Mata menor, na prisão “suicidou-se”

A criminalidade familiar ou passional está a aumentar todos os anos. As autoridades não têm mãos a medir para investigar as causas dos crimes, e na maioria dos casos, os investigadores ficam-se pela percepção. Há pessoas que matam ou mandam matar os seus companheiros, alegadamente, por amor.

É uma realidade transversal a todas as faixas etárias e a todos os estratos sociais, e que acontece ao longo de todo o ano. O crime passional acontece por ciúmes, vingança, por um sentimento de posse levado ao extremo, ou simplesmente porque a relação terminou e não se consegue viver sem a presença da outra pessoa – a maioria dos autores destes crimes passionais são imputáveis sendo raros os casos de inconsciência por causas patológicas.

Quem decide castigar desta forma os seus companheiros ou ex-companheiros, encontra sempre uma razão que legitima a morte do outro. Acontece muitas vezes o homicida, suicidar-se de seguida. Os dados mais recentes apontam para um aumento no homicídio conjugal em Portugal, nos últimos dez anos. O pior de tudo é quando o crime passional insere a morte dos filhos pequenos. Há psicólogos que ainda não arranjaram explicação cabal que justifique como é que um pai consegue matar um filho menor.

As nossas prisões estão cheias de criminosos, mas nos presídios há um “estatuto” muito especial para os reclusos que mataram a companheira ou um filho, tal como irão saber mais à frente. Esse estatuto interno é justiceiro para quem, mesmo tendo cometido outra espécie de crime, não aceita nem admite que se mate uma criança. As prisões do nosso país já foram dezenas de vezes notícia nos diversos órgãos de comunicação social. Ou porque têm reclusos a mais, sem condições de higiene, sem comida com o mínimo de qualidade, com pouco tempo de recreio, com adiamento de apoio médico, enfim, uma panóplia de lacunas que coloca Portugal na cauda dos países que não cumprem as regras dos direitos humanos. Os presídios portugueses são um mundo à parte, onde acontece de tudo um pouco e até fugas de tal forma escandalosas que são notícia internacional. Tivemos recentemente aquela fuga de Vale dos Judeus, onde cinco dos maiores criminosos detidos conseguiram fugir enquanto um vigilante comia um pastel de nata…

Por sinal, junto de nós reside um chefe guarda prisional e um dia destes convidei-o para tomar um café. Por acaso, eu bebi o café mas ele bebeu umas seis cervejas. Tudo bem. A conversa demonstra bem o que se passa no submundo das prisões.

Então, vocês agora tiveram um aumento. Não foi mau?

Ah!… O senhor pensa que o aumento no salário foi alguma coisa que resolva a vida difícil que temos? Nem pensar.

E o subsídio de risco?

Olhe, ainda não recebi nada e pelo que ouvi lá na prisão de Monsanto, o subsídio de risco é uma treta…

Diga-me uma coisa: como é que foi possível que aqueles criminosos perigosos tivessem conseguido fugir de Vale dos Judeus? E porque não estavam em Monsanto?

Bem, em primeiro lugar também nunca percebi como é que o pior deles estava na minha prisão de Monsanto e foi transferido para Vale de Judeus, onde tinha amigos… de certeza que houve movimentos de muito dinheiro…

Para quem?

Bem, isso agora não lhe posso dizer, mas o senhor imagina certamente que quem manda nas prisões não são santinhos nenhuns… E aquela fuga foi muito bem preparada com o apoio mafioso do exterior.

Mas, vocês guardas prisionais é que têm a fama de serem corruptos. De levarem a droga, de introduzirem os telemóveis e outros objectos letais…

Não é bem assim. Não podemos tomar um ramo seco pela árvore. Claro, que tenho colegas que ganham bom dinheiro com o que acaba de dizer, mas não são todos. E sobre os telemóveis e drogas, posso dizer-lhe que já apanhámos mulheres de reclusos que iam à visita e tinham tudo isso no interior da vagina…

Um telemóvel?

Exactamente! Nada de especial para algumas…

Outra coisa, vocês correm ou não perigo de vida, ou têm um “acordo” com os chefes dos presos?

Nós corremos risco de vida se fizermos a vida negra aos reclusos. Há muitos que não brincam em serviço, há muitos que controlam o negócio da droga através de mensagens codificadas para o exterior, há chefes mesmo mafiosos que controlam a vida no interior das prisões em todos os aspectos e até controlam a actividade no exterior. Dou-lhe um exemplo: nas prisões existe um certo “estatuto” entre os presidiários. Esses chefes dos reclusos não admitem nem por nada aqueles que vão para a prisão por matarem a mulher ou um filho pequenito… aí, não conseguimos fazer nada, mesmo se colocamos esses que mataram os filhos em solitária… eles lá arranjam maneira de quando é a hora do banho lhes tratarem da saúde.

Levam pancadaria?

Pancadaria? Muita e não só. Enfiam-lhes com um pau pelo rabo a dentro, obrigam-nos a sexo oral e sempre que podem matam-nos…

E a notícia não é dada à família e ao público?

Claro, que é dada a informação. Mas sempre da mesma maneira.

Como?

Que o recluso se suicidou…

– E vocês, guardas prisionais, caladinhos…

Obviamente. O senhor também não tem família? Está a perceber-me?

Em absoluto. Gostava de lhe perguntar outra coisa: existe muita homossexualidade nas prisões. Vocês permitem?

Não é uma questão de permitirmos. Isso acontece durante o banho, nas celas com mais de um preso, nos trabalhos no campo e até nas bibliotecas, especialmente o sexo oral.

Vê alguma solução para que a vida nas prisões possa ter mais qualidade e mais direitos humanos?

Não vejo. Daqui para a frente será sempre pior porque não se constroem novas prisões como, por exemplo, nos países nórdicos.

Agradeço este encontro e posso informá-lo que a nossa conversa vai ser lida em Macau, mas esteja descansado que o seu nome não existe. Obrigado. Tive prazer em conhecê-lo melhor.

24 Mar 2025

Caiu da cadeira do poder

Possivelmente os leitores mais jovens nem saberão bem a história do ditador António Oliveira Salazar. Mas, eu conto-vos uma estória trágico-cómica que aconteceu com o antigo presidente do Conselho de Ministros durante o tempo da ditadura que reinou antes do 25 de Abril de 1974.

Fontes próximas da ama do ditador, Dona Maria, contaram-nos que o ditador era ouvinte diário dos programas humorísticos dos ‘Parodiantes de Lisboa’. Num belo dia, o ditador estava no ripanço do Forte de São Julião da Barra, sentado numa cadeira de lona, a apanhar os seus raios de sol e a escutar um programa de rádio da equipa dos humoristas lisboetas. A dada altura, achou tanta graça a uma rubrica do programa radiofónico que deu várias gargalhadas e caiu da cadeira batendo com a cabeça na pedra do chão e nunca mais recuperou da lesão cerebral.

Agora, passados mais de 50 anos, outro chefe de governo também caiu da cadeira, mas esta, a do poder. Luís Montenegro quando tomou posse como primeiro-ministro, devido à vitória tangencial da AD, afirmou que estava pronto para governar por quatro anos com transparência e estabilidade. Dois termos da maior importância em política, mas que em nada foram cumpridos pelo primeiro-ministro.

Na semana passada, Luís Montenegro caiu da cadeira do poder por culpa exclusiva sua. O político, líder do PSD e primeiro-ministro em gestão começou a andar nas bocas do mundo por falta de transparência nos seus negócios que alegadamente continuaram quando enveredou pela política a sério e pela falta de estabilidade no seu governo devido aos muitos casos que se registaram em pouco mais de 300 dias de governação, nomeadamente os 16 portugueses que morreram por o INEM ter levado a efeito uma greve e não ter dado apoio clínico a essas pessoas. Sobre transparência parece-me que está tudo dito e na última crónica especificámos em pormenor os cambalachos da sua empresa familiar e sobre as imobiliárias dos políticos que os fazem pertencer, enquanto cai uma estrela cadente, em homens abastados com casas de luxo, boas quintas ou um monte no Alentejo.

Aconteceu que depois de duas moções de censura ao Governo terem sido chumbadas, o Partido Socialista entrou na Assembleia da República com um requerimento potestativo para uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as dúvidas existentes na actividade da empresa familiar do primeiro-ministro e às quais nunca quis responder na totalidade.

Em face da atitude socialista, Luís Montenegro resolveu reunir o Conselho de Ministros e anunciar a apresentação de uma moção de confiança no parlamento. Pronto, estava o caldo entornado. Toda a gente viu que Luís Montenegro tinha enveredado pela chantagem e iria confrontar os socialistas no sentido se estes retirassem o requerimento para uma Comissão Parlamentar de Inquérito, ele também recolhia a moção de confiança. A sessão parlamentar que discutiu e votou a moção de confiança foi uma vergonha na história de 50 anos de democracia. O Governo e o líder parlamentar do PSD fizeram uma figura tristíssima e repugnante que levou à condenação de todos os parlamentares, excepto um grupelho chamado Iniciativa Liberal que ainda tem esperança de se aliar à AD e um dia ir para o governo de Portugal. Com a votação expressa em maioria absoluta contra a moção de confiança assistimos à queda de Montenegro, e seus pares, da cadeira do poder.

Depois, o Presidente da República, que sempre discordou de Montenegro na apresentação de uma moção de confiança, recebeu os partidos e reuniu o Conselho de Estado anunciando que as eleições se realizarão no dia 18 de Maio.

A bagunça da campanha eleitoral para dar fim a um ciclo de eleições nunca visto, vai começar. Montenegro está convencido que vai ganhar e Pedro Nuno Santos convencido está. Há sondagens para todos os gostos, umas dão vitória à AD e outras ao Partido Socialista. Uma coisa é certa: o Chega irá ter muito menos deputados do que tinha nesta legislatura que agora termina. Superamos agora a turbulência eleitoral registada na segunda metade da I República, de má memória.

Nesse período foram convocadas quatro eleições gerais para preencher assentos parlamentares: em Maio de 1919, Julho de 1921, Janeiro de 1922 e Novembro de 1925. Quatro actos eleitorais em seis anos e seis meses. Apesar de tudo, num intervalo mais dilatado do que a alucinante série de recentes eleições legislativas: Outubro de 2019, Janeiro de 2022, Março de 2024 e as que vão seguir-se no dia 18 de Maio. Há cem anos, nada de substancial ia sendo solucionado com as sucessivas chamadas às urnas. Pelo contrário, cada toque a rebate eleitoral deixava o quadro político e governativo sempre mais convulso. A história parece indicar que tudo se vai repetir. Os políticos dos nossos dias, sejam de que quadrante forem, deviam assimilar as lições da história. Antes, porém, é indispensável conhecê-la…

17 Mar 2025

Portugal não tem remédio

O primeiro-ministro Luís Montenegro enredou-se numa teia de aranha da qual é quase impossível sair. Tudo começou quando Montenegro quis ser político de alto nível e logo apareceram suspeitas de compadrio na transformação de uma casa sua em ruínas, em Espinho, transformada em imóvel de luxo. Montenegro foi para presidente do PSD e tinha, e tem, uma empresa familiar que se dedica a consultoria e imobiliário.

Pronto, o credo nunca mais parou e o rol de acusações tem dado água pela barba nas últimas semanas. Montenegro nunca quis divulgar a totalidade dos clientes da sua empresa familiar, sabendo-se que alguns são clientes de grande poder financeiro e que têm tido negócios com o Estado.

Montenegro deu uma “conferência de imprensa”, – onde os jornalistas tiveram que estar com fita gomada na boca… porque não lhes foi permitido fazer perguntas -, e onde o primeiro-ministro, rodeado de todos os ministros para compor o ramalhete do poder que apenas tem andado há um ano em campanha eleitoral, veio anunciar aos portugueses que não tinha mais esclarecimentos a prestar e que se a oposição quisesse que avançasse com um moção de censura ao governo e, caso não acontecesse, o governo poderia avançar com uma moção de confiança. O Partido Comunista avançou logo com uma moção de censura, a qual foi chumbada no parlamento. Nessa sessão, o Partido Socialista talvez tenha cometido um erro grave na sua estratégia política. Porquê? Porque se o resultado de umas eleições legislativas antecipadas, derem a vitória escassa aos socialistas, depois não podem esperar apoio dos comunistas para governar.

Mas, continuando no interior da teia de aranha, Montenegro foi notícia porque comprou duas casas a pronto pagamento no valor de cerca de 700 mil euros, com dinheiro resultante dos rendimentos da empresa familiar que tem três trabalhadores: a sua mulher e os dois filhos. Pior ainda, Montenegro passou uma vergonha enorme quando na semana passada veio a público que se encontrava a gastar diariamente 400 euros num hotel de luxo. Pelos vistos, o chefe do Executivo acha razoável pagar metade de um salário mínimo nacional, por dia, ao invés de viver na Residência Oficial do Primeiro-Ministro, por essa razão o Palácio de São Bento se denomina “Residência”.

Já não bastava a afronta a todos os trabalhadores que têm filhos com 20, 30 e 40 anos que nem de casa dos pais conseguem sair, por não terem salários decentes, tendo a distinta lata de se indignar por os seus filhos, de 19 e 23 anos, não poderem deixar de facturar 900 mil euros em quatro anos, à conta da lista de contactos dos pais. Para que não restem dúvidas, 400 euros por noite equivalem a 12 mil euros por mês. Ora, o primeiro-ministro ganha 4.500 euros líquidos por mês. Quanto a nós, é infame que Luís Montenegro não compreenda a falta de decoro e de respeito por quem trabalha, passa dificuldades e a quem lhe é retirado o subsídio de renda e diminuída a pensão em mais de 100 euros, isto, de um mês para outro sem aviso prévio.

Entretanto, o primeiro-ministro anunciou uma moção de confiança que será debatida e votada na Assembleia da República já amanhã, no caso de ontem não ter havido negociações entre Montenegro e o líder dos socialistas Pedro Nuno Santos, no sentido de o PS retirar a proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e Montenegro retirar a moção de confiança. Era algo ainda possível para evitar uma crise política que pode prejudicar o país gravemente em termos financeiros.

Pensamos que irá acontecer precisamente o que Montenegro deseja. Que o Chega, Partido Socialista, PAN e Bloco de Esquerda votem contra a moção de confiança, possivelmente com a abstenção do PCP, e no final, com a moção de confiança chumbada o Governo cai e o Presidente da República terá de marcar eleições antecipadas. O mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que andava todo caladinho sobre a teia de aranha de Montenegro – e que agora já veio falar, e até de mais, porque deu a moção de confiança como chumbada antes de ser votada -, e já anunciou que pelas suas contas as eleições realizar-se-ão lá para o fim de Maio.

Estamos mesmo a ver uma campanha eleitoral de lavagem de roupa suja todos os dias on the road. Surpreendente é a táctica política dos homens de Montenegro. Possivelmente como são quase todos aconselhados por Cavaco Silva, estão a pensar, e um ministro já o afirmou publicamente, que a AD poderá vir a ter maioria absoluta… ora bem, nem mais. Um governo que tem deixado o povo pobre em número de 4 milhões cada vez mais na miséria, não estou a vislumbrar que a AD consiga uma maioria absoluta. Perfilam-se tempos difíceis de entender estes políticos. Tivemos eleições legislativas há apenas um ano, vêm aí eleições autárquicas em Setembro e logo a seguir eleições presidenciais em Janeiro de 2026.

Para um país na cauda da Europa, não acham que é luxo eleitoral a mais? O povinho está farto desta politiquice balofa que em nada melhora a qualidade de vida dos portugueses. Talvez por esta razão é que, todas as sondagens indicam que os portugueses não querem um Presidente da República político profissional mas sim um militar…

Portugal não tem remédio. Vença a AD ou o PS as próximas eleições, continuaremos na mesma a observar os gladiadores com toda a espécie de roupa suja para lavar. Não há remédio, porque ninguém consegue uma maioria absoluta que, pudesse dar luz verde a decisões profundas e estruturais a bem de povo, como por exemplo, desistir daquele supérfluo aeroporto de Alcochete e da venda na totalidade da TAP. Não tem remédio porque governantes e deputados irão continuar a serem proprietários de imobiliárias e a alterarem a Lei dos Solos para que as suas imobiliárias sejam uma mina de ouro em terras raras…

10 Mar 2025

Imobiliárias políticas, Limitada

Eu estava num miradouro serrano para onde os meus pais e avós me levavam há cinquenta anos, quando tinha 10 anos de idade, para admirar a paisagem linda, olhando para cima, a serra cheia de neve e para baixo a globalidade da minha terra, a Covilhã. Resolvi sentar-me e escrever no caderno as primeiras linhas desta crónica sobre o que tinha acabado de ver e sobre as últimas notícias chocantes da semana passada.

