TIMC | Filmes clássicos musicados por artistas locais este fim-de-semana

A segunda parte do festival This is My City acontece este fim-de-semana e traz às Oficinas Navais n.º2 cinema clássico do início do século XX musicado por bandas locais. O público poderá assistir, este sábado, ao filme “The Goddess”, realizado em Xangai em 1934 e musicado por Faslane e AKI. No domingo, será exibida uma série de curtas-metragens musicadas por Frog, Rui Rasquinho e Paulo Pereira, entre outros

 

[dropcap]N[/dropcap]um ano diferente de todos os outros, o festival This is My City (TIMC) decidiu trazer uma nova componente que constituísse não só uma surpresa para o público mas também um desafio para os músicos locais. Foi com essa ideia em mente que surgiu a iniciativa de exibir filmes clássicos com uma nova roupagem musical. O evento decorre este fim-de-semana nas Oficinas Navais nº 2.

Ao HM, Rui Simões, ligado à organização do festival, contou como surgiu esta iniciativa. “Estávamos a programar o festival numa altura em que ainda havia indecisões sobre o que iria acontecer, mas partíamos da premissa de que só poderiam ser artistas locais. Olhando para os músicos e artistas percebemos que todos eles já tinham tocado ao vivo, num formato conhecido do grande público. E começamos a pensar naquilo que poderíamos fazer de original e que fosse de alguma forma um desafio para os próprios artistas.”

De imediato se pensou em criar “um registo mais improvisado”. Quanto às películas, o objectivo não era escolher “filmes demasiado conhecidos, para as pessoas se sentirem atraídas”. “De uma maneira ou de outra são filmes que são uma referência, ou porque têm efeitos especiais ou porque têm algo de diferente. A maior parte dos filmes não tem sequer uma narrativa muito clara, são mais exercícios artísticos”, explicou Rui Simões.

Surrealismo e efeitos especiais

O primeiro filme a ser exibido, já este sábado, a partir das 19h, é “The Goddess”, feito em Xangai em 1934, e que ganha uma nova composição musical da autoria da banda Faslane e de AKI, “que está bastante habituado a fazer bandas sonoras”.

“Este filme retrata a vida de uma mulher, que é mãe, numa sociedade bastante fechada. É uma prostituta que tenta cuidar do seu filho e ela faz tudo por amor ao filho e estabelecem-se depois algumas relações com outros personagens. É uma história muito humana e com muita sensibilidade. A actriz do filme é uma das actrizes chinesas mais famosas da época e também tem uma história de vida trágica. Penso que as pessoas vão ficar apaixonadas por ela e pelo filme”, disse Rui Simões.

No domingo, é dia de curtas-metragens. A primeira a ser exibida é “Alice no País das Maravilhas”, de Cecil Hepworth e Percy Stow, e que data de 1903. Este é um filme com muitos efeitos especiais, sendo esta a primeira adaptação feita para cinema da obra de Lewis Carroll.

Segue-se “Ghosts Before Breakfast”, de Hans Richter, de 1928, que será musicado por Rui Rasquinho, artista e designer. “The Dancing Pig”, realizado em 1907, foi musicado por Paulo Pereira. Trata-se de um filme mudo com apenas quatro minutos de duração, e que teve produção da Pathé, conhecida empresa francesa. Nesta obra, “um porco gigante veste-se de roupas elegantes e dança com uma rapariga que, mais tarde, o deixa envergonhado quando tira as suas roupas.”

Ainda no domingo serão exibidas mais duas curtas-metragens. Uma delas é “A Trip to Jupiter”, de Segundo de Chomón, realizado em 1909, musicado por Iat U Hong. Esta película não é mais do que uma “viagem gótica” feita com inspiração no “Voyage dans la Lune”, realizado em 1902 por George Meliés, quando o cinema dava os primeiros passos.

Por último, será exibido “The Frog”, de Segundo de Chomón, de 1908, musicado por Dickson Cheong.
Esta sexta-feira, também inserida na segunda parte do TIMC, acontece a inauguração da exposição multimédia de OS Wei, às 18h30. Será também realizada, às 19h30, uma performance de caligrafia com os artistas Elvis Mok e Aquino da Silva. Estão ainda agendadas sessões de yoga, que trazem, pela primeira-vez, a vertente do bem-estar a este festival.

19 Nov 2020

AFA | Art Garden recebe “A Way to Exist, Away to Exist”, nova exposição de Alice Kok 

É já este sábado, dia 21, que é inaugurada no espaço Art Garden a exposição “A Way to Exist, Away to Exist”, da autoria de Alice Kok. Desta vez, a artista apostou num trabalho multicultural, feito entre Macau e o Tibete, e que revela o contraste entre a natureza e a ocupação pelo ser humano, com as estruturas artificiais por si criadas

 

[dropcap]A[/dropcap] artista Alice Kok está de regresso às exposições em nome individual com “A Way to Exist, Away to Exist”. A mostra será inaugurada este sábado, dia 21, no espaço Art Garden, da associação AFA – Art for All Society, onde estará patente até ao dia 18 de Dezembro.

Esta é uma exposição onde Alice Kok, que preside ainda à AFA, decidiu apresentar um conjunto de trabalhos que “exploram a troca entre a prática espiritual e a comunidade usando a produção de imagem, objectos, entrevistas e pintura”.

A ideia para esta exposição começou a ser trabalhada no Tibete, para onde a artista viaja com frequência. A pandemia da covid-19 obrigou-a a repensar a ideia e a trabalhá-la em Macau, o que faz com que esta mostra tenha obras dos dois lugares.

“Comecei esta exposição o ano passado com algumas imagens que tirei no Tibete. Este ano tinha planeado regressar e continuar esta série de imagens, mas depois não consegui regressar devido à pandemia. Tenho estado em Macau este ano e comecei a pensar em fazer algo aqui, continuando a ideia que tive no Tibete, onde captei imagens da paisagem e de estruturas artificiais à volta”, contou ao HM.

Alice Kok criou então este contraste sobre a forma como existimos na natureza e recriamos estes espaços à nossa medida.

“No Tibete o meio ambiente natural está rodeado por estruturas artificiais criadas por humanos, ou por uma arquitectura mais comercial. Quando voltei para Macau percebi que também temos lugares assim. Temos as ilhas, temos terra reclamada ao mar. Em muitos destes locais há posters que mostram aquilo que vai ser construído. Temos o Galaxy, por exemplo, onde se vê como vai ser o novo hotel. Trabalho com isso mas faço uma pixelização das imagens, colocando as partes que deveriam pertencer à natureza”, explicou a artista.

Além desta modificação da imagem, Alice Kok coloca também, em alta definição, “as imagens do que é suposto ser o futuro, mas que ainda não existe”. “É um paradoxo em como se pode sobreviver, em como somos parte da natureza mas, ao mesmo tempo, construímos muitos espaços artificiais à sua volta. Parece que não vemos a realidade como é, vemos, ao invés disso, imagens dos espaços artificiais que estamos a construir. O título da exposição é a minha forma de interpretar esta questão existencial”, frisou.

Sonho meu

Além do trabalho feito em fotografia e com a modificação das imagens, Alice Kok apresenta também uma instalação de vídeo, com o nome “Through the Looking Glass”. “Convidei pessoas da comunidade, amigos de amigos, a virem ao meu atelier e a contarem-me os seus sonhos, mas uso mosaicos para cobrir a identidade das pessoas. Tudo isto é também sobre privacidade, porque os sonhos podem revelar o inconsciente da pessoa, é algo muito íntimo. Aqui há também muita comunicação porque adoptei o formato de entrevista”, contou a artista.

Alice Kok decidiu também colocar, do lado de fora do edifício do Art Garden, alguns excertos de um livro auto-biográfico que começou a escrever no Tibete. Esses excertos serão acompanhados por caracteres chineses de cor amarela. “Isso também envolve muito a comunidade, porque quem passa por ver os cartazes, são mensagens que podem ser vistas por todos.”

Esta é, sobretudo, uma mostra onde se revela a relação da artista ao nível da identidade, escrita e paisagem, experiências que são “pessoais e que são partilhadas com outros”.

Para a AFA, “as fotografias da artista tiradas em Macau e no Tibete têm em conta a produção de identidades interculturais. Alice Kok distorceu parcialmente as imagens convidando-nos a ver novamente a relação com o movimento e a comunicação com lugares distantes. Estes temas, abstractos para muitos de nós, têm um significado directo para a artista, cuja família está separada entre estes dois lugares”.

18 Nov 2020

Revisão da lei orgânica do FDIC chega este ano ao Conselho Executivo 

Tai Kin Ip, director dos Serviços de Economia, assegurou ao deputado José Pereira Coutinho que o projecto de revisão da lei orgânica do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, de onde saíram os empréstimos para a falida Viva Macau, chega ainda este ano ao Conselho Executivo

 

[dropcap]O[/dropcap] projecto de revisão da lei orgânica do Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) deverá chegar ao Conselho Executivo para análise ainda este ano. A garantia é dada por Tai Kin Ip, director dos Serviços de Economia, numa resposta a uma interpelação escrita do deputado José Pereira Coutinho.

“Procura-se que o projecto de alteração seja submetido este ano ao Conselho Executivo para discussão”, apontou Tai Kin Ip, que adiantou alguns detalhes daquilo que poderá mudar na lei orgânica.

“Serão regulamentados os mecanismos de apreciação e aprovação das candidaturas de apoios e de supervisão. Serão incluídas as normas relativas à verificação de qualificação e à prestação de garantia adequada, a fim de assegurar o património do fiador que possa ser executada de forma mais eficaz no futuro através do processo judicial.”

Além disso, “no que concerne ao mecanismo de monitorização, aplicar-se-á, pela abordagem baseada no risco, uma monitorização dinâmica aos apoiados”, aponta ainda a resposta do director dos Serviços de Economia.

Relatório acompanhado

Tai Kin Ip destacou o facto de o FIDC ter vindo a acompanhar as sugestões e críticas feitas pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) este ano relativamente ao caso dos empréstimos concedidos à Viva Macau, no valor de 212 milhões de patacas.

“O FDIC manifestou a sua total aceitação das opiniões e sugestões levantadas pelo CCAC, tendo já sido iniciados os trabalhos de acompanhamento. O FDIC também irá aperfeiçoar o seu processo de apreciação, aprovação e gestão, através da alteração do diploma legal, criação do mecanismo de garantias, realização de gestão e de alerta de risco, e reiteração das responsabilidades profissionais e deveres do pessoal”, lê-se.

Os empréstimos à Viva Macau foram concedidos em 2009, mas só este ano é que o CCAC concluiu a investigação sobre o caso. No relatório, conclui-se não ter havido crime de corrupção ou fraude no empréstimo, mas que houve negligência por parte do Executivo.

18 Nov 2020

LAG 2021 | Relatório com soluções para problemas, mas sem visão de futuro 

As Linhas de Acção Governativa para o próximo ano apresentam algumas soluções práticas para problemas socioeconómicos causados pela pandemia, dizem analistas ouvidos pelo HM, embora Eilo Yu pense que pecam pela falta de orientação de futuro. A ideia de transformar o cheque pecuniário em cartão de consumo é bem acolhida

 

[dropcap]T[/dropcap]rês analistas políticos ouvidos pelo HM consideram que as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano apresentam medidas concretas para a resolução da crise socioeconómica causada pela pandemia. No entanto, Eilo Yu, professor de ciência política da Universidade de Macau, desejava ver orientações mais abrangentes para o futuro do território.

“Podemos dizer que estas são umas boas LAG para responder aos problemas actuais”, começou por dizer. “São uma aproximação pragmática às dificuldades sociais e apresentam uma forma para lidarmos com a pandemia e a crise económica, mas estas são as primeiras LAG depois de um ano de mandato [de Ho Iat Seng] e esperava-se alguma projecção para o futuro de Macau. Nestas LAG, não vemos direcções”, apontou.

O analista político Camões Tam disse não ter grandes críticas a apontar ao plano de acção do Governo, apresentado num ano atípico. “Estou satisfeito com estas LAG, porque neste ano duas questões afectaram Macau seriamente. Uma foi a guerra comercial entre a China e os EUA, e depois a covid-19. As receitas de Macau baixaram e não sei se no próximo ano iremos recuperar.”

Nesse sentido, Camões Tam esperava respostas mais conclusivas sobre a potencial crise de desemprego no sector do jogo. “A questão das licenças de jogo vai afectar muita gente”, disse, frisando que a estabilidade do sector foi posta em causa.

“As concessionárias de jogo vão despedir trabalhadores. Todos sabem isso, mas nestas LAG não se faz menção a essa questão. Como a poderemos resolver?”, questiona.

Para Larry So, analista político, o relatório das LAG para 2021 “é apropriado para resolver os problemas dos próximos anos”. No entanto, a questão essencial é “como vamos recuperar a nossa economia, pois está muito dependente dos sectores do jogo e do turismo”. Larry So, ao contrário de Camões Tam, defende que as LAG apresentadas por Ho Iat Seng “tentam lidar com estes problemas de uma forma lógica”.

Ho Iat Seng deixou a promessa de apresentar no próximo ano, na Assembleia Legislativa, a revisão do regime jurídico da exploração de jogos de fortuna e azar em casinos, mas a mesma está ainda dependente da consulta pública. Para Eilo Yu, não é a altura ideal para mexer no diploma.

“Acredito que o Governo queira adiar a discussão sobre o concurso público [para a atribuição de novas licenças], porque, neste momento, há muita incerteza no mercado. No próprio sector do jogo, há vozes que já referiram que esta não é a altura certa para falar do concurso público até o mercado estar mais estável.”

