Neonazis iam matar o Presidente da República, António Costa e Gouveia e Melo

Adivinhava-se. O aumento de acções violentas de grupos neonazis em Portugal e o discurso contínuo de incitamento ao ódio nas redes sociais está a preocupar as populações e as autoridades judiciais de modo a fazer rebentar uma bomba de espanto e preocupação informativa. A Polícia Judiciária estava a controlar desde 2020 certos grupos neonazis e na semana passada detiveram vários elementos de um grupo que contava com mais de 900 elementos. Os detidos são suspeitos de integrar o denominado Movimento Armilar Lusitano (MAL), o qual já possui uma milícia armada.

Após buscas de surpresa a certos imóveis suspeitos de pertencerem a este grupo neonazi foram encontradas diversas armas, algumas de guerra de sistema 3D, bem como soqueiras, facas de grande dimensão, propaganda nazi e documentação gravíssima que indica que o referido grupo se preparava para matar o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o ex-primeiro-ministro António Costa e o candidato presidencial Almirante Gouveia e Melo e invadir a Assembleia da República com violência armada. Foram já detidos oito membros do grupo neonazi incluindo um chefe da PSP que funcionava na Polícia Municipal de Lisboa e vários agentes da PSP e militares da GNR, os quais pertenciam ao grupo e angariavam jovens para o grupo. Entre os muitos membros do grupo, está o pai da deputada do Chega, Rita Matias. Os factos são gravíssimos. O próprio Direito Constitucional está em causa porque falamos de crime e de terrorismo, e não, de uma simples posição política.

Os Serviços Secretos e a Polícia Judiciária já detectaram 11 organizações neonazis em Portugal. Nada disto aparece por acaso. Nas redes sociais, nomeadamente na rede Telegram, assiste-se a um discurso de ódio e de xenofobia por parte de elementos do Chega e neonazis, o que tem dado força a que movimentos mais radicais de extrema direita possam levar a efeito actos de violência essencialmente contra imigrantes africanos e asiáticos. Desta feita, a Polícia Judiciária já possui elementos gravíssimos de acções terroristas que estavam planeadas para breve. O neonazismo é uma triste realidade em Portugal que está a chegar a planos de alta violência criminosa. E nada se passa por acaso. Quando assistimos ao político radical, xenófobo e racista André Ventura a incutir na opinião pública um discurso contra as comunidades ciganas e contra os imigrantes, obviamente que os neonazis sentem que esse discurso lhes é favorável para a acção terrorista.

No dia 10 de Junto, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a ilustre e premiada nacional e internacionalmente escritora Lídia Jorge, na sua qualidade de coordenadora das cerimónias, proferiu um discurso de grande profundidade e realismo relativamente à nossa história de séculos, tal como o Presidente da República deve ter proferido o seu melhor discurso dos seus dois mandatos, tendo salientado que todos somos portugueses, numa referência clara contra a discriminação que alguns defendem contra os imigrantes.

E o que aconteceu de seguida? André Ventura veio a público com afirmações absolutamente ofensivas a Lídia Jorge e a Marcelo Rebelo de Sousa, e não só. O líder do Chega afirmou que “Lídia Jorge e o Presidente da República traíram o nome de Portugal”. E mais: “José Luís Carneiro dá dó quando aparece na televisão. Apetece entrar ali e dizer ao homem: ‘Oiça, amigo. O país não é o mesmo de há 40 ou de há 30 anos”. E ainda mais: “Se a revisão Constitucional não avançar mostra-me que o primeiro-ministro está refém, está sequestrado, está preso aos mesmos interesses e ao mesmo conluio que o PS sempre esteve”.

Ora, quem chama traidor ao Presidente da República não está a reflectir um discurso de ódio perante quem o ouve? Não está a incutir forças a grupos mais radicais? Quando Ventura fala que o país hoje não é como há 40 ou há 30 anos, claro que não, hoje temos em Portugal, pelo menos, 11 organizações neonazis terroristas, das quais fazem parte elementos da PSP, GNR e familiares de deputados do partido de André Ventura. Os crimes de incitamento ao ódio e violência aumentaram mais de 200 por cento nos últimos cinco anos.

A situação referente a estes grupos neonazis é grave. Os democratas estão preocupados. A lista que a Polícia Judiciária apreendeu onde constam individualidades a matar não é pequena. Só a intenção de se proporem a matar personalidades que tudo têm dado ao seu país, incluindo a liberdade em 25 de Abril de 1974, já é muito grave. E por que falamos em liberdade? Porque na lista referida também fazem parte capitães de Abril.

As autoridades judiciais não podem ter mais contemplação por organizações deste tipo e por afirmações gravosas proferidas por certos políticos que apenas visam aumentar a vontade aos neonazis para saírem da toca, como em muitos casos violentos já o fizeram. A tão badalada reforma da Justiça tem também que incluir a edificação de estabelecimentos prisionais especiais onde possam ser colocados os fascistas que sejam condenados por actividade criminosa ou terrorista.

23 Jun 2025

Violência a aumentar sob a saudação nazi

Factos: nas comemorações do 25 de Abril um grupo de neonazis insultou e agrediu os manifestantes democratas e os agentes da polícia com paus e cadeiras de ferro de uma esplanada em pleno Largo de São Domingos, em Lisboa; No Bairro Alto lisboeta quatro neonazis após terem feito a saudação nazi perante três negros, dois turistas sul-africanos e um português, espancaram e pontapearam até os negros ficarem inconscientes; Num restaurante junto ao Teatro ‘A Barraca’ um grupo neonazi juntou-se em reunião/almoço e ao saírem do repasto dirigiram-se à porta do teatro onde se encontravam alguns funcionários e actores a conversar. Vestindo camisolas de um grupo neonazi começaram a insultar um dos presentes que vestia uma camisola com uma estrela vermelha e a silhueta de Che Guevara “Ah és Guevara, nós também, mas é para vos matar a todos”.

Entretanto, chegou o conhecido actor Adérito Lopes e tentou apaziguar a discussão e um dos neonazis com uma soqueira de ferro enfiada na mão esmurrou o actor na face deixando-o gravemente ferido numa vista e tendo de ser hospitalizado; Junto ao pavilhão desportivo do Sporting, após um encontro de Hóquei em Patins, um grupo encapuzado de adeptos sportinguistas, dois deles já identificados como conotados com um grupo de extrema direita, atacou e incendiou o carro onde iam cinco adeptos portistas tendo uma das vítimas ficado gravemente ferido; No Porto, duas senhoras da associação CASA que prestavam apoio aos sem-abrigo foram cercadas por indivíduos neonazis que depois de fazerem a saudação nazi começaram a agredir o sem-abrigo, a insultar e a agredir as senhoras voluntárias, dizendo: “Vocês param já com esta merda de ajudarem estrangeiros!”.

A polícia chegou pouco depois e um dos agressores, ao pedirem-lhe a identificação, esmurrou o agente policial; Nas comemorações do 10 de Junho junto ao monumento dos Antigos Combatentes, em Belém, um indivíduo depois de estender o braço ao estilo da saudação nazi, começou aos gritos insultando o Imã da comunidade muçulmana, que há mais de 17 anos participa naquela comemoração junto do capelão católico das Forças Armadas, dizendo: “Ó traidor vai-te embora, vai para a tua terra que isto é dos portugueses”. Os presentes na cerimónia afastaram de imediato o indivíduo que insultava e alguns tiveram de se conter para não lhe darem uma sova; Um sem-abrigo africano deitado junto à porta de uma casa de Alcântara foi completamente pintado de preto e deixado o desenho de uma cruz suástica no lençol que cobria o sem-abrigo.

Factos violentos, impunes e revoltantes. Ao ponto de o poder judicial ter mandado em liberdade o agressor do actor Adérito Lopes e os agressores do agente policial e das senhoras voluntárias da CASA. A violência por parte de grupos neonazis está a generalizar-se de uma forma que na maioria das cidades já não existe um idoso que saia à rua sem receio de ser atacado e roubado, especialmente se não for branco. O fenómeno é naturalmente uma realidade triste desta partidocracia que tende a aumentar. E porquê? Porque esses grupos neonazis começaram a sentir as costas quentes.

Se não, vejamos. Desde que André Ventura e os seus simpatizantes do partido Chega começou a iniciar discursos de racismo, xenofobia, de ódio e de insultos a outros deputados da Assembleia da República, as redes sociais encheram-se de mensagens de ódio, de xenofobia, de racismo e de incentivo à agressão a todos os que fossem imigrantes. André Ventura é o principal culpado desta onda de violência que se está a gerar no país por parte de grupos neonazis e mesmo de alguns elementos do Chega. Mas a culpa não é só de Ventura. Assistimos vergonhosamente que o primeiro-ministro Luís Montenegro nem uma palavra de reprovação proferiu sobre o caso da agressão ao actor Adérito Lopes.

A nova ministra da Administração Interna veio a público com uma simples declaração, onde o que proferiu significou zero, sobre a violência que começa a ser semanal. Como é que os serviços de informações da República e a PSP não tivessem conhecimento da reunião de muitos elementos neonazis num restaurante junto ao Teatro A Barraca? Como foi possível que não estivessem a controlar os seus movimentos? E que esses elementos pudessem sair do restaurante indo pelas ruas, armados em donos do mundo e pudessem chegar à agressão a um actor?

Muito se tem falado, desde a última campanha eleitoral para as eleições legislativas do passado 18 de Maio, em segurança. Ouvimos dizer que o país é o mais seguro da Europa. Balelas. Quando o povo já tem medo de sair de casa, vivemos num país seguro? As associações policiais estão fartas de reivindicar melhores condições na sua actividade, de salientar que prendem criminosos e que o poder judicial os manda em liberdade. Até mesmo os agentes policiais já têm receio de efectuar patrulhas a pé. De noite, nem pensar. Passam os carros patrulha e “vivó velho!”. A segurança das populações é um tema que tem de ser levado muito a sério pelo novo governo. A situação a que assistimos de violência extrema por parte de grupos neonazis só tem uma solução: assim que forem detidos após um acto de violência têm de ser mandados judicialmente para a prisão.

E pergunta-se o que faz a ministra da Justiça, especialmente com uma reforma inexistente nos quadros, quando se sabe que um grande número de juízes é simpatizante de André Ventura? O governo anunciou que o apoio financeiro à Ucrânia irá aumentar e que o investimento na Defesa será de muitos milhões de euros. Não seria mais lógico que primeiramente se pensasse na segurança do povo e que o número de agentes policiais aumentasse substancialmente? Real e preocupante é o aumento de casos de violência sob a saudação nazi.

16 Jun 2025

Jovens e amas explorados

Os políticos, as associações, os partidos políticos não se fartam de falar no problema da habitação. Palavras ocas e que em nada contribuem para que em Portugal o problema grave da habitação, especialmente a social, tenha uma luz ao fundo do túnel. Portugal é o país da Europa onde o preço das casas mais tem aumentado. Constrói-se muito imóvel, mas são condomínios de luxo, com acesso apenas a ricos. A habitação destinada a rendas acessíveis é focada sempre para as calendas.

E quem sofre mais com esta inércia decisória dos governantes são os pobres e os jovens. Estes, continuam com 40 anos de idade a viver em casa dos pais. Os jovens não têm qualquer possibilidade de arrendar uma casa em Lisboa ou no Porto. Terminam o seu curso secundário e quando decidem seguir para uma universidade em Lisboa é-lhes absolutamente impossível arrendar uma casa e as residências de estudantes são mínimas e caras. Sabem o que acontece em Lisboa? Os jovens universitários são explorados de uma forma infame.

Na capital lisboeta existem centenas de proprietários de casas antigas que foram edificadas com seis e sete quartos. Pois, acontece que esses senhorios alugam os seis ou sete quartos a estudantes por 500 e 600 euro ao mês e na casa existem apenas duas casas de banho para todos. Pior ainda é que os exploradores nem sequer passam recibos e fogem ao fisco no que concerne ao rendimento aproximado de 4200 euros por mês, no caso de se tratar de uma residência com seis quartos. A exploração e oportunismo deplorável deve-se fundamentalmente à falta de habitação a preços acessíveis, com a agravante de serem os pais dos estudantes a pagar o uso desses quartos.

Onde está a fiscalização institucional? Naturalmente que não acreditamos que não será possível descobrir onde existem essas residências que exploram os estudantes. Apenas numa avenida de Lisboa tivemos conhecimento de que há mais de 20 residências com os quartos alugados a estudantes. Trata-se de uma situação que o novo governo bem podia ponderar em criar um agrupamento, tipo ASAE, dedicado exclusivamente às irregularidades cometidas e à exploração dos jovens que precisam de uma cama e uma mesa para poderem ser estudantes numa faculdade.

O problema da habitação prende-se igualmente com a diminuição que se verifica nos índices de natalidade. Obviamente que os jovens não têm possibilidade de se unirem, contrair família e viverem a pensar que o futuro é um problema. Se ficam nas casas dos pais, como podem adquirir ou arrendar uma casa para viverem com a companheira e filhos que venham a nascer? Impossível. Escrevemos com conhecimento de causa porque mantivemos um bate-papo com uma jovem estudante da Faculdade de Letras que nos disse que vive num quarto de uma residência com mais seis habitáculos, todos alugados por 600 euros. E sublinhou que o senhorio informou que se pretendesse recibo o pecúlio a pagar teria de ser de 750 euros. Deplorável.

Um outro problema grave que se regista em cidades como Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Évora, entre outras, é a situação das mulheres que são contratadas por agências de emprego a fim de serem amas de idosos com mobilidade reduzida ou com vários tipos de demência. Essas mulheres, nomeadamente portuguesas, brasileiras e africanas, recebem um salário, quando recebem, menos de metade do que o contratante paga a essas agências de emprego. Habitualmente são os filhos desses idosos e doentes que pagam, por exemplo, 3000 euros por mês e as trabalhadoras amas recebem o equivalente ao salário mínimo. Muitas delas trabalham aos sábados e domingos sem que lhes seja pago a dobrar como a lei obriga.

Por vezes, são mulheres que vivem com dificuldades familiares que têm um emprego, mas que vão trabalhar ao fim de semana para angariarem mais algum dinheiro que ajude na sua sobrevivência. As amas que têm contrato anual para trabalhar de segunda a sexta-feira não têm qualquer pagamento de subsídio de Natal. Mais uma vez, não acreditamos que o Governo não tenha conhecimento desta realidade e que procure terminar com este tipo de exploração vergonhosa. Todos sabemos quanto é difícil tratar de dia e de noite um idoso com demência ou que precisa de uma cadeira de rodas para se deslocar. Estas amas ainda realizam trabalhos extra nas casas onde trabalham, tais como cozinhar, lavar a roupa e passar a ferro, sem qualquer remuneração a mais.

Ainda existem casos em que os idosos possuem animais de estimação e lá são as amas exploradas que têm de tratar dos animais e levarem-nos à rua. Este tipo de exploração, no nosso entendimento, não passa de um novo tipo de escravidão. É disso que se trata, com os governantes a assobiar para o lado. Dois casos pertinentes que seriam merecedores de uma mudança radical para que os “chicos-espertos” não pensassem que o mundo é de quem explora e escraviza o seu semelhante.

9 Jun 2025

Escândalo no Santa Maria

Imaginem. Imaginem um funcionário público ganhar num só dia 51 mil euros. Impossível? Não. Aconteceu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com o nosso dinheiro. Um médico dermatologista e outros elementos da sua equipa ganharam em apenas 10 sábados 850 mil euros. Só o médico em causa ganhou 450 mil euros em 10 dias. Como foi possível? Está em investigação porque se trata de uma fraude escandalosa.

Em causa está o chamado SIGIC, o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia, um sistema que permite fazer cirurgias fora do horário laboral, de modo a mitigar as longas filas de espera nos hospitais. Se por um lado aumenta a produtividade e diminui as listas de espera, por outro é um incentivo financeiro para os profissionais de saúde, tendo em conta que recebem dinheiro por isso. Ora, para os médicos poderem fazer cirurgias ao fim de semana, têm de cumprir uma meta. Deve existir um limite máximo de SIGIC a não ultrapassar um terço da produção cirúrgica total. Cada um dos interessados em participar no SIGIC em 2024 deveria produzir em cirurgia regular registada como tal em sistema na proporção estimada de 3:1. Ou seja, seria necessário realizar 66 cirurgias de ambulatório para poder fazer um dia de SIGIC com 22 doentes. A proporção mínima permitida é 2:1.