Há cinquenta anos, a Covilhã era um conjunto de casarios admiráveis sem quaisquer arranha-céus. Hoje, a cidade serrana é tão horrível cheia de prédios por todo o lado da urbe. Prédios de vários andares são infindáveis. Fiquei a pensar como é grandioso o negócio das imobiliárias. Deve ser um negócio melhor que os mais lucrativos do mundo, os gelados, as pizzas e o café. Uma vez, fui uma semana a Lisboa visitar uns familiares e numa só avenida contei dez imobiliárias.

Os portugueses sabem que raramente conseguem comprar ou arrendar uma casa sem que seja através de uma imobiliária e que as comissões dessas empresas dão um lucro grandioso. E que se pretenderem adquirir um terreno, o ideal será que toda a papelada seja tratada por uma imobiliária, esteja o terreno perto de uma cidade, de uma vila ou mesmo num interior rústico. As imobiliárias tratam de tudo e as pessoas sujeitam-se ao que está definido no negócio deste tipo de intermediação no que respeita a imóveis, terrenos e ao que se tem de pagar às imobiliárias.

Pois bem, na semana passada a discussão política andou à volta de imobiliárias. Chamar-lhes-ei imobiliárias políticas. Porquê? Porque depois de um secretário de Estado do actual Governo se ter demitido quando veio a lume que era proprietário de uma imobiliária e simultaneamente estava a participar na alteração à Lei dos Solos, a comunicação social trouxe à colação que o primeiro-ministro Luís Montenegro tinha uma imobiliária e que afirmou ter vendido, imagine-se, a sua quota à mulher e filhos. O assunto foi à baila na Assembleia da República e os deputados da oposição não ficaram satisfeitos com as explicações, sobre o tema, apresentadas pelo chefe do Executivo.

Quanto a nós, Luís Montenegro não teve transparência ao ser interrogado sobre quem eram os clientes da sua empresa familiar. Era importante que se soubesse quem eram os parceiros de negócio, porquanto ficará sempre a suspeição de que esses clientes poderão vir a usufruir de benesses governamentais. Inclusivamente o semanário Expresso, na sua edição da passada sexta-feira, denunciou que os casinos ‘Solverde´ pagam 4.500 euro por mês à empresa de Montenegro. Depois, bem, depois tem sido um chorrilho de notícias sobre imobiliárias detidas por membros do Governo.

O ministro da Coesão Territorial, Castro Almeida, que tem a tutela das alterações à Lei dos Solos, também tinha uma imobiliária e veio dizer que já tinha vendido a sua parte, mas só depois da “bronca” com o primeiro-ministro. No entanto, posição diferente foi assumida pela ministra da Justiça, Rita Júdice, que veio a público afirmar que “não tem qualquer intenção de se desfazer do seu património pessoal, constituído com o seu trabalho e dos seus familiares”, nomeadamente as quatro sociedades com negócios imobiliários de que é sócia.

A verdade é que da Cultura ao Trabalho, passando pela Defesa e Presidência do Conselho de Ministros, vários Ministérios empregam actuais e antigos sócios de empresas do sector imobiliário. No Ministério do Trabalho, já é público que a própria ministra Maria do Rosário Palma Ramalho inclui a gestão de património imobiliário na sua empresa ‘Palma Ramalho, Lda’. Mas não é a única: o secretário de Estado do Trabalho, Adriano Rafael Moreira, também inclui no oblecto da sua empresa de consultoria a “gestão de património, podendo para o efeito, alienar, adquirir e arrendar imóveis e proceder à revenda dos adquiridos”.

A empresa chama-se agora ‘Orbis Terra – Consultoria e Gestão, Lda’, um nome mais discreto do que o anterior no que diz respeito à ligação ao imobiliário e o governante é sócio único. Mas o apetite pelos negócios imobiliários no Executivo de Luís Montenegro não se esgota nestes governantes e até a responsável pela pasta da Habitação no Ministério de Miguel Pinto Luz foi sócia de uma empresa que se dedica à compra e venda de bens imobiliários. Trata-se da ‘Promobuilding – Serviços Imobiliários Lda’.

A empresa onde Patrícia Gonçalves da Costa foi gerente entre 2010 e 2015 e sócia minoritária até 2019 detém ainda 50 por cento da ‘Urbanquestion, Lda’, outra empresa criada em 2023 com o mesmo objecto que inclui a compra e venda de imóveis, construção de empreendimentos próprios para comercialização e promoção de estudos de urbanização. No Ministério da Defesa, o antigo deputado do CDS Álvaro Castelo Branco, agora secretário de Estado Adjunto, é sócio da ‘Rent 4 You – Sociedade Imobiliária, Lda’. Desta sociedade também faz parte o antigo deputado do PSD e actual membro do Conselho de Administração do AICEP Paulo Rios de Oliveira.

O historial de actividades empresariais do ramo imobiliário estende-se ao Ministério da Cultura. O recém-nomeado secretário de Estado Alberto Santos deteve 90 por cento da sociedade ‘Villa Gallaecia – Mediação Imobiliária, Lda’, dedicada à mediação e angariação imobiliária, mas também à avaliação de imóveis e consultadorias várias.

E a própria ministra Dalila Rodrigues teve quota numa empresa da família: trata-se da ‘Rita Aguiar Rodrigues Arquitectos Lda’, que como o nome indica presta serviços de arquitectura, mas também inclui no seu objecto a construção e remodelação de edifícios e a compra, venda e revenda de bens imóveis. Em comunicado divulgado na noite de terça-feira passada, tanto a ministra como o secretário de Estado confirmaram que detiveram aquelas quotas em sociedades, mas que as cederam antes de tomarem posse no Governo. E na Assembleia da República? Bem, não fiquem de boca aberta.

No Parlamento, também não faltam deputados com empresas no ramo imobiliário. Além dos quatro parlamentares do Chega, o partido que viabilizou e tem adiado a votação que pode chumbar as alterações à Lei dos Solos, encontram-se muitos exemplos nas bancadas do PS e sobretudo do PSD. A dar o exemplo de empreendedorismo imobiliário num país onde o preço das casas e das rendas é incomportável para quem vive com salários baixos está o próprio presidente da Assembleia da República.

José Pedro Aguiar Branco é sócio da ‘Portocovi – Gestão e Administração de Bens Lda’, que tem por objecto a compra e venda de bens móveis e imóveis, arrendamento, gestão e administração de bens próprios ou alheios e prestação de serviços. Confrontado com a divulgação pública sobre a sua empresa, Aguiar-Branco respondeu aos jornalistas queixando-se de “voyeurismo” sobre os titulares de cargos políticos, onde “tudo é escarrapachado: o seu património, a sua situação do ponto de vista financeiro, tudo o que tem a ver com um acervo particular, ainda que não exista alguma suspeita”.

E o que queria Aguiar-Branco? Que os jornalistas fossem uns “macaquinhos” a silenciar, a não ouvir e a não ver? O mais importante é que tudo isto vem a público porque o Governo resolveu alterar a Lei dos Solos e na qual, futuramente, todas estas imobiliárias políticas poderão vir a usufruir de avultados rendimentos…

2 Mar 2025

O ministro que traiu outro ministro

Um ministro cometeu o “crime” e outro ministro é que foi para a “prisão”. Mal comparado foi o que aconteceu com o ministro das Finanças, Miranda Sarmento, contra o seu homólogo das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, no caso da suspensão do subsídio de renda a mais de 80 mil pessoas que vivem em dificuldades. Sem qualquer aviso prévio, a Autoridade Tributária e Aduaneira versus Finanças, com toda a crueldade, suspendeu o subsídio de renda de cerca de 200 euros, uma medida decretada pelo Governo anterior para o prazo de cinco anos e que teve o seu início em 2023.

O ministro Pinto Luz, que tem a tutela do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) – instituição que se limitava a pagar segundo a luz verde recebida pelas Finanças durante os dois últimos anos – é que foi obrigado, confrontado por deputados na Assembleia da República, a pedir desculpa aos lesados. Quem tinha de pedir desculpas aos portugueses afectados com medida tão ingrata era o ministro das Finanças. Obviamente, que a revolta dos lesados caiu em cima do IHRU que nem estava preparado para uma contestação tão significativa e nem sequer possui um número suficiente de funcionários para fazer frente a filas de gente que durante toda a semana passada estiveram à porta do IHRU a aguardar atendimento durante horas em pé.

O primeiro-ministro Luís Montenegro tem afirmado a todos os ventos que governa para as pessoas. Pensamos que as suas pessoas sejam os amigos e compadres, porque os milhões de pobres existentes no nosso país de certeza que não se inserem na sua governação. Ficou bem patente para quem Montenegro governa. Em 1 de Janeiro de 2023, o seu antecessor António Costa tomou uma das medidas mais humanas e solidárias da política portuguesa em democracia.

Decretou que cerca de 200 mil pobres, famílias que viviam em grandes dificuldades de sobrevivência e que não tinham possibilidade de pagar a renda de casa, passassem a usufruir durante cinco anos de um subsídio de renda aproximado de 200 euros, para auxílio ao pagamento da renda, após as Finanças constatarem através do IRS quais os cidadãos a necessitar de auxílio, o que veio a acontecer automaticamente. Agora, assistimos, sem qualquer aviso prévio, ao corte governamental desse subsídio de renda a mais de 85 mil pessoas. Pessoas essas, que contavam com esse pecúlio para fazer frente ao pagamento da renda e que, mais uma vez, ficaram em falta perante os seus senhorios. Uma medida repleta de crueldade e desumanidade.

O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) sabia perfeitamente que o Orçamento do Estado tem cativada a quantia de 300 milhões de euros para o pagamento dos subsídios de renda aos cerca de 200 mil portugueses pobres. O instituto nunca admitiria que este caso viesse a acontecer sem ser avisado com antecedência. Mesmo assim, as Finanças não se coibiram de decidir pela infâmia de cortar o subsídio de renda tão necessário a milhares de portugueses desprotegidos. O IHRU, que era a instituição pagante, foi de imediato alvo das maiores críticas nos órgãos de comunicação social e na Assembleia da República, onde um deputado nos desabafou tratar-se de uma “cretinice”.

Em face dos protestos, o IHRU emitiu um comunicado onde indicava que a partir do início da semana passada as pessoas que se sentissem prejudicadas teriam no site do IHRU uma aplicação onde poderiam confirmar os seus dados de rendimentos junto do Portal das Finanças e inserirem a sua reclamação. Esta aplicação não foi disponibilizada à grande maioria dos lesados e o IHRU viu-se obrigado a desligar o seu único número de telefone para onde as pessoas poderiam solicitar informações sobre o que tinha acontecido aos seus subsídios de renda, devido à grande avalanche de chamadas telefónicas.

A decisão infame das Finanças abrangeu portugueses em todo o território nacional. No entanto, a quase generalidade dos lesados não teve qualquer vector de solução e, em Lisboa, os lesados começaram a ter conhecimento de que a única solução seria deslocarem-se pessoalmente às instalações do IHRU, perto da Praça de Espanha, a fim de serem atendidos sobre o problema.

De salientar, que entre as pessoas desprezadas e roubadas pelo Governo, incluem-se cidadãs e cidadãos que são invisuais, deficientes, velhos e que lhes é de todo impossível deslocarem-se pessoalmente à sede do IHRU. Já não falando dos milhares de lesados que não têm qualquer acesso à internet, que não têm computador para poderem consultar o site do IHRU ou o Portal das Finanças, facto este, que encerra um desprezo total por essas pessoas.

Um cidadão pobre, muito pobre, de 79 anos de idade, morador no Bairro de Moscavide, sem acesso à internet, foi aconselhado a deslocar-se pessoalmente à sede do IHRU. O cidadão saiu de casa às 07.00 horas, apanhou o comboio na estação do Oriente para a de Roma-Areeiro, aí deslocou-se por três linhas do Metropolitano, a verde, vermelha e azul, subiu dezenas de escadas porque as rolantes e os elevadores encontravam-se avariados. Sentiu-se mal e sentou-se num banco do jardim da Praça de Espanha junto à Avenida Columbano Bordalo Pinheiro onde se situa a sede do IHRU. Às 9.05 horas entrou no edifício soberbo de oito pisos e no balcão transmitiram-lhe, seca e friamente: “Já não há vagas, volte às 14.00 horas!”. O cidadão olhou para a pequena sala de espera e na mesma estavam sentadas umas vinte pessoas. Oito andares para atenderem 20 pessoas em cada manhã? Ah… existem muitos outros serviços no IHRU e os funcionários têm mais que fazer…

Mas, quem criou esta bagunça ingrata foram as Finanças e a revolta caiu sobre o IHRU e o instituto não estava preparado para a reacção de mais de 85 mil pessoas… O cidadão em causa regressou a Moscavide pela mesma via e ao meio-dia partiu novamente pelo mesmo caminho até à sede do IHRU, na esperança de que o seu problema da retirada do seu subsídio de renda fosse resolvido, já que o seu rendimento do ano passado para este ano não tinha aumentado nem um euro. Debalde. Às 14.00 horas também já não havia senhas de atendimento. Pobre homem, que regressou a Moscavide e desistiu de arriscar algum ataque cardíaco depois de tanto esforço.

É isto, governar para as pessoas? É isto, a função e o serviço públicos? É isto, que o povo merece? É isto, o serviço de Finanças que não perde tempo a penalizar um português que se atrase no pagamento de qualquer imposto? É isto, governar para as pessoas? É isto, proteger os mais desprotegidos da nação? É isto, forma de fazer com que o povo acredite nos políticos? É isto, que faz com que o povo se manifeste nas sondagens que está farto de cruéis e mentirosos e tenda a votar para Presidente da República num homem como o almirante Gouveia e Melo. Ai, Portugal, Portugal…

17 Fev 2025

A (in) justiça que temos

Há muitas décadas conhecemos um juiz, tínhamos estudado juntos, que era homossexual. Um magistrado de excelência, de um virtuosismo profissional a toda a prova, introvertido, nunca tomou qualquer atitude menos digna para com os seus subordinados e até chegou a condenar severamente um indivíduo assumidamente homossexual que tinha abusado sexualmente de um menor. Naquele tempo era um escândalo se se viesse a saber que o juiz era homossexual e certamente seria expulso da magistratura. Um dia, confessou-me que tinha um companheiro único e secreto quase da sua idade. Fingi que não dei importância ao desabafo e sempre tive a facilidade de obter informações importantes sobre processos judiciais que o referido juiz tinha a amabilidade de me fornecer como jornalista. Os meus camaradas ficavam surpreendidos como é que eu tinha fontes judiciais tão credíveis e chegaram-me a perguntar a origem. Obviamente que nunca obtiveram qualquer resposta da minha parte.

Isto, vem a propósito de que na Justiça em Portugal temos juízas e juízes de elevadíssimo grau de competência, seriedade e independência. Absolutamente incorruptíveis. E temos outros que simplesmente cumprem a sua missão com o objectivo de obter o maior pecúlio possível. São corruptos, deixam-se manobrar pelos lóbis de escritórios de advogados poderosos e, infelizmente, se são homossexuais tomam posições de um grau deplorável. Chegam ao ponto de mandar avisar o arguido suspeito de violência doméstica ou de abuso sexual de menores, no sentido de saberem qual a quantia possível que os arguidos podem pagar se forem inocentados na hora do julgamento. Estes factos, têm acontecido ao longo de décadas. Antes e depois do golpe militar do 25 de Abril de 1974. Recentemente, todos tivemos conhecimento da vergonhosa atitude do juiz Rangel que chegou ao ponto de entregar a uma advogada estagiária a redacção dos acórdãos que lhe eram distribuídos. Acórdãos esses, que Rangel ou nem lia ou apenas fornecia à estagiária as indicações que lhe convinha. Como teria de acontecer, Rangel foi expulso da magistratura.

