Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeComércio | Empresários portugueses enfrentam tempos difíceis Com as ruas vazias, os casinos e as lojas fechadas e um silêncio ensurdecedor por todo o território, também os empresários portugueses vivem tempos difíceis devido ao surgimento do coronavírus. Santos Pinto, proprietário do restaurante O Santos, na famosa Rua do Cunha, deixou praticamente de servir refeições e pondera fechar durante uns dias. Célia Ferreira e Manuela Salema lidam com a falta de pessoas e de encomendas [dropcap]E[/dropcap]sta quarta-feira, à hora de almoço, quem entrasse no restaurante O Santos, na famosa e muito movimentada Rua do Cunha, na Taipa, deparava-se com uma cena inédita, observando o proprietário e os seus empregados sentados a olhar para a televisão. Um dos restaurantes portugueses mais conhecidos do território e muito procurado por turistas tem estado praticamente vazio desde que o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, decretou o encerramento dos casinos por um período de duas semanas devido ao novo coronavírus. Santos Pinto é, nesta altura, um homem preocupado, estando a ponderar fechar o seu estabelecimento. “Não perdi um cliente, nem dois, nem três, perdi-os todos praticamente”, contou ao HM. “Na Segunda-feira servi cinco almoços e dois jantares e hoje (Quarta-feira) servi apenas 12 almoços. A rua está vazia, não há animação nenhuma, não há pessoas. Mesmo antes de fecharem os casinos já era mau, e agora pior ficou. Neste momento estou a pensar seriamente o que vou fazer, tenho aqui o meu pessoal a olhar para mim e eu estou a olhar para eles, e acho que vou fazer o mesmo que toda a gente aqui na rua fez.” Se as dificuldades no fornecimento de comida e mercadoria não existem, pois “existe tudo com fartura”, o mesmo não acontece a nível de lucros. “Não perdi 50 por cento do negócio, perdi 90 por cento”, assegura. Santos Pinto, alentejano a viver há décadas em Macau, viveu os tempos da SARS e assegura que esta crise traz uma situação bem mais complicada. “Está a ser pior do que a SARS. Nessa altura, em 2003, eu já estava aqui e muita malta portuguesa vinha aqui, e eu chamava-lhe os solteiros, os divorciados e os mal- casados, pessoas que estavam sós. E não houve o pedido do Governo para as pessoas ficarem em casa e os casinos não fecharam. As coisas são diferentes, bateu no fundo em termos de clientes. Se calhar é melhor fechar e ir para casa descansar e esperar que a crise passe.” Ainda na Taipa, mas na também turística zona da Taipa Velha, encontra-se a Cool-ThingzZ & Portuguese Spot, de Manuela Salema, que vende produtos tipicamente portugueses e que tem os turistas como os principais clientes. Manuela Salema conta ao HM que a crise provocada pelo coronavírus só veio somar-se às crises anteriores com os quais o negócio vinha sofrendo. “Isto tem sido um embate um atrás do outro. A nossa loja abriu em Outubro de 2018 e logo a seguir aconteceu o conflito comercial entre a China e os EUA. A maior parte dos nossos clientes são turistas que passam todos por Hong Kong, cidadãos da Coreia, Japão. Essa foi a nossa primeira batalha, e a segunda foi os conflitos em Hong Kong. Deixámos de ter clientes nessa altura.” “Quando finalmente tudo parecia estar a voltar ao normal acontece-nos isto”, acrescentou Manuela Salema, que se queixa do vazio total à sua volta. “Acarretamos todas as sugestões do Executivo e tentamos não andar nas ruas, mas temos tido a loja semi-abertas. Aproveitamos para fazer limpezas, rever stocks. Mas não entra aqui ninguém.” Portugal devia ajudar Manuela Salema elogia Ho Iat Seng pelo facto de ter decretado que a Administração não irá cobrar renda a comerciantes durante três meses. Mas para aqueles que alugam lojas no mercado privado de imobiliário, a empresária pede uma ajuda do Executivo mais efectiva. “O Chefe do Executivo fez um apelo aos senhorios para procederem da mesma maneira e fazerem um desconto, e o que ele sugere é óptimo porque deu o exemplo, mas vamos envidar todos os esforços para que o nosso senhorio abata a renda da maneira que lhe for mais conveniente.” Em condições normais, já são valores difíceis de suportar, assegura Manuela Salema. “O que salvava a situação era de facto a Administração fazer uns empréstimos a fundo perdido, porque dão-nos a possibilidade de fazermos uns empréstimos, mas temos de devolver o dinheiro e é mais um encargo mensal que vou ter, e não me ajuda.” A fundadora da Cool-ThingzZ & Portuguese Spot deseja também que as autoridades venham a ajudar no transporte de mercadorias entre Portugal e Macau, uma vez que os custos são muito elevados. “O Governo poderia ajudar nos transportes de mercadorias que são caríssimos. São cerâmicas, arte, imensa coisa, divulgamos Portugal e a cultura portuguesa e não há uma ajuda que seja neste sentido.” FOTO: Victor Li Import e Export parado Apenas com um showroom montado num espaço físico, a AlmaViva Portuguese Heritage dedica-se sobretudo ao comércio de importação e exportação de produtos. Célia Ferreira, responsável pela empresa, assegura que está tudo parado neste momento devido ao fecho dos casinos e às medidas de quarentena. “Fechámos na sexta-feira pois não fazia sentido estarmos abertos. Os nossos principais clientes são de Hong Kong, Japão, Coreia, Taiwan, que já não estão a viajar para Macau”, contou ao HM. O panorama de crise começou a fazer-se notar antes do Ano Novo Chinês, algo que piorou depois das medidas adoptadas pelo Executivo. Mas se o presente é difícil, o futuro também se avizinha complicado. “Além deste impacto directo teremos também grandes perdas em relação a negócios de distribuição. Os nossos clientes estão muito receosos e não temos novas encomendas. Temos o nosso negócio do café que também era afectado, pois sem pessoas a consumir os nossos clientes não vendem e nós também não”, frisou Célia Ferreira. Com um showroom aberto há pouco mais de um mês, a crise do coronavírus foi uma espécie de presente envenenado. “Esta mudança implica um investimento e um aumento das despesas também. Iremos muda, mas ninguém consegue prever quanto é que o turismo ficará normalizado. Vendemos produtos gourmet, que não são bens de primeira necessidade, mas mesmo os clientes locais consomem menos, por existir este impasse e por terem receio”, rematou a empresária. O impacto económico da epidemia no mundo O sector de viagens e turismo tem sido prejudicado pela quarentena em dezenas de cidades na China e pela interdição de viagens organizadas de chineses para o estrangeiro para conter a epidemia. Alguns países desaconselham os seus cidadãos a viajarem para a China e outros suspenderam as atividades provenientes do país. Várias companhias aéreas, incluindo a Air France, British Airways, Air Canada, Lufthansa ou Delta, suspenderam os voos para a China continental. Com sede em Hong Kong, a Cathay Pacific pediu a 27.000 funcionários para tirarem três semanas de licença sem vencimento. Os casinos de Macau também encerraram, o mesmo sucedendo com parques da Disney em Xangai e Hong Kong. Em Paris, os efeitos em várias cadeias de lojas habitualmente frequentadas por turistas chineses também são visíveis. A indústria do turismo em Itália teme vir a registar uma perda anual de 4,5 mil milhões de euros, segundo o laboratório de ideias Demoskopika. No sector dos cruzeiros, MSC Cruises, Costa Crociere e Royal Caribbean pediram aos seus navios para não fazerem escalas na China. Da electrónica As fábricas na China do grupo tecnológico com sede em Taiwan Foxconn vão ficar fechadas até meados de Fevereiro e alguns funcionários receberam a indicação de que devem tirar 14 dias suplementares para deixar passar o tempo de incubação do vírus. Os fabricantes de ‘smartphones’, de ecrãs e de computadores que são clientes de componentes da Foxconn correm o risco de virem a ser afectados. A Apple indicou que está a trabalhar em planos para compensar a baixa produção dos seus fornecedores na China. A sul-coreana LG Electronics cancelou a sua participação no Mobile World Congress, um evento sobre o ‘smartphone’ e a Huawei ainda não indicou se vai participar na mostra, que decorre em Barcelona de 24 a 27 de Fevereiro. Da indústria A cidade de Wuhan é uma placa giratória para os grandes construtores automóveis norte-americanos, europeus e asiáticos. A Hyundai Motor indicou que suspendeu toda a sua produção na Coreia do Sul devido às dificuldades no fornecimento de peças provenientes da China. A fabricante de veículos eléctricos Tesla reconheceu que a epidemia pode afectar a produção na sua nova fábrica de Xangai, com potenciais efeitos nos resultados do primeiro trimestre. No domínio da aeronáutica, a Airbus encerrou até nova ordem a sua linha de montagem do modelo A320 em Tianjin, perto de Pequim. O conglomerado francês de equipamentos Safran também suspendeu a produção até 10 de Fevereiro nas várias instalações que tem em território chinês, com 2.500 trabalhadores. Já afectada pela guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, a Caterpillar (máquinas, motores e veículos pesados) manifestou preocupação com um “possível período de incerteza económica mundial” ao longo deste ano. Do consumo A cadeia de cafés Starbucks, para a qual a China constitui o segundo mercado mundial, encerrou temporariamente metade dos 4.000 pontos de venda que tem no país. A McDonald’s indicou recentemente que decidiu fechar “várias centenas” de restaurantes na província de Hubei, cuja capital é Wuhan. Foi indicado que 3.000 outros restaurantes permanecem abertos. Outras cadeias como a Pizza Hut ou KFC também decidiram fechar portas, devido às medidas impostas nas suas parcerias com empresas chinesas. O fabricante de equipamento desportivo Nike, que receia “um forte impacto” nas suas operações na China e Taiwan, encerrou cerca de metade das suas lojas na China e constatou que há uma queda nas vendas das que continuam abertas. Neste panorama sombrio há também quem consiga tirar proveito, como o fabricante de máscaras de protecção 3M.