Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemSaúde | Tatuadores operam sem fiscalização e licenças especiais Em Macau, as lojas de tatuagens abrem portas sem uma licença específica, enquanto nas redes sociais proliferam páginas de tatuadores que se oferecem para fazer o trabalho em casa, sem qualquer fiscalização. Tatuados e tatuadores pedem legislação que garanta a higiene e o controlo de doenças [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]iago ostenta num dos braços uma tatuagem feita em Macau há alguns anos, numa loja que, no fim de contas, não era bem uma loja. Tiago nem sequer sabe se essa loja, localizada no rés-do-chão de um prédio, tinha licença para ter as portas abertas. “É uma habitação que foi alterada para ser uma loja de tatuagens, mas não sei se tem autorização ou não. Não sei se tem licença, é uma espécie de apartamento T2 localizado no rés-do-chão, sem qualquer publicidade ou visibilidade cá para fora. Só quem sabe é que lá vai.” A experiência vivida por Tiago, fotógrafo e designer, radicado no território há alguns anos, é comum para quem decide fazer uma tatuagem em Macau. Se é verdade que, nos últimos dois anos, houve vários espaços a abrir portas, com alguma qualidade, a verdade é que continua a não existir legislação específica para esses serviços. Não existem, assim, quaisquer regras quanto à legalização do espaço, a utilização de materiais e equipamentos ou até quanto à idade mínima para fazer uma tatuagem. É comum vários tatuadores – chineses, portugueses ou filipinos – promoverem o seu trabalho nas redes sociais e realizarem tatuagens em casa do cliente, sem que haja qualquer fiscalização. Tiago teve um pequeno azar, que poderia ter sido grande: após ter feito a tatuagem, teve uma pequena infecção, que tratou em casa. “A minha tatuagem tem vindo a perder a cor e quando fiz os retoques finais infectou um pouco em algumas partes. Não fui ao hospital, desinfectei em casa com água e um creme. Se fosse mais grave, talvez tivesse de ir ao hospital.” É por isso que defende que deveria haver uma legislação específica para um sector que está a crescer e que vive no vazio em termos legais. “Penso que as coisas deviam ser abertas e legalmente mais fáceis, também não sei se é fácil ter licença para isso. Devia haver uma maior fiscalização e alguma licença especial, porque é um trabalho quase cirúrgico, são usadas agulhas. Se a tatuagem não for bem feita é uma maneira de transmitir doenças, até mortais. Como é óbvio, o Governo devia fiscalizar e andar mais em cima disso. Da parte das pessoas que fazem tatuagens, deviam investir mais em material de topo, investir na qualidade, para que os trabalhos sejam melhores”, sustenta o fotógrafo e designer. Uma espécie de cosmética A falta de legalização dos tatuadores e das lojas não é um problema exclusivo em Macau. Em Hong Kong, o panorama é semelhante e é bastante fácil encomendar um trabalho deste género através das redes sociais. Em Portugal chegou a existir um projecto de lei na Assembleia da República, que não avançou. Um estudo de 2016, elaborado pela Comissão Europeia, mostra que é escassa a legislação sobre tatuagens e a formação de quem as faz. Há 60 milhões de europeus com tatuagens no corpo, mas ficou provado que 60 por cento dos pigmentos usados em tintas são “azo” pigmentos, ou seja, com o passar do tempo poderão originar problemas cancerígenos. Muitas das tintas não são, sequer, fabricadas apenas para a realização de tatuagens. Mandarim Wong, que há dois anos abriu a ZZ Tattoo, aprendeu a tatuar com um amigo. Por norma recebe um cliente a cada dois dias, tendo falado de um mercado que, apesar de recente, já está saturado. “Há muitos artistas que prestam serviços na casa dos clientes e levam o seu próprio equipamento. Não têm lojas e não é difícil encontrar este tipo de tatuadores. Existem muitos. Em Macau não é preciso licença para ser artista de tatuagens. O Governo também não exige licença. Sou uma tatuadora e não tenho qualquer licença, porque é difícil ter uma licença própria para este sector”, contou ao HM. “Em Hong Kong, na China e em Macau as lojas de tatuagem não precisam de uma licença específica, e muitas têm licenças como se fossem lojas de cosmética”, referiu Mandarim Wong, que defende, contudo, ser necessária alguma regulamentação. “Concordo que é preciso alguma legislação para regular o sector das tatuagens porque, para fazer uma tatuagem, é necessária uma anestesia, e esse é um tipo de medicamento. Sei que houve clientes que sofreram algumas alergias cutâneas depois de fazer tatuagens.” Grace Punx, da Muse Tattoo, também defende novas medidas. “Pensamos que o Governo poderia providenciar algum tipo de licença como uma opção para as lojas de tatuagens, por forma a mostrar aos clientes que seguimos padrões profissionais em termos de segurança e higiene.” Nesta loja, em operação desde 2014, “todos os tatuadores são profissionais treinados que seguem padrões de higiene semelhantes aos das lojas do Reino Unido ou dos Estados Unidos”. Quanto ao equipamento, “é esterilizado antes e depois da sua utilização”, confirmou Grace Punx. Rui Furtado, médico cirurgião e ex-presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa, também defende a implementação de regras. “Penso que deveria haver uma supervisão para esse tipo de actividade. Agora, como poderá ser feita não faço ideia, uma vez que eles não são médicos, enfermeiros ou pessoal de saúde. Pelo menos deveria ser feita uma supervisão aos locais onde se fazem as tatuagens, pelos Serviços de Saúde. Julgo que é difícil controlar isso.” O HM inquiriu os Serviços de Saúde e o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) quanto à atribuição das licenças. Apenas o IACM confirmou que não atribui licenciamento a este tipo de lojas. Até ao fecho desta edição não foi possível obter uma resposta por parte da direcção de serviços liderada por Lei Chin Ion. “A qualidade não é nada de especial” Apesar de estarmos perante um mercado em crescimento, a verdade é que a qualidade das tatuagens continua a não ser a desejada por muitos dos aficionados. Susana Torres, designer, é peremptória: “Em Macau fiz uma tatuagem há 15 anos e fiquei tão mal servida que nunca mais tive coragem de repetir. A maioria que fiz foi em Hong Kong.” “Em Hong Kong a oferta é imensa, os artistas são vários e de muito talento. O meu tatuador, por exemplo, é da África do Sul. Existem lojas de tatuagens em Hong Kong em que a lista de espera é de quase um ano para certos artistas. Em Macau há casas de tatuagens há muitos anos, mas são muito fracas”, acrescentou a designer. Susana Torres põe completamente de parte a possibilidade de atravessar as Portas do Cerco para fazer este tipo de trabalhos, mas garante que há muitas pessoas a procurarem Zhuhai para fazerem algo mais ligado à cosmética, como sobrancelhas permanentes. “Antes de fazer uma tatuagem, e se estou num sítio que não me é familiar, tento ver primeiro o traço do artista. Aqui em Macau, até há pouco tempo, não havia nenhuma loja em que eu confiasse o meu corpo, pois os traços que apresentavam eram realmente muito fracos. Os tatuadores safam-se em termos básicos e pouco mais.” Apesar de referir algumas lojas recentes com um nível mais superior, Tiago defende que “a qualidade não é péssima, mas não é nada de especial, se compararmos com Hong Kong e com o que estamos habituados a ver na Europa ou até em Taiwan, na Tailândia. Esses trabalhos não se comparam nada com o que é feito aqui. Muitas vezes não se investe no material, nas tintas.” Jorge Tavares, jogador de futebol, tem tatuagens em várias partes do corpo, muitas delas feitas em Portugal. Nunca fez uma tatuagem em Macau, nem pensa fazer. “Conheço pouco a situação em Macau. Colegas meus e pessoas conhecidas optam por ir fazer tatuagens em Hong Kong, os valores são mais elevados mas vale a pena pela qualidade do trabalho. Ainda há o receio de tatuar em Macau. Ainda há muita coisa para explorar. Dificilmente farei uma tatuagem aqui, é uma área que não é muito explorada. Não há o passa-palavra em termos de qualidade e higiene. Aqui temos pessoas com tatuagens e sem grande conhecimento da matéria”, disse ao HM. Susana Torres acredita que, em termos de fiscalização de qualidade e até de higiene, cada pessoa deve escolher bem o seu tatuador. “Há imenso pessoal que publicita o trabalho no Facebook e que faz tatuagens em casa. O fazer uma tatuagem em casa não torna o trabalho mais perigoso. Tenho tatuagens feitas em minha casa que seguiram todos os códigos de higiene. Isso passa um pouco pela experiência de quem vai ser tatuado e saber o que se deve ou não fazer.”
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasJuice Ga, empresa de sumos naturais: “Acredito cem por cento nos meus produtos” Há três anos no mercado, a Juice Ga está prestes a reinventar-se como empresa local de fornecimento de sumos naturais em casinos e empresas. Vem aí a distribuição de sumos à porta de casa, a fazer lembrar o extinto hábito de entrega de garrafas de leite [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uito antes de Macau receber a moda dos sumos naturais e programas de desintoxicação através dos alimentos, já Vincent Ma tinha a ideia de abrir um negócio nesta área. Tudo se deveu à sua experiência na Califórnia, nos Estados Unidos, onde fez os estudos superiores. “Criei a empresa em 2014 e decidi apostar neste negócio porque vivi uma temporada nos Estados Unidos, em Los Angeles, e passei por várias empresas. Queria trazer essa cultura para Macau, porque não havia uma grande diversidade na altura. Queria apostar em bons produtos, saudáveis, e queria trazer isso para cá.” Nascia assim a Juice Ga, que fabrica os seus sumos num espaço localizado na Areia Preta e que começou por fazer o fornecimento a casinos e hotéis. Mas a ideia é ir além disso: depois de um período menos bom em termos de vendas, Vicent Ma quer apostar na entrega de sumos em casa. “Antigamente as empresas distribuíam as garrafas de leite à porta de casa. Estou a tentar lançar um projecto semelhante, mas com sumos. Queremos que muitas famílias de Macau comecem o seu dia com um bom copo de sumo”, contou ao HM. Completamente natural Numa altura em que há várias empresas e restaurantes de comida natural em Macau, o que torna diferente a Juice Ga? Vincent Ma garante que é o facto de todas as frutas e legumes serem biológicos. “Fazemos sumos de pressão, com uma tecnologia diferente em relação às outras empresas. Temos sumos cem por cento naturais, sem adição de açúcar ou de água, usamos frutas e vegetais cem por cento naturais também. Temos planos detox próprios, em que a pessoa não come mais nada e apenas bebe os sumos para desintoxicar o organismo. É um tipo de dieta muito popular nos Estados Unidos e que ajuda o funcionamento do organismo”, conta. Todas as receitas são preparadas por um nutricionista. “Acredito cem por cento nos meus produtos, porque são totalmente naturais, sem conservantes. Estou a tentar apostar numa maior diversidade de produtos para fazer os nossos sumos. Trabalhamos com uma nutricionista para criar sumos que sejam equilibrados em termos de calorias, com a dose certa para cada pessoa consumir diariamente”, adiantou Vicent Ma. Apesar deste tipo de programas detox serem cada vez mais populares, a verdade é que a Juice Ga teve de passar por uma reestruturação recente, com um olhar mais atento ao mercado local. “O negócio tem sofrido altos e baixos, não tem estado muito bem ultimamente. Estamos a tentar analisar o mercado de novo, porque não utilizamos quaisquer conservantes nos nossos produtos e penso que os preços que praticamos são algo elevados. Mas, neste momento, o mercado continua a aceitar os nossos produtos. Depois da nossa redução de preços em Dezembro, para metade do valor, o mercado está lentamente a aceitar os nossos produtos. Dezembro foi um mês muito importante para nós”, acrescentou. Depois de fornecer bebidas para a indústria do turismo, a Juice Ga pretende ter uma visão mais abrangente do mercado. “A economia decresceu e muitas empresas começaram a cortar em alguns produtos. Então começámos gradualmente a passar do fornecimento da indústria hoteleira para todo o mercado. Neste momento apenas fornecemos alguns cafés, estamos mais focados no mercado no geral”, rematou o empresário. Edifício industrial Chong Fong Bloco 1 Rua Doca dos Holandeses nº 75 84 Macau