A Justiça em Portugal sempre foi liderada por um corporativismo absurdo, onde nenhum órgão de soberania teve poderes para intervir numa mudança estrutural. A Justiça em Portugal nos dias de hoje, – para não falar do passado onde chegou-se ao ponto de uma juíza estagiária a fim de obter a sua promoção foi vista por um escrivão a fazer sexo oral a um juiz sénior no seu gabinete – é manifestamente uma justiça para os cidadãos muito ricos. Nenhum pobre tem qualquer hipótese de pagar a um advogado para que a sua defesa seja digna e justa. Naturalmente que sabemos da existência dos defensores oficiosos, que na maioria das vezes pouco se interessam pelos processos em causa, mas faça-se justiça que existem excepções. Nós, por experiência própria, tivemos um defensor oficioso excepcional, de uma competência peculiar e que se dedicou ao processo como se estivesse a receber imenso dinheiro.

Na semana passada, o país teve conhecimento de um escândalo relacionado com um juiz acusado de pagar a menores pobres para sexo. Um magistrado jubilado dos Açores pagava 25 euros a menores de cada vez que tinha sexo. Não há memória de que um magistrado tenha sido acusado e investigado pelo tribunal de um crime alegadamente de tanta gravidade. Um homem chegou a relatar que o juiz atraía menores para sexo com gelados e pizzas e que o juiz recorria à prostituição de menores pagando para fazer sexo oral depois de abordar os menores na rua e que viviam em condições precárias. O juiz irá ser julgado por recorrer a prostitutos menores. As conclusões de um caso desta gravidade podem levar os portugueses a pensar o que teria sido a carreira deste juiz. Teriam havido sentenças manobradas a troco de sexo homossexual? Teria o magistrado recebido quantias de dinheiro quando lhe apareceram na barra do tribunal réus acusados de violação de menores? Terá o magistrado deturpado acórdãos que acusavam violadores sexuais de menores? Tudo poderá ser considerado em face de um comportamento ignóbil que veio a público praticado por um juiz jubilado.

Estamos a aguardar se a melhor revista portuguesa que aborda todos os problemas sociais e judiciais, a “JustiçA com A”, dirigida por uma juíza desembargadora de grande prestígio, irá abordar este tema numa próxima edição. Acontece que a temática que envolve juízes incompetentes, corruptos e agora pedófilos não pode ficar impune e deverá ser alvo do maior debate por parte da sociedade. O juiz jubilado Manuel Mota Botelho está agora a ser julgado por 16 crimes de recurso à prostituição de menores. Os crimes terão ocorrido entre 2019 e 2023 em São Miguel, nos Açores. O juiz conselheiro jubilado está reformado mas terminou a carreira como juiz conselheiro do Tribunal de Contas, tendo esta instituição decidido convocar a Comissão Permanente para analisar a situação do juiz conselheiro açoriano acusado de ter abusado de seis menores ao longo de quatro anos. A Comissão Permanente tem competência para instaurar processos disciplinares e aplicar sanções.

Há muito que na esfera política se pede uma reforma estrutural da Justiça e nada tem sido feito. O corporativismo continua a ser uma realidade e o país está farto de assistir a processos que demoram mais de uma década para serem finalizados, especialmente quando se trata de cidadãos “importantes”. O importante na Justiça é que no dia em que as leis forem desenvolvidas por pessoas honestas, a justiça será feita.

10 Fev 2025

Foi só o primeiro

Quem decide ser político tem de se compenetrar que tem de ser sério, competente, incorruptível e servir o povo com honestidade. Não cumprindo este desiderato passa a ser apenas mais uma pessoa que não cumpre o que jurou em cerimónia de posse. Passa a ser um cidadão desconsiderado e fragilizado perante os portugueses para continuar a exercer a sua função de ministro, secretário de Estado, deputado ou autarca.

Na semana passada, depois de vários “casos e casinhos”, idênticos ao que o PSD acusava o Governo de António Costa, tais como o que aconteceu no INEM e em certos casos de autarcas da AD que pediram a demissão, agora, este Governo de Luís Montenegro foi confrontado com a primeira demissão de um dos seus membros em apenas um ano em funções.

O secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, apresentou o pedido de demissão. Por alegadamente ser suspeito de fraudes antigas e recentes. Aconteceu que este senhor já há muito estava a ser investigado pela Procuradoria Europeia por alegadas irregularidades cometidas durante o seu mandato como presidente da Câmara Municipal de Bragança, incluindo suspeitas de recebimento de contrapartidas indevidas. Não atendendo à gravidade da situação aceitou ser governante com o pelouro que recentemente definiu a nova Lei dos Solos.

Hernâni Dias, chico-esperto, apressou-se a criar duas empresas de imobiliário e de construção de imóveis. Então, o governante passando a ter conhecimento de quais os terrenos rústicos pelo interior do país foi fundar duas empresas que poderiam concorrer à obtenção de terrenos que viessem a ser transformados em construção de imóveis? Grande visão de “estadista”… Hernâni Dias pediu a demissão e o primeiro-ministro aceitou de imediato. Diz o povo que não há fumo sem fogo e na verdade a polémica instalada tem razão de ser porque a incompatibilidade em causa é descarada.

Hernâni Dias tem negado qualquer ilegalidade, garantindo que sempre actuou “com total transparência” e que está disposto a colaborar com as investigações em curso. “Na vida política há que ter a hombridade de assumir decisões”, declarou, sublinhando que a sua continuidade no cargo poderia prejudicar o trabalho do Governo. Estas declarações só nos dão vontade de rir. Transparência? Muitíssima, se atendermos à investigação da Procuradoria Europeia e à criação de duas empresas enquanto governante relacionadas com imóveis possíveis de virem a ser construídos em locais que o próprio Hernâni Dias passou a ter conhecimento no âmbito da nova Lei dos Solos.

A ironia ainda é maior quando afirma que é preciso ter “hombridade de assumir decisões”. Decisões? Que saibamos as suas decisões foram ter recebido contrapartidas como autarca e criar empresas de imobiliário depois de saber o conteúdo da nova Lei de Solos. A sua decisão de se demitir apenas surge na sequência de notícias que indicam para um possível conflito de interesses devido à alegada criação de empresas que poderiam beneficiar das alterações legislativas promovidas pelo seu Ministério. Clarinho, como água. O secretário de Estado demitiu-se porque sabe que está sob suspeita e a ser investigado. O resto são tretas.

O país não pode ser governado por gananciosos. Por indivíduos que colocam os seus interesses acima dos interesses do povo e que apenas se servem dos cargos estatais para cambalachos que os enriquecem ilegalmente. Há décadas que assistimos a casos destes e nem assim terminam as opções pela irregular função de servidor do Estado.

A triste risota torna-se mais substancial quando Hernâni Dias justificou à agência Lusa que a sua saída foi um “acto de responsabilidade” para garantir a estabilidade do Governo e preservar a imagem do primeiro-ministro… Acto de responsabilidade? Nós chamaremos ao acto, uma obrigatoriedade de sair pela porta dos fundos cheio de vergonha. Como agravante, o ex-secretário de Estado ainda teve o desplante de se atirar contra os órgãos de comunicação social alegando que tem estado em curso uma campanha de “desinformação”… Desinformação? Então, o que se passa na Procuradoria Europeia é desinformação? As empresas de imobiliário criadas por si, na qualidade de governante, são desinformação? Realmente, os jornalistas são uns malandros que divulgam cada verdade…

E estamos certos que esta demissão foi apenas a primeira num Governo onde as ministras da Saúde e da Administração Interna há muito já deviam ter pedido a demissão dos cargos, por indecente e má figura. Num Governo onde um advogado ligado ao negócio imobiliário é que foi contratado como consultor jurídico na elaboração da nova Lei dos Solos…

Acrescente-se, que fontes credíveis adiantaram-nos que por ter sido a RTP a divulgar o caso das empresas criadas pelo governante, que a RTP será alvo de privatização mais depressa do que estava planeado. Se assim acontecer, estamos perante mais um caso de vingança servida friamente, porque com uma RTP privatizada não podemos pensar que a liberdade de informação irá continuar…

A mesma RTP também avançou que uma das sociedades de imobiliário foi constituída em conjunto com a mulher e filhos do governante em causa, enquanto a segunda empresa tem como sócio uma menor de idade… Tudo “transparente”, como referiu o ex-governante. E é assim, que este nosso Portugal continua a ser governado, sempre com a capa de possíveis suspeitas, acusações, julgamentos e recursos atrás de recursos judiciais. Ai, Portugal, Portugal…

3 Fev 2025

Cuidado com as malas

“Olha a mala…” era uma canção da fadista Celeste Rodrigues. Tornou-se imensamente popular. Lembrei-me da canção porque na semana passada as malas foram o tema principal da comunicação social. Todos nós temos uma mala. A maior parte das pessoas que viaja de avião tem uma mala de porão onde introduz os mais variados pertences. Normalmente colocamos no interior as roupas, sapatos, produtos de higiene e lembranças para os familiares e amigos. Existem muitas senhoras que não se dando conta do risco colocam nas malas de viagem algumas das suas jóias valiosas. Há pessoas que arriscam em transportar quantias de dinheiro enroladas em papel de prata. E há o tráfico de droga em muitas das malas de porão com os mais diversos disfarces. A mala de viagem é fundamental como algo de muito íntimo e que nos acompanha. Muitas vezes a mala não chega ao destino e temos de esperar vários dias que apareça e também há casos em que algumas das malas nunca mais se vêem. As companhias aéreas são obrigadas, nestes casos, a indemnizar os passageiros que ficaram sem malas. No entanto, os produtos que nos pertenciam e de que gostávamos muito nunca mais os vemos. Isto, acontece por todo o mundo e quase todos os dias nos mais diferentes aeroportos.

A mala de viagem em pleno tapete de recolha num aeroporto está completamente identificada pelo próprio, devido à sua cor e até ao acessório ligado à pega da mala com o nosso nome e o nosso telefone.

A propósito, lembrei-me de um texto da escritora Yvette Vieira, que dizia assim: “Recentemente li uma notícia sobre uma turista inglesa que se atirou ao mar, na ilha da Madeira, alegadamente para ir atrás a nado de um navio cruzeiro onde estaria o marido, a mulher foi resgatada das águas do mar por três jovens que decidiram ir à pesca nessa mesma noite e um dos pormenores que me chamou à atenção em toda esta história rocambolesca foi que a senhora em questão conseguiu-se manter a tona, nas águas frias do Atlântico, graças à sua mala. E esse último facto não me surpreendeu, porque seja em que circunstância for uma mulher nunca larga a sua mala. O que me leva ao tema que pretendo explorar, as mulheres e as suas malas. Neste mundo existem dois tipos de apreciadoras de carteiras, as que usam malas de grande porte e as mulheres que preferem os tamanhos pequenos.
Eu pertenço ao primeiro grupo, porque toda a minha vida está concentrada na minha mala. Sou daquele tipo de mulher que numa emergência consegue tirar da mala, como se tratasse de uma cartola de mágico, todo o tipo de coisas, desde pensos rápidos, pomadas, papel para escrever, água, comprimidos para uma dor de cabeça, etc, etc, pensem seja no que for e provavelmente esse objecto consta do conteúdo da minha mala. Mais, tenho uma amiga que possuiu entre os seus pertences pessoais uma chave de fendas que tinha sido esquecida na mala e que a acompanhou durante quase um ano. E não estou a brincar! Isto sem falar das malas das mamãs que são verdadeiros armazéns de parafernálias que vos deixariam de queixo caído. Mas, porquê uma mulher sente necessidade de ter tudo na sua carteira? Não sei. Gostaria de ter uma explicação lógica para tal comportamento quase insano, que implica quilos de pertences transportados diariamente com consequências a longo prazo para a nossa estructura óssea, no meu caso só posso dizer que não gosto de ser apanhada desprevenida.”

Pois, o caso é mesmo este, o de não sermos apanhados desprevenidos. Não ficarmos sem uma mala onde no seu interior estão objectos dos quais gostamos muito e que nos desgosta particularmente se os perdemos. Aconteceu que, a notícia caiu que nem uma bomba sobre o roubo alegadamente praticado por um deputado do partido Chega. O mesmo partido que não pára de falar em criminalidade e que os criminosos devem ser todos presos. Pois, o deputado açoriano do Chega estava debaixo de olho das autoridades desde Novembro do ano passado, devido a uma denúncia anónima, de que roubava malas que não lhe pertenciam dos tapetes rolantes dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada. As autoridades desta vez confirmaram através de imagens de vídeo-vigilância que o deputado levou malas que alegadamente não lhe pertenciam. Foram feitas buscas às suas casas de Lisboa e dos Açores, resultando em suspeita de ter mesmo roubado malas de outros passageiros. Parece um caso caricato, mas não é. Segundo o comentador televisivo e advogado Rogério Alves, se se vier a comprovar o roubo de malas tratar-se-á de um crime grave que pode ir até uma pena de oito anos de prisão. Entretanto, o deputado em causa Miguel Arruda, depois de ser afastado do Chega, vergonhosamente decidiu continuar no Parlamento como deputado não inscrito.

Imaginem só o desaparecimento da vossa mala de viagem de porão de avião. A perda dos vossos pertences, o desgosto consequente e até o prejuízo causado por uma tara mental de alguém que se habituou a levar malas de outros e ficar a usufruir de tudo de bom que essas malas teriam no interior. Agora, o acto ser praticado por um deputado da Assembleia da República é que nem o diabo imaginaria ser possível. Aguardam-se as investigações finais e qual a última decisão judicial sobre os alegados roubos de malas do deputado do Chega. O mais importante é que os amigos leitores tenham cuidado com as vossas malas…

 

P.S. – KUNG HEI FAT CHOI

27 Jan 2025

Os desesperados

Encontrei um homem com cerca de 60 anos de idade a vender a revista ‘Cais’. Iniciámos uma conversa e fiquei abalado. O senhor foi toxicodependente e sem-abrigo a dormir nas ruas de Lisboa durante anos. Foi identificado e enviado para um centro de recuperação da toxicodependência. Recuperou e passou a vender a referida revista.

Transmitiu-me o absurdo que vos quero relatar: há 15 anos que requer à Câmara Municipal de Lisboa uma habitação, nem que fosse uma casinha com apenas um quarto. Há 15 anos que obtém uma resposta que não reúne as condições para a concessão de uma casa. Tem vivido estes 15 anos sem qualquer privacidade e condições mínimas de qualidade numa casa municipal com a sua irmã. Contactámos as autoridades municipais e obtivemos uma resposta de que existem milhares de “desesperados” a solicitar uma casa. Milhares? E todos estes portugueses são a prova de que a Constituição portuguesa não é cumprida há décadas, cuja legislação diz que todo o cidadão tem direito a uma casa.

Continuamos a ver pelas ruas de Lisboa um número crescente de sem-abrigo. Muitos não são toxicodependentes. Quando dobram os cobertores que lhes foram oferecidos por pessoas sensíveis a este drama, caminham para um trabalho. É no local de trabalho que ingerem algum alimento, que se lavam e que fazem as suas necessidades. Mas trabalham e acabado o horário de trabalho regressam ao local onde têm alguns cartões no chão e os cobertores a marcar o lugar. Isto, é chocante.

O Governo fala demagogicamente em resolver o problema da habitação, mas o que temos visto é a autorização para a construção de condomínios de luxo. Onde está o uso dos muitos milhares de milhões de euros do PRR vindos da União Europeia? Onde está a construção de bairros sociais com dignidade, onde existam centros de saúde, correios, creches, supermercados e jardins infantis? Onde está o anúncio governamental da construção de casas de renda acessível para cidadãos sem residência e de baixos recursos financeiros? O partido Bloco de Esquerda ainda na semana passada, no Parlamento, requereu ao Governo que informasse qual o plano de habitação futura, algo que já solicitou várias vezes. Possivelmente não obterá resposta porque a preocupação do Governo é o aeroporto de Alcochete, é as várias vias férreas de TGV, é a cedência de terrenos baldios para a construção de condomínios de rendas impossíveis de serem pagas por gente pobre e é a privatização da TAP.

O país não pode continuar a fingir que não vê a realidade da falta de habitação para estudantes e para pobres. É urgente que tomemos conhecimento oficial da construção de quantas habitações com o fim de serem cedidas a arrendatários de baixos recursos. Viver na rua é doloroso, é chocante, é desumano, é injusto, é ilegal e é acima de tudo uma falta do cumprimento da Constituição. O Governo não pode continuar a aceitar que centenas de oportunistas explorem estudantes universitários e fujam ao fisco. Existem centenas de casos em que esses indivíduos têm uma casa de sete quartos, com duas casas de banho, e seis estão alugados a estudantes ao preço de 500 euros cada, ou seja, têm um rendimento mensal líquido de três mil euros sem passar recibo.