Cheque vs cartão consumo

Os três analistas contactados pelo HM consideram que a ideia de transformar o cheque pecuniário em cartão de consumo é boa, mas sugerem alternativas. Larry So pede a criação de dois cartões diferentes. “A maior parte das pessoas necessita do dinheiro não apenas para gastar no supermercado, mas em outras coisas onde não pode usar o cartão, tal como o pagamento da renda. Temos de olhar para as diferentes necessidades da população.”

Para Eilo Yu, alterar a forma do apoio pode conduzir os residentes a gastar o dinheiro exclusivamente na economia local. “Penso que o Governo quer apostar mais no cartão de consumo do que no cheque, porque isso faz com que se gaste o dinheiro apenas na economia local, uma vez que há pessoas que usufruem do dinheiro do cheque, mas vivem no estrangeiro. Acredito que é essa a aproximação que Ho Iat Seng quer fazer.”

Mudar mentalidades

A apresentação das LAG ficou também marcada pelas críticas do Chefe do Executivo ao funcionamento da Administração Pública e da falta de iniciativa de alguns funcionários e dirigentes. Para Eilo Yu, não é a primeira vez que um governante é directo a apontar os problemas existentes, lembrando as críticas já feitas por Edmund Ho.

“O Chefe do Executivo e os restantes líderes devem melhorar a comunicação para resolver os problemas que têm pela frente, ao invés de transferirem os problemas para as camadas de base da Administração. Esta tem sido a abordagem dos últimos Governos e, se esta mentalidade continuar, não creio que consigamos resolver os problemas da falta de coordenação e de pró-actividade”, frisou.

Ho Iat Seng alertou também para o facto de os residentes não gostarem de realizar trabalhos pesados, posição também defendida por Larry So. “Penso que, nos próximos anos, a nossa população tem de ser mais realista e tentar ajustar-se a uma nova realidade, pois as indústrias do jogo e do turismo podem não ser tão prósperas como no passado.”

17 Nov 2020

Teatro | D’As Entranhas apresenta Medeia no edifício do Antigo Tribunal 

A companhia teatral D’As Entranhas apresenta, nos próximos dias 26 e 28, quinta-feira e sábado, a tragédia grega Medeia, da autoria de Eurípedes. Vera Paz interpreta este monólogo desconstruído e criado a partir de uma tradução de Sophia de Mello Breyner. Nos dias 27 e 29, sexta-feira e domingo, sobe ao palco o espectáculo “I’ll Be Your Mirror”, com Mónica Coteriano

 

[dropcap]M[/dropcap]edeia, tragédia grega escrita por Eurípedes no ano de 431 a.c., será representada em Macau na próxima quinta-feira, dia 26, numa adaptação feita pela companhia teatral D’As Entranhas Macau – Associação Cultural. A actriz Vera Paz, também directora artística da companhia, protagoniza um monólogo criado a partir da tradução de Sophia de Mello Breyner e que estará em cena no espaço Black Box do edifício do Antigo Tribunal nos dias 26 e 28 deste mês, às 20h30.

“Fizemos uma adaptação livre do texto clássico, porque este tem 1419 versos e 11 personagens. Desconstruímos porque é uma tragédia muito pesada, um espectáculo sobre o amor, mas mais sobre a morte do amor, a vingança e a traição”, contou Vera Paz ao HM.

A sua personagem “é uma mulher que é um monstro”. “Na primeira cena ela é enganada, perseguida, e volta-se contra tudo. Ela escolhe o seu destino, pois é um coração partido, e mata tudo o que se coloca à sua frente”, adiantou.

Por forma a aliviar a carga dramática deste texto, a companhia teatral D’Entranhas resolveu criar uma tragicomédia, pois além da personagem principal há uma outra, que apresenta a peça. “É uma tragédia cómica. Nós trabalhamos sempre nesta fronteira, não é uma paródia, mas é um limite. Dentro da personagem da Medeia ela tem uma outra personagem que apresenta a peça, e que é uma forma de cortar aquele horror todo.”

Vera Paz revela os desafios enfrentados para levar a cabo este espectáculo em tempos de pandemia, uma vez que a encenação foi feita a partir de Portugal via Zoom, além de que outros actores também estão no país e trabalharam neste projecto à distância.

“São os novos tempos. Mas é uma honra fazer este texto. Pegámos numa tradução de Sophia de Mello Breyner, que é uma referência poética. Está muito bem escrito e traduzido.”
Para Vera Paz, a Medeia “é um espectáculo sobre a condição humana, sobre estas coisas irracionais, que não se explicam”. “Foi escrito há 2500 anos e acho que é das tragédias mais encenadas até hoje”, frisou.

A actriz reconhece que transmitir a mensagem do teatro clássico ao público chinês nem sempre é fácil. “A peça vai ser em português embora tenha sempre uma componente visual muito forte, como têm sempre os nossos espectáculos. Tenho essa dificuldade de como chegarmos ao público chinês, de como se traduzem os clássicos. A parte plástica e visual está lá, mas a linguagem é sempre uma barreira e neste caso é.”

Este espectáculo tem direcção artística, autoria e criação de Vera Paz e Ricardo Moura, enquanto que a interpretação e dramaturgia está a cargo de Vera Paz.

O corpo e o espelho

A companhia teatral D’As Entranhas Macau – Associação Cultural apresenta ainda outro espectáculo, nos dias 27 e 29 de Novembro, intitulado “I’ll Be Your Mirror”, protagonizado por Mónica Coteriano, que tem formação de bailarina.

“Este é um espectáculo conceptual, sobre o corpo físico e humano. Colocámos este nome porque é um espectáculo sobre como nos espelhamos, como é que nos projectamos no outro e como nos relacionamos com o nosso corpo”, disse Vera Paz.

“I’ll be Your Mirror” terá uma transmissão em directo da interpretação de Mónica Coteriano numa tela de grandes dimensões, para que o público possa ter uma melhor percepção “dos detalhes do corpo”. O espectáculo será será apresentado no espaço Black Box do edifício do Antigo Tribunal.

16 Nov 2020

Cheong Kin I, encenadora de “The Dress Looks Nice on You”: “Quero descobrir o mundo da esquizofrenia”

“The Dress Looks Nice on You” [em cantonês, Hoi Vong Seng] é a nova peça de teatro encenada por Cheong Kin I. Escrito pelo dramaturgo taiwanês Chen Hung-Yang, este espectáculo inspira-se na experiência pessoal da encenadora de Macau, que lidou com o vício do jogo do pai, além de abordar o tema da esquizofrenia. Depois de uma leitura pública do argumento em Outubro, a estreia oficial em Macau acontece em Junho do próximo ano, no teatro do edifício do Antigo Tribunal. Entre os dias 19 e 22 de Novembro “The Dress Looks Nice On You” dá um salto a Taiwan

 

[dropcap]F[/dropcap]oi difícil voltar a abordar questões familiares neste novo projecto teatral? Porque decidiu enveredar novamente por este tema?

A família é algo que teve muito peso durante o meu processo de crescimento e amadurecimento. Esta é a segunda peça onde falo da família, depois de “Rua de Macau – Sabores”. Toda a minha inspiração vem do meu pai, porque ele sempre teve e continua a ter impacto na minha vida. Com a família tornamo-nos naquilo que somos enquanto seres humanos. Em “Rua de Macau – Sabores”, conto a história de como o meu pai lutou toda a vida para sobreviver em Macau depois da sua vinda clandestina do Continente. “The Dress Looks Nice on You” parte da minha própria experiência, mas também tem a ver com o meu pai e de como a sua dependência do jogo me perturbou imenso, e ao mesmo tempo contribuiu para me formar como pessoa. Tinha medo que viessem cobradores de dívidas à nossa casa. Isso nunca aconteceu, mas muitas vezes não sabia exactamente quais os barulhos verdadeiros ou aqueles que partiam da minha imaginação. É justamente isso que quero abordar na minha nova peça. Primeiro vem a parte da audição, depois a parte visual. Quero descobrir com os meus espectadores o mundo da esquizofrenia.

De que forma é que vai abordar este assunto?

Nesta peça falamos da esquizofrenia, no sentido em que parece que o passado já passou. Mas não, volta e voltará sempre, sobretudo as coisas infelizes da vida. A minha ambição é discutir mais profundamente este tema, e também a essência do teatro. Numa peça, ou numa qualquer criação artística, estamos a criar mais sofrimento ou a ajudar as vítimas a libertarem-se de tudo isso, quando abordamos estas questões ou falamos destas pessoas? Para mim não é difícil abordar uma questão de família, mas sim criar uma história e transformar a minha própria experiência numa criação artística.

Porquê o nome “The Dress Looks Nice on You”? O vestido tem aqui algum simbolismo especial?

Isso refere-se ao conto “O tio Novelo em Connecticut” [Uncle Wiggily in Connecticut] do escritor americano Jerome David Salinger. Neste conto, a Eloise, uma das personagens, chorou porque lhe foi dito que em Nova Iorque ninguém veste o tipo de vestido que a Eloise comprou. A Eloise pensa que era uma boa rapariga, por simplesmente ter chorado por causa disso. Gosto muito desta passagem. Para mim o vestido está muito relacionado com a diferença de géneros, e também com o processo de transformar um vestido em algo feminino. Sempre associei isso com a socialização no geral. A Eloise encarna uma das personagens da peça, que fica socializada. Mas aqui uso a palavra socialização com a máxima educação. Posso mesmo dizer que esta personagem, na minha peça, é violada socialmente, no sentido em que, enquanto seres humanos, temos sempre de nos adaptar para sermos aquilo que a sociedade quer ou necessita. Não temos escolha na sociedade a não ser que respeitemos as suas regras. Construímos aqui um mundo de ouvido das vítimas de esquizofrenia, pois a alucinação auditiva é um ponto principal da peça.

Quais as suas expectativas em relação à apresentação deste projecto em Taiwan?

Para tentar reconstruir um mundo imaginativo da esquizofrenia o argumento tem 60 fragmentos. Isso não é muito comum em Macau. Por isso, os espectadores de Macau terão de ver toda a peça para conseguir compreendê-la e digeri-la, incluindo as suas personagens.

Há diferenças entre o público de Macau e de Taiwan?

Os espectadores de Macau estão mais habituados a ver algo linear. Mas aqui não estou interessada em criar um ponto culminante para nenhuma história, pois estou a criar uma banalidade da vida que, afinal, nem é algo tão banal. É como, por exemplo, a fantasia sobre o amor, o absurdo da vida, o sofrimento da sobrevivência. Tomo os fragmentos da vida para construir e representar os diversos estados de uma vida banal que todos nós vivemos. Em contrapartida, o público de Taiwan está mais habituado a esta espécie de argumentos. É um público que gosta de reflectir, adivinhar e mastigar o que vê. Isso tem a ver com a educação na ilha, que incentiva e proporciona um pensamento independente.


Porquê a estreia em Macau só no próximo ano?

Por causa da pandemia. Segundo as medidas do Governo, teríamos de reduzir para metade os lugares dos espectadores e depois de dois anos de preparação seria muito frustrante ver um teatro inteiro meio vazio. Se apresentássemos a peça mais vezes iríamos perder dinheiro, para que o público não pagasse mais pelos bilhetes. No período da pandemia fazer teatro tem sido muito difícil e, ainda por cima, as boas peças têm menos visibilidade.

Teme algumas repercussões negativas pelo facto de apresentar peças de teatro em Taiwan, tendo em conta a questão política?

Macau não é o continente chinês e o continente chinês não é Macau. Ainda não temos problemas por cá. Além disso, o que faço não tem que ver com política, por isso nem poderia ser alvo de uma repercussão negativa. Em 2018, quando encenei “A Reunificação das Duas Coreias”, que não tinha a ver com política mas abordava o amor, convidei intencionalmente actrizes e actores de Macau e Taiwan. Os falantes das duas línguas, cantonense e mandarim, sem aprender os idiomas, não se compreendem. Mas isso não tinha que ver com a política. Foi uma maneira para reinventar, de forma criativa, a impossibilidade de comunicação entre os amantes. Macau não é um lugar onde a sensibilidade política tenha destaque, como é o caso de Hong Kong. Além disso, Taiwan é um território muito aberto e abraça todo o tipo de opiniões. Não temos nenhuma pressão política.

15 Nov 2020

Obituário | Mio Pang Fei, pintor e professor de artes, faleceu sexta-feira aos 84 anos 

Mio Pang Fei, expoente máximo da pintura em Macau e do chamado neo-orientalismo, faleceu na sexta-feira com 84 anos. A morte do homem que ensinou uma geração de novos artistas a partir da década de 80 e que revolucionou o mundo das artes de Macau encerra uma era na arte contemporânea, considera Alice Kok. Várias personalidades do mundo artístico falam da “sorte” que Macau teve em acolher Mio Pang Fei

 

[dropcap]“A[/dropcap] arte é inútil, mas os trabalhos artísticos são úteis.” É desta forma, sentado num carro, olhando Xangai, a sua cidade natal, que Mio Pang Fei fala da sua percepção do que é arte, filmado pela lente de Pedro Cardeira. Dono de uma carreira imensa no mundo das artes, percursor da arte contemporânea em Macau, Mio Pang Fei faleceu na sexta-feira aos 84 anos, segundo fonte da família à TDM Rádio-Macau.
Considerado o pai do neo-orientalismo, o seu traço único serviu de inspiração a uma geração de pintores, além de que o seu ensino das artes deixou uma marca que jamais se apagará.