Andreia Sofia Silva SociedadeGoverno aumenta taxas sobre veículos acima dos 50 por cento [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stão a gerar polémica as novas taxas referentes à circulação de veículos, inspecção, exames de condução, bem como ao depósito e remoção de viaturas, que entraram em vigor no passado domingo. Segundo um comunicado da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), os aumentos variam entre os 50 por cento e os 1233 por cento, sendo que “a taxa de remoção de veículos é aquela que tem um maior aumento”, situado entre os 400 por cento e 1233 por cento. A DSAT explicou as razões para tão elevados aumentos. “Dado que as referidas taxas foram praticadas, sem alteração, há mais de dez anos, encontrando-se muito desfasadas do mercado, e a fim de corresponder ao objectivo de controlar o crescimento da frota de veículos, através do meio económico, e orientar o uso racional dos veículos, é relativamente grande a sua actualização”, argumentou. As actualizações respeitantes à renovação de licença de veículos não visam apenas os condutores comuns, mas também aqueles que possuem um alvará de táxi, sem esquecer os casos de transferência de propriedade de licença. Por forma a “reprimir as especulações com as licenças”, transferir a propriedade da mesma passa das actuais duas mil patacas para 20 mil patacas. Para depositar motos e veículos antigos, o proprietário terá de pagar 250 patacas no caso de se tratar de um velocípede e seis mil patacas para automóveis pesados e veículos especiais. A taxa de remoção de um ciclomotor sobe das 120 patacas para 750, enquanto para automóveis ligeiros sobe de 300 para 1500 patacas. A DSAT explica que o objectivo, nestes casos, é “dissuadir os condutores que tenham ocupado os lugares de estacionamento, quer em parques de estacionamento públicos, quer em parquímetros de vias”. Haverá ainda mudanças na forma como são adquiridos os números de matrícula dos automóveis, “por forma a evitar que os cidadãos façam fila de espera toda a noite para a aquisição dos números de matrícula e reprimir as respectivas especulações”. Por isso, a DSAT aumentou o valor da taxa de alienação dos números de matrícula, além de adjudicar os números a quem oferecer preços mais elevados, em vez de ser feita a atribuição pela ordem de chegada. Vozes do contra Em declarações ao jornal Ou Mun, o deputado Ho Ion Sang começou por referir que o problema do trânsito existe há muito tempo em Macau, mas que o Governo não tem feito quaisquer trabalhos para controlar o tráfego. Para o deputado, o ajustamento das taxas deve corresponder à actual inflação, sendo que o seu aumento repentino poderá provocar ainda mais descontentamento junto dos cidadãos. Para Ho Ion Sang, deve haver mais transparência em futuros aumentos. “Não se devem resolver os problemas do trânsito apenas através de meios económicos. As últimas medidas adoptadas pelo Governo estiveram todas relacionadas com pagamentos em dinheiro. Ainda assim, o serviço de transporte público não consegue satisfazer as necessidades da população em termos de deslocações. As obras nas vias públicas e o adiamento do traçado do metro ligeiro na península também constituem factores importantes para o agravamento do problema”, apontou. Apesar de a DSAT querer, com estes aumentos, combater o estacionamento ilegal, a verdade é que, para Ho Ion Sang, esse problema deve-se à falta de parques de estacionamento. O deputado alertou para a ausência de medidas do Executivo nesse sentido. Os novos aumentos também despertaram a atenção dos deputados José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai, que convocaram, para hoje, uma conferência de imprensa intitulada “Acabem com as multas exageradas”. O encontro com os jornalistas decorre na Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaMotoristas | Gabinete de Ligação pede liberalização de políticas em Macau Em resposta à polémica sobre a importação de motoristas, o vice-director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau defendeu uma maior competição, tendo sempre o emprego dos locais como base. O sector continua a exigir que o Governo de Macau seja firme na actual posição [dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]mportar ou não importar motoristas, eis a questão. O debate tem estado aceso nos últimos tempos, mas ontem Yao Jian, vice-director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, mostrou qual é a posição de Pequim, ao referir que deve ser implementada uma abertura apropriada às políticas laborais em Macau, tendo sempre como base a garantia de emprego a quem é cá residente. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Yao Jian falava à imprensa à margem da cerimónia da assinatura de um acordo de cooperação entre a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e a Associação de Bancos de Macau. “A FAOM desempenha um papel essencial quanto às políticas de protecção dos trabalhadores locais. Em primeiro lugar, é preciso garantir o emprego local e apoiar o desenvolvimento dos residentes locais. Com base nisso, deve-se permitir que mais pessoas participem e possam competir. Só quando existe competição é que pode haver desenvolvimento”, disse. Para Yao Jian, o futuro de Macau deve passar por uma “abertura apropriada e uma concessão; se não, não vai existir futuro”. Contra e a favor Wong Peng Kei, presidente da Federação dos Negócios de Táxis de Macau, diz ao HM concordar parcialmente com Yao Jian. Para ele, os motoristas de entregas em empresas privadas devem ser considerados “condutores privados” e poderá pensar-se na importação de mão-de-obra para esta área específica, por forma a evitar mais disputas entre patrões e empregados. Contudo, para o sector dos motoristas de autocarros e táxis, não deve ser, para já, equacionada a hipótese de importação. “Estes tipos de condutores são considerados motoristas industriais, são sectores insubstituíveis. Se se autorizar a contratação de não residentes, nada mais vai restar em Macau”, apontou. Chio Pou Wan, secretário-geral da Associação Geral dos Empregados do Ramo de Transportes de Macau, ligada à FAOM, considera que Yao Jian ter-se-á referido à orientação geral das políticas laborais de Macau, mas não apenas à política dos condutores. Ao HM, defendeu que o Governo deve ser firme na posição de não permitir a autorização da mão-de-obra não residente no sector, assim como combater as situações “não saudáveis”, como as infracções dos motoristas não residentes, portadores de licenças especiais, que também circulam em Macau. Chio Pou Wan adiantou ainda que “dever-se-ia deixar o caminho para as pessoas de Macau”, uma vez que os condutores profissionais de Macau são, no geral, acima da meia-idade e não são bem qualificados. “O caminho certo do Governo é atrair mais residentes locais a entrar no sector, com uma melhor garantia de reforma e sistema de previdência, para que a situação seja melhorada na sua raiz,” disse. Questionado sobre a alegada falta de motoristas privados para o trabalho de entrega de mercadorias, o responsável referiu que, pelo que lhe é possível saber, não há problemas em termos de recursos humanos. Esta é, isso sim, uma “área severamente afectada pelas infracções”. A FAOM e a Associação dos Bancos de Macau assinaram ontem um acordo com o intuito de reforçar a formação aos funcionários bancários locais e promover o desenvolvimento de sistema financeiro específico. Yao Jian considera que o acordo fornece aos jovens de Macau meios e espaço de desenvolvimento. Motoristas | CPCS quer chegar a consenso entre patrões e empregados Confrontado com as declarações do responsável pelo Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, Wong Chi Hong, director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), garantiu ontem, à margem de uma reunião do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS), que o objectivo é atingir um consenso quanto à possibilidade de importação de motoristas. “Ouvimos estas solicitações mas, da parte do Governo, o que pretendemos é criar uma plataforma e atingir um consenso entre a parte laboral e patronal. Também estamos a pedir a ambas as partes para fornecerem mais informações, sobre a organização de bolsas de emprego e mais estatísticas, para que possamos tomar uma decisão.” Wong Chi Hong explicou que a DSAL apenas pode promover mais acções de formação para atrair mais locais para esta profissão. Apesar de ter dito que são poucas as pessoas a frequentar esses cursos, o responsável dos Assuntos Laborais acabou por referir que o número de motoristas até registou um aumento. “Até agora não temos um número significativo de pessoas que realizem estas acções de formação para motorista profissional, mas o que pretendemos é aumentar o número de pessoas interessadas. Vamos dar mais medidas beneficiárias para atrair mais pessoas. Conforme as estatísticas reparamos que houve um aumento do número de motoristas profissionais.” Lei Chan U, representante dos trabalhadores e membro da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), mostrou reservas quanto à possibilidade de importação. “Acho que temos de salvaguardar os direitos dos trabalhadores. Estamos a tentar ter um consenso com a parte das associações e não é a questão de ceder ou não, o mais importante é salvaguardar direitos. Se importarmos mais motoristas não residentes, isso vai influenciar os trabalhadores locais. Como devemos resolver o problema? O Governo deve fornecer mais dados para servirem de referência”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei Sindical | Governo vai demorar 500 dias a realizar concurso público e estudo O Conselho Permanente de Concertação Social debateu ontem a necessidade de estudar a implementação da lei sindical. Todos concordam com o estudo da lei, mas os patrões estão contra a legislação. O concurso público e a realização do estudo vão demorar quase dois anos a serem concluídos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo anunciou nas Linhas de Acção Governativa (LAG) a realização de um estudo sobre a necessidade de implementação da lei sindical e, ontem, o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) debruçou-se sobre o assunto. Uma coisa é certa: o único ponto em que patrões e empregados estão de acordo é na realização do estudo, que irá demorar cerca de 500 dias (quase dois anos) a ser feito, juntamente com a elaboração do concurso público e adjudicação. A necessidade de 500 dias foi explicada por Wong Chi Hong, director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). “Precisamos de saber quais as condições e requisitos para a implementação da lei sindical, e só assim podemos aumentar a possibilidade de legislar sobre esta matéria. Pretendemos ter políticas e medidas que beneficiem do desenvolvimento de Macau”, disse aos jornalistas no final do encontro. Um estudo inútil? Com base nas declarações de Choi Yok Lum, representante do patronato, o consenso será difícil de atingir, mesmo com o estudo feito. “Temos a posição de que não vamos deixar a lei sindical passar, achamos que não é uma ocasião oportuna para fazer a lei.” “Esta proposta de lei foi apresentada várias vezes na Assembleia Legislativa e foi sempre chumbada, o que quer dizer que Macau não reúne condições para a elaboração da lei sindical”, acrescentou Choi Yok Lum. “Estamos de acordo com a proposta do Governo de adjudicar este projecto de estudo a uma terceira parte, a uma instituição académica, mas achamos que há que ter em consideração as opiniões das diferentes partes quanto ao método de fazer o estudo, orientações e destinatários.” O responsável disse ainda que as associações já desempenham o seu papel de porta-vozes dos trabalhadores. “Diferentes associações e canais têm os seus meios para a apresentação de opiniões. A parte patronal opõe-se à implementação da lei sindical. Isto é muito claro e desde sempre foi assim. A única coisa em que concordamos é na realização de um estudo por parte de uma entidade académica.” Lei Chan U, representante dos trabalhadores e membro da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), mostrou-se a favor da legislação, até porque os deputados da FAOM (Kwan Tsui Hang, Ella Lei e Lam Heong Sang) entregaram recentemente uma proposta de lei no hemiciclo, que também foi chumbada. “Se a iniciativa legislativa partir do Governo será mais adequado”, defendeu. “Estamos a entrar na fase de estudo e este foi o resultado decidido pelo CPCS. Estamos de acordo com a realização do estudo preliminar, mas achamos que o Governo deve elaborar esta lei porque, de acordo com o Artigo 27.º da Lei Básica, deve legislar sobre este assunto. Esperamos que o Governo possa acelerar o processo de elaboração da lei sindical”, concluiu. FAOM quer cinco dias de licença de paternidade Lei Chan U, representante dos trabalhadores e membros dos Operários, afirmou que a parte laboral deseja a implementação de cinco dias de licença de paternidade no sector privado, bem como 90 dias de licença de maternidade. “Estamos a favor de cinco dias úteis, e insistimos porque os funcionários públicos também têm cinco dias de licença de paternidade remunerados. Em Hong Kong serão cinco dias e esta é uma tendência mundial. Quanto à licença de maternidade estamos a favor de 90 dias, porque assim podemos seguir as convenções internacionais, onde se estabelece 98 dias. Devemos seguir o Governo quanto à proposta dos 90 dias, e depois passo a passo chegar aos 98.” Governo estuda montantes do salário mínimo A DSAL vai entregar, nos próximos meses, inquéritos para perceber o impacto do salário mínimo junto dos trabalhadores de limpeza e segurança, e das respectivas empresas. A revisão do valor do salário mínimo poderá ser uma possibilidade, confirmou Wong Chi Hong. “Vamos fazer uma revisão e precisamos de ter estatísticas e fundamentos. Só depois é que vamos decidir se vamos aumentar ou não.” Choi Yok Lum, representante dos patrões, falou de um profundo impacto. “Após a implementação do salário mínimo houve um impacto muito profundo para a sociedade de Macau. Houve muitos conflitos com a implementação da lei. Esperamos que, com este estudo, o Governo possa obter alguns fundamentos e saber qual o impacto.”