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeComércio | Empresários portugueses enfrentam tempos difíceis Com as ruas vazias, os casinos e as lojas fechadas e um silêncio ensurdecedor por todo o território, também os empresários portugueses vivem tempos difíceis devido ao surgimento do coronavírus. Santos Pinto, proprietário do restaurante O Santos, na famosa Rua do Cunha, deixou praticamente de servir refeições e pondera fechar durante uns dias. Célia Ferreira e Manuela Salema lidam com a falta de pessoas e de encomendas [dropcap]E[/dropcap]sta quarta-feira, à hora de almoço, quem entrasse no restaurante O Santos, na famosa e muito movimentada Rua do Cunha, na Taipa, deparava-se com uma cena inédita, observando o proprietário e os seus empregados sentados a olhar para a televisão. Um dos restaurantes portugueses mais conhecidos do território e muito procurado por turistas tem estado praticamente vazio desde que o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, decretou o encerramento dos casinos por um período de duas semanas devido ao novo coronavírus. Santos Pinto é, nesta altura, um homem preocupado, estando a ponderar fechar o seu estabelecimento. “Não perdi um cliente, nem dois, nem três, perdi-os todos praticamente”, contou ao HM. “Na Segunda-feira servi cinco almoços e dois jantares e hoje (Quarta-feira) servi apenas 12 almoços. A rua está vazia, não há animação nenhuma, não há pessoas. Mesmo antes de fecharem os casinos já era mau, e agora pior ficou. Neste momento estou a pensar seriamente o que vou fazer, tenho aqui o meu pessoal a olhar para mim e eu estou a olhar para eles, e acho que vou fazer o mesmo que toda a gente aqui na rua fez.” Se as dificuldades no fornecimento de comida e mercadoria não existem, pois “existe tudo com fartura”, o mesmo não acontece a nível de lucros. “Não perdi 50 por cento do negócio, perdi 90 por cento”, assegura. Santos Pinto, alentejano a viver há décadas em Macau, viveu os tempos da SARS e assegura que esta crise traz uma situação bem mais complicada. “Está a ser pior do que a SARS. Nessa altura, em 2003, eu já estava aqui e muita malta portuguesa vinha aqui, e eu chamava-lhe os solteiros, os divorciados e os mal- casados, pessoas que estavam sós. E não houve o pedido do Governo para as pessoas ficarem em casa e os casinos não fecharam. As coisas são diferentes, bateu no fundo em termos de clientes. Se calhar é melhor fechar e ir para casa descansar e esperar que a crise passe.” Ainda na Taipa, mas na também turística zona da Taipa Velha, encontra-se a Cool-ThingzZ & Portuguese Spot, de Manuela Salema, que vende produtos tipicamente portugueses e que tem os turistas como os principais clientes. Manuela Salema conta ao HM que a crise provocada pelo coronavírus só veio somar-se às crises anteriores com os quais o negócio vinha sofrendo. “Isto tem sido um embate um atrás do outro. A nossa loja abriu em Outubro de 2018 e logo a seguir aconteceu o conflito comercial entre a China e os EUA. A maior parte dos nossos clientes são turistas que passam todos por Hong Kong, cidadãos da Coreia, Japão. Essa foi a nossa primeira batalha, e a segunda foi os conflitos em Hong Kong. Deixámos de ter clientes nessa altura.” “Quando finalmente tudo parecia estar a voltar ao normal acontece-nos isto”, acrescentou Manuela Salema, que se queixa do vazio total à sua volta. “Acarretamos todas as sugestões do Executivo e tentamos não andar nas ruas, mas temos tido a loja semi-abertas. Aproveitamos para fazer limpezas, rever stocks. Mas não entra aqui ninguém.” Portugal devia ajudar Manuela Salema elogia Ho Iat Seng pelo facto de ter decretado que a Administração não irá cobrar renda a comerciantes durante três meses. Mas para aqueles que alugam lojas no mercado privado de imobiliário, a empresária pede uma ajuda do Executivo mais efectiva. “O Chefe do Executivo fez um apelo aos senhorios para procederem da mesma maneira e fazerem um desconto, e o que ele sugere é óptimo porque deu o exemplo, mas vamos envidar todos os esforços para que o nosso senhorio abata a renda da maneira que lhe for mais conveniente.” Em condições normais, já são valores difíceis de suportar, assegura Manuela Salema. “O que salvava a situação era de facto a Administração fazer uns empréstimos a fundo perdido, porque dão-nos a possibilidade de fazermos uns empréstimos, mas temos de devolver o dinheiro e é mais um encargo mensal que vou ter, e não me ajuda.” A fundadora da Cool-ThingzZ & Portuguese Spot deseja também que as autoridades venham a ajudar no transporte de mercadorias entre Portugal e Macau, uma vez que os custos são muito elevados. “O Governo poderia ajudar nos transportes de mercadorias que são caríssimos. São cerâmicas, arte, imensa coisa, divulgamos Portugal e a cultura portuguesa e não há uma ajuda que seja neste sentido.” FOTO: Victor Li Import e Export parado Apenas com um showroom montado num espaço físico, a AlmaViva Portuguese Heritage dedica-se sobretudo ao comércio de importação e exportação de produtos. Célia Ferreira, responsável pela empresa, assegura que está tudo parado neste momento devido ao fecho dos casinos e às medidas de quarentena. “Fechámos na sexta-feira pois não fazia sentido estarmos abertos. Os nossos principais clientes são de Hong Kong, Japão, Coreia, Taiwan, que já não estão a viajar para Macau”, contou ao HM. O panorama de crise começou a fazer-se notar antes do Ano Novo Chinês, algo que piorou depois das medidas adoptadas pelo Executivo. Mas se o presente é difícil, o futuro também se avizinha complicado. “Além deste impacto directo teremos também grandes perdas em relação a negócios de distribuição. Os nossos clientes estão muito receosos e não temos novas encomendas. Temos o nosso negócio do café que também era afectado, pois sem pessoas a consumir os nossos clientes não vendem e nós também não”, frisou Célia Ferreira. Com um showroom aberto há pouco mais de um mês, a crise do coronavírus foi uma espécie de presente envenenado. “Esta mudança implica um investimento e um aumento das despesas também. Iremos muda, mas ninguém consegue prever quanto é que o turismo ficará normalizado. Vendemos produtos gourmet, que não são bens de primeira necessidade, mas mesmo os clientes locais consomem menos, por existir este impasse e por terem receio”, rematou a empresária. O impacto económico da epidemia no mundo O sector de viagens e turismo tem sido prejudicado pela quarentena em dezenas de cidades na China e pela interdição de viagens organizadas de chineses para o estrangeiro para conter a epidemia. Alguns países desaconselham os seus cidadãos a viajarem para a China e outros suspenderam as atividades provenientes do país. Várias companhias aéreas, incluindo a Air France, British Airways, Air Canada, Lufthansa ou Delta, suspenderam os voos para a China continental. Com sede em Hong Kong, a Cathay Pacific pediu a 27.000 funcionários para tirarem três semanas de licença sem vencimento. Os casinos de Macau também encerraram, o mesmo sucedendo com parques da Disney em Xangai e Hong Kong. Em Paris, os efeitos em várias cadeias de lojas habitualmente frequentadas por turistas chineses também são visíveis. A indústria do turismo em Itália teme vir a registar uma perda anual de 4,5 mil milhões de euros, segundo o laboratório de ideias Demoskopika. No sector dos cruzeiros, MSC Cruises, Costa Crociere e Royal Caribbean pediram aos seus navios para não fazerem escalas na China. Da electrónica As fábricas na China do grupo tecnológico com sede em Taiwan Foxconn vão ficar fechadas até meados de Fevereiro e alguns funcionários receberam a indicação de que devem tirar 14 dias suplementares para deixar passar o tempo de incubação do vírus. Os fabricantes de ‘smartphones’, de ecrãs e de computadores que são clientes de componentes da Foxconn correm o risco de virem a ser afectados. A Apple indicou que está a trabalhar em planos para compensar a baixa produção dos seus fornecedores na China. A sul-coreana LG Electronics cancelou a sua participação no Mobile World Congress, um evento sobre o ‘smartphone’ e a Huawei ainda não indicou se vai participar na mostra, que decorre em Barcelona de 24 a 27 de Fevereiro. Da indústria A cidade de Wuhan é uma placa giratória para os grandes construtores automóveis norte-americanos, europeus e asiáticos. A Hyundai Motor indicou que suspendeu toda a sua produção na Coreia do Sul devido às dificuldades no fornecimento de peças provenientes da China. A fabricante de veículos eléctricos Tesla reconheceu que a epidemia pode afectar a produção na sua nova fábrica de Xangai, com potenciais efeitos nos resultados do primeiro trimestre. No domínio da aeronáutica, a Airbus encerrou até nova ordem a sua linha de montagem do modelo A320 em Tianjin, perto de Pequim. O conglomerado francês de equipamentos Safran também suspendeu a produção até 10 de Fevereiro nas várias instalações que tem em território chinês, com 2.500 trabalhadores. Já afectada pela guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, a Caterpillar (máquinas, motores e veículos pesados) manifestou preocupação com um “possível período de incerteza económica mundial” ao longo deste ano. Do consumo A cadeia de cafés Starbucks, para a qual a China constitui o segundo mercado mundial, encerrou temporariamente metade dos 4.000 pontos de venda que tem no país. A McDonald’s indicou recentemente que decidiu fechar “várias centenas” de restaurantes na província de Hubei, cuja capital é Wuhan. Foi indicado que 3.000 outros restaurantes permanecem abertos. Outras cadeias como a Pizza Hut ou KFC também decidiram fechar portas, devido às medidas impostas nas suas parcerias com empresas chinesas. O fabricante de equipamento desportivo Nike, que receia “um forte impacto” nas suas operações na China e Taiwan, encerrou cerca de metade das suas lojas na China e constatou que há uma queda nas vendas das que continuam abertas. Neste panorama sombrio há também quem consiga tirar proveito, como o fabricante de máscaras de protecção 3M.
Andreia Sofia Silva SociedadeVírus | Estimadas grandes quebras nas receitas do jogo de massas [dropcap]A[/dropcap] decisão do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, de encerrar os casinos por um período de duas semanas pode trazer um período negro ao sector do jogo. Analistas dizem ser cedo para fazer previsões, mas algumas estimativas apontam para perdas de 75 por cento nas receitas de Fevereiro, além do impacto nos ganhos anuais. Ao HM, o economista Albano Martins destaca sobretudo as perdas para a economia e PME. “Tomando o ano passado [como referência], e se tudo se mantivesse constante, esses 15 dias representam uma perda de cerca de 4,7 mil milhões de patacas para os cofres públicos. Para a economia, uma perda de 12 milhões.” Ainda assim, Albano Martins prevê que “o impacto será provavelmente muito maior na economia e no sector público”, uma vez que existe ainda “uma grande incógnita quanto ao tempo de impacto do vírus”. De acordo com o portal informativo GGRAsia, a JP Morgan Securities (Asia Pacific) disse num comunicado emitido esta terça-feira que os custos de operação fixos consomem cerca de 19 por cento das receitas obtidas pelas operadoras de jogo, a maioria relacionadas com os funcionários. DS Kim, Derek Choi e Jeremy An, analistas da JP Morgan, falam de perdas na ordem dos 75 por cento em termos das receitas oriundas do jogo de massas em Fevereiro, e uma perda anual de seis por cento, sem esquecer uma quebra do EBITDA na ordem dos dez por cento. A analista Roth Capital Partners LLC defendeu, também na terça-feira, esperar uma quebra anual de 14 por cento nas receitas, comparando com anos anteriores. “Enquanto existem muitas incertezas no que diz respeito ao coronavírus, antecipamos um declínio das receitas do jogo de massas na ordem dos 31 por cento na primeira metade de 2020”, escreveu o analista David Bain. Ambrose So à espera Ao Hong Kong Economist Journal, Ambrose So, vice-presidente e CEO da SJM, disse que o encerramento dos casinos coincide com um período que seria sempre “calmo”, por ser posterior ao Ano Novo Chinês. O empresário disse também que tudo depende das respostas rápidas que as autoridades de Macau apresentem para a crise de saúde pública. No entanto, a redução das despesas com o fecho dos casinos “não compensa completamente” as receitas perdidas. No caso da analista Sanford C. Bernstein Ltd, espera-se uma recuperação das receitas oriundas das apostas de massas caso surja uma melhoria da situação causada pelo coronavírus. “A questão chave em torno de Macau tem a ver com tempo de restituição da emissão de vistos e o regresso aos valores normais de entrada de turistas. A segunda metade do ano deveria constituir uma grande recuperação (a não ser que a situação médica piore)”, escreveram os analistas Vitaly Umansky, Eunice Lee and Kelsey Zhu.