Ao HM, Alice Kok, pintora, curadora e presidente da associação AFA – Art For All Society, considera que a morte de Mio Pang Fei representa “o fim de uma era”. Agora virá uma outra coisa, resta saber o quê.
“Mio Pang Fei foi, sem dúvida, o artista mais importante na fase da formação da arte contemporânea em Macau, que começou nos anos 80. Macau teve muita sorte em ter tal artista e professor de artes.”

Mas não foi só Macau que ganhou com a chegada de Mio Pang Fei. O próprio artista descobriu um lugar onde pôde pôr em prática todas as experimentações e dúvidas que tinha sobre o que era arte e qual o caminho que deveria seguir enquanto artista.

Nascido em Xangai em 1936, Mio Pang Fei estudou na Universidade de Belas Artes de Fujian, tendo-se dedicado à caligrafia chinesa. Era a única forma de escapar e de se manter ligado ao mundo das artes, numa altura em que o artista já pensava de maneira diferente. Mio Pang Fei chegou a ser acusado de práticas contra-revolucionárias por demonstrar um grande interesse no modernismo que se fazia no Ocidente. Esteve preso e sujeito a trabalhos forçados.

“As pessoas brindavam e desenhavam o Presidente Mao. Mas eu estava a fazer algo diferente. Destruí os quadros porque não podia mantê-los, tinha muito medo. Estava a pensar em qual caminho deveria seguir. O Ocidente já tinha abraçado a arte abstracta. Fizeram-no muito bem, mas nós não”, disse Mio Pang Fei sobre este período, no documentário de Pedro Cardeira.

Alice Kok dá conta dessa liberdade criativa que Macau proporcionou a Mio Pang Fei. “A arte contemporânea começou a ganhar forma em Macau nos anos 80 e foi nesse período que ele experimentou muitas ideias ligadas ao modernismo, a ligação entre o Ocidente e o Oriente, e depois de muitos anos de experimentação chegou ao novo orientalismo. O território precisava de Mio Pang Fei. Ele veio da Revolução Cultural e em Macau pôde experimentar as suas ideias sobre a arte. Fez isso com tal energia que se abriu uma porta para o público, estudantes e jovens artistas.”

Uma das últimas entrevistas que deu, provavelmente a última, foi em Abril deste ano à TDM Canal Macau, no âmbito de uma reportagem intitulada “A China Vermelha”. Nela, Mio Pang Fei volta a recordar os seus tempos de estudante de belas artes.

“Quando estudava na universidade, aprendemos o Realismo de [Gustave] Courbet. Courbet foi o autor introduzido pelo professor. Só isso. E eu pensei ‘isto não está certo’. Disse que Courbet esteve activo em meados de 1850. Estava na universidade na década de 50, então fui à biblioteca ler e investigar, para ver o que aconteceu nesse século. Secretamente li sobre eles, tirei notas e comecei a experimentar.”

O início de algo

Sorte e “benção” são outras palavras usadas para descrever o trabalho e vivência de Mio Pang Fei no território. Konstantin Bessmertny, pintor russo radicado há vários anos em Macau, disse à TDM Rádio Macau que “Macau foi abençoado por ter tido Mio Pang Fei”.

“Era difícil comunicar com ele por causa do meu chinês e do inglês dele, mas senti que era um dos pilares do edifício cultural de Macau. Mas ele trazia uma espécie de saber oriental, a sua técnica, a dimensão, a escala, a apresentação”.

Carlos Marreiros, arquitecto, artista plástico e ex-Presidente do Instituto Cultural, disse também à TDM Rádio Macau que Mio Pang Fei foi pioneiro por “misturar expressões tradicionais chinesas e contemporâneas ocidentais renovando um discurso de uma contemporaneidade assinalável para a época e ainda com força hoje em dia”.

Marreiros recordou o facto de Mio Pang Fei ter fundado o Círculo de Amigos da Cultura de Macau, juntamente com outros artistas do território, tendo deixado um “legado muito grande”.

“Ele foi um combatente no sentido das ideias e da formação artística porque era uma pessoa extremamente pacífica, serena, inteligente, extremamente culto”, acrescentou Marreiros, que considera que Mio Pang Fei deve ser considerado um pintor de Macau, apesar de ter nascido na China.

“Ele está em Macau desde 1983. Gosta de Macau, assume Macau, representou Macau em tantas exposições e ele adorava Macau assim como Portugal onde tinha casa e ia sempre que podia”, disse.

A Bienal de Veneza

A última grande exposição de Mio Pang Fei em nome próprio aconteceu no Galaxy, em 2012, mas em 2015 foi seleccionado pelo Museu de Arte de Macau (MAM) para representar Macau na 56.ª Bienal de Veneza. Filipa Queiroz, à data jornalista da TDM Canal Macau, entrevistou Mio Pang Fei na cidade italiana.

“Quando o encontrei lá, junto a uma das suas instalações, a que representava o período da Revolução Cultural, o brilho nos seus olhos aliado ao orgulho de toda a família e comitiva em volta era absolutamente comovente. A entrevista em si foi curta porque, além de discreto, Mio Pang Fei acusava cansaço da viagem, mas disse logo que, apesar de não sair da China há muito tempo, e estando debilitado em termos de saúde, não podia faltar”, contou ao HM.

Filipa Queiroz recorda também que Paolo Baratta, presidente da Bienal de Veneza, “não escondeu o entusiasmo” pelo momento. “Lembro-me que disse que Macau tinha realmente acertado com a exposição do ‘grande maestro’ na maior mostra internacional de arte do mundo. Para mim Mio Pang Fei personificava as ideias de força e liberdade e acredito que perdurem para sempre na sua obra.”

Pedro Cardeira, realizador do documentário sobre a vida e obra de Mio Pang Fei, conheceu o pintor e professor em 2010. Com ele criou uma relação de amizade graças à proximidade entre famílias, uma vez que o seu cunhado foi aluno de Mio Pang Fei.

O realizador recorda o facto de ele “conhecer a arte ocidental tão bem como a arte chinesa”. “Mio Pang Fei surge num contexto muito especial, no início dos anos 80, quando Macau começou a ter uma transformação e abertura para as artes. Os artistas de Macau eram ainda amadores e quem queria fazer alguma coisa tinha de sair de Macau. Não havia uma escola de artes, um movimento, e a vinda de Mio Pang Fei para Macau veio criar isso”, frisou ao HM.

A rodagem do documentário foi feita em Xangai, onde Mio Pang Fei esteve com amigos que também sofreram as consequências da Revolução Cultural. Só depois desse convívio é que o pintor ganhou “coragem” para contar a sua experiência para a câmara.

“Foi muito difícil ele falar desse período. Não queria fazer um documentário sobre a Revolução Cultural, mas insisti porque isso foi muito marcante na obra dele, foi traumatizante, mas afectou todo o seu percurso em Macau. Quando ele fez a exposição ‘A Condição Humana’ é evidente que está lá esse episódio da vida dele”, destaca Pedro Cardeira.

Por ter iniciado um movimento novo numa época específica, será difícil que algum artista venha a substituir ou a criar um legado tão importante como o de Mio Pang Fei, aponta o realizador. “É difícil vir outro artista que consiga chegar a esta posição, porque o contexto já vai ser diferente. Isso faz com que Mio Pang Fei seja único”, conclui.

Em 2017, Mio Pang Fei recebeu a medalha de mérito cultural atribuída pelo Chefe do Executivo de então Chui Sai On.

15 Nov 2020

TIMC | Pixels e ARI and The Party Animals trazem novidades este fim-de-semana 

Por um lado, os Pixels, banda de tributo aos Pixies, que trazem novas músicas. Por outro, ARI junta-se ao projecto The Party Animals que pretendem reunir num só palco a energia de músicos profissionais que já tocaram em bares de casinos e hotéis. Eis os espectáculos deste fim-de-semana do festival This is My City

 

[dropcap]I[/dropcap]ntegrados no cartaz deste ano do festival This is My City (TIMC), os Pixels e ARI and The Party Animals actuam esta sexta-feira e sábado, respectivamente, na discoteca D2. São duas noites que prometem ser, acima de tudo, diversas e divertidas, mas também repletas de novidades.

Os Pixels, banda de tributo aos Pixies, trazem músicas novas, enquanto ARI and The Party Animals resolveram introduzir um novo conceito junto do público de Macau, a fim de concretizarem novas experiências em palco.

Ao HM, Nuno Gomes, membro integrante dos Pixels, levantou a ponta do véu daquilo que os amantes da banda poderão ouvir amanhã. Recentemente os Pixels deram um concerto no Live Music Association (LMA) e o espectáculo no D2 será um pouco a extensão desse evento.

“Quando demos o concerto no LMA o público pediu mais duas músicas e ficamos com pena de não as podermos tocar. Decidimos aprender essas músicas”, contou.

Desta forma, “o público pode esperar músicas melodicamente bonitas, típicas do pop rock, e também uma ou outra música mais punk”. “Temos mais de 20 músicas preparadas e quem é fã de Pixies vai, de certeza, adorar o nosso concerto. Quem não conhece vai lá ter as músicas icónicas da banda, como o ‘Where’s My Mind?” Ou “Here Comes Your Man” e será surpreendido com uma parte dos Pixies mais visceral”, acrescentou Nuno Gomes.

Quem também actua no D2 amanhã é o músico Ryan Carroll, que já trabalhou com Nuno Gomes em outros projectos musicais. “Vai ser uma excelente noite pela diversidade musical. O Ryan Carroll já tocou comigo e outro músico numa banda que tivemos e é um músico de eleição em Macau.”

Para os Pixels, o concerto de amanhã no D2 será uma espécie de encerramento para um período de reflexão. “As pessoas adoram e temos tido uma boa adesão, mas como tocamos músicas dos Pixies receamos estar a ficar repetitivos. Estamos a pensar fazer uma paragem depois do TIMC, dar um grande espectáculo no D2 e descansar depois durante uns tempos e ver se há vontade de continuar. Não queremos saturar as pessoas, mas a intenção é continuar e aprender mais músicas”, adiantou Nuno Gomes. A noite encerra com o DJ Set dos Trainsportters.

Recordar o Bellini ou Lion’s

ARI, músico nascido em Macau e conhecido pelas suas sonoridades funk, decidiu juntar a sua banda, os ARICLAN, ao projecto The Party Animals, composto por vários músicos de Macau, de várias nacionalidades. O espectáculo acontece no sábado e promete ser uma experiência que poderá atingir novos rumos, contou ARI ao HM.

“Pensámos em apresentar ao público, nesta edição do TIMC, uma espécie de entretenimento. Algo diferente da parte de uma banda, pois vamos tocar canções, mas também temos elementos diferentes para interagir com o público. Chamemos-lhe uma experiência musical, pois queremos levar a música a um outro nível na sua relação com o público”, contou.

ARI, nascido em Macau, tem já uma vasta experiência como músico, que teve início ainda adolescente em Hong Kong. Depois da participação num concurso televisivo para músicos, fundou a sua banda, “What The Fuck”, que viria a mudar de nome para ARICLAN, em 2018.

Sobre a fusão com os The Party Animals, ARI não sabe ainda onde é que essa experiência o vai levar, mas diz querer recordar os tempos em que bares como o Bellini, no Venetian, e o Lion’s, no MGM, tinham as portas abertas com música ao vivo. Até porque grande parte dos músicos que compõe os The Party Animals tocaram lá.

“É como se pegássemos em todos os músicos que têm experiência em tocar vários tipos de canções e juntá-los num grupo só. É como juntar a energia de espaços como o Lion’s e o Bellini num só lugar”, exemplificou.
ARI espera, com os The Party Animals, dar um primeiro passo que os possa levar no futuro a crescer enquanto banda. “Será a primeira apresentação deste projecto. Se as pessoas ficarem interessadas podemos começar a tocar novamente em hotéis, por exemplo, e criar aqui uma série de espectáculos. O nosso primeiro passo é ter reconhecimento em Macau, mas temos de nos desenvolver um pouco mais enquanto banda. Os The Party Animals querem ir a muitos eventos agora, ter muita exposição, para ver o que podemos construir.”  A noite fica completa com um DJ Set de Lobo Ip.

As portas do D2 abrem às 22h30, tanto na sexta-feira como no sábado, e os espectáculos começam às 23h. Os bilhetes custam 180 patacas e dão direito a duas bebidas.

11 Nov 2020

Joaquim Ramos de Carvalho: “IPM está sintonizado com o Governo”

Criado em Dezembro, o novo Centro Internacional Português de Formação do Instituto Politécnico de Macau visa dar respostas a todas as perguntas sobre o projecto da Grande Baía. Mas, acima de tudo, pretende ser um local de formação e conhecimento destinado não só a estudantes, mas a profissionais com ligação à China e a Macau, em áreas que vão além da tradução. Joaquim Ramos de Carvalho promete anunciar novidades já em Janeiro

 

[dropcap]F[/dropcap]oi vice-reitor da Universidade de Coimbra (UC) até 2019. O que o levou a abraçar agora este desafio no IPM?

Primeiro, porque a oportunidade ocorreu. Enquanto vice-reitor da UC, tive muitos contactos com o IPM, era o nosso parceiro preferencial em Macau, porque tinha muita actividade na área da língua portuguesa. Já conhecia o IPM e, depois de acabar o meu mandato, em 2019, o IPM fez-me o desafio. Este era um desafio muito aliciante, sobretudo porque também tinha a ver com uma área em que me tinha empenhado bastante: as relações entre a China e os países de língua portuguesa. É uma excelente oportunidade e estou muito contente que se tenha concretizado.