Andreia Sofia Silva EventosExtramuros | Projecto online de Luís Ortet visa criar pontes com cultura chinesa Há muito que Luís Ortet, jornalista e editor, conversa com chineses para perceber onde vive. Os apontamentos deram lugar a um blogue que, por sua vez, dará lugar a um projecto com colaboradores que irão transmitir os seus pontos de vista. É assim o “Extramuros”, já disponível online [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara escrever sobre a China uma vida não bastará. Para perceber a cultura chinesa são então necessários pedaços de tempo, papel, caneta e muitas conversas, para que se possa compreender um mundo tão diferente do ocidental. Foi o que pensou Luís Ortet. O jornalista e editor, há décadas radicado em Macau, mantém o hábito de conversar com chineses para treinar o seu mandarim. Foi daí que nasceu a ideia de criar o “Extramuros – A China além da China” (www.extramuros.me), que começou por ser um blogue de apontamentos dessas conversas, mas que já se transformou num website, administrado pela jornalista Catarina Domingues, e que conta com colaborações do artista Rui Rasquinho e da docente da Universidade de Macau Márcia Schmaltz. Há ainda colaboradores de origem chinesa. “O objectivo dessas conversas que mantenho é treinar a língua, mas o tema das conversas é a cultura chinesa. Coisas que acontecem em Macau e na China, no mundo, e vamos falando sobre isso. Comecei então a reunir uma série de apontamentos sobre essas conversas. Senti que seria de alguma utilidade tornar isso público, e daí nasceu a ideia de ter um blogue”, explicou ao HM Luís Ortet. Para além dos desenhos de Rui Rasquinho sobre alguns caracteres chineses, há a ideia de escrever sobre livros. “Outra faceta é tentar ter chineses a colaborar, e já temos chineses a escrever. Vamos ter publicações sobre livros. Estamos a acompanhar o projecto da Associação dos Amigos do Livro [presidida por Rogério Beltrão Coelho].” João Guedes, jornalista da TDM, será um dos colaboradores, confirmou Luís Ortet. “Aquela ideia inicial de apenas ter um suporte para publicar os meus apontamentos deu origem a uma coisa que me ultrapassa. Neste momento sou apenas um dos contribuidores. A ideia é: as conversas que tenho com amigos chineses desde há anos é no sentido de lhes tentar explicar as nossas ideias ocidentais, e eles tentarem explicar-me como é que eles pensam. Isso não é fácil porque eles são muito reservados e têm medo de ferir as pessoas, são muito cuidadosos”, disse o jornalista. Para Luís Ortet, o seu mais recente projecto é como se fosse “uma pessoa a espreitar para o outro lado do muro, isto é, para outra realidade”. Perceber o que somos O projecto, unicamente escrito em português, poderia ganhar outra dimensão ao ser escrito em chinês, defendeu Luís Ortet. “A minha esperança é que um dia haja uma espécie de Extramuros em chinês, para os chineses. Chineses que venham falar connosco, portugueses, que nos peçam para escrever no blogue deles.” No contexto da relação com a comunidade chinesa, Luís Ortet considera que os portugueses devem hoje, 17 anos após a transferência de soberania, olhar melhor para o seu papel em Macau. “Temos de pensar bem o que é ser português em Macau nesta altura. Há 17 anos a ideia era que íamos embora, mais tarde ou mais cedo. Em Macau, tecnicamente, somos emigrantes. Somos de Portugal e viemos para aqui num dado momento, mas o que se está a passar é que a presença portuguesa em Macau faz parte da República Popular da China, faz parte da realidade política de Macau”, observa. “Qualquer pessoa que vá para o Reino Unido aprende a língua e insere-se nos costumes ingleses. Nós aqui falamos português, não falamos chinês, mas vivemos na China. Isto faz parte de uma forma que encontrámos para viver. Sabemos, em termos políticos, o que se passa em Macau, porque está escrito na Lei Básica que o português é língua oficial, mas os jornais foram além disso: todas incluem jornalistas chineses”, apontou. Para Luís Ortet, em 1999, “estávamos a viver a prazo e não sabíamos qual ia ser o futuro”. “Mas já conhecemos 17 anos de futuro, pós-transição, e conseguimos criar uma maneira de estar em Macau em que preservamos a nossa identidade e lutamos por ela. Somos os portugueses da China, mas não nos integrámos no sentido de aprender a língua. Criou-se uma dinâmica própria e que já faz parte de Macau”, rematou o mentor do “Extramuros”.
Andreia Sofia Silva PolíticaDebate | Song Pek Kei exige Biblioteca Central no NAPE ou novos aterros É já na próxima quarta-feira que o hemiciclo vai discutir a localização da biblioteca central. Para a deputada Song Pek Kei, que fez o pedido de debate, deveria localizar-se na zona dos novos aterros ou perto do Centro Cultural de Macau [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] construção da nova biblioteca central vai voltar a ser debatida na próxima quarta-feira, mas desta vez numa sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL). Apesar de o Governo já ter garantido que a biblioteca central será mesmo erguida no edifício do antigo tribunal, a verdade é que a deputada Song Pek Kei, autora do pedido de debate, entende que há outras localizações mais viáveis. “Segundo algumas propostas, o Governo poderia escolher um local perto da nova zona de aterros, do Centro Cultural e do Centro de Ciência para construir a biblioteca, pois poderá ser melhor do que a actual localização”, apontou a número três de Chan Meng Kam no seu pedido de debate, entregue ao hemiciclo em Novembro. Song Pek Kei não se mostra contra o projecto, mas entende que ainda há espaço para analisar a sua localização. “A adequabilidade da realização de um debate sobre a escolha do local tem que ver com a recolha de opiniões mais valiosas para o plano de construção da biblioteca central, pois deseja-se que a construção deste espaço cultural e de grande dimensão seja mais científica, exequível e adequada às exigências dos residentes.” A deputada estabelece mesmo um paralelismo com a estrutura similar de Hong Kong, edificada há seis anos. “O Governo referiu que a Biblioteca Central de Hong Kong, que entrou em funcionamento em 2010, tem uma área semelhante à da concebida para a Biblioteca Central de Macau e, na altura, o custo de construção atingiu os 700 milhões de dólares de Hong Kong. O custo previsto para a Biblioteca Central de Macau é de 900 milhões de patacas, tratando-se de um orçamento razoável”, entende. “O que difere em Macau é que os edifícios do antigo tribunal e da Polícia Judiciária implicam a protecção do património cultural; a fachada do antigo tribunal vai ser preservada, vão ser aditadas mais construções em cima e efectuadas escavações em baixo para a construção das caves, tratando-se de uma situação mais complexa do que construir um edifício em terreno plano, com provável desperdício de tempo e um custo elevado”, referiu Song Pek Kei. Será necessário? A deputada não tem dúvidas sobre os valores orçamentais apontados, mas questiona até que ponto a biblioteca central é necessária num território já composto, na sua óptica, por uma extensiva rede de bibliotecas. “Segundo a dimensão prevista na concepção da nova biblioteca central, o número de pessoas que esta anualmente conseguirá receber pode atingir até três milhões, distanciando-se significativamente da soma das bibliotecas públicas de todas as zonas, no que à sua utilização diz respeito. Atendendo ao desenvolvimento das bibliotecas comunitárias nos últimos anos, o Governo deve, antes do planeamento da nova biblioteca central, avaliar a distribuição das bibliotecas comunitárias. Chegou a fazê-lo?”, questionou. Para fundamentar essa questão, a deputada apresenta números. “Segundo estatísticas efectuadas pelos media, em 2015 existiam 86 salas de leitura e bibliotecas públicas em Macau, uma densidade mais elevada do que nas regiões vizinhas. Há ainda 103 bibliotecas escolares, 80 bibliotecas especializadas e 34 bibliotecas de instituições do ensino superior e de escolas técnicas. Portanto, o número total perfaz 305”, concluiu. A mesma sessão plenária será ainda dedicada ao pedido de debate feito por Ng Kuok Cheong, que quer discutir a implementação do sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo já em 2019. Três propostas para votação A sessão plenária da próxima quarta-feira vai ainda servir para votar, na generalidade, três propostas de lei apresentadas pelo Governo. Uma delas prende-se com as alterações ao Código Penal que visam introduzir os crimes de assédio sexual, prostituição e pornografia com menores. Será ainda votada a alteração ao regime das carreiras dos trabalhadores dos serviços públicos, bem como a proposta de lei sobre o “controlo do transporte transfronteiriço de numerário e de instrumentos negociáveis ao portador”, criada para responder a regras do Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais. Os deputados vão também votar as alterações nos Serviços de Polícia Unitários, que passam a ter mais responsabilidades na área da protecção civil, extinguindo-se o Gabinete Coordenador de Segurança.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios Pessoas#Matters, marca de joalharia | Pedras com estilo Clara Yung já tinha uma paixão por roupa antiga quando decidiu criar a sua própria marca de joalharia. A #Matters pretende trazer algo de novo a quem usa as jóias da marca, que não passa apenas pelo estilo [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão fios debruados a ouro com pedras que pretendem transmitir algo de novo a quem as usa. São clássicas mas, ao mesmo tempo, contemporâneas. É assim a #Matters, marca de joalharia criada por Clara Yung. Esta não foi a primeira incursão de Clara Yung no mundo do estilo e beleza: é proprietária da Old Town Vintage, uma loja de roupa localizada junto ao Bairro de São Lázaro que vende peças antigas, que fazem lembrar os anos 60, 70 ou 80. A joalharia da #Matters é vendida no mesmo espaço e pretende ser um complemento a este tipo de roupa. “Criei esta marca porque tinha a intenção de criar as minhas próprias jóias, para que pudessem coincidir com a minha loja de roupas vintage [Old Town Vintage]. A marca foi criada na Primavera do ano passado”, conta. Com a marca surgiu ainda um website para a divulgação das jóias que, diz a designer, “tem recebido muitas reacções por parte das pessoas”. “Estou também à procura de oportunidades no envio de joalharia por encomenda”, conta Clara Yung ao HM. Com uma paixão por este tipo de trabalho artesanal, Clara Yung quis criar algo único e com qualidade, diferente do que se vende por aí ou do outro lado da fronteira. “Sou uma apaixonada por cristais e cheguei à conclusão de que a maioria das pulseiras ou colares feitos com cristais são bastante rudimentares. Queria ter as minhas próprias pulseiras e colares, e por isso comecei a desenhar as minhas jóias.” Os colares e pulseiras da #Matters são, assim, feitos com peças em ouro. “Uso fio em ouro e pedras em ouro para criar uma pulseira. Adoro criar pulseiras com pedras feitas ao estilo japonês, adicionando um toque mais europeu.” Transmitir energia Clara Yung tem uma noção diferente do papel que as jóias devem ter para quem as compra. Não basta comprar porque uma jóia é bonita ou tem um valor elevado, há que transmitir algo. Foi essa ideia que levou ao nome dado à marca. “Decidi pôr o nome ‘#Matters’ porque é uma palavra que significa substância. São coisas que estão ao nosso alcance e nas quais podemos tocar, mas têm, ao mesmo tempo, um lado espiritual. Não quero apenas que os meus clientes melhorem o seu estilo com os meus produtos, também quero que se melhorem a si mesmos enquanto pessoas, ao nível da mente e da auto-confiança, para que possam obter energia a partir dos cristais”, explica a criadora. Apesar de ambas as marcas de Clara Yung estarem localizadas num dos espaços icónicos de Macau, a Old Town Vintage e a #Matters são sobretudo negócios online, cuja venda de faz através de um contacto prévio. #Matters Rua de Manuel Arriaga 64-A Macau