Andreia Sofia Silva SociedadeVírus | Estimadas grandes quebras nas receitas do jogo de massas [dropcap]A[/dropcap] decisão do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, de encerrar os casinos por um período de duas semanas pode trazer um período negro ao sector do jogo. Analistas dizem ser cedo para fazer previsões, mas algumas estimativas apontam para perdas de 75 por cento nas receitas de Fevereiro, além do impacto nos ganhos anuais. Ao HM, o economista Albano Martins destaca sobretudo as perdas para a economia e PME. “Tomando o ano passado [como referência], e se tudo se mantivesse constante, esses 15 dias representam uma perda de cerca de 4,7 mil milhões de patacas para os cofres públicos. Para a economia, uma perda de 12 milhões.” Ainda assim, Albano Martins prevê que “o impacto será provavelmente muito maior na economia e no sector público”, uma vez que existe ainda “uma grande incógnita quanto ao tempo de impacto do vírus”. De acordo com o portal informativo GGRAsia, a JP Morgan Securities (Asia Pacific) disse num comunicado emitido esta terça-feira que os custos de operação fixos consomem cerca de 19 por cento das receitas obtidas pelas operadoras de jogo, a maioria relacionadas com os funcionários. DS Kim, Derek Choi e Jeremy An, analistas da JP Morgan, falam de perdas na ordem dos 75 por cento em termos das receitas oriundas do jogo de massas em Fevereiro, e uma perda anual de seis por cento, sem esquecer uma quebra do EBITDA na ordem dos dez por cento. A analista Roth Capital Partners LLC defendeu, também na terça-feira, esperar uma quebra anual de 14 por cento nas receitas, comparando com anos anteriores. “Enquanto existem muitas incertezas no que diz respeito ao coronavírus, antecipamos um declínio das receitas do jogo de massas na ordem dos 31 por cento na primeira metade de 2020”, escreveu o analista David Bain. Ambrose So à espera Ao Hong Kong Economist Journal, Ambrose So, vice-presidente e CEO da SJM, disse que o encerramento dos casinos coincide com um período que seria sempre “calmo”, por ser posterior ao Ano Novo Chinês. O empresário disse também que tudo depende das respostas rápidas que as autoridades de Macau apresentem para a crise de saúde pública. No entanto, a redução das despesas com o fecho dos casinos “não compensa completamente” as receitas perdidas. No caso da analista Sanford C. Bernstein Ltd, espera-se uma recuperação das receitas oriundas das apostas de massas caso surja uma melhoria da situação causada pelo coronavírus. “A questão chave em torno de Macau tem a ver com tempo de restituição da emissão de vistos e o regresso aos valores normais de entrada de turistas. A segunda metade do ano deveria constituir uma grande recuperação (a não ser que a situação médica piore)”, escreveram os analistas Vitaly Umansky, Eunice Lee and Kelsey Zhu.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeShun Tak | Apenas 43 trabalhadores concordaram com redução de salários Wong Yu Loy, membro da Confederação dos Sindicatos de Hong Kong, confirma que apenas 43 trabalhadores, num universo de 800, assinaram a proposta de redução salarial apresentada pela Shun Tak. Contudo, a empresa ainda não terá posto em prática os cortes salariais [dropcap]A[/dropcap] proposta de redução salarial proposta pela Shun Tak foi assinada por uma minoria de trabalhadores, mas, ainda assim, a empresa de Pansy Ho não terá ainda avançado para a implementação efectiva dos cortes salariais. A informação foi adiantada ao HM por Wong Yu Loy, membro da Confederação dos Sindicatos de Hong Kong (HKCTU, na sigla inglesa), que tem lidado directamente com este caso. “Apenas 43 assinaram [a proposta] de um total de 800”, disse. “Contactei com os trabalhadores da Shun Tak. Do que sei, a empresa organizou sessões de esclarecimento para os trabalhadores e falou com dois sindicatos. Eles pediram a cada trabalhador para assinar um documento a dar o seu consentimento [para a redução salarial], mas não um acordo colectivo de negociação com o sindicato.” Wong Yu Loy disse que ainda não há acordo, não concordando com o que está em cima da mesa. “A proposta não é razoável porque foi anunciada de forma unilateral pela empresa, sem qualquer discussão prévia com o sindicato.” Além do HKCTU, que possui cerca de 200 mil membros, também a Federação dos Sindicatos de Hong Kong, uma organização pró-Pequim, tem estado a lidar com este caso. Até ao fecho desta edição, o HM não conseguiu obter qualquer esclarecimento adicional por parte da Shun Tak ou da própria Federação no sentido de perceber quando é que os cortes salariais serão implementados. E a lei sindical? Numa resposta recente enviada ao HM, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) disse estar a acompanhar a situação dos trabalhadores. “Até ao momento a DSAL não recebeu notificações sobre queixas relacionadas com o acordo entre as partes para reduzir os salários. Caso sejam detectadas situações ilegais, a DSAL irá acompanhar o caso de acordo com a lei a fim de proteger os direitos legítimos dos trabalhadores.” Uma vez que Macau não tem sindicatos nem uma lei sindical, o HM questionou o jurista António Katchi no intuito de perceber se os trabalhadores de Macau da Shun Tak ficarão em pé de igualdade com os seus colegas de Hong Kong no que diz respeito à garantia dos seus direitos. Este defendeu que “para evitar uma redução salarial, o melhor será naturalmente os trabalhadores da Shun Tak que sejam residentes de Macau contactarem e concertarem-se com os seus colegas de Hong Kong e, como último recurso, convocarem e realizarem uma greve conjunta”. “Nada na ordem jurídica de Macau os impede de se associarem ou de elegerem representantes, nem tão-pouco de fazerem greve. É certo que não há lei regulamentadora desses direitos, mas, do ponto de vista estritamente jurídico, estes podem ser exercidos mesmo assim, porquanto a norma constante do artigo 27.º da Lei Básica é uma norma auto-exequível”, acrescentou Katchi. Além disso, o jurista recorda a alteração legislativa, levada a cabo em 2008, que permitiu a implementação de cortes salariais desta forma. “Com a lei laboral anterior, a redução de salários só era possível mediante autorização da DSAL, além do acordo entre empregadores e trabalhadores. A nova lei do trabalho, proposta pelo Governo de Edmund Ho deixou de exigir essa autorização administrativa.” “Recordo que esta lei do trabalho, globalmente pior para os trabalhadores do que a lei anterior (um decreto-lei de 1989), foi então apoiada pela Federação das Associações dos Operários de Macau e aprovada com os votos favoráveis dos seus deputados”, rematou António Katchi.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeShun Tak | Apenas 43 trabalhadores concordaram com redução de salários Wong Yu Loy, membro da Confederação dos Sindicatos de Hong Kong, confirma que apenas 43 trabalhadores, num universo de 800, assinaram a proposta de redução salarial apresentada pela Shun Tak. Contudo, a empresa ainda não terá posto em prática os cortes salariais [dropcap]A[/dropcap] proposta de redução salarial proposta pela Shun Tak foi assinada por uma minoria de trabalhadores, mas, ainda assim, a empresa de Pansy Ho não terá ainda avançado para a implementação efectiva dos cortes salariais. A informação foi adiantada ao HM por Wong Yu Loy, membro da Confederação dos Sindicatos de Hong Kong (HKCTU, na sigla inglesa), que tem lidado directamente com este caso. “Apenas 43 assinaram [a proposta] de um total de 800”, disse. “Contactei com os trabalhadores da Shun Tak. Do que sei, a empresa organizou sessões de esclarecimento para os trabalhadores e falou com dois sindicatos. Eles pediram a cada trabalhador para assinar um documento a dar o seu consentimento [para a redução salarial], mas não um acordo colectivo de negociação com o sindicato.” Wong Yu Loy disse que ainda não há acordo, não concordando com o que está em cima da mesa. “A proposta não é razoável porque foi anunciada de forma unilateral pela empresa, sem qualquer discussão prévia com o sindicato.” Além do HKCTU, que possui cerca de 200 mil membros, também a Federação dos Sindicatos de Hong Kong, uma organização pró-Pequim, tem estado a lidar com este caso. Até ao fecho desta edição, o HM não conseguiu obter qualquer esclarecimento adicional por parte da Shun Tak ou da própria Federação no sentido de perceber quando é que os cortes salariais serão implementados. E a lei sindical? Numa resposta recente enviada ao HM, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) disse estar a acompanhar a situação dos trabalhadores. “Até ao momento a DSAL não recebeu notificações sobre queixas relacionadas com o acordo entre as partes para reduzir os salários. Caso sejam detectadas situações ilegais, a DSAL irá acompanhar o caso de acordo com a lei a fim de proteger os direitos legítimos dos trabalhadores.” Uma vez que Macau não tem sindicatos nem uma lei sindical, o HM questionou o jurista António Katchi no intuito de perceber se os trabalhadores de Macau da Shun Tak ficarão em pé de igualdade com os seus colegas de Hong Kong no que diz respeito à garantia dos seus direitos. Este defendeu que “para evitar uma redução salarial, o melhor será naturalmente os trabalhadores da Shun Tak que sejam residentes de Macau contactarem e concertarem-se com os seus colegas de Hong Kong e, como último recurso, convocarem e realizarem uma greve conjunta”. “Nada na ordem jurídica de Macau os impede de se associarem ou de elegerem representantes, nem tão-pouco de fazerem greve. É certo que não há lei regulamentadora desses direitos, mas, do ponto de vista estritamente jurídico, estes podem ser exercidos mesmo assim, porquanto a norma constante do artigo 27.º da Lei Básica é uma norma auto-exequível”, acrescentou Katchi. Além disso, o jurista recorda a alteração legislativa, levada a cabo em 2008, que permitiu a implementação de cortes salariais desta forma. “Com a lei laboral anterior, a redução de salários só era possível mediante autorização da DSAL, além do acordo entre empregadores e trabalhadores. A nova lei do trabalho, proposta pelo Governo de Edmund Ho deixou de exigir essa autorização administrativa.” “Recordo que esta lei do trabalho, globalmente pior para os trabalhadores do que a lei anterior (um decreto-lei de 1989), foi então apoiada pela Federação das Associações dos Operários de Macau e aprovada com os votos favoráveis dos seus deputados”, rematou António Katchi.
Andreia Sofia Silva VozesAs lições do Hato [dropcap]A[/dropcap] passagem do tufão Hato por Macau deu-nos uma série de lições já muito analisadas, mas deixou também um sentimento de histeria colectiva de cada vez que há uma crise do género, seja uma tempestade tropical ou uma epidemia. Desta vez Macau já conta com dez casos de infecção pelo novo coronavírus e, com a decisão de encerrar os casinos por duas semanas, a população correu de imediato aos supermercados, tal não é o pânico de que o mundo termine amanhã e acabe o fornecimento de bens essenciais. Esta histeria colectiva que se traduz na corrida aos supermercados em nada ajuda a manter a calma e, até certo ponto, não se justifica. Talvez não fosse má ideia as autoridades decretarem uma série de medidas para evitar que as pessoas esvaziem as prateleiras dos supermercados sem necessidade. Aguardemos pelo desenrolar dos acontecimentos, que todos os dias ganham novos episódios algo preocupantes. Mesmo com a existência de dez casos no território e com a suspensão temporária das ligações de ferry, o alarmismo não é bom conselheiro. Cabe ao Governo de Macau tentar travar esta histeria colectiva com medidas que não passem apenas pela emissão de comunicados oficiais.