O dermatologista Miguel Alpalhão chefiou uma equipa com mais colegas e uma enfermeira. O caso está a dar que falar todos os dias na imprensa e canais de televisão. O próprio presidente da gestão do hospital afirmou ter ficado estupefacto, mas têm vindo a público notícias de que a gestão do hospital já tinha conhecimento do que se passava há alguns meses. “Não é possível que uma cirurgia de cinco horas pague cerca de 900 euros e haja depois médicos a ganharem mais de três mil euros por tirarem um sinal”, desabafou um profissional do Santa Maria à revista sábado.

O problema maior é que o caso de Miguel Alpalhão pode ser particular na magnitude dos valores envolvidos, mas tudo indica que há outros hospitais públicos – e mais especialidades médicas, além da dermatologia – em que os incentivos financeiros ao abrigo do SIGIC, para operar for a do horário regular de trabalho, não têm controlo. Um gestor com conhecimentos do que se passa na especialidade de oftalmologia adiantou que há oftalmologistas a fazerem dezenas de intervenções simples às cataratas aos sábados e aos domingos, que ganham dezenas de milhares de euros. E, nesse caso, o escândalo será gravíssimo na história do Serviço Nacional de Saúde completamente pago pelo Orçamento do Estado, o que significa dinheiro gasto pertencente a todos os portugueses.

Mas, toda a moeda tem duas faces. Imaginem que num caso em que já se fala na expulsão do médico Miguel Alpalhão, ele foi para o curso de medicina porque quando jovem teve uma doença para a qual não existia explicação clínica. Em 2016 foi o melhor do seu ano a sair da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Escolheu dermatologia porque queria uma boa vida. Quem trabalhou com ele descreve-o como “um Dr. House”, com uma memória visual ímpar. Os 400 mil euros que recebeu por dez sábados no hospital de Santa Maria não o arrastaram só para um escândalo – puseram no radar o descontrolo financeiro das cirurgias no SNS fora do horário regular. Como jovem com 24 anos ganhou o prémio Professor Manuel Machado Macedo por se ter formado com a melhor nota do seu ano na Faculdade de Medicina de Lisboa.

Um médico que trabalhou com ele descreve o dermatologista, que conheceu quando passou como interno (titular de um estágio pago) no seu serviço no Santa Maria, como “um Dr. House”, numa referência ao personagem da série fictícia, que tem um trato por vezes menos comum e um talento inato para diagnósticos. “Tem uma memória visual sem igual, fez diagnósticos que mais ninguém fez no estágio”, conta o seu professor. Havia médicos mais velhos a colocarem-lhe dúvidas sobre casos mais bicudos, algo invulgar no meio. “Tem uma cabeça brilhante”, afirmou o mesmo professor.

Estava, como tantos outros médicos – cuja formação pós-universitária é patrocinada em grande medida pela indústria farmacêutica – no radar de alguns laboratórios (ao todo recebeu 23.422 euros em seis anos, Segundo o Portal da Transparência, quase tudo pago em espécie – viagens, congressos e afins). É professor assistente na faculdade onde se formou, segundo o seu perfil no site da CUF (onde também está listado como clínico no hospital das Descobertas, em Lisboa, e noutro em Torres Vedras).

Entretanto, o Ministério Público já abriu um inquérito a tudo o que se passou com o médico Miguel Alpalhão e a sua equipa em Santa Maria. No entanto, não podemos deixar de referir as afirmações da ministra da Saúde que veio dizer que o caso “é muito grave” e que “já se iniciou uma investigação”.

Mas, alguém acredita que uma ministra tem competência para exercer um cargo de importância vital como a área da Saúde e nada soubesse do que se passava em vários hospitais do país?

Com casos desta natureza e com o que veio a lume também na semana passada sobre corrupção de outros funcionários públicos na Força Aérea, que foram notificados já como arguidos de suspeita de corrupção activa e passiva na aquisição de helicópteros lesando o Estado (todos nós) em cerca de 200 milhões de euros, como é que nos podemos admirar que o partido de André Ventura tenha aumentado a sua votação junto dos portugueses?

3 Jun 2025

O coveiro da democracia

Aí está ele! De mão no peito e no pescoço. A desfalecer. Com as televisões todas a cobrir o dia inteiro o trajecto das ambulâncias que o transportava. A aparecer na Praça do Município lisboeta de ligaduras no punho e pensos nos braços, a fingir que chorava à boa maneira bolsonarista e trumpista.

Eis, o coitadinho, que merecia o voto dos analfabetos da política, ou melhor, de todos aqueles que não pensaram se não num Messias que salvará Portugal dos corruptos, dos imigrantes e dos ciganos. De seu nome André Ventura, conseguiu captar os descontentes com os partidos da governação em 51 anos de democracia e obter uma votação inacreditável que nenhuma sondagem alguma vez alvitrou. Ventura está na maior. No caminho de coveiro da democracia.

O Chega ficará certamente como o partido principal da oposição, já que tudo indica que os votos dos emigrantes na Europa e fora da Europa irão oferecer dois deputados à AD e dois ao Chega. As eleições mostraram, efectivamente, tudo o que temos escrito aqui ao longo dos anos: o descontentamento da classe média, os salários baixos, as pensões de miséria, as escolas com chuva a entrar no seu interior, os jovens sem casa e a emigrarem, os médicos e enfermeiros mal pagos, os agentes policiais com esquadras que mais parecem pocilgas, os idosos sem lares dignos, os pobres sem poder de comprar os medicamentos não comparticipados, os transportes a abarrotar e com passes caros, o IRS a aumentar, os subsídios de renda a serem retirados a mais de 80 mil pobres, as grávidas a terem os filhos em ambulâncias, as consultas e cirurgias a demorarem meses e, algumas anos, a inexistência de habitação social ou de renda acessível, a violência doméstica a aumentar e os prevaricadores a serem mandados em liberdade. Todos estes factos têm sido salientados nestas crónicas e foram todas estas as razões que levaram ao aumento no voto num partido neofascista. Como foi possível que o Alentejo e Algarve sempre socialista e comunista fosse parar às mãos do Chega? Pelo descontentamento que grassa na população portuguesa.

O Chega até venceu em Algueirão-Mem Martins, nos arredores de Lisboa, onde a grande maioria de moradores é constituída por empregadas domésticas e funcionários públicos de nível hierárquico inferior que se levantam todos os dias às cinco horas para apanhar um comboio para o trabalho, quando não há greve. Foi este fenómeno do descontentamento com os governantes do PSD e do PS que levou muita gente que não é racista, não é xenófoba, não é pedófila, não rouba malas, a votar no Chega. Votaram eleitores que antes colocavam a cruz no PSD, no PS, no PCP e até no Bloco de Esquerda. Uma amiga nossa do BE transmitiu-me que votou no Chega porque nunca perdoará a Mariana Mortágua ter despedido funcionárias do partido que estavam grávidas. E, por isso, assistimos à queda enorme do BE que fica com Mortágua apenas no Parlamento e com sintomas de em próximas eleições desaparecer do hemiciclo.

Quanto ao “hecatombo” do Partido Socialista já se esperava. Um partido que optou por esquecer os jovens, que se transformou num feudo anti António Costa, que tem mais de seis facções no seu interior a degladiarem-se, obviamente que teria de cair na desgraça. Com mais ou menos reflexão, com um novo qualquer secretário-geral, irá demorar muitos anos a levantar-se do chão, se não lhe acontecer o mesmo que ao partido socialista francês. Votos socialistas com familiares a viver com dificuldades foram para o Chega. Votos socialistas anti Pedro Nuno Santos foram para o Livre.

Quanto à AD, que foi levada ao colo pelas televisões, está a cantar uma grande vitória. Qual vitória? Aumentou um pouco o número de votos e nem sequer consegue ter a estabilidade normal para governar. Das duas, uma. Ou se alia ao Chega, ou aguarda que o pequeno grupo parlamentar socialista lhe aprove o programa de governo e o orçamento do Estado. As vozes já se fizeram ouvir, tristemente, nas hostes pêpêdistas. Hugo Soares e Paulo Rangel já deram o mote de que em muitas propostas irá existir uma coexistência com o Chega.

Os portugueses não pensaram duas vezes. Embriagaram-se com as promessas de Ventura que nunca poderia cumprir, em face de Portugal não ter dinheiro para que os seus desideratos fossem para a frente e votaram numa criatura que já teve o desplante de dizer que “Ainda não viram nada” e “Irei ser o futuro primeiro-ministro”.

Ventura é antidemocrático, apenas quer alterar a Constituição, retirar da Constituição a palavra “socialismo”, quer retirar todos os subsídios e as casas às comunidades ciganas, retirar, à laia de Passos Coelho, o subsídio de férias e de Natal, proibir que nas escolas haja educação sexual, que os polícias actuem a matar, de preferência negros porque é um racista puro e quer, essencialmente, que os imigrantes que estão a “aguentar” a Segurança Social sejam expulsos de Portugal, à boa maneira trumpista.

A democracia portuguesa corre perigo. Não agora. Mas sim, nas próximas eleições legislativas, se os partidos democráticos não se convencerem que têm de se unir para defender um regime conquistado com muita luta, prisões e deportações de homens antifascistas. Ventura só tem em mente mudar o regime e ser o coveiro da democracia, de forma a poder continuar a receber os parabéns de toda a extrema-direita da Europa e EUA. Ventura – se os portugueses não abrirem bem os olhos e se os governantes não começarem a resolver os problemas de sobrevivência da maioria -, irá para chefe do executivo e a tragédia neofascista será uma realidade em Portugal.

26 Mai 2025

O escritor

Estava sentado numa esplanada do centro histórico de Santarém. Tinha pedido uma bifana e uma imperial. Pensava nas pessoas que ia vendo passar. Na diferença com que os humanos exteriorizam os seus hábitos nas mais diversas formas de se apresentarem. Passavam raparigas e rapazes com a nova moda de auscultadores nas orelhas, algo que, segundo vários clínicos, vais deixar a nova geração completamente surda aos 60 anos de idade, porque ouvem a música no máximo de decibéis; passavam reformadas com a sua bengala; passavam mães com os seus carrinhos transportando os bebés.

É uma satisfação constatar que a natalidade não pára, mas é triste saber que muitas jovens não podem e não querem ter filhos por falta de condições financeiras para os criar e porque a situação das urgências hospitalares para grávidas está um caos; passavam apressadamente homens de pasta e fato e gravata, possivelmente advogados ou funcionários superiores da municipalidade; passavam crianças aparentando 12 ou 13 anos com a mochila às costas de tal forma pesadas que em nada beneficia o futuro das suas colunas vertebrais; passavam idosos com demência com uma senhora africana de braço dado.

Ai, se não fossem os imigrantes… não sei quem é que trabalhava nas instituições de cuidados continuados, nos lares, nos milhares de casas de portugueses das classes média e alta como empregadas domésticas, nos restaurantes e cafés, na agricultura e nas obras de construção civil. E ainda temos políticos que querem os imigrantes fora de Portugal, quando nós fomos sempre um país que obrigou à factualidade de termos milhões emigrados pelos quatro cantos do mundo; passavam vendedores disto e daquilo. Penso que disse umas seis vezes que não estava interessado em relógios, carteiras, óculos, chapéus ou isqueiros; passavam polícias na conversa e sem boné na cabeça. Ainda me recordo quando os agentes policiais percorriam as ruas garbosamente fardados e faziam continência quando passava um militar superior fardado. Hoje, não ligam a ninguém e até parece que somos nós que temos a culpa dos seus baixos salários.

A dado momento, chegou-se junto a mim um cidadão com o cabelo grisalho mal arranjado, a barba por fazer, com a roupa velha ou pouco limpa e disse-me qualquer coisa que não percebi. Respondi que não tinha trocado porque pagava a conta com o cartão multibanco. O indivíduo balbuciou mais umas palavras e eu pedi para repetir. Ele disse-me que não estava a pedir dinheiro. Desejava que eu lhe pagasse um bolo porque tinha fome. Respondi-lhe afirmativamente e acto contínuo perguntei o que fazia. Respondeu-me, surpreendentemente, que era escritor. Escritor? Mandei-o sentar na mesa e perguntei-lhe se queria uma bifana e uma imperial. Respondeu-me com um sorriso.

– Então, você é escritor e tem fome, certamente por falta de dinheiro, não?

– É assim.

– Mas, não tem dinheiro porquê?

– Porque tenho uma reforma de 700 euros, pago 450 pela renda, tenho de comprar alguns medicamentos não comparticipados, pago a electricidade, o gás, a água e fico com muito pouco dinheiro para a alimentação. Não compro roupa ou sapatos há cinco anos.

– E a Segurança Social não lhe dá apoio?

– Já tentei três vezes e ainda não consegui nada.

– Oiça, meu caro, o que escreve?

– Já escrevi dois livros sobre o capitão Salgueiro Maia e um sobre o que foi o Movimento das Forças Armadas?

– E onde posso comprar os seus livros?

– Esgotaram.

– E a editora não lhe pagou as comissões das vendas?

– Não, porque acordámos que eu não pagaria nada pela produção das obras mas também não receberia nada pelas vendas.

Chegou a bifana e a imperial para o meu interlocutor e de um golo bebeu o líquido alcoólico e de quase uma dentada a bifana. A fome era grande e as lágrimas emudeceram-me os olhos.

– Ó amigo, coma mais uma bifana…

– Se o senhor puder, agradeço muito.

– Não me trate por senhor, chame-me André e dê-me a sua morada para eu lhe enviar qualquer coisa que me diga que precisa e o número da sua conta bancária para quando eu puder enviar-lhe uns euritos.

O escritor, que me pediu para não mencionar o seu nome, depois de lhe dizer que eu escrevia na blogosfera e que iria abordar aquele encontro. Agradeceu-me sensibilizado e ao retirar-se apenas me disse que eu tinha “caído do céu”.

– Porque é que diz isso?

– Porque nos dias de hoje há muita pouca gente que ajude o próximo.

O escritor foi à sua vida e deixou-me a meditar na pobreza escondida que grassa pelo nosso Portugal. Uma pobreza que se intensifica de ano para ano e que os políticos assobiam para o lado. A pobreza em Portugal é uma realidade que afecta quase dois milhões de pessoas, representando 16,4 por cento da população em risco de pobreza ou exclusão social, de acordo com dados recentes. Embora a taxa de risco de pobreza tenha diminuído em 2023, a desigualdade de rendimentos e a pobreza continuam a ser desafios significativos para o país, com crianças, jovens e famílias monoparentais sendo os grupos mais vulneráveis. Em Portugal, uma em cada cinco pessoas vive em risco de pobreza ou exclusão social.

Os pobres estão mais pobres em Portugal. A evolução dos principais indicadores de desigualdade, pobreza e exclusão social divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a partir do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2024, evidencia alguns sinais contraditórios, que devem ser lidos com um cuidado adicional. Uma parte desses sinais contraditórios resulta dos diferentes períodos de observação das suas principais variáveis.

Enquanto os indicadores de nível de rendimento, de desigualdade e de pobreza reflectem a realidade de 2023, os indicadores de privação material e social e de exclusão social traduzem a realidade existente na data do inquérito, isto é, de Março a Junho de 2024.

Contudo, o mais importante é que existe muita pobeza escondida no nosso país e há “escritores” com fome e que têm a dignidade e a coragem de pedir pelas ruas que alguém lhes mate a fome e, isso, é o mais triste de uma realidade que a classe política não demonstra ter preocupação, especialmente em manter reformados com pecúlios mensais de 200, 300 ou 400 euros.

19 Mai 2025

Legislativas novas, alternativas velhas

Nunca tínhamos assistido a uma campanha eleitoral para eleições legislativas de tão má qualidade. Vê-se perfeitamente que certos políticos não têm nível para governar e para apresentar aos portugueses alternativas que lhes provoquem uma vida melhor. E há outros políticos que não esperavam nem estavam preparados para eleições. Uma campanha eleitoral onde se detecta logo à vista desarmada que o povo não está sensibilizado e em grande parte está desiludido com as promessas nunca cumpridas.

O povo não quer saber se Luís Montenegro tem uma empresa familiar e saca dinheiro de clientes potenciais com ligações ao Estado. O povo não quer saber se Pedro Nuno Santos comprou um monte no Alentejo ou um Maserati.

