Chacota global

Portugal está a viver dias de perplexidade e de receio há mais de uma semana. Cinco dos mais perigosos reclusos a nível nacional e internacional fugiram em cinco minutos da cadeia de alta segurança de Vale de Judeus, em Alcoentre.

Em primeiro lugar, a fuga está a deteriorar a imagem de segurança em Portugal e a provocar a chacota em toda a comunicação internacional, nomeadamente em Espanha e na Argentina. Isto, porque um dos reclusos em fuga é argentino, esteve preso já várias vezes noutros países e cometeu os mais horríveis crimes em Portugal e tinha sido condenado a 25 anos de prisão. São reclusos que mataram, assaltaram, raptaram e pediram resgates milionários e violaram várias jovens. Em segundo lugar, a chacota inclui todo o método da fuga, bem preparado, organizado com tempo e com a cumplicidade de elementos do exterior.

E do interior? Obviamente que a população não tem dúvidas que teve de existir o conluio de alguns guardas prisionais. Um dos guardas tinha como função olhar para os monitores de 200 câmaras de vídeo vigilância e nada viu quando minutos antes da fuga um dos reclusos dirigiu-se ao ginásio da prisão e levou um gancho que serviu para os fugitivos saltarem o primeiro muro de três metros. E ninguém viu o recluso deslocar-se ao ginásio que, por sinal, é pouco frequentado. Nada foi visto quando os cúmplices colocaram escadas no segundo muro com seis metros de altura.

Não será por acaso que a Polícia Judiciária tem vindo a interrogar guardas prisionais. Inacreditavelmente, a fuga dos cinco reclusos apenas foi detectada passada uma hora. Apenas foi dado o alarme à GNR passadas duas horas. Acrescente-se, que o recluso mais perigoso estava detido na prisão de alta segurança de Monsanto e sem se compreender a razão foi transferido para o presídio de Vale de Judeus. Esta prisão pode ser tudo menos de alta segurança.

Dois exemplos caricatos: foram desmanteladas as torres de vigia, o que na altura foi criticado pelos guardas prisionais. Foram instaladas câmaras de vigilância que se provou não servirem para nada. Segundo as nossas fontes, a operação de fuga envolveu muito dinheiro e os reclusos tinham na retaguarda o crime organizado com milhões de euros à disposição para o que fosse necessário, no sentido de a fuga ter êxito total.

Os reclusos em fuga tinham na prisão telemóveis e internet. Como é que entraram os telemóveis? Foram vendidos aos reclusos por guardas prisionais à semelhança de outras prisões? Foram levados pelas visitas que igualmente transportam para os reclusos muita quantidade de drogas? Um guarda prisional reformado afirmou na televisão que é o mais usual nas prisões portuguesas que entrem para as mãos dos reclusos, telemóveis, facas e droga de toda a espécie e que esse facto movimenta muito dinheiro.

As mulheres dos reclusos têm contas bancárias através das quais transferem muito dinheiro para o pagamento de todo esse material que entra ilegalmente nas prisões. Outro exemplo caricato: em Vale de Judeus foi decidido electrificar as redes que circundam a prisão. A electrificação da rede metálica terminou porque quando se ligava a energia para a rede metálica, as luzes no interior da prisão apagavam-se… mais caricato, na falta de organização por parte da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, é o facto de Vale de Judeus não ter director há quatro meses. Naturalmente que o director-geral e o subdirector dos Serviços Prisionais demitiram-se após esta fuga escandalosa.

A Polícia Judiciária procura uma agulha no palheiro e não acreditamos que seja fácil recapturar estes cinco criminosos altamente perigosos. Neste momento, certamente que os que tinham barba já a cortaram e os que não tinham barba já a deixaram crescer e devem estar completamente disfarçados e possivelmente já muito longe e com algum avião privado às suas ordens.

Pela parte do Estado a culpa é imensa. Tem desinvestido na melhoria das condições gerais das prisões. Em 2017, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, apresentou um relatório duríssimo indicando que a prisão de Vale de Judeus, e outras, tinham de ser encerradas e que o investimento nos serviços prisionais devia ser enorme para bem da segurança nacional.