Andreia Sofia Silva EventosConcerto | Noite de jazz esta quarta-feira no Café Terra A Associação Promotora de Jazz de Macau organiza esta quarta-feira, no Café Terra, um concerto com quatro músicos locais e um da Malásia. Mars Lee, presidente da entidade, irá tocar guitarra e garante que dar um concerto num café é a melhor forma de desfrutar do ambiente [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] noite desta quarta-feira, dia 21, promete ser bem diferente ali para os lados do Café Terra, localizado junto ao Teatro D.Pedro V. Isto porque a Associação Promotora de Jazz de Macau irá organizar um concerto em que o próprio presidente da entidade, Mars Lee, vai tocar ao lado de mais dois músicos locais e um malaio. A entrada é gratuita e, segundo contou ao HM Mars Lee, o objectivo é fazer com que o público aproveite o som do jazz de uma outra forma. “Esta não é a primeira vez que tocamos em cafés e é sempre uma experiência enriquecedora, porque apesar de não ser um espaço muito grande, as pessoas gostam de estar a ouvir música enquanto estão sentadas com a sua bebida. É sempre bom realizar este tipo de eventos.” Com entrada gratuita, este evento fecha o ano de actividades da Associação Promotora de Jazz de Macau, que recentemente organizou a 5ª Semana de Jazz de Macau, com um concerto no Centro Cultural de Macau (CCM). Boas sensações Actuar num café é diferente de actuar num palco, mas ainda assim Mars Lee espera uma boa recepção por parte do público. “Diferentes concertos provocam diferentes sensações, e as pessoas sentem-se bem neste tipo de ambiente. É uma cultura importante no jazz, estar calmo a ouvir música, e neste café consegue-se este tipo de ambiente.” O presidente da Associação Promotora de Jazz de Macau defende que mais concertos poderiam ser realizados no território, numa altura em que há cada vez mais cafés a abrir portas. “A música pode ajudar. A música ao vivo é ainda uma grande questão em Macau, devido aos problemas do barulho, com a nova lei. As pessoas estão a gostar mais de música ao vivo. Esperamos que no futuro haja mais locais como este.” Mars Lee planeia realizar mais concertos deste tipo no próximo ano, mas ainda nada é concreto. “Somos uma associação sem fins lucrativos e temos algumas propostas submetidas ao Instituto Cultural. Estamos à espera de respostas. Vamos tentar organizar alguns concertos”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Aprovada lei da droga que prevê aumento de penas e testes à urina Os deputados aprovaram alterações à lei da droga que contemplam um aumento de penas para o consumo e tráfico de estupefacientes, bem como a realização de testes à urina em locais públicos, caso haja suspeitas de consumo. Houve quem tivesse pedido a autonomização do tráfico de droga transfronteiriço, mas o Governo diz que não é possível [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]emorou vários anos a ser revista e levantou muita polémica, mas foram finalmente aprovadas as alterações à lei da proibição da produção, tráfico e consumo ilícito de estupefacientes e substâncias psicotrópicas. A nova versão do diploma irá, assim, decretar um aumento do limite mínimo das penas de prisão para o tráfico, de três para cinco anos, com o limite máximo a manter-se nos 15 anos. Já o limite mínimo do consumo sobe de três meses até um ano, sendo que a mesma moldura penal se aplica a quem detiver utensílios ou equipamentos para o consumo de estupefacientes. Gabriel Tong, deputado nomeado, alertou para o facto de a tendência internacional ser a diminuição das penas para o consumo, e não o seu aumento. Os próprios deputados, no seu parecer, alertaram para o “enorme retrocesso” que a sociedade local iria enfrentar com a nova lei. “Creio que não devemos actualizar ou elevar constantemente as penas. Vejo esta tendência de introduzir o agravamento da moldura penal em muitas propostas de lei.” Os deputados questionaram as razões que levaram o Governo a não autonomizar o crime de tráfico de droga transfronteiriço, por forma a constitui-lo uma agravante da pena. “O Governo referiu que o crime transfronteiriço é grave, e constatou-se que muitos casos internacionais passaram por Macau”, começou por dizer a deputada Ella Lei. “Temos uma moldura penal relativamente baixa em relação às regiões vizinhas, e isso vai desfavorecer-nos. Com esta actualização do limite mínimo o tribunal pode optar por uma pena mais grave, mas [a ausência de autonomização do crime] merece a nossa penalização”, acrescentou a deputada. O Governo explicou a incompatibilidade dessa autonomização com o actual regime jurídico. “Quanto ao tráfico transfronteiriço, desta vez esta iniciativa legislativa visa aumentar o limite mínimo de produção ilícita de substâncias psicotrópicas, e as nossas penas não são leves. Não queremos que Macau seja um ponto de passagem de droga e queremos afastar o consumo. Se autonomizarmos este crime não será compatível com esta lei. Alguns países autonomizam o crime e a punição é grave, como é o caso do Panamá ou Cuba, que são chamados reinos de droga. A situação é diferente em Macau”, explicou Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça. Testes à urina questionados Os deputados questionaram ainda a realização de testes à urina pelas autoridades policiais em locais públicos, caso haja suspeita de consumo de droga. O artigo acabou por ser aprovado por todos os tribunos. Ainda assim, Chau Wai Kuong, director da PJ, garantiu que as autoridades não vão cometer quaisquer abusos. “Às vezes fazemos operações e verificamos frequentemente que, num karaoke, existem utensílios de droga em cima da mesa. Perguntamos a quem pertencem, neste caso não podemos apanhar todos e deparamo-nos com dificuldades na prática. Se não recolhermos esta prova pode resultar numa perda de provas.” O deputado José Pereira Coutinho lembrou que pode haver acusação de pessoas inocentes, por terem consumido droga colocada por alguém num copo. “Não sei se existem directrizes para que as pessoas não sejam acusadas de forma caluniosa. Há pessoas que depois bebem bebidas com droga sem saberem e ficam inconscientes.” O director da PJ prometeu que ninguém sairá lesado. “Temos de ouvir a explicação da pessoa em causa e os amigos, a lei consagra os direitos dos detidos. Não vamos apanhar pessoas à toa e temos de seguir as informações de que dispomos”, concluiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Falta de motoristas é “disparate”, diz Au Kam San [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] necessidade de importação de motoristas profissionais esteve ontem em destaque no período de antes da ordem na Assembleia Legislativa (AL). Kou Hoi In, deputado eleito pela via indirecta, representante dos empresários, defendeu a importação destes trabalhadores através de uma interpelação oral; já o deputado pró-democrata Au Kam San disse que Macau não necessita destes recursos humanos. “Segundo o sector comercial há falta de motoristas em Macau e até há quem diga que com um salário de 30 mil patacas é impossível contratar um. Mas, se isso acontecesse, creio que seria tão atraente como ser croupier ou ter um lugar na função pública”, afirmou Au. “Na realidade, porém, muitos motoristas ou estão desempregados ou não tem trabalho suficiente. É de salientar que os disparates ditos por alguns operadores são para quebrar a política de proibição de importação de motoristas profissionais? As potencialidades dos motoristas vão ser exploradas?”, questionou. Para Au Kam San, importa rever o decreto-lei vigente desde 1984, que diz respeito às licenças de condução especial. “O regime já está em vigor há mais de 30 anos e não acompanhou o desenvolvimento [da sociedade]. O abuso na utilização desta licença prejudica o direito ao emprego dos motoristas locais e também a segurança rodoviária de Macau. Em 2012, a DSAT terminou o texto de revisão do regulamento administrativo sobre a licença de condução especial, e previa-se a conclusão do respectivo processo legislativo para finais daquele ano. Porém, já estamos a chegar ao final de 2016 e a revisão do decreto-lei parece que foi esquecida.” Pelo contrário, o deputado Kou Hoi In, em conjunto com os deputados Cheang Chi Keong e Chui Sai Peng, também eleitos pela via indirecta, falaram que a falta de motoristas está a prejudicar o sector da distribuição do gás e de mercadorias. “Num colóquio realizado nos escritórios dos deputados da área empregadora ouviram-se opiniões de que a insuficiência de recursos humanos, a falta de motoristas que também possam entregar mercadorias e de trabalhadores novos tem impacto na sobrevivência dos sectores que precisam dos serviços de entrega de mercadoria e na vida da população. Alguns representantes dos sectores de venda por grosso de fruta, de mercearia e de logística manifestaram forte indignação e descontentamento, porque a falta de motoristas afecta o funcionamento destes sectores.” Os deputados defendem que o Governo deve “efectuar os respectivos estudos”, por forma a não “impedir a importação de condutores profissionais e condutores de entrega de mercadorias. O Governo deve ser pragmático, tendo em conta as necessidades urgentes da população”, apontaram.
Andreia Sofia Silva PolíticaChumbado diploma dos pró-democratas sobre alterações ao Código Penal [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] hemiciclo chumbou ontem o projecto de lei dos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong, que visava alterações ao Código Penal e a criminalização dos actos de atentado ao pudor. As razões prendem-se com o facto de o Conselho Executivo ter concluído, no passado dia 25, a análise à proposta de lei do Governo de alteração ao Código Penal, que prevê a criação dos crimes de importunação sexual, pornografia e prostituição de menor. Apesar de ambos os diplomas versarem sobre o mesmo tema, o projecto dos deputados avançou porque a Assembleia Legislativa não tinha, até ontem, recebido a proposta do Governo. Foi entregue em mãos, durante a ocorrência do plenário. Os deputados questionaram as razões por detrás da ausência da proposta do Executivo. “Dou o meu apoio a este texto, mas houve problemas porque, no dia 25 de Novembro, o Conselho Executivo concluiu a discussão de um diploma relativamente mais aperfeiçoado em termos de conteúdo. Estranhamente ainda não vimos esta proposta apresentada à AL, e tenho dúvidas. Quando soube do agendamento desta proposta de lei achei estranho, dada a conclusão da análise pelo Conselho Executivo”, defendeu Kwan Tsui Hang. “Pensámos em retirar este projecto de lei, mas lamentavelmente, até à presente data não temos a proposta de lei do Governo nas nossas mãos e desconhecemos o seu conteúdo”, explicou Au Kam San. As alterações ao funcionamento do hemiciclo permitem que a proposta do Governo prossiga para votação e análise ainda dentro desta sessão legislativa. As regras anteriores ditariam que a proposta do Executivo só pudesse ser votada em 2017, numa nova sessão legislativa, por versar sobre o mesmo tema.