbito da visita de Ho Iat Seng a Portugal.

20 Abr 2023

Ho Iat Seng em Portugal | Empresas procuram expansão na China

É certo que a comitiva de empresários não se deslocou à vila de Campo Maior, à fábrica do grupo Delta Cafés, como estava inicialmente previsto, mas a empresa marcou presença no seminário de promoção de investimento desta quarta-feira. Ao HM, Dinis Cunha, responsável de vendas para os mercados internacionais da Delta, disse que o objectivo é expandir a presença que o grupo já tem na China com a Delta Food Xangai. Em Macau, o grupo trabalha há muitos anos com um distribuidor. O território serviu de plataforma comercial, mas a Delta decidiu apostar por si própria no continente, contou.

“Queremos desenvolver essa presença que já temos e expandir a presença no grande continente chinês, mais do que um país. Sabemos que é um país mais virado para o chá, mas há uma tendência de desenvolvimento ao nível do café e queremos aproveitar a presença que já lá temos. Esta expansão não é feita com alguns parceiros, mas sim com uma rede entre várias entidades governamentais das várias regiões.”

Fim dos vistos Gold

Isabel Pinho, representante da Across Coast, ligada à área do imobiliário, também marcou presença no evento. “A nossa empresa está há 17 anos no mercado e já trabalhamos há algum tempo com pessoas de Macau. Estamos ligados ao investimento imobiliário e queremos aprofundar um pouco mais esses contactos. Trabalhamos com vistos gold, mas também com empresas e particulares que querem investir em Portugal.”

Isabel Pinho adiantou que existe “uma relação histórica” entre Portugal, China e Macau, além de que a China “tem sido um grande investidor [em Portugal]”, pelo que “existe uma forte vontade de colaboração, algo que vai continuar e ser vantajoso para ambas as partes”.

Sobre o fim dos vistos Gold em Portugal, a representante da Across Coast garantiu que haverá um impacto negativo “no investidor mais pequeno”. “Talvez não seja tão problemático para os grandes investidores, pois nestes casos o intuito não era tanto o visto gold. Acredito que haja alguma diminuição nesse segmento e noto que existe alguma frustração em pessoas que compraram em Portugal e que já tinham essa intenção e agora não o podem fazer”, rematou.

20 Abr 2023

Cooperação | AICEP, IPIM e duas associações de Macau assinam acordo

No dia em que Ho Iat Seng aterrou em Lisboa, o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau assinou um acordo que reforça a ligação à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, ao qual se associam a Associação Comercial de Macau e a Associação de Comerciantes e Industriais de Macau. Turismo de Portugal quer dinamizar sector com a ajuda da RAEM e atrair turistas chineses

 

Foi assinado, esta quarta-feira, um acordo que reforça a ligação entre o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM) e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). Poucos detalhes foram avançados sobre este novo memorando ao qual se associam a Associação de Comerciantes e Industriais de Macau e a tradicional Associação Comercial de Macau.

Apenas Francisco André, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, disse no seu discurso que a relação entre a AICEP e o IPIM sairá “reforçada pela assinatura de um instrumento bilateral aqui formalizado”.

O memorando foi celebrado no dia em que Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, chegou a Lisboa. De manhã, momentos depois de aterrar, foi a vez do governante se dirigir à zona do Terreiro do Paço onde decorre a exposição “Sentir Macau” com os expositores do IPIM, Instituto Cultural e operadoras de jogo. Além dos membros das delegações de empresários que acompanharam Ho Iat Seng nesta visita, estiveram também presentes personalidades das seis concessionárias de jogo como Pansy Ho, Daisy Ho e Lawrence Ho, entre outros.

À tarde decorreu a Sessão de Investimento e de Turismo Macau-Portugal onde, além de ser assinado o acordo já referido, serviu de sessão de esclarecimento destinada a empresários portugueses sobre o que é a Zona de Cooperação Aprofundada de Macau e Guangdong em Hengqin e quais as oportunidades de investimento.

No seu discurso, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, referiu a estratégia “1+4” para diversificar a economia e que será criado “um ambiente de negócios melhor para que os investidores estrangeiros, interessados em entrar no mercado chinês, utilizem Macau e a zona de Hengqin como ponto de partida para explorar o vasto mercado do Interior da China, com uma população de 1,4 mil milhões de habitantes”.

Pontos em comum

Nomes de “filhos da terra” como Luís Gonzaga Gomes e José Vicente Jorge, mas também os de poetas como Camilo Pessanha e Luís de Camões foram citados no discurso do secretário de Estado português. Francisco André referiu que a língua portuguesa e a cultura são importantes dada a longa ligação entre Portugal e Macau, mas o turismo e os negócios são o foco principal.

É, assim, importante que “a dinamização do fluxo de turistas assuma, para Portugal e Macau, primordial importância”. “Existem múltiplas perspectivas futuras em áreas de interesse partilhado e que dão resposta a desafios que se impõem às sociedades em que vivemos, nomeadamente na área das energias renováveis, economia azul e saúde”, disse.

Francisco André lembrou que “há mais de 400 empresas portuguesas que exportam para Macau um vasto leque de bens e serviços”. “Desejamos hoje perspectivar o futuro e reforçar as bases numa perspectiva de crescimento, não apenas no número de empresas presentes em cada território, mas no número de parcerias, oportunidades e volume de investimentos. Queremos acolher o instrumento do investimento macaense em Portugal”, frisou.