Ninguém ligou absolutamente nada ao seu relatório e nada foi feito do que a ex-ministra propôs. A actual ministra da Justiça, filha do advogado e comentador de televisão José Miguel Júdice, é uma simples jurista sem qualquer experiência política e, para revoltar os portugueses, demorou quatro dias a dirigir-se publicamente sobre a fuga gravíssima e quando o fez anunciou apenas o que todos já sabíamos, tendo referido o absurdo quando anunciou que uma auditoria à fuga deve terminar no fim do ano. Uma ministra que se tivesse o mínimo de dignidade tinha logo pedido a demissão do cargo, já que permitiu que Vale de Judeus tenha estado quatro meses sem director.

Ninguém consegue explicar como é que cinco reclusos, por “coincidência” os mais perigosos e os que chefiavam a mafia interna da prisão, se podem evadir em pouco mais de cinco minutos, saltando dois muros, cortando uma rede e entrando em carros estacionados junto ao buraco na rede e ninguém dos responsáveis da segurança viu um recluso sequer a correr e a subir escadas…

Os guardas prisionais que ainda recentemente reivindicaram mais dinheiro foram exímios em salientar que nada tinham a ver com a responsabilidade da fuga. Então, quem é que tem a responsabilidade da segurança da prisão? Valha-nos que a Polícia Judiciária já está a ouvir guardas prisionais de Vale de Judeus que chefiavam o restante corpo de guardas e o funcionário encarregado de monitorizar as imagens oriundas das câmaras de vigilância e a interroga-los como foi possível, isto, aquilo e aqueloutro.

Por seu lado, o primeiro-ministro não arranjou nenhum bote e colete de salva-vidas… para se deslocar de imediato à prisão Vale de Judeus e aperceber-se do que tinha acontecido mostrando aos portugueses que está sempre em cima dos acontecimentos, tal como Luís Montenegro tem feito constantemente, particularmente o ridículo passeio de bote quando caiu o helicóptero no rio Douro.

Sobre a verdade dos factos, é que a imprensa de vários países tem criticado o que sucedeu naquela prisão e colocado Portugal em chacota global.

15 Set 2024

A verdade vem sempre ao de cima

A TAP é o maior cancro que temos no somatório empresarial a nível nacional. A TAP tem obrigado os portugueses a pagar o inimaginável, especialmente a alta corrupção dos seus gestores e afins políticos. A verdade vem sempre ao de cima. Quem é que imaginava que ao fim de quase uma década viéssemos a saber que a TAP foi privatizada por Passos Coelho, como primeiro-ministro, coadjuvado por o actual ministro Pinto Luz e por Maria Luís Albuquerque, ex-ministra de Passos Coelho e agora nomeada para comissária europeia? Uma privatização apressada, estonteante, com o governo de Passos Coelho a 15 dias de fechar a porta e agora sabemos de um escândalo a roçar o criminoso. Então, não é que o Instituto Geral das Finanças (IGF) veio a público com um relatório que nos deixa perplexos. A auditoria do IGF às contas da TAP revela que a compra da TAP ao Estado em 2015 pelo consórcio liderado por David Neeleman foi feita através de um processo no qual a própria companhia aérea deu a garantia ao empréstimo que permitiu a transação de 200 milhões de euros da Airbus para Neeleman e deste para a TAP na troca de a TAP adquirir 53 aviões à Airbus. Mas, vocês leram bem? O Neeleman disse ao Estado, (quando este já tinha encomendado 10 aviões à Airbus), que ele ao adquirir a percentagem maioritária na TAP acordou com a Airbus comprar 53 e não 10 aviões, por sinal, 53 aeronaves acima do preço de mercado. Neeleman foi à Airbus e disse para lhe entregarem 200 milhões de euros que ele na TAP comprava 53 aviões e com esses 200 milhões de euros da Airbus foi comprar a sua parte na TAP. Isto, acontece em todo o mundo ou só neste pobre país onde certos tubarões continuam a fazer o que querem até o povo ter a coragem de ir para a rua dizer: “Basta!”?

O IGF pede agora que o seu relatório seja enviado para o Ministério Público. A auditoria aponta em seis conclusões, várias críticas aos gestores da TAP, entre as quais figuram a decisão de participar na manutenção no Brasil, sem partilhar riscos, ou os contratos de serviços a empresas do tal Neeleman em 2016. A IGF conclui que a Atlantic Gateway, empresa de Neeleman e de Humberto Pedrosa, patrão do Grupo Barraqueiro Transportes rodoviários, adquiriu 61 por cento do capital da TAP, comprometendo-se a proceder à sua capitalização através de prestações suplementares de capital, das quais 226,75 milhões de dólares foram efectuadas através da sócia DGN com fundos obtidos do tal cambalacho entre Neeleman e a Airbus, com base no denominado Framework Agreement, celebrado entre as empresas Atantic Gateway, a DGN e Airbus, em Junho de 2015.