O povo quer algo de concreto. Quer que a sua vida melhore, que não vá ao supermercado e veja sempre os preços a aumentar; que ao encher o depósito do seu carro constate que o mesmo combustível em Espanha é muito mais barato; quer saber quando é que se constroem mais centrais eléctricas ao redor da Grande Lisboa, para que um apagão nacional não prejudique todo um país e uma capital cheia de milhares de turistas, alguns a dormir no chão do aeroporto – neste particular referir que o apagão foi uma vergonha relativamente à dependência de Espanha e ao fiasco das eólicas e das infindáveis estações voltaicas -, o povo quer ver os seus salários ao nível da Europa e que acabem as pensões de 200, 300 e 400 euros; quer que os seus filhos e netos parem de emigrar por não existir habitação acessível para jovens; quer ver construídos vários lares públicos, a preço acessível aos idosos pobres, com qualidade no bem-estar e bom serviço; quer que a corrupção abandone os departamentos estatais, nomeadamente nas autarquias onde um investidor de um hotel de charme aguarda dois anos pela licença de abertura apenas porque se negou a entregar determinado pecúlio para o edil; o povo quer deixar de ver os terrenos baldios a servirem de grande negócio de certos presidentes de Juntas de Freguesia; o povo quer que acabem com as urgências encerradas e que as futuras mães não tenham que ter os seus filhos no interior de uma ambulância porque a incompetência de uma ministra da Saúde continua a não resolver nada sobre o encerramento das urgências de obstetrícia; o povo só quer que os políticos se compenetrem de que se governam o país, estão a governar para mais de quatro milhões de cidadãos que vivem ao nível da pobreza.

A pré e a campanha eleitoral em si tem sido uma desilusão. Os debates televisivos tiveram um índice de audição baixíssimo. Os políticos líderes de partidos com assento parlamentar demonstraram uma nulidade de propostas alternativas para um futuro de 20 ou 30 anos. Debates televisivos mal moderados, onde o funcionário do canal pretendia ser a vedeta e só sabia interromper quem estava ali para debater. O próprio debate entre Montenegro e Nuno Santos foi desinteressante, apesar de Montenegro, surpreendentemente, ter aparecido tenso e nervoso, e por isso, ter perdido o debate.

A campanha eleitoral está nas ruas do país e vocês, caros leitores, não acreditam: os banhos de multidão acabaram. As pessoas não se mobilizam por altifalantes que gritam aos quatro ventos que está ali o melhor para primeiro-ministro. Os partidos pagam a “voluntários” que vão atrás dos líderes partidários com bandeiras e gritando vivas ao partido em causa. Já ninguém liga à passagem de uma caravana partidária e, isto, é grave. É sinal que a democracia não tem cumprido o seu papel. De tal forma, que o neofascista André Ventura, que chegou a dizer que iria ser primeiro-ministro, teve atrás dele em determinada localidade cinquenta pessoas, parou, falou para os jornalistas num tom crítico contra a AD e o PS, e lá foi à sua vidinha “trumpinha”…

Depois, nesta campanha eleitoral temos algo de risível, mas vergonhoso. São as sondagens. Já estamos habituados a nunca acertarem e a serem realizadas com a normalidade manobradora. Desta feita, a vergonha não existe. Chegámos ao ponto de uma estação de televisão apresentar uma espécie de sondagem diariamente, dando sempre uma vantagem substancial à AD, quando se repara que aquela “informação” apenas visa manobrar os potenciais eleitores para votarem na AD.

Há sondagens para vários gostos, mas uma sondagem da Intercampus, que apresentou o Partido Socialista à frente, não foi divulgada em canal televisivo algum, os quais estão nas mãos de Cristiano Ronaldo e de outros milionários como ele. As sondagens, que manobram a opinião do potencial eleitor são o reflexo do tipo de política que hoje se pratica em campanha eleitoral. “A” insulta “B”. “B” insulta “A”. “A” insulta “C”. “C” insulta “A”. “D” insulta “C”. “C” insulta “D”. Querem que faça um desenho? Eu faço: Montenegro insulta Nuno Santos. Nuno Santos insulta Montenegro. Montenegro insulta Ventura. Ventura insulta Montenegro. Mortágua insulta Ventura e Ventura responde do mesmo modo.

E isto é política, é alternativa para termos um país melhor? Nem pensar. Portugal está a viver o pior momento de seriedade e de ética política dos seus 51 anos de regime democrático. É pena. E não se adivinha qualquer medicamento para o doente.

12 Mai 2025

A miudagem do telemóvel

Miúdo de 10 anos de idade: “Pai, se não me compras um novo telemóvel, não vou à escola!”. A situação dos nossos jovens infantis e adolescentes é incompreensível. A mudança no mundo repercute-se no dia a dia de Portugal. Os miúdos querem isto e aquilo sem compreender que na maioria dos casos os pais não têm dinheiro para as suas reivindicações. Os miúdos veem na escola uma minoria que usa sapatilhas de marca, um telemóvel topo de gama e uma mochila das mais caras e todos querem produtos iguais.

Já aconteceu que um miúdo de 11 anos não gostou do iogurte que a mãe comprou e atirou-o contra a cara da mãe. Um outro, com 12 anos, foi à garagem furar o pneu da bicicleta do pai por este não lhe ter comprado a bicla que desejava. Um outro, chegou à sala de aula e disse à professora que ela devia ser lésbica porque só dava beijos às meninas. Tivemos conhecimento que um outro miúdo pediu ao avô 20 euros e como o velhote disse que não tinha, o miúdo atirou a bengala do avô para o recipiente do lixo municipal. Um outro, chegou com os pais a um hotel e queria ver televisão quando já eram horas de dormir.

Os pais desligaram o televisor e o miúdo foi à casa de banho buscar um copo de vidro e partiu o televisor. Mas, estamos a entrar em que tipo de sociedade, em que nos interrogamos sobre o futuro para estes jovens. Os pais e avós queixam-se que a culpa é dos computadores, quando os aparelhos foram oferecidos pelos avós ou pais. Que as redes sociais estão a estupidificar os jovens que passam horas ao telemóvel ou ao computador. Mas, os pais é que têm de controlar a actividade dos filhos e educá-los sob as regras mínimas a cumprir. Há dias, um amigo lamentou-se que o seu filho andava a enlouquecê-lo porque no carro não quis colocar o cinto de segurança. Ao ser obrigado pelo pai atirou com o telemóvel contra o monitor do GPS do veículo e partiu o telemóvel e o visor digital. Os casos são intermináveis e diversos.

A miudagem senta-se num café com os pais e está todo o tempo agarrada ao telemóvel. Culpa deles? Não, os seus pais não deviam permitir. Dizem até que se contrariarem os filhos estes fogem, sabe-se lá para onde. A educação de menores hoje em dia está realmente a degradar-se. A maioria dos pais trabalha o dia inteiro e muitos quando chegam a casa já os filhos dormem ou estão há horas agarrados ao computador. Depois, temos o reverso da medalha. Cada vez mais aumenta o número de crianças abusadas sexualmente por pedófilos que através da internet usam todos os subterfúgios para virarem a cabeça dos menores.

Por seu turno, a juventude adolescente está a preocupar as diferentes comunidades. Os jovens entre os 13 e 16 anos estão a ter um comportamento surpreendente pela negativa. Querem sair à noite, bebem cerveja ou shots, fumam cannabis, embriagam-se, chamam um carro da Uber e são violadas, se se trata de uma jovem. As casas de banho das discotecas servem para o sexo. Os gangues instalados introduzem drogas nas bebidas das jovens para posteriormente as poderem violar.

Assistimos recentemente a um caso trágico em Braga. Um jovem do ensino secundário, no interior do clube da Associação Académica da Universidade do Minho, onde era permitido entrar todo e qualquer indivíduo, deu-se conta que uns estranhos, não portugueses, estavam a introduzir drogas nas bebidas das raparigas. Dirigiu-se ao segurança e chamou-lhe à atenção do que estava a acontecer.

O segurança do bar em vez de proteger de imediato o jovem denunciante, mantendo-o no interior do bar ou no gabinete da gerência, cometeu o “crime” de atirar com o jovem juntamente com os membros do gangue para o exterior do bar. E a Polícia Judiciária investiga se o segurança comunicou aos membros do gangue o que o jovem denunciante tinha acabado de lhe transmitir. Resultado: fria, cobarde e violentissimamente, os membros do gangue esfaquearam acto contínuo o jovem português até à morte. Ao que chegámos.

Uma coisa é o que assistimos durante anos e anos: desavenças, discussões e pancadaria a murro e pontapé. Outra, absolutamente incompreensível, são os jovens a matarem-se por uma razão qualquer, seja por ciúme ou por tentativa de drogar o semelhante para fins abusivos.

Aquele bar estudantil era algo inqualificável, e nunca poderia ter sido autorizada a sua funcionalidade. Estava situado num beco e como podem verificar na fotografia que publicamos, o bar tinha grades em todas as janelas e sem saída de emergência. Em caso de incêndio tinham morrido dezenas de jovens no interior do bar. E é neste Portugal, com factos deste género, que a juventude actual se diverte. O crime entre os jovens aumenta. As cenas de violência pululam por todos os bairros. Obviamente que a polícia não pode estar em todo o lado, mas voltamos à mesma tecla: os pais de hoje não pensam que o futuro dos seus filhos com este comportamento irá ser um desastre social? Infelizmente, já existem casos em que um filho mata o pai porque este não lhe deu dinheiro para comprar uma nova droga, a K9, que já está a matar dezenas de jovens.

As autoridades governamentais têm forçosamente que olhar a sério para o problema da juventude e tomar certas medidas rigorosas, entre as quais, a proibição na entrada de bares e discotecas nocturnos a menores de 18 anos.

29 Abr 2025

Professores envergonhados

Os professores são estudo, conhecimento, cultura, dedicação e sofrimento. Não existem dois professores iguais. Uns do sexo feminino e outros do masculino. Em Portugal assistimos a professores, com filhos, a serem colocados a 300 quilómetros de casa.

A chegarem ao local de ensino e não terem as mínimas condições de habitabilidade. Os professores são o fundamental da formação dos nossos filhos. Muitos pais não compreendem que a formação dos seus descendentes tem a ver com os professores e que a educação tem de ser feita no seio familiar. Os professores devem ter sido a classe profissional que durante muitos anos foi a mais prejudicada e que mais manifestações de protesto realizou. Os seus protestos visaram a correcção da situação de milhares de professores que foram ultrapassados na carreira por colegas com menos tempo de serviço. Desde 2018, cerca de 50.000 professores não foram devidamente reposicionados, resultando na colocação de docentes com o mesmo tempo de serviço em escalões distintos, devido exclusivamente a normativos legais. Os professores sempre sublinharam que não lutavam por mais dinheiro, mas sim por justiça. Houve professores que estiveram mais de 30 anos no 10.º escalão quando já deviam ter sido colocados no sétimo escalão.

No ano passado realizou-se, em Lisboa, uma gigantesca manifestação com professores de todo o país, num encontro realizado pela Federação Nacional dos Professores (FENPROF) e o líder Mário Nogueira defendeu que era preciso criar uma carreira mais atractiva que mantivesse os que ainda estavam nas escolas e que atraísse os jovens e os que optaram por abandonar a profissão antes do tempo. Os professores através dos seus representantes têm conquistado algumas reivindicações. No entanto, as escolas continuam a ser locais de grande preocupação. Os alunos perderam o respeito pelos professores e têm havido vários casos de violência em que alunos agridem professores. Não é fácil ser-se professor nos dias de hoje.

Todavia, na semana passada toda a classe dos professores deve ter ficado muito envergonhada. E é triste saber de professores envergonhados. Porquê? Porque foi divulgado nas redes sociais que uma professora teve um comportamento ignóbil de puro racismo. A docente, de alunos muito jovens, pediu que todos os presentes na aula afirmassem o que sonhavam para a sua vida adulta. Os alunos foram respondendo o que pensavam e quando chegou a vez de um aluno com raízes africanas, a professora retorquiu: “Tu, não vale a pena falares porque os fulanos da tua cor acabam todos no álcool e na miséria…”. Fez-se um silêncio sepulcral na sala de aula e o miúdo africano levantou-se e disse: “A senhora professora está muito enganada. A senhora vai acabar na miséria muito primeiro que eu porque fique sabendo que eu era órfão e fui adoptado por uma família muito rica, os meus avós são riquíssimos e os meus pais são muito, mesmo muito ricos e eu sou o neto e o filho único que receberei várias fortunas…”.

Este caso, tem chocado muitas comunidades e muitos professores ficaram envergonhados porque é inadmissível que uma professora seja racista ao ponto de poder traumatizar um aluno para o resto da vida. O racismo existe, sempre existiu. Mas, uma professora não pode dar um exemplo tão negativo da verdadeira função de formação numa sala de aula. O racismo é combatido por quantos defendem os direitos humanos e democráticos. Em Portugal temos um partido de extrema direita com laivos de racista. Possivelmente a professora em causa é eleitora desse partido. Quase que não se acredita que uma professora rejeite a palavra de um aluno “preto” apenas porque é “preto” e lhe diga que irá acabar no álcool e na miséria como todos os “pretos”. A professora mostrou não ter o mínimo conhecimento do mundo que a rodeia ou, então, é mesmo racista radical. Temos africanos milionários, advogados, engenheiros, arquitectos, médicos, jornalistas, deputados, líderes de grandes empresas, polícias, todos excelentes e, felizmente, temos portugueses de origem africana na maioria das profissões.

Esta professora não pode continuar a envergonhar os seus colegas. A docente tem de ser alvo de um processo disciplinar que vise ser expulsa da profissão e os pais do jovem ofendido deviam mover um processo-crime contra a professora pelas vias judiciais. Tratou-se de um caso lamentável e fica a pergunta: quantos mais casos semelhantes acontecerão pelas escolas de todo o país? Uma discriminação desta natureza, tão grave, não devia ficar impune e os directores das escolas têm de ter o completo conhecimento de que tipo de docentes têm nas suas escolas para poderem terminar com factos inadmissíveis como este que vos relatámos. Ai, Portugal, Portugal…

P.S. – Em crónica anterior escrevemos sobre as ilegalidades que se processavam nas prisões portuguesas. Na semana passada, a Polícia Judiciária levou a efeito uma mega operação em várias prisões e foram detidos dois guardas prisionais e um agente da PSP, conotados com a entrada de droga e telemóveis nos presídios.

15 Abr 2025

Sondagens da treta

O que é uma sondagem? É um inquérito realizado por empresas criadas para indagar junto das pessoas algo de que se pretende ter uma ideia generalizada. Bem, generalizada nunca é possível.

Porque a maioria das sondagens políticas é uma treta. Existem os mais variados tipos de sondagens: encomendadas pelos partidos políticos, por canais de televisão e de rádio, por jornais e algumas simplesmente por grupos económicos. As sondagens políticas em Portugal têm sido um chorrilho de enganos relativamente ao resultado final em dia de eleições. Houve um ano, em que as sondagens todas realizadas junto dos inquiridos davam a vitória ao Partido Socialista e quem venceu as eleições foi o PSD. E o contrário também já aconteceu.

As sondagens que ultimamente têm sido divulgadas, em relação à próximas eleições legislativas antecipadas e marcadas para o próximo dia 18 de Maio, têm deixado a maioria da população desorientada. E porquê? Ora, porque as sondagens são uma treta. Algumas sondagens têm sido realizadas – numa população de milhões de pessoas – junto de 500, 800 ou 1000 pessoas, com a agravante de os contactos serem efectuados para números de telefones fixos.

E quem é que tem hoje em dia telefone fixo? Uns quantos velhotes e pouco mais. Ora, uma sondagem deste género, incrivelmente encomendada por uma estação de televisão, outra de rádio e um jornal diário, tem alguma credibilidade? Não tem, mas influencia o potencial eleitorado. E aqui é que está o busílis da questão. Há sondagens que apenas visam a influência mental dos eleitores.

Existem sondagens para todos os gostos. Chega mesmo a ser vergonhoso. Certas sondagens sabemos que estão pagas à nascença por certo partido político e apresentam sempre esse partido à frente. É a manipulação total. Temos tido outras sondagens que são a disparidade total.