Andreia Sofia Silva EntrevistaJoão Marques da Cruz: “As autoridades chinesas estão a fazer um trabalho notável” O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC) olha para o desenrolar dos acontecimentos relacionados com o coronavírus com tranquilidade e deposita total confiança no trabalho feito pelas autoridades da China e de Macau. No que diz respeito ao território, João Marques da Cruz defende que não deve existir uma reacção excessiva e aponta para a necessidade de medidas de apoio às Pequenas e Médias Empresas. O responsável diz não compreender a decisão de Carrie Lam de suspender as ligações marítimas entre as duas regiões administrativas especiais [dropcap]A[/dropcap] crise gerada pelo coronavírus apanhou todos de surpresa. Quais são as directrizes que estão a ser seguidas para empresários de Portugal e China? É evidente que este coronavírus apanhou toda a gente de surpresa. Neste momento importa dar duas notas: a primeira é que as autoridades chinesas estão a fazer um trabalho notável de contenção que todo o mundo elogia, começando pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Aquele esforço logístico impressionante, com a construção de um hospital em 10 dias, de abastecimento de cidades que estão de quarentena e que têm 60 milhões de habitantes. Tudo isso é muito relevante e acho que devemos assinalar. Também as declarações da OMS têm sido muito equilibradas, evitando os excessos. Tem de haver um equilíbrio. Sem dúvida que têm de se tomar medidas, mas as medidas não podem ser propiciadoras de isolacionismo, que é sempre mau conselheiro. Temos de ter sempre os pés assentes na terra. Concorda então que a OMS tenha demorado a definir o coronavírus como uma epidemia global. Sim, penso que foram muito ponderados. Acho que, aliás, no actual contexto, a OMS representa uma mistura de serenidade e conhecimento técnico. Mas no que diz respeito às relações Portugal-China, do ponto de vista comercial, as exportações portuguesas para a China são à volta de 600 e 700 milhões de euros. Grosso modo, considerando que as exportações portuguesas para o mundo são 60 mil milhões de euros, nós estamos a falar de 1 por cento. Todas as exportações portuguesas para a China são 1 por cento das exportações portuguesas. Este número relativiza a questão. 600 milhões são 600 milhões, mas é só 1 por cento. O que espero que aconteça é business as usual. Aconteceu o que aconteceu, há casos na província de Hubei, mas importa continuar a funcionar normalmente. A fim de manter essa normalidade, a Câmara de Comércio tem reunido com empresários, têm chegado alguns pedidos de informação? O maior pedido que tem chegado da parte de empresas nossas associadas e que têm negócios na China tem a ver com a necessidade de ajuda no fornecimento de máscaras e outros materiais, e é algo que estamos a fazer. Já identificámos identidades portuguesas que podem prestar essa ajuda aos associados e a empresas portuguesas e chinesas que têm uma relação com Portugal. Mas muita gente coloca dúvidas sobre o que irá acontecer em eventos que são daqui a três meses, e a minha resposta é que seguramente vai acontecer tudo normalmente, porque esta crise vai ser controlada a muito curto prazo, espero. Tudo o que acontece no mês de Fevereiro foi desmarcado. Eu deveria ir na próxima semana a Hong Kong, Macau e Pequim, e obviamente que não vou. Mas a CCILC tem uma delegação em Macau e está muito activa em todos os momentos na promoção das relações comerciais e de investimento entre a China e Portugal. Normalmente falamos de questões económicas apenas, mas neste momento queremos estar activos e solidários nesta questão. Tenho confiança nas autoridades da China e de Macau de que estão a fazer tudo o que é possível para debelar a crise. Tudo o que seja de criticar fica para outra altura. Não deve ser feito agora. Enfrentamos tempos difíceis no comércio mundial, tendo em conta que este novo coronavírus surge depois de uma guerra comercial. Há que separar os dois assuntos. Foi importante as autoridades chinesas darem toda a informação. A China hoje é diferente da China de 2002/2003. Foi em Novembro de 2002 que começou a SARS, que durou nove meses, com aproximadamente oito mil infectados e uma mortalidade muito significativa. Mas independentemente destas distinções, na altura a China demorou algum tempo, demasiado, a reagir. E neste momento foi muito rápida, houve transparência, actualizações contínuas. Diria que temos de estar todos do lado das autoridades chinesas para lidar com esta crise. Vejo os dados actualizados, vejo um evidenciar de que há um problema. É verdade que há casos em todas as províncias, mas o número de mortes noutras províncias chinesas que não Hubei é muito residual. Há várias províncias que têm zero mortes. Há pouco tempo houve o primeiro morto em Pequim, o que mostra que é algo que está muito concentrado e isso resulta do esforço de contenção. Mas falou do problema das trocas comerciais. Espero e desejo que neste momento não haja a menor mistura dos dois assuntos. No caso de Macau, por ser um território mais pequeno, com uma economia mais dependente do jogo, pode vir a sofrer maiores consequências com esta epidemia? É evidente que sendo uma economia baseada no turismo, onde o jogo é o grande atractivo, uma epidemia é a pior coisa que pode acontecer. Obviamente que a economia de Macau vai sofrer e para Macau o que é importante é que esta fase de contenção do vírus tenha sucesso e passe o mais rápido possível. O que será muito mau para a economia de Macau, e espero que não aconteça, até porque não há nenhum sinal nesse sentido, era se houvesse um desenvolvimento não contido do vírus. Houve voos cancelados entre as Filipinas e Macau, está a acontecer algum excesso. Isto porque, quer em Macau quer em Hong Kong, a população que não está afectada pelo vírus é um número de 99,999 por cento. Há que ter um ponto de equilíbrio. Mas é um território densamente povoado e de pequena dimensão, e já existem dez casos confirmados. Vivi em Macau e tive H1N1, fui tratado lá. Macau tem boa capacidade de resposta a estas situações e falo com experiência própria. Acho que não é do interesse de Macau uma reacção excessiva, é mau para todos e para Macau é péssimo. Mas quando fala de reacção excessiva, refere-se a que tipo de medidas? Tenho dificuldade de entender que haja cancelamento de voos entre regiões que não têm casos ou têm casos marginais, para Macau. E a decisão da Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, de suspender as ligações de ferry, também foi exagerada? Com a indicação que eu tenho neste momento, não consigo entender. Não sei se a motivação é para evitar que os 20 e poucos casos que há em Hong Kong, numa população de sete milhões, que se espalhe para Macau, ou da dezena de casos de Macau de ir para Hong Kong. Mas qualquer que seja o movimento acho que há um exagero. Todas essas medidas criam o factor medo, e quando isso entra na cabeça das pessoas, até de forma irracional, apesar de o vírus poder estar totalmente controlado, o factor medo persiste. E tirar da cabeça das pessoas esse medo demora muito mais. Não tenho os dados que estão por detrás dessa decisão do Governo de Hong Kong, mas com a informação que eu tenho, não a entendo. Como tem sido o contacto com as autoridades de Macau no que diz respeito às PME locais e portuguesas? Há também esse sentimento de medo? É importante criar medidas a curto prazo que aliviem essas empresas, nomeadamente no alívio de tesouraria das PME, que sofreram imenso com a ausência de clientes. Sei que o Governo está a tomar medidas concretas nesse sentido. Acredita que depois desta epidemia a China pode mudar a sua postura relativamente ao comércio de animais vivos? Sim, acredito que depois de resolvida esta questão que as autoridades chinesas vão rever [as regras], sobretudo quando estamos a falar de animais vivos selvagens. Mas isto não é a primeira vez que acontece e penso que é justo dizer que o conhecimento científico leva-nos a achar que a razão destes surtos tem que ver com esta promiscuidade que existe entre animais vivos e pessoas.
Andreia Sofia Silva PolíticaEpidemia | Deputada Wong Kit Cheng apela a compras “racionais” [dropcap]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng emitiu ontem um comunicado em que apela à racionalidade da população na hora de fazer compras. “Devemos comprar de forma racional produtos alimentares para evitar reacções em cadeia e o pânico generalizado.” No que diz respeito ao encerramento temporário dos casinos, a deputada defende que, com a consequente redução do fluxo de pessoas nos transportes públicos e o menor congestionamento nas ruas, o risco de contágio será reduzido.
Andreia Sofia Silva PolíticaEpidemia | Deputada Wong Kit Cheng apela a compras “racionais” [dropcap]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng emitiu ontem um comunicado em que apela à racionalidade da população na hora de fazer compras. “Devemos comprar de forma racional produtos alimentares para evitar reacções em cadeia e o pânico generalizado.” No que diz respeito ao encerramento temporário dos casinos, a deputada defende que, com a consequente redução do fluxo de pessoas nos transportes públicos e o menor congestionamento nas ruas, o risco de contágio será reduzido.
Andreia Sofia Silva PolíticaEpidemia | Sulu Sou defende mais medidas de prevenção [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou reagiu ontem na sua página de Facebook à decisão do Governo de encerrar todos os casinos do território durante duas semanas. Para o tribuno, esta é uma decisão “acertada”, embora o Governo “devesse ter em conta opções para controlar o fluxo de pessoas, sem encerrar por completo as fronteiras”. Neste sentido, o deputado defende a proibição de entrada de não residentes que estiveram na China durante algum tempo, sem esquecer uma “observação separada dos residentes da China e dos expatriados”. Além disso, Sulu Sou também deseja ver assegurado um “racionamento especial” de bens essenciais, vacinas e outro material de higiene, produtos que têm vindo a esgotar em supermercados e farmácias.
Andreia Sofia Silva PolíticaEpidemia | Sulu Sou defende mais medidas de prevenção [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou reagiu ontem na sua página de Facebook à decisão do Governo de encerrar todos os casinos do território durante duas semanas. Para o tribuno, esta é uma decisão “acertada”, embora o Governo “devesse ter em conta opções para controlar o fluxo de pessoas, sem encerrar por completo as fronteiras”. Neste sentido, o deputado defende a proibição de entrada de não residentes que estiveram na China durante algum tempo, sem esquecer uma “observação separada dos residentes da China e dos expatriados”. Além disso, Sulu Sou também deseja ver assegurado um “racionamento especial” de bens essenciais, vacinas e outro material de higiene, produtos que têm vindo a esgotar em supermercados e farmácias.
Andreia Sofia Silva PolíticaSuspensão dos ferries | Carrie Lam “foi pressionada pela opinião pública”, diz Larry So O analista político Larry So acredita que a Chefe do Executivo de Hong Kong não teve alternativa senão suspender as ligações marítimas entre o território e Macau dado o sentimento de insegurança que a população vive. Já Eric Sautedé assegura que se poupam recursos e que a suspensão das viagens de barco não deve dissociar-se da crise laboral vivida na Shun Tak [dropcap]A[/dropcap] decisão de suspender temporariamente as ligações marítimas entre Hong Kong e Macau, por parte da Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, ocorreu devido à pressão da opinião pública, defendeu ao HM o analista político Larry So. “Não acho que Carrie Lam quisesse verdadeiramente suspender as ligações de ferry entre Macau e Hong Kong. Mas ela tem sido pressionada pela opinião pública e pela comunidade médica. Psicologicamente as pessoas de Hong Kong não se sentem seguras, uma vez que não há máscaras suficientes e defendem que o Governo não tem feito o suficiente para fechar as fronteiras.” Além disso, Larry So nota que há cada vez menos pessoas a viajar entre os dois territórios de barco, apesar de a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau continuar aberta ao trânsito. “De facto não há muitas pessoas a usar os ferries, falamos de 500 pessoas que usaram o ferry este domingo. Muitos dos casos que ocorreram em Hong Kong surgem em pessoas que estiveram em Hubei ou Wuhan e as pessoas estão a pressionar para o fecho das fronteiras”. Médicos e enfermeiros de Hong Kong ameaçaram fazer uma greve de cinco dias em prol do fecho total das fronteiras, mas Carrie Lam negou que esse factor tenha estado na origem da suspensão das viagens de barco. “Não tem absolutamente nada a ver com a greve”, garantiu a Chefe do Executivo, explicando tratar-se apenas de uma medida para conter a propagação do vírus. A situação da Shun Tak A suspensão temporária das viagens de ferry apanhou todos de surpresa, incluindo o próprio Governo de Macau. Desde a meia noite desta terça-feira que não há viagens de barco, tendo sido feita a promessa de reembolso de todos os bilhetes já adquiridos. Para o analista político Eric Sautedé, actualmente a residir em Hong Kong, esta suspensão não pode estar dissociada da actual crise laboral que se vive na TurboJet, do grupo Shun Tak, a principal concessionária que assegura as viagens de ferry entre Hong Kong e Macau. Recorde-se que a Shun Tak avançou com uma proposta de cortes salariais, que ainda está a ser negociada com os trabalhadores. “Pansy Ho [presidente do grupo Shun Tak] fez um bom trabalho a defender o Governo de Hong Kong, então há uma razão para ‘punir’ Macau. Sejamos práticos: o número de viagens de ferry tem vindo a diminuir desde a abertura da ponte e isso dá à TurboJet uma boa desculpa para saquear alguns trabalhadores ou colocá-los em outras funções.” Além disso, para Eric Sautedé a suspensão das ligações marítimas permite uma poupança nos recursos humanos. “Estão a pensar primeiro em Hong Kong. Porquê manter tantas ligações com Macau? As pessoas de Hong Kong não irão para lá e a população de Macau pode sempre usar a ponte. Porquê mobilizar recursos, incluindo pessoal médico, polícias e funcionários da alfândega para fazer mais um trabalho de inspecção de pessoas que entram em Hong Kong?”, questionou. As autoridades de Hong Kong decidiram fechar, desde as 00:00 horas desta terça-feira, quase todas as fronteiras terrestres e marítimas para o Continente para impedir a propagação do novo coronavírus. Apenas dois postos de controlo de fronteira, a Baía de Shenzhen e a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, vão continuar abertos. Para Larry So, o fecho total das fronteiras está fora de questão, por razões políticas. “Fechar todas as fronteiras dará a imagem internacional de que a situação em Hong Kong está fora de controlo, daí manterem-se também algumas ligações aéreas. [Além disso], pode dar a ideia de que Hong Kong é um território independente, que não é, pois está dependente do Governo Central no que diz respeito ao poder administrativo. Desta forma, as fronteiras mantêm-se abertas, mas não na totalidade. Carrie Lam tem de observar estas regras e regulamentos decretados pelo Governo Central”, concluiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaSuspensão dos ferries | Carrie Lam "foi pressionada pela opinião pública", diz Larry So O analista político Larry So acredita que a Chefe do Executivo de Hong Kong não teve alternativa senão suspender as ligações marítimas entre o território e Macau dado o sentimento de insegurança que a população vive. Já Eric Sautedé assegura que se poupam recursos e que a suspensão das viagens de barco não deve dissociar-se da crise laboral vivida na Shun Tak [dropcap]A[/dropcap] decisão de suspender temporariamente as ligações marítimas entre Hong Kong e Macau, por parte da Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, ocorreu devido à pressão da opinião pública, defendeu ao HM o analista político Larry So. “Não acho que Carrie Lam quisesse verdadeiramente suspender as ligações de ferry entre Macau e Hong Kong. Mas ela tem sido pressionada pela opinião pública e pela comunidade médica. Psicologicamente as pessoas de Hong Kong não se sentem seguras, uma vez que não há máscaras suficientes e defendem que o Governo não tem feito o suficiente para fechar as fronteiras.” Além disso, Larry So nota que há cada vez menos pessoas a viajar entre os dois territórios de barco, apesar de a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau continuar aberta ao trânsito. “De facto não há muitas pessoas a usar os ferries, falamos de 500 pessoas que usaram o ferry este domingo. Muitos dos casos que ocorreram em Hong Kong surgem em pessoas que estiveram em Hubei ou Wuhan e as pessoas estão a pressionar para o fecho das fronteiras”. Médicos e enfermeiros de Hong Kong ameaçaram fazer uma greve de cinco dias em prol do fecho total das fronteiras, mas Carrie Lam negou que esse factor tenha estado na origem da suspensão das viagens de barco. “Não tem absolutamente nada a ver com a greve”, garantiu a Chefe do Executivo, explicando tratar-se apenas de uma medida para conter a propagação do vírus. A situação da Shun Tak A suspensão temporária das viagens de ferry apanhou todos de surpresa, incluindo o próprio Governo de Macau. Desde a meia noite desta terça-feira que não há viagens de barco, tendo sido feita a promessa de reembolso de todos os bilhetes já adquiridos. Para o analista político Eric Sautedé, actualmente a residir em Hong Kong, esta suspensão não pode estar dissociada da actual crise laboral que se vive na TurboJet, do grupo Shun Tak, a principal concessionária que assegura as viagens de ferry entre Hong Kong e Macau. Recorde-se que a Shun Tak avançou com uma proposta de cortes salariais, que ainda está a ser negociada com os trabalhadores. “Pansy Ho [presidente do grupo Shun Tak] fez um bom trabalho a defender o Governo de Hong Kong, então há uma razão para ‘punir’ Macau. Sejamos práticos: o número de viagens de ferry tem vindo a diminuir desde a abertura da ponte e isso dá à TurboJet uma boa desculpa para saquear alguns trabalhadores ou colocá-los em outras funções.” Além disso, para Eric Sautedé a suspensão das ligações marítimas permite uma poupança nos recursos humanos. “Estão a pensar primeiro em Hong Kong. Porquê manter tantas ligações com Macau? As pessoas de Hong Kong não irão para lá e a população de Macau pode sempre usar a ponte. Porquê mobilizar recursos, incluindo pessoal médico, polícias e funcionários da alfândega para fazer mais um trabalho de inspecção de pessoas que entram em Hong Kong?”, questionou. As autoridades de Hong Kong decidiram fechar, desde as 00:00 horas desta terça-feira, quase todas as fronteiras terrestres e marítimas para o Continente para impedir a propagação do novo coronavírus. Apenas dois postos de controlo de fronteira, a Baía de Shenzhen e a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, vão continuar abertos. Para Larry So, o fecho total das fronteiras está fora de questão, por razões políticas. “Fechar todas as fronteiras dará a imagem internacional de que a situação em Hong Kong está fora de controlo, daí manterem-se também algumas ligações aéreas. [Além disso], pode dar a ideia de que Hong Kong é um território independente, que não é, pois está dependente do Governo Central no que diz respeito ao poder administrativo. Desta forma, as fronteiras mantêm-se abertas, mas não na totalidade. Carrie Lam tem de observar estas regras e regulamentos decretados pelo Governo Central”, concluiu.