O Centro é muito recente, foi criado em Dezembro. Quais os seus objectivos principais, para já?

A missão que me foi definida foi diversificar aquilo que tem sido a oferta actual do IPM em relação à língua portuguesa e no contexto da relação entre a China e os países de língua portuguesa. O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM tem feito um excelente trabalho, tem se focado, com muito sucesso, na formação de professores de língua portuguesa. Mas a percepção que temos é que há mais solicitações variadas de oportunidades de formação, e também mais específicas, que não sejam apenas centradas na língua.

Como assim?

São formações que passam por um conhecimento maior, em matéria académica, das oportunidades que existem de ambos os lados para cooperação futura, ou para uma articulação de projectos que envolvam a China e os países de língua portuguesa e em que haja um plano académico. Penso que o IPM está muito bem colocado para isso e eu tenho alguma experiência nessa área. O âmbito vai além da interpretação e tradução e terá essa ambição de diversificar a oferta e corresponder ao interesse crescente que existe de ambas as partes de conhecimento e motivo de estabelecimento de ligações.

Essa formação específica pode, portanto, chegar também a outro tipo de profissionais, além de professores?

Vou dar-lhe o exemplo da Grande Baía. Neste momento, há muita necessidade de informação nas universidades e nos institutos politécnicos dos países de língua portuguesa sobre as oportunidades e áreas de foco. O IPM tem capacidade para criar pequenas formações e cursos, ou conferências on-line, que permitam transmitir o que representa e significa o projecto e qual o papel de Macau na Grande Baía, ou qual o papel que se espera da China e dos países de língua portuguesa. Por outro lado, há muita actividade crescente com as visitas de Estado, com os acordos académicos. São dois planos, em que há desenvolvimento contínuo das relações económicas e comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. Noutro nível, há cada vez mais acordos de cooperação, declarações políticas de vontade de cooperar, e no meio é preciso fazer surgir projectos, pôr as pessoas em contacto e, para isso, é preciso fazer circular informação.

O Centro irá, portanto, agilizar todos esses acordos e cooperações, não só no projecto da Grande Baía, mas também na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

Penso que em relação à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” as pessoas já têm uma ideia [do que se trata], pois é um processo que está em curso há mais tempo. Mas em relação à iniciativa da Grande Baía há muita necessidade de informação. Não me cabe a mim, ou ao IPM, dizer que se vai fazer isto ou aquilo, mas sim criar condições e fazer as pontes necessárias para que isso ocorra.

Em termos concretos, o que está a ser feito para esse fim?

Devemos utilizar algumas das redes que já existem, tal como as redes académicas no contexto do ensino superior dos países de língua portuguesa. Esse é um canal que devemos explorar. Espero que, em breve, estejamos em condições de anunciar iniciativas relevantes nesta área. Depois, no contexto actual, as formações e oportunidades online são muito importantes e é inevitável que o façamos. Espero poder iniciar uma série de conferências online, pequenas palestras que vão focar-se nas oportunidades de cooperação académica. No fundo, [o Centro] vai revisitar os acordos que já foram feitos, as declarações de prioridades, e fazer revisão sucessiva, em várias conferências, daquilo que são as oportunidades bilaterais entre a China e os países de língua portuguesa e do que se poderá fazer em conjunto a nível multilateral.

O Centro vai, portanto, tentar desbloquear essa informação sobre o projecto da Grande Baía.

Nos últimos anos lidei com muita gente que estava atenta aos desenvolvimentos da China. Se perguntar quem sabe o que é “Uma Faixa, Uma Rota”, a possibilidade de as pessoas saberem é elevada, mas com o projecto da Grande Baía isso não acontece. Estas coisas demoram tempo e é preciso criar canais de divulgação. Quando falo em falta de informação refiro-me à informação que ainda não chegou às pessoas que potencialmente têm interesse [na Grande Baía], mas que não têm conhecimento específico da forma como esta região vai ter um papel importante nesse quadro geral e no futuro.

Qual é o público alvo do Centro?

Estudantes da China que estudaram língua portuguesa e que agora precisam de se focar em áreas específicas, além da tradução e interpretação. Esse é um público alvo que existe em grande quantidade na China. Mas também começa a existir em Portugal um número crescente de pessoas que seguiram formações dedicadas às relações com a China, com uma componente maior ou menor de língua chinesa, e que passam pelas relações internacionais ou pela economia.
Temos ainda outro público alvo, muito importante, que são as pessoas que, nas instituições académicas, têm a responsabilidade de dinamizar oportunidades de cooperação com impacto no desenvolvimento profissional dos estudantes e também na capacidade das instituições de trazerem valor acrescentado à sociedade. Nas universidades há cada vez mais serviços especializados e cada vez mais internacionalizados. Aí há muita necessidade de informação sobre aquilo que se passa nesta região do globo. Por aqui vai passar muito do desenvolvimento económico de ponta, e também tecnológico. No caso de Macau, vai também existir um desenvolvimento na área do lazer. Outro público alvo são os profissionais que já estão a trabalhar e que podem ter interesse em determinadas formações.

Quando começam as primeiras acções do Centro?

Em Janeiro. Acabei de chegar e preciso de um bocado de tempo de adaptação. A eficácia daquilo que posso fazer está muito ligada à compreensão do próprio contexto institucional, mas penso que em Janeiro poderemos anunciar as primeiras conferências e iniciativas. Penso que serão anunciadas ainda antes do fim do ano.

Quais os desafios com que já se deparou e que podem influenciar o trabalho do Centro?

É preciso ver o meu contexto. Venho de Coimbra, que não tem o contexto de centralidade clássica das grandes capitais. Venho de um contexto em que se explora um tipo de centralidade diferente, que é a capacidade de juntar aquilo que de outra forma não se juntaria. Coimbra é uma cidade de 120 mil habitantes, mas onde se juntam estudantes de 100 países num espaço muito pequeno. De um certo critério de centralidade e relevância, que é a dimensão, número de ligações, é substituído de uma forma específica pela capacidade de ter diversidade muita grande de, num espaço muito pequeno, multiplicar encontros. A minha esperança é que Macau possa reproduzir um bocado esse tipo de lógica. Aliás, até a um nível muito superior, porque o faz há muito mais tempo e com diversidade muito maior, num espaço mais pequeno. O grande potencial é a capacidade de juntar aquilo que, de outra forma, não se juntaria.

Em termos de infra-estruturas existe capacidade do IPM, ou estas formação podem vir a decorrer em outros locais?

Nesta fase, fazemos uma grande aposta no online. Vejo que o IPM teve de fazer uma enorme transformação na sua capacidade de fazer formação online. Também já pude constatar que é uma instituição extremamente eficaz e bem organizada, se bem que numa dimensão mais pequena daquilo que eu estava habituado. Não tenho receio e sei que aquilo que o IPM está muito sintonizado com as prioridades do Governo e com as prioridades gerais do Governo Central. Isso assegura uma sustentabilidade deste projecto que, apesar desta fase menos boa que estamos a passar, não me coloca grandes preocupações.

O Centro planeia trabalhar com outras universidades ou instituições locais ligadas ao ensino do português? Há a ideia de criar sinergias?

Penso que sim. Também existe o IPOR [Instituto Português do Oriente]. Em matéria de divulgação e promoção do português na China e no Oriente no geral todas as entidades envolvidas não são demais. No curto espaço de tempo em que aqui estive, vi que há de facto muita colaboração, com o IPOR nomeadamente. Sei também que há uma grande articulação entre as pessoas dedicadas a esta área nas várias instituições. Todos são poucos para o trabalho que se faz e todos, no fundo, são muito próximos.

Quanto tempo vai ser este seu mandato?

O meu contrato é de dois anos. Acima de tudo, a minha missão prevista para o centro passa pela demonstração do empenho que o IPM tem colocado em ser um agente eficaz nesta ligação entre a China e países de língua portuguesa do ponto de vista académico. Era a experiência que tinha antes e que agora deste lado vejo de maneira mais clara. Esta fase corresponde a um aumento da capacidade do IPM de responder às necessidades e consolidar o que já foi feito com bastante sucesso na área da língua.

11 Nov 2020

Obituário | Manuela Martins, a mãe “avant-garde” e a pintora “honesta”

Manuela Martins faleceu na madrugada desta segunda-feira, em Lisboa, aos 88 anos. Residente em Macau durante vários anos, deixou um cunho pessoal no mundo das artes do território, onde também deu aulas. Os amigos recordam a mãe e a professora, mas também “a companheira de tertúlias”, cuja energia “contagiava conversas”

 

[dropcap]A[/dropcap] última de tantas exposições que protagonizou em Macau realizou-se em Janeiro de 2017 e teve como título “Observações”. Na Casa Garden, revelavam-se 25 a 28 telas pintadas a óleo e que continham o habitual e característico traço da pintora Manuela Martins, falecida esta segunda-feira, de madrugada, em Lisboa, aos 88 anos de idade.

Perante a sua morte, os amigos recordam as várias perspectivas que a sua vida tomou. Não foi apenas artista ou professora, mas foi também mãe. É desta forma que a descreve Rui Paiva, artista e académico, que com ela privou numa Macau de outros tempos.

“Nos anos 80 e inícios de 90, Manuela era a companheira de tertúlias, jantares e almoços que um grupo, talvez o seu núcleo duro, organizava. Éramos artistas, professores, jornalistas, funcionários públicos, pessoas. Não estávamos nem emigrados nem exilados, numa lufada de ar fresco na complexa sociedade de Macau. Sentíamos todos que fazíamos parte de Macau. Manuela sempre com a sua observação profunda e o sorriso irónico e calmo.”

Manuela Martins foi também “uma mãe muito avant garde”, mãe de “dois talentosos”, Rui e Nuno Calçada Bastos. Rui Paiva recorda também Manuela Martins como uma “artista muito respeitada, como que a decano das artes na comunidade, com a sua formação superior nas artes e o seu talento”.

O seu trabalho tinha “um traço muito bonito, uma pintura de velaturas muito peculiares”. Mas Rui Paiva lamenta que a obra de Manuela Martins tenha sido pouco conhecida. “Fosse Manuela mais virada para a sua pintura, geralmente figurativa, teria sido outra a sua exposição e reconhecimento geral.”

Para esta questão talvez tenha contribuído o facto de Manuela Martins ter feito um caminho diferente que não passou apenas pelas artes. Rui Calçada Bastos assim o lembrou, em 2017. “O que aconteceu com a minha mãe foi ter mudado de vida várias vezes, foi viver para Moçambique, apaixonou-se, teve filhos, tudo rumos complicados para uma carreira artística. Sempre foi honesta consigo própria, pintando aquilo que via.”

Sempre a alegria

Manuela Martins sempre fiel ao óleo sobre tela e às representações figurativas. Estudou Belas Artes nos anos 50 ao lado de artistas conceituados como Lourdes Castro e José Escada. Também Joaquim Franco, pintor e residente em Macau, privou com a artista. Recorda “a professora, a artista plástica e sobretudo a amiga que tive o privilégio de conhecer aquando da minha chegada a Macau. A sua alegria, amabilidade, a sua energia contagiavam as nossas conversas”.

Joaquim Franco ainda hoje tem um trabalho assinado por Manuela Martins, uma aguarela. Trata-se de um “figurativo seu, muito próprio, que transborda alegria e simplicidade quase comoventes, realçando a energia, sensualidade e vitalidade que punha na vida e fazia delas as suas qualidades humanas mais visíveis”.
José Drummond, outro artista de Macau, também recordou a importância da obra de Manuela Martins nas redes sociais. “Obrigada Manuela pelo tanto que me ajudaste e que as palavras não são suficientes para o exprimir.”

No texto introdutório da exposição “Observações”, Drummond falou da “alegria de viver de Manuela Martins que foi sempre complementada pelo amor e satisfação de pintar”. “É também importante o facto de Manuela Martins ter residido em Macau, ganhando por isso o estatuto de artista da terra, e esta exposição marca o retorno para o público local de uma artista que foi também uma referência na educação visual do território”, escreveu José Drummond em 2017.

10 Nov 2020

Justin Cheong, activista: “Trump é o regresso da barbárie”

Residente de Macau e com passaporte português, Justin Cheong vive em Oakland, na Califórnia, onde lidera uma ONG que luta pela defesa dos direitos dos imigrantes sem cidadania americana. O activista acredita que a derrota de Donald Trump nas eleições só foi possível graças às acções de rua realizadas nos últimos anos contra o racismo e em prol dos direitos das minorias. A eleição de Joe Biden representa “uma vitória do movimento dos direitos civis”, assegura

 

[dropcap]J[/dropcap]oe Biden foi eleito o 46º Presidente dos EUA. Em termos gerais, que impacto social e económico acha que vai ter no país?

Estas eleições presidenciais representam a vitória do movimento dos direitos civis e da luta pelos direitos dos imigrantes, que tem vindo a perder contra Donald Trump e o seu movimento racista. O resultado da eleição leva a uma reflexão do desenvolvimento histórico na luta pela igualdade social. Não é exagerado dizer que se não tivessem ocorridos demonstrações em massa e mobilizações nas ruas nos últimos anos, e particularmente este ano, a derrota de Donald Trump não teria sido viável. A mudança mais significativa e o impacto desta eleição é a lição que o movimento social de massas trouxe à causa pela igualdade. Esta acção pode fazer história e determinar a direcção do país. No que diz respeito à BAMN [Coalition to Defend Affirmative Action, Integration and Immigrant Rights and Fight for Equality by Any Means Necessary] vamos continuar a providenciar liderança para que as acções do movimento continuem a ser encorajadas e para que vençam. A liderança do nosso movimento é um factor determinante para sabermos se os EUA irão enfrentar uma mudança dramática para o melhor ou para o pior. O movimento dos direitos civis e dos imigrantes deve continuar a lutar de forma independente em relação aos partidos políticos para atingir os seus objectivos.