O Orçamento do Estado insere milhões de euros para acções supérfluas e isto não pode acontecer. Primeiramente está o nível de vida decente dos portugueses, muito antes de enviar milhões de euros para a Ucrânia. Os “desesperados” são aos milhares e aguardam que lhes seja dada uma casa há mais de uma década. Ministros e autarcas não têm vergonha desta situação? Não lhes dói o coração ao saberem que os seus semelhantes dormem na rua? As autoridades governamentais vivem com a consciência tranquila ao saberem que milhares de portugueses precisam de uma casa e nada fazem para resolver o problema? Muito recentemente num bairro de Lisboa foi inaugurado um edifício de quatro andares com várias fracções em cada piso. Uma construção de qualidade. Quando os alicerces tiveram o seu início nós próprios dirigimo-nos à edilidade lisboeta para nos inscrevermos e requerermos pertencer à possibilidade de obter nesse edifício uma fracção, já que tinha sido anunciado pela edilidade que o referido edifício seria para rendas acessíveis. Terminou a obra e o edifício está ocupado por moradores que entram na garagem do prédio com carros de topo de gama, como BMW, Tesla e Volvo. Os amigos leitores acham que as fracções foram concedidas a lisboetas com baixos rendimentos? Não. Segundo as nossas fontes, foram residir para o prédio em questão somente amigos de alguns directores da Câmara Municipal. Neste sentido, nunca os pobres irão ter uma casa minimamente digna.

Em Julho do ano passado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, anunciou que Lisboa tinha 3378 pessoas em situação de sem-abrigo na cidade e que dessas, 594 não tinham tecto. E em seis meses que, entretanto, passaram, quantas casas foram construídas para todos esses cidadãos? Na altura, Moedas fez-nos rir de assombro quando adiantou que a edilidade iria “gastar cerca de 70 milhões de euros até 2030 com o aumento das vagas de acolhimento para sem-abrigo”. Até 2030? Isto, é gozar com o pagode. Sete anos para arranjar “vagas de acolhimento”? Uma média de 10 milhões de euros por ano? Sejamos sérios e realistas e indagamos o que é que se constrói com 10 milhões num ano? E é este mesmo edil que na semana passada teve a preocupação imediata de arrasar com Alexandra Leitão, assim que a mesma foi anunciada como candidate do Partido Socialista à Câmara Municipal de Lisboa, titulando-a como uma política radical muito próxima do Bloco de Esquerda. Obviamente, que enquanto um edil se comportar como apoiante de um Governo, não existirá a preocupação de construir casas para pobres. E os “desesperados” que continuem à espera que uma casa caia do céu…

20 Jan 2025

Falta de segurança

Falta de segurança é na Cochinchina. Não faço ideia se existe a Cochinchina, mas trata-se de uma expressão popular quando discordamos de algo. Na semana passada assistimos ao recrudescer de mais uma investida racista de André Ventura e do seu partido neofascista. Gritou com todos os pulmões na Assembleia da República “Encostem-nos à parede!!!”, no decorrer de um debate sobre a falta de segurança em Portugal. O nosso país, segundo os dados oficiais nacionais e internacionais é dos mais seguros do mundo. Para o nosso país têm vindo viver norte-americanos, ingleses, franceses, italianos, espanhóis, belgas, holandeses, chineses, indianos, cabo-verdianos, são-tomenses, angolanos, guineenses, brasileiros, argentinos, russos, ucranianos, nepaleses, paquistaneses e outros cidadãos estrangeiros. Nenhum deles alguma vez se queixou de falta de segurança em Portugal. Antes pelo contrário, todos indicam que a razão maior da escolha do nosso país se deve à boa segurança existente.

André Ventura, deputado e líder do Chega passou dos limites na falta de bom senso e de política democrática, no debate na Assembleia da República sobre segurança. Vociferou contra todos os cidadãos mostrando que não pretende que vivam em Portugal: ciganos e imigrantes. Todo o parlamento foi unânime em reprovar a sua atitude racista e xenófoba, porque a sua expressão “Encostem-nos à parede” foi interpretada como matem-nos a todos, ao bom estilo hitleriano. Ventura entende que a criminalidade está a aumentar de ano para ano e que os criminosos já deviam estar há muito nas prisões. Mostrou-se defensor de mais acções idênticas à lamentável que aconteceu na Rua do Benformoso, em Lisboa, em que a polícia encostou à parede, com as mãos levantadas, todos os cidadãos que fossem a passar, quer estrangeiros ou portugueses. Uma acção policial que foi contestada pela maioria dos partidos políticos e que levou cerca de 600 personalidades a apresentar uma queixa junto do Provedor de Justiça. Ventura não olha a meios para atingir os fins e no debate parlamentar demonstrou bem o seu ódio pelos imigrantes e ciganos que trabalham em Portugal. Bastava a André Ventura solicitar ao director do Hospital de Santa Maria uma visita geral ao estabelecimento hospital para constatar quem lá trabalha: um imenso número de africanos e estrangeiros de diferentes nacionalidades, incluindo médicos ucranianos. Bastava a Ventura frequentar a maioria dos restaurantes do Algarve ao Minho para confirmar que quem serve à mesa são imigrantes. Mas nada disto Ventura prefere. A sua preferência é a demagogia e o populismo antidemocrático apelando, tal como Trump, à expulsão dos imigrantes “ilegais”. Ilegais não, são cidadãos que aguardam que a sua documentação fique regularizada e que já descontam para a Segurança Social. Quando Ventura salientou que o crime aumenta anualmente, o deputado socialista José Luís Carneiro respondeu-lhe à letra. Carneiro lembrou que “Portugal tem sido um dos países mais pacíficos do mundo” e adiantou para demonstrar que esse estatuto se mantém, que “em 2003 houve mais 45 mil participações criminais do que em 2023”, finalizando por sublinhar “Não percebo como há quem diga que Portugal é inseguro”.

Está à vista de todos os portugueses que Portugal é um país seguro. As pessoas saem à noite e nada lhes acontece, em qualquer cidade. Obviamente que não se pode deixar de referir que não existam gangues, mafias e crime organizado como em qualquer país do mundo. Todas as semanas assistimos a uma vingança violenta na guerra de certos bairros; a uma morte por motivos passionais; ao assalto de uma residência, por vezes deixando feridos; ao roubo de automóveis e a tiros em plena via pública. Mas, onde é que factos deste tipo não existem? Basta referir o que se tem passado nos Estados Unidos da América. Nunca em Portugal tivemos um caso em que um atirador matasse dezenas de estudantes numa universidade.

Afinal, o que quer André Ventura? Popularidade à base da mentira e da demagogia a fim de caçar votos, já que as sondagens que encomenda traduzem que o seu partido está a descer nas intenções de voto. Quer acima de tudo aparecer nas televisões diariamente por dá cá aquela palha. Quer dar a entender que está a lutar contra a corrupção quando devia olhar para o interior do seu próprio partido. Sabemos que a situação na Europa, e Portugal não é excepção, está a ser influenciada por forças fascistas que financiam partidos neofascistas, como acontece com os muitos milhões de dólares que Elon Musk oferece aos partidos de extrema direita.

No debate parlamentar sobre segurança, Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, colocou o dedo na ferida do Chega e afirmou que “A criminalidade violenta não está a crescer e é inferior à registada há dez anos. Todos os dados recusam uma relação entre imigração e criminalidade e ainda assim o Governo acha que pode instrumentalizar a polícia em megaoperações-fetiche para combater uma suposta relação entre imigrantes e criminalidade.” Ora aqui está o busílis de toda esta discussão. Enquanto a esquerda política indica que não existe culpabilidade por parte dos imigrantes na criminalidade registada, a direita apenas pretende arrasar com os imigrantes e culpá-los de toda a violência registada em Portugal. No entanto, a pior e vergonhosa atitude de André Ventura é a perseguição deplorável à raça cigana, quando quer desconhecer que já temos no nosso país um vasto número de ciganos na advocacia, na engenharia, na enfermagem, na mecânica, na hotelaria e no comércio de porta aberta.

Portugal tem de mudar. É certo. Mas a mudança tem de ser democrática e em defesa essencialmente da liberdade, devendo existir uma luta constante contra o regresso do fascismo.

14 Jan 2025

A esperança não morre

Diz o povo que a esperança é a última coisa a morrer. A esperança dos portugueses neste novo ano de 2025 é a única particularidade que lhes resta. Esperança que o país mude em muitos aspectos da sua vida social, económica e política. Sempre que um novo ano tem início não há ninguém que não deseje aos seus familiares, amigos e conhecidos votos de melhores dias. É isso que se aguarda este ano, apesar de o panorama ser um pouco indecifrável.

A política tem de ser concreta, essencialmente visando os muitos milhões de cidadãos que vivem ao nível da pobreza. A comunicação social tem informado que neste desiderato existem aproximadamente quatro milhões de portugueses pobres. É muitíssimo. É mais que um terço da população global. E os políticos parece que têm de mudar a graduação dos óculos. Dá a ideia que as habitações sociais, as casas para estudantes, as reformas dignas, os transportes públicos, os lares de idosos, as creches, os jardins infantis, as condições de trabalho de médicos, enfermeiros e bombeiros são factos concretos e problemáticos que podem ficar para as calendas. Não podem. Neste 2025 têm de pensar no nível de pobreza que referimos.

Têm de ajustar o Orçamento do Estado para benefício de quem mais precisa. Têm de apoiar as médias e pequenas empresas para que o desemprego diminua e o rendimento aumente para que o país tenha maior riqueza. Preocupa-nos ao constatar que a decisão governamental está virada para um aeroporto em Alcochete que poderá custar aos portugueses dezenas de milhares de milhões de euros. Milhares de portugueses nunca irão ver esse aeroporto e muito menos utilizá-lo, pois, anunciam a sua inauguração para 2040.

É preocupante que o Governo esteja preocupado essencialmente com um TGV entre Lisboa e Badajoz, com um TGV entre Lisboa e o Porto, com um TGV entre o Porto e Vigo. Preocupado no encerramento do Autódromo do Estoril a fim de ali construírem imóveis de luxo para os novos residentes norte-americanos e virado para obras megalómanas que em nada beneficiam o país real e todos aqueles que vivem no interior abandonados à sua sorte. O Governo tem gasto milhões de euros que envia para a guerra na Ucrânia, mas os bairros de lata pululam por todo o lado.

Não se constrói um conjunto de edifícios que sirva com dignidade a reinserção dos jovens toxicodependentes, não se constrói creches para crianças cujos pais não podem pagar as existentes que nem têm mais vagas, não se constrói residências para estudantes universitários quando assistimos à exploração inaudita de se alugar um quarto sem casa de banho, em Lisboa, por 700 euros, não se resolve de uma vez por todas o problema das mulheres grávidas que continuam sem saber onde irão ter o parto com a agravante de agora serem obrigadas a telefonar para o serviço de saúde sempre que sintam qualquer sintoma, não se resolve o problema dos bombeiros sapadores desprezados há mais de 22 anos.

A lista é enorme. O novo ano de 2025 não pode servir para os políticos apenas se preocuparem com as eleições autárquicas deste ano e com as presidenciais no início de 2026. Sobre as eleições presidenciais o mundo da política enlouqueceu como em crónica anterior já vos falei. As televisões passam o tempo a criar nomes de candidatos a Presidente da República.

Mas, que interesse tem isso para o bem do povo? Nenhum. O povo quer é comer, quer preços mais baixos nos supermercados, quer comprar os combustíveis mais baratos, quer que os seus filhos não emigrem, quer reformas com o mínimo de dignidade. Sobre este último facto, aconteceu que um amigo que vive no Luxemburgo há 25 anos não acreditava que em Portugal houvessem reformas de 150 euros. É chocante e perturbador ouvirmos um compatriota que trabalha num país da Europa dizer-nos que Portugal é uma miséria.

Em 2025 algo de muito substancial tem de mudar. Não podemos assistir a decisões como a escandalosa, mesmo a terminar 2024, que nos caiu nos escaparates, com o primeiro-ministro a nomear um secretário-geral do Governo que iria receber um salário de 16 mil euros por mês. A opinião pública revoltou-se nas redes sociais e alguns comentadores televisivos vieram a terreiro condenar tal decisão.

Obviamente que se tratava de algo chocante para a maioria dos portugueses. Neste sentido, os deputados na Assembleia da República têm a obrigação de aprovar legislação em que o maior salário seja o do Presidente da República, seguido dos salários para o primeiro-ministro, ministros, secretários de Estado e deputados.

A partir daqui mais nenhum funcionário do Estado poderá receber mais que as personalidades mencionadas. Tem de existir senso comum na gestão da cousa pública. Tem de haver exemplos que venham de cima e não deixar a maioria dos portugueses a sofrer sem qualidade de vida e a pensar que só se governa para os ricos.

Na semana de Natal de 2024 tomámos conhecimento de um casal que ficou desempregado e a solução que teve foi a venda da sua casa e ir com dois filhos menores residir para casa dos pais. Não, assim o país não pode continuar. O povo português é trabalhador, é generoso, é solidário, mas tem de merecer dos seus governantes que numa passagem de um ano velho para um ano novo, os votos de feliz Ano Novo não passem de uma balela.

6 Jan 2025

2025 melhor

Hoje termina este 2024. Os portugueses só desejam que 2025 seja muito melhor. O ano que agora finda não deixa muitas saudades. Em muitos aspectos. Tivemos um Portugal cheio de episódios que em nada valorizaram a qualidade de vida das populações.

Alguns episódios até degradantes como aquela história da cunha do Presidente da República para que umas gémeas brasileiras passassem à frente de outras crianças portuguesas para serem alvo de uma cirurgia que custou mais de quatro milhões de euros e que até provocou uma Comissão de Inquérito Parlamentar, onde se assistiu às maiores mentiras, desculpas de mau pagador, bodes expiatórios e surpresas nas hostes políticas. Um pouco de tudo aconteceu neste cantinho à beira-mar plantado.

Não podemos esquecer antes de mais que passámos a ter um novo governo de direita que em nove meses só tem feito propaganda eleitoral, sempre com o receio que venham aí eleições antecipadas. Caiu um governo de maioria absoluta por causa de um parágrafo num comunicado do Ministério Público que anunciava que o primeiro-ministro António Costa estaria sob investigação.

E o que fez o Presidente da República? Simplesmente aceitou a demissão de um chefe do Executivo que não foi acusado de nada e que até hoje nada se sabe sobre que crime terá cometido. De concreto foi a ida de António Costa para um cargo de grande prestígio como o de presidente do Conselho Europeu. Um governo formado pelo PSD, que obteve o mesmo número de deputados que o Partido Socialista, e por um partido do táxi, como é o CDS. Este governo tem tido uma grande preocupação e, nesse sentido, tem levado a cabo um trabalho incessante: substituir todos os presidentes de institutos, directores de instituições importantes, como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Serviço Nacional de Saúde, que tinham sido contratados pelo anterior governo.

Não interessa se as personalidades são competentes ou não, o importante é arranjar “tachos” para os amigos da mesma cor política. Dirão os leitores que todos os governos fizeram o mesmo, mas nunca como neste 2024 sob a batuta de Luís Montenegro. Simples exemplo: António Costa não substituiu Pedro Santana Lopes na gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Eleições antecipadas que nos trouxeram uma surpresa negativa: a eleição de 50 deputados para o parlamento nacional de um partido neofascista.

A fuga de Vale de Judeus deixou Portugal vergonhosamente nas bocas do mundo, tendo fugido cinco criminosos dos mais perigosos a nível nacional e internacional. Uma fuga que ainda faz correr muita água por baixo da ponte porque não se compreende como é que um presídio daquela importância nem tina em funções um director. Não se compreende como é que todos os reclusos tinham telemóveis, como é que um dos fugitivos foi pacatamente ao ginásio da cadeia buscar uma escada e transportou-a até ao muro da fuga.

Não se compreende ainda por que razão acabaram com as torres de vigia no estabelecimento prisional e muito menos há compreensão para o facto de apenas estar um vigilante a controlar todas as câmeras de vídeo. O certo é que a imagem da segurança em Portugal ficou na rua da amargura.