Umas dão a vitória à coligação PSD-CDS por seis pontos à frente do Partido Socialista. Outras, apresentam a vitória do PS com três pontos percentuais sobre o PSD-CDS. Há sondagens que dão ao Chega 12,3 por cento enquanto outras fornecem um resultado aos populistas de 18,5 por cento. Obviamente que algo está errado. Até a Universidade Católica que sempre teve a maior credibilidade junto dos portugueses no que respeita a sondagens, para que desta vez não errasse, apresenta um empate técnico entre o PS e o PSD-CDS. A maioria das sondagens é manipuladora do voto futuro do eleitor.

A diferença numérica entre as diferentes empresas de sondagens, mostra bem que não bate a bota com a perdigota. Lembramo-nos perfeitamente do que aconteceu nas eleições de 2022, quando os socialistas conquistaram a maioria absoluta com todas as sondagens a darem a vitória ao PSD? O PS acabou por ter mais 5,5 por cento do que aquilo que as sondagens previam e o PSD teve menos 5,5 por cento. As sondagens foram manipuladas para assustar as pessoas e levá-las a votar de uma determinada maneira.

O PS nunca teria tido maioria absoluta, se as empresas de sondagens como a Intercampus e não só, não andassem a falar num empate técnico e num taco-a-taco entre PS e PSD, que pura e simplesmente não existia. Um erro colossal, um desfasamento clamoroso entre as sondagens e o que aconteceu na realidade, ou resulta de um festival de incompetência, ou foi uma estratégia criminosa de manipulação geral do eleitorado, leia-se uma burla colossal. No primeiro caso essas empresas de sondagens nunca mais deviam ser contratadas, no segundo teria de haver perdas de alvará.

E em ambos os casos, sugerimos que se acabe com a divulgação de sondagens tanto na pré, como em plena campanha eleitoral. Está bem à vista de todos o que se está a passar para as eleições de 18 de Maio. Algumas empresas de sondagens estão mesmo a manipular o eleitorado, inclusivamente quanto ao número de indecisos. Umas sondagens opinam que existem ainda 18 por cento de indecisos, outras dizem que os indecisos andam à volta de 3 ou 4 por cento.

Está mais que provado que na maioria dos casos estamos perante sondagens da treta. Porque manipulam, mentem e obedecem a quem encomenda. Por outro lado, temos dirigentes partidários que se riem dos resultados de algumas sondagens. É sabido que os partidos políticos encomendam sondagens apenas para análise interna. E em certos casos, há partidos que têm sondagens bem realizadas e com um vasto número de inquiridos e sabem que a intenção do voto dos portugueses é absolutamente contrária ao que está a ser divulgado por certos canais de televisão e certos jornais.

Entretanto, o Partido Popular Monárquico, que foi afastado da AD, contestou judicialmente que o nome Aliança Democrática (AD) continuasse a figurar nos boletins de voto para 18 de Maio. E o tribunal deu-lhe razão e o PSD e o CDS foram proibidos de usar a sigla Aliança Democrática.

Mas, como em política a vilanagem é uma constante, logo os dirigentes do PSD e do CDS inventaram uma manobra, para que o Tribunal Constitucional não pudesse reprovar. E apresentaram a denominação “AD-coligação PSD-CDS”. Pronto, venceu a esperteza saloia. Acontece é que existem em Portugal muitos mais monárquicos do que votantes no CDS. Mesmo assim, o PPM já recorreu judicialmente no sentido de suportar que é ilegal manter a sigla AD.

Esta campanha eleitoral vai ser dura. Luís Montenegro será confrontado com todos os cambalachos que lhe incumbem. Pedro Nuno Santos não se salvará de ser acusado de inventar três aeroportos para Lisboa de um dia para o outro e de ter prejudicado o país com tudo o que se passou na TAP. E o André Ventura? Bem, esse está a perder eleitores em cada mês que passa e hoje diz uma coisa e amanhã outra. A credibilidade do seu Chega está a baixar paulatinamente, porque também não lhe têm faltados os casos e casinhos, tais como deputado que roubava malas, outro que é suspeito de pedofilia e tantos outros factos que têm levado potenciais eleitores para outras paragens.

7 Abr 2025

Apito Bidourado

Todos nós nos lembramos do caso ‘Apito Dourado’ que envolveu o antigo presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa. O caso era grave e a acusação ao dirigente portista envolvia várias suspeitas, a principal de corrupção para com os árbitros, a fim de que os rivais não conquistassem campeonatos.

O caso foi notícia durante meses e uma das testemunhas em tribunal foi o antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Gilberto Madail. Este, nada disse que pudesse incriminar Pinto da Costa porque também tinha telhados de vidro. Recordamo-nos perfeitamente da organização do Euro 2004, em Portugal, onde o presidente da FPF era precisamente Gilberto Madail.

O povinho ficou atónito com a construção e renovação de dez estádios de futebol para a realização do Euro’04. Quatro estádios eram da propriedade do Benfica, FC Porto, Sporting e Boavista, enquanto o investimento público foi inserido nos estádios de Braga, Guimarães, Aveiro, Coimbra, Leiria e Algarve.

Na altura, foi debatido na comunicação social o investimento exageradíssimo para um país tão pequeno e pobre e ficou a convicção de que a corrupção teria andado ao redor do investimento. Hoje, os estádios de Leiria, Aveiro e Algarve estão praticamente abandonados.

A corrupção sempre esteve ligada ao futebol, não só institucionalmente como através dos inúmeros negócios que se realizam nos clubes com a compra e venda de jogadores. Quanto à arbitragem é melhor nem salientar os escândalos a que assistimos quase semanalmente.

A 17 de Dezembro de 2011, Fernando Gomes tomou posse como presidente da FPF e as suas responsabilidades foram imensas ao longo de todos estes anos, já que recentemente passou a bola para o ex-árbitro Pedro Proença, que por sua vez já vinha de presidente da Liga de Futebol. Fernando Gomes foi um presidente polémico e não podemos esquecer que a seriedade não imperou quando Fernando Santos foi o seleccionador da equipa nacional.

Na semana passada, o país ficou atónito porque ao fim de tantos anos, uma equipa de 65 inspectores da Polícia Judiciária (PJ), 15 especialistas de polícia científica da PJ, cinco juízes de instrução criminal, seis magistrados do Ministério Público e quatro representantes da Ordem dos Advogados deram início à megaoperação a que deram o nome “Mais-Valia”. Esteve em causa a suspeita de corrupção na Federação Portuguesa de Futebol, tendo sido desencadeados 20 mandados de busca e apreensão em domicílios, instituição bancária e sociedades de advogados nos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém.

Então, o que é que estava em causa? Nada mais, nada menos que a suspeita de avultadas comissões recebidas por dirigentes da FPF e intermediários na venda do edifício da antiga sede da FPF, em Abril de 2018, por 11 milhões e 250 mil euros e que nesse negócio as comissões podem ter ultrapassado os dois milhões de euros.

O período sob investigação incide entre os anos de 2016 e 2020, durante o segundo mandato de Fernando Gomes como presidente da FPF. No entanto, os magistrados e inspetores não conseguiram ter acesso a todos os documentos sobre a venda da antiga sede e que algumas informações terão desaparecido.

O que foi confirmado é que o intermediário no negócio da venda do edifício da FPF, António Gameiro, antigo deputado do Partido Socialista, recebeu da FPF 249 mil euros, e ainda mais 492 mil euros de quem comprou o edifício. Ao fim e ao cabo, o imbróglio é enorme porque envolveu mais suspeitos tanto no interior da FPF como no exterior e as investigações estão a ser muito complexas.

Mas, como na vida nunca vimos tudo, qual não foi a maior surpresa, escandalosa e vergonhosa para a PJ, quando os jornalistas que se preparavam para reportar a cerimónia de posse de Fernando Gomes como presidente do Comité Olímpico português, eis que chega o director nacional da PJ, Luís Neves – recentemente reconduzido no cargo – com Fernando Gomes ao seu lado e começa a disparar um discurso absolutamente absurdo no sentido de esclarecer de imediato que existem investigações de suspeita de corrupção na FPF mas, há sempre um mas, que o ex-presidente Fernando Gomes está ilibado de qualquer suspeita e consequentemente inocente.

Leram bem? Como é que o director da PJ podia assegurar a inocência total de Fernando Gomes quando ainda estavam a decorrer as investigações na Cidade do Futebol, onde foram recolhidos computadores, telemóveis e documentação vária? Quando os inspectores ainda estavam a solicitar o acesso ao email de Fernando Gomes? Bem, caros leitores, o que sabemos é que foi a primeira vez que um director da PJ veio a público com um potencial suspeito de investigações que ainda decorriam, colocar a cabeça no cepo pelo potencial suspeito.

Obviamente que as nossas fontes junto do Ministério Público transmitiram-nos que a atitude do director da PJ causou um imenso mal-estar no interior da investigação judicial “Mais-Valia”. Um caso nunca visto. Afinal, será que a corrupção está em todo o lado e que em vez de um Apito Bidourado teremos um Apito Tridourado?…

31 Mar 2025

Mata menor, na prisão “suicidou-se”

A criminalidade familiar ou passional está a aumentar todos os anos. As autoridades não têm mãos a medir para investigar as causas dos crimes, e na maioria dos casos, os investigadores ficam-se pela percepção. Há pessoas que matam ou mandam matar os seus companheiros, alegadamente, por amor.

É uma realidade transversal a todas as faixas etárias e a todos os estratos sociais, e que acontece ao longo de todo o ano. O crime passional acontece por ciúmes, vingança, por um sentimento de posse levado ao extremo, ou simplesmente porque a relação terminou e não se consegue viver sem a presença da outra pessoa – a maioria dos autores destes crimes passionais são imputáveis sendo raros os casos de inconsciência por causas patológicas.

Quem decide castigar desta forma os seus companheiros ou ex-companheiros, encontra sempre uma razão que legitima a morte do outro. Acontece muitas vezes o homicida, suicidar-se de seguida. Os dados mais recentes apontam para um aumento no homicídio conjugal em Portugal, nos últimos dez anos. O pior de tudo é quando o crime passional insere a morte dos filhos pequenos. Há psicólogos que ainda não arranjaram explicação cabal que justifique como é que um pai consegue matar um filho menor.

As nossas prisões estão cheias de criminosos, mas nos presídios há um “estatuto” muito especial para os reclusos que mataram a companheira ou um filho, tal como irão saber mais à frente. Esse estatuto interno é justiceiro para quem, mesmo tendo cometido outra espécie de crime, não aceita nem admite que se mate uma criança. As prisões do nosso país já foram dezenas de vezes notícia nos diversos órgãos de comunicação social. Ou porque têm reclusos a mais, sem condições de higiene, sem comida com o mínimo de qualidade, com pouco tempo de recreio, com adiamento de apoio médico, enfim, uma panóplia de lacunas que coloca Portugal na cauda dos países que não cumprem as regras dos direitos humanos. Os presídios portugueses são um mundo à parte, onde acontece de tudo um pouco e até fugas de tal forma escandalosas que são notícia internacional. Tivemos recentemente aquela fuga de Vale dos Judeus, onde cinco dos maiores criminosos detidos conseguiram fugir enquanto um vigilante comia um pastel de nata…

Por sinal, junto de nós reside um chefe guarda prisional e um dia destes convidei-o para tomar um café. Por acaso, eu bebi o café mas ele bebeu umas seis cervejas. Tudo bem. A conversa demonstra bem o que se passa no submundo das prisões.

Então, vocês agora tiveram um aumento. Não foi mau?

Ah!… O senhor pensa que o aumento no salário foi alguma coisa que resolva a vida difícil que temos? Nem pensar.

E o subsídio de risco?

Olhe, ainda não recebi nada e pelo que ouvi lá na prisão de Monsanto, o subsídio de risco é uma treta…

Diga-me uma coisa: como é que foi possível que aqueles criminosos perigosos tivessem conseguido fugir de Vale dos Judeus? E porque não estavam em Monsanto?

Bem, em primeiro lugar também nunca percebi como é que o pior deles estava na minha prisão de Monsanto e foi transferido para Vale de Judeus, onde tinha amigos… de certeza que houve movimentos de muito dinheiro…

Para quem?

Bem, isso agora não lhe posso dizer, mas o senhor imagina certamente que quem manda nas prisões não são santinhos nenhuns… E aquela fuga foi muito bem preparada com o apoio mafioso do exterior.

Mas, vocês guardas prisionais é que têm a fama de serem corruptos. De levarem a droga, de introduzirem os telemóveis e outros objectos letais…

Não é bem assim. Não podemos tomar um ramo seco pela árvore. Claro, que tenho colegas que ganham bom dinheiro com o que acaba de dizer, mas não são todos. E sobre os telemóveis e drogas, posso dizer-lhe que já apanhámos mulheres de reclusos que iam à visita e tinham tudo isso no interior da vagina…

Um telemóvel?

Exactamente! Nada de especial para algumas…

Outra coisa, vocês correm ou não perigo de vida, ou têm um “acordo” com os chefes dos presos?

Nós corremos risco de vida se fizermos a vida negra aos reclusos. Há muitos que não brincam em serviço, há muitos que controlam o negócio da droga através de mensagens codificadas para o exterior, há chefes mesmo mafiosos que controlam a vida no interior das prisões em todos os aspectos e até controlam a actividade no exterior. Dou-lhe um exemplo: nas prisões existe um certo “estatuto” entre os presidiários. Esses chefes dos reclusos não admitem nem por nada aqueles que vão para a prisão por matarem a mulher ou um filho pequenito… aí, não conseguimos fazer nada, mesmo se colocamos esses que mataram os filhos em solitária… eles lá arranjam maneira de quando é a hora do banho lhes tratarem da saúde.

Levam pancadaria?

Pancadaria? Muita e não só. Enfiam-lhes com um pau pelo rabo a dentro, obrigam-nos a sexo oral e sempre que podem matam-nos…

E a notícia não é dada à família e ao público?

Claro, que é dada a informação. Mas sempre da mesma maneira.

Como?

Que o recluso se suicidou…

– E vocês, guardas prisionais, caladinhos…

Obviamente. O senhor também não tem família? Está a perceber-me?

Em absoluto. Gostava de lhe perguntar outra coisa: existe muita homossexualidade nas prisões. Vocês permitem?

Não é uma questão de permitirmos. Isso acontece durante o banho, nas celas com mais de um preso, nos trabalhos no campo e até nas bibliotecas, especialmente o sexo oral.

Vê alguma solução para que a vida nas prisões possa ter mais qualidade e mais direitos humanos?

Não vejo. Daqui para a frente será sempre pior porque não se constroem novas prisões como, por exemplo, nos países nórdicos.

Agradeço este encontro e posso informá-lo que a nossa conversa vai ser lida em Macau, mas esteja descansado que o seu nome não existe. Obrigado. Tive prazer em conhecê-lo melhor.

24 Mar 2025

Caiu da cadeira do poder

Possivelmente os leitores mais jovens nem saberão bem a história do ditador António Oliveira Salazar. Mas, eu conto-vos uma estória trágico-cómica que aconteceu com o antigo presidente do Conselho de Ministros durante o tempo da ditadura que reinou antes do 25 de Abril de 1974.

Fontes próximas da ama do ditador, Dona Maria, contaram-nos que o ditador era ouvinte diário dos programas humorísticos dos ‘Parodiantes de Lisboa’. Num belo dia, o ditador estava no ripanço do Forte de São Julião da Barra, sentado numa cadeira de lona, a apanhar os seus raios de sol e a escutar um programa de rádio da equipa dos humoristas lisboetas. A dada altura, achou tanta graça a uma rubrica do programa radiofónico que deu várias gargalhadas e caiu da cadeira batendo com a cabeça na pedra do chão e nunca mais recuperou da lesão cerebral.

Agora, passados mais de 50 anos, outro chefe de governo também caiu da cadeira, mas esta, a do poder. Luís Montenegro quando tomou posse como primeiro-ministro, devido à vitória tangencial da AD, afirmou que estava pronto para governar por quatro anos com transparência e estabilidade. Dois termos da maior importância em política, mas que em nada foram cumpridos pelo primeiro-ministro.