Teme uma espécie de guerra civil entre republicanos e democratas, com mais violência nas ruas?

O conflito social entre o movimento da defesa dos direitos civis e dos imigrantes, por um lado, e o movimento racista de Donald Trump, por outro, não vai terminar e vai continuar a aumentar enquanto existir desigualdade social. Vai continuar enquanto os imigrantes continuarem presos em campos de concentração, as minorias raciais continuarem a ser assassinadas por uma polícia racista e o Governo priorizar os lucros ao invés das vidas, ao reabrir a economia no meio da pandemia da covid-19. A BAMN acredita que a única forma de pôr término à violência incitada pelo movimento racista de Donald Trump é continuar a afirmar a sua autoridade e manter o poder de mobilizar as ruas, ganhando uma verdadeira igualdade de direitos para os imigrantes e terminar com o racismo. A derrota eleitoral de Donald Trump é apenas o início do despertar do movimento pela igualdade social. A BAMN reconhece a importância da independência do movimento, tanto do ponto de vista do partido democrata como do partido republicano, para ganhar os direitos reais dos oprimidos. A desumanização e o tratamento de segunda classe para os imigrantes devem terminar ou, de outra forma, não haverá paz.

Que tipo de mudanças espera de Joe Biden no que diz respeito às políticas de imigração?

Nos últimos anos, tornámos claro que queremos o direito a ter cidadania plena para todos os imigrantes, com ou sem papéis. Temos mobilizado massas com acções directas para travar as deportações de imigrantes por parte da Immigration Customs and Enforcement (ICE). Fizemos uma mobilização nacional para exigir a prisão dos polícias racistas que assassinaram pessoas negras ou latinas. Mobilizámos e fomos a tribunal para travar a reabertura de escolas e prevenir os contágios de covid-19 nas nossas cidades. Estas são as exigências do nosso movimento e queremos que Joe Biden e o partido Democrata as conheçam.

Espera uma relação mais harmoniosa entre os EUA e a China, em oposição ao proteccionismo de Trump?

É claro que tanto o partido Democrata como o Republicano concordam que os EUA devem impor uma série de políticas externas para manter a hegemonia do país. Os dois partidos partilham este objectivo, apesar de terem métodos diferentes. No entanto, do ponto de vista da BAMN, a nossa preocupação é diferente porque pretendemos criar um movimento internacional. Acreditamos que as pessoas oprimidas na China e no resto do mundo têm o interesse comum de lutar contra a desigualdade e isso vai unir-nos no mais básico. A competição pelo mercado mundial entre a China e os EUA tem sido, de facto, a grande causa para conflitos sociais e políticos. Estes conflitos têm afastado pessoas das suas casas, tornando-as refugiadas, pois são apanhadas no fogo cruzado da competição entre os EUA e a China. A BAMN coloca-se ao lado dos oprimidos e luta pelos seus interesses. Damos as boas-vindas a quem venha para os EUA na qualidade de refugiados. Lutamos ao seu lado para a partilha dos nossos interesses em prol da defesa dos direitos humanos e de um tratamento igualitário com respeito e dignidade.

Além das políticas de imigração, que análise faz à Administração Trump?

Donald Trump não tem quaisquer interesses a não ser os dele próprio. A sua Administração, na história americana, representou um dos lados mais racistas e retrógrados da sociedade americana. Donald Trump é um ideólogo e demagogo para a América branca, rica e privilegiada. Esta visão é antiga, ultrapassada e morta. A tentativa de trazer isto de volta é um retrocesso no desenvolvimento humano e o regresso da barbárie. É a antítese da civilização e da ciência.

Quatro anos depois, os EUA são um país mais racista?

É algo que está mais polarizado. O movimento de defesa dos direitos civis e dos imigrantes nunca foi tão forte como agora. Está mais sofisticado, e mais maduro. Olhando para os últimos 10 a 15 anos, as lições que aprendemos colocaram-nos na posição histórica de vencer direitos verdadeiramente iguais. Ainda temos um longo caminho a percorrer para atingir os nossos objectivos, mas estamos mais determinados agora que sabemos o que conquistámos. No que diz respeito aos racistas, o seu medo de igualdade social e da perda de privilégios vai continuar a crescer. O seu medo do nosso poder é real. Os opressores vão tentar manter a sua posição até ao último minuto e até não poderem mais.

Espera uma nova estratégia de Joe Biden em relação à situação política de Hong Kong?

Esta questão é complicada. Há muito mais em comum entre as pessoas oprimidas dos EUA, de Hong Kong ou da China. Muito do que tem acontecido em Hong Kong tem levado a divisões. Há um sentimento anti-China, e é também cultivado um sentimento anti-Ocidente. Mas há apenas uma coisa importante, que é a igualdade, os direitos de cidadãos viverem sem opressão ou exploração. Partilhamos esta luta com as pessoas oprimidas de Hong Kong e da China. Estes direitos nunca poderão ser obtidos se as pessoas oprimidas de todo o mundo falharem na quebra destas tácticas de dividir para reinar ou divisões nacionalistas. Joe Biden não pode resolver este problema com Hong Kong. Joe Biden e o partido Democrata estão mais preocupados com aquilo que Hong Kong pode fazer tendo em conta os interesses da economia americana e os círculos de poder.

Com um novo Presidente, planeia alterar a estratégia na luta pela defesa dos imigrantes?

Durante a Administração Trump, a BAMN continuou a lutar pelo meu caso e pelos casos de outros imigrantes. Mobilizámo-nos para travar os ataques e as deportações da ICE nos tribunais, nas ruas e nos aeroportos. Muitas pessoas perderam a esperança quando Trump foi eleito. Mas muitas mais pessoas escolheram lutar. E por termos lutado, vencemos. Eu ganhei o meu caso e agora o movimento ganhou ao colocar o Trump fora.

O Justin estava em litígio para obter Green Card. O processo está, então, concluído?

Sim, estou a planear candidatar-me à cidadania dentro de dois anos. Em Junho do ano passado, fui a tribunal e recebi o Green Card. Pensando nisso, quando fui colocado num centro de detenção para imigrantes, em Junho de 2016, Trump estava em campanha eleitoral. Saí do centro em Janeiro de 2017, quando Trump tomou posse.

10 Nov 2020

AL | Projecto de lei sindical de Pereira Coutinho e Sulu Sou reprovado

Apenas sete deputados votaram a favor do projecto de lei sindical de José Pereira Coutinho e Sulu Sou. A maioria do hemiciclo prefere esperar pela proposta que o Governo entregou ao Conselho Permanente de Concertação Social. No entanto, Coutinho acusa: “era o que mais faltava, a AL andar a reboque de um conselho consultivo”

 

[dropcap]P[/dropcap]ela 12ª vez, a Assembleia Legislativa (AL) voltou a reprovar um projecto de lei sindical da iniciativa de deputados. No caso de José Pereira Coutinho, autor do diploma em parceria com Sulu Sou, já é a oitava vez que a reprovação é o resultado final. Na sexta-feira, apenas sete deputados votaram a favor numa votação com várias abstenções.

Um dos argumentos usados por quem votou contra foi o facto de o Executivo ter entregue a sua proposta ao Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) para análise. Mas, ao HM, José Pereira Coutinho teceu duras críticas ao desempenho do hemiciclo.

“Uma coisa não impede a outra e a AL não deve andar a reboque de um órgão consultivo. Era só o que faltava!”, apontou. Já Sulu Sou disse “lamentar” este desfecho.

O debate arrancou com o deputado Iau Teng Pio a lembrar que “o CPCS é um órgão que assegura o equilíbrio entre as três partes [Governo, patrões e trabalhadores], portanto cabe ao Executivo pedir o parecer do CPCS e isso é que mais corresponde ao que consta na Lei Básica”.

Mak Soi Kun começou por dizer que vê quase todos os anos este projecto de lei. “Coloco as mesmas questões. O Governo faz leis e nós, deputados, dizemos que nunca faz consultas públicas. Se queremos legislar sobre esta matéria sem consulta pública não será um problema?”, questionou. Para o deputado, Pereira Coutinho e Sulu Sou deveriam ter comunicado com o hemiciclo antes de apresentar o projecto de lei.

“Uma anedota”

Pereira Coutinho respondeu a Mak Soi Kun dizendo que nem todas as propostas de lei apresentadas pelo Governo foram submetidas a consulta pública antes de chegar à AL.

“Quando um projecto é submetido ao CPCS para consulta nunca sabemos quanto tempo lá vai ficar. Não percebo porque é tão difícil obter a aprovação dos colegas quando sabemos que temos de cumprir a Lei Básica.”

O deputado considerou que a lei sindical é ainda mais importante numa altura em que muitos trabalhadores estão em regime de licença sem vencimento devido à pandemia. “Segundo a DSAL, só houve uma queixa durante a pandemia, e muitos trabalhadores estão com licença sem vencimento. Isso é uma anedota, só uma queixa? Os trabalhadores têm receio de apresentar queixas e sofrer consequências.”

Sulu Sou frisou o facto de o Governo não ter apresentado, até agora, um calendário concreto para legislar sobre os sindicatos. “O secretário Lei [Wai Nong] disse-me numa resposta que a consulta pública poderia avançar em Julho, mas já estamos em Novembro. Podemos ver que passaram quatro anos desde o início desses trabalhos e ainda não vi nenhuma iniciativa do Governo”, disse. Além disso, o CPCS “reúne à porta fechada”, rematou.

No plenário de sexta-feira foi também aprovado, na generalidade, o “regime de benefícios fiscais para o exercício das actividades destinadas à inovação científica e tecnológica”.

8 Nov 2020

Medicina tradicional chinesa | Aprovada na generalidade lei que regula licenciamento

[dropcap]F[/dropcap]oi aprovada na sexta-feira, por unanimidade, a proposta de “Lei da actividade farmacêutica no âmbito da medicina tradicional chinesa e da inscrição de medicamentos tradicionais chineses”. Pereira Coutinho questionou o facto de o diploma não definir quais os membros da comissão técnica responsável pela apreciação e inscrição dos medicamentos tradicionais chineses.

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elise Ao Ieong U, adiantou que essa questão poderá ser resolvida durante a discussão na especialidade. Outro membro do Governo explicou que a comissão “será composta por especialistas na área da medicina tradicional chinesa e na análise de medicamentos”, além de que o parecer emitido por esta entidade “será obrigatório, mas não vinculativo”.

“Respeitamos a opinião de especialistas e académicos e quando houver divergências pedimos a uma terceira entidade para emitir o seu parecer”, esclareceu o responsável.

8 Nov 2020

Orçamento 2021 | Deputados aprovam, mas pedem medidas de apoio

[dropcap]F[/dropcap]oi aprovada na generalidade, na sexta-feira, a proposta de lei do Orçamento para 2021 que retira à Reserva Financeira da RAEM cerca de 26,5 mil milhões de patacas para equilíbrio das contas. Apesar dos votos a favor, muitos deputados voltaram a pedir mais medidas de apoio à população.

“Vai ou não haver uma terceira ronda de medidas?”, questionou Sulu Sou. “Esperávamos que na Semana Dourada houvesse uma recuperação, mas essa não foi a realidade, pois tivemos 60 mil visitantes no mês passado.”

O deputado do campo pró-democracia também defendeu que o saldo de 39 mil milhões de patacas da Fundação Macau poderia ser canalizado para mais apoios.

Também Leong Sun Iok disse esperar que o Executivo “possa lançar uma terceira ronda de apoios à população”. Ella Lei fez o mesmo pedido.

Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, pediu para a população se preparar “psicologicamente” para o prolongamento da crise e lembrou que o montante da Reserva Financeira deve ser “bem usado” a pensar no futuro.

A proposta de lei do Orçamento para 2021 determina ainda que o Governo não irá depositar as habituais sete mil patacas nas contas individuais dos residentes permanentes do regime de previdência central não obrigatório. Uma medida que irá afectar os idosos, lembrou Sulu Sou. Lei Wai Nong disse nada poder fazer tendo em conta a quebra nas receitas da Administração.

8 Nov 2020

Deputados exigem revisão da lei e medidas preventivas contra abuso sexual de menores

[dropcap]O[/dropcap] crescente número de casos de abuso sexual de menores nos últimos tempos levou os deputados Lei Chan U e Wong Kit Cheng a exigirem medidas preventivas.

Na sessão plenária de sexta-feira, o deputado Lei Chan U, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), alertou para o facto de “a idade das vítimas de abuso sexual ter vindo a diminuir”, e de um terço dos casos ter ocorrido em estabelecimentos de ensino.

Desta forma, o deputado pede o reforço “da fiscalização dos estabelecimentos e dos formadores”, e a rápida conclusão da revisão do decreto-lei que regula o funcionamento dos centros de explicações.

Além disso, o deputado considera importante “reforçar a educação sexual das novas gerações”. Para isso, o Governo deve criar “o quanto antes um programa de educação sexual sistemático, generalizado e adaptado às diferentes faixas etárias”.