Aquele montante de capitalização da TAP pela Atantic Gateway de Neeleman, segundo o IGF, “coincide com o valor da penalização assumida pela TAP em caso de incumprimento dos acordos de aquisição das 53 aeronaves (A320 e A330), o que evidencia uma possível relação de causalidade entre a aquisição das aeronaves e a capitalização da TAP e os contratos celebrados entre a TAP e a Airbus”. Estão a perceber o cambalacho? Se o Neeleman não fizesse entrar na TAP o dinheiro acordado e se não se realizasse o negócio da compra de 53 aviões quem pagaria era o Zé Povinho.

A auditoria ainda indica que esta estratégia do comprador era do conhecimento da Parpública e do Governo de Passos Coelho, com Maria Luís Albuquerque em ministra das Finanças e Miguel Pinto Luz como secretário de Estado com a tutela sectorial da TAP e hoje como ministro das Infraestruturas de Luís Montenegro e Maria Luís Albuquerque nomeada para comissária europeia…

E o mais escandaloso é que a auditoria do IGF indica também que a TAP, SGPS celebrou com a Atlantic Gateway um contrato de, imaginem, “prestação de serviços de planeamento, estratégia e apoio à reestruturação da dívida financeira, que teve como finalidade o pagamento de remunerações e prémios, no período de 2016 a 2020, a membros do Conselho de Administração da TAP, SGPS, no montante de 4,3 milhões de euros”, nomeadamente Neeleman, Humberto Pedrosa e David Pedrosa.

A auditoria também deixa recados ao Governo de António Costa, por não ter tido acesso à informação sobre a compra do Estado, em 2020, de uma participação na TAP. “A DGTF pagou 55 M€ [milhões de euros] à Atlantic Gateway, pela aquisição de 22,5% das participações sociais da TAP, SGPS, sem demonstração dos cálculos inerentes a essa aquisição”, refere o IGF. O IGF propõe, por fim, ao ministro das Finanças o envio do relatório “após homologação, ao Ministério Público”. Ora, se o IGF pretende que o relatório siga para o Ministério Público é porque existem indícios claros de crime no processo em referência.

A TAP é mesmo um cancro enorme e agora o governo actual já pretende privatizar novamente a empresa aérea com o ministro Pinto Luz, o mesmo de 2015, à frente das negociações e com Maria Luís Albuquerque a controlar as negociatas em Bruxelas. O meu vizinho chama a isto: “vilanagem, porque a verdade vem sempre ao de cima.”

8 Set 2024

Pensionistas são lixo

Não escrevo sobre a minoria dos pensionistas que recebem mensalmente mais de dez mil euros. Esses, são os privilegiados de Portugal, alguns que até passaram por Macau e que têm pensões escandalosas que agridem a realidade geral dos restantes pensionistas.

É preciso em primeiro lugar sublinhar que temos cerca de dois milhões de compatriotas que vivem ao nível da pobreza. E a maioria desse número são os chamados pensionistas de miséria. O que é? É sobreviver com 150, 200, 300 ou 400 euros por mês de pensão. É sobreviver sem poder ter uma casa decente arrendada, porque comprar um imóvel é simplesmente um sonho até ao dia da morte. É sobreviver sem possibilidade de comprar todos os medicamentos que precisam. É sobreviver sem poder pagar a renda da casa sem o apoio dos filhos, familiares ou amigos. É sobreviver sem ter a possibilidade de comprar um esquentador, fogão ou frigorífico novos, muito menos pagar a conta da energia, da água ou do telefone. É sobreviver a pagar uma estação de televisão estatal que apenas produz programas para atrasados mentais, informação governamental e que exerce censura absolutamente idêntica à da escabrosa PIDE/DGS. É sobreviver sem poder ter um dia de férias num local fora de casa nem que seja numa aldeia onde tenham familiares. É sobreviver a visitar um supermercado e levar para casa um terço dos produtos que necessita. É pedir constantemente ajuda aos amigos e família, quando existem familiares porque há pensionistas a viver sozinhos em residências onde chove no seu interior e nem têm um familiar que lhes possa valer. A lista para compreenderem o que é um pensionista de miséria podia ser infindável, mas os leitores já devem ter compreendido que os políticos apenas desejam que hajam cada vez mais pobres e que os velhos sofram e que morram o mais rápido possível para que a poupança estatal seja maior.