Na semana passada, Luís Montenegro caiu da cadeira do poder por culpa exclusiva sua. O político, líder do PSD e primeiro-ministro em gestão começou a andar nas bocas do mundo por falta de transparência nos seus negócios que alegadamente continuaram quando enveredou pela política a sério e pela falta de estabilidade no seu governo devido aos muitos casos que se registaram em pouco mais de 300 dias de governação, nomeadamente os 16 portugueses que morreram por o INEM ter levado a efeito uma greve e não ter dado apoio clínico a essas pessoas. Sobre transparência parece-me que está tudo dito e na última crónica especificámos em pormenor os cambalachos da sua empresa familiar e sobre as imobiliárias dos políticos que os fazem pertencer, enquanto cai uma estrela cadente, em homens abastados com casas de luxo, boas quintas ou um monte no Alentejo.

Aconteceu que depois de duas moções de censura ao Governo terem sido chumbadas, o Partido Socialista entrou na Assembleia da República com um requerimento potestativo para uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as dúvidas existentes na actividade da empresa familiar do primeiro-ministro e às quais nunca quis responder na totalidade.

Em face da atitude socialista, Luís Montenegro resolveu reunir o Conselho de Ministros e anunciar a apresentação de uma moção de confiança no parlamento. Pronto, estava o caldo entornado. Toda a gente viu que Luís Montenegro tinha enveredado pela chantagem e iria confrontar os socialistas no sentido se estes retirassem o requerimento para uma Comissão Parlamentar de Inquérito, ele também recolhia a moção de confiança. A sessão parlamentar que discutiu e votou a moção de confiança foi uma vergonha na história de 50 anos de democracia. O Governo e o líder parlamentar do PSD fizeram uma figura tristíssima e repugnante que levou à condenação de todos os parlamentares, excepto um grupelho chamado Iniciativa Liberal que ainda tem esperança de se aliar à AD e um dia ir para o governo de Portugal. Com a votação expressa em maioria absoluta contra a moção de confiança assistimos à queda de Montenegro, e seus pares, da cadeira do poder.

Depois, o Presidente da República, que sempre discordou de Montenegro na apresentação de uma moção de confiança, recebeu os partidos e reuniu o Conselho de Estado anunciando que as eleições se realizarão no dia 18 de Maio.

A bagunça da campanha eleitoral para dar fim a um ciclo de eleições nunca visto, vai começar. Montenegro está convencido que vai ganhar e Pedro Nuno Santos convencido está. Há sondagens para todos os gostos, umas dão vitória à AD e outras ao Partido Socialista. Uma coisa é certa: o Chega irá ter muito menos deputados do que tinha nesta legislatura que agora termina. Superamos agora a turbulência eleitoral registada na segunda metade da I República, de má memória.

Nesse período foram convocadas quatro eleições gerais para preencher assentos parlamentares: em Maio de 1919, Julho de 1921, Janeiro de 1922 e Novembro de 1925. Quatro actos eleitorais em seis anos e seis meses. Apesar de tudo, num intervalo mais dilatado do que a alucinante série de recentes eleições legislativas: Outubro de 2019, Janeiro de 2022, Março de 2024 e as que vão seguir-se no dia 18 de Maio. Há cem anos, nada de substancial ia sendo solucionado com as sucessivas chamadas às urnas. Pelo contrário, cada toque a rebate eleitoral deixava o quadro político e governativo sempre mais convulso. A história parece indicar que tudo se vai repetir. Os políticos dos nossos dias, sejam de que quadrante forem, deviam assimilar as lições da história. Antes, porém, é indispensável conhecê-la…

17 Mar 2025

Portugal não tem remédio

O primeiro-ministro Luís Montenegro enredou-se numa teia de aranha da qual é quase impossível sair. Tudo começou quando Montenegro quis ser político de alto nível e logo apareceram suspeitas de compadrio na transformação de uma casa sua em ruínas, em Espinho, transformada em imóvel de luxo. Montenegro foi para presidente do PSD e tinha, e tem, uma empresa familiar que se dedica a consultoria e imobiliário.

Pronto, o credo nunca mais parou e o rol de acusações tem dado água pela barba nas últimas semanas. Montenegro nunca quis divulgar a totalidade dos clientes da sua empresa familiar, sabendo-se que alguns são clientes de grande poder financeiro e que têm tido negócios com o Estado.

Montenegro deu uma “conferência de imprensa”, – onde os jornalistas tiveram que estar com fita gomada na boca… porque não lhes foi permitido fazer perguntas -, e onde o primeiro-ministro, rodeado de todos os ministros para compor o ramalhete do poder que apenas tem andado há um ano em campanha eleitoral, veio anunciar aos portugueses que não tinha mais esclarecimentos a prestar e que se a oposição quisesse que avançasse com um moção de censura ao governo e, caso não acontecesse, o governo poderia avançar com uma moção de confiança. O Partido Comunista avançou logo com uma moção de censura, a qual foi chumbada no parlamento. Nessa sessão, o Partido Socialista talvez tenha cometido um erro grave na sua estratégia política. Porquê? Porque se o resultado de umas eleições legislativas antecipadas, derem a vitória escassa aos socialistas, depois não podem esperar apoio dos comunistas para governar.

Mas, continuando no interior da teia de aranha, Montenegro foi notícia porque comprou duas casas a pronto pagamento no valor de cerca de 700 mil euros, com dinheiro resultante dos rendimentos da empresa familiar que tem três trabalhadores: a sua mulher e os dois filhos. Pior ainda, Montenegro passou uma vergonha enorme quando na semana passada veio a público que se encontrava a gastar diariamente 400 euros num hotel de luxo. Pelos vistos, o chefe do Executivo acha razoável pagar metade de um salário mínimo nacional, por dia, ao invés de viver na Residência Oficial do Primeiro-Ministro, por essa razão o Palácio de São Bento se denomina “Residência”.

Já não bastava a afronta a todos os trabalhadores que têm filhos com 20, 30 e 40 anos que nem de casa dos pais conseguem sair, por não terem salários decentes, tendo a distinta lata de se indignar por os seus filhos, de 19 e 23 anos, não poderem deixar de facturar 900 mil euros em quatro anos, à conta da lista de contactos dos pais. Para que não restem dúvidas, 400 euros por noite equivalem a 12 mil euros por mês. Ora, o primeiro-ministro ganha 4.500 euros líquidos por mês. Quanto a nós, é infame que Luís Montenegro não compreenda a falta de decoro e de respeito por quem trabalha, passa dificuldades e a quem lhe é retirado o subsídio de renda e diminuída a pensão em mais de 100 euros, isto, de um mês para outro sem aviso prévio.

Entretanto, o primeiro-ministro anunciou uma moção de confiança que será debatida e votada na Assembleia da República já amanhã, no caso de ontem não ter havido negociações entre Montenegro e o líder dos socialistas Pedro Nuno Santos, no sentido de o PS retirar a proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e Montenegro retirar a moção de confiança. Era algo ainda possível para evitar uma crise política que pode prejudicar o país gravemente em termos financeiros.

Pensamos que irá acontecer precisamente o que Montenegro deseja. Que o Chega, Partido Socialista, PAN e Bloco de Esquerda votem contra a moção de confiança, possivelmente com a abstenção do PCP, e no final, com a moção de confiança chumbada o Governo cai e o Presidente da República terá de marcar eleições antecipadas. O mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que andava todo caladinho sobre a teia de aranha de Montenegro – e que agora já veio falar, e até de mais, porque deu a moção de confiança como chumbada antes de ser votada -, e já anunciou que pelas suas contas as eleições realizar-se-ão lá para o fim de Maio.

Estamos mesmo a ver uma campanha eleitoral de lavagem de roupa suja todos os dias on the road. Surpreendente é a táctica política dos homens de Montenegro. Possivelmente como são quase todos aconselhados por Cavaco Silva, estão a pensar, e um ministro já o afirmou publicamente, que a AD poderá vir a ter maioria absoluta… ora bem, nem mais. Um governo que tem deixado o povo pobre em número de 4 milhões cada vez mais na miséria, não estou a vislumbrar que a AD consiga uma maioria absoluta. Perfilam-se tempos difíceis de entender estes políticos. Tivemos eleições legislativas há apenas um ano, vêm aí eleições autárquicas em Setembro e logo a seguir eleições presidenciais em Janeiro de 2026.

Para um país na cauda da Europa, não acham que é luxo eleitoral a mais? O povinho está farto desta politiquice balofa que em nada melhora a qualidade de vida dos portugueses. Talvez por esta razão é que, todas as sondagens indicam que os portugueses não querem um Presidente da República político profissional mas sim um militar…

Portugal não tem remédio. Vença a AD ou o PS as próximas eleições, continuaremos na mesma a observar os gladiadores com toda a espécie de roupa suja para lavar. Não há remédio, porque ninguém consegue uma maioria absoluta que, pudesse dar luz verde a decisões profundas e estruturais a bem de povo, como por exemplo, desistir daquele supérfluo aeroporto de Alcochete e da venda na totalidade da TAP. Não tem remédio porque governantes e deputados irão continuar a serem proprietários de imobiliárias e a alterarem a Lei dos Solos para que as suas imobiliárias sejam uma mina de ouro em terras raras…

10 Mar 2025

Imobiliárias políticas, Limitada

Eu estava num miradouro serrano para onde os meus pais e avós me levavam há cinquenta anos, quando tinha 10 anos de idade, para admirar a paisagem linda, olhando para cima, a serra cheia de neve e para baixo a globalidade da minha terra, a Covilhã. Resolvi sentar-me e escrever no caderno as primeiras linhas desta crónica sobre o que tinha acabado de ver e sobre as últimas notícias chocantes da semana passada.

Há cinquenta anos, a Covilhã era um conjunto de casarios admiráveis sem quaisquer arranha-céus. Hoje, a cidade serrana é tão horrível cheia de prédios por todo o lado da urbe. Prédios de vários andares são infindáveis. Fiquei a pensar como é grandioso o negócio das imobiliárias. Deve ser um negócio melhor que os mais lucrativos do mundo, os gelados, as pizzas e o café. Uma vez, fui uma semana a Lisboa visitar uns familiares e numa só avenida contei dez imobiliárias.

Os portugueses sabem que raramente conseguem comprar ou arrendar uma casa sem que seja através de uma imobiliária e que as comissões dessas empresas dão um lucro grandioso. E que se pretenderem adquirir um terreno, o ideal será que toda a papelada seja tratada por uma imobiliária, esteja o terreno perto de uma cidade, de uma vila ou mesmo num interior rústico. As imobiliárias tratam de tudo e as pessoas sujeitam-se ao que está definido no negócio deste tipo de intermediação no que respeita a imóveis, terrenos e ao que se tem de pagar às imobiliárias.

Pois bem, na semana passada a discussão política andou à volta de imobiliárias. Chamar-lhes-ei imobiliárias políticas. Porquê? Porque depois de um secretário de Estado do actual Governo se ter demitido quando veio a lume que era proprietário de uma imobiliária e simultaneamente estava a participar na alteração à Lei dos Solos, a comunicação social trouxe à colação que o primeiro-ministro Luís Montenegro tinha uma imobiliária e que afirmou ter vendido, imagine-se, a sua quota à mulher e filhos. O assunto foi à baila na Assembleia da República e os deputados da oposição não ficaram satisfeitos com as explicações, sobre o tema, apresentadas pelo chefe do Executivo.

Quanto a nós, Luís Montenegro não teve transparência ao ser interrogado sobre quem eram os clientes da sua empresa familiar. Era importante que se soubesse quem eram os parceiros de negócio, porquanto ficará sempre a suspeição de que esses clientes poderão vir a usufruir de benesses governamentais. Inclusivamente o semanário Expresso, na sua edição da passada sexta-feira, denunciou que os casinos ‘Solverde´ pagam 4.500 euro por mês à empresa de Montenegro. Depois, bem, depois tem sido um chorrilho de notícias sobre imobiliárias detidas por membros do Governo.

O ministro da Coesão Territorial, Castro Almeida, que tem a tutela das alterações à Lei dos Solos, também tinha uma imobiliária e veio dizer que já tinha vendido a sua parte, mas só depois da “bronca” com o primeiro-ministro. No entanto, posição diferente foi assumida pela ministra da Justiça, Rita Júdice, que veio a público afirmar que “não tem qualquer intenção de se desfazer do seu património pessoal, constituído com o seu trabalho e dos seus familiares”, nomeadamente as quatro sociedades com negócios imobiliários de que é sócia.

A verdade é que da Cultura ao Trabalho, passando pela Defesa e Presidência do Conselho de Ministros, vários Ministérios empregam actuais e antigos sócios de empresas do sector imobiliário. No Ministério do Trabalho, já é público que a própria ministra Maria do Rosário Palma Ramalho inclui a gestão de património imobiliário na sua empresa ‘Palma Ramalho, Lda’. Mas não é a única: o secretário de Estado do Trabalho, Adriano Rafael Moreira, também inclui no oblecto da sua empresa de consultoria a “gestão de património, podendo para o efeito, alienar, adquirir e arrendar imóveis e proceder à revenda dos adquiridos”.

A empresa chama-se agora ‘Orbis Terra – Consultoria e Gestão, Lda’, um nome mais discreto do que o anterior no que diz respeito à ligação ao imobiliário e o governante é sócio único. Mas o apetite pelos negócios imobiliários no Executivo de Luís Montenegro não se esgota nestes governantes e até a responsável pela pasta da Habitação no Ministério de Miguel Pinto Luz foi sócia de uma empresa que se dedica à compra e venda de bens imobiliários. Trata-se da ‘Promobuilding – Serviços Imobiliários Lda’.

A empresa onde Patrícia Gonçalves da Costa foi gerente entre 2010 e 2015 e sócia minoritária até 2019 detém ainda 50 por cento da ‘Urbanquestion, Lda’, outra empresa criada em 2023 com o mesmo objecto que inclui a compra e venda de imóveis, construção de empreendimentos próprios para comercialização e promoção de estudos de urbanização. No Ministério da Defesa, o antigo deputado do CDS Álvaro Castelo Branco, agora secretário de Estado Adjunto, é sócio da ‘Rent 4 You – Sociedade Imobiliária, Lda’. Desta sociedade também faz parte o antigo deputado do PSD e actual membro do Conselho de Administração do AICEP Paulo Rios de Oliveira.

O historial de actividades empresariais do ramo imobiliário estende-se ao Ministério da Cultura. O recém-nomeado secretário de Estado Alberto Santos deteve 90 por cento da sociedade ‘Villa Gallaecia – Mediação Imobiliária, Lda’, dedicada à mediação e angariação imobiliária, mas também à avaliação de imóveis e consultadorias várias.

E a própria ministra Dalila Rodrigues teve quota numa empresa da família: trata-se da ‘Rita Aguiar Rodrigues Arquitectos Lda’, que como o nome indica presta serviços de arquitectura, mas também inclui no seu objecto a construção e remodelação de edifícios e a compra, venda e revenda de bens imóveis. Em comunicado divulgado na noite de terça-feira passada, tanto a ministra como o secretário de Estado confirmaram que detiveram aquelas quotas em sociedades, mas que as cederam antes de tomarem posse no Governo. E na Assembleia da República? Bem, não fiquem de boca aberta.

No Parlamento, também não faltam deputados com empresas no ramo imobiliário. Além dos quatro parlamentares do Chega, o partido que viabilizou e tem adiado a votação que pode chumbar as alterações à Lei dos Solos, encontram-se muitos exemplos nas bancadas do PS e sobretudo do PSD. A dar o exemplo de empreendedorismo imobiliário num país onde o preço das casas e das rendas é incomportável para quem vive com salários baixos está o próprio presidente da Assembleia da República.

José Pedro Aguiar Branco é sócio da ‘Portocovi – Gestão e Administração de Bens Lda’, que tem por objecto a compra e venda de bens móveis e imóveis, arrendamento, gestão e administração de bens próprios ou alheios e prestação de serviços. Confrontado com a divulgação pública sobre a sua empresa, Aguiar-Branco respondeu aos jornalistas queixando-se de “voyeurismo” sobre os titulares de cargos políticos, onde “tudo é escarrapachado: o seu património, a sua situação do ponto de vista financeiro, tudo o que tem a ver com um acervo particular, ainda que não exista alguma suspeita”.