Andreia Sofia Silva EntrevistaPaolo Longo, jornalista e fotógrafo: “Chineses adoram Xi Jinping” Com a exposição de fotografia “O Caminho Chinês”, patente no Museu do Oriente, em Lisboa, Paolo Longo revela a percepção da população chinesa face às enormes mudanças do país. O HM conversou com o fotógrafo e ex-correspondente do canal italiano RAI na China sobre a aprendizagem que os chineses tiveram de fazer de si mesmo como indivíduos e as diferenças entre os dois líderes que conheceu, Hu Jintao e Xi Jinping [dropcap]C[/dropcap]omecemos pela exposição. Que histórias sobre a China contam estas fotografias? Vivi na China entre 2004 e 2015, um momento muito importante e especial, porque quando cheguei a China era uma região de poder, mas quando saí já era uma região de super poder. Tudo aconteceu neste período, como os Jogos Olímpicos (JO) e a Expo de Xangai. Cheguei com uma ideia geral do que estava a acontecer e estive antes três meses em Nova Iorque a estudar um pouco a China e os chineses. Foi muito interessante tentar compreender como é que a população estava a reagir a tudo o que estava a acontecer à sua volta. A China estava a mudar tão depressa que as pessoas pareciam, muitas das vezes, confusas com o que estava a acontecer. Eu próprio também estava bastante confuso. Como estava a trabalhar para televisão viajava bastante pelo país e fiquei com uma boa impressão das coisas. A exposição conta a história de como vi as pessoas a cooperar com essa revolução que estava a acontecer nas suas vidas. Entre 1949 e a morte de Mao Zedong os chineses não eram indivíduos, mas sim massas. Não estavam autorizados a pensar nas suas vidas pessoais, tinham de pensar no colectivo. De repente estavam autorizados a ser pessoas e eu comecei a tirar fotografias disso, a olhar para elas. A exposição é o resultado de muitas reportagens diferentes por todo o país, milhares de fotografias. O nome da exposição, “O Caminho Chinês”, é uma frase do poeta Lu Xun. Porque escolheu esse título? Lu Xun disse que a esperança é como um caminho no campo, e no início o caminho não está sequer traçado, até que alguém começou a andar. Uma pessoa, duas pessoas, três e o caminho está feito. A ideia da exposição é que na China surgiram vários novos caminhos porque todos estavam a criar os seus. Acredita que hoje as pessoas estão mais capacitadas a pensar por si próprias? Claro que sim. Há um retrato que não usei na exposição, que nunca usei. Chama-se “O Grande Eu” e é numa avenida em Pequim, o epicentro do consumo chinês. Eles descobriram a ideia do “eu” e agora sabem ser eles próprios. Para todas as pessoas é difícil porque têm de voltar atrás muitas vezes, mas para os jovens é diferente, é essa a realidade. Notou muitas diferenças de percepção entre as pessoas do campo e da cidade, por exemplo, face a todos os acontecimentos do país? As fotografias revelam isso? Sim. Na China há as cidades de primeiro nível, como Pequim, Xangai, Shenzhen, e cidades de segundo nível. Vemos as diferenças, até na maneira de vestir das pessoas. Havia ainda muitas bicicletas e pequenas motorizadas que não vemos em Pequim. Depois há as cidades de terceiro nível, mas que têm dois milhões de habitantes. No campo vivem anos e anos atrás em termos de desenvolvimento. Li algo num livro onde o autor chamava a estes lugares “aldeias do cancro”, pois em todas as famílias havia alguém com cancro. Fui ver de perto porque é que isso acontecia. No início, como jornalista, tinha de pedir autorização para viajar e trabalhar em todo o lado, tinha sete documentos diferentes. Mas quando cheguei a uma aldeia encontrei o líder da comunidade sentado no seu carro a bloquear a entrada, e a dizer-me que eu não podia entrar. Entrei e comecei a falar com toda a gente, e as pessoas queriam era falar do facto de o chefe da aldeia ter vendido uns terrenos a pequenas fábricas que trabalhavam com poluentes fortes, químicos, que poluíram a água. Disseram-me que sempre que alguém vinha fazer uma investigação o chefe da aldeia colocava água limpa para diluir os efeitos da poluição tornando os resultados normais. Estes locais são muito maus, vi pessoas a viver em caves com péssimas condições. Agora o Governo está a tentar resolver estes casos, mas mesmo no meio das cidades há áreas onde as pessoas ainda vivem em condições terríveis. Na exposição há uma secção de fotografias sobre os hutongs, que não têm casas de banho, nem privacidade, água canalizada, nada. Estão a destruí-los. Na maioria das fotografias que vemos aqui as casas já não existem, não as querem ver e não se preocupam se as pessoas se queixam. Na verdade, as pessoas não se queixam, só o fazem se não têm dinheiro suficiente. No fundo, sentem-se felizes por sair destes sítios. Nós, estrangeiros, preocupamo-nos com a destruição das cidades velhas, mas as pessoas estão felizes por sair. Porque foi para Nova Iorque para aprender sobre a China? Por um motivo muito estúpido. Trabalhei lá durante 12 anos e ainda tenho uma casa e há um lugar lá chamado “The Asian Society”, que tem livros e livrarias sobre a Ásia. Estavam a ter cursos de chinês e fui para lá aprender e também porque havia bons livros sobre a China em inglês. As diferenças foram grandes entre aquilo que leu e o que vivenciou. Sem dúvida, são sempre. Os livros tinham provavelmente sido escritos dez anos antes e num país como a China as coisas mudam todos os dias. Os americanos, durante muito tempo, não compreendiam o que estava a acontecer na China. Quando cheguei todos me diziam que estava acabado, que o boom económico do país não ia durar muito, que era impossível uma economia capitalista durar tanto tempo com um Estado centralizado. O New York Times, há um ano atrás, escreveu um título que me deixou com inveja, pois gostaria de ter pensado nisso, que dizia “The land that failed to fail”, que significa a terra que todos achavam que ia falhar e não falhou. Nos últimos 40 anos o país não tem parado de crescer. E o crescimento nos primeiros seis anos depois de eu chegar foi na ordem dos 9 a 12 por cento, algo inimaginável em outros países. Esta é a força e a fraqueza do que está a acontecer na China. A força, porque querem tanto crescer e tornar-se num país diferente que tudo foi possível. A fraqueza, porque há problemas estruturais e profundos na economia chinesa. Eles estão a trabalhar nisso, mas muito lentamente. Refere-se ao enorme fosso entre ricos e pobres, por exemplo? Há mais do que isso. Com a política do filho único não há pessoas suficientes para trabalhar e esse problema será mais visível daqui a dez anos. Há uma dívida gigante, mesmo a nível local, nas províncias, nas aldeias, porque até há seis ou sete anos as administrações eram validadas de acordo com a riqueza que produziam. Então tinham incentivos para gastar mais, mas como? Com empréstimos, por exemplo, e isso aumentou imenso a dívida, o que se traduz num problema estrutural. Por outro lado, durante muitos anos de boom económico, a China foi a fábrica do mundo, a economia exportadora. Agora 40 por cento do PIB vem do consumo, e eles estão a tentar convencer as pessoas a gastar, porque até então poupavam para casos de doença, porque os hospitais, a educação, as casas custam uma fortuna. Os Jogos Olímpicos, em 2008, foi o evento que mudou definitivamente o país? Foi, de certa forma, mas com um efeito muito limitado. Os JO constituíam um imenso estádio para o país. Sabiam que todos iriam lá para ver os estádios e os jogos. Mas imediatamente a seguir surgiram muitos problemas, portanto o efeito foi muito limitado. Teve mais efeito na forma como o mundo passou a olhar para a China? Sim, porque o espectáculo foi perfeito. A organização, a criatividade, a construção estrutural, tudo estava perfeito e foi uma boa exibição de poder. Mas havia outros problemas. Houve grandes protestos no Tibete, em Março, e depois houve o terramoto de Sichuan. E isto internamente foi um grande momento, por uma razão…os chineses começaram a pensar sobre os outros chineses e o nível de ajuda foi incrível. E foi também um grande momento para a Internet, porque no início as pessoas estavam tão alarmadas que não houve controlo e durante quatro ou cinco dias todos escreviam o que queriam. Depois as autoridades começaram a controlar, mas de uma forma diferente, não como antes, negando as notícias. Aprenderam a controlar a forma como as notícias eram difundidas, e essa foi uma grande lição que eles aprenderam com o terramoto. Chegou à China quando Hu Jintao era Presidente, e deixou o país quando Xi Jinping já era o chefe da nação. Quais são as grandes diferenças que aponta entre estes dois líderes? Grandes diferenças. No início, quando Xi Jinping se tornou secretário-geral do Partido Comunista Chinês, em 2012, não sabíamos o que esperar dele. Tínhamos um grande Presidente. Hu Jintao estava muito dentro da tradição dos líderes chineses, esteve no poder numa altura importante para o país, mas era um líder cinzento. Até que apareceu Xi Jinping, vindo de uma nova geração, e recordo-me do discurso que ele deu depois de ser eleito como secretário-geral, perante três mil jornalistas, onde falou do sonho chinês. O que era? Não sabíamos, e se calhar nem ele sabia, nem as pessoas que estavam à volta dele. Quando trabalhas na China tens de criar sempre um contexto com as pessoas que estão o mais próximo possível de alguém que tem um cargo de chefia perto do líder. Nunca chegamos aos líderes, nunca nos encontramos com estas pessoas. Tinha um bom contacto na altura, e a senhora chinesa disse-me que Xi Jinping seria um líder muito diferente, muito moderno e muito aberto. Então a questão era: vai ser aberto, porque percebe melhor do que Hu Jintao como usar os novos media. Mas será capaz de continuar com as reformas, sobretudo num partido que começava a pensar que se tinha ido longe de mais nas reformas? Havia esta grande luta. Começou por lutar contra a corrupção, que foi uma forma de afastar os inimigos, mas depois descobrimos que Xi Jinping tinha uma série de novos conceitos e que não tinha a capacidade de lutar contra os mais conservadores do partido, tudo porque desde o início a modernidade era uma fachada. Tudo ficou mais controlado, com mais repressão. O nacionalismo é importante para manter o controlo das pessoas. Os chineses adoram o Presidente Xi. O problema é que muitas coisas pioraram.