Também Wong Kit Cheng levantou a problemática dos abusos sexuais de menores, citando dados oficiais. Estes mostram que o número de processos relacionados com materiais pornográficos envolvendo menores passou de um para 19, enquanto que o número de casos de abuso sexual foi de 10 na primeira metade deste ano, o dobro em relação a 2019.

A deputada também defende celeridade na revisão da legislação que regulamenta os centros de explicações, porque “alguns casos de abuso sexual aconteceram em instituições de ensino ou de serviço social e envolveram trabalhadores destas instituições”.

Base de dados precisa-se

Para controlar o perfil de funcionários destas instituições, a deputada pede que o Governo “estude a viabilidade da criação de um mecanismo de consulta de registos semelhante ao que está relacionado com os crimes sexuais”, ou que crie mesmo “uma base de dados sobre criminosos sexuais”. No entanto, “o empregador só os pode consultar com o consentimento do trabalhador que tenha contacto próximo com menores”.

Wong Kit Cheng pede também a “introdução da regra de actualização anual do registo para quem trabalha nas creches e nas instituições de ensino, com vista a salvaguardar o nível do pessoal e contribuir para uma melhor protecção das crianças”.

8 Nov 2020

Covid-19 | Deputados defendem mais medidas para recuperação económica

[dropcap]V[/dropcap]ários deputados voltaram a defender hoje no hemiciclo uma nova ronda de apoios à população como forma de combate à crise causada pela pandemia do novo coronavirus, além de outras medidas para fomentar a economia. Segundo a deputada Ella Lei, é necessário lançar uma terceira ronda de apoios tendo em conta os elevados números do desemprego.

“Prevê-se que, face ao aumento contínuo dos factores de incerteza nas regiões vizinhas, a economia possa não ter melhores perspectivas nos próximos meses, por isso o Governo ainda necessita de lançar medidas para apoiar os diferentes sectores e os residentes a ultrapassarem as dificuldades”, disse a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) no período de interpelações antes da ordem do dia.

“Tendo em conta uma eventual recessão económica e uma subida contínua da taxa de desemprego, o Governo deve definir, o quanto antes, planos de contingência, lançando a terceira ronda de apoio”, acrescentou.

Ella Lei frisou que, apesar do lançamento do programa “Vamos, Macau!”, com vista à recuperação do turismo, “o número de turistas não tem sido o ideal”, pelo que espera que o Executivo “continue a negociar com o Interior da China a retoma gradual de excursões em Macau e da emissão de vistos electrónicos para turismo”.

A deputada deseja também que sejam promovidas as excursões entre Macau e a ilha de Hengqin “para que a indústria turística possa recuperar a vitalidade e para que os trabalhadores tenham mais oportunidades de emprego”. Além disso, “devem-se continuar a implementar medidas de apoio aos trabalhadores do sector do turismo e aos desempregados”, tal como “continuar com o plano de visitas guiadas aos pontos turísticos”.

Um bom carnaval

Wang Sai Man, deputado eleito pela via indirecta, destacou o programa “Carnaval para desfrutar Macau”, apresentado esta semana pelo Governo. Trata-se de uma iniciativa “que merece reconhecimento e que contribuirá para estimular a economia que se encontra em recessão”.

O deputado entende que o Governo “pode impulsionar a prestação de apoios à indústria para desenvolver mais produtos online, como viagens e exposições”.

“Durante a pandemia ou depois, vai ser necessário um tempo bastante longo para a normalização das viagens e reabertura das convenções e exposições. Proponho ao Governo que aproveite mais a publicidade online para estimular potenciais turistas a viajar e promova a organização de convenções e exposições”, disse o deputado.

Mais emprego

O deputado Si Ka Lon, por sua vez, defendeu que o Governo deve investir em infra-estruturas públicas “para aumentar os postos de trabalho”, uma vez que “não há outra indústria em Macau que possa acolher um número tão elevado de desempregados”.

Na visão deste membro do hemiciclo, que representa a comunidade de Fujian em Macau, o Executivo “continuar a impulsionar a economia interna e criar mais emprego”, pedindo também o alargamento do plano de subsídio para a formação de desempregados.

“Espero que as autoridades procedam ao acompanhamento do mercado de emprego nos próximos seis meses e introduzam outros planos de forma atempada, de modo a estabilizar o mercado” laboral, frisou.

Olhar a pobreza

Agnes Lam optou por destacar o impacto da pandemia nas famílias “quase pobres” ou que “estão em risco de cair na rede de pobreza devido ao desemprego”, ou ainda os cuidadores informais. A deputada citou mesmo um inquérito recentemente divulgado pela Caritas de Macau e pelo Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau que revela que cerca de 18 por cento dos utentes dos serviços do banco alimentar estão a tratar-se de depressão, enquanto que 16 por cento afirmaram ter intenção de suicidar-se.

Neste sentido, Agnes Lam considera que o Governo “deve reforçar os diversos apoios às pessoas em situação vulnerável”, adoptando o conceito de “prevenção da pobreza”. Este conceito passa por “tomar como referência os limites dos activos das famílias com elementos empregados” e “flexibilizar a exigência do pedido de apoio financeiro, prestar apoio básico, no prazo de seis meses, às pessoas que ficaram sem emprego devido à epidemia, a fim de poderem ultrapassar as dificuldades”.

Além disso, a deputada defende que o Executivo de Ho Iat Seng adopte a política “trabalho sim, caridade não”, criando “mais postos de trabalho, de curta duração, para a prestação de cuidados domiciliários aos idosos”.

Mais lugares nos casinos

O deputado Zheng Anting destacou, no período antes da ordem do dia, os problemas que o sector do jogo atravessa devido à pandemia. “Alguns profissionais do sector confessam que, neste momento, o sector do jogo está a enfrentar muitas dificuldades e só se pode manter com a ‘base anteriormente acumulada’”, apontou.

Zheng Anting considera que o sector acabou por não beneficiar das medidas de apoio lançadas pelo Governo nos últimos meses, pelo que o Executivo “deve reforçar a comunicação com o sector do jogo e tomar atenção às dificuldades com que se depara actualmente”.

O deputado defende, por isso, que, com o “abrandamento da pandemia seja permitido o aumento adequado do número de lugares sentados em cada mesa de jogo”, a fim de aumentar as receitas.

6 Nov 2020

Segurança nacional | “Temos de aprender com as experiências do território vizinho”, diz Chan Wa Keong

[dropcap]O[/dropcap] deputado Chan Wa Keong defendeu hoje na Assembleia Legislativa (AL) a revisão da lei relativa à segurança e defesa do Estado e diplomas legais complementares. “Temos de aprender com as experiências do território vizinho, colmatando lacunas e apresentar as ideias sobre o sistema e o mecanismo de defesa da segurança do Estado com características de Macau” apontou.

Para Chan Wa Keong, o Governo deve aperfeiçoar “os mecanismos institucionais de defesa da segurança do Estado com características de Macau e melhore os respectivos mecanismos de execução”. O deputado sugere a criação da “figura de assessores”, a fim de “manter bem a nossa posição e definir bem o nosso rumo para que as políticas possam ser implementadas”.

Chan Wa Keong pediu também que o Governo “reforce a capacidade de governação do pessoal relacionado com a defesa da segurança do Estado”, através do aumento de salários e regalias.

Além disso, deve ser planeada “seriamente a educação e formação desse pessoal, para que as pessoas envolvidas tenham um pensamento firme e estejam constantemente alerta em relação à segurança”.

Em Macau, a lei relativa à segurança e defesa do Estado vigora desde 2009. O Governo já mostrou vontade de rever o diploma mas não apresentou ainda quaisquer detalhes ou um calendário para o efeito. Em Hong Kong, a lei de segurança nacional vigora desde Junho de 2020.

6 Nov 2020

Burla | Estudante chinês obrigado a apresentar-se às autoridades

[dropcap]U[/dropcap]m jovem natural do interior da China, que estuda “numa universidade em Macau”, suspeito do crime de burla telefónica, está obrigado a apresentar-se periodicamente às autoridades, além de estar proibido de deixar Macau para evitar a sua fuga do território.

As medidas de coacção aplicadas pelo Juiz de Instrução Criminal tiveram como objectivo evitar que o suspeito “continue a prática das actividades criminosas” e a perturbar a ordem pública.

Segundo o Ministério Público (MP), o arguido “telefonou à ofendida, alegando que ela se envolveu em uma actividade criminosa e solicitou-lhe, além do fornecimento de dados pessoais, que transferisse os seus depósitos bancários para a conta definida através do ‘e-banking’, no sentido de ser efectuada a respectiva inspecção”.

Uma vez que a ofendida “não sabia usar os serviços bancários pela Internet, o arguido contactou-a e acompanhou-a ao banco para proceder às formalidades bancárias, tendo a ofendida transferido, por várias vezes, mais de dois milhões de dólares de Hong Kong da sua conta”.

Depois deste acto a mulher “suspeitou ter sido burlada e participou o sucedido à polícia, que, posteriormente, encontrou o arguido no seu dormitório”. As autoridades apuraram que o estudante “aproveitou documentos falsificados para efectuar a burla de valor consideravelmente elevado, prática esta que constitui os crimes de burla de valor consideravelmente elevado e de falsificação de documento”.

O crime de burla é punível com uma pena de prisão até dez anos de prisão, enquanto que o crime de falsificação de documentos é punível com pena de prisão de até três anos. O MP prossegue agora com a investigação, “no sentido de encontrar os restantes suspeitos” da prática do crime de burla telefónica.

5 Nov 2020

TIMC | Música, Yoga e cine-concertos são as novidades do festival que arranca dia 13

Sob o tema dos Neons, a edição deste ano do festival This Is My City traz um cartaz diverso que vai muito além dos concertos com músicos locais. Uma das novidades é a realização de cine-concertos, que não são mais do que clássicos do cinema mudo musicados por artistas locais. Em ano de pandemia, a organização do festival decidiu incluir uma vertente de saúde e bem-estar com um programa de yoga

 

[dropcap]E[/dropcap]stá aí a nova edição do festival This is My City (TIMC) que, dedicada ao tema dos Neons, promete uma diversidade de conteúdos e apresentações ao grande público. Entre os dias 13 e 22 de Novembro, haverá espaço para a melhor música que se faz em Macau, mas não só: estão previstas exposições multimédia, actividades ligadas à prática do Yoga e ainda cine-concertos, onde clássicos do cinema mudo ganham uma nova roupagem musical composta por músicos locais. No total, são mais de 30 artistas que integram esta iniciativa.

A organização decidiu fazer “uma aposta exclusiva nas criações locais”, uma vez que estamos “num ano extraordinário” marcado pela pandemia. O TIMC divide-se em dois blocos e o primeiro começa já no próximo fim-de-semana, nos dias 13 e 14, no palco da discoteca D2, na Doca dos Pescadores. A noite de sexta-feira será dedicada ao Rock e à música independente, com a participação de bandas como os Pixels, Ryan Carroll, Trainspotters, ARI, Party Animals e o DJ Lobo Ip.

Os 澳門 Pixels são um “projecto que, por admiração e talento, interpreta alguns dos temas da irónica banda de rock alternativo americana Pixies”. Já Ryan Carroll “é conhecido entre a comunidade local por tocar um pouco por todo o lado e representar o conceito de one-man show”, explica a organização.

Depois destes concertos segue-se um longo DJ Set, primeiro com os Trainspotters. Trata-se de um “colectivo que, por carolice, se dedica às melhores escolhas de música independente”.

No sábado, dia 14, é o dia de apresentar “o melhor da música Funk que se faz por cá”. Primeiro sobe ao palco o músico ARI com os Party Animals, seguindo-se o DJ Set de Lobo Ip. Nestes dois dias, as portas do D2 abrem às 22h30 e os bilhetes custam 180 patacas, com direito a duas bebidas.

Musicar o cinema mudo

Uma das novidades do TIMC deste ano passa pela introdução do cinema, mas de uma forma original. “Na continuidade da aposta em conteúdos originais, o grande destaque do TIMC 2020 é a apresentação de duas sessões de cine-concertos”, aponta a organização, que não são mais do que a exibição de “clássicos do cinema mudo que marcaram o início da sétima arte e que até hoje se destacaram internacionalmente”.

Para dar uma nova roupagem a estes clássicos, a organização do TIMC “desafiou os músicos locais a compor e a interpretar os acompanhamentos sonoros, tendo em consideração a adaptação da personalidade dos artistas aos conteúdos das películas”.

Esta iniciativa arranca a 21 de Novembro com a exibição da longa-metragem “The Goddess”, de 1934, realizada por Yonggang Wu e interpretada pela icónica actriz Ruan Lingyu. A película que marca o fim dos últimos dias do cinema mudo vai ser sonorizada pelo projecto Faslane e pelo artista Akitsugu Fukushima.

A 22 de Novembro serão exibidas seis curtas-metragens “seleccionadas pela sua estética e relevância na história do cinema mudo”. São elas “Alice in Wonderland” de Cecil Hepworth & Percy Stow, de 1903 musicado pela pianista Frog.W, “The Dancing Pig” (1907) musicado por Paulo Pereira, “Vormittagsspuk” (Ghosts Before Breakfast) de Hans Richter (1928) acompanhado por Rui Rasquinho, “Le Voyage sur Jupiter” (Voyage to Jupiter) de Segundo de Chomón de 1909 com música de Iat U Hong, “La Grenouille” (The Frog), de 1908, também realizada por Segundo de Chomón, que vai ser musicada por Dickson Cheong.