E o que queria Aguiar-Branco? Que os jornalistas fossem uns “macaquinhos” a silenciar, a não ouvir e a não ver? O mais importante é que tudo isto vem a público porque o Governo resolveu alterar a Lei dos Solos e na qual, futuramente, todas estas imobiliárias políticas poderão vir a usufruir de avultados rendimentos…

2 Mar 2025

O ministro que traiu outro ministro

Um ministro cometeu o “crime” e outro ministro é que foi para a “prisão”. Mal comparado foi o que aconteceu com o ministro das Finanças, Miranda Sarmento, contra o seu homólogo das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, no caso da suspensão do subsídio de renda a mais de 80 mil pessoas que vivem em dificuldades. Sem qualquer aviso prévio, a Autoridade Tributária e Aduaneira versus Finanças, com toda a crueldade, suspendeu o subsídio de renda de cerca de 200 euros, uma medida decretada pelo Governo anterior para o prazo de cinco anos e que teve o seu início em 2023.

O ministro Pinto Luz, que tem a tutela do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) – instituição que se limitava a pagar segundo a luz verde recebida pelas Finanças durante os dois últimos anos – é que foi obrigado, confrontado por deputados na Assembleia da República, a pedir desculpa aos lesados. Quem tinha de pedir desculpas aos portugueses afectados com medida tão ingrata era o ministro das Finanças. Obviamente, que a revolta dos lesados caiu em cima do IHRU que nem estava preparado para uma contestação tão significativa e nem sequer possui um número suficiente de funcionários para fazer frente a filas de gente que durante toda a semana passada estiveram à porta do IHRU a aguardar atendimento durante horas em pé.

O primeiro-ministro Luís Montenegro tem afirmado a todos os ventos que governa para as pessoas. Pensamos que as suas pessoas sejam os amigos e compadres, porque os milhões de pobres existentes no nosso país de certeza que não se inserem na sua governação. Ficou bem patente para quem Montenegro governa. Em 1 de Janeiro de 2023, o seu antecessor António Costa tomou uma das medidas mais humanas e solidárias da política portuguesa em democracia.

Decretou que cerca de 200 mil pobres, famílias que viviam em grandes dificuldades de sobrevivência e que não tinham possibilidade de pagar a renda de casa, passassem a usufruir durante cinco anos de um subsídio de renda aproximado de 200 euros, para auxílio ao pagamento da renda, após as Finanças constatarem através do IRS quais os cidadãos a necessitar de auxílio, o que veio a acontecer automaticamente. Agora, assistimos, sem qualquer aviso prévio, ao corte governamental desse subsídio de renda a mais de 85 mil pessoas. Pessoas essas, que contavam com esse pecúlio para fazer frente ao pagamento da renda e que, mais uma vez, ficaram em falta perante os seus senhorios. Uma medida repleta de crueldade e desumanidade.

O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) sabia perfeitamente que o Orçamento do Estado tem cativada a quantia de 300 milhões de euros para o pagamento dos subsídios de renda aos cerca de 200 mil portugueses pobres. O instituto nunca admitiria que este caso viesse a acontecer sem ser avisado com antecedência. Mesmo assim, as Finanças não se coibiram de decidir pela infâmia de cortar o subsídio de renda tão necessário a milhares de portugueses desprotegidos. O IHRU, que era a instituição pagante, foi de imediato alvo das maiores críticas nos órgãos de comunicação social e na Assembleia da República, onde um deputado nos desabafou tratar-se de uma “cretinice”.

Em face dos protestos, o IHRU emitiu um comunicado onde indicava que a partir do início da semana passada as pessoas que se sentissem prejudicadas teriam no site do IHRU uma aplicação onde poderiam confirmar os seus dados de rendimentos junto do Portal das Finanças e inserirem a sua reclamação. Esta aplicação não foi disponibilizada à grande maioria dos lesados e o IHRU viu-se obrigado a desligar o seu único número de telefone para onde as pessoas poderiam solicitar informações sobre o que tinha acontecido aos seus subsídios de renda, devido à grande avalanche de chamadas telefónicas.

A decisão infame das Finanças abrangeu portugueses em todo o território nacional. No entanto, a quase generalidade dos lesados não teve qualquer vector de solução e, em Lisboa, os lesados começaram a ter conhecimento de que a única solução seria deslocarem-se pessoalmente às instalações do IHRU, perto da Praça de Espanha, a fim de serem atendidos sobre o problema.

De salientar, que entre as pessoas desprezadas e roubadas pelo Governo, incluem-se cidadãs e cidadãos que são invisuais, deficientes, velhos e que lhes é de todo impossível deslocarem-se pessoalmente à sede do IHRU. Já não falando dos milhares de lesados que não têm qualquer acesso à internet, que não têm computador para poderem consultar o site do IHRU ou o Portal das Finanças, facto este, que encerra um desprezo total por essas pessoas.

Um cidadão pobre, muito pobre, de 79 anos de idade, morador no Bairro de Moscavide, sem acesso à internet, foi aconselhado a deslocar-se pessoalmente à sede do IHRU. O cidadão saiu de casa às 07.00 horas, apanhou o comboio na estação do Oriente para a de Roma-Areeiro, aí deslocou-se por três linhas do Metropolitano, a verde, vermelha e azul, subiu dezenas de escadas porque as rolantes e os elevadores encontravam-se avariados. Sentiu-se mal e sentou-se num banco do jardim da Praça de Espanha junto à Avenida Columbano Bordalo Pinheiro onde se situa a sede do IHRU. Às 9.05 horas entrou no edifício soberbo de oito pisos e no balcão transmitiram-lhe, seca e friamente: “Já não há vagas, volte às 14.00 horas!”. O cidadão olhou para a pequena sala de espera e na mesma estavam sentadas umas vinte pessoas. Oito andares para atenderem 20 pessoas em cada manhã? Ah… existem muitos outros serviços no IHRU e os funcionários têm mais que fazer…

Mas, quem criou esta bagunça ingrata foram as Finanças e a revolta caiu sobre o IHRU e o instituto não estava preparado para a reacção de mais de 85 mil pessoas… O cidadão em causa regressou a Moscavide pela mesma via e ao meio-dia partiu novamente pelo mesmo caminho até à sede do IHRU, na esperança de que o seu problema da retirada do seu subsídio de renda fosse resolvido, já que o seu rendimento do ano passado para este ano não tinha aumentado nem um euro. Debalde. Às 14.00 horas também já não havia senhas de atendimento. Pobre homem, que regressou a Moscavide e desistiu de arriscar algum ataque cardíaco depois de tanto esforço.

É isto, governar para as pessoas? É isto, a função e o serviço públicos? É isto, que o povo merece? É isto, o serviço de Finanças que não perde tempo a penalizar um português que se atrase no pagamento de qualquer imposto? É isto, governar para as pessoas? É isto, proteger os mais desprotegidos da nação? É isto, forma de fazer com que o povo acredite nos políticos? É isto, que faz com que o povo se manifeste nas sondagens que está farto de cruéis e mentirosos e tenda a votar para Presidente da República num homem como o almirante Gouveia e Melo. Ai, Portugal, Portugal…

17 Fev 2025

A (in) justiça que temos

Há muitas décadas conhecemos um juiz, tínhamos estudado juntos, que era homossexual. Um magistrado de excelência, de um virtuosismo profissional a toda a prova, introvertido, nunca tomou qualquer atitude menos digna para com os seus subordinados e até chegou a condenar severamente um indivíduo assumidamente homossexual que tinha abusado sexualmente de um menor. Naquele tempo era um escândalo se se viesse a saber que o juiz era homossexual e certamente seria expulso da magistratura. Um dia, confessou-me que tinha um companheiro único e secreto quase da sua idade. Fingi que não dei importância ao desabafo e sempre tive a facilidade de obter informações importantes sobre processos judiciais que o referido juiz tinha a amabilidade de me fornecer como jornalista. Os meus camaradas ficavam surpreendidos como é que eu tinha fontes judiciais tão credíveis e chegaram-me a perguntar a origem. Obviamente que nunca obtiveram qualquer resposta da minha parte.

Isto, vem a propósito de que na Justiça em Portugal temos juízas e juízes de elevadíssimo grau de competência, seriedade e independência. Absolutamente incorruptíveis. E temos outros que simplesmente cumprem a sua missão com o objectivo de obter o maior pecúlio possível. São corruptos, deixam-se manobrar pelos lóbis de escritórios de advogados poderosos e, infelizmente, se são homossexuais tomam posições de um grau deplorável. Chegam ao ponto de mandar avisar o arguido suspeito de violência doméstica ou de abuso sexual de menores, no sentido de saberem qual a quantia possível que os arguidos podem pagar se forem inocentados na hora do julgamento. Estes factos, têm acontecido ao longo de décadas. Antes e depois do golpe militar do 25 de Abril de 1974. Recentemente, todos tivemos conhecimento da vergonhosa atitude do juiz Rangel que chegou ao ponto de entregar a uma advogada estagiária a redacção dos acórdãos que lhe eram distribuídos. Acórdãos esses, que Rangel ou nem lia ou apenas fornecia à estagiária as indicações que lhe convinha. Como teria de acontecer, Rangel foi expulso da magistratura.

A Justiça em Portugal sempre foi liderada por um corporativismo absurdo, onde nenhum órgão de soberania teve poderes para intervir numa mudança estrutural. A Justiça em Portugal nos dias de hoje, – para não falar do passado onde chegou-se ao ponto de uma juíza estagiária a fim de obter a sua promoção foi vista por um escrivão a fazer sexo oral a um juiz sénior no seu gabinete – é manifestamente uma justiça para os cidadãos muito ricos. Nenhum pobre tem qualquer hipótese de pagar a um advogado para que a sua defesa seja digna e justa. Naturalmente que sabemos da existência dos defensores oficiosos, que na maioria das vezes pouco se interessam pelos processos em causa, mas faça-se justiça que existem excepções. Nós, por experiência própria, tivemos um defensor oficioso excepcional, de uma competência peculiar e que se dedicou ao processo como se estivesse a receber imenso dinheiro.

Na semana passada, o país teve conhecimento de um escândalo relacionado com um juiz acusado de pagar a menores pobres para sexo. Um magistrado jubilado dos Açores pagava 25 euros a menores de cada vez que tinha sexo. Não há memória de que um magistrado tenha sido acusado e investigado pelo tribunal de um crime alegadamente de tanta gravidade. Um homem chegou a relatar que o juiz atraía menores para sexo com gelados e pizzas e que o juiz recorria à prostituição de menores pagando para fazer sexo oral depois de abordar os menores na rua e que viviam em condições precárias. O juiz irá ser julgado por recorrer a prostitutos menores. As conclusões de um caso desta gravidade podem levar os portugueses a pensar o que teria sido a carreira deste juiz. Teriam havido sentenças manobradas a troco de sexo homossexual? Teria o magistrado recebido quantias de dinheiro quando lhe apareceram na barra do tribunal réus acusados de violação de menores? Terá o magistrado deturpado acórdãos que acusavam violadores sexuais de menores? Tudo poderá ser considerado em face de um comportamento ignóbil que veio a público praticado por um juiz jubilado.

Estamos a aguardar se a melhor revista portuguesa que aborda todos os problemas sociais e judiciais, a “JustiçA com A”, dirigida por uma juíza desembargadora de grande prestígio, irá abordar este tema numa próxima edição. Acontece que a temática que envolve juízes incompetentes, corruptos e agora pedófilos não pode ficar impune e deverá ser alvo do maior debate por parte da sociedade. O juiz jubilado Manuel Mota Botelho está agora a ser julgado por 16 crimes de recurso à prostituição de menores. Os crimes terão ocorrido entre 2019 e 2023 em São Miguel, nos Açores. O juiz conselheiro jubilado está reformado mas terminou a carreira como juiz conselheiro do Tribunal de Contas, tendo esta instituição decidido convocar a Comissão Permanente para analisar a situação do juiz conselheiro açoriano acusado de ter abusado de seis menores ao longo de quatro anos. A Comissão Permanente tem competência para instaurar processos disciplinares e aplicar sanções.

Há muito que na esfera política se pede uma reforma estrutural da Justiça e nada tem sido feito. O corporativismo continua a ser uma realidade e o país está farto de assistir a processos que demoram mais de uma década para serem finalizados, especialmente quando se trata de cidadãos “importantes”. O importante na Justiça é que no dia em que as leis forem desenvolvidas por pessoas honestas, a justiça será feita.

10 Fev 2025

Foi só o primeiro

Quem decide ser político tem de se compenetrar que tem de ser sério, competente, incorruptível e servir o povo com honestidade. Não cumprindo este desiderato passa a ser apenas mais uma pessoa que não cumpre o que jurou em cerimónia de posse. Passa a ser um cidadão desconsiderado e fragilizado perante os portugueses para continuar a exercer a sua função de ministro, secretário de Estado, deputado ou autarca.

Na semana passada, depois de vários “casos e casinhos”, idênticos ao que o PSD acusava o Governo de António Costa, tais como o que aconteceu no INEM e em certos casos de autarcas da AD que pediram a demissão, agora, este Governo de Luís Montenegro foi confrontado com a primeira demissão de um dos seus membros em apenas um ano em funções.

O secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, apresentou o pedido de demissão. Por alegadamente ser suspeito de fraudes antigas e recentes. Aconteceu que este senhor já há muito estava a ser investigado pela Procuradoria Europeia por alegadas irregularidades cometidas durante o seu mandato como presidente da Câmara Municipal de Bragança, incluindo suspeitas de recebimento de contrapartidas indevidas. Não atendendo à gravidade da situação aceitou ser governante com o pelouro que recentemente definiu a nova Lei dos Solos.

Hernâni Dias, chico-esperto, apressou-se a criar duas empresas de imobiliário e de construção de imóveis. Então, o governante passando a ter conhecimento de quais os terrenos rústicos pelo interior do país foi fundar duas empresas que poderiam concorrer à obtenção de terrenos que viessem a ser transformados em construção de imóveis? Grande visão de “estadista”… Hernâni Dias pediu a demissão e o primeiro-ministro aceitou de imediato. Diz o povo que não há fumo sem fogo e na verdade a polémica instalada tem razão de ser porque a incompatibilidade em causa é descarada.

Hernâni Dias tem negado qualquer ilegalidade, garantindo que sempre actuou “com total transparência” e que está disposto a colaborar com as investigações em curso. “Na vida política há que ter a hombridade de assumir decisões”, declarou, sublinhando que a sua continuidade no cargo poderia prejudicar o trabalho do Governo. Estas declarações só nos dão vontade de rir. Transparência? Muitíssima, se atendermos à investigação da Procuradoria Europeia e à criação de duas empresas enquanto governante relacionadas com imóveis possíveis de virem a ser construídos em locais que o próprio Hernâni Dias passou a ter conhecimento no âmbito da nova Lei dos Solos.

A ironia ainda é maior quando afirma que é preciso ter “hombridade de assumir decisões”. Decisões? Que saibamos as suas decisões foram ter recebido contrapartidas como autarca e criar empresas de imobiliário depois de saber o conteúdo da nova Lei de Solos. A sua decisão de se demitir apenas surge na sequência de notícias que indicam para um possível conflito de interesses devido à alegada criação de empresas que poderiam beneficiar das alterações legislativas promovidas pelo seu Ministério. Clarinho, como água. O secretário de Estado demitiu-se porque sabe que está sob suspeita e a ser investigado. O resto são tretas.

O país não pode ser governado por gananciosos. Por indivíduos que colocam os seus interesses acima dos interesses do povo e que apenas se servem dos cargos estatais para cambalachos que os enriquecem ilegalmente. Há décadas que assistimos a casos destes e nem assim terminam as opções pela irregular função de servidor do Estado.