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaUrbanismo | Macau terá “quarto espaço” em Coloane ou na Ilha da Montanha Além dos novos aterros, Macau deverá ter uma nova zona reclamada ao mar, que foi ontem intitulada de “quarto espaço”, construída a sul de Coloane ou perto do actual campus da Universidade de Macau. A ideia surge no estudo da Universidade de Tsinghua e do Gabinete de Estudo de Políticas, ontem apresentado no Conselho do Planeamento Urbanístico [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]aqui a alguns anos, Coloane poderá não ter mais um mar a perder de vista, ou a zona do campus da Universidade de Macau poderá dar acesso a um novo pedaço da cidade com casas e jardins. Segundo o documento “Estratégia de Desenvolvimento Urbanístico da RAEM 2016-2030”, elaborado pelo Gabinete de Estudo de Políticas (GEP) e pela Universidade de Tsinghua, está prevista a construção de um “quarto espaço” além dos futuros novos aterros. “Vamos ter um quarto espaço, um novo conceito que desenvolvemos”, disse ontem o consultor principal do GEP, Mi Jian, na apresentação do documento na reunião de ontem do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). “Esperamos que, além das três zonas existentes, e através da criação de um quarto espaço, se possam coordenar e aproveitar melhor os recursos de solos. O desenvolvimento de Macau é limitado e poderão ser necessários mais aterros e terrenos. Temos algumas ideias sobre o quarto espaço e já apresentámos esta ideia ao Governo Central.” A localização ainda não está decidida, mas foram debatidas algumas ideias. “Poderemos ver se nos próximos 20 anos este quarto espaço terá ou não viabilidade, tendo como ponto de partida a zona sul de Coloane. Não quer dizer que iremos fazer um aterro mesmo em frente à praia de Hac-Sá, iremos fazer um pouco mais longe para não trazer impacto à paisagem.” Mi Jian falou ainda da possibilidade de construir o “quarto espaço” na zona da Ilha da Montanha, até porque “um aterro perto da zona A pode influenciar os voos e os custos são mais elevados. O ideal para fazer o aterro é uma zona um pouco distante de Coloane, mais a sul. Junto à zona A há também várias rotas marítimas.” A ideia de construir junto à zona A partiu de Leong Chong, também membro do CPU, que defendeu que o “quarto espaço” deveria ser construído junto ao aeroporto”. “Fala-se que poderia ser construído em frente à praia de Hac-Sá, mas será que queremos ver o mar à nossa frente ou construções? Isso vai ser determinante para o futuro de Macau, e acho que esse não seria o local apropriado. Podemos pensar em construir junto ao aeroporto ou à zona A. Qual vai ser o desenvolvimento futuro?”, questionou. A esperança no horizonte Jorge Neto Valente, membro do CPU e presidente da Associação dos Advogados de Macau, elogiou a ideia da construção de um “quarto espaço”. “Tenho esperança no quarto espaço, mas tenho dúvidas se vou ficar bem tratado a olhar para mais uns aterros em Coloane. No quarto espaço podemos começar do princípio, tal como se fez em Hengqin, com o campus da UM. Quanto ao resto da cidade, já não podemos começar do início.” “Na Taipa, o que há mais para desenvolver além do Cotai? Está tudo comprometido. A minha esperança fica no quarto espaço, penso que é muito importante e pode ser alguma coisa para um futuro mais risonho. Eu mudo-me para lá”, prometeu Neto Valente. O advogado e membro do CPU alertou ainda para a elevada destruição da ilha de Coloane. “O ideal era não se ter destruído Coloane como já se destruiu, e Seac Pai Van é uma desilusão. Há compromissos assumidos, direitos das pessoas, e não podemos limpar isso como se não existisse. Coloane ainda tem muito para preservar, mas não apenas na orla marítima, onde houve destruição e compromissos. Na montanha foram feitas muitas barbaridades.” Outro membro do CPU referiu ainda que a construção de um “quarto espaço” no território poderia entrar em conflito com a Lei Básica, que apenas faz referência à composição do território pela península de Macau, Taipa e Coloane. “A Lei Básica faz referência a Macau e a duas ilhas, e será que quando falamos de um quarto espaço estamos a ir contra o preâmbulo da Lei Básica? Temos de aprofundar mais.” Mi Jian rejeitou qualquer violação constitucional. “Sabemos que Macau é constituída por três zonas. Não podemos dizer que depois de definir Macau não podemos ter mais espaços. A Lei Básica foi implementada há muitos anos. Uma ordem do Conselho de Estado de 2015 diz que Macau pode ter mais espaços e terrenos. O ‘quarto espaço’ não contraria a Lei Básica, do ponto de vista jurídico não há contradições.” Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, confirmou que o documento ontem apresentado servirá de linhas mestras para a elaboração do futuro Plano Director de Macau, que só deverá estar concluído em 2020. Os trabalhos relativos a este documento tiveram início no ano passado. “A consulta já terminou, estas são as conclusões. Este documento vai servir na hora de adjudicarmos o serviço a uma empresa para desenvolver o Plano Director. Este documento vai servir de base ao futuro desenvolvimento e são grandes linhas orientadoras, e é com base nelas que a futura entidade adjudicada vai desenvolver o Plano Director”, apontou o secretário. “O Belo Lar” que Macau quer ser um dia São vários os princípios orientadores traçados para Macau, que deve desenvolver-se além-fronteiras, tornar-se numa cidade inteligente e manter as suas diferentes culturas e tradições. A ideia foi deixada pelo consultor principal do think-tank do Governo, Mi Jian, que fez o alerta: os terrenos devem ser devidamente aproveitados em prol da população, para que o território se transforme num “Belo Lar” para todos. “Temos de fazer uma distribuição razoável das áreas urbanas e uma boa utilização dos terrenos. Deve ser feito um aperfeiçoamento da reserva dos terrenos. No futuro vamos ter novos aterros que podem proporcionar mais recursos de solos e temos de ver quais são as formas de concepção científica para maximizar os recursos de solos que temos. No futuro temos de criar mais condições para uma melhor gestão das áreas marítimas.” Pensar no futuro deve ser prioridade: “Quando estamos a fazer o planeamento não podemos pensar apenas no presente. Este foi um grande presente que o Governo Central deu a Macau, já que, além da área terrestre, temos a área marítima. Além do aproveitamento dos novos aterros, temos de pensar em como desenvolver a área marítima, bem como desenvolver mais zonas verdes”.
Andreia Sofia Silva EventosExtensão do Douro Filme Festival acontece hoje no Consulado [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]contece hoje no auditório do consulado-geral em Macau a extensão do Douro Filme Festival, um festival de cinema mudo em Portugal que, pela primeira vez, chega ao Oriente, com o apoio da Casa de Portugal em Macau (CPM). Criado há dez anos, no Porto, o festival traz este ano um conjunto de películas no feminino, filmadas por 11 realizadoras com películas de super oito milímetros. Os filmes serão acompanhados pela música de Miguel Andrade e Paulo Pereira. A vinda do festival a Macau pela primeira vez visa celebrar os 120 anos do cinema português, na pessoa de Aurélio da Paz dos Reis, e recordar a realizadora portuguesa Noémia Delgado, que faleceu este ano. Para Cristiano Pereira, actor e um dos responsáveis pelo projecto, o Douro Filme Festival é um “festival com características únicas”, sendo “único em Portugal e um dos poucos exemplos no mundo”. “Os filmes são todos rodados em película, temos o apoio da Kodak, e são todos rodados com o equipamento de uma nova produtora do Porto, a OPPIA (Oporto Picture Academy). É talvez o festival em todo o mundo que é projectado em película.” Cristiano Pereira confirmou ainda ao HM que a ideia é estabelecer um curso de filmes feitos com estas películas e criar um festival com base nas películas realizadas pelos alunos. “Queremos trazer um curso de cinema em películas de super 8mm, que inclui um curso completo, cinematografia, revelação dos filmes e rodagem, e um festival local. Estamos em Macau neste momento a trabalhar nessa possibilidade, através da amabilidade da CPM e consulado. A ideia é que, no âmbito desse curso os filmes realizados possam levar a um festival local”, apontou. A vinda a Macau pretende ainda ser uma ponte para o mundo lusófono. “É nossa ambição levar o festival aos países lusófonos, e também apresentaremos este projecto à CPLP”, rematou Cristiano Pereira. O festival decorre apenas hoje, a partir das 19h. Filmes em exibição “O Amor eterno não é um mito urbano”, de Isabel Venceslau “A cabeça no ar ou O ar na cabeça”, de Mariana Figueroa [Menção honrosa] “Memória, substantivo feminino”, de Luísa Sequeira [Menção honrosa] “Super 75”, de Patrícia Vieira Campos (Pat) [1º Prémio] “Ariadne e o Minotauro”, de Filipa Gomes “sem título”, de Amarante Abramovici “Bailarina amparada”, de Ana Tinoco “Entranhas”, de Patrícia Nogueira “Confia que o tempo também devolve”, de Marina Zincovitch Botelho “Autumn”, de Mervi Junkkonen [Menção honrosa] “Tons”, de Diana Oliveira “Aurélia, mulher artista” e “Urbión”, ambos de Cristiano Costa Pereira e “PortoPorto”, de Sério Fenandes
Andreia Sofia Silva Eventos Festival Internacional de Cinema - Especial MancheteThe Winter e São Jorge sagraram-se os grandes vencedores O argentino “The Winter” venceu na categoria de Melhor Filme porque tudo nele foi belo, através das coisas simples. Depois de Veneza, Nuno Lopes voltou a vencer na categoria de Melhor Actor, com o filme “São Jorge”, que ganhou também na categoria Melhor Realizador https://www.iffamacao.com/wp-content/uploads/2016/11/thewinter_22nov.mp4 [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]iziam as regras do Festival Internacional de Cinema de Macau que um filme não poderia vencer dois prémios, mas o júri não teve escolha. Se “The Winter” (O Inverno), do argentino Emiliano Torres, venceu apenas na categoria principal, como Melhor Filme, o português São Jorge arrecadou dois prémios: o de Melhor Actor (Nuno Lopes) e Melhor Director (Marco Martins). “Sisterhood”, de Tracy Choi, ganhou a estatueta de Melhor Actriz (Jenifer Yu), para além de ter ganho o prémio do público. “O meu único pedido para os meus colegas do júri foi para verem os filmes com emoções, com o coração”, disse Shekar Kapur após a cerimónia de entrega dos prémios. ”Se alguém fez um trabalho brilhante num filme porque não premiar? Por isso decidimos quebrar as regras”, disse ainda. O júri falou de “The Winter” como sendo uma bela película onde o minimalismo consegue contar as maiores histórias. “Achei o “The Winter” lindíssimo, os actores incríveis. O filme foi muito completo, bem interpretado, com boa fotografia, com uma história forte. Tive muitas reacções em relação a ele”, disse Giovanna Fulvi, membro do júri. Emiliano Torres referiu estar sem palavras. “Ganhar um prémio já seria bom, mas ganhar o prémio principal é espectacular. Esperamos que este prémio possa trazer o nosso filme para a Ásia.” Com excepção de “Sisterhood”, filme local, não houve estatuetas para produções asiáticas. Mas, para Shekar Kapur não há mal nenhum nisso. “Não havia regulamentos que diziam que deveríamos prestar atenção aos filmes asiáticos. São filmes e é isso que é bom no cinema, trespassa geografias e conta histórias sobre nós.” O risco “São Jorge” aborda a vida de um pugilista que sem opção arranja emprego numa empresa de cobranças difíceis numa altura em que Portugal vive os constrangimentos de uma crise. Nuno Lopes vê o seu trabalho de actor reconhecido mais uma vez, após vencer em Veneza o prémio na secção “Horizontes”. Apesar de ausente, o actor português deixou uma mensagem via skype a agradecer a distinção: “Tenho pena de não estar presente e é uma honra poder receber este prémio. Quero agradecer ao meu amigo e ao melhor realizador com quem se pode trabalhar” disse referindo-se a Marco Martins. Marco Martins falou do risco que foi fazer “São Jorge”. “Quando comecei a escrever o guião todos me diziam que era perigoso fazer um filme sobre o presente, porque não temos perspectiva. Concordo com isso, mas para nós era um momento importante, em que muitas pessoas perderam trabalhos e apoios sociais. Assumi o risco, e nunca tinha feito um filme de cariz social.” O realizador deixou no ar a hipótese de um dia filmar em Macau, mas referiu que filma sobretudo lugares que lhe são próximos. “Escolho sempre temas que me são próximos, fiz muitos documentários na Índia ou no Japão, e Macau gerou em nós um grande fascínio.” “Elon, não acredita na morte” , a produção brasileira que conta com a realização de Ricardo Alves Júnior ganhou o prémio para a melhor contribuição técnica. Ao HM, o realizador manifestou a sua alegria não só pelo reconhecimento mas por ser um prémio que valoriza a equipa. “Estamos muito satisfeitos com este reconhecimento internacional, e mais do que um prémio individual, este é uma condecoração colectiva que tem em conta o trabalho de todos”, referiu ontem. https://www.iffamacao.com/wp-content/uploads/2016/10/saintgeorge_22nov.mp4 Lembrar Muller Marco Muller foi lembrado por Ricardo Alves Júnior, realizador de “Elon não acredita na morte”. “Para a gente o festival foi importante porque teve a figura do Marco Muller, foi isso que nos levou a fazer a estreia internacional do filme aqui. É importante estar aqui a receber o prémio numa selecção feita por uma figura tão importante do cinema.” A falta de público em muitos dos filmes foi também notada pelo realizador brasileiro. “(Marco Muller) conseguiu levantar um grande evento, que correu muito bem. O mais importante no festival são os filmes e o público e esperamos que no próximo ano consigamos trazer mais gente para ver os filmes, algo que nos fez muita falta.” Prémios Melhor Filme – “The Winter”, Argentina Melhor Realizador – Marco Martins – São Jorge – Portugal Melhor Actor – Nuno Lopes – São Jorge – Portugal Melhor Actriz – Lindsay Marshal – Trespass against us – UK Melhor Jovem Actriz – Jeniffer Yu – “Sisterhood” – Macau Melhor Argumento – Amy Jump e Ben Wheatley – “Free Fight” – UK Melhor Contribuição Técnica – “Elon não acredita na morte” – Brasil Prémio do Júri– “Trespass against us” – UK Prémio do Público – “Sisterhood” – Macau