Andreia Sofia Silva SociedadePortugal | Comunidade chinesa doa dinheiro para combater a doença Alguns membros da comunidade chinesa a residir em Portugal têm doado milhares de euros para ajudar ao combate ao coronavírus na China, enquanto acompanham a situação através das redes sociais. Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, teme o impacto no comércio Com Lusa [dropcap]W[/dropcap]ang Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, com sede em Lisboa, disse ao HM que vários membros da comunidade chinesa em Portugal têm vindo a doar milhares de euros nos últimos dias para ajudar ao combate do coronavírus na China. “Várias associações promoveram essa iniciativa e as pessoas doaram o que conseguiram, desde 50 euros até milhares de euros”, começou por dizer a professora de língua chinesa. “São muitas listas e o senhor Choi Man Hin [empresário ligado ao grupo Estoril Sol] é obviamente um dos promotores principais. Pelo que sei, até agora, a lista liderada por ele conseguiu cerca de 27 mil euros. Existem mais listas, mas não tenho mais informações. Sei que no norte de Portugal as listas de Wang Xiaowei, Huang Jiansheng e de Zhang Zhenghua conseguiram também obter valores consideráveis”, disse, referindo-se a empresários da comunidade. Todos esses donativos serão entregues à Embaixada Chinesa em Portugal e servirá, sobretudo, para a compra de máscaras e outros materiais. A embaixada emitiu, entretanto, um alerta a todos os membros da comunidade chinesa relativo ao coronavírus, que acompanham a situação como podem. “Toda a comunidade chinesa em Portugal está atenta ao desenrolar da situação na China. Através do WeChat recebemos muitas notícias de lá, com indicações sobre as cautelas que devemos tomar. Estamos mais preocupados com os nossos familiares, amigos e compatriotas na China e sentimo-nos obrigados a dar o nosso apoio”, adiantou a professora universitária. Portugal não tem, até à data, registo de casos de infectados pelo vírus oriundo da cidade de Wuhan. Wang Suoying tem conhecimento de que são as próprias associações que tomam medidas preventivas. “Sei que um estudante universitário chegou a Portugal vindo da cidade de Wuhan e foi a Castelo Branco onde está a estudar. Através do WeChat, a Associação dos Estudiosos e Estudantes Chineses em Portugal conseguiu contactar esta pessoa, aconselhando-a a ficar em casa. Mais tarde foi dito que este estudante não estava infectado.” Houve ainda outro caso de uma família oriunda de Wuhan, em que “os avós voltaram da China e queriam ir buscar a neta que estava a ter aulas na escola chinesa”. No entanto, estes decidiram “ficar em casa, enviando uma pessoa para ir buscar a neta, numa atitude responsável para com eles e os outros”. Problemas no comércio Apesar de não haver ainda infectados em Portugal, a comunidade chinesa tem enfrentado um estigma com a doença. O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, disse à Lusa que estes cidadãos não são “automaticamente portadores de doenças”. “Francamente, não temos medo de contagiar alguém, isso será algo muito difícil por parte da comunidade que cá [Portugal] vive, porque as entradas e as saídas dos países estão extremamente controladas.” Para Y Ping Chow, a possibilidade de algum chinês residente em Portugal ser portador do vírus é tão remota como “poder sair-lhe o euromilhões”, exemplificou. Contudo, apesar disso, o líder da comunidade chinesa receia que o “medo de contágio” afaste os portugueses dos negócios geridos pelos chineses e que estão espalhados por todo o país, nomeadamente lojas e restaurantes, o que seria um “grande problema”. Y Ping Chow contou não conhecer nenhum chinês residente em Portugal proveniente de Wuhan, “mas não significa que não haja, eu não conheço é nenhum”, frisou. Apesar dos receios, o presidente da Liga dos Chineses em Portugal considerou que o país é “compreensivo” e “nada discriminatório”, mostrando-se “tranquilo” quanto às repercussões que as “notícias sobre o vírus” possam ter na comunidade. Acredita, contudo, que as relações comerciais, ainda que apenas no imediato, vão “passar por dificuldades”, até por causa das normas de segurança agora impostas. “A entrada e a saída de mercadoria no país vai ser mais difícil, mas não será uma situação dramática”, entendeu.
Andreia Sofia Silva SociedadePortugal | Comunidade chinesa doa dinheiro para combater a doença Alguns membros da comunidade chinesa a residir em Portugal têm doado milhares de euros para ajudar ao combate ao coronavírus na China, enquanto acompanham a situação através das redes sociais. Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, teme o impacto no comércio Com Lusa [dropcap]W[/dropcap]ang Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, com sede em Lisboa, disse ao HM que vários membros da comunidade chinesa em Portugal têm vindo a doar milhares de euros nos últimos dias para ajudar ao combate do coronavírus na China. “Várias associações promoveram essa iniciativa e as pessoas doaram o que conseguiram, desde 50 euros até milhares de euros”, começou por dizer a professora de língua chinesa. “São muitas listas e o senhor Choi Man Hin [empresário ligado ao grupo Estoril Sol] é obviamente um dos promotores principais. Pelo que sei, até agora, a lista liderada por ele conseguiu cerca de 27 mil euros. Existem mais listas, mas não tenho mais informações. Sei que no norte de Portugal as listas de Wang Xiaowei, Huang Jiansheng e de Zhang Zhenghua conseguiram também obter valores consideráveis”, disse, referindo-se a empresários da comunidade. Todos esses donativos serão entregues à Embaixada Chinesa em Portugal e servirá, sobretudo, para a compra de máscaras e outros materiais. A embaixada emitiu, entretanto, um alerta a todos os membros da comunidade chinesa relativo ao coronavírus, que acompanham a situação como podem. “Toda a comunidade chinesa em Portugal está atenta ao desenrolar da situação na China. Através do WeChat recebemos muitas notícias de lá, com indicações sobre as cautelas que devemos tomar. Estamos mais preocupados com os nossos familiares, amigos e compatriotas na China e sentimo-nos obrigados a dar o nosso apoio”, adiantou a professora universitária. Portugal não tem, até à data, registo de casos de infectados pelo vírus oriundo da cidade de Wuhan. Wang Suoying tem conhecimento de que são as próprias associações que tomam medidas preventivas. “Sei que um estudante universitário chegou a Portugal vindo da cidade de Wuhan e foi a Castelo Branco onde está a estudar. Através do WeChat, a Associação dos Estudiosos e Estudantes Chineses em Portugal conseguiu contactar esta pessoa, aconselhando-a a ficar em casa. Mais tarde foi dito que este estudante não estava infectado.” Houve ainda outro caso de uma família oriunda de Wuhan, em que “os avós voltaram da China e queriam ir buscar a neta que estava a ter aulas na escola chinesa”. No entanto, estes decidiram “ficar em casa, enviando uma pessoa para ir buscar a neta, numa atitude responsável para com eles e os outros”. Problemas no comércio Apesar de não haver ainda infectados em Portugal, a comunidade chinesa tem enfrentado um estigma com a doença. O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, disse à Lusa que estes cidadãos não são “automaticamente portadores de doenças”. “Francamente, não temos medo de contagiar alguém, isso será algo muito difícil por parte da comunidade que cá [Portugal] vive, porque as entradas e as saídas dos países estão extremamente controladas.” Para Y Ping Chow, a possibilidade de algum chinês residente em Portugal ser portador do vírus é tão remota como “poder sair-lhe o euromilhões”, exemplificou. Contudo, apesar disso, o líder da comunidade chinesa receia que o “medo de contágio” afaste os portugueses dos negócios geridos pelos chineses e que estão espalhados por todo o país, nomeadamente lojas e restaurantes, o que seria um “grande problema”. Y Ping Chow contou não conhecer nenhum chinês residente em Portugal proveniente de Wuhan, “mas não significa que não haja, eu não conheço é nenhum”, frisou. Apesar dos receios, o presidente da Liga dos Chineses em Portugal considerou que o país é “compreensivo” e “nada discriminatório”, mostrando-se “tranquilo” quanto às repercussões que as “notícias sobre o vírus” possam ter na comunidade. Acredita, contudo, que as relações comerciais, ainda que apenas no imediato, vão “passar por dificuldades”, até por causa das normas de segurança agora impostas. “A entrada e a saída de mercadoria no país vai ser mais difícil, mas não será uma situação dramática”, entendeu.
Andreia Sofia Silva PolíticaPetições | Deputados querem travar entrada de cidadãos do Interior Os deputados Sulu Sou e Agnes Lam lançaram petições a pedir para travar a entrada de cidadãos oriundos da China durante um breve período de tempo. José Pereira Coutinho lamenta a falta de comunicação entre os Serviços de Saúde de Macau e o pessoal médico da linha da frente [dropcap]T[/dropcap]erminado o período de férias do Ano Novo Chinês e com oito casos de infecção por coronavírus confirmados no território, o Governo recebeu duas petições lançadas pelos deputados Agnes Lam e Sulu Sou, este último ligado à Associação Novo Macau (ANM), onde se pede a proibição temporária de entrada aos cidadãos da China, sobretudo os oriundos da província de Hubei. No caso da petição lançada por Agnes Lam, a entrega aconteceu no passado dia 26 de Fevereiro e pedia “às pessoas para votarem se achavam que se deveria minimizar o movimento das pessoas nas fronteiras e permitir que apenas residentes de Macau e trabalhadores não residentes passassem as fronteiras durante 14 dias”, explicou a deputada ao HM. A petição foi assinada por 20 mil pessoas em apenas uma hora, com 99 por cento dos inquiridos a defender a proibição de entrada de cidadãos chineses. Para a deputada, a situação de contágio por coronavírus poderia ter sido travada desde o início. “O Governo respondeu à situação de forma bastante rápida e fez um bom trabalho no controlo [dos casos]. Mas se tivesse adoptado um controlo mais severo mais cedo, poderíamos ter uma grande oportunidade de evitar casos de infecção a nível local”, frisou Agnes Lam. Objectivos semelhantes tem a petição lançada pelo deputado Sulu Sou e também entregue na sede do Governo no passado dia 26. “Tempos de desespero exigem medidas desesperadas. Exigimos ao Chefe do Executivo para parar com as hesitações e tomar medidas de emergência de acordo com a lei, ordenando uma proibição temporária de entrada dos turistas do Continente, sobretudo aqueles que visitaram a província de Hubei nos últimos dois meses”, lê-se na petição. Falhas de comunicação Apesar de não ter subscrito nenhuma das petições, o deputado José Pereira Coutinho também concorda com a proibição temporária de entrada de cidadãos da China no território. Mas o também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau vai mais longe e fala de problemas na resposta médica aos casos de coronavírus. “Até agora as medidas adoptadas pelo Governo têm sido, de certa forma, positivas. Mas deveria ser prestada mais atenção ao pessoal da linha da frente, sobretudo na área da saúde, pois continua a haver uma gestão deficiente no rastreio de suspeito de portadores do coronavírus”, disse ao HM. “Tenho recebido diariamente mensagens do pessoal que trabalha no serviço de urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário a queixar-se de um défice de comunicação entre a direcção dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) e o pessoal da linha da frente. Há falta de equipamento de protecção pessoal para médicos e enfermeiros. Faltam óculos especiais para a protecção dos olhos e não há vestes suficientes”, acusou o deputado. Fora da área da saúde, José Pereira Coutinho alerta para o facto de “inspectores de vários serviços públicos que trabalham diariamente nas vias públicas não terem protecção alguma”, dando como exemplo a Direcção dos Serviços de Economia, Serviços para os Assuntos Laborais e Serviços para os Assuntos de Tráfego. “Não existe uniformização na protecção dos trabalhadores da linha da frente, onde uns são filhos (Forças de Segurança de Macau) e outros são enteados”, frisou.