O governante não esqueceu a área do empreendedorismo. De frisar que um dos pontos da agenda dos empresários foi a visita à Fábrica de Unicórnios de Lisboa. “Portugal desenvolveu com sucesso um ecossistema que favorece a emergência de startups, e estamos disponíveis para partilhar essa experiência com o Centro de Intercâmbio, Inovação e Empreendedorismo para jovens da China e dos países de língua portuguesa em Macau, para colaborar em todas as actividades onde se entenda que há interesse mútuo.”

Portugal em Macau

Por sua vez, Luís Araújo, do Turismo de Portugal, confirmou a presença da entidade pública, congénere da Direcção dos Serviços de Turismo de Macau, na próxima edição da Feira Internacional de Turismo (Indústria) de Macau.

“O turismo é, sem dúvida, um dos elementos que mais nos une a Macau e que fortalece esta mútua relação e cooperação”, disse o responsável, que falou da aposta na formação na área com base na parceria já existente entre o Instituto de Formação Turística de Macau e a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

Luís Araújo não deixou de falar do turismo chinês, que antes da pandemia, em 2019, gerou números anuais de 400 mil hóspedes em Portugal, com gastos de cerca de 25 milhões de euros. “Será muito importante que Portugal volte a estar nas escolhas diárias dos chineses. A nossa estratégia para os mercados da China e de Macau é crescer em valor, querer que quem nos visita permaneça mais tempo e nos conheça melhor”, disse. À margem desta sessão de promoção decorreram bolsas de contacto entre empresários.

20 Abr 2023

Turismo | Espanha é objectivo na promoção, mas Ásia constitui foco inicial

Helena de Senna Fernandes, responsável da Direcção dos Serviços de Turismo, quer apostar no mercado espanhol para promover o turismo de Macau, tendo reunido esta terça-feira com a Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo. Falando aos jornalistas a partir de Lisboa, a directora dos Serviços de Turismo diz estar satisfeita com os números do turismo e que o foco para atrair visitantes internacionais será feito, em primeiro lugar, na Ásia

 

Foi preciso esperar pelo anoitecer no Terreiro do Paço para ver, na noite desta terça-feira, mais um espectáculo de video-mapping sobre Macau nas fachadas dos edifícios históricos que compõem esta parte da cidade lisboeta. Em simultâneo, Helena de Senna Fernandes, responsável máxima pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) falou aos jornalistas sobre as grandes apostas na promoção turística que o Governo está a fazer na viagem a Lisboa, integrada na visita oficial de Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, a Portugal.

Terça-feira, foi dia de a DST reunir com a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT). A responsável garantiu que o mercado espanhol deverá ser a próxima aposta do Turismo de Macau na Europa.
“Existe a possibilidade de trabalharmos com o mercado espanhol através da APAVT, porque têm boas relações com as agências de viagens em Espanha.”

Helena de Senna Fernandes confirmou que foi feito um convite, por parte da APAVT, para Macau estar representada no congresso anual da associação, que decorre este ano. Por sua vez, a APAVT deverá estar presente na edição deste ano da Feira Internacional da Indústria de Turismo de Macau. “Estamos ainda em negociações, mas em princípio teremos um stand de Portugal na nossa feira”, disse Helena de Senna Fernandes.

A reabertura do escritório de representação em Lisboa, encerrado durante a pandemia, não está nos planos da DST. A promoção turística e os trabalhos de captação de turistas internacionais far-se-á no terreno com outras modalidades.

“Não estamos a pensar reabrir o escritório de representação em Lisboa. Hoje em dia, a maneira de fazer promoção turística é muito diferente do que era antigamente, pois actualmente temos mais meios digitais, temos as redes sociais. Vamos trabalhar com os órgãos de comunicação social para chegar directamente aos consumidores, e vamos trabalhar também com as agências de viagens.”

A ligação com a APAVT vai ajudar a DST “nas acções institucionais”. “No terreno temos de trabalhar mais com agências de viagens e órgãos de comunicação social”, frisou. Depois de uma série de acções promocionais no Interior da China e na Malásia, esta é a primeira apresentação de grandes dimensões que a DST faz em nome próprio fora da RAEM e depois de uma pandemia que afectou profundamente o território.

“Este é um passo muito importante para nós, e além de querermos chegar aos turistas portugueses vemos que passam aqui muitos turistas. Cruzámo-nos com turistas americanos, espanhóis e franceses, muitas pessoas que vêm de partes diferentes da Europa e com esta acção chegamos também a pessoas de fora de Portugal.”

Na Praça do Comércio apresenta-se um espectáculo de luzes que mostra, de forma artística, aquilo que Macau tem para oferecer a quem o visita. “Há uma parte do espectáculo que fala sobre o encontro de culturas entre o Oriente e Ocidente, outra que mostra as atracções de Macau, e revelam-se ainda partes do chamado ‘Turismo +’, com as áreas do desporto, cultura e convenções e exposições. O espectáculo termina com a estratégia “1+4″, ou seja, a nova estratégia do Governo. Queremos passar essas mensagens de uma forma criativa.”