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaMedalhas | Cheong U, ex-secretário, distinguido pelo Chefe do Executivo Liderou a tutela dos Assuntos Sociais e Cultura durante cinco anos e vai receber no dia 20 de Dezembro a medalha Lótus de Ouro. Personalidades do sector da saúde garantem que Cheong U fez o que pôde, muitas vezes sem apoio e com muitos dossiers por concluir [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde que Chui Sai On deixou de ser secretário, no final de 2009, até Dezembro de 2014, Cheong U foi o homem que liderou o destino das pastas da saúde, educação, cultura e turismo, e vai agora receber das mãos do Chefe do Executivo a medalha Lótus de Ouro, juntamente com Lei Pui Lam, vice-presidente da Associação de Educação Chinesa de Macau (ver lista nesta página). Para Fernando Gomes, presidente da Associação de Médicos dos Serviços de Saúde (SS), esta é uma medalha “forçada”. “Como cidadão, penso que poderia ser feita uma avaliação mais isenta em termos de atribuição de medalhas, porque estas atribuem-se a quem fez obra. E muitas das obras não chegaram a ser feitas ou terminadas. Isso é público e parece que o actual secretário [Alexis Tam] está a pegar em projectos que nunca avançaram. Por isso a população que tire as suas conclusões. Penso que é uma medalha um pouco forçada”, disse ao HM. Rui Furtado, que dirigiu a Associação dos Médicos de Língua Portuguesa, garante que Cheong U não fez mais porque, em muitas situações, não houve a colaboração devida. “Enquanto fui presidente da associação, a minha relação com o secretário foi sempre boa. A actividade que desenvolveu foi pautada pelo bom senso, pela discrição, e sempre tendo em vista os bons objectivos para a área da saúde em Macau”, considera. “Se alguma coisa deixou por fazer, e algumas coisas deixou certamente, fica a dever-se à falta de apoio de vários sectores, tal como do director dos Serviços de Saúde [Lei Chin Ion] e outros serviços que não lhe tenham dado o apoio necessário. Fez aquilo que pôde, foi limitado em algumas coisas na sua actuação.” Cheong U era o nome que faltava na lista de antigos governantes que ainda não tinham sido distinguidos pelo Chefe do Executivo. No ano passado, a medalha Lótus de Ouro foi atribuída a Florinda Chan, Francis Tam e Cheong Kuoc Va, três ex-secretários, responsáveis pela a Administração e Justiça, Economia e Finanças, e Segurança. O antigo membro do Governo trabalhou 36 membros na Função Pública. Cheong U foi o primeiro comissário contra a Corrupção depois da transferência de administração, tendo exercido o cargo durante dez anos. Na nota à imprensa, justifica-se a distinção agora atribuída com “o grande contributo para a luta contra a corrupção e para os assuntos sociais e cultura”. A surpresa de Senna Fernandes A directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, vai receber das mãos de Chui Sai On a medalha de mérito turístico. “Claro que é uma grande honra”, começou por dizer ao HM. “É um reconhecimento não só para mim, mas também para a equipa com a qual trabalho na área do turismo. É um trabalho de equipa e não é feito apenas por uma pessoa. Tenho um grande orgulho em receber esta distinção. Agradeço ao Chefe do Executivo e ao secretário pela confiança dada. Não estava nada à espera.” Já o artista Mio Pang Fei será o distinguido com a medalha de mérito cultural. Pedro Cardeira, autor de um documentário sobre o artista plástico nascido em Xangai, fala de uma distinção que nunca chega tarde, mas que é merecida. “É uma distinção muito importante, porque Mio Pang Fei foi uma das pessoas fundamentais para o desenvolvimento da arte em Macau e foi uma pedra no charco no panorama das artes em Macau nos anos 80. De certa forma foi ele que trouxe a contemporaneidade para Macau. É muito merecida esta distinção”, rematou o realizador de cinema. Lista de medalhas Lótus de Ouro – Cheong U Lótus de Ouro – Lei Pui Lam Lótus de Prata – Kou Hoi In Lótus de Prata – Van Kuan Lok Medalha de Mérito Profissional – Direcção dos Serviços de Identificação Medalha de Mérito Profissional – Cândida da Silva Antunes Pires Medalha de Mérito Industrial e Comercial – Ho Ioc Tong Medalha de Mérito Industrial e Comercial – F. Rodrigues (Sucessores), Limitada Medalha de Mérito Turístico – Maria Helena de Senna Fernandes Medalha de Mérito Turístico – Lou Chi Seng Moisés Francisco Xavier Medalha de Mérito Educativo – Leong Lai Medalha de Mérito Educativo – Universidade de Macau Medalha de Mérito Educativo – Escola da Associação para Filhos e Irmãos dos Agricultores Medalha de Mérito Educativo – Ip Hong Kit Medalha de Mérito Cultural – Associção dos Artistas de Belas-Artes de Macau Medalha de Mérito Cultural – Mio Pang Fei Medalha de Mérito Altruístico – Associação de Bem-Estar dos Moradores de Macau Medalha de Mérito Altruístico – Associação dos Amigos da Caridade de Macau Medalha de Mérito Altruístico – Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais de Macau Medalha de Mérito Desportivo – Associação Geral de Wushu de Macau Medalha de Mérito Desportivo – Mário Ferreira Sin Medalha de Mérito Desportivo – Lau Vai Hong Medalha de Valor – Grupo de Vacinação para a Prevenção de Doenças dos Serviços de Saúde Medalha de Valor – Comissariado de Trânsito de Macau do Departamento de Trânsito do Corpo de Polícia de Segurança Pública Medalha de Dedicação – Maria do Céu Dourado Amorim da Silva Hung Medalha de Dedicação – Vicente João Monteiro Medalha de Dedicação – Porfírio Zeferino de Souza Medalha de Serviços Comunitários – Ieong Iu Medalha de Serviços Comunitários – Chang Mong I Georgiana Lau do Rosário Medalha de Serviços Comunitários – Lei Pou Loi Medalha de Serviços Comunitários – Wong Man I Título Honorífico de Prestígio – Lew Hwan Kyu Título Honorífico de Valor – Equipa da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários de Macau – “Medições das Forças de Atrito” Título Honorífico de Valor – Equipa da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários de Macau – “Eco-Purificador de água portátil” Título Honorífico de Valor – Lei Kuan Hou Título Honorífico de Valor – Lei Wai Shing
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei da droga | Testes à urina podem constituir um “abuso” Augusto Nogueira, presidente da ARTM, e o advogado Pedro Leal mostram-se contra uma mudança prevista na nova lei da droga, que será votada amanhã na especialidade. A hipótese de as autoridades exigirem testes à urina a suspeitos que estejam em bares ou em locais semelhantes pode constituir “um abuso” [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]erante uma suspeita de consumo de droga num bar ou noutro local do género, a polícia poderá deslocar-se a esse lugar e obrigar o suspeito a um teste de urina, bem como outras pessoas que estejam presentes. É o que diz a proposta de lei de revisão da lei da droga, que será amanhã votada na especialidade. Para o presidente da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), a medida pode levar a abusos, defendendo mesmo que este artigo não seja aprovado pelos deputados na sessão plenária de amanhã. “Da parte da ARTM, pensamos que o artigo referente aos testes de urina tem problemas bastante graves, inclusive acho que poderá ir contra os direitos humanos e a Lei Básica. Esse artigo não faz sentido e pode ser bastante prejudicial para muitas pessoas inocentes. Basta qualquer pessoa depositar droga numa bebida, essa pessoa consome, não sabe que está a consumir droga, e a seguir entra a polícia no bar e essa pessoa vê-se envolvida numa acusação sem saber como, podendo enfrentar três meses a um ano de prisão. Espero que esse artigo não seja votado e implementado”, disse Augusto Nogueira ao HM. Também o advogado Pedro Leal alerta para as consequências desta prática. “Obrigar todas as pessoas a fazerem um teste à urina, se não houver indícios de que cometeram o crime de consumo de estupefacientes, é um abuso. Não digo que vá contra a Lei Básica, mas parece-me que abre portas a abusos por parte da polícia.” O causídico afirma, contudo, que esta medida já vem sendo prática habitual por parte das autoridades policiais nas rusgas que efectua a bares e discotecas. “A polícia, hoje em dia, quando há indícios de qualquer situação relacionada com droga, já ‘obriga’ os arguidos e os suspeitos a fazerem esse exame médico. Que eu saiba, não tem havido recusa por parte das pessoas, porque quando têm o desconhecimento da lei, as pessoas fazem [o que lhes mandam fazer]”, apontou. Seringas dão prisão Outra das medidas a apreciar no plenário de amanhã prende-se com o facto de a nova lei prever uma pena de prisão de três meses a um ano para os portadores de equipamento para consumo de droga, sejam seringas ou equipamentos para fumar e inalar droga. Augusto Nogueira chama a atenção para a possibilidade desta medida poder deitar por terra anos de trabalho no combate ao HIV. “Preocupa-me o artigo da posse de equipamento para uso de droga. Sabemos que o programa de seringas é bastante importante para a saúde pública, para evitar o contágio do HIV entre consumidores de droga injectável, e se vamos criminalizar a posse desse equipamento com três meses a um ano de prisão pode levar a que a partilha de seringas entre consumidores aumente e que o HIV também possa aumentar”, diz. Para o presidente da ARTM, “é bastante gravoso, no sentido em que são dez anos de trabalho realizados pela ARTM, Instituto de Acção Social e Comissão de Luta contra a Sida que podem ir por água abaixo”. Em 2015, aponta, “não houve nenhuma nova infecção, e este é um trabalho que tem sido bem-sucedido”, remata Augusto Nogueira. O aumento das penas de prisão para o consumo de droga tem sido bastante criticado, inclusivamente pelos deputados, mas Augusto Nogueira tem uma explicação para o facto. “A ideia inicial da comissão ou do IAS era que, através do aumento das penas de prisão para o consumo, mais jovens optem pelo tratamento numa ONG. O que se tem vindo a passar é que muitos dos jovens, quando lhes era dada essa hipótese de ficarem dois meses na prisão ou um ano num centro de tratamento, muitos deles optavam por ficar na prisão.” O presidente da ARTM garante que as associações em Macau têm capacidade para responder a um eventual aumento de consumidores em tratamento. “Temos 70 camas, temos pessoal qualificado, no caso da ARTM estamos preparados para receber estas pessoas. Penso que as restantes ONG e os serviços que existem em Macau são suficientes.”