Não podemos deixar de referir os incêndios de Setembro onde, mais uma vez, tudo esteve descontrolado, com vidas em perigo e dezenas de casas de famílias completamente ardidas. Afinal, para que servem os milhões de euros gastos na protecção civil?

Feio, muito feio e triste, foi o facto de os “senhores” técnicos do INEM terem entrado em greve e o que aconteceu? 11 mortos por falta de socorro. Um caso revoltante que deixou os portugueses preocupados com o futuro do INEM. Lamentavelmente chegou-se já a falar em privatizar o instituto, o que seria um erro político de palmatória.

Não podemos deixar passar em claro nesta resenha do que tivemos em Portugal durante o ano de 2024, o lamentável acontecimento em alguns bairros de Lisboa após um agente da polícia ter disparado a matar contra um morador negro. A partir desse momento foi o caos: caixotes de lixo e dezenas de pneus incendiados, paragens de autocarros destruídas, dezenas de carros incendiados e para cúmulo do descontrolo policial até assistimos que uns energúmenos atirassem um coquetel Molotov para o condutor de um autocarro da Carris que o levou quase à morte, tal a gravidade dos ferimentos por queimaduras.

O inacreditável passou-se neste ano em que se comemorou os 50 anos do 25 de Abril. Uma data histórica em que nos foi devolvida a liberdade. Assistiu-se a uma acção policial completamente descabida no Martim Moniz, em Lisboa, onde foram encostados à parede dezenas de cidadão imigrantes, ao bom estilo nazi, e no final encontraram uns gramas de haxixe e um canivete… afinal, para quê anunciar que vivemos num país democrático que cumpre a Carta dos Direitos Humanos?

Muitos, muitos episódios haveria por descrever, mas o mais importante é que o povo velho e jovem continua sem uma casa para habitar, continuam os estudantes que terminam o seu curso a emigrar, continuam as reformas miseráveis cujo aumento anual de algumas determinado pelo Governo é de apenas sete euros…, continua a corrupção a alto nível e nos mais diversos quadrantes da política e da vida empresarial, continua a caça à multa dos automobilistas, uma forma de o Governo arrecadar mais uns milhões de euros extra, sendo ao fim e ao cabo mais um vector de impostos indirectos, continuamos a ter um combustível caro, os preços nos supermercados a aumentar todas as semanas e, no fim, Luís Montenegro, na sua primeira mensagem de Natal como primeiro-ministro só soube querer convencer os portugueses que estamos a caminho do paraíso.

Portugueses, não! Inacreditavelmente Montenegro na sua mensagem nem uma palavra dedicada aos milhões de portugueses que vivem no estrangeiro. Ignóbil.

Bem, não vos entristeço mais e apenas dizer-vos que antes de partir até às Beiras para passar com familiares a mudança de um ano velho para ano novo, quero desejar a todos os amigos leitores deste grande jornal um ano de 2025 com muita saúde, prosperidade e felicidade. Em chinês diríamos Kung Hei Fat Choi…

31 Dez 2024

Fartaram-se!

Fartaram-se! Os bombeiros sapadores fartaram-se de ser desprezados durante 22 anos. Mulheres e homens profissionais municipalizados em todo o país puseram e põem em risco a vida no incêndio do Chiado, nos vários incêndios em prédios degradados, em florestas abandonadas, em fábricas de indústria perigosa.

Receberam o aplauso e a presença das autoridades nos funerais. Nada mais. Depressa essas mesmas autoridades nunca se preocuparam com o salário miserável ou com o subsídio de risco não existente para os bombeiros sapadores. Estas mulheres e homens são considerados pelo povo como “heróis”, como “soldados da paz”.

Defendem todos quantos portugueses se encontram em situação grave de perigo de vida. Muitos têm dado a vida a combater os mais diversos incidentes. Os bombeiros sapadores reivindicam acertos salariais para compensar o aumento da inflação, conforme foi atribuído às demais carreiras da Função Pública. Exigem ainda a regulamentação da carreira, onde sejam contemplados os suplementos de risco, penosidade e insalubridade, bem como a disponibilidade permanente, em percentagem e à parte do vencimento base.

Há dias, o acontecimento nacional foi a marcha de centenas de bombeiros sapadores a caminho da sede do Governo, porque realizava-se ali uma reunião entre o secretário de Estado da tutela e os sindicatos representativos dos sapadores. A marcha e a manifestação em redor da sede do Governo, no Campo Pequeno em Lisboa, não foi violenta e não passou da normalidade que se tem assistido com manifestações anteriores de outras profissões. Podemos discordar que os sapadores bombeiros não deviam tem lançado petardos e tochas.

No entanto, não foi razão para ditatorialmente o Governo cancelar de imediato a reunião com os sindicalistas alegando falta de segurança. Só para rir. Falta de segurança num edifício rodeado de polícia de choque? Os governantes em reunião nem sequer ouviram o ruído e as palavras de ordem lançadas pelos manifestantes, porque o edifício onde funciona agora o Governo, antiga sede da Caixa Geral de Depósitos, tem todo ele vidros duplos. Os governantes, incluindo o primeiro-ministro apenas tomaram conhecimento do que estava a acontecer através dos canais de televisão. Mais absurdo, foi Luís Montenegro ter afirmado que não haveriam mais reuniões com os representantes dos bombeiros sapadores devido ao ambiente de coacção junto da sede do Governo. Caricata atitude governamental que só dá razão aos sapadores quando afirmam que são desprezados há 22 anos.

Se os médicos e enfermeiros fazem greves, imaginemos uma greve indefinida por parte dos bombeiros sapadores. Como dizia um dos cartazes dos manifestantes: “Está a arder? Chamem os políticos!”. Um incêndio na baixa de Lisboa ou na Ribeira do Porto, com os sapadores em greve não será uma tragédia? O Governo não entende que esta classe profissional arrisca a vida durante 24 horas de serviço pelo bem da população? Uns miseráveis aumentos de vencimento e de subsídio de risco irá afectar o Orçamento do Estado quando se enviam centenas de milhões de euros para a guerra na Ucrânia?

Uma coisa é certa. Mesmo com petardos e tochas para melhor chamar a atenção, o povo português está ao lado dos sapadores bombeiros por se tratar de uma luta justa. E não venha cá o partido populista Chega tentar aproveitar-se desta luta para caçar votos, como já o tinha feito com os polícias. O Chega apenas está desesperado politicamente após ter colocado tarjas propagandísticas nas janelas da Assembleia da República, património nacional e não património do Chega. Por estas e outras, os radicais de direita apresentam nas últimas sondagens um resultado que lhes provoca esse desespero de apenas anunciarem baboseiras contra a democracia.

Os últimos resultados de um inquérito nacional apresentam o Chega com apenas 12 por cento das intenções de voto dos portugueses.

É importante que o Governo faça marcha-atrás e regresse à mesa das negociações com os representantes dos bombeiros sapadores, mas não para mais uma conversa da treta. Tem de ser uma reunião que resolva as reivindicações desta classe profissional que trabalha no socorro da população portuguesa.

Infelizmente, passado mais de uma semana e os governantes continuam a afirmar que as negociações reiniciam-se quando não existir pressão ao redor da sede do Governo por parte dos bombeiros sapadores. Demagogia política. Os bombeiros têm estado pacificamente a aguardar uma solução para a sua situação. Após um desprezo de 22 anos, será que a ineficácia governamental irá continuar? Esperemos que não.

P.S. – Lamentavelmente não está prevista em Portugal qualquer cerimónia oficial ou oficiosa ou mesmo um jantar comemorativo das bodas de prata da transferência de Macau de Portugal para a China.

16 Dez 2024

Leilão de candidatos presidenciais

A política é sem dúvida o refúgio de quem deseja ser poder, de quem pretende seguir uma carreira rentável, de quem aproveita o oportunismo e a ganância por dinheiro, de quem sobrevive com a corrupção, de quem afirma servir o povo sem sequer se preocupar com as suas dificuldades, de quem sonha em ser governante nacional, regional, deputado, eurodeputado e Presidente da República. É sobre este cargo que durante a semana passada não se falou em outra coisa nos canais televisivos e alguns jornais. De que modo? Falando de putativos candidatos ao cargo de Chefe do Estado.

Isto, quando teremos eleições presidenciais em Portugal só em 2026. A data é longínqua, mas os políticos com a enorme antecipação resolveram já iniciar toda a sua influência magistral nas mentes dos possíveis eleitores sobre o melhor candidato a suceder a Marcelo Rebelo de Sousa. Mais uma vez, assistimos a uma luta política, mais psicológica que prática, na tentativa de influenciar uma decisão futura do eleitorado.

Vejamos o inacreditável posicionamento das mais variadas fontes de informação sobre a matéria. Até ao momento, o cenário é quase caótico quanto aos nomes de possíveis candidatos ao cargo de Presidente da República. Para a praça pública já foram “atirados” os mais diversos nomes de personalidades conhecidas do eleitorado. António Guterres, Luís Marques Mendes, Rui Rio, Leonor Beleza, Pedro Passos Coelho, Rui Moreira, Pedro Santana Lopes, Carlos Moedas, Paulo Portas, José Pedro Aguiar-Branco, José Manuel Durão Barroso, António José Seguro, Mário Centeno, Carlos César, Augusto Santos Silva, Ana Gomes, António Filipe, António Vitorino, Marisa Martins, Henrique Gouveia e Melo e até André Ventura.

Afinal, o que leva a política a enveredar pelo lançamento de tantos nomes como candidatos a ocupantes do Palácio de Belém, se em análise profunda, se pode concluir que alguns dos nomes lançados não passam de políticos que se limitaram a desprezar o povo? Recordamos, por exemplo, o nome de Pedro Passos Coelho, que foi primeiro-ministro e que retirou benefícios aos pensionistas, que terminou com o subsídio de férias e de Natal e que levou a cabo uma política que desgostou a maioria dos portugueses. O que é que este senhor podia fazer no cargo de Presidente da República? Quanto a nós, nada. Ou simplesmente apoiar incondicionalmente um governo do Partido Social Democrata.

O que seria eleger Marques Mendes, um porta-voz de Cavaco Silva e de Luís Montenegro, que se tem limitado a exercer comentários na televisão mais díspares e disparatados com um único vector político, o da cor de quem ocupa actualmente o poder executivo. Para que serviria um Presidente chamado Mário Centeno, se teve a pouca vergonha de passar directamente de ministro das Finanças para o maior “tacho” que existe no nosso país, que é o cargo de Governador do Banco de Portugal.

Para quê lançar o nome de Carlos César, se no Partido Socialista existe uma facção quase maioritária preconceituosa relativamente a quem não é “doutor”. E nesse particular, justiça seja feita a Carlos César que sempre teve a humildade de esclarecer toda a gente que não é “doutor”. A que propósito Pedro Santana Lopes já admitiu que poderia vir a posicionar-se para eleições presidenciais? Se Pedro Santana Lopes foi o pior primeiro-ministro da história governamental em democracia e a sua passagem pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa está repleta de interrogações de índole obscura? Surpreendente é a nova vontade de Marcelo Rebelo de Sousa em indirectamente ter lançado o apoio a Carlos Moedas, depois de ter concedido apoio esporádico a Marques Mendes para andar na berlinda das presidenciais.

Carlos Moedas? Um engenheiro que na Câmara Municipal de Lisboa apenas tem degradado a cidade em vários aspectos e que nem sequer ainda apresentou – publica e juntamente com outros intervenientes, ditos investidores – as contas globais gastas no Encontro Internacional da Juventude, com a presença do Papa Francisco. Como é que alguém tem a ideia descabida de propor certos nomes para chefiarem a Nação e as Forças Armadas, num tempo muito especial, em que ainda é uma incógnita se a guerra na Ucrânia se estende à Europa.

Amigos leitores, o que apetece escrever é que se realize um leilão… é verdade, juntavam-se todos estes nomes numa taça de prata e leiloavam-se os candidatos e quem desse mais dinheiro pela escolha de um nome entre os nomes avançados, teria direito a anunciar o novo Presidente da República, mas, o dinheiro recolhido teria de ser entregue a uma instituição de caridade.

Obviamente que os leitores dirão que isto não passa de algo absurdo. Obviamente. Contudo, com a caricata atitude de certos fazedores da opinião pública em lançar para o ar os mais variados nomes de possíveis candidatos a Presidente da República, só nos resta fazer humor… Rir com tudo isto, para não chorarmos pelo ponto degradado a que chegou a política portuguesa.

2 Dez 2024

Corrida para a morte nas estradas

Ainda bem que em Macau o trânsito é caótico e que apenas em Coloane se pode acelerar o carro um pouquinho. Em Portugal as estradas e autoestradas estão transformadas em cemitérios primários. Os acidentes rodoviários acontecem todos os dias.

Meus amigos, pelas mais diversas razões. Comecemos pela aprendizagem. Nas escolas de condução não é prestado um ensinamento seguro para se poder pegar num volante de automóvel. Nas lições de condução não se ensina um futuro condutor a levar o carro até à velocidade máxima permitida e controlar o veículo em travagem a fundo em caso de necessidade, como se na estrada se atravessasse uma pessoa ou um animal. Não se ensina um condutor a aprender o mínimo, que é saber fazer um pião à base do travão de mão, em caso de um obstáculo que apareça na frente do condutor.

Não se ensina a conduzir de noite e os futuros utilizadores das estradas não aprendem a usar os faróis mínimos, médios e máximos. Não se convencem os aprendizes de condução automóvel que é uma falta muito grave, com apreensão de carta, pisar um risco contínuo, quanto mais dois riscos contínuos como acontece em muitas das estradas portuguesas.

Depois, temos as mafias organizadas que vendem cartas de condução automóvel a troco de bom dinheiro. Esses condutores passam a ser os verdadeiros criminosos da estrada. Não sabem o código, não sabem guiar e em muitos casos, o papá oferece-lhes carros de topo de gama e eles e elas carregam no acelerador até embaterem numa árvore ou num camião e as ambulâncias levá-los para as morgues dos hospitais.

Não existe falta de segurança nas estradas, o que existe são homicidas e suicidas ao volante de “bombas” que atingem mais dos 200 km/hora. Os jovens que acabam de receber a carta de condução deviam exibir no seu carro uma placa com um “P”, de praticante, e durante dois anos deviam apenas poder andar a uma velocidade máxima de 90 km/h.

O número de mortos e feridos graves nas estradas de Portugal é triste e assustador. Só para terem uma ideia, mais de 123 mil acidentes rodoviários ocorreram nas estradas portuguesas este ano, provocando 442 mortos e 2279 feridos graves, sem que posteriormente alguém informe dos 2279 feridos graves quantos vieram a falecer.

Portugal, entre 32 países analisados, está entre os seis países com mais mortes nas estradas. O nosso país regista uma subida de 1,5 por cento no número de vítimas mortais em acidentes rodoviários em 2023, face ao ano anterior e ainda não há dados finais de 2024 comparando com 2023, mas um oficial da GNR transmitiu-nos que os acidentes mortais aumentaram de certeza.

Uma outra razão grave para esta tragédia nas estradas é o vinho ou outra qualquer bebida alcoólica. Todos sabemos que Portugal é um grande produtor de vinhos e que o português gosta de em viagem parar num bom restaurante. E o que acontece? Poucos são os condutores conscienciosos que se inibem de beber vinho à refeição, e alguns em exagero, seguem para a estrada sob o efeito do álcool. E este efeito é tenebroso porque transmite ao condutor enganosamente que está cheio de forças e de reflexos para conduzir.

É precisamente o contrário. Sob o efeito do álcool os reflexos diminuem e em alguns casos chegam a zero. Daí, muitos condutores bem bebidos, ultrapassarem numa lomba e morrerem; acelerarem demasiado numa curva e acabarem com a vida contra uma árvore; ultrapassarem um camião sem se darem conta de que o álcool diminuiu-lhes a visão e que outro camião, em sentido contrário, estava muito mais perto do que o condutor imaginou. Obviamente que o embate frontal leva à morte de toda a família que ia no interior do veículo.

No entanto, existiria uma forma de diminuir o número de acidentes mortais nas nossas autoestradas. À semelhança do que acontece na Alemanha, quando uma autoestrada tem três faixas de rodagem devia ser decretado pelo Governo que a faixa da direita era para camiões, a faixa do meio somente para carros em velocidade limitada aos 120 km/h e a faixa da esquerda sem limite de velocidade.