Voos, precisam-se

O sector do turismo sofre com a falta de recursos humanos, mas os números de visitantes são animadores. “Neste momento os números são muito positivos. Além do período da Páscoa vemos que todos os dias entram em Macau cerca de 60 mil turistas, o que é um bom sinal, e nos fins-de-semana temos, às vezes, mais de 80 ou 90 mil pessoas. Estes números vão além das nossas expectativas em relação aos cálculos que fizemos no início do ano. É um passo positivo para seguir em frente”, disse Helena de Senna Fernandes, que assume serem necessários mais voos para captar mais visitantes.

“Estamos em negociações com algumas companhias aéreas, além da Air Macau, para ver como poderemos trabalhar mais em conjunto e ter mais voos para o território. Estamos a tentar chegar às companhias aéreas que trabalham com Hong Kong.”

“Neste momento não temos um número indicado de turistas internacionais [que pretendemos atingir]”, disse a responsável, quando questionada sobre a fasquia de cerca de dez por cento que ocupavam os visitantes de outros países no período pré-pandemia. “Precisamos de mais ligações internacionais, mas este não é apenas um fenómeno de Macau, acontece também em Hong Kong e em outros territórios. A recuperação no sector de aviação não tem sido rápida e isso deve-se a muitas razões, mas da nossa parte queremos sempre ter mais voos directos ou indirectos com ligação a Macau. Mas esse é um assunto que está fora das nossas mãos. Vamos tentar fazer o nosso trabalho, mas temos de esperar um pouco mais.”

Apesar da aposta no mercado ibérico, a DST quer focar-se primeiro na Ásia. “O foco do nosso trabalho está na Ásia, pois existem maiores possibilidades de termos um acesso directo [a estes mercados]. Podemos ter uma recuperação mais rápida [por essa via], e estamos a trabalhar na Coreia do Sul e vamos incrementar mais os trabalhos em Singapura, Japão, Malásia e Tailândia. É difícil trabalhar com tantos mercados porque não temos meios para chegar a tanta gente.”

Mais hotéis

Ho Iat Seng defendeu, na última sexta-feira, na Assembleia Legislativa, que são necessários mais hotéis de baixo custo em Macau, tendo apelado a trabalhos de renovação e adaptação por parte de algumas unidades hoteleiras mais antigas.

A directora da DST garantiu que se nota um interesse em investir nesta área. “Mesmo durante a pandemia vimos que abriram algumas unidades hoteleiras de baixo custo, de duas ou três estrelas. Temos recebido estes pedidos de licenciamento e, passo a passo, estamos a ter mais oferta [de quartos neste segmento]. Vemos que há interesse nesse sentido [em abrir mais hotéis de baixo custo]”, rematou.

 

Luís Herédia pede maior celeridade nos processos de blue card

Luís Herédia, presidente da Associação dos Hotéis de Macau, integra também a comitiva da Direcção dos Serviços de Turismo em Lisboa. Aos jornalistas, o responsável defendeu que é necessário acelerar o pedido de aprovação dos blue cards para que haja mais trabalhadores não residentes (TNR).

“[A situação laboral] está a fazer com que os TNR sejam colocados [no mercado de trabalho], mas o processo é muito demorado. Muitos dos trabalhadores que tínhamos em Macau, ao fim de três anos, têm o emprego e um salário, aguentaram-se [no território], mas pensam que está na altura de mudar e ir ver a família. Existem essas duas questões: a demora no tratamento dos processos e pessoas que decidem tentar outras oportunidades.”

Luís Herédia adiantou que “os negócios estão bastante melhores e isso é bom, porque, de um dia para o outro, enchemos os hotéis”. No entanto, “sente-se que existe um potencial e que não o conseguimos aproveitar”.

Ajuda dos operadores

Questionado sobre a vinda de mais turistas internacionais, Luís Herédia defende que o trabalho deve ser feito em parceria com operadores turísticos. “Há muita gente que quer voltar a Macau para perceber como estão as coisas, e esta visita vai ajudar nesse aspecto, pois faz-se uma retrospectiva do que já está a acontecer, que o território está aberto e [que é uma opção como destino turístico]. Mas [o sucesso desta estratégia] depende muito se os operadores de viagens apresentarem produtos que sejam atractivos.”

“Temos de mostrar o produto que temos lá, os casinos, a gastronomia e a parte cultural e do património, mas depois temos de trabalhar com os operadores. Poderia haver outros incentivos, de não ir apenas a Macau numa viagem ao Oriente, mas incluir-se mais destinos [num pacote de viagem]”, frisou.

Questionado sobre a última ideia deixada por Ho Iat Seng, no hemiciclo, sobre a possibilidade de criar o modelo “uma viagem, várias estadias”, Luís Herédia acredita que este poderia ser “um produto diferenciador”.

“Não sei como isso vai ser feito, mas há muitas vozes a manifestarem essa vontade, de uma chegada à Grande Baía que facilite os acessos a outras regiões e à China. Sem dúvida que seria um incentivo muito grande. Parece que há vontade e é importante ir falando sobre estes projectos. Não basta estarmos aqui a promover [o turismo no território], mas é importante também captar investimento. Acredito que se vão dando alguns passos, e penso que vamos chegar a uma situação mais concreta.”

Ainda sobre o aumento dos turistas internacionais, um dos grandes objectivos do Governo com esta viagem, Luís Herédia alerta para a necessidade de “melhorar a situação dos transportes locais e aéreos, bem como dos serviços”. “Devemos apostar na formação e estarmos preparados pois, nesse aspecto, é necessário um trabalho mais profundo”, concluiu.