A triste risota torna-se mais substancial quando Hernâni Dias justificou à agência Lusa que a sua saída foi um “acto de responsabilidade” para garantir a estabilidade do Governo e preservar a imagem do primeiro-ministro… Acto de responsabilidade? Nós chamaremos ao acto, uma obrigatoriedade de sair pela porta dos fundos cheio de vergonha. Como agravante, o ex-secretário de Estado ainda teve o desplante de se atirar contra os órgãos de comunicação social alegando que tem estado em curso uma campanha de “desinformação”… Desinformação? Então, o que se passa na Procuradoria Europeia é desinformação? As empresas de imobiliário criadas por si, na qualidade de governante, são desinformação? Realmente, os jornalistas são uns malandros que divulgam cada verdade…

E estamos certos que esta demissão foi apenas a primeira num Governo onde as ministras da Saúde e da Administração Interna há muito já deviam ter pedido a demissão dos cargos, por indecente e má figura. Num Governo onde um advogado ligado ao negócio imobiliário é que foi contratado como consultor jurídico na elaboração da nova Lei dos Solos…

Acrescente-se, que fontes credíveis adiantaram-nos que por ter sido a RTP a divulgar o caso das empresas criadas pelo governante, que a RTP será alvo de privatização mais depressa do que estava planeado. Se assim acontecer, estamos perante mais um caso de vingança servida friamente, porque com uma RTP privatizada não podemos pensar que a liberdade de informação irá continuar…

A mesma RTP também avançou que uma das sociedades de imobiliário foi constituída em conjunto com a mulher e filhos do governante em causa, enquanto a segunda empresa tem como sócio uma menor de idade… Tudo “transparente”, como referiu o ex-governante. E é assim, que este nosso Portugal continua a ser governado, sempre com a capa de possíveis suspeitas, acusações, julgamentos e recursos atrás de recursos judiciais. Ai, Portugal, Portugal…

3 Fev 2025

Cuidado com as malas

“Olha a mala…” era uma canção da fadista Celeste Rodrigues. Tornou-se imensamente popular. Lembrei-me da canção porque na semana passada as malas foram o tema principal da comunicação social. Todos nós temos uma mala. A maior parte das pessoas que viaja de avião tem uma mala de porão onde introduz os mais variados pertences. Normalmente colocamos no interior as roupas, sapatos, produtos de higiene e lembranças para os familiares e amigos. Existem muitas senhoras que não se dando conta do risco colocam nas malas de viagem algumas das suas jóias valiosas. Há pessoas que arriscam em transportar quantias de dinheiro enroladas em papel de prata. E há o tráfico de droga em muitas das malas de porão com os mais diversos disfarces. A mala de viagem é fundamental como algo de muito íntimo e que nos acompanha. Muitas vezes a mala não chega ao destino e temos de esperar vários dias que apareça e também há casos em que algumas das malas nunca mais se vêem. As companhias aéreas são obrigadas, nestes casos, a indemnizar os passageiros que ficaram sem malas. No entanto, os produtos que nos pertenciam e de que gostávamos muito nunca mais os vemos. Isto, acontece por todo o mundo e quase todos os dias nos mais diferentes aeroportos.

A mala de viagem em pleno tapete de recolha num aeroporto está completamente identificada pelo próprio, devido à sua cor e até ao acessório ligado à pega da mala com o nosso nome e o nosso telefone.

A propósito, lembrei-me de um texto da escritora Yvette Vieira, que dizia assim: “Recentemente li uma notícia sobre uma turista inglesa que se atirou ao mar, na ilha da Madeira, alegadamente para ir atrás a nado de um navio cruzeiro onde estaria o marido, a mulher foi resgatada das águas do mar por três jovens que decidiram ir à pesca nessa mesma noite e um dos pormenores que me chamou à atenção em toda esta história rocambolesca foi que a senhora em questão conseguiu-se manter a tona, nas águas frias do Atlântico, graças à sua mala. E esse último facto não me surpreendeu, porque seja em que circunstância for uma mulher nunca larga a sua mala. O que me leva ao tema que pretendo explorar, as mulheres e as suas malas. Neste mundo existem dois tipos de apreciadoras de carteiras, as que usam malas de grande porte e as mulheres que preferem os tamanhos pequenos.
Eu pertenço ao primeiro grupo, porque toda a minha vida está concentrada na minha mala. Sou daquele tipo de mulher que numa emergência consegue tirar da mala, como se tratasse de uma cartola de mágico, todo o tipo de coisas, desde pensos rápidos, pomadas, papel para escrever, água, comprimidos para uma dor de cabeça, etc, etc, pensem seja no que for e provavelmente esse objecto consta do conteúdo da minha mala. Mais, tenho uma amiga que possuiu entre os seus pertences pessoais uma chave de fendas que tinha sido esquecida na mala e que a acompanhou durante quase um ano. E não estou a brincar! Isto sem falar das malas das mamãs que são verdadeiros armazéns de parafernálias que vos deixariam de queixo caído. Mas, porquê uma mulher sente necessidade de ter tudo na sua carteira? Não sei. Gostaria de ter uma explicação lógica para tal comportamento quase insano, que implica quilos de pertences transportados diariamente com consequências a longo prazo para a nossa estructura óssea, no meu caso só posso dizer que não gosto de ser apanhada desprevenida.”

Pois, o caso é mesmo este, o de não sermos apanhados desprevenidos. Não ficarmos sem uma mala onde no seu interior estão objectos dos quais gostamos muito e que nos desgosta particularmente se os perdemos. Aconteceu que, a notícia caiu que nem uma bomba sobre o roubo alegadamente praticado por um deputado do partido Chega. O mesmo partido que não pára de falar em criminalidade e que os criminosos devem ser todos presos. Pois, o deputado açoriano do Chega estava debaixo de olho das autoridades desde Novembro do ano passado, devido a uma denúncia anónima, de que roubava malas que não lhe pertenciam dos tapetes rolantes dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada. As autoridades desta vez confirmaram através de imagens de vídeo-vigilância que o deputado levou malas que alegadamente não lhe pertenciam. Foram feitas buscas às suas casas de Lisboa e dos Açores, resultando em suspeita de ter mesmo roubado malas de outros passageiros. Parece um caso caricato, mas não é. Segundo o comentador televisivo e advogado Rogério Alves, se se vier a comprovar o roubo de malas tratar-se-á de um crime grave que pode ir até uma pena de oito anos de prisão. Entretanto, o deputado em causa Miguel Arruda, depois de ser afastado do Chega, vergonhosamente decidiu continuar no Parlamento como deputado não inscrito.

Imaginem só o desaparecimento da vossa mala de viagem de porão de avião. A perda dos vossos pertences, o desgosto consequente e até o prejuízo causado por uma tara mental de alguém que se habituou a levar malas de outros e ficar a usufruir de tudo de bom que essas malas teriam no interior. Agora, o acto ser praticado por um deputado da Assembleia da República é que nem o diabo imaginaria ser possível. Aguardam-se as investigações finais e qual a última decisão judicial sobre os alegados roubos de malas do deputado do Chega. O mais importante é que os amigos leitores tenham cuidado com as vossas malas…

 

P.S. – KUNG HEI FAT CHOI

27 Jan 2025

Os desesperados

Encontrei um homem com cerca de 60 anos de idade a vender a revista ‘Cais’. Iniciámos uma conversa e fiquei abalado. O senhor foi toxicodependente e sem-abrigo a dormir nas ruas de Lisboa durante anos. Foi identificado e enviado para um centro de recuperação da toxicodependência. Recuperou e passou a vender a referida revista.

Transmitiu-me o absurdo que vos quero relatar: há 15 anos que requer à Câmara Municipal de Lisboa uma habitação, nem que fosse uma casinha com apenas um quarto. Há 15 anos que obtém uma resposta que não reúne as condições para a concessão de uma casa. Tem vivido estes 15 anos sem qualquer privacidade e condições mínimas de qualidade numa casa municipal com a sua irmã. Contactámos as autoridades municipais e obtivemos uma resposta de que existem milhares de “desesperados” a solicitar uma casa. Milhares? E todos estes portugueses são a prova de que a Constituição portuguesa não é cumprida há décadas, cuja legislação diz que todo o cidadão tem direito a uma casa.

Continuamos a ver pelas ruas de Lisboa um número crescente de sem-abrigo. Muitos não são toxicodependentes. Quando dobram os cobertores que lhes foram oferecidos por pessoas sensíveis a este drama, caminham para um trabalho. É no local de trabalho que ingerem algum alimento, que se lavam e que fazem as suas necessidades. Mas trabalham e acabado o horário de trabalho regressam ao local onde têm alguns cartões no chão e os cobertores a marcar o lugar. Isto, é chocante.

O Governo fala demagogicamente em resolver o problema da habitação, mas o que temos visto é a autorização para a construção de condomínios de luxo. Onde está o uso dos muitos milhares de milhões de euros do PRR vindos da União Europeia? Onde está a construção de bairros sociais com dignidade, onde existam centros de saúde, correios, creches, supermercados e jardins infantis? Onde está o anúncio governamental da construção de casas de renda acessível para cidadãos sem residência e de baixos recursos financeiros? O partido Bloco de Esquerda ainda na semana passada, no Parlamento, requereu ao Governo que informasse qual o plano de habitação futura, algo que já solicitou várias vezes. Possivelmente não obterá resposta porque a preocupação do Governo é o aeroporto de Alcochete, é as várias vias férreas de TGV, é a cedência de terrenos baldios para a construção de condomínios de rendas impossíveis de serem pagas por gente pobre e é a privatização da TAP.

O país não pode continuar a fingir que não vê a realidade da falta de habitação para estudantes e para pobres. É urgente que tomemos conhecimento oficial da construção de quantas habitações com o fim de serem cedidas a arrendatários de baixos recursos. Viver na rua é doloroso, é chocante, é desumano, é injusto, é ilegal e é acima de tudo uma falta do cumprimento da Constituição. O Governo não pode continuar a aceitar que centenas de oportunistas explorem estudantes universitários e fujam ao fisco. Existem centenas de casos em que esses indivíduos têm uma casa de sete quartos, com duas casas de banho, e seis estão alugados a estudantes ao preço de 500 euros cada, ou seja, têm um rendimento mensal líquido de três mil euros sem passar recibo.

O Orçamento do Estado insere milhões de euros para acções supérfluas e isto não pode acontecer. Primeiramente está o nível de vida decente dos portugueses, muito antes de enviar milhões de euros para a Ucrânia. Os “desesperados” são aos milhares e aguardam que lhes seja dada uma casa há mais de uma década. Ministros e autarcas não têm vergonha desta situação? Não lhes dói o coração ao saberem que os seus semelhantes dormem na rua? As autoridades governamentais vivem com a consciência tranquila ao saberem que milhares de portugueses precisam de uma casa e nada fazem para resolver o problema? Muito recentemente num bairro de Lisboa foi inaugurado um edifício de quatro andares com várias fracções em cada piso. Uma construção de qualidade. Quando os alicerces tiveram o seu início nós próprios dirigimo-nos à edilidade lisboeta para nos inscrevermos e requerermos pertencer à possibilidade de obter nesse edifício uma fracção, já que tinha sido anunciado pela edilidade que o referido edifício seria para rendas acessíveis. Terminou a obra e o edifício está ocupado por moradores que entram na garagem do prédio com carros de topo de gama, como BMW, Tesla e Volvo. Os amigos leitores acham que as fracções foram concedidas a lisboetas com baixos rendimentos? Não. Segundo as nossas fontes, foram residir para o prédio em questão somente amigos de alguns directores da Câmara Municipal. Neste sentido, nunca os pobres irão ter uma casa minimamente digna.

Em Julho do ano passado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, anunciou que Lisboa tinha 3378 pessoas em situação de sem-abrigo na cidade e que dessas, 594 não tinham tecto. E em seis meses que, entretanto, passaram, quantas casas foram construídas para todos esses cidadãos? Na altura, Moedas fez-nos rir de assombro quando adiantou que a edilidade iria “gastar cerca de 70 milhões de euros até 2030 com o aumento das vagas de acolhimento para sem-abrigo”. Até 2030? Isto, é gozar com o pagode. Sete anos para arranjar “vagas de acolhimento”? Uma média de 10 milhões de euros por ano? Sejamos sérios e realistas e indagamos o que é que se constrói com 10 milhões num ano? E é este mesmo edil que na semana passada teve a preocupação imediata de arrasar com Alexandra Leitão, assim que a mesma foi anunciada como candidate do Partido Socialista à Câmara Municipal de Lisboa, titulando-a como uma política radical muito próxima do Bloco de Esquerda. Obviamente, que enquanto um edil se comportar como apoiante de um Governo, não existirá a preocupação de construir casas para pobres. E os “desesperados” que continuem à espera que uma casa caia do céu…

20 Jan 2025

Falta de segurança

Falta de segurança é na Cochinchina. Não faço ideia se existe a Cochinchina, mas trata-se de uma expressão popular quando discordamos de algo. Na semana passada assistimos ao recrudescer de mais uma investida racista de André Ventura e do seu partido neofascista. Gritou com todos os pulmões na Assembleia da República “Encostem-nos à parede!!!”, no decorrer de um debate sobre a falta de segurança em Portugal. O nosso país, segundo os dados oficiais nacionais e internacionais é dos mais seguros do mundo. Para o nosso país têm vindo viver norte-americanos, ingleses, franceses, italianos, espanhóis, belgas, holandeses, chineses, indianos, cabo-verdianos, são-tomenses, angolanos, guineenses, brasileiros, argentinos, russos, ucranianos, nepaleses, paquistaneses e outros cidadãos estrangeiros. Nenhum deles alguma vez se queixou de falta de segurança em Portugal. Antes pelo contrário, todos indicam que a razão maior da escolha do nosso país se deve à boa segurança existente.

André Ventura, deputado e líder do Chega passou dos limites na falta de bom senso e de política democrática, no debate na Assembleia da República sobre segurança. Vociferou contra todos os cidadãos mostrando que não pretende que vivam em Portugal: ciganos e imigrantes. Todo o parlamento foi unânime em reprovar a sua atitude racista e xenófoba, porque a sua expressão “Encostem-nos à parede” foi interpretada como matem-nos a todos, ao bom estilo hitleriano. Ventura entende que a criminalidade está a aumentar de ano para ano e que os criminosos já deviam estar há muito nas prisões. Mostrou-se defensor de mais acções idênticas à lamentável que aconteceu na Rua do Benformoso, em Lisboa, em que a polícia encostou à parede, com as mãos levantadas, todos os cidadãos que fossem a passar, quer estrangeiros ou portugueses. Uma acção policial que foi contestada pela maioria dos partidos políticos e que levou cerca de 600 personalidades a apresentar uma queixa junto do Provedor de Justiça. Ventura não olha a meios para atingir os fins e no debate parlamentar demonstrou bem o seu ódio pelos imigrantes e ciganos que trabalham em Portugal. Bastava a André Ventura solicitar ao director do Hospital de Santa Maria uma visita geral ao estabelecimento hospital para constatar quem lá trabalha: um imenso número de africanos e estrangeiros de diferentes nacionalidades, incluindo médicos ucranianos. Bastava a Ventura frequentar a maioria dos restaurantes do Algarve ao Minho para confirmar que quem serve à mesa são imigrantes. Mas nada disto Ventura prefere. A sua preferência é a demagogia e o populismo antidemocrático apelando, tal como Trump, à expulsão dos imigrantes “ilegais”. Ilegais não, são cidadãos que aguardam que a sua documentação fique regularizada e que já descontam para a Segurança Social. Quando Ventura salientou que o crime aumenta anualmente, o deputado socialista José Luís Carneiro respondeu-lhe à letra. Carneiro lembrou que “Portugal tem sido um dos países mais pacíficos do mundo” e adiantou para demonstrar que esse estatuto se mantém, que “em 2003 houve mais 45 mil participações criminais do que em 2023”, finalizando por sublinhar “Não percebo como há quem diga que Portugal é inseguro”.

Está à vista de todos os portugueses que Portugal é um país seguro. As pessoas saem à noite e nada lhes acontece, em qualquer cidade. Obviamente que não se pode deixar de referir que não existam gangues, mafias e crime organizado como em qualquer país do mundo. Todas as semanas assistimos a uma vingança violenta na guerra de certos bairros; a uma morte por motivos passionais; ao assalto de uma residência, por vezes deixando feridos; ao roubo de automóveis e a tiros em plena via pública. Mas, onde é que factos deste tipo não existem? Basta referir o que se tem passado nos Estados Unidos da América. Nunca em Portugal tivemos um caso em que um atirador matasse dezenas de estudantes numa universidade.

Afinal, o que quer André Ventura? Popularidade à base da mentira e da demagogia a fim de caçar votos, já que as sondagens que encomenda traduzem que o seu partido está a descer nas intenções de voto. Quer acima de tudo aparecer nas televisões diariamente por dá cá aquela palha. Quer dar a entender que está a lutar contra a corrupção quando devia olhar para o interior do seu próprio partido. Sabemos que a situação na Europa, e Portugal não é excepção, está a ser influenciada por forças fascistas que financiam partidos neofascistas, como acontece com os muitos milhões de dólares que Elon Musk oferece aos partidos de extrema direita.