Mas, nenhum carro seria permitido rolar na faixa da esquerda a 120 km/h ou menos. Ser-lhe-ia de imediato retirada a carta de condução. Isto, porquê? Porque o mercado permite a venda de Ferrari, Lamborghini, Aston Martin, Bugatti, Porsche e tantos outros, carros que só estragam a sua mecânica ao rolarem a 120 km/h, que é o limite nas nossas autoestradas.

O mais importante é que a Segurança Rodoviária mude completamente o sistema de ensinamento da condução automóvel nas chamadas “escolas”. Sem uma mudança radical, incluindo pôr os instruendos a aprenderem a conduzir em pisos molhados com bidons sequenciais que os obriguem a conduzir aos esses sem perder o controlo do carro. Parecem pormenores sem importância, mas que são vitais para que diminuam as mortes nas nossas estradas. Um oficial superior da GNR informou-nos que 70 por cento dos condutores em Portugal não deviam ter sido licenciados para conduzir. Um panorama de lamentar e sem solução à vista.

25 Nov 2024

11 mortos sem importância

Ai, Portugal, Portugal onde acontece tudo o de mais inacreditável referindo apenas os aspectos sociais e políticos. Morreram 11 portugueses por alegada falta de socorro do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Custa a acreditar, não custa? Mas foi o caso mais grave e mais triste da semana passada neste jardim mal plantado à beira-mar.

O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar, uma profissão que inventaram e que não é carne nem peixe, ou melhor, esses técnicos não são enfermeiros nem médicos – mas alguns têm raiva aos enfermeiros -, só porque aprenderam a executar os primeiros socorros quando uma ambulância se dirige a um paciente que esteja mal de saúde num acidente rodoviário, em casa à beira de um ataque cardíaco ou noutra situação qualquer incluindo confirmarem a morte do socorrido, resolveram reivindicar o pagamento das horas de trabalho extra e, vai daí, decidiram fazer uma greve, como se moralmente os enfermeiros, médicos e técnicos de saúde devessem ter o direito à greve, quando está em causa a vida das pessoas.

E não venham com a conversa da treta dos serviços mínimos. Foi por causa dos serviços mínimos que morreram 11 portugueses sem socorro de emergência. Como assim? Passo a explicar: o referido sindicato enviou para o presidente do conselho de administração do INEM, para a secretária de Estado da Saúde, para a ministra da Saúde e para o Gabinete do primeiro-ministro um aviso de pré greve às horas extraordinárias, que são imensas.

Todas as entidades que receberam o pré-aviso de greve não ligaram nenhuma ao assunto, tomaram conhecimento e assobiaram para o lado. No dia da greve começaram a chover centenas, ou mais, de telefonemas oriundos dos mais diversos locais do país a pedir o habitual socorro do INEM. Mas, os tais serviços mínimos não tinham sido accionados e neste ponto, em nosso entender, a culpa não é só das autoridades avisadas, mas também do sindicato. As senhoras e senhores técnicos de emergência pré-hospitalar tinham a obrigação de ser humanistas e pensarem que estava em causa uma única coisa, a vida dos portugueses.

Obviamente que sem serviços mínimos não haveria socorro e os pedidos de emergência clínica chegaram a ter uma resposta entre meia hora e duas horas, acabando por morrer 11 portugueses alegadamente devido à causa efeito da greve dos técnicos do INEM. Permitam-me um parêntesis apenas para vos dizer que ainda me recordo que todas as ambulâncias do INEM em socorro tinham uma equipa constituída pelo motorista, que algumas vezes era assistente de enfermagem, um médico e um enfermeiro.

Depois, devido à falta de médicos e de enfermeiros, formaram estes técnicos que chegam ao local onde se encontra o doente ou sinistrado, medem a tensão arterial, fazem algumas perguntas ao doente quando este pode falar, registam toda a situação que encontraram num computador e transportam o doente para a ambulância e vão a caminho do hospital mais próximo.

Voltando ao grave acontecimento de 11 mortes por alegada culpa de uma greve de técnicos do INEM e de políticos incompetentes, saliente-se que está tudo preparado para que a culpa morra solteira. O primeiro-ministro pouco ou nada disse sobre o caso, aliás, disse que não podia haver uma ambulância em cada prédio… que horrível para um chefe do Executivo.

A ministra da Saúde quando toda a gente começou a exigir a sua demissão foi à Assembleia da República pronunciar umas baboseiras, entre elas, que não se demitia porque não mentia, não se escondia e que ia assumir a total responsabilidade e a pasta do INEM. Houve deputados que riram para não chorar.

A secretária de Estado da Saúde ficou de boca aberta quando soube pela televisão que tinha ficado sem a tutela do INEM, ficando absolutamente fragilizada politicamente e, nem assim, pediu a demissão do cargo. O presidente do INEM, o quarto presidente do INEM nomeado pela ministra desde que o Governo tomou posse, nem sabia o que dizer aos jornalistas, para além de mais parecer um “menino de copo de leite”…

E o sindicato que foi para a greve e que provocou alegadamente a morte de 11 portugueses por falta de socorro médico? Bem, o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar é um caso sui generis. Em primeiro lugar, nunca tinha visto uma entidade sindical a louvar uma ministra. Afinal que raio de sindicato é este politicamente? Defende os seus trabalhadores, a greve ou um governo de direita com aliados da extrema direita? Mas que raio de sindicalismo é este? Ou os sindicatos agora têm cada um a sua cor de política partidária? Este sindicato, depois dos factos graves que vos descrevi, louva a ministra e atira as culpas para a secretária de Estado. Coisa feia e inadmissível para uma instituição que apenas devia defender os direitos dos trabalhadores. Um presidente de sindicato que aparece nas televisões de fato e gravata como se fosse um ministro e a “explicar” o que ninguém entende…

E afinal, de quem é a culpa das 11 mortes sem socorro? A secretária de Estado da Saúde, ao tirar a água do capote, teve o desplante e a pouca vergonha de afirmar que a culpa era do anterior Governo… Ai, Portugal, Portugal ao que chegámos. Então a senhora está a governar há mais de oito meses, mandou embora outros presidentes do INEM e a culpa da falta de socorro em Novembro de 2024 é do Governo de 2023? Absurdo, para não lhe chamar um nome feio. Resumindo: a ministra terminou a semana dizendo que terá de se aguardar pelo resultado dos inquéritos que decorrem sobre as 11 mortes dos portugueses sem socorro, quando todos sabemos que normalmente a abertura de um inquérito tem a intenção de fazer esquecer o assunto grave acontecido e deixar passar um qualquer resultado sentencioso para as calendas. Neste particular, recordando que a ex-ministra da Saúde, Marta Temido, se demitiu quando morreu uma mulher grávida num hospital por alegada assistência negligente, resta dizer-vos que estamos absolutamente convencidos que a culpa irá morrer solteira e os 11 mortos para toda esta gentinha não tiveram qualquer importância…

P.S. – O Governo nem sequer se pronunciou sobre eventuais indemnizações aos familiares das vítimas por falta de socorro estatal.

18 Nov 2024

Por favor

Por favor, amigos leitores, regozijem-se por ler este diário dirigido pelo jornalista e escritor de excelência Carlos Morais José. Recebo diariamente o jornal em PDF e posso dizer-vos, sem sombra de dúvidas, que é o melhor jornal em língua portuguesa. Graficamente não conheço melhor no panorama nacional e internacional em língua portuguesa. Um jornal com o conteúdo literário e de uma paginação muito apelativa. Escrevo estas linhas porque em Portugal a imprensa escrita, e mesmo a comunicação em geral, está pelas ruas da amargura. Temos diários, semanários e revistas. Todos essas publicações têm vindo a degradar o seu conteúdo e aspecto gráfico. O jornalismo tem de ser uma profissão nobre, de liberdade, de competência e transparência.

No nosso país temos vindo a assistir a um negativismo jornalístico em todos os aspectos. Os jornalistas jovens acabam os cursos de duvidosa qualidade e aceitam as condições mais que precárias para ingressarem nos jornais, nas televisões e nas rádios. Na imprensa o visionamento é cada vez mais desinteressante. Os jovens jornalistas não têm um conhecimento profundo do que aconteceu desde o 25 de Abril de 1974, não têm um acervo da história sobre os acontecimentos decorridos ao longo de 50 anos de democracia nem sabem o que de bom deixaram a Portugal diversas personalidades como Palma Carlos, António Spínola, Costa Gomes, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Magalhães Mota, Pinto Balsemão, Ramalho Eanes, Mário Soares ou Álvaro Cunhal. Quando precisam, abrem a wikipédia e lêem o que por vezes é absolutamente deturpado e insuficiente, para se poder escrever com conhecimento de profundidade.

O semanário Expresso tem vindo a perder leitores, ano após ano, e algumas vezes a própria manchete é um tema que já é do conhecimento de todos. O Diário de Notícias vive momentos de interrogação sobre o seu futuro, tal como os órgãos de comunicação social do grupo económico que nem paga os salários a tempo e horas. O Público foi o diário de referência, hoje é uma banalidade de mau jornalismo. O Jornal de Notícias era o menino querido do norte do país, e nos dias de hoje as gentes do norte compram o Correio da Manhã. Correio da Manhã que é um chorrilho de páginas dedicadas ao crime, aos casos passionais, à vida dos pimbas e, pelos vistos, os potenciais compradores é disso que gostam porque o jornalismo português global baixou muito de qualidade e nunca se preocupou em diminuir o número de analfabetos em política, em história e em cultura.

O semanário Tal&Qual reapareceu, mas apresenta um populismo de bradar aos céus, sem o mínimo de credibilidade noticiosa. O i era o diário com mais impacto gráfico e com qualidade jornalística, não aguentou e hoje apenas se publica às terças-feiras. O Sol é um porta-voz do Governo, vale pela qualidade de alguns cronistas. No aspecto político toda a imprensa gere-se pela mesma batuta: há que agradar ao Governo. Estamos certos que Luís Montenegro, chefe do Executivo, espalha a sua propaganda política por todos os jornais a troco de financiamento aos patrões dos grupos de comunicação social. Um facto, que demonstra bem que a linha editorial das publicações é mera apoiante de quem está no poder. E já não falamos dos jornais e rádios regionais, que sem dinheiro, apresentam uma falta de qualidade jornalística impressionante e uma musicalidade quase total de timbre pimba.

Os jornalistas com quem temos contactado trabalham frustrados. Chegam ao ponto de investigar e escreverem textos de grande interesse e deparam-se com a “ordem” das chefias de que esses trabalhos não podem ser publicados porque vão colidir com os interesses de quem financia os jornais. O jornalismo tem acima de tudo de ser regido sobre o símbolo da liberdade de expressão. Sem liberdade não existe jornalismo sério e apelativo.

Por favor, amigos leitores, apreciem bem este diário e vejam a diversidade de temas, os colaboradores de enorme qualidade que deixam a sua sapiência nas páginas do jornal nos mais variados temas, como história portuguesa, história chinesa, política local, nacional chinesa, nacional portuguesa e internacional, sexologia, mudanças climáticas, obras literárias e outros temas de grande interesse. Sobre a cultura chinesa não existem páginas centrais, a cores, como as do HOJE MACAU e os leitores que em Macau e no estrangeiro leem o que é publicado, admiram-se como é que um diário de Macau consegue apresentar uma literatura cultural chinesa de tão grande envergadura.

Estas minhas palavras não se devem ao convite que me fez o ilustre director para vos enviar semanalmente umas linhas sobre o que se passa em Portugal. Não, com toda a sinceridade vos informo que estas linhas se devem apenas ao facto da tristeza que os portugueses que compravam jornais constatam que nos dias de hoje não vale a pena. As vendas, na verdade, têm diminuído assustadoramente. Há mesmo quem pense que daqui a poucos anos apenas haverá um diário e um semanário. É triste. Para onde vão os jornalistas que sonharam com a sua nobre profissão? Obviamente para o desemprego, para um qualquer escritório de advogados, para uma agência de comunicação, para um gabinete de imprensa de uma empresa poderosa ou para assessor de um ministro, de um secretário de Estado ou de qualquer grupo parlamentar da Assembleia da República. Um dos piores exemplos da derrota da imprensa e televisões portuguesas foi a última campanha eleitoral americana onde apresentaram até à exaustão Trump com o seu discurso de ódio e a desinformação em vez de fornecer ao público factos e rigor jornalístico.

Por favor, amigos leitores que possuem em Macau empresas, escritórios de advocacia, cargos de direcção na função pública, por favor, acreditem que devem dar todo o seu apoio em anúncios, a um diário como este de grande qualidade e que não pode deixar de estar na nossa companhia, para gáudio da língua e dos valores culturais portugueses em terras do oriente.

11 Nov 2024

Grande Lisboa a ferro e fogo

Violência e detenções em vários Concelhos

Quando nós éramos adolescentes já ouvíamos falar nos bairros da lata onde viviam em condições precárias muitos imigrantes das ex-colónias portuguesas. E recordo-me de o ‘Diário de Lisboa’ apresentar em manchete um título sobre a situação que dizia “Barril de Pólvora”. Passaram décadas e os bairros com gente oriunda de África pululam por toda a área metropolitana de Lisboa e da Margem Sul do Tejo. Na semana passada assistimos ao caos nas ruas de muitos Concelhos com actos de violência nunca vistos.

Até sábado passado foram cinco noites de tumultos. A “bolha” rebentou parque um agente da polícia disparou contra um homem negro e este morreu. De imediato levantou-se uma onda de revolta de certos grupos de imigrantes que vivem nesses bairros estigmatizados e degradados. Antes de mais, dizer-vos que os políticos portugueses deviam ter vergonha do espectáculo verbal ignóbil que têm levado a cabo. O partido neofascista Chega, pela voz de André Ventura teve o desplante de pedir que o agente policial que matou um cidadão fosse condecorado e o seu líder parlamentar afirmou que “se a polícia matasse mais teríamos mais ordem no país”. Os dois já foram alvo de uma queixa-crime de um grupo de cidadãos.

Só por isto, podemos concluir da provocação que André Ventura provocou para que os distúrbios alcançassem o inimaginável. Por outro lado, o Bloco de Esquerda defendeu que em Portugal existe racismo claro e que as Forças de Segurança sempre trataram com violência os cidadãos moradores nos bairros sociais. Toda a semana não se falou de outra coisa e até o Presidente da República se pronunciou dizendo alguns disparates, porque apelou à eficácia da polícia, como se a PSP nunca tivesse actuado em casos difíceis.

Os distúrbios violentos levaram ao roubo e incêndio de três autocarros da Carris, veículos que faziam uma falta enorme à maioria dos moradores desses bairros que diariamente tem de se deslocar para o trabalho e regressar a casa. Dezenas de automóveis ardidos, centenas de caixotes do lixo e mobiliário urbano foram queimados. Ouviram-se muitos tiros durante duas noites e as populações desses bairros viveram momentos de pânico. A situação durante três dias esteve completamente descontrolada. Nas redes sociais lemos apelos desses grupos com alguma índole de tom terrorista. Numa das noites informaram-nos que até no bairro de Campo de Ourique no centro de Lisboa estavam caixotes de lixo e paragens de autocarro a arder. Deslocámo-nos ao locar para confirmar. Deparámo-nos com alguns jovens, uns deles encapuzados, e a conversa foi tensa:

– Ouve lá ó cota, o que é que queres daqui?

– Vou apenas a passar para casa.

– Ouve meu, descola rápido… antes que leves uma facada!

– Calma, eu sou casado com uma senhora negra.

– Se é assim, tudo bem, nada de bocas e segue rápido para casa.

A violência foi muito grave. No bairro do Zambujal, na Amadora quando roubaram um dos autocarros esfaquearam três passageiros e em Loures ao pegarem fogo a outro autocarro deixaram o condutor a arder e está no hospital em estado crítico. Os directores da PSP tiveram um encontro com os jornalistas, mas pouco foi adiantado, a não ser que vão passar a ser mais duros. No entanto, deixo-vos uma informação em primeira mão a nível de toda a comunicação social portuguesa: a PSP na noite de quarta para quinta-feira passada conseguiu fazer abortar uma acção terrível onde certos grupos iriam destruir todas as montras das avenidas da Liberdade e de Roma, em Lisboa.