20 Abr 2023

Câmara Municipal de Lisboa cedeu espaço para exposição de Macau

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) assegurou ao HM que a mostra “Sentir Macau, Sem Limites – Exposição de Macau em Lisboa” foi feita sem cobrança de qualquer valor por parte da Câmara Municipal de Lisboa.

“A organização da exposição e exibição do vídeo mapping na emblemática Praça do Comércio foram possíveis graças ao forte apoio da Câmara Municipal de Lisboa. A utilização da Praça do Comércio para a realização da promoção não acarretou honorários, dado tratar-se da cedência de um espaço público”, foi dito, em resposta escrita.

A DST não adiantou, contudo, qual o valor do orçamento global para a iniciativa “Sentir Macau Sem Limites – Promoção de Macau em Lisboa” que inclui, além da exposição no Terreiro do Paço, espectáculos nocturnos de video-mapping diários até sábado e sessões de promoção turística com uma forte componente empresarial.

Esta delegação de empresários, chefiada pela DST, contém “representantes das principais associações da indústria do turismo e das maiores operadoras de turismo e lazer integrado de Macau”. O ponto alto da agenda em Lisboa acontece hoje, com a realização da Sessão de Promoção Económica, Comercial e Turística em Lisboa.

Trata-se de um evento que decorrerá da parte da tarde [hora de Lisboa] organizado pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau. Neste evento serão reveladas “as novidades da oferta de Macau”, prevendo-se a realização de “contactos com homólogos portugueses do sector turístico”. “Também está programada uma visita de familiarização aos recursos turísticos na grande Lisboa, entre outros”, acrescenta a DST na sua resposta.

Em sintonia

Recorde-se que, em plena pandemia, a DST decidiu fechar a representação que tinha em Lisboa, chefiada então por Paula Machado, passando a Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa a funcionar sem esta componente de promoção turística. Questionada sobre uma eventual reabertura dos escritórios em Lisboa, a DST promete “avaliar continuamente a evolução dos fluxos de visitantes da Europa, Portugal e outros mercados, enquanto prossegue com a promoção dos destaques do destino através das redes sociais e outros canais”.

“Os esforços promocionais presenciais serão fortalecidos em sintonia com a resposta dos mercados ao reforço dos transportes e infraestruturas auxiliares para ligações de longo curso a partir de Macau”, disse ainda a entidade.

18 Abr 2023

António Trindade, CEO da CESL-Ásia, comenta visita de Ho Iat Seng a Portugal: “Esta amizade secular está pouco aproveitada”

Assume que a CESL-Ásia já é uma “empresa da plataforma” pela sua presença em Portugal, com o projecto de agro-pecuária do Monte do Pasto, mas António Trindade espera ver definido um plano de acção concreto para esta área na visita de Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, a Portugal. Falámos com o empresário antes da visita à AICEP, em Lisboa

 

É um dos empresários integrantes da comitiva que acompanha a viagem de Ho Iat Seng. O que poderá sair desta visita em termos concretos?

Estou com alguma expectativa. Temos várias actividades empresariais, mas o mais importante são as visitas do Chefe do Executivo que ainda não conhecemos e o teor das discussões que vão existir com os altos representantes do Governo português. A esperança é que se possa, pelo menos, saber quais são os avanços na construção da plataforma, da qual se fala há mais de uma década e que não tem expressão prática na vertente económica. Temos [CESL-Ásia] investimentos em Portugal e pensamos que as oportunidades são muito grandes, mas veremos se há avanços concretos a esse nível.

Quais as medidas que, a curto prazo, poderiam ser adoptadas para esse avanço?

Temos as questões do acesso ao mercado chinês, da logística aérea. As questões da logística marítima estão mais ou menos coordenadas, mas claramente em relação à logística aérea há faltas muito grandes para que exista uma plataforma. Temos ainda a questão financeira, que não nos afecta muito [à CESL-Ásia], porque temos já uma boa presença em Portugal, mas quando são projectos de Portugal fazemo-los em Portugal, quando são na China, temos de os fazer na China. Não há instituições e serviços financeiros [em Macau] para fazer esse trabalho. São necessárias conversações com o Governo Central e com Portugal para instituir a tal plataforma, uma alternativa ao que já existe. Caso contrário, as empresas vão para Hong Kong ou para o Luxemburgo, não faz sentido nenhum. Nas relações que temos com entidades chinesas e o Governo português nota-se que há muita vontade e até alguma surpresa face ao potencial que existe, porque Portugal tem uma posição única nos países emergentes. As empresas alemãs, por exemplo, vão para Portugal para irem para os países emergentes. A plataforma de Macau faz todo o sentido e tem viabilidade económica. Como se fizeram as concessões de jogo, tem de haver concessões sobre estas relações económicas especiais e não me parece que seja difícil constituir isso porque há vontade e interesse óbvio da China e de Portugal na plataforma de Macau.

Mas como funcionariam, na prática, estas concessões no contexto da plataforma?

Têm de se instituir e tem de se definir como vão ser estabelecidas e como serão atraídas as pessoas. São necessárias empresas com maior desenvoltura para poderem servir o mercado da Grande Baía. É isso que o Governo tem dito em relação aos casinos, que as novas concessões devem ir no sentido de apoiar a diversificação económica.

Tem de haver um plano estratégico para a plataforma que considera ainda não existir.