Caligrafia e Yoga

Na segunda parte do festival, o TIMC propõe-se ainda apresentar uma outra novidade, desta vez associada à saúde e bem-estar. “A promoção de hábitos saudáveis de vida é também uma das características que diferenciam o TIMC de 2020 e é traduzida com a criação de um programa dedicado ao Yoga. Num ano marcado pela pandemia a ideia é alertar para a importância de manter a saúde e contribuir para a saúde pública”, anuncia a organização.

Desta forma, as sessões de Yoga acontecem nos dias 20, 21 e 22 com os instrutores Rita Gonçalves, Lily Li e Valentina. Estas sessões serão acompanhadas pelas Taças Tibetanas de Gil Araújo.

Além desta vertente ligada ao bem-estar, o TIMC traz também iniciativas ligadas à caligrafia oriental e ocidental com dois calígrafos que vão fazer uma performance com as suas técnicas. As imagens do espectáculo serão manipuladas pelo VJ Os Wei, tendo acompanhamento musical do DJ A Long. Os Wei é também protagonista de uma instalação de fotografia que será inaugurada dia 20, sendo que nesse dia a banda Concrete Lotus actua ao vivo. No dia seguinte é a vez do Live Music Association acolher a after-party do TIMC.

O cartaz encerra-se com mais uma vertente, onde a participação da população é o objectivo principal. Desta forma, será realizada uma open call onde os Neons são o tema principal, em que a população “é desafiada a pegar nos telefones e ir em busca dos emblemáticos Neons que caracterizam esta ‘nossa’ idade e publicar as suas fotos com o hashtag #timcneonhunt2020”.

As imagens vão ser projectadas ao longo do segundo bloco de eventos, de 20 a 22 de Novembro, nas Oficinas Navais 2. “O objectivo passa por recuperar o imagético que caracteriza Macau e fazer um tributo aos Neons que resistem e a quem ainda se dedica à sua produção”, conclui a organização.

5 Nov 2020

Eleições EUA | Vice-ministro chinês do MNE pede que relações com EUA sigam “caminho certo”

[dropcap]L[/dropcap]e Yucheng, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, disse hoje esperar um “avanço” no relacionamento entre a China e os EUA, para que este siga “o caminho certo”. Citado pela Xinhua, Le Yucheng fez este comentário esta quinta-feira numa conferência de imprensa a propósito das eleições presidenciais que decorrem nos EUA.

O vice-ministro lembrou que a contagem dos votos ainda decorre e que não é certo se Joe Biden será o próximo Presidente dos EUA, apesar de estar, para já, à frente de Donald Trump. Le Yucheng disse esperar que o processo decorra com normalidade e de forma calma.

“A atitude da China em relação à ligação bilateral é clara e consistente. Apesar de existirem diferenças entre os dois países, também existem extensos interesses em comum e lugar para a cooperação”, frisou.

A manutenção de uma relação bilateral com os EUA assegura os interesses das populações de ambos os países e corresponde às aspirações da comunidade internacional, frisou. “Esperamos que o próximo Governo dos EUA reúna com a China sob os princípios do não conflito, não confronto, mútuo respeito e benefícios, além do foco na colaboração e gestão das diferenças.” Tudo para que “haja um avanço dos laços bilaterais no caminho certo”, referiu.

Sem um resultado final, a Rússia não comenta, para já, as eleições. “A situação que se está a desenrolar não nos permite fazer qualquer comentário”, disse esta quinta-feira aos jornalistas Dmitri Peskov, porta-voz do Presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com o New York Times.

“Preferimos, claro, dar um tempo e esperar por alguma clareza no que se está a passar”, acrescentou.
Joe Biden conta, a esta altura, com 253 votos contra 214 arrecadados por Donald Trump. As projecções apontam para a vitória do candidato democrata em Estados como Wisconsin, Michigan, Arizona e Nevada. Donald Trump contesta resultados eleitorais em quatro Estados norte-americanos.

5 Nov 2020

Casa de Portugal | 6ª edição do Festival de Marionetas começa este sábado

[dropcap]É[/dropcap] já este sábado, dia 7, que arranca mais uma edição do Festival de Marionetas, uma iniciativa da Casa de Portugal em Macau (CPM). Diana Soeiro, coordenadora da CPM, disse ao HM que esta sexta edição se realiza apenas com artistas locais, sendo dois deles artistas da CPM, tal como Elisa Vilaça e Sérgio Rolo. Este apresenta o espectáculo “Mini-mini-mini circus” em que “trapezistas, malabaristas, contorcionista e outros artistas brilham como as estrelas nas capas das revistas”, onde a personagem Rodolfo “nos guia durante a função deste circo que é seu de coração”. Já Elisa Vilaça apresenta o espectáculo “O Sonho”, com uma história em torno da personagem Mariana, e em que todas as marionetas foram feitas por si. Este espectáculo acontece no sábado às 17h15 no auditório da Casa Garden.

No sábado, acontece o espectáculo “Mommy’s time”, de Ronald Un, “um jovem e talentoso artista de teatro local que nos leva ao mundo do livro ilustrado e aos pensamentos da mãe nessas novas interpretações que evocam a nossa imaginação”. Por sua vez, o espectáculo “What are we thinking” [O que estás a pensar?] é feito com base no livro escrito e ilustrado por Chi-Wai Un, um conhecido ilustrador e designer gráfico local.

“What are we thinking” é um espectáculo que “descreve os pensamentos de crianças e o sonhar acordado como um fenómeno comum entre adultos e idosos, não sendo exclusivo das crianças”.

À excepção do espectáculo de Elisa Vilaça, todos os restantes decorrem no jardim da Casa Garden. Diana Soeiro assegura que “não havendo fala, todas as peças são destinadas a um público de todas as nacionalidades e são para todas as idades”.

5 Nov 2020

Moda | Katty Xiomara e Pé de Chumbo procuram mais oportunidades a Oriente

Katty Xiomara e Pé de Chumbo, fundada pela designer Alexandra Oliveira, são duas de três marcas portuguesas que se apresentam em Hong Kong e Macau na próxima semana. A presença a Oriente é ainda mais importante em contexto de pandemia, asseguram. Enquanto que Katty Xiomara traz peças “sob um conceito femininamente desportivo”, Alexandra Oliveira traz peças quase tricotadas sobre o corpo, sem recorrer ao habitual tecido

 

[dropcap]C[/dropcap]hegam pela mão da Moda Nova Global, empresa sediada em Hong Kong que quer mostrar o que de melhor se faz na moda portuguesa. Susana Bettencourt, Katty Xiomara e Pé de Chumbo, marca da designer Alexandra Oliveira, pretendem desbravar novos caminhos no mercado de moda a Oriente com a realização de um desfile em Hong Kong na próxima semana, dia 11.

Ao HM, Katty Xiomara revelou mais detalhes da colecção “Be Bold”, que assenta nos conceitos da moda desportiva feminina. “É uma escolha de peças específicas para testar o mercado e a reacção do público. A paleta de cores é ampla, mas o preto está sempre presente como uma linha de contorno que une as peças.”
Katty Xiomara, estilista portuguesa nascida na Venezuela, mas radicada no Porto, espera que esta mostra em Hong Kong “seja uma boa forma de dar a conhecer a marca e que consiga estabelecer alguns laços representativos que sirvam como porta de entrada neste mercado”.

Em contexto de pandemia, Hong Kong pode tornar-se uma espécie de boia de salvação, num ano em que não se realizaram feiras e em que houve “uma diminuição drástica das vendas”.
“Hong Kong traça uma linha de esperança. É agora um ponto mais estável e com maior controlo sobre a pandemia, onde parece existir mais normalidade na rotina diária das pessoas”, frisou Katty Xiomara.

Esta não é a primeira vez que a marca Katty Xiomara chega à Ásia, pois já realizou desfiles em Tóquio e Xangai. “Temos uma grande afinidade pelo mercado asiático”, assegura a designer.

Estão também previstas apresentações em Macau e na China, ainda sem data marcada. “A nossa marca não é massiva, por isso a dimensão do mercado não é o mais importante. Macau possui uma magia diferente da qual podemos beneficiar”, disse.

Esperar para ver

No caso da Pé de Chumbo, serão mostradas peças da colecção “Planet Earth”, mais viradas para o Verão e para um Inverno com algum tempo quente. Com a Pé de Chumbo Alexandra Oliveira introduziu um novo conceito de fazer moda, em que as linhas se vão construindo em torno do corpo, sem tecidos. Cada peça tem, portanto, o seu tempo próprio de confecção.

“Como é a primeira vez que estamos em Hong Kong e como se trata de uma colecção para venda directa, estamos a pôr peças de Verão e mais leves para o Inverno, pois em Hong Kong faz um tempo mais quente”, explicou ao HM.

Para a Pé de Chumbo, estar em Hong Kong é uma total novidade e também uma oportunidade para escapar à crise. “Tivemos esta oportunidade e aproveitámos. Mas é também uma porta de entrada para o mercado asiático, algo que é difícil de conseguir. Já vendemos em Pequim, mas como vendemos através de feiras e não com uma representação local, se o cliente não vai à feira perdemos o cliente”, assegura. Alexandra Oliveira assume que não conhece nada do pequeno mercado de moda em Macau.

A Pé de Chumbo tem algumas colecções inspiradas nos trajes japoneses ou chineses, mas o mercado é, para a marca, algo inatingível. Para chegar ao cliente chinês, a marca apenas costuma fazer uma alteração dos tamanhos.

“Em todos os contactos que tivemos com clientes chineses eles seleccionaram a mesma colecção que estamos a vender. Não varia muito em relação ao que vendemos para a Europa. Mas é um contacto muito lento, nunca tivemos muita experiência [com estes clientes]”, acrescentou.

No caso de Katty Xiomara, “poderão existir pequenos ajustes” ao cliente asiático. No entanto, a marca promete “manter sempre o espírito e conceito europeu que nos caracteriza”. “Não pretendemos ser uma marca estrangeira que mimetiza aquilo que já é feito pelas marcas locais”, frisou a designer.

“Estar atenta”

Para Katty Xiomara, é importante olhar a forma como os chineses e os asiáticos no geral “observam e vivem a moda”. “Já existe um punhado de nomes reconhecidos, mesmo no Ocidente. Por um lado, isso dificulta a nossa entrada, pois existirá uma maior concorrência. Mas, por outro lado, facilita porque denota-se uma maior abertura para marcas novas que surgem fora dos grandes aglomerados e grupos de luxo. Até há bem pouco tempo eram as que geravam maior procura por parte do mercado asiático”, adiantou a estilista.

Alexandra Oliveira quer, sobretudo, chegar às lojas e ao grande público. “Temos muita coisa em stock. Nestes meses vendemos muito para Itália e EUA, e quando tudo isto fechou ficámos com algumas encomendas paradas. Isto [a vinda a Hong Kong] veio abrir um pouco a possibilidade de vendermos”, rematou. O HM tentou também chegar à fala com a designer Susana Bettencourt, mas a marca nunca respondeu ao nosso pedido de entrevista.

3 Nov 2020

Estudo | Robots podem roubar empregos ao sector do jogo e do turismo 

Glenn Mccartney, professor da Universidade de Macau, acaba de publicar um estudo em parceria com Andrew Mccartney sobre o uso de robots na indústria hoteleira. Glenn Mccartney não tem dúvidas de que Macau pode ser um exemplo na aplicação deste tipo de tecnologia, que pode colocar em perigo empregos ao sector do jogo e do turismo. No entanto, falta definir estratégias de recursos humanos e criar legislação adequada

 

[dropcap]D[/dropcap]epois da ficção científica nos ter avisado, múltiplas vezes, para o perigo existencial que representam os avanços em robótica, as ciências sociais partem da certeza do progresso tecnológico para criar respostas aos desafios que nos esperam. O mais recente exemplo é o estudo de Glenn Mccartney, professor da Universidade de Macau (UM) e especialista na área do turismo, que analisou o uso da robótica no sector.

O académico acaba de publicar o estudo “Rise of the machines: towards a conceptual service-robot research framework for the hospitality and tourism industry”, em colaboração com Andrew Mccartney, co-fundador da empresa londrina White Space, que opera na área das tecnologias da informação. O trabalho, publicado pela editora Emerald Publishing, analisa o impacto que os robots vão ter na indústria hoteleira em todo o mundo do ponto de vista dos clientes, empregadores e trabalhadores, mas também de quem implementa políticas nesta área.

No caso de Macau, os robots poderiam substituir croupiers ou funcionários que trabalham nas recepções de hotéis. “Os robots vão ser como nós. Podem falar, aceder à internet 24 horas por dia. Não se cansam, não precisam de fazer pausas. No futuro, poderemos ter um robot para assumir funções em casinos”, disse Glenn Mccartney ao HM.

“Muitos funcionários da linha da frente poderão ser substituídos por estes robots que desempenham funções na área dos serviços. Um robot pode lançar cartas, recolher fichas de jogo, fazer o check-in dos jogadores, verificar passaportes na fronteira. É um mundo fascinante no qual iremos entrar”, frisou.

No entanto, o académico considera que o território não está, de todo, preparado para receber este tipo de tecnologia. “Não há sequer legislação que permita o uso de robots no sector. Falamos muito da cidade inteligente, mas a legislação tem de ser alterada para permitir que isso aconteça. Deve haver protecção de dados, o seu armazenamento em nuvem.”

Uma lei desse género deveria definir, por exemplo, o que é um robot e quais são os seus direitos laborais e civis. “Deve haver uma legislação clara nesta área, incluindo a inteligência artificial. O robot pode ter direitos.”