Para terem uma ideia da organização desses grupos violentos, os distúrbios verificaram-se nos bairros de Zambujal, Portela e Cova da Moura, na Amadora, em Odivelas, Camarate, Loures, Queluz, Carnaxide, Campo de Ourique, Massamá, Lumiar, Carnide, São Domingos de Rana, Oeiras, Sintra, Damaia, Cascais, Almada, Barreiro, Seixal e Costa de Caparica. Não temos dúvidas que à semelhança de França e de outros países com muita imigração, o problema social é muito grave e os governos têm descurado soluções mínimas para reduzir as precárias condições de vivência dessa gente.

Não chega o primeiro-ministro Luís Montenegro dizer que vai reunir com os autarcas e associações de moradores. O que o chefe do executivo devia fazer era sentar-se com o ministro das Infraestruturas e decidir que em todos esses bairros, onde chove dentro das casas, se irá restaurar as casas, criar jardins, parques infantis, creches, centros de saúde e imóveis para entretenimento, formação cultural e lazer. Esses bairros têm de ter dignidade e condições úteis para quem lá reside, especialmente para as crianças e adolescentes.

E vocês perguntarão: e com algo tão benéfico como se faz o tráfico de droga? Pois é, mas não podemos esquecer que o tráfico de drogas, de seres humanos, de armas e de tabaco faz-se em qualquer lado de qualquer cidade portuguesa, seja Lisboa, Porto, Coimbra, Évora ou Portimão. Para cúmulo de tudo isto foram autorizadas manifestações para o sábado passado ao Chega e aos moradores dos bairros com problemas para o mesmo local, o que poderia ter sido uma tragédia, mas uma das manifestações mudou o local.

O importante é mudar o paradigma miserável em que os imigrantes vivem e a pressão que sofrem constantemente pelas forças policiais e outras autoridades, mesmo no âmbito da Função Pública. O que não podemos negar é que em Portugal existe profundamente a prática de racismo.

28 Out 2024

140 estivadores despedidos estão na miséria

Antes de mais, permitam que vos transmita uma declaração de interesse: tenho uma enorme consideração por todos os estivadores, porque durante uma fase da minha vida em que fiquei desempregado apenas encontrei trabalho como estivador. Foram dois amos duros e amargos vividos no cais de Alcântara, em Lisboa. Sei bem da dureza e sacrifício da referida profissão.

Posto isto, venho escrever sobre uma situação em Portugal do mais triste e degradante que ninguém imaginaria. Em 2020 foram despedidos 140 estivadores no porto de Lisboa. Passados quatro anos esses estivadores e as suas famílias encontram-se na miséria. Tiveram de vender as suas casas, os seus carros e as poupanças terminaram. Os seus filhos têm passado as maiores dificuldades e os que já tinham ingressado na universidade tiveram de abandonar os estudos por impossibilidade financeira de continuarem os estudos. Conversámos com um dos despedidos.

Os estivadores despedidos e os vossos familiares manifestaram-se em frente à Assembleia da República.

Qual o principal motivo?

Nós encontramo-nos numa situação de miséria a vivermos de um subsídio irrisório da Segurança Social e outros nem isso, depois de terem acabado de receber o subsídio de desemprego. Exigimos que o Governo tome uma posição junto das empresas que operam no porto de Lisboa e que nos despediram no sentido de sermos reintegrados. Essas empresas ganham milhões de euros e nunca compreendemos a razão do nosso despedimento. Numa democracia como a nossa nem queremos acreditar no que nos foi confidenciado no sentido de que fomos despedidos porque éramos comunistas que podíamos promover greves reivindicando melhores salários. Isto, é infame e custa a acreditar.

Mas vocês não tinham equacionado acções em tribunal contra essas empresas?

Sim, os nossos advogados entraram com acções em tribunal, mas a nossa justiça é idêntica a um caracol…

Vocês têm vivido, segundo, diz a imprensa, com as maiores dificuldades.

Exacto. O senhor nem faz ideia como temos vivido. Da esmola de amigos e de alguns familiares, aqueles em que a família os pode ajudar porque há outros que a família não pode. Eu tive de vender a minha casa, o carro e um terreno que tinha perto de São Pedro do Sul. Com o pagamento do aluguer de uma casita e o sustento dos três filhos o dinheiro já se foi quase todo e até já tenho o pagamento de dois meses da renda em atraso. Não sei mesmo, eu e os meus camaradas, como poderemos viver mais nesta situação. Sei de alguns que comem por dia apenas sopa.

E conseguiram alguma resposta do Governo?

A nossa delegação e o nosso advogado já mantiveram reuniões com um membro do Governo e o que lhes foi dito é que o nosso problema vai ser equacionado.

É triste que 140 famílias estejam há quatro anos a serem esquecidas e desprezadas depois de um despedimento injusto e incompreensível. Após o despedimento destes 140 trabalhadores houve empresas portuárias que tiveram a desfaçatez de contratar novos trabalhadores, uma prova de que a razão do despedimento não era falta de dinheiro por parte das empresas. Por exemplo, as empresas PORLIS e ETE Prime contrataram 28 novos trabalhadores que foram reforçar o efectivo do Porto de Lisboa. Segundo Diogo Marecos, administrador da Sotagus, uma das sete empresas de estiva do Porto de Lisboa, duas empresas de cedência de mão-de-obra às empresas de estiva já contrataram cerca de 30 trabalhadores. A ETE Prime já contratou oito trabalhadores e a PORLIS assinou contratos de trabalho com 20 e pretende contratar mais 20. A pergunta que se faz é sobre a razão efectiva dos 140 despedimentos se estão a contratar outros homens para a estiva em substituição dos despedidos. Com uma agravante: os novos contratados não possuem experiência teórica e prática no exercício da estiva e têm de receber formação por uma empresa certificada para o efeito no Terminal de Contentores de Santa Apolónia, em Lisboa.

Por seu lado, o Sindicato dos Estivadores e Actividade Logística (SEAL) tem contestado os despedimentos, que considera ilegais e defende que o processo de insolvência da empresa que despediu os trabalhadores nunca esteve concluído, ao contrário do que têm alegado as empresas de estiva do Porto de Lisboa.

Enfim, o que está em causa é a situação degradante de 140 famílias que vivem em condições deploráveis e desumanas sem terem qualquer luz ao fundo do túnel, restando-lhes a esperança que o Governo, caso o Orçamento de Estado seja aprovado e que não haja uma crise política que leve o país para eleições antecipadas, possa fazer alguma coisa em benefícios destas centenas de portugueses que levaram uma vida numa das profissões mais duras e complexas.

P.S. – Tal como escrevemos aqui em crónica anterior em primeira mão, o Partido Socialista decidiu abster-se e viabilizar o Orçamento do Estado.

21 Out 2024

Orçamento de ping-pong

Há meses que não se fala em outra coisa que não seja sobre o Orçamento de Estado para 2025. Um Orçamento definido pelo governo da AD sob a batuta do primeiro-ministro Luís Montenegro.

Um Orçamento de Estado que tem merecido as críticas do Chega, da IL, do PS, do PCP, do Livre, do Bloco de Esquerda e até do PAN. Ou seja, toda a oposição ao Governo entende que este Orçamento de Estado não favorece a vida dos portugueses. Trata-se de um documento que tem sido alvo das maiores discórdias, especialmente nas áreas da saúde, educação, economia e habitação.

O primeiro-ministro começou por afirmar que estava aberto a negociações com os partidos da oposição no sentido de se viabilizar a aprovação das pretensões direitistas da AD. E as negociações começaram e as mais mediáticas foram, sem dúvida, as que decorreram entre Montenegro e o líder dos socialistas, Pedro Nuno Santos. Proposta para lá, proposta para cá, contra- proposta para lá, contra-proposta para cá e assim sucessivamente. Um autêntico jogo de ping-pong sem resultado final porque as raquetas têm-se partido…

Até ao dia de hoje não existe entendimento. O Governo cedeu um pouco às propostas dos socialistas, mas o insuficiente para haver um acordo. Os socialistas entendem que existem decisões orçamentais, tal como a descida do IRC para as empresas, que não têm qualquer lógica que possa melhorar a situação das empresas e dos trabalhadores. No entanto, entre os socialistas há uma divisão de opinião.

Alguns nomes sonantes do Partido Socialista, incluindo o próprio presidente Carlos César, entendem que o partido deve viabilizar o Orçamento para que o país não entre em crise política e não se vá para eleições legislativas antecipadas. E o núcleo duro de Pedro Nuno Santos entende que o partido deve votar contra o Orçamento. Em breve a Comissão Política socialista definirá uma decisão final em simultaneidade com a decisão do grupo parlamentar.

Vários políticos afectos ao Governo têm afirmado que estamos perante um bom Orçamento que baixa impostos e aumenta a qualidade de vida dos portugueses. A oposição responde que a baixa de impostos está bem à vista, quando o Orçamento insere uma subida na taxa de carbono dos combustíveis e consequentemente o aumento do preço dos combustíveis.

Isto, quando o preço do barril de petróleo tem vindo paulatinamente a baixar. Outra incongruência, anunciada na conferência de imprensa do ministro das Finanças para explicar as particularidades do Orçamento, prende-se com o facto de o governante ter anunciado que os pensionistas iriam ser aumentados. Qual aumento? O que se lê no Orçamento neste aspecto é desolador para todos os pensionistas. O aumento governamental não ultrapassa os 3 por cento, sendo assim vejam que um reformado com uma pensão de 300 euros irá ser aumentado em 9 euros. Nove euros que dão para comer, uma vez, uma tosta mista e um galão…

Por seu turno, temos assistido a outro ping-pong muito mais desolador, o que tem acontecido entre o Governo e o Chega. Montenegro salientou que André Ventura é um “catavento” e que nada quer com o Chega. Os radicais de direita mudam de opinião quase de dia para dia. Não têm credibilidade nem confiança de ninguém, excepto daqueles fascistas que agora se disfarçam de democratas. O Chega já chegou a dizer que pretende um novo Orçamento e assim aprovaria o documento na votação parlamentar. Depois afirmou que votaria contra o Orçamento.

No dia seguinte apareceu André Ventura a dizer que enviou uma carta ao primeiro-ministro a mostrar a disponibilidade do Chega em aprovar o Orçamento, caso o documento na discussão da especialidade no parlamento introduzisse as pretensões do partido radical de extrema direita. E o pior foi surpreendente. André Ventura veio a público divulgar encontros secretos com o primeiro-ministro e sublinhando que Montenegro é um “mentiroso” porque lhe propôs um acordo com o Chega. Montenegro desmentiu de imediato Ventura.

Ao referirmos a conferência de imprensa do ministro das Finanças há que realçar que ficou bem patente que o primeiro-ministro e os seus ministros evitam de todo o modo as perguntas incómodas dos jornalistas. O ministro das Finanças decidiu surpreendentemente pela negativa que apenas 10 órgãos de comunicação social podiam efectuar perguntas e cada jornalista somente duas perguntas. A polémica entre os profissionais da rádio, televisão e imprensa instalou-se. No entanto, mais uma vez os jornalistas mostraram uma falta de coragem incrível. No tempo de Raul Rego, Ruella Ramos, Assis Pacheco, Cáceres Monteiro e Baptista-Bastos a conferência de imprensa terminava ali e ninguém faria perguntas. Bons tempos do jornalismo com dignidade. De salientar, que nenhuma estação de rádio conseguiu confrontar o ministro com qualquer pergunta.

O Orçamento aguarda agora a decisão global dos deputados da Assembleia da República. Estamos na expectativa de saber se o Orçamento de Estado será aprovado ou chumbado. No caso de ser inviabilizado, Luís Montenegro já afirmou que não governará em duodécimos. Então, restará a solução de Montenegro se demitir e o Presidente da República marcar eleições legislativas antecipadas.

Sobre eleições antecipadas muitos políticos têm mentido descaradamente ao afirmarem que os portugueses não desejam ir para eleições. Algo de mais errado depois de ter sido divulgada uma sondagem nesse vector que deu 52 por cento dos portugueses a desejar eleições antecipadas, caso o Orçamento seja inviabilizado.

Por fim, dizer-vos que, infelizmente, o ping-pong vai continuar e que as divergências entre o Governo e a oposição será um circo triste de assistir, porquanto ninguém parece interessado na estabilidade do país e que o Governo se compenetre que o país não é só o TGV, o novo aeroporto de Lisboa e a privatização da TAP e da RTP.

15 Out 2024

200

Esta é a crónica número 200. Quase quatro anos na vossa companhia, graças ao estimado director Calos Morais José ter lido o meu blog e ter gostado do que escrevia. A partir do honroso convite para colaborar neste fabuloso diário, onde colaboram nomes sonantes da política, economia, arquitectura, cultura, sexologia, meteorologia, automobilismo e, essencialmente, sobre a temática cultural chinesa – caso único nos jornais de língua portuguesa no mundo – de uma forma verdadeiramente jornalística e literária.

Ao fim de 200 crónicas exclusivas e semanais tenho de ser sincero e dizer-vos que não foi fácil arranjar um paradigma que levasse com simplicidade na escrita ao entendimento de todos os leitores que em Macau entendam bem, ou menos bem, a nossa língua. Não foi fácil procurar dar-vos uma visão do que todas as semanas foi acontecendo neste país tão maltratado politicamente. Abordámos a maior diversidade de temas, desde a política, à corrupção e até sobre um Presidente da República e uma Assembleia da República que nem sempre souberam cumprir a sua missão de estarem ao lado do povo pobre.

Por mais de uma vez, abordámos temas sensíveis e demos em primeira mão alguma informação. O caso das gémeas brasileiras que foram alvo de uma “cunha” do filho do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, deu e ainda dará muito que falar. Não se podem gastar quatro milhões de euros apenas porque o filho do Presidente pede ao pai e o pai “ordena” a um secretário de Estado da Saúde. Com a agravante de a lista de espera de crianças portuguesas com a mesma doença ser enorme.

Com realismo e verdade, tal como mandam as regras cumpridas nos jornais sérios como o HOJE MACAU levámos até vós muitos dos problemas que afectam os portugueses, as suas dificuldades de vivência, as suas reformas miseráveis que nenhum governo é capaz de lhes dar dignidade e colocá-las num patamar mínimo, por exemplo, ao nível do salário mínimo nacional. São os reformados com o pecúlio mais baixo da Europa e isto revolta-nos e envergonha-nos. Continuaremos a defender, tal como temos feitos, sempre os mais desprotegidos.

Nunca perguntei ao estimado director se já lhe perguntaram quem eu era. Certamente que alguém já o fez porque nestas 200 crónicas não pude agradar a todos. É óbvio que não tomo partidarismos, mas defendo valores e causas como os direitos humanos. Nunca se pode agradar a gregos e troianos, uma velha máxima sempre actual. No entanto, sou obrigado a tirar uma conclusão: se os leitores amigos não gostassem do que tenho informado sobre o nosso país, há muito que o estimado director já teria acabado com a minha colaboração. Sinto-me honrado e orgulhoso de pertencer a esta vasta equipa de jornalistas, gráficos e colaboradores que diariamente desenvolvem um produto jornalístico de grande qualidade e interesse.

O “Ai, Portugal, Portugal” apresenta sempre algo que é badalado semanalmente pelas melhores ou piores razões. Creiam que não é fácil escolher um tema e desenvolvê-lo sobre o que se passa em Portugal, porquanto tivemos semanas em que os problemas vindos à discussão pública eram mais que muitos. Contudo, tentámos que os amigos leitores se mantivessem minimamente informados do que se passava com os governantes, deputados, criminosos, corruptos, condecorados, pescadores, agricultores, bombeiros, pilotos de carro e de aviões, polícias, militares, advogados, juízes, motoristas, artistas, enfim, uma vasta gama de profissões que em muitos casos receberam o aplauso do povo e em outros o repúdio e a condenação popular.

Desculpem lá, mas agora que ia começar a escrever a crónica sobre a aprovação ou não do Orçamento de Estado, onde o PSD e o PS parecem que lhes custa muito chegar a acordo com proposta para lá, contra- proposta para cá, mais contra-proposta para lá e com Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos a ver quem é que consegue mais votos para umas eventuais futuras eleições legislativas antecipadas, é que reparei que já escrevi demais sobre esta memorável crónica por ser orgulhosamente a número 200. Obrigado a todos.