Claro. Porque é que são dados contratos a empresas chinesas que não são de Macau, por exemplo? Como é que a economia local se desenvolve? As empresas de Macau fazem só um determinado contrato? Há alguma complexidade [neste campo] e é algo difícil de fazer. Podem ser estabelecidas parcerias, mas [esse plano estratégico] tem claramente de ser feito. A CESL-Ásia cresceu sem ter grandes apoios ou direcção e temo-nos desenvolvido bem. Mas para que a nossa empresa, e outras, de Macau, tenham outra dimensão, é preciso que haja capacidade de desenvolver recursos. Por exemplo, fala-se muito do mercado das obrigações em Macau. Mas alguma vez se viram obrigações e investimentos para a plataforma, para desenvolver a economia da Grande Baía, para as relações com a lusofonia? Não se vê isso.

Na sexta-feira, quando foi ao hemiciclo, Ho Iat Seng falou precisamente sobre a expansão do mercado de obrigações, mas apresentou um discurso de prudência.

O mercado de obrigações é gerido pelo Governo de Macau e penso que tem toda a razão, a prudência deve ser mais do que muita. Mas pretende-se desenvolver esse mercado para a lusofonia e plataforma, e não para Macau. Esse mercado deve servir as empresas da Grande Baía, para que se atraia capital e para que se possa servir uma economia nova. Não é isso que está a acontecer. Pode-se desenvolver o mercado de obrigações com Portugal e não com o Luxemburgo ou Hong Kong. Fala-se que o mercado do Luxemburgo é mais desenvolvido, mas percebi que, fiscalmente, é mais eficiente fazê-lo directamente de Macau para Portugal. É tudo mais caro e complicado [pela via Luxemburgo], então porque não se faz directamente com Portugal? É só fazer com que as entidades financeiras portuguesas, chinesas de Macau se sentem à mesa e se possa estabelecer uma nova infra-estrutura. Mesmo as empresas chinesas que investem em Portugal não o fazem na perspectiva da plataforma, pois [esses investimentos] são marginais, feitos através do Luxemburgo, Madrid ou Hong Kong, e nunca através de Macau.

Que temas foram abordados pela CESL-Ásia na reunião com a AICEP?

Não levámos temas nenhuns em específico. Já estamos em Portugal e somos, verdadeiramente, uma empresa dessa plataforma comercial. Não vimos à descoberta de nada e queremos apenas apoiar o desenvolvimento da plataforma.

O modelo de funcionamento da AICEP, nomeadamente em Macau, tem funcionado?

O que está por construir é esta amizade secular [entre Portugal e China] que tem um enorme potencial e está muito pouco aproveitada. Existem complementaridades óbvias, pois a China é um país exportador, industrializado, e Portugal é um país de serviços, e pode fazer como faz, por exemplo, a Volkswagen, que tem no país a Auto-Europa, são importadas peças e depois saem carros construídos. Pode ser feito o mesmo com a China através de Macau. Se os alemães fazem, porque não faz a China? Mas a escolha das empresas chinesas tem sido o Luxemburgo porque a plataforma em Macau não existe, mas pode existir, se se sentarem e o fizerem.

Esta visita tem um significado político e económico, pois Portugal é o primeiro país numa visita de Ho Iat Seng à Europa no pós-pandemia.

Não vou comentar política, não é a minha área. É, claramente, uma visita com um pendor económico muito grande. Há um enorme potencial, pois a China é claramente a segunda economia mundial, Portugal tem uma relação como nenhum país tem. A Alemanha, os EUA e a França são países concorrentes comerciais e tecnológicos com a China, mas Portugal é um prestador de serviços.

Jorge Valente: “Desta vez, a diversificação da economia de Macau é a sério”

O empresário macaense Jorge Valente falou com o HM após a reunião com o AICEP. Diz ser tempo de Macau “recuperar o tempo perdido” e, em Lisboa, apresentar as oportunidades existentes”. “Esta visita tem o foco na economia e o primeiro passo será anunciar que estamos de novo com as fronteiras abertas e que queremos não apenas recuperar o tempo perdido como economicamente ir para uma [posição] melhor”, assegurou Valente, para quem o segundo passo é “explicar que, desta vez, a diversificação da economia de Macau é a sério”. Deve, por isso, ser feita “a propaganda de Hengqin e da Grande Baía, explicando os detalhes [dos projectos]”. Na última fase, da execução, cabe mostrar que “a plataforma entre a China e os países de língua portuguesa está renovada com sangue novo e com renovado interesse por parte das empresas chinesas”. “É provável que venha a existir um enorme crescimento a curto prazo. Da parte dos países de língua portuguesa, parece há uma maior consciência de que se pode aproveitar a plataforma e nota-se um esforço desde a reabertura [da economia]”, frisou.