Além da ausência de legislação específica, o académico da UM destaca o facto de Macau ainda não ter este tipo de tecnologia, embora possa ser uma realidade em menos de 20 anos. “Temos de olhar para a questão do custo-benefício, e os robots vão tornar a mão-de-obra mais barata. Caberá à indústria determinar se a tecnologia é fiável e se custa demasiado ou não. Actualmente, este tipo de tecnologia é ainda muito caro, mas pode tornar-se mais barato – hoje utilizamos smartphones, não é?”, exemplifica.

Lugar experimental

Glenn Mccartney dá como exemplo o robot Sophia, criado em Hong Kong em 2015 e que tem nacionalidade da Arábia Saudita. Em 2019, foi uma das estrelas da Websummit, que decorreu em Lisboa.

“Os robots podem entender a nossa língua. Os humanos fazem erros, mas os robots funcionam com algoritmos. Será possível um robot funcionar na recepção de um hotel, mas não vamos querer que um robot tome conta dos nossos filhos, por exemplo. Há um nível de confiança que temos de atingir e todas estas questões têm de ser ponderadas.”

O académico não tem dúvidas de que Macau, apesar de não estar preparado para esta realidade, seria um bom lugar para experimentar a aplicação da tecnologia, por ser um território pequeno. “Estas experiências podem ser feitas no Cotai. Por exemplo, fazer check-in nos hotéis recorrendo a um robot. Quanto aos croupiers, não sei, será algo curioso.”

Uma das conclusões do estudo prende-se com o sentimento de medo que esta tecnologia gera nos seres humanos. “O uso de um robot no lugar de um croupier será o futuro. Há o medo da tecnologia, que se traduz no receio do desemprego. Esse será um grande desafio em Macau, porque temos mais de 20 mil croupiers, todos locais.”

Para Glenn McCartney, o Governo “deveria sentar-se com as operadoras de jogo e analisar esta questão”. “Macau pode ser um sítio onde esta tecnologia é adoptada mas sem que tenha de ser uma ameaça. A minha preocupação prende-se com o facto de termos muitas pessoas a trabalhar na linha da frente. Se forem substituídas por robots, o que vai acontecer, o que podemos fazer com elas? Esse é o desafio.”

O autor do estudo referiu ainda que é essencial apostar na formação profissional e em estratégias de recursos humanos. “Precisamos de uma estratégia para estas pessoas no futuro, de apoiar o desenvolvimento de talentos.”

O estudo aponta para a necessidade de “um quadro conceptual que considere a aceitação da robótica com base nas diferentes perspectivas de empregados, clientes e entidades governamentais”. Glenn e Andrew Mccartney destacam o facto de os receios da classe laboral “não serem infundados”, uma vez que um estudo desenvolvido pela consultora KPMG, em 2016, dá conta da perda de 100 milhões de empregos em todo o mundo até 2025 devido a avanços tecnológicos na robótica.

Sem covid-19

Em tempos de pandemia, quando a indústria hoteleira em todo o mundo sofre com a redução drástica de viagens e turistas, o uso de robots poderia constituir solução. Segundo os autores do estudo, a pandemia “pode actuar como catalisador para a introdução de mais robots de serviços”, uma vez que “os funcionários podem ser substituídos para reduzir a interacção entre trabalhador-hóspede”. “A integração de robots no sector hoteleiro após a pandemia da covid-19 pode reduzir custos e gerar uma economia de escala relacionada com a introdução de robots”, lê-se.

Porém, alterar o paradigma do atendimento ao cliente, eliminando o elemento humano da equação terá de ser um passa dado com bastante cálculo. “A análise do custo-benefício deve ter em conta a aceitação dos robots de serviços por parte de clientes e empregados, incluindo políticas governamentais, com o predomínio dos avanços tecnológicos”, aponta o estudo.

Questões éticas e morais devem ser tidas em conta na aplicação da tecnologia ao mercado de trabalho, uma vez que “os clientes podem recusar o uso de robots de serviços, preferindo o contacto humano e o seu serviço”.

Há também “um lado positivo”, uma vez que os robots “podem desempenhar papéis mais atractivos e até engraçados, ou realizar tarefas perigosas que possam levar à prevenção de acidentes e infecções nos humanos”. Os autores citam também investigações recentes que chamam a atenção para a necessidade de contabilizar o número de clientes que podem ser atendidos por um robot, aqueles que se podem adaptar a um serviço desempenhado desta forma e também à possibilidade de taxar os robots.

O hotel FlyZoo, do grupo chinês AliBaba, é um exemplo de uma unidade hoteleira que funciona, quase na sua maioria, com robots. O trabalho de Glenn e Andrew Mccartney destaca também o exemplo de uma cadeia de hotéis no Japão que, em 2015, começou a substituir funcionários da recepção e de limpeza por robots de serviços. No entanto, em 2019, “mais de metade dos 243 robots de serviços foram retirados porque não conseguiam responder a todos os pedidos feitos pelos hóspedes e não tinham um bom funcionamento devido à lentidão da tecnologia”. Um sinal de que há ainda muito a fazer até que esta seja uma realidade no nosso dia-a-dia.

3 Nov 2020

Eleições | Dirigentes associativos macaenses nos Estados Unidos apoiam Trump 

Dois líderes de associações da comunidade macaense nos Estados Unidos admitem votar em Donald Trump. Eduardo Colaço, presidente do Portugal-Macau America Institute, acredita que Joe Biden “vai arruinar os EUA e a economia”, enquanto que Henrique Manhão, presidente da Casa de Macau na Califórnia, destaca o facto de Trump ter “resolvido o problema dos motins recorrendo a forças armadas federais”

 

[dropcap]U[/dropcap]ma das maiores comunidades macaenses na diáspora vive nos Estados Unidos da América (EUA), país que vai hoje às urnas para decidir quem ocupará a Casa Branca nos próximos quatro anos. O HM tentou perceber qual o sentido de voto dos líderes de algumas associações de macaenses radicadas no país, que parece pender para o lado de Donald Trump, apesar de muitos dirigentes de outras associações de matriz macaense não terem respondido às questões colocadas. Por exemplo, Maria Roliz, membro da direcção do Clube Lusitano da Califórnia, recusou comentar questões do foro político.

Henrique Manhão, presidente da Casa de Macau na Califórnia, assume votar Trump, sobretudo pela forma como o Presidente em exercício “resolveu o problema dos motins, recorrendo a forças armadas federais”. Apesar disso, Henrique Manhão assume que Donald Trump protagonizou demasiadas contradições nos últimos quatro anos.

“A sua política interna e externa é um tanto controversa. A nível da política externa houve algumas declarações que desagradaram aos aliados europeus, à excepção da Grã-Bretanha. O facto de ter retirado os EUA do Acordo de Paris não agradou aos europeus. Donald Trump contradiz-se muitas vezes, mas vai fazendo por remediar o mal que está a afectar a humanidade”, disse ao HM, referindo-se à pandemia da covid-19.

Manhão diz que “se Trump ganhar vai ficar tudo na mesma, o que não é mau”. Caso ganhe Joe Biden, candidato pelo Partido Democrata e ex-vice-presidente de Barack Obama, “talvez haja mudanças na política interna e externa dos EUA”. Para o presidente da Casa de Macau na Califórnia, Biden é, “mais liberal nos debates e fala com mais calma”.

Questionado sobre as expectativas que deposita na relação entre a China e os EUA para os próximos quatro anos, Henrique Manhão pede, sobretudo, uma ligação bilateral mais pacífica. “A relação entre a China e os EUA encontra-se numa fase muito complicada e delicada. Os EUA venderam recentemente armamentos modernos a Taiwan, o que incomodou a República Popular da China. Espero que haja mais calma de ambos os lados.”

Durante a campanha presidencial, as relações com Pequim têm sido um dos temas na agenda e, se com Trump a tensão pode manter-se, com Biden a luta contra a China poderá fazer-se sob outros moldes.
Segundo a Reuters, o candidato democrata poderá vir a consultar aliados para decidir o futuro das tarifas norte-americanas a aplicar aos produtos chineses, caso vença as eleições. Conselheiros de Biden confirmaram que um dos principais focos do democrata será “não repetir os erros do Presidente Donald Trump quando implementou tarifas nos produtos europeus e canadianos como parte da sua agenda ‘America First’, antagonizando parceiros estratégicos dos EUA”.

A ideia não é, contudo, antagonizar a China por completo, conforme disse Tony Blinken, conselheiro de política externa, citado também pela Reuters. “Tentar uma total separação, como alguns sugeriram, da China… é irrealista e contraproducente. Seria um erro”, disse o responsável, que adiantou que Joe Biden deverá focar-se na expansão da influência estratégica americana, reconstruindo laços com aliados.

“É bom para os EUA”

Eduardo Colaço, nascido em Macau e presidente do Portugal-Macau America Institute, é residente nos EUA desde os 30 anos e assume que o seu candidato preferido é Donald Trump. “Ele é bom para os EUA, para a garantia do emprego, do progresso e do mercado bolsista. Ele vai fazer com que todos tenham mais dinheiro.” Eduardo Colaço

Pelo contrário, Joe Biden “vai arruinar os EUA e a economia”, defende o dirigente macaense. O candidato democrata “vai aumentar os impostos aos que trabalham arduamente e dar ofertas aos imigrantes e jovens que têm preguiça de trabalhar arduamente”. “Biden apenas sabe como aumentar os impostos e não dar nada em troca à população”, frisa.

Nem o facto de os EUA serem um dos países do mundo com maior crescimento de casos de covid-19 demove Eduardo Colaço de apoiar Trump. “A pandemia da covid-19 colocou uma bala no sistema de saúde e na economia mundial. Ninguém nem nenhum presidente, incluindo Donald Trump, pode parar este monstro maléfico que está a destruir o mundo.”

Para os próximos quatro anos, Eduardo Colaço espera “uma vida próspera e existência pacífica com o slogan ‘todas as vidas importam’, com uma boa economia, bons salários e harmonia entre nações”.

Em que votam os macaenses?

Milhões de norte-americanos vão hoje às urnas, mas devido à pandemia muitos votos têm sido feitos à distância. Segundo escreveu ontem a Reuters, 92,2 milhões de eleitores votaram por correio nos últimos dias, ou entregaram em mãos o seu boletim de voto.

Roy Eric Xavier é um deles. Académico da Universidade de Berkeley, onde dirige o Projecto de Estudos Macaenses e Portugueses, Roy Eric Xavier votou na dupla Joe Biden / Kamala Harris “por concordar com a maior parte das políticas de Biden e gostar da sua experiência como senador e vice-presidente”.

Em relação a Donald Trump, o macaense destaca “a divisão” criada nos últimos quatro anos pelo seu Governo “contra liberais, democratas e qualquer pessoa que não apoie a sua agenda política”. Além da divisão do país, Roy Eric Xavier destaca também “a excessiva corrupção levada a cabo por Trump, os membros da sua família, os que trabalham na Administração e os líderes do partido Republicano”. “Os casos são muito numerosos para serem contados, incluindo os que, da família Trump, beneficiaram de negócios enquanto ele estava no poder”, aponta.

O académico destaca ainda, como factor negativo da sua Administração, “o encorajamento de Trump dos supremacistas brancos contra pessoas de cor, judeus, católicos, imigrantes e todos os que não apoiem a sua agenda social e racista”.

Questionado sobre o sentido de voto da comunidade, Roy Eric Xavier assume, segundo meras observações, que “há diferenças significativas entre os membros da diáspora, incluindo países como o Canadá, Austrália ou Brasil, além de Macau”. “Talvez seja uma questão de proximidade de como cada país é afectado pelas políticas de Trump. Muitos macaenses na diáspora parecem apoiar Joe Biden e Kamala Harris, e opõem-se de forma inflexível a Donald Trump e Mike Pence, em grande parte devido às questões que apontei, mas também por negarem o aquecimento global e a ausência de uma política ambiental”, frisou.

Roy Eric Xavier fala ainda da existência de sites ligados à comunidade macaense que são críticos da Administração Trump. “A maior parte, se não todos, têm comentários, partilhas, likes, memes e vídeos que parecem ser contra a dupla Trump-Pence”, explicou.

A divisão política que existe na comunidade também se pode explicar pelas diferenças entre gerações. “Na comunidade macaense os idosos são, na sua maioria, conservadores e mais ligados à causa republicana. Os macaenses da nova geração são mais afectos aos democratas”, adiantou Henrique Manhão.

Eduardo Colaço prefere estabelecer uma ligação entre a comunidade e o partido democrata com base no nível de educação dos membros. “A maior parte dos macaenses na América não têm uma educação universitária e são do partido Democrata, o que para mim é uma situação muito triste.”

Pesados os prós e contras na balança política, Roy Eric Xavier acredita que “muitas pessoas na diáspora, especialmente nos EUA, acreditam que mais quatro anos com as mesmas políticas vão resultar em consequências terríveis para a estabilidade global”.

Segundo a BBC, Joe Biden lidera as sondagens desde o início do ano, contando ontem com 52 por cento das intenções de voto. Donald Trump tem 43 por cento. Além dos candidatos dos dois partidos mais importantes do panorama político norte-americano, há mais nove candidatos na corrida à Casa Branca, incluindo o rapper Kanye West, que fundou o Partido do Aniversário para este fim.

Além de escolherem o Presidente, os norte-americanos elegem também os membros do Congresso, órgão legislativo composto pela Câmara dos Representantes, com 435 lugares, e o Senado. No caso do Senado, os eleitores vão eleger 35 dos 100 lugares disponíveis, uma vez que muitos deles são preenchidos por via da nomeação estadual.

2 Nov 2020