Os pensionistas foram tema de comentários televisivos na semana que passou porque, mais uma vez, foram alvos da ingratidão dos seus governantes. O Governo decidiu reduzir o IRS aos pensionistas até ao rendimento de pouco mais de mil euros. Uma redução em Setembro e Outubro para começar, mas de imediato os pensionistas tiveram conhecimento que essa redução não será accionada em Setembro, mas apenas em Outubro. Em Outubro também o Governo anunciou que os pensionistas receberão um bónus de 200 euros. Debalde. Passados dois dias o Governo veio contradizer o anúncio e pormenorizar que o bónus não seria de 200 euros para todos. Os pensionistas que tenham uma pensão, milhares deles os tais com pensão de miséria, paga pela Segurança Social e outra pensão de viuvez recebida pela Caixa Geral de Pensões receberão em função do quantitativo global da junção das duas pensões. Isto, é vergonhoso e revoltou os pensionistas que recebem no total cerca de mil euros.

Ser pensionista em Portugal é sentir-se de alguma forma simplesmente lixo. É que isto tudo, de bónus inúteis e de promessas de aumentos não cumpridos leva-nos a pensar que no ano em que celebramos os 50 anos do 25 de Abril, o Movimento das Forças Armadas anunciou essencialmente que o golpe militar tinha como objectivos principais a devolução da liberdade e a melhoria de qualidade de vida do povo. Onde está a liberdade dos cidadãos se não existe quase uma rua sem câmaras de vídeo vigilância pelas cidades fora e os telemóveis são os novos sistemas de escutas telefónicas contra toda e qualquer liberdade de expressão. Quanto à qualidade de vida está à vista de todos nós e é sobre isso que descrevemos a situação dos muitos pensionistas. Um governo que estivesse disposto a acabar com os pensionistas de miséria apenas tinha de decidir o que já foi avançado pela presidente da Associação dos Pensionistas e por diversas pessoas nas suas páginas do Facebook, referindo que os pensionistas de miséria deviam ser aumentados para o mesmo nível do salário mínimo nacional.

Então, os pensionistas com 70 ou mais anos são mesmo lixo. Mesmo um pensionista que ganhe dois mil euros mensais e que tenha conta em qualquer banco e peça um crédito pessoal mínimo, não lhe é concedido devido a já ter 70 anos. E isto não é discriminação social, não está contra a Constituição? Pelos vistos, o Banco de Portugal quer lá saber dos pensionistas e não se decide por proibir as instituições bancárias de discriminar os cidadãos mais velhos.

Na semana que findou o primeiro-ministro anunciou a nova comissária europeia que irá representar Portugal na Comissão Europeia. Imaginem só como ficou a mente de um pensionista de miséria quando ouviu na televisão dizerem que Maria Luís Albuquerque, ex-ministra do PSD de triste memória, vai ganhar mais de 30 mil euros por mês e outras mordomias… Os pensionistas de miséria desesperam todos os meses para enfrentar as despesas inerentes à sua sobrevivência. Um país que trata assim os seus filhos é verdadeiramente um país do terceiro mundo.

2 Set 2024

Fogo na Madeira, Albuquerque a banhos

Escrevo estas linhas no passado sábado quando já arderam mais de cinco mil hectares de floresta na ilha da Madeira ao longo de 10 dias. A Madeira não é um bailinho. A Madeira não é fogo de artifício. A Madeira não é uma offshore. A Madeira não é um porto de cruzeiros internacionais.

A Madeira não é o reinado de um partido político há cinquenta anos. A Madeira não é um cortejo carnavalesco, no qual se gastam milhões de euros. A Madeira é um território nacional com uma cordilheira florestal considerada património mundial. A Madeira é uma região autónoma que recebe milhões de euros do continente. A Madeira está a arder e o vento tem premiado as populações não virando as chamas para cima de dezenas de casas e da Central Hidroeléctrica.

Quando o incêndio teve início o seu presidente do Governo Regional estava a banhos no Porto Santo, a gozar férias imerecidas e afirmou: “Está tudo tranquilo e debaixo de controlo”. Miguel Albuquerque não tem seriedade política para governar a Madeira nem competência. Há décadas que os especialistas afirmam que é necessária uma organização e gestão da floresta e nada tem sido feito. O fogo continua a consumir o património natural e a assustar as populações que não dormem há uma semana. Miguel Albuquerque só quando lhe disseram que a situação era muito grave é que despiu o fato de banho e deslocou-se até junto dos incompetentes responsáveis pela Proteção Civil da região. Miguel Albuquerque desde que governa nunca se apercebeu que tinha de exigir ao governo central, pelo menos, que a Madeira tivesse cinco helicópteros e um avião Canadair.

O crime natural está à vista e um dos melhores especialistas em ciência de florestas afirmou na televisão que “Miguel Albuquerque é um inculto sobre a defesa do ambiente e das suas populações. O maior problema não é o que ele diz ao sublinhar que o fogo não provocou mortos, feridos nem destruiu casas. O presidente do Governo da Madeira não faz a mínima ideia do que pode vir a acontecer às populações da ilha porque com as serras sem vegetação, quando chegar o Inverno, as grandes chuvadas não serão contidas e vão provocar grandes e possíveis inundações catastróficas”. Esta, é a grande verdade relativamente a um homem que preferiu as praias de Porto Santo em vez de se sentar no seu gabinete a solicitar ao Governo do continente, logo no início do fogo, dois aviões Canadair e mais helicópteros. E não pode vir com a desculpa de que esses meios aéreos faziam falta ao continente em caso da existência de fogos florestais. E porquê? Porque no caso de o continente vir a ser alvo de algum incêndio florestal grave requisitavam-se de imediato a Espanha dois Canadair, tal como aconteceu agora que o fogo na Madeira começou a transmitir preocupações trágicas.

O fogo na Madeira está há 10 dias sem controlo e a situação tem agora melhorado devido à acção dos Canadair espanhóis. Contudo, nenhum responsável madeirense apresenta quaisquer perspectivas de quando o fogo estará extinto.

Até a nível europeu o incêndio na Madeira já foi abordado e a presidente da Comissão Europeia mostrou a sua perplexidade e preocupação com um incêndio de tão grandes proporções. Os moradores não cessam de indicar os culpados e a irresponsabilidade do Governo Regional ao longo dos anos no que concerne à gestão da floresta com algumas árvores classificadas e únicas, que nem daqui a duas décadas voltarão a existir nas cordilheiras madeirenses. No continente são vários os políticos que já manifestaram muitas críticas à ministra da Administração Interna e aos governantes madeirenses, propondo mesmo uma audição parlamentar para a obtenção de responsabilidades na ineficácia do combate a tragédia tão grave.

Um outro facto, que tem chocado os portugueses, é o comportamento do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa que se desloca a todo o lado para as mais díspares ninharias eventuais, também preferiu estar no Algarve como peixe a gozar a água quentinha da praia, em vez de se deslocar de imediato à Madeira e demonstrar a sua solidariedade ao povo madeirense e observar in loco que o fogo já podia ter ceifado dezenas de vidas. Como diz o povo, Marcelo fala, fala, mas não convence… Para que a sua imagem fique ainda mais degradada acabou por dizer aos jornalistas que irá à Madeira quando o fogo terminar. Isto, quando ninguém sabe quando terminará o incêndio. Ai, Portugal, Portugal…

P.S. – No momento em que terminámos de escrever esta crónica, o fogo piorou no local Ponta do Sol, deixando os moradores em pânico porque as residências estavam em perigo de ser atingidas.

26 Ago 2024

“O binho é qu’induca”

Há cerca de 20 anos visitei Bragança a fim de conhecer os usos, costumes e tradições daquela região. No primeiro dia que me desloquei a um café pedi uma sandes de presunto e um copo de leite. Do meu lado esquerdo ouvi logo uma voz, de um homem cheio de rugas na face e as mãos como se estivessem inchadas do trabalho no campo, que me disse: “Leite? Ó amigo, de manhã, se quer viver muitos anos o binho é qu’induca!”. Estava iniciado um diálogo que foi longe e que acima de tudo o companheiro de balcão do café, com 83 anos de idade, e fresco para as curvas, transmitiu-me que desde que se conhece que pela manhã, depois de comer uma “bucha” em casa, vai à tasca ou ao café ingerir um copo de vinho tinto e um bagaço. Limitei-me a acreditar que o vinho tinto dá alguma saúde a mais do que o normal.

Passados muitos anos tive conhecimento que o médico cardiologista mais famoso na China tinha afirmado na televisão que um copo de vinho tinto às refeições era o melhor medicamento para o coração. O que constatei é que os chineses que bebiam copos cheios de conhaque e brandy às refeições, começaram a pretender beber vinho tinto. Bem, foi um fartote de importação de contentores oriundos de Itália, França e Austrália. Mais tarde, soube através de um amigo que tem uma herdade no Alentejo e que produz vinho, que até Macau estava a importar dezenas de contentores de toda a espécie de vinho português com destino à China. Por sinal, também soube que alguns inúteis residentes em Macau vieram a ficar riquíssimos com a importação do vinho português do Douro, Beira e Alentejo, onde realmente são produzidos vinhos de alta qualidade, alguns, mesmo melhores que os franceses e italianos.

O vinho tem vários segredos ao longo da sua produção, incluindo o modo como são plantadas as videiras e como são retiradas as uvas. A indústria do vinho já é uma das maiores do mundo e temos garrafas que ultrapassam o preço de 100 mil patacas. Um antigo residente de Macau, que mora aqui perto de mim, disse-me que uma vez foi convidado para jantar em casa do senhor David Chow e que ele abriu uma garrafa de vinho francês avaliada em 120 mil patacas.

Mas, neste momento da vossa leitura, perguntarão “onde é que este tipo quer chegar com esta conversa do vinho, eu que adoro beber um copo às refeições”? Têm razão em querer saber e digo-vos de imediato. Li numa revista inglesa que, em 2023, Portugal foi o país do mundo que consumiu mais vinho. Fiquei de boca aberta.

Na verdade, pensando bem, tem de se beber muito em Portugal se atendermos às centenas de marcas que o mercado apresenta. Praticamente em todo o país produz-se bom vinho, os enólogos de hoje sabem da poda e as condições das adegas são quase semelhantes a hotéis de luxo. Mas, a moeda tem duas faces. Nós, os portugueses, podemos ser o povo que mais bebe vinho. No entanto, não sabemos beber. Muito poucos são aqueles que bebem para apreciar o que lhe foi posto no copo. A maioria bebe até já não saber o que diz. Não tem a noção se bebeu um vinho com 13,5%vol, 14% ou 14,5%. Para essa gente tanto se lhe dá como se lhe deu. O que interessa é estacionar o carro ou a moto à beira da estrada onde se situa um restaurante e vá de esvaziar garrafa atrás de garrafa. E depois? Depois temos, segundo a GNR, que a maioria dos acidentes rodoviários é devido ao excesso de álcool no sangue. Tem sido de uma imensa dificuldade convencer os condutores portugueses que se estão ao volante não podem ingerir nenhuma bebida alcoólica.

Há dias, vi um camionista fora de mão e de repente lá guinou para o seu lugar correcto. Ou estava com sono ou com uns copos a mais. Não aconteceu nenhuma tragédia porque naquele momento não rodava nenhum veículo em sentido contrário. O vinho tanto pode dar um grande prazer como pode constituir uma desgraça. Um médico transmitiu-me que não existe pior droga que o álcool e se nos dermos ao trabalho de investigar quem são as pessoas que estão internadas em instituições de recuperação, concluiremos que são alcoólicos. Infelizmente, nenhum governo desde o 25 de Abril de 1974 se preocupou com a situação psicológica de antigos combatentes que passaram anos a ver mortos e feridos graves. Esses antigos militares ficaram traumatizados e um grande número deles está alcoolizado. É no vinho ou em outras bebidas alcoólicas que se refugiam para esquecer as cenas tristes que lhes vão na mente. Estão completamente transtornados, batem nas mulheres, nos filhos e conduzem o carro bêbedos.

Portugal foi o país que mais vinho consumiu em 2023 e certamente que entre este número estonteante estiveram milhares de condutores de camiões, carros e motos. Os acidentes são semanais e ultimamente têm morrido muitos jovens em acidentes de motos e quendo as autoridades investigam são informadas que os condutores estiveram num bar ou numa discoteca a beber demasiado. “O binho é qu’induca” desde que saibamos que apenas podemos beber um copo por refeição, no máximo, se de seguida formos pegar no volante. Portugal tem de caminhar para o primeiro lugar mas é dos países com menos acidentes nas estradas.

19 Ago 2024

A hipocrisia na suspensão das férias

As férias são designadas como o período de descanso a que têm direito os trabalhadores, funcionários públicos, estudantes e demais profissões. Provém do latim ‘feria, -ae’ que significava entre os antigos romanos, o dia em que, por prescrição religiosa, não se trabalhava.

Hoje em dia, as férias são algo que transmite felicidade, descanso, alegria, tristeza e problemas. Tristeza, porque nem todos os cidadãos podem ter uns dias de descanso e são tão pobres que são obrigados a trabalhar os 365 dias do ano. Conhecemos uma senhora que trabalha em limpeza de residências e de escritórios que nunca teve férias. O ripanço inerente às férias é merecido para todos quantos passam o ano a trabalhar arduamente. Institucionalizou-se, por maioria, que as férias fossem gozadas no mês de Agosto, talvez por ser o mais quente e as famílias poderem levar a pequenada a banhos pelas praias do país ou do estrangeiro. Famílias, que muitas vezes, são as férias que lhes criam problemas graves no futuro. Acontece que decidem ir conhecer Punta Cana ou Bali e, para isso, contraem um empréstimo bancário e depois é que são elas, porque o crédito fica difícil de ser pago por uma ou outra razão, especialmente se algum membro do casal, entretanto, ficou desempregado. Há muita gente que consegue mensalmente pôr de parte uma certa quantia para que no mês em que decide ter férias, o dinheiro não é problema para que o corpo e a mente possam descansar das dificuldades laborais durante o ano.

Em Portugal, as férias têm um outro lado da moeda. Os funcionários públicos vão quase todos em debandada e os serviços ressentem-se de tal forma que nos tribunais, hospitais, segurança social e finanças, quase tudo fica por decidir em Setembro. Neste sentido, existe uma classe que também não falha ao seu gozo de férias: os políticos. Os destinos são os mais variados e como o rendimento é bom podem escolher um hotel no Algarve topo de gama. O nosso principal político, o Presidente da República, não dispensa o Algarve. Todavia, o que mais detesto na política é a hipocrisia, a mentira e a propaganda. Marcelo rebelo de Sousa estava feliz e contente a banhos algarvios e, de repente, suspendeu as férias para se deslocar a Lisboa a fim de vir, a convite do primeiro-ministro, assistir à abertura de uma maternidade no Hospital de Santa Maria que, risivelmente, está fechada…

A atitude do Presidente Marcelo roçou o ridículo e o povinho ficou a pensar que daqui para a frente todas as obras que Luís Montenegro venha a inaugurar irá ter o Presidente a dar a sua bênção.

Mas, a maternidade no Hospital de Santa Maria tem história. Na cerimónia que decorreu na passada quinta-feira o Presidente Marcelo e o primeiro-ministro foram recebidos pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, precisamente a mesma pessoa que encerrou a maternidade no hospital quando era gestora do mesmo e quando pediu a demissão a António Costa, porque não conseguia comandar um barco quase a naufragar. Com a ministra lá estiveram alguns médicos e outros profissionais afectos ao PSD e ao CDS a receber as mais altas individualidades que foram inaugurar a abertura de uma maternidade fechada por falta de médicos e enfermeiros. E agora coloca-se outro problema, o qual diz respeito ao funcionamento futuro da maternidade que foi alvo de obras. Referimo-nos aos médicos e enfermeiros que têm de ser requisitados ao barreiro, a Almada, a Setúbal e a outros hospitais. A ministra deu-lhe para discursar e salientar que se tratava de uma obra “histórica”, quando não passa de um mamarracho de cimento fora do contexto arquitectónico da monumental fachada do principal hospital português. A ministra referiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) estava a melhorar em todos os aspectos, mas esqueceu-se de mostrar aos ilustres convidados o caos que reina mesmo por baixo da nova maternidade, onde no Centro de Colheitas, o povinho sofre pela sua hora de atendimento, e como se trata de análises clínicas, há pessoas diabéticas que estão ali quase a desmaiar por estarem em jejum há mais de quatro horas. A ministra esqueceu-se igualmente que, à mesma hora que discursava, encontravam-se vários serviços de urgência de obstetrícia e ginecologia encerradas pelo país e onde muitas grávidas interrogavam-se onde ter os partos. Já não referindo o caso tristíssimo e grave de negligência médica que se verificou nas Caldas da Rainha onde uma mulher, por duas vezes, foi-lhe negada a assistência médica e veio a abortar e a morrer. A hipocrisia de se suspender férias para nada, a mentira de se anunciar a abertura de algo que continua encerrado e a propaganda de afirmar que o Governo está cada vez a trabalhar melhor que o anterior são temas que levam os portugueses normais e atentos ao que se passa à sua volta a pensar que Portugal irá continuar na mesma: um país que não passa da cepa torta.

12 Ago 2024

Função Pública nas ruas da amargura

Gostava imenso de escrever uma crónica a contar-vos os benefícios que a Função Pública tem proporcionado ao povo. A melhoria dos serviços. O atendimento telefónico eficiente. A rapidez no despacho dos requerimentos solicitados. O atendimento pessoal eficaz. A gentiliza e eficiência com que os cidadãos são atendidos no IMTT (especialmente para as cartas de condução). As casas de banho limpas nos departamentos públicos. A resposta aos e-mails enviados a entidades governantes. Gostava. Mas não posso.

O contrário absoluto é que vos posso descrever para mal de todos os portugueses. Os funcionários públicos reivindicam anualmente aumento de salários e outros benefícios, nisso, são lestos e em toda a conversa queixam-se do seu baixo rendimento. Trabalham muito? Em alguns departamentos estatais e autárquicos, muitos funcionários depois de se sentarem um pouco na secretária e verificarem no telemóvel particular se têm mensagens de amigos e de verem no computador se não existe nenhuma indicação do chefe, vão tomar café, muitas vezes ao exterior, lêem o jornal desportivo e discutem as transferências nos seus clubes de futebol. Passado uma hora e meia voltam à secretária, fazem uns telefonemas que nada têm a ver com o serviço e chega a hora de almoço. À tarde, resolvem um ou dois problemas pendentes, mais um café e mais uma conversa, desta vez sobre política. Chega a hora de saída e ficou na sala um cheiro a suor…

Praticamente em todos os serviços, se os cidadãos telefonam para serem informados de qualquer problema, ouvem uma gravação que lhes indicam os números respectivos dos assuntos, após o que se fica 10, 15 e por vezes 40 minutos a ouvir um tipo de música, normalmente horrível. No fim de todo esse tempo a chamada cai e o atendimento já era.

Se o cidadão vai a um serviço estatal depara-se com uma fila enorme para obter uma senha e é quando o “segurança” não lhe diz que já não há senhas de atendimento.

Se o cidadão se dirige à Autoridade Tributária e Aduaneira (Finanças), bem, é melhor nem ir porque duas horas de espera para ser atendido é o tempo mínimo de espera.

Se o cidadão consegue ser atendido pela linha geral da Segurança Social Directa, uma funcionária com muita cordialidade agenda o dia e a hora para o assunto que o cidadão deseja resolver. No dia e hora marcados, o cidadão vai 20 minutos antes, para que não haja qualquer falha. Chegado à sede da Segurança Social, em Lisboa, apresenta-se ao balcão, diz que tem um agendamento e a funcionária pública entrega-lhe uma senha. O cidadão vai sentar-se a aguardar a sua vez de atendimento. Passam 15 minutos da hora agendada, passam 30, passam 45 minutos e o cidadão desloca-se ao referido balcão de atendimento e pergunta a razão do atraso do agendamento, se as pessoas que estiveram na fila e não agendaram já foram atendidas? A resposta foi simples: “isto está um pouco atrasado”, ao que o cidadão retorquiu: “Atrasado, deve ser só para alguns assuntos”. Ao fim de uma hora o cidadão foi atendido, apresentou a documentação devida, a funcionária atendeu com muita cordialidade e quando o cidadão lhe perguntou: “Tem uma ideia de quando obterei uma resposta?”, a funcionária respondeu: “Sabe, isto agora vai tudo de férias e, portanto, lá para Setembro começam a analisar os processos e em Outubro deve receber uma carta”. Leram bem? “DEVE”, não deu a certeza que seja em Outubro.

Se um cidadão envia um e-mail para uma vogal de uma autarquia, a senhora deve pensar que é a primeira-dama da Nação. Responder ao nosso e-mail. Nem pensar.

O maior desespero da população, especialmente a idosa que não usa computador, é a falta de atendimento telefónico por todo o lado. E já não são só os serviços públicos. Muitas empresas privadas já copiam o estilo desprezível da Administração Pública.

Na Câmara Municipal de Lisboa mente-se com todos os dentes que tem na boca, mesmo que sejam implantes. Pergunta-se, quando um prédio inicia as obras dos alicerces (futuras garagens para os residentes) que género de habitação municipal se trata e respondem que se destina a habitações de renda acessível. O cidadão tenta inscrever-se para tentar obter uma habitação de renda acessível, porque o seu rendimento mensal cifra-se nos 700 euros. De imediato obtém uma resposta: “que as futuras habitações já foram destinadas a pessoas de fracos recursos”. Tudo bem? Não, tudo mal. O prédio ficou