Lista de representantes de Macau inclui áreas de saúde, banca, cultura e negócios entre outras

António Trindade é um dos integrantes de uma comitiva de empresários bem representativa dos negócios e interesses locais, sem esquecer Hengqin. Além de Vincent U, presidente do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau, constam nomes como os de Frederico Ma, presidente da Associação Comercial de Macau, Fong Son Kin, presidente da Associação Industrial, Kevin Ho, presidente da Associação Industrial e Comercial de Macau e ainda Carlos Álvares, CEO do BNU que está presente na qualidade de presidente da delegação de Macau da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. Destaque ainda para os nomes dos macaenses António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia, e Jorge Valente, empresário e presidente da Associação Sino-Lusófona da Indústria e Promoção de Intercâmbio Cultural. De salientar também a presença de representantes da Nam Kwong, da Air Macau e Hovione Macau, entre outras empresas. Em representação da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Henqgin surge uma lista de sete personalidades, onde se inclui o nome Nie Xinping, coordenador adjunto da comissão executiva da Zona e António Lei, director da Direcção dos Serviços de Desenvolvimento Económico da Zona. O programa dos empresários arrancou na segunda-feira às 16h [hora de Lisboa] com uma visita à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). Ontem, foi dia de visitar a Quinta da Marmeleira, em Alenquer, um projecto de produção vinícola de um empresário chinês de Macau, Wu Zhiwei. Decorreram também reuniões com responsáveis do grupo Luz Saúde, um dos mais importantes do sector de saúde privado em Portugal, e com o grupo Sovena, ligado à área agrícola. Hoje, os empresários começam o dia com uma ida à Unicorn Factory [Fábrica de Unicórnios], em Lisboa, sendo o programa complementado com encontros, realizados amanhã, com a Fundação Champalimaud, a farmacêutica Hovione e o projecto de economia marítima “Nautical Portugal”. Sexta-feira, já no Porto, os empresários vão conhecer de perto a Corticeira Amorim e a Quinta da Boeira, outro projecto vinícola. De frisar que há mais duas visitas agendadas que não constam do programa oficial do IPIM, nomeadamente a de Ambrose So que reuniu com o ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, na qualidade de director-geral da Clean Energy Forum. Na quinta-feira a empresária Daisy Ho, líder da Sociedade de Jogos de Macau Resorts irá ser recebida pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, noticiou a TDM Rádio Macau. O HM contactou o Ministério do Ambiente no sentido de saber as principais conclusões do encontro com Ambrose So, mas o gabinete do Ministro Duarte Cordeiro recusou prestar qualquer declaração.

18 Abr 2023

BD | Livro sobre II Raide Macau-Lisboa apresentado na Fundação Casa de Macau

Estávamos em 1990 quando um grupo de dez homens, muitos deles residentes em Macau, decidiram meter-se em jipes e fazer um longo percurso terrestre de Macau a Lisboa. As aventuras vividas durante 50 dias, e ao longo dos 22 quilómetros de viagem, estão agora contadas em banda desenhada na obra “II Raide Macau-Lisboa: Da China a Portugal pela Rota Proibida”. A apresentação decorreu na sexta-feira na Fundação Casa de Macau

 

A Fundação Casa de Macau (FCM) acolheu a apresentação, na última sexta-feira, da banda desenhada sobre o II Raide Macau-Lisboa, uma obra intitulada “II Raide Macau-Lisboa: Da China a Portugal pela Rota Proibida” e lançada, no final do ano passado, no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, o Amadora BD. Esta foi uma viagem realizada em 1990 em que dez participantes, grande parte residentes em Macau, realizaram 22 mil quilómetros de jipe em 50 dias. O guião da banda desenhada esteve a cargo de Marco Fraga, enquanto Filipe Lopes fez as ilustrações.

António Calado, antigo professor de educação física, foi um dos integrantes da expedição, assumindo ser o “pai” do raide. Andava ele fascinado pelo Paris-Dakar quando, pouco tempo depois de chegar a Macau com a família, ouviu as histórias do primeiro raide realizado entre o território e Lisboa. Aí, surgiu a ideia de fazer uma segunda aventura, mas com um percurso diferente. Um dos primeiros encontros entre os tripulantes da viagem aconteceu no restaurante Fernando, na praia de Hac-Sá, momento retratado na banda desenhada.

“Inicialmente queríamos ir pela Mongólia, mas não conseguimos as autorizações. Fizemos então um trajecto bem mais rico. Saímos de Macau em direcção a Pequim, descemos até Xi’an, entrámos pelo deserto do Gobi, e depois fomos até Khorgos, perto da fronteira com o Cazaquistão. Atravessámos o Mar Cáspio de ferry e desembarcámos na Arménia, que estava em estado de sítio. Fizemos a viagem toda numa noite, com controlos de estrada, depois entrámos na Geórgia, subimos o Cáucaso e chegámos a Moscovo.”

Ver a Perestroika

A equipa fica alguns dias na capital russa devido à burocracia com os vistos de dois participantes russos que integravam a comitiva, Igor Lomakin e Sergei Moizeev, ambos jornalistas da Rádio Moscovo. A participação tinha acontecido graças a um amigo em comum que trabalhava nos serviços de economia.

Em Moscovo, enfrentam os tumultos políticos e sociais que então se viviam graças à Perestroika. “Apanhámos com manifestações e filas de pessoas para comprarem produtos como pão ou vodka”, recorda António Calado.

O grupo atravessou dois desertos, nomeadamente o de Gobi e o de Karakum, no Turquemenistão, mas enfrentar temperaturas de 50 graus nem foi o mais difícil. Pelo meio houve muitas peripécias, incluindo algumas mais descontraídas, como quando a equipa foi convidada a andar de camelo no Gobi e alguns caíram na areia.