Andreia Sofia Silva PolíticaPetições | Deputados querem travar entrada de cidadãos do Interior Os deputados Sulu Sou e Agnes Lam lançaram petições a pedir para travar a entrada de cidadãos oriundos da China durante um breve período de tempo. José Pereira Coutinho lamenta a falta de comunicação entre os Serviços de Saúde de Macau e o pessoal médico da linha da frente [dropcap]T[/dropcap]erminado o período de férias do Ano Novo Chinês e com oito casos de infecção por coronavírus confirmados no território, o Governo recebeu duas petições lançadas pelos deputados Agnes Lam e Sulu Sou, este último ligado à Associação Novo Macau (ANM), onde se pede a proibição temporária de entrada aos cidadãos da China, sobretudo os oriundos da província de Hubei. No caso da petição lançada por Agnes Lam, a entrega aconteceu no passado dia 26 de Fevereiro e pedia “às pessoas para votarem se achavam que se deveria minimizar o movimento das pessoas nas fronteiras e permitir que apenas residentes de Macau e trabalhadores não residentes passassem as fronteiras durante 14 dias”, explicou a deputada ao HM. A petição foi assinada por 20 mil pessoas em apenas uma hora, com 99 por cento dos inquiridos a defender a proibição de entrada de cidadãos chineses. Para a deputada, a situação de contágio por coronavírus poderia ter sido travada desde o início. “O Governo respondeu à situação de forma bastante rápida e fez um bom trabalho no controlo [dos casos]. Mas se tivesse adoptado um controlo mais severo mais cedo, poderíamos ter uma grande oportunidade de evitar casos de infecção a nível local”, frisou Agnes Lam. Objectivos semelhantes tem a petição lançada pelo deputado Sulu Sou e também entregue na sede do Governo no passado dia 26. “Tempos de desespero exigem medidas desesperadas. Exigimos ao Chefe do Executivo para parar com as hesitações e tomar medidas de emergência de acordo com a lei, ordenando uma proibição temporária de entrada dos turistas do Continente, sobretudo aqueles que visitaram a província de Hubei nos últimos dois meses”, lê-se na petição. Falhas de comunicação Apesar de não ter subscrito nenhuma das petições, o deputado José Pereira Coutinho também concorda com a proibição temporária de entrada de cidadãos da China no território. Mas o também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau vai mais longe e fala de problemas na resposta médica aos casos de coronavírus. “Até agora as medidas adoptadas pelo Governo têm sido, de certa forma, positivas. Mas deveria ser prestada mais atenção ao pessoal da linha da frente, sobretudo na área da saúde, pois continua a haver uma gestão deficiente no rastreio de suspeito de portadores do coronavírus”, disse ao HM. “Tenho recebido diariamente mensagens do pessoal que trabalha no serviço de urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário a queixar-se de um défice de comunicação entre a direcção dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) e o pessoal da linha da frente. Há falta de equipamento de protecção pessoal para médicos e enfermeiros. Faltam óculos especiais para a protecção dos olhos e não há vestes suficientes”, acusou o deputado. Fora da área da saúde, José Pereira Coutinho alerta para o facto de “inspectores de vários serviços públicos que trabalham diariamente nas vias públicas não terem protecção alguma”, dando como exemplo a Direcção dos Serviços de Economia, Serviços para os Assuntos Laborais e Serviços para os Assuntos de Tráfego. “Não existe uniformização na protecção dos trabalhadores da linha da frente, onde uns são filhos (Forças de Segurança de Macau) e outros são enteados”, frisou.
Andreia Sofia Silva ReportagemAno Novo Chinês | Distância diminui festejos da comunidade em Portugal Em Portugal o Ano Novo Chinês celebra-se com festas públicas, organizadas por associações e pela própria Embaixada da China em Lisboa. No norte do país, onde há uma comunidade chinesa mais pequena, as celebrações têm uma menor dimensão. Contudo, o facto de viverem há décadas longe da China faz com que, para muitas famílias chinesas, esta época seja apenas sinónimo de uns dias de férias, sem uma celebração especial [dropcap]P[/dropcap]or estes dias, restam na zona da Alameda e da avenida Almirante Reis, em Lisboa, réplicas das tradicionais lanternas vermelhas chinesas que indicam que por ali houve festa. Apesar de o Ano Novo Chinês se celebrar a partir de hoje, as celebrações oficiais na capital portuguesa aconteceram no fim-de-semana de 18 e 19 de Janeiro, com a realização de uma marcha e uma feira com produtos chineses. A festa, aberta a toda a população e que juntou centenas de curiosos de todas as nacionalidades, marca o início do Ano do Rato, mas, para a comunidade chinesa a residir em Portugal, muitos deles há várias décadas, esta é uma época que simboliza apenas uns dias extra de férias e nada mais do que isso. É o caso da família de Annie Yang, dona de uma loja de venda de calçado na avenida Almirante Reis. Os familiares emigraram há tanto tempo para Portugal que Annie já nasceu no país. A estudar hotelaria na Suíça, a jovem assume que celebra mais o Natal e o Ano Novo com os amigos do que o Ano Novo Chinês. “Como estamos cá e como já somos portugueses acabamos por não celebrar o Ano Novo Chinês, mas celebramos o Natal e o Ano Novo. A minha família não faz nada de especial no Ano Novo Chinês, mas outras famílias fazem. Acho que se tivéssemos na China iríamos celebrar, mas como estamos cá não damos tanta importância”, conta ao HM. Num ambiente completamente diferente vive Li Yonggang, que também celebra o Novo Ano Lunar de forma bastante modesta. Natural de uma cidade perto de Dalian, “quase perto da Coreia do Norte”, como nos diz, Li vive na cidade de Montemor-o-Novo, em pleno Alentejo e a cerca de uma hora de Lisboa. Dedicado ao negócio do cultivo de couves chinesas na pequena cidade do interior do país, Li assegura que, nesta zona as poucas celebrações acontecem entre famílias. “Em Lisboa há uma festa, mas aqui só juntamos a família para jantar, e mais nada. Somos mais portugueses do que chineses porque saímos da China há muitos anos.” À hora de jantar comem-se alguns pratos habituais e junta-se o vinho português. “O nosso jantar inclui peixe, para termos mais felicidade, e os pés de porco, que temos de comer para ganhar mais dinheirinho (risos). Na China rebentam os panchões, mas aqui não podemos fazer porque as pessoas têm medo. Bebemos também um pouco de vinho tinto. Bebemos vinho português, claro! Já é um hábito de cá”, contou Li. O empresário vive em Montemor-o-Novo há cerca de 14 anos. Na cidade funcionam cinco lojas com artigos chineses, incluindo um grande armazém. “Fazemos sempre uma pequena celebração, não é grande coisa porque estamos no Alentejo, não temos muita família aqui. Não conheço muitas pessoas porque vou poucas vezes a Lisboa a festas com elas, uma vez que vivo no sul do país.” Os filhos de Li dizem ser portugueses, para eles a China é um país distante onde só foram duas vezes na vida. Li diz que, cada vez que viaja para o seu país, assiste a uma enorme mudança. O empresário acredita que o Ano do Rato “vai ser bom”. “Ando sempre a dizer que é preciso sorte, é o que todos querem. Quando há guerras no mundo a China tem sempre sorte de não as ter. Em Portugal também temos sorte, os portugueses são bons e no Alentejo somos felizes porque as pessoas são simpáticas.” A sul Uma das pessoas mais envolvidas nos festejos do Ano Novo Chinês em Lisboa é a professora Wang Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa. Ao HM, esta descreve como a comunidade habitualmente celebra a entrada de um novo ano. “Na véspera e no próprio dia do Ano Novo Lunar, como não é feriado em Portugal, e também porque os estabelecimentos comerciais chineses se mantêm sempre abertos (mesmo na China), a comunidade chinesa em Portugal faz outras celebrações, sobretudo à noite ou num outro fim de semana.” “Algumas associações organizam outras festas mais privadas, entre os seus sócios e familiares. Muitas famílias amigas juntam-se para o Jantar do Ano, depois de fechar a loja ou o restaurante. Também muitos chineses vão à China para passar lá o Ano Novo Lunar”, acrescenta a professora de mandarim, com um extenso currículo em Portugal. No que diz respeito às refeições familiares, estas variam. “Todas as pessoas fazem comida caseira, dependendo das zonas, mas o peixe é indispensável, pois simboliza a prosperidade”, disse. Questionada sobre as diferenças entre gerações no que à celebração diz respeito, Wang Suoying conta que a tradição é passada de avós para netos. “A nova geração da comunidade chinesa cresce em Portugal e aprende a cultura chinesa com os seus pais e avós. Nas celebrações públicas em Lisboa, podemos constatar centenas de crianças chinesas a desfilar e a actuar no palco. A tradição é transmitida de geração em geração e tanto as velhas gerações, como as novas gerações, festejam o Ano Novo Lunar da mesma maneira. Mas também existem alguns casos excepcionais.” Muitos aproveitam esta época do ano para viajar, revela a professora. “Em Portugal, como o festival coincide com a pausa escolar em alguns estabelecimentos de ensino superior, alguns universitários chineses de intercâmbio também aproveitam esses dias para visitar outros países europeus. A norte Na zona do norte do país as celebrações têm uma menor dimensão e são mais “direccionadas”. Quem é o diz é Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e representante da comunidade na cidade do Porto, onde abriu o primeiro restaurante chinês há vários anos. Há duas semanas que Y Ping Chow se dedica a organizar a festa de Ano Novo Chinês no Casino da Póvoa, um dos espaços de jogo do grupo Estoril-Sol, de Stanley Ho. “Há uma diferença, porque em Lisboa, como a comunidade é maior e há mais associações, há festas maiores, com mais orçamento e mais pessoas. Aqui no norte, como há menos pessoas e menos associações, fazemos uma festa mais direccionada.” Y Ping Chow, que em criança veio para Portugal, assegura que grande parte das famílias não celebra o Ano Novo Chinês da mesma forma porque “não há ambiente”. “Os chineses que estão economicamente mais folgados fecham as lojas uns dias e vão dar uma volta pela Europa, de férias. Outros participam nas festas da comunidade, podem fechar o negócio um dia ou dois e juntar a família para fazer uma festa, e pouco mais.” Entre velhos e novos foi-se perdendo o hábito com o passar dos anos. “Os mais antigos já perderam o hábito e costumes do Ano Novo Chinês, porque não há ambiente. Os mais novos sabem que é dia de festa, mas não têm o costume de celebrar. É considerado um dia de folga ou de férias e de juntar a família.”