7 Out 2024

A parvoíce das presidenciais tão longe

Gouveia e Melo é o preferido dos portugueses

Portugal ainda não sabe se terá orçamento de Estado para 2005. Ninguém sabe se entramos numa crise política que nos leve, infelizmente, a novas eleições legislativas antecipadas. Ainda temos eleições autárquicas para o próximo ano e as eleições presidenciais serão somente em 2026. Neste sentido, não se entende a “loucura” de se andar constantemente a falar em nomes de candidatos a Presidente da República, incluindo sondagens contínuas. Ainda nem sabemos o que irá acontecer ao mundo com a escalada de violência no Médio Oriente, na Ucrânia-Rússia e quem será o novo presidente(a) nos Estados Unidos da América, uma eleição importantíssima para o futuro de todos nós. Permitam-me o aparte, mas se a vitória cair para as hostes de Trump, não temos dúvidas de que o fascismo regressará a muitos países e que durante quatro anos não serão respeitados os direitos humanos nos Estados Unidos.

As televisões, jornais e empresas de sondagens não cessam de falar em quem poderá ser o novo Presidente da República. Será porque estão fartos de Marcelo Rebelo de Sousa? O que se passa chega a ser caricato. Por exemplo, Marques Mendes é comentador na SIC e não cessa de dar a entender que não será candidato, quando se observa plenamente que o ex-líder do PSD quer é ser candidato a Presidente da República. Depois, vêm outros comentadores falar em Passos Coelho, um político de triste memória para todos os portugueses, especialmente para os pensionistas e reformados. Igualmente falam em André Ventura, o “hitlerzinho” português que até queria um referendo para expulsar os imigrantes de Portugal. O mais falado é, sem dúvida, Gouveia e Melo, o almirante que o ex-primeiro-ministro António Costa chamou para salvar milhares de portugueses durante a pandemia da Covid 19. E este facto foi importantíssimo para que os portugueses nunca mais tivessem esquecido Gouveia e Melo, apesar de parecer-nos que o povo anda com um pouco de nostalgia de Ramalho Eanes e consequentemente a preferir um militar no Palácio de Belém. Obviamente que neste estado de espírito para a escolha de um Chefe de Estado, o almirante Gouveia e Melo pedirá em Dezembro para passar à reserva. Nem aceitará um convite para Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Obviamente, segundo as nossas fontes, que Gouveia e Melo será um dos candidatos a Presidente da República. Obviamente que Gouveia e Melo já iniciou a preparação da sua máquina de “guerra” para quando chegar o tempo de campanha eleitoral. Obviamente que Gouveia e Melo tem apoios no Chega, no PSD, no CDS, no PS e até Francisco Louçã não irá esquecer que o seu pai era o comandante do navio de guerra que no dia 25 de Abril de 1974 se negou, em frente ao Terreiro do Paço, a disparar contra as tropas de Salgueiro Maia. Obviamente que o povo gosta de Gouveia e Melo e este militar poderá ter a maior vantagem no resultado final.

A surpresa maior está na propaganda balofa que o Presidente Marcelo anda a fazer contra o almirante Gouveia e Melo, ao ponto de lhe chamar populista, quando nunca vimos um português mais populista que Rebelo de Sousa. Tudo, para que o seu “querido” Marques Mendes fosse eleito Presidente. Nas últimas sondagens vindas a público, o país confirmou que não está virado para Marques Mendes, Passos Coelho, André Ventura ou mesmo para o socialista Mário Centeno, um político sem dignidade de Estado que passou directamente de ministro das Finanças para o maior “tacho” como governador do Banco de Portugal. Neste particular, o Partido Socialista sairá derrotado das eleições presidenciais caso não consiga convencer António Guterres a candidatar-se. E naturalmente, que não podemos esquecer que o PCP e o Bloco de Esquerda apresentarão os seus candidatos próprios.

Quanto à última sondagem divulgada, apresentou o almirante Gouveia e Melo como o preferido dos eleitores a longa distância do segundo. A sondagem deu como resultado, 21 por cento das intenções de voto para Gouveia e Melo, 14,7 para Passos Coelho, 10,6 para Marques Mendes, 8,8 para André Ventura, 8,3 para Mário Centeno, 7,9 para Ana Gomes e 5,0 para Augusto Santos Silva.

Tudo isto, acreditem, tem um pouco o sabor a absurdo. Quando as eleições presidenciais apenas terão lugar em 2026 confesso não entender a preocupação dos políticos e analistas políticos, vulgo comentadores de televisão, em andarem preocupados com os eventuais candidatos à Presidência de Portugal. Com a agravante de eventualmente acontecer até 2026 algumas surpresas. Quem não nos diz que o Partido Socialista consegue quase o impossível de trazer à baila António Costa, este sim um candidato ganhador. Os políticos deviam preocupar-se com o presente, com o Orçamento de Estado para 2025 quando se adivinha uma ruptura completa entre o Governo e os socialistas. Montenegro já afirmou que não abdica do IRS Jovem e da baixa do IRC, dois pontos onde os socialistas estão completamente em desacordo. Montenegro já afirmou que não governará em duodécimos. Sendo assim, teremos uma crise política e, para mal de todo o povo, eleições legislativas antecipadas. Um cenário altamente gravoso para a economia do país e para a redução do investimento estrangeiro num quadro de instabilidade.

Obviamente que não somos parvos e que já vimos há muito tempo que Montenegro pretende imitar em tudo Cavaco Silva e que, neste sentido, pretende eleições antecipadas, convencido que obterá uma maioria absoluta roubando grande parte do eleitorado do Chega, partido que está em decadência. Ao fim e ao cabo, Portugal apenas tem de mostrar ao mundo que o descontentamento popular irá ser resolvido com bom senso e união de esforços. Caso contrário, iremos sem dúvida para o abismo.

30 Set 2024

Tragédia nacional – Os fogos são um negócio

Durante quase uma semana o centro e norte de Portugal esteve a arder. Os fogos mataram sete pessoas, quatro bombeiros e três civis, e fizeram mais de 150 feridos, alguns em estado grave e que foram alvo de intervenções cirúrgicas. O país ficou de luto e os prejuízos atingem milhões de euros. Milhares de animais morreram vítimas das chamas. Mais de mil ignições e cerca de 120 mil hectares de área ardida, na sua maioria eucaliptos.

A tragédia nacional é o resultado indubitável da ganância por negócios muito lucrativos e da acção criminosa de incendiários bem pagos. Os fogos foram, sem dúvida, resultantes de quem está mais interessado em vender madeira, em deixar terrenos livres para a construção civil, em quem ganha muito dinheiro na compra de material de todo o género para os bombeiros e em quem enriquece com o aluguer dos aviões que combatem os fogos.

O professor José Luís Zêzere, geógrafo físico da Universidade de Lisboa, foi peremptório ao afirmar que nem os bombeiros nem os Canadair conseguiriam apagar os fogos porque a gestão e organização dos terrenos não existe e nada foi feito desde 2017 após a tragédia de Pedrógão. Os bombeiros limitavam-se a proteger as casas existentes no meio do mato e mesmo assim não conseguiram evitar que dezenas de imóveis, armazéns e standes de automóveis ardessem por completo. Os bombeiros são verdadeiros heróis num cenário dantesco como o que se verificou.

Na sua maioria são voluntários sem grande preparação para fogos de grande dimensão e a prova foi o triste acontecimento de três soldados da paz, duas mulheres e um homem, terem entrado onde nunca deviam, e ao serem cercados pelas chamas morreram carbonizados. De uma vez por todas, o Governo tem de decidir que a maioria dos bombeiros tem de pertencer a corporações profissionalizadas e, para isso, há que investir muito dinheiro e inserir essa despesa no Orçamento do Estado, o que não se verifica. Os distritos mais atingidos pelos fogos foram os de Aveiro, Porto, Vila Real e Viseu. Centenas de aldeias viveram dias de pânico e sofrimento. As populações estiveram seis dias sem dormir e mal alimentadas.

Muita gente ficou sem casa e sem nada dos seus bens, como um aviário que ardeu por completo com 20 mil pintos no seu interior. Em Albergaria-a-Velha, as chamas atingiram toda a urbe e muitas casas arderam e só por “milagre” não morreram dezenas de habitantes. Águeda, Castro de Aire, Arouca, Mangualde, Valongo, Oliveira de Azeméis, Sever do Vouga e tantas outras localidades foram atingidas durante dias e noites por fogos absolutamente impossíveis de debelar. Em muitas destas terras os bombeiros nem conseguiam chegar, as estradas estavam encerradas devido ao fumo espesso e os aviões não conseguiam descarregar água devido às condições gravíssimas de visibilidade. Até que veio a chuva e alegrou as populações que viram as chamas diminuírem.

Quanto a nós, a Protecção Civil esteve mal e as críticas choveram de todo o lado, incluindo dos autarcas. Chegámos ao ponto de no dia em que morreram os três bombeiros abraçados, a presidente da Câmara Municipal de Arouca tentou falar com a ministra da Administração Interna, devido à falta de meios no combate ao fogo urbano, e a governante tinha o telefone desligado… Em contacto com um nosso amigo em Albergaria-a-Velha, este disse-nos: “É pá, isto é o verdadeiro inferno, já não conseguimos respirar, há fogo por todo o lado, o vento é fortíssimo e os bombeiros são uma dezena, temos receio que desta vez morremos todos”. Estas palavras sofridas demonstram bem a generalidade do que passaram milhares de portugueses. Um outro popular com quem falámos afirmou não ter dúvidas que as ignições em certos lugares durante a noite foram de mãos criminosas e bem pagas. O mesmo popular salientou-nos que há quatro anos registou-se um fogo em determinado local de Águeda e hoje está lá construído um grande bairro habitacional cujo empreiteiro faz gáudio da riqueza adquirida com essa construção.

Sempre que o país arde, ó da guarda, que é preciso mais bombeiros, autotanques, helicópteros e aviões. Se o objectivo é evitar a destruição patrimonial natural e por extensão as casas, as indústrias e as vidas, então, não tenhamos ilusões que o verdadeiro combate é a prevenção. É urgente apostar na gestão dos espaços agroflorestais, diversificando espécies e acabar com a monocultura do eucalipto e do pinheiro-bravo. Sem o fundamental referido, os fogos não vão acabar e anualmente haverá grandes negócios dos quais resultará enorme pecúlio para criminosos e gananciosos.

P.S.: 1 – A ministra da Administração Interna não existe.

2 – Um agradecimento especial às três centenas de militares espanhóis especializados no combate a incêndios que se deslocaram para o teatro de operações português

23 Set 2024

Chacota global

Portugal está a viver dias de perplexidade e de receio há mais de uma semana. Cinco dos mais perigosos reclusos a nível nacional e internacional fugiram em cinco minutos da cadeia de alta segurança de Vale de Judeus, em Alcoentre.

Em primeiro lugar, a fuga está a deteriorar a imagem de segurança em Portugal e a provocar a chacota em toda a comunicação internacional, nomeadamente em Espanha e na Argentina. Isto, porque um dos reclusos em fuga é argentino, esteve preso já várias vezes noutros países e cometeu os mais horríveis crimes em Portugal e tinha sido condenado a 25 anos de prisão. São reclusos que mataram, assaltaram, raptaram e pediram resgates milionários e violaram várias jovens. Em segundo lugar, a chacota inclui todo o método da fuga, bem preparado, organizado com tempo e com a cumplicidade de elementos do exterior.

E do interior? Obviamente que a população não tem dúvidas que teve de existir o conluio de alguns guardas prisionais. Um dos guardas tinha como função olhar para os monitores de 200 câmaras de vídeo vigilância e nada viu quando minutos antes da fuga um dos reclusos dirigiu-se ao ginásio da prisão e levou um gancho que serviu para os fugitivos saltarem o primeiro muro de três metros. E ninguém viu o recluso deslocar-se ao ginásio que, por sinal, é pouco frequentado. Nada foi visto quando os cúmplices colocaram escadas no segundo muro com seis metros de altura.

Não será por acaso que a Polícia Judiciária tem vindo a interrogar guardas prisionais. Inacreditavelmente, a fuga dos cinco reclusos apenas foi detectada passada uma hora. Apenas foi dado o alarme à GNR passadas duas horas. Acrescente-se, que o recluso mais perigoso estava detido na prisão de alta segurança de Monsanto e sem se compreender a razão foi transferido para o presídio de Vale de Judeus. Esta prisão pode ser tudo menos de alta segurança.

Dois exemplos caricatos: foram desmanteladas as torres de vigia, o que na altura foi criticado pelos guardas prisionais. Foram instaladas câmaras de vigilância que se provou não servirem para nada. Segundo as nossas fontes, a operação de fuga envolveu muito dinheiro e os reclusos tinham na retaguarda o crime organizado com milhões de euros à disposição para o que fosse necessário, no sentido de a fuga ter êxito total.

Os reclusos em fuga tinham na prisão telemóveis e internet. Como é que entraram os telemóveis? Foram vendidos aos reclusos por guardas prisionais à semelhança de outras prisões? Foram levados pelas visitas que igualmente transportam para os reclusos muita quantidade de drogas? Um guarda prisional reformado afirmou na televisão que é o mais usual nas prisões portuguesas que entrem para as mãos dos reclusos, telemóveis, facas e droga de toda a espécie e que esse facto movimenta muito dinheiro.

As mulheres dos reclusos têm contas bancárias através das quais transferem muito dinheiro para o pagamento de todo esse material que entra ilegalmente nas prisões. Outro exemplo caricato: em Vale de Judeus foi decidido electrificar as redes que circundam a prisão. A electrificação da rede metálica terminou porque quando se ligava a energia para a rede metálica, as luzes no interior da prisão apagavam-se… mais caricato, na falta de organização por parte da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, é o facto de Vale de Judeus não ter director há quatro meses. Naturalmente que o director-geral e o subdirector dos Serviços Prisionais demitiram-se após esta fuga escandalosa.

A Polícia Judiciária procura uma agulha no palheiro e não acreditamos que seja fácil recapturar estes cinco criminosos altamente perigosos. Neste momento, certamente que os que tinham barba já a cortaram e os que não tinham barba já a deixaram crescer e devem estar completamente disfarçados e possivelmente já muito longe e com algum avião privado às suas ordens.

Pela parte do Estado a culpa é imensa. Tem desinvestido na melhoria das condições gerais das prisões. Em 2017, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, apresentou um relatório duríssimo indicando que a prisão de Vale de Judeus, e outras, tinham de ser encerradas e que o investimento nos serviços prisionais devia ser enorme para bem da segurança nacional.

Ninguém ligou absolutamente nada ao seu relatório e nada foi feito do que a ex-ministra propôs. A actual ministra da Justiça, filha do advogado e comentador de televisão José Miguel Júdice, é uma simples jurista sem qualquer experiência política e, para revoltar os portugueses, demorou quatro dias a dirigir-se publicamente sobre a fuga gravíssima e quando o fez anunciou apenas o que todos já sabíamos, tendo referido o absurdo quando anunciou que uma auditoria à fuga deve terminar no fim do ano. Uma ministra que se tivesse o mínimo de dignidade tinha logo pedido a demissão do cargo, já que permitiu que Vale de Judeus tenha estado quatro meses sem director.

Ninguém consegue explicar como é que cinco reclusos, por “coincidência” os mais perigosos e os que chefiavam a mafia interna da prisão, se podem evadir em pouco mais de cinco minutos, saltando dois muros, cortando uma rede e entrando em carros estacionados junto ao buraco na rede e ninguém dos responsáveis da segurança viu um recluso sequer a correr e a subir escadas…

Os guardas prisionais que ainda recentemente reivindicaram mais dinheiro foram exímios em salientar que nada tinham a ver com a responsabilidade da fuga. Então, quem é que tem a responsabilidade da segurança da prisão? Valha-nos que a Polícia Judiciária já está a ouvir guardas prisionais de Vale de Judeus que chefiavam o restante corpo de guardas e o funcionário encarregado de monitorizar as imagens oriundas das câmaras de vigilância e a interroga-los como foi possível, isto, aquilo e aqueloutro.

Por seu lado, o primeiro-ministro não arranjou nenhum bote e colete de salva-vidas… para se deslocar de imediato à prisão Vale de Judeus e aperceber-se do que tinha acontecido mostrando aos portugueses que está sempre em cima dos acontecimentos, tal como Luís Montenegro tem feito constantemente, particularmente o ridículo passeio de bote quando caiu o helicóptero no rio Douro.

Sobre a verdade dos factos, é que a imprensa de vários países tem criticado o que sucedeu naquela prisão e colocado Portugal em chacota global.

15 Set 2024