O projecto, bilingue, foi financiado pelos autores, contou com apoios da Fundação Oriente e da Associação Tentáculo, a que está ligado Filipe Lopes, que, para realizar este trabalho, se baseou nas histórias contadas por quem as viveu, bem como vídeos e fotografias. Joaquim Correia, antigo bibliotecário da Universidade de Macau, recorda uma viagem que serviu para unir povos diferentes e do lado singular desta obra. “Não há nenhuma publicação que conte uma história como esta em banda desenhada”, defendeu. A obra já se encontra à venda nas livrarias em Portugal, estando prevista uma edição em outros idiomas, nomeadamente inglês e russo, com a inclusão de fotografias e relatos diários da viagem.

17 Abr 2023

Hengqin | Investimento depende da banca, diz Chefe do Executivo

Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, declarou na sexta-feira que “a responsabilidade principal [sobre o investimento na Zona de Cooperação Aprofundada de Macau e Guangdong em Hengqin] recai no sector bancário”.

“Da nossa parte temos de comunicar bem com o sector financeiro, em conjunto com o governo de Hengqin, Guangdong e com a Associação dos Bancos de Macau. A associação tem esta responsabilidade de proceder aos trabalhos de organização [do investimento e financiamento], emitindo orientações e directivas”, concluiu.

17 Abr 2023

Visita a Portugal | “Zona de Cooperação é algo novo” para o país

Ho Iat Seng falou, na última sexta-feira, de alguns objectivos a atingir com a visita a Portugal, que começa amanhã. “Queremos que vários sectores [económicos] de Portugal possam perceber ou compreender quais as oportunidades de investimento para os países lusófonos. Vamos ter esta visita porque a Zona de Cooperação de Macau e Guangdong em Hengqin é nova para Portugal. Iremos ter representantes de empresas para podermos desenvolver as nossas funções e para que Portugal saiba quais são as oportunidades de desenvolvimento. Vamos convidar empresários portugueses para participar numa exposição que vamos realizar”, disse. Até ao fecho desta edição não foi ainda divulgada a agenda oficial cumprida pela delegação chefiada pelo Chefe do Executivo nas cidades de Lisboa e Porto.

O HM confirmou junto do Grupo Delta que a visita pensada para a fábrica de café em Campo Maior, e para a qual chegaram a ser feitos contactos por parte das autoridades de Macau, já não será realizada por motivos de agenda.

17 Abr 2023

Obrigações | Governo viaja até ao Luxemburgo

Ho Iat Seng garantiu, em resposta a uma intervenção do deputado Si Ka Lon, que irá ao Luxemburgo para estudar o mercado de obrigações com o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong. A ideia é “discutir” e “falar” sobre a emissão de obrigações em mercados secundários.

“Não podemos abusar da emissão de obrigações. Temos de trabalhar com prudência. Podemos emitir muitas obrigações, mas será que seremos capazes de restituir ou devolver todo o montante? Não será bom se emitirmos meramente obrigações sem mercados secundários. Graças ao apoio do Interior da China conseguimos realizar a primeira emissão, mas temos ainda de aperfeiçoar o sistema.”

Relativamente ao quadro regulatório, o Chefe do Executivo adiantou que “pretendemos ter uma gestão muito rigorosa, mas, ao mesmo tempo, que exista um ambiente flexível sem muitas limitações”. “Estamos a analisar mercados bolsistas, o modelo de emissão de obrigações e as leis em vigor”, concluiu.

17 Abr 2023

Previdência Central | Sete mil patacas nas contas só com saldo de 300 milhões

Ho Iat Seng assegurou que a injecção de sete mil patacas nas contas individuais dos residentes do Fundo de Previdência Central só será uma realidade com um saldo orçamental de 300 milhões de patacas.

“Temos cerca de 400 mil beneficiários que não são apenas idosos, e essa comparticipação extraordinária implica cerca de 200 milhões de patacas [no orçamento]. No próximo ano, quando elaborarmos o nosso orçamento, veremos se conseguimos chegar a um equilíbrio orçamental, e aí poderemos ponderar. Sem um saldo de, pelo menos, 300 milhões, não poderemos avançar com essa contribuição.”

De fora fica, para já, a possibilidade de recorrer à Reserva Financeira para pagar este apoio. “Não vamos esgotar a nossa Reserva Financeira. Temos de ter a premissa de ter um saldo orçamental que nos permita avançar com essa verba. Somando todos os apoios, os idosos podem receber cerca de cinco mil patacas por mês. Caso seja necessário temos outros programas de apoio”, disse.

17 Abr 2023

Cheques pecuniários | Pagamento arranca em Julho

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, garantiu no hemiciclo que o esquema de comparticipação pecuniária voltará este ano ao modelo habitual que vigorava antes da pandemia, começando os pagamentos a ser feitos em Julho.

“Esse montante [gasto nos cheques] está contemplado no orçamento para este ano e o subsídio de oito mil patacas termina em Junho. O regulamento administrativo foi submetido, há dias, à análise do Conselho Executivo e será publicado na próxima semana. Penso que não poderemos começar a distribuir os cheques antes de Julho, não podemos acelerar os trabalhos”, concluiu.

De frisar que os cheques para os residentes permanentes mantêm-se no valor de dez mil patacas, enquanto os cheques para os residentes não permanentes serão de seis mil patacas.