Andreia Sofia Silva ReportagemAno Novo Chinês | Distância diminui festejos da comunidade em Portugal Em Portugal o Ano Novo Chinês celebra-se com festas públicas, organizadas por associações e pela própria Embaixada da China em Lisboa. No norte do país, onde há uma comunidade chinesa mais pequena, as celebrações têm uma menor dimensão. Contudo, o facto de viverem há décadas longe da China faz com que, para muitas famílias chinesas, esta época seja apenas sinónimo de uns dias de férias, sem uma celebração especial [dropcap]P[/dropcap]or estes dias, restam na zona da Alameda e da avenida Almirante Reis, em Lisboa, réplicas das tradicionais lanternas vermelhas chinesas que indicam que por ali houve festa. Apesar de o Ano Novo Chinês se celebrar a partir de hoje, as celebrações oficiais na capital portuguesa aconteceram no fim-de-semana de 18 e 19 de Janeiro, com a realização de uma marcha e uma feira com produtos chineses. A festa, aberta a toda a população e que juntou centenas de curiosos de todas as nacionalidades, marca o início do Ano do Rato, mas, para a comunidade chinesa a residir em Portugal, muitos deles há várias décadas, esta é uma época que simboliza apenas uns dias extra de férias e nada mais do que isso. É o caso da família de Annie Yang, dona de uma loja de venda de calçado na avenida Almirante Reis. Os familiares emigraram há tanto tempo para Portugal que Annie já nasceu no país. A estudar hotelaria na Suíça, a jovem assume que celebra mais o Natal e o Ano Novo com os amigos do que o Ano Novo Chinês. “Como estamos cá e como já somos portugueses acabamos por não celebrar o Ano Novo Chinês, mas celebramos o Natal e o Ano Novo. A minha família não faz nada de especial no Ano Novo Chinês, mas outras famílias fazem. Acho que se tivéssemos na China iríamos celebrar, mas como estamos cá não damos tanta importância”, conta ao HM. Num ambiente completamente diferente vive Li Yonggang, que também celebra o Novo Ano Lunar de forma bastante modesta. Natural de uma cidade perto de Dalian, “quase perto da Coreia do Norte”, como nos diz, Li vive na cidade de Montemor-o-Novo, em pleno Alentejo e a cerca de uma hora de Lisboa. Dedicado ao negócio do cultivo de couves chinesas na pequena cidade do interior do país, Li assegura que, nesta zona as poucas celebrações acontecem entre famílias. “Em Lisboa há uma festa, mas aqui só juntamos a família para jantar, e mais nada. Somos mais portugueses do que chineses porque saímos da China há muitos anos.” À hora de jantar comem-se alguns pratos habituais e junta-se o vinho português. “O nosso jantar inclui peixe, para termos mais felicidade, e os pés de porco, que temos de comer para ganhar mais dinheirinho (risos). Na China rebentam os panchões, mas aqui não podemos fazer porque as pessoas têm medo. Bebemos também um pouco de vinho tinto. Bebemos vinho português, claro! Já é um hábito de cá”, contou Li. O empresário vive em Montemor-o-Novo há cerca de 14 anos. Na cidade funcionam cinco lojas com artigos chineses, incluindo um grande armazém. “Fazemos sempre uma pequena celebração, não é grande coisa porque estamos no Alentejo, não temos muita família aqui. Não conheço muitas pessoas porque vou poucas vezes a Lisboa a festas com elas, uma vez que vivo no sul do país.” Os filhos de Li dizem ser portugueses, para eles a China é um país distante onde só foram duas vezes na vida. Li diz que, cada vez que viaja para o seu país, assiste a uma enorme mudança. O empresário acredita que o Ano do Rato “vai ser bom”. “Ando sempre a dizer que é preciso sorte, é o que todos querem. Quando há guerras no mundo a China tem sempre sorte de não as ter. Em Portugal também temos sorte, os portugueses são bons e no Alentejo somos felizes porque as pessoas são simpáticas.” A sul Uma das pessoas mais envolvidas nos festejos do Ano Novo Chinês em Lisboa é a professora Wang Suoying, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa. Ao HM, esta descreve como a comunidade habitualmente celebra a entrada de um novo ano. “Na véspera e no próprio dia do Ano Novo Lunar, como não é feriado em Portugal, e também porque os estabelecimentos comerciais chineses se mantêm sempre abertos (mesmo na China), a comunidade chinesa em Portugal faz outras celebrações, sobretudo à noite ou num outro fim de semana.” “Algumas associações organizam outras festas mais privadas, entre os seus sócios e familiares. Muitas famílias amigas juntam-se para o Jantar do Ano, depois de fechar a loja ou o restaurante. Também muitos chineses vão à China para passar lá o Ano Novo Lunar”, acrescenta a professora de mandarim, com um extenso currículo em Portugal. No que diz respeito às refeições familiares, estas variam. “Todas as pessoas fazem comida caseira, dependendo das zonas, mas o peixe é indispensável, pois simboliza a prosperidade”, disse. Questionada sobre as diferenças entre gerações no que à celebração diz respeito, Wang Suoying conta que a tradição é passada de avós para netos. “A nova geração da comunidade chinesa cresce em Portugal e aprende a cultura chinesa com os seus pais e avós. Nas celebrações públicas em Lisboa, podemos constatar centenas de crianças chinesas a desfilar e a actuar no palco. A tradição é transmitida de geração em geração e tanto as velhas gerações, como as novas gerações, festejam o Ano Novo Lunar da mesma maneira. Mas também existem alguns casos excepcionais.” Muitos aproveitam esta época do ano para viajar, revela a professora. “Em Portugal, como o festival coincide com a pausa escolar em alguns estabelecimentos de ensino superior, alguns universitários chineses de intercâmbio também aproveitam esses dias para visitar outros países europeus. A norte Na zona do norte do país as celebrações têm uma menor dimensão e são mais “direccionadas”. Quem é o diz é Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e representante da comunidade na cidade do Porto, onde abriu o primeiro restaurante chinês há vários anos. Há duas semanas que Y Ping Chow se dedica a organizar a festa de Ano Novo Chinês no Casino da Póvoa, um dos espaços de jogo do grupo Estoril-Sol, de Stanley Ho. “Há uma diferença, porque em Lisboa, como a comunidade é maior e há mais associações, há festas maiores, com mais orçamento e mais pessoas. Aqui no norte, como há menos pessoas e menos associações, fazemos uma festa mais direccionada.” Y Ping Chow, que em criança veio para Portugal, assegura que grande parte das famílias não celebra o Ano Novo Chinês da mesma forma porque “não há ambiente”. “Os chineses que estão economicamente mais folgados fecham as lojas uns dias e vão dar uma volta pela Europa, de férias. Outros participam nas festas da comunidade, podem fechar o negócio um dia ou dois e juntar a família para fazer uma festa, e pouco mais.” Entre velhos e novos foi-se perdendo o hábito com o passar dos anos. “Os mais antigos já perderam o hábito e costumes do Ano Novo Chinês, porque não há ambiente. Os mais novos sabem que é dia de festa, mas não têm o costume de celebrar. É considerado um dia de folga ou de férias e de juntar a família.”
Andreia Sofia Silva SociedadeAno Novo Chinês | Ho Iat Seng faz apelo à contenção de festividades [dropcap]H[/dropcap]o Iat Seng, Chefe do Executivo, justificou ontem o cancelamento das celebrações oficiais do Ano Novo Chinês como resposta à descoberta de dois casos em Macau de epidemia oriunda de Wuhan. “Já foi confirmado um segundo caso pelo que eu, juntamente com o apoio dos secretários, decidi cancelar as comemorações para o Ano Novo Chinês, nomeadamente a parada do dragão de ouro e ainda a parada dos carros alegóricos.” Além das festividades organizadas pela Administração, Ho Iat Seng pediu também às entidades privadas para evitarem celebrações. “Pedimos também às associações privadas para adiarem também as suas festas de Primavera. Estes convívios, jantares normalmente requerem uma grande concentração de pessoas e nós não queremos que a situação se possa agravar a partir da multidão”. Apesar destas medidas, irá manter-se a habitual queima de panchões, por ser “uma tradição que deve ser respeitada”. “Muitas pessoas gostam de queimar panchões durante a quadra do Ano Novo Chinês e apelamos para que reforcem a protecção em termos de saúde [durante essa actividade]”, adiantou. “Temos de continuar a tomar as melhores medidas de prevenção e controlo e por isso é que chegamos à conclusão difícil de cancelar as comemorações. Esperamos que depois disso Macau possa diminuir o risco de transmissão da doença”, concluiu. Com Pedro Arede
Andreia Sofia Silva SociedadeAno Novo Chinês | Ho Iat Seng faz apelo à contenção de festividades [dropcap]H[/dropcap]o Iat Seng, Chefe do Executivo, justificou ontem o cancelamento das celebrações oficiais do Ano Novo Chinês como resposta à descoberta de dois casos em Macau de epidemia oriunda de Wuhan. “Já foi confirmado um segundo caso pelo que eu, juntamente com o apoio dos secretários, decidi cancelar as comemorações para o Ano Novo Chinês, nomeadamente a parada do dragão de ouro e ainda a parada dos carros alegóricos.” Além das festividades organizadas pela Administração, Ho Iat Seng pediu também às entidades privadas para evitarem celebrações. “Pedimos também às associações privadas para adiarem também as suas festas de Primavera. Estes convívios, jantares normalmente requerem uma grande concentração de pessoas e nós não queremos que a situação se possa agravar a partir da multidão”. Apesar destas medidas, irá manter-se a habitual queima de panchões, por ser “uma tradição que deve ser respeitada”. “Muitas pessoas gostam de queimar panchões durante a quadra do Ano Novo Chinês e apelamos para que reforcem a protecção em termos de saúde [durante essa actividade]”, adiantou. “Temos de continuar a tomar as melhores medidas de prevenção e controlo e por isso é que chegamos à conclusão difícil de cancelar as comemorações. Esperamos que depois disso Macau possa diminuir o risco de transmissão da doença”, concluiu. Com Pedro Arede
Andreia Sofia Silva PolíticaPorto Interior | Ho Iat Seng apela ao Interior para não aconselhar viagens O terminal marítimo do Porto Interior voltou ontem a abrir portas numa altura em que Macau está em alerta máximo devido à epidemia oriunda de Wuhan. O Chefe do Executivo pediu às autoridades chinesas para não aconselhar viagens a pessoas que já possam exibir com sinais de doença [dropcap]I[/dropcap]niciou-se ontem um novo capítulo na história das viagens transfronteiriças entre Macau e a China com a reabertura do terminal marítimo do Porto Interior, que vai fazer ligações de barco entre o Porto Interior e a Ilha da Lapa, em Zhuhai. Ontem, em conferência de imprensa, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, pediu às autoridades chinesas para não aconselharem viagens para fora da China a quem já esteja com sinais de febre ou gripe. “A China tem de sensibilizar a população para não sair em viagens longas ou mesmo curtas quando estiverem doentes”, começou por dizer. “Tenho a certeza que no novo posto fronteiriço temos equipamentos suficientes para a medição de temperatura e de controlo sanitário.” Ho Iat Seng disse ainda que existe a possibilidade de serem colocados mais trabalhadores nos postos fronteiriços para efectuarem a medição de temperatura dos visitantes. O Chefe do Executivo assegurou também que o Governo tem estado em estreita comunicação com as autoridades de Zhuhai. “Falei com as autoridades de Zhuhai no que respeita à prevenção e controlo desta doença para evitar um eventual surto. Zhuhai vai fazer a inspecção e medição de temperaturas nas saídas e entradas. Antes tínhamos medidas só de entrada, ou seja, era feita a medição de temperatura das pessoas que entram em Macau. Mas vamos começar a tomar as medidas necessárias medidas para a saída. Qualquer pessoa que saia de Macau também vai ter de sujeitar a medidas de controlo e prevenção.” À espera de 50 mil Ho Iat Seng deixou claro que é importante a abertura de um novo posto fronteiriço nesta altura para dividir as multidões por vários pontos de entrada no território. “A abertura deste novo posto fronteiriço não era uma ideia de hoje, há vários meses que estava a ser preparada. O que se pretende é aliviar a pressão das Portas do Cerco em termos de circulação de pessoas.” “As pessoas que querem vir a Macau vêm de qualquer forma, independentemente de abrirmos este posto fronteiriço ou não. Na verdade, quando há concentração de multidões, há mais possibilidade de transmitir doença, mas quando conseguimos descentralizar a multidão minimizamos os danos”, acrescentou o Chefe do Executivo. Segundo noticiou ontem o canal chinês da TDM Rádio Macau, espera-se que pelo novo posto fronteiriço passem cerca de 50 mil pessoas durante os feriados do Ano Novo Chinês. As autoridades disseram ontem que qualquer caso que indicie a epidemia de Wuhan será enviado de imediato para a zona de quarentena. Está também a ser pensada uma melhoria nas infra-estruturas para peões e ligações de transporte público, adiantou a mesma fonte. Com João Luz e Pedro Arede