No debate parlamentar sobre segurança, Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, colocou o dedo na ferida do Chega e afirmou que “A criminalidade violenta não está a crescer e é inferior à registada há dez anos. Todos os dados recusam uma relação entre imigração e criminalidade e ainda assim o Governo acha que pode instrumentalizar a polícia em megaoperações-fetiche para combater uma suposta relação entre imigrantes e criminalidade.” Ora aqui está o busílis de toda esta discussão. Enquanto a esquerda política indica que não existe culpabilidade por parte dos imigrantes na criminalidade registada, a direita apenas pretende arrasar com os imigrantes e culpá-los de toda a violência registada em Portugal. No entanto, a pior e vergonhosa atitude de André Ventura é a perseguição deplorável à raça cigana, quando quer desconhecer que já temos no nosso país um vasto número de ciganos na advocacia, na engenharia, na enfermagem, na mecânica, na hotelaria e no comércio de porta aberta.

Portugal tem de mudar. É certo. Mas a mudança tem de ser democrática e em defesa essencialmente da liberdade, devendo existir uma luta constante contra o regresso do fascismo.

14 Jan 2025

A esperança não morre

Diz o povo que a esperança é a última coisa a morrer. A esperança dos portugueses neste novo ano de 2025 é a única particularidade que lhes resta. Esperança que o país mude em muitos aspectos da sua vida social, económica e política. Sempre que um novo ano tem início não há ninguém que não deseje aos seus familiares, amigos e conhecidos votos de melhores dias. É isso que se aguarda este ano, apesar de o panorama ser um pouco indecifrável.

A política tem de ser concreta, essencialmente visando os muitos milhões de cidadãos que vivem ao nível da pobreza. A comunicação social tem informado que neste desiderato existem aproximadamente quatro milhões de portugueses pobres. É muitíssimo. É mais que um terço da população global. E os políticos parece que têm de mudar a graduação dos óculos. Dá a ideia que as habitações sociais, as casas para estudantes, as reformas dignas, os transportes públicos, os lares de idosos, as creches, os jardins infantis, as condições de trabalho de médicos, enfermeiros e bombeiros são factos concretos e problemáticos que podem ficar para as calendas. Não podem. Neste 2025 têm de pensar no nível de pobreza que referimos.

Têm de ajustar o Orçamento do Estado para benefício de quem mais precisa. Têm de apoiar as médias e pequenas empresas para que o desemprego diminua e o rendimento aumente para que o país tenha maior riqueza. Preocupa-nos ao constatar que a decisão governamental está virada para um aeroporto em Alcochete que poderá custar aos portugueses dezenas de milhares de milhões de euros. Milhares de portugueses nunca irão ver esse aeroporto e muito menos utilizá-lo, pois, anunciam a sua inauguração para 2040.

É preocupante que o Governo esteja preocupado essencialmente com um TGV entre Lisboa e Badajoz, com um TGV entre Lisboa e o Porto, com um TGV entre o Porto e Vigo. Preocupado no encerramento do Autódromo do Estoril a fim de ali construírem imóveis de luxo para os novos residentes norte-americanos e virado para obras megalómanas que em nada beneficiam o país real e todos aqueles que vivem no interior abandonados à sua sorte. O Governo tem gasto milhões de euros que envia para a guerra na Ucrânia, mas os bairros de lata pululam por todo o lado.

Não se constrói um conjunto de edifícios que sirva com dignidade a reinserção dos jovens toxicodependentes, não se constrói creches para crianças cujos pais não podem pagar as existentes que nem têm mais vagas, não se constrói residências para estudantes universitários quando assistimos à exploração inaudita de se alugar um quarto sem casa de banho, em Lisboa, por 700 euros, não se resolve de uma vez por todas o problema das mulheres grávidas que continuam sem saber onde irão ter o parto com a agravante de agora serem obrigadas a telefonar para o serviço de saúde sempre que sintam qualquer sintoma, não se resolve o problema dos bombeiros sapadores desprezados há mais de 22 anos.

A lista é enorme. O novo ano de 2025 não pode servir para os políticos apenas se preocuparem com as eleições autárquicas deste ano e com as presidenciais no início de 2026. Sobre as eleições presidenciais o mundo da política enlouqueceu como em crónica anterior já vos falei. As televisões passam o tempo a criar nomes de candidatos a Presidente da República.

Mas, que interesse tem isso para o bem do povo? Nenhum. O povo quer é comer, quer preços mais baixos nos supermercados, quer comprar os combustíveis mais baratos, quer que os seus filhos não emigrem, quer reformas com o mínimo de dignidade. Sobre este último facto, aconteceu que um amigo que vive no Luxemburgo há 25 anos não acreditava que em Portugal houvessem reformas de 150 euros. É chocante e perturbador ouvirmos um compatriota que trabalha num país da Europa dizer-nos que Portugal é uma miséria.

Em 2025 algo de muito substancial tem de mudar. Não podemos assistir a decisões como a escandalosa, mesmo a terminar 2024, que nos caiu nos escaparates, com o primeiro-ministro a nomear um secretário-geral do Governo que iria receber um salário de 16 mil euros por mês. A opinião pública revoltou-se nas redes sociais e alguns comentadores televisivos vieram a terreiro condenar tal decisão.

Obviamente que se tratava de algo chocante para a maioria dos portugueses. Neste sentido, os deputados na Assembleia da República têm a obrigação de aprovar legislação em que o maior salário seja o do Presidente da República, seguido dos salários para o primeiro-ministro, ministros, secretários de Estado e deputados.

A partir daqui mais nenhum funcionário do Estado poderá receber mais que as personalidades mencionadas. Tem de existir senso comum na gestão da cousa pública. Tem de haver exemplos que venham de cima e não deixar a maioria dos portugueses a sofrer sem qualidade de vida e a pensar que só se governa para os ricos.

Na semana de Natal de 2024 tomámos conhecimento de um casal que ficou desempregado e a solução que teve foi a venda da sua casa e ir com dois filhos menores residir para casa dos pais. Não, assim o país não pode continuar. O povo português é trabalhador, é generoso, é solidário, mas tem de merecer dos seus governantes que numa passagem de um ano velho para um ano novo, os votos de feliz Ano Novo não passem de uma balela.

6 Jan 2025

2025 melhor

Hoje termina este 2024. Os portugueses só desejam que 2025 seja muito melhor. O ano que agora finda não deixa muitas saudades. Em muitos aspectos. Tivemos um Portugal cheio de episódios que em nada valorizaram a qualidade de vida das populações.

Alguns episódios até degradantes como aquela história da cunha do Presidente da República para que umas gémeas brasileiras passassem à frente de outras crianças portuguesas para serem alvo de uma cirurgia que custou mais de quatro milhões de euros e que até provocou uma Comissão de Inquérito Parlamentar, onde se assistiu às maiores mentiras, desculpas de mau pagador, bodes expiatórios e surpresas nas hostes políticas. Um pouco de tudo aconteceu neste cantinho à beira-mar plantado.

Não podemos esquecer antes de mais que passámos a ter um novo governo de direita que em nove meses só tem feito propaganda eleitoral, sempre com o receio que venham aí eleições antecipadas. Caiu um governo de maioria absoluta por causa de um parágrafo num comunicado do Ministério Público que anunciava que o primeiro-ministro António Costa estaria sob investigação.

E o que fez o Presidente da República? Simplesmente aceitou a demissão de um chefe do Executivo que não foi acusado de nada e que até hoje nada se sabe sobre que crime terá cometido. De concreto foi a ida de António Costa para um cargo de grande prestígio como o de presidente do Conselho Europeu. Um governo formado pelo PSD, que obteve o mesmo número de deputados que o Partido Socialista, e por um partido do táxi, como é o CDS. Este governo tem tido uma grande preocupação e, nesse sentido, tem levado a cabo um trabalho incessante: substituir todos os presidentes de institutos, directores de instituições importantes, como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Serviço Nacional de Saúde, que tinham sido contratados pelo anterior governo.

Não interessa se as personalidades são competentes ou não, o importante é arranjar “tachos” para os amigos da mesma cor política. Dirão os leitores que todos os governos fizeram o mesmo, mas nunca como neste 2024 sob a batuta de Luís Montenegro. Simples exemplo: António Costa não substituiu Pedro Santana Lopes na gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Eleições antecipadas que nos trouxeram uma surpresa negativa: a eleição de 50 deputados para o parlamento nacional de um partido neofascista.

A fuga de Vale de Judeus deixou Portugal vergonhosamente nas bocas do mundo, tendo fugido cinco criminosos dos mais perigosos a nível nacional e internacional. Uma fuga que ainda faz correr muita água por baixo da ponte porque não se compreende como é que um presídio daquela importância nem tina em funções um director. Não se compreende como é que todos os reclusos tinham telemóveis, como é que um dos fugitivos foi pacatamente ao ginásio da cadeia buscar uma escada e transportou-a até ao muro da fuga.

Não se compreende ainda por que razão acabaram com as torres de vigia no estabelecimento prisional e muito menos há compreensão para o facto de apenas estar um vigilante a controlar todas as câmeras de vídeo. O certo é que a imagem da segurança em Portugal ficou na rua da amargura.

Não podemos deixar de referir os incêndios de Setembro onde, mais uma vez, tudo esteve descontrolado, com vidas em perigo e dezenas de casas de famílias completamente ardidas. Afinal, para que servem os milhões de euros gastos na protecção civil?

Feio, muito feio e triste, foi o facto de os “senhores” técnicos do INEM terem entrado em greve e o que aconteceu? 11 mortos por falta de socorro. Um caso revoltante que deixou os portugueses preocupados com o futuro do INEM. Lamentavelmente chegou-se já a falar em privatizar o instituto, o que seria um erro político de palmatória.

Não podemos deixar passar em claro nesta resenha do que tivemos em Portugal durante o ano de 2024, o lamentável acontecimento em alguns bairros de Lisboa após um agente da polícia ter disparado a matar contra um morador negro. A partir desse momento foi o caos: caixotes de lixo e dezenas de pneus incendiados, paragens de autocarros destruídas, dezenas de carros incendiados e para cúmulo do descontrolo policial até assistimos que uns energúmenos atirassem um coquetel Molotov para o condutor de um autocarro da Carris que o levou quase à morte, tal a gravidade dos ferimentos por queimaduras.

O inacreditável passou-se neste ano em que se comemorou os 50 anos do 25 de Abril. Uma data histórica em que nos foi devolvida a liberdade. Assistiu-se a uma acção policial completamente descabida no Martim Moniz, em Lisboa, onde foram encostados à parede dezenas de cidadão imigrantes, ao bom estilo nazi, e no final encontraram uns gramas de haxixe e um canivete… afinal, para quê anunciar que vivemos num país democrático que cumpre a Carta dos Direitos Humanos?

Muitos, muitos episódios haveria por descrever, mas o mais importante é que o povo velho e jovem continua sem uma casa para habitar, continuam os estudantes que terminam o seu curso a emigrar, continuam as reformas miseráveis cujo aumento anual de algumas determinado pelo Governo é de apenas sete euros…, continua a corrupção a alto nível e nos mais diversos quadrantes da política e da vida empresarial, continua a caça à multa dos automobilistas, uma forma de o Governo arrecadar mais uns milhões de euros extra, sendo ao fim e ao cabo mais um vector de impostos indirectos, continuamos a ter um combustível caro, os preços nos supermercados a aumentar todas as semanas e, no fim, Luís Montenegro, na sua primeira mensagem de Natal como primeiro-ministro só soube querer convencer os portugueses que estamos a caminho do paraíso.

Portugueses, não! Inacreditavelmente Montenegro na sua mensagem nem uma palavra dedicada aos milhões de portugueses que vivem no estrangeiro. Ignóbil.

Bem, não vos entristeço mais e apenas dizer-vos que antes de partir até às Beiras para passar com familiares a mudança de um ano velho para ano novo, quero desejar a todos os amigos leitores deste grande jornal um ano de 2025 com muita saúde, prosperidade e felicidade. Em chinês diríamos Kung Hei Fat Choi…

31 Dez 2024

Fartaram-se!

Fartaram-se! Os bombeiros sapadores fartaram-se de ser desprezados durante 22 anos. Mulheres e homens profissionais municipalizados em todo o país puseram e põem em risco a vida no incêndio do Chiado, nos vários incêndios em prédios degradados, em florestas abandonadas, em fábricas de indústria perigosa.

Receberam o aplauso e a presença das autoridades nos funerais. Nada mais. Depressa essas mesmas autoridades nunca se preocuparam com o salário miserável ou com o subsídio de risco não existente para os bombeiros sapadores. Estas mulheres e homens são considerados pelo povo como “heróis”, como “soldados da paz”.

Defendem todos quantos portugueses se encontram em situação grave de perigo de vida. Muitos têm dado a vida a combater os mais diversos incidentes. Os bombeiros sapadores reivindicam acertos salariais para compensar o aumento da inflação, conforme foi atribuído às demais carreiras da Função Pública. Exigem ainda a regulamentação da carreira, onde sejam contemplados os suplementos de risco, penosidade e insalubridade, bem como a disponibilidade permanente, em percentagem e à parte do vencimento base.

Há dias, o acontecimento nacional foi a marcha de centenas de bombeiros sapadores a caminho da sede do Governo, porque realizava-se ali uma reunião entre o secretário de Estado da tutela e os sindicatos representativos dos sapadores. A marcha e a manifestação em redor da sede do Governo, no Campo Pequeno em Lisboa, não foi violenta e não passou da normalidade que se tem assistido com manifestações anteriores de outras profissões. Podemos discordar que os sapadores bombeiros não deviam tem lançado petardos e tochas.

No entanto, não foi razão para ditatorialmente o Governo cancelar de imediato a reunião com os sindicalistas alegando falta de segurança. Só para rir. Falta de segurança num edifício rodeado de polícia de choque? Os governantes em reunião nem sequer ouviram o ruído e as palavras de ordem lançadas pelos manifestantes, porque o edifício onde funciona agora o Governo, antiga sede da Caixa Geral de Depósitos, tem todo ele vidros duplos. Os governantes, incluindo o primeiro-ministro apenas tomaram conhecimento do que estava a acontecer através dos canais de televisão. Mais absurdo, foi Luís Montenegro ter afirmado que não haveriam mais reuniões com os representantes dos bombeiros sapadores devido ao ambiente de coacção junto da sede do Governo. Caricata atitude governamental que só dá razão aos sapadores quando afirmam que são desprezados há 22 anos.

Se os médicos e enfermeiros fazem greves, imaginemos uma greve indefinida por parte dos bombeiros sapadores. Como dizia um dos cartazes dos manifestantes: “Está a arder? Chamem os políticos!”. Um incêndio na baixa de Lisboa ou na Ribeira do Porto, com os sapadores em greve não será uma tragédia? O Governo não entende que esta classe profissional arrisca a vida durante 24 horas de serviço pelo bem da população? Uns miseráveis aumentos de vencimento e de subsídio de risco irá afectar o Orçamento do Estado quando se enviam centenas de milhões de euros para a guerra na Ucrânia?

Uma coisa é certa. Mesmo com petardos e tochas para melhor chamar a atenção, o povo português está ao lado dos sapadores bombeiros por se tratar de uma luta justa. E não venha cá o partido populista Chega tentar aproveitar-se desta luta para caçar votos, como já o tinha feito com os polícias. O Chega apenas está desesperado politicamente após ter colocado tarjas propagandísticas nas janelas da Assembleia da República, património nacional e não património do Chega. Por estas e outras, os radicais de direita apresentam nas últimas sondagens um resultado que lhes provoca esse desespero de apenas anunciarem baboseiras contra a democracia.

Os últimos resultados de um inquérito nacional apresentam o Chega com apenas 12 por cento das intenções de voto dos portugueses.

É importante que o Governo faça marcha-atrás e regresse à mesa das negociações com os representantes dos bombeiros sapadores, mas não para mais uma conversa da treta. Tem de ser uma reunião que resolva as reivindicações desta classe profissional que trabalha no socorro da população portuguesa.

Infelizmente, passado mais de uma semana e os governantes continuam a afirmar que as negociações reiniciam-se quando não existir pressão ao redor da sede do Governo por parte dos bombeiros sapadores. Demagogia política. Os bombeiros têm estado pacificamente a aguardar uma solução para a sua situação. Após um desprezo de 22 anos, será que a ineficácia governamental irá continuar? Esperemos que não.

P.S. – Lamentavelmente não está prevista em Portugal qualquer cerimónia oficial ou oficiosa ou mesmo um jantar comemorativo das bodas de prata da transferência de Macau de Portugal para a China.

16 Dez 2024