17 Abr 2023

Grande Baía | Governo pondera modelo “uma viagem, várias estadias”

Ho Iat Seng falou aos deputados, na sexta-feira, da possibilidade de vir a ser adoptado o modelo “uma viagem, várias estadias” nas cidades que compõem a Grande Baía. O governante lembrou ainda que passaram apenas três meses desde o fim das restrições relacionadas com a pandemia e que é necessário “mais tempo” para que as medidas do Executivo surtam efeito na captação de mais turistas. “Temos de recuperar a confiança dos turistas e temos de fazer uma maior ligação com as cidades da Grande Baía. Estamos a trabalhar num modelo de uma viagem, várias estadias.”

Ho Iat Seng admitiu que o aumento dos turistas de fora da China continua a ser difícil. “O nosso aeroporto tem falta de capacidade de acolhimento e isso é um grande entrave para que possamos ter mais voos internacionais. Tivemos um atraso em termos de recursos humanos no aeroporto e estamos a envidar esforços para incrementar o turismo internacional. O Governo tem injectado muitos recursos nesta área para atrair mais turistas e temos feito acções promocionais com visitas dos media da Coreia do Sul, Tailândia e Malásia, com pacotes de oferta para turistas”, adiantou.

17 Abr 2023

Economia | Ho Iat Seng admite lançamento de novo cartão de consumo

Salários que não acompanham a inflação, maior taxa de desemprego e falta de recursos humanos. Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, admitiu que o fim das restrições “pôs a descoberto as fragilidades” do sector económico e pediu mais tempo, pois a recuperação só agora está a começar

 

Os residentes de Macau podem usufruir de uma nova ronda de cartão de consumo electrónico no futuro. A possibilidade foi levantada por Ho Iat Seng na sessão plenária de sexta-feira, em que o Chefe do Executivo respondeu a questões dos deputados.

Pereira Coutinho deu conta desse desejo da população. “Deparei-me com muitas solicitações na sociedade, é uma aspiração forte”, indicou o deputado sobre a antecipação da distribuição do cheque pecuniário e de uma nova ronda de cartão de consumo.

Ho Iat Seng revelou que o Governo está a analisar a possibilidade de lançar mais uma ronda de cartão de consumo, ressalvando a necessidade de cumprir os trâmites legais. “Estamos a analisar a hipótese. Depois da pandemia, ainda estamos meramente no início da recuperação. Mas a vida está mais cara. Para actualizar montantes temos de apresentar as nossas propostas à Assembleia Legislativa”, indicou Ho Iat Seng.

A economia de Macau parece ter voltado gradualmente à normalidade desde que, em Janeiro, o Governo decidiu eliminar as restrições no contexto da pandemia. No entanto, dois dos quatro deputados da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) que se sentam na Assembleia Legislativa (AL), Ella Lei e Leong Sun Iok, falaram dos salários que não conseguem acompanhar a inflação, entre outras problemáticas.

“Os salários estiveram congelados durante três anos, o rendimento médio de vários sectores, como os da hotelaria e do imobiliário, entre outros, reduziu-se em duas mil patacas, enquanto no sector da construção a redução foi de cerca de mil patacas. Não é de estranhar que os residentes estejam atentos à antecipação da comparticipação pecuniária. Os salários reais dos trabalhadores diminuíram significativamente e estes sofrem com a inflação”, acusou Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM).

José Pereira Coutinho lembrou que há muitas pessoas a fazerem compras do lado de lá da fronteira, sendo necessário aumentar os montantes dos apoios sociais, enquanto Leong Sun Iok, também ligado à FAOM, mencionou também a inflação, o “preço elevado dos combustíveis” e as “dificuldades em encontrar trabalho”, pois existem “vagas com salários baixos”.

O Chefe do Executivo admitiu que “a reabertura da economia pôs a descoberto as nossas fragilidades”, pedindo mais tempo aos deputados. Afinal de contas, “temos de ter em conta que estamos apenas no início da recuperação [económica] após a pandemia”. Sobre o pedido de aumento de apoios, Ho Iat Seng respondeu que “se o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) atingir os três por cento vamos actualizar os montantes dos apoios”.

“Houve uma redução de rendimentos devido à pandemia, mas vemos que o nível médio vai aumentar novamente”, disse.

Sem medidas

Sem avançar com medidas concretas, Ho Iat Seng lembrou que, no ano passado, o Governo ajudou 6.288 residentes a encontrar trabalho, um número que “tem vindo a aumentar”. O responsável lembrou que o Governo não pode obrigar os locais a aceitarem trabalhos que considerem não ser adequados.

“Vemos que nas feiras de emprego houve postos de trabalho que não foram preenchidos. Há uma grande diversidade de ramos de actividade que precisam de trabalhadores, mas não podemos uma pessoa obrigar a aceitar uma vaga. Temos de estabelecer uma correspondência entre a oferta de vagas e os candidatos. Esperamos uma descida da taxa de desemprego no futuro. No passado, nos melhores tempos, tínhamos uma taxa de 1,7 por cento, e notamos uma descida na procura por emprego nos dados da Conta Única.”

Ho Iat Seng frisou também que, nos anos de pandemia, “não houve muita procura de emprego além de trabalhos ligados às áreas da segurança e limpeza, mas nos últimos meses tem havido um maior número de ofertas em outras áreas, como a hotelaria”. “Há muitos hotéis que, por falta de trabalhadores, não abrem quartos [aos hóspedes] Há falta de mão-de-obra e o Governo está a monitorizar esses dados. Esperamos que as dificuldades de quem precisa de emprego possam ser resolvidas”, rematou.

17 Abr 2023