Andreia Sofia Silva EventosTIMC | “Actos de Design Não-Identificados” hoje na Casa Garden [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] festival This is My City mostra hoje à tarde, na Casa Garden, um conjunto de oito curtas-metragens sobre o que de melhor se faz em Shenzen em termos de design. O projecto “Actos de Design Não-Identificados” foi apresentado o ano passado na Bienal de Arquitectura e Urbanismo de Shenzen e serviu de preparação para a abertura de uma galeria do Museu Victoria & Albert na segunda metade do próximo ano, no Museu de Design de Shekou, em Shenzen. O projecto nasceu de uma colaboração entre o museu e a China Merchants Shekou (CMSK) para apoiar o estabelecimento de uma nova plataforma virada para o design, intitulada Design Society, com abertura em Shenzen em 2017. Ao HM, Luísa Mengoni, ex-curadora de Arte Chinesa no Museu Victoria & Albert, falou um pouco do projecto. “O que vamos ver hoje é o resultado de uma pesquisa e entrevistas feitas em Shenzen, as quais visaram captar a essência e a natureza destes projectos. Para além de um trabalho de pesquisa feito em estúdios de design, visitamos fábricas e workshops. Tentamos mostrar um pouco mais do que é feito em Shenzen para além do que conhecemos.” Estreitar laços Com uma ligação óbvia a Hong Kong, devido à proximidade geográfica, a ideia é que se possam estabelecer laços também com Macau na área do design. “Estou muito satisfeita com o convite que nos foi endereçado pela organização do TIMC. Para nós é uma boa oportunidade para começar algum tipo de colaboração com Macau e talvez desenvolver cooperações futuras. Uma das coisas que realmente queremos fazer em Shenzen é tornar o Delta do Rio das Pérolas uma rede de ligação com instituições relevantes em termos de design, criatividade e inovação. Sem dúvida que há uma oportunidade de colaboração com Macau.” Convidada a comentar o mercado dos designers locais, Luísa Mengoni considera que é fundamental estabelecer mais laços com Hong Kong e o continente. “A primeira vez que vim para Shenzen em 2012, participei numa exposição que recebeu designers de Macau e Hong Kong. A minha ideia do que se faz em Macau é que é crucial estabelecer uma rede de ligações mais profunda. É muito importante encorajar a criatividade e a inovação, o ambiente digital tem vindo a tornar-se muito proeminente. Estabelecer um diálogo é a melhor maneira de fazer isso acontecer.” “Há vários desenvolvimentos em termos de design nestas regiões e é importante ter em conta os contextos históricos”, disse ainda Luísa Mengoni. A galeria do Museu Victoria & Albert será dedicada aos projectos de design que têm sido feitos ao longo dos séculos XX e XXI, sendo também uma plataforma de formação de profissionais nesta área.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições | Eternos perdedores falam de desigualdades no sistema Agnes Lam perdeu todas as eleições a que se candidatou, mas mantém a esperança. Paul Pun não sabe se volta a ser candidato. Casimiro Pinto nem quer pensar mais nisso. Os eternos perdedores das eleições legislativas falam de um sistema desigual, onde os pequenos não conseguem competir com os grandes [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]azem parte dos rostos que se candidatam a lugares na Assembleia Legislativa (AL) sempre que há eleições, a cada quatro anos, mas nunca ganham. Mantêm a esperança de lutar por algo novo e ganhar assentos aos nomes de sempre. Chan Meng Kam é um deles e surge à cabeça com três deputados eleitos, incluindo ele próprio, os quais representam a comunidade de Fujian. José Pereira Coutinho elegeu, em 2013, Leong Veng Chai; Ho Ion Sang, da União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong) faz parelha política com Wong Kit Cheng. Já a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) tem dois deputados eleitos pela via indirecta no hemiciclo (Lam Heong Sang, vice-presidente da AL, e Ella Lei), incluindo Kwan Tsui Hang, eleita pela via directa. Mak Soi Kun, que representa a comunidade oriunda de Guangdong, conseguiu eleger mais um nome, Zheng Anting. É contra estes números que eles tentam lutar a cada quatro anos, mas reconhecem que cada vez é mais difícil lidar com um sistema desigual. Agnes Lam, candidata em 2009 e 2013, assume ao HM que está a compor uma equipa para se candidatar novamente às legislativas de 2017. Contudo, não quer avançar nomes. “Estamos a tentar fazê-lo, mas queremos fazê-lo de uma forma melhor e diferente. Temos de conhecer bem a equipa, mas estamos a tentar formar uma. Temos uma decisão interna de não anunciar qualquer nome até que tenhamos algo mais concreto. Estou a motivar as pessoas para que queiram trabalhar comigo.” Convidada a apontar as razões que estiveram por detrás das suas sucessivas derrotas, a docente da Universidade de Macau e presidente da Associação Energia Cívica assume que “não foi forte o suficiente”. “Em Macau as pessoas votam de formas diferentes e a cultura política é diferente. Penso que não fui forte o suficiente a captar as atenções do eleitorado. Da última vez que concorremos às eleições, tivemos pouca cobertura dos media chineses, de facto os media portugueses fizeram uma cobertura mais intensiva.” É uma realidade que, afirma, tem vindo a mudar com a realização de diversos debates através da sua associação, com outros oradores convidados. “Através do Facebook posso atrair mais pessoas, através da realização de debates hoje em dia.” Agnes Lam é a primeira a referir que o sistema para os candidatos é desigual. “Não temos recursos suficientes para concorrer ao lado desses candidatos. Mas acredito que há algumas pessoas lá fora que querem algo diferente. Não vou concorrer contra eles, só procuro um assento no hemiciclo. Apresento as coisas em que acredito e se houver pessoas que acreditem nelas também… Só preciso de captar mais a atenção das pessoas.” Para a ex-candidata, a desigualdade é um “problema sistemático”. “As eleições contribuem cada vez mais para um sistema de desigualdade, e esse tem sido um problema sistemático. Não fui forte o suficiente, e esse foi o problema. Mas também acredito que a lei eleitoral e as políticas que existem não são favoráveis à participação de pequenas organizações.” O defensor dos mais fracos Paul Pun é talvez o candidato que mais eleições perdeu, já que se candidatou a todos os actos eleitorais desde o estabelecimento da RAEM. Ao HM dá a entender que uma nova eleição pode não ser realidade no próximo ano. “Ainda que tenha pessoas a dizerem-me ‘deveria candidatar-se’, costumo dizer que a hipótese de me candidatar é mínima. Não é minha intenção dizer que me vou candidatar. As diferentes comunidades têm diferentes expectativas. Independentemente de uma candidatura, quero continuar a servir as pessoas consoante as minhas capacidades.” O secretário-geral da Caritas refere que perdeu as eleições “devido a vários problemas”, mas ressalva que, “em termos gerais”, não é “um perdedor”. “Não consegui um assento, porque o processo eleitoral deveria ter um período mais longo. As minhas anteriores candidaturas não correram bem por esse motivo. Em segundo lugar, as pessoas escolhem e eu respeito as suas escolhas. Continuo a poder fazer outras coisas.” A existência de candidatos mais fortes também não ajuda. “Não tenho a preparação que esses grupos que mencionou têm. Tenho uma maneira muito própria de me defender, não sou um candidato com muito poder. Devemos pensar como é que o processo pode ser mais justo para que todos possam ser candidatos.” A tímida candidatura Casimiro Pinto liderou, em 2009, a “Voz Plural” para garantir uma maior representação da comunidade macaense no hemiciclo, que já tem os rostos de Pereira Coutinho e Leonel Alves, este último deputado eleito pela via indirecta. A derrota aconteceu e Casimiro Pinto nem quer ouvir falar de uma nova candidatura. “Não me volto a candidatar porque penso que a participação cívica pode ser feita de outra forma. Acho que devem existir outras pessoas, mais jovens do que eu, que representem a comunidade. Não fazemos essa participação cívica como deputados, mas continuamos a acompanhar tudo o que tem que ver com Macau.” O que falhou, então, em 2009, apesar de Casimiro Pinto ser um rosto bem conhecido da comunidade macaense? “Era uma lista que a população ainda não conhecia e, portanto, era óbvio que não poderíamos obter muitos votos. As pessoas desconheciam ainda os candidatos. Na altura, o grupo juntou-se em cima da hora e não havia muita experiência no assunto, incluindo eu próprio, para uma actividade eleitoral. Havia um desejo e o amor pela terra. Falhámos nesse sentido, porque as eleições exigem mais do que isso, exigem a experiência que nós na altura não tínhamos.”v Além da luta de titãs com os actuais deputados, Casimiro Pinto lembra que, para uma lista que não tem continuidade, é difícil garantir uma eleição. “Teria de ser um trabalho contínuo para ganhar visibilidade e a confiança da população. Se é para lutar pelos interesses da população, o trabalho tem de ser feito de forma contínua. No início houve uma vontade para dar continuidade, mas houve dificuldades.” Ainda assim, Casimiro Pinto considera que o trabalho da “Voz Plural” não foi em vão. “Foi pena não termos dado continuidade mas não foi infeliz, sabemos que na sociedade todos estão a desempenhar um papel no território. Agora ainda é mais difícil. Não aparecemos nas últimas eleições [em 2013] e agora seria mais difícil ter alguma expressão.” Larry So: “Nova lei eleitoral não deverá mudar o cenário” Para o politólogo Larry So, o cenário de desigualdade entre candidatos não deverá alterar-se com a implementação de uma nova lei eleitoral. “Penso que a nova lei eleitoral não deverá mudar muito esse cenário.” “Não se pode dizer que é um jogo justo. [Os candidatos mais fortes] têm vantagens porque a maioria dos membros eleitos têm mais recursos, se compararmos com aqueles que já concorreram várias vezes. Estes não têm esses recursos, dinheiro, materiais. Além disso, há muitas pessoas por detrás destes grupos que elegem os deputados e podem fazer maior propaganda em várias plataformas. Caso não haja os recursos humanos acaba por se gerar uma situação de desigualdade.” Larry So explica, contudo, que o facto de uma pessoa estar há alguns anos no hemiciclo faz com que os eleitores acreditem no seu trabalho. “É quase uma regra de que determinada pessoa, que esteve na posição de membro eleito, quando participa numa nova eleição, terá melhores possibilidades de vencer. Tem mais vantagens. Já estão nessa posição e já conhecem o funcionamento da Assembleia Legislativa”, afirma. “Um novo candidato não tem essa vantagem. As pessoas reconhecem os nomes, o que não acontece com os novos candidatos. Quando vão votar, fazem-no nas caras que já são mais familiares ou até nos nomes mais familiares. Um novo candidato terá de trabalhar muito mais para conseguir chegar lá”, conclui.
Andreia Sofia Silva PolíticaLei eleitoral | Análise de candidatos não influencia restante lista Caso um candidato às eleições seja chumbado pela Comissão para os Assuntos Eleitorais, a mesma lista pode continuar na corrida, com o líder a ser substituído pelo número dois [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s aditamentos feitos pelo Governo à proposta de revisão da Lei Eleitoral à Assembleia Legislativa (AL) dão uma segunda hipótese às listas candidatas que enfrentem chumbos por parte da Comissão para os Assuntos Eleitorais (CAEAL). Segundo a proposta, caso um candidato seja considerado inelegível para concorrer a um lugar de deputado, por não respeitar a Lei Básica, a RAEM e a República Popular da China (RPC), a lista pode continuar na corrida, mas encabeçada pelo número dois. “A perda do estatuto de candidato não inviabiliza a candidatura da respectiva lista, sendo o seu lugar ocupado segundo a sequência constante da sua declaração de candidatura”, pode ler-se na proposta de lei. A saída da corrida às eleições só acontece caso não haja mais membros disponíveis. “A candidatura é considerada extinta, sem necessidade de deliberação da CAEAL, se não subsistir qualquer candidato na respectiva lista.” Ainda assim, o deputado José Pereira Coutinho não concorda com esta alteração feita pelo Governo. “Não considero correcto que seja a CAEAL a tomar esta decisão, parto desse princípio. Faz parte da Lei Básica eleger e ser eleito”, disse ao HM. A proposta de lei também não clarifica quais as situações em que um candidato poderá deixar de o ser. Os cabeças de lista devem assinar “uma declaração sincera”, “da qual conste que aceita a candidatura, defende a Lei Básica da RAEM da RPC, é fiel à RAEM da RPC e não está abrangido por qualquer inelegibilidade”. Os candidatos que não estão ilegíveis para concorrer às eleições para a AL são “os membros do parlamento ou assembleia legislativa de Estado estrangeiro, de qualquer âmbito, nomeadamente federal, nacional, regional ou municipal” ou ainda os “membros do Governo ou trabalhadores da administração pública de um Estado estrangeiro, de qualquer âmbito, nomeadamente federal, nacional, regional ou municipal”. Estão ainda incluídos todos aqueles que “recusem declarar que defendem a Lei Básica da RAEM da RPC e que são fiéis à RAEM da RPC, ou que, por factos comprovados, não defendem a Lei Básica da RAEM da RPC ou não são fieis à RAEM da RPC.”
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeSexualidade na deficiência | Hong Kong quer debater assunto com Macau A sexualidade vivida pelas pessoas com deficiência é ainda um assunto tabu e é preciso debater o assunto com a sociedade, até para prevenir casos de abusos sexuais. A ideia é defendida pelo Hong Kong Women Christian Council, que pretende trazer a discussão para Macau [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um assunto tabu em quase todo o mundo, e mesmo na Europa, em Portugal, só recentemente começou a ser abordado. Os portadores de deficiência também vivem a sua sexualidade, mas continua a persistir a ideia de que a intimidade é uma área que eles não vivenciam. Foi a pensar nisso que o Hong Kong Women Christian Council promoveu um debate sobre o assunto na região vizinha, mas a ideia é que possam ser estabelecidas ligações com entidades de Macau para discutir este tema no território. “Estamos a planear partilhar a nossa conferência com alguns grupos que tenham interesse na questão ou com organizações de apoio à deficiência em Macau. Também estamos a planear fazer alguma peça de teatro educacional para os portadores de deficiência em Macau”, disse ao HM Little Wing Yick, uma das responsáveis pela organização. A discussão em torno da sexualidade na deficiência começou em 2012, quando o Hong Kong Women Christian Council publicou 12 histórias no livro “O amor não tem deficiência”. Desde então que tem feito também investigação sobre o assunto e sobre casos noutros países. “A sexualidade na deficiência é ainda um grande tabu na sociedade de Hong Kong. Encontrámos alguns casos de deficientes que, no seu dia-a-dia, sofrem abusos sexuais e existe falta de educação sexual para eles. Os subsídios que são concedidos permitem aos portadores de deficiência manterem os seus empregos, viagens, manterem uma casa e serviços médicos, mas não existe nada para as suas necessidades sexuais ou íntimas. Há uma ideia de que o portador de deficiência não deveria ter sexo. Por isso esperamos alertar o público para esta questão dos direitos dos deficientes em relação ao sexo e prevenir os abusos contra estas pessoas”, adiantou Little Wing Yick. Para a responsável, “tudo está relacionado com o problema da indústria em Hong Kong”. “Acreditamos que, quando abordamos a prática de serviços sexuais em relação aos portadores de deficiência, deveríamos aprofundar questões que têm que ver com a lei, direitos humanos e medicação”, disse ainda. Abusos sexuais são realidade Hetzer Siu, presidente da Macau Special Olympics, uma das entidades que representa os portadores de deficiência, fala da existência de casos de abuso sexual que nunca chegam a constituir processos judiciais, por falta de provas. “No passado aconteceu e mesmo hoje em dia há vários casos de abusos sexuais em Macau, porque as pessoas com deficiência mental estão mais vulneráveis, porque mesmo que sejam alvo de abusos não conseguem falar do que se passou. Mesmo que os casos vão parar à polícia, não conseguem encontrar provas porque a vítima não consegue expressar o que aconteceu. Ainda assim não há muitos casos porque Macau é uma sociedade pequena e comunidade irá saber quem abusou de um portador de deficiência. Nesse sentido é vantajoso vivermos numa sociedade pequena”, explicou. Ainda assim, existe o lado bom da medalha: os deficientes que conseguem ter uma vida normal e constituir família. “Há um ponto interessante na sociedade de Macau, porque segundo a tradição chinesa os filhos homens têm de ter filhos e casar, então há muitos pais que tentam encontrar uma esposa para os seus filhos. Tentam arranjar um casamento tradicional para eles. Em relação às mulheres, alguns pais também procuram que as suas filhas encontrem um parceiro, porque pensam que é muito importante constituir uma família.” Hetzer Siu considera que é importante debater o assunto em parceria com Hong Kong, mas alerta para as dificuldades em abordar a realidade dos abusos sexuais. “É necessário apostar na educação sexual para os pais destas pessoas, porque a sexualidade é uma necessidade básica de qualquer ser humano. É preciso que haja mais informação sobre o controlo de doenças sexualmente transmissíveis e também sobre relações sexuais protegidas. Todas as pessoas têm essa necessidade, sobretudo de intimidade, e não me refiro apenas ao sexo. As pessoas com deficiência têm necessidade de estabelecer relações íntimas e não apenas relações sexuais”, rematou o presidente da Macau Special Olympics.
Andreia Sofia Silva PolíticaSubsídio residência | Deputados recebem carta a pedir intervenção do Governo Os deputados da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa receberam uma carta de “um cidadão” a pedir a intervenção do Executivo quanto ao pagamento do subsídio de residência aos antigos funcionários públicos que recebem pensões de Portugal [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aumento do subsídio de residência para os funcionários públicos, o qual será votado na especialidade esta quinta-feira, na Assembleia Legislativa (AL), levou “um cidadão” a apresentar uma carta aos deputados que compõem a 1ª Comissão Permanente da AL. O documento visava pedir intervenção do Executivo quanto ao não pagamento do referido subsídio a quem transferiu as suas reformas para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), aquando da passagem de Macau para a China. A informação consta no parecer da referida comissão. “Na sequência de uma carta enviada a esta Comissão, durante a apreciação da presente proposta de lei, por um cidadão, via e-mail, na qual se aborda a questão do recebimento do subsídio de residência por parte dos indivíduos que, antes do retorno de Macau à pátria, já se tinham aposentado e transferido a responsabilidade do pagamento das suas pensões para a CGA de Portugal, a Comissão entende que a proposta de lei em análise não visa tratar a questão respeitante ao gozo do direito de tal subsídio, mas sim apenas alterar o seu subsídio, pelo que só resta reencaminhar a referida carta ao Governo”, pode ler-se. Tanto a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) como a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) confirmaram ao HM nada ter a ver com este envio, apesar de terem vindo a defender a atribuição do referido subsídio. José Pereira Coutinho, deputado e presidente da ATFPM, continua a referir que o não pagamento do subsídio não faz sentido, apesar do tribunal já ter referido que os pensionistas da CGA não têm esse direito. “Embora tenham transferido as suas pensões para a CGA, não deixaram de contribuir para aquilo que a RAEM é hoje.” Pela globalidade O parecer mostra que os deputados apoiam o aumento do subsídio de residência, o qual vai representar um aumento para os cofres do Governo, já no ano que vem, no valor de 380 milhões de patacas. Foi proposto um aumento de dez pontos no índice para o subsídio de residência, por forma a que os trabalhadores da camada de base tenham direito a um aumento mais significativo. Desta forma, os funcionários públicos abrangidos “vão passar a receber mais 890 patacas, calculadas segundo o valor de 83 patacas por índice, independentemente das suas categorias”. Isso faz com que o aumento para os trabalhadores da camada de base tenha mais expressão. “O subsídio de residência tem um peso significativo nos salários dos trabalhadores da camada de base, por isso essa actualização constitui uma medida mais favorável para esses trabalhadores. De acordo com a explicação do Governo, e segundo o cálculo baseado no valor indiciário de 110 pontos, a taxa de aumento aproxima-se dos 7,79 por cento para os respectivos trabalhadores (da camada de base). Por seu lado, para aqueles que auferem pelo índice 1100, a taxa total de aumento ronda os 3,3 por cento.” Ainda assim, o deputado José Pereira Coutinho lamenta que os subsídios não sejam aumentados na totalidade. “O Governo sistematicamente lida com questões da Função Pública como pasta de dentes. O Governo ao tocar na questão dos subsídios deveria tocar nesse assunto em termos globais. Muitos dos subsídios que foram atribuídos aos trabalhadores da Função Pública não foram revistos há mais de 25 anos a 30 anos. Falo dos subsídios de chefia funcional, de turno, nocturno. Para além de outros, não são revistos e isso não está correcto. O Governo não está a ter em conta nesta revisão a globalidade da questão. Não se deve tratar as questões de uma forma isolada”, disse ao HM.
Andreia Sofia Silva DesportoVitória de Setúbal participa no Torneio de Veteranos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] edição deste ano do Torneio da Soberania, organizado pela Associação dos Veteranos de Macau, conta com a participação da equipa portuguesa de futebol Vitória de Setúbal, a qual vem a Macau, neste âmbito, pela primeira vez. O torneio, que arranca na próxima sexta-feira, irá ainda contar com a presença de uma equipa japonesa. “Temos duas novidades: pela primeira vez vem a equipa do Vitória de Setúbal, e a segunda novidade, a maior, que vem, também pela primeira vez, uma equipa japonesa. Ao longo dos anos nunca decidimos trazer uma equipa do Japão. Este ano o torneio vai ser um pouco mais rico”, contou Francisco Manhão, presidente da associação, ao HM. O presidente espera uma maior adesão por parte das pessoas para um torneio que visa marcar a transferência de soberania do território. “O nosso torneio foi muito divulgado pelas próprias equipas portugueses que participaram nos torneios anteriores. Conhecem tudo e têm mostrado interesse em participar. As equipas japonesas são bastante organizadas e disciplinadas e nesta zona geográfica o futebol japonês tem um nível acima da média. Espero que venha esta equipa para destronar a Coreia do Sul, que tem sido a campeã das últimas edições”, acrescentou ainda. O responsável pela Associação dos Veteranos lamenta que o torneio não tenha uma maior dimensão, dada a total dependência de apoios financeiros. “Claro que não podemos convidar toda a gente. Temos limitações em relação ao número de equipas participantes, e no máximo só podem participar oito equipas. Não podemos ir além disso porque somos uma associação sem fins lucrativos e estamos sempre dependentes dos subsídios do Instituto do Desporto e da Fundação Macau.” Todos os jogos irão decorrer no campo de futebol do Canídromo, na península de Macau.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasTeresa Correia: “Tenho muitas saudades do meu Macau antigo” [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]isou pela primeira vez o território em 1983 e trazia uma missão: organizar, juntamente com outros colegas, o sistema de conservatórias de Macau. Quando Teresa Correia, hoje reformada, foi convidada para vir para o sul da China, aceitou de imediato, quase como que por impulso. “Adelina Sá Carvalho, antiga secretária-adjunta, foi ter à nossa conservatória e pediu funcionários para vir organizar e montar todas as conservatórias em Macau. O meu chefe disse se estava interessada em ir para Macau e na altura estava farta de estar em Portugal, eram greves atrás de greves, já não podia mais com aquele ambiente. Disse logo: “ontem já era tarde”. O meu ex-marido também era funcionário da conservatória dos registos centrais e concordamos em vir com os miúdos.” Aqui estava tudo no início: havia uma conservatória do registo predial, outra comercial e só uma do registo civil. Teresa Correia lembra com saudade os primeiros tempos em que, para fazer o trabalho, teve de andar com um dicionário de português-chinês na mão. “Foi um desafio, sem falar uma ponta de chinês, organizar todos os documentos necessários, andávamos com um dicionário na mão, à procura das coisas. Ao fim de um tempo dissemos que aquilo seria impossível, que tínhamos de ter um tradutor. O que nos valeu é que as pessoas de bastante idade falavam bem português.” Tudo terminou em 1999, com a transição de Macau para a China, mas Teresa Correia já tinha criado laços em Macau. Não queria ir, tentou ficar, mas Rocha Vieira, à altura governador, não deixou. Em Portugal, a antiga funcionária pública voltou ao posto que tinha deixado, mas já nada era o mesmo: “não descansei enquanto não me reformei”. “Macau já é a minha terra, e quando me fui embora nem queria acreditar, porque achei que ficava para sempre. Custou-me muito ir embora, fiz de tudo para cá ficar. Disseram-me erradamente que tinha de ir embora, mas afinal podia ter ficado, como todos os funcionários públicos portugueses.” Falta de higiene Teresa Correia acabou por voltar após a transição e é aqui que se sente em casa. Ainda assim, é do passado que tem saudades. “O meu Macau dos anos 80! Não tem nada a ver. Quando cheguei a Macau detestei, fiz uma ideia de uma coisa que não era.” A residente recorda um período em que não abundava a limpeza das ruas e a recolha do lixo não era algo permanente como é hoje. “Tive amigas minhas que apanharam com sacos do lixo na cabeça. Os cheiros para mim foram o pior. Na zona de São Domingos tive quatro meses para conseguir entrar em algumas ruas. Fazia-se tudo na rua, a comida, a queima da pele do porco, a própria sujidade. Não havia higiene em Macau, não havia caixotes do lixo. Adorei tudo o resto. A Taipa era um descampado, não tinha prédios nenhuns. Coloane não tinha nada.” À época, Teresa Correia sentia-se livre. “Era uma sensação de liberdade, de respirar, não digo ar puro, porque nunca houve. Respirava-se, e sentia-me completamente liberta. Aos poucos e poucos houve uma melhoria enorme na limpeza das ruas.” Quase 17 anos passados desde a transferência de soberania, Teresa Correia vive no seu Macau, mas um território bem diferente daquele que conheceu a primeira vez. “Tenho muitas saudades do meu Macau antigo. Também tenho muitas saudades das amizades que havia, do companheirismo.” E dá exemplos. “Todos os meus colegas macaenses ficavam parvos comigo. Quando entrava num restaurante chinês, quando me sentava à mesa traziam-me sempre um prato com pão, ainda que não comessem pão, só arroz. Hoje já não fazem isso, não há essa preocupação. É disso que tenho saudades. Havia mais comunicações entre os chineses e nós, e hoje não noto tanto isso.” A comunidade portuguesa era bem diferente também. “Éramos muito unidos, e fizemos amizades cá. Havia uma união muito grande, o que não se sente hoje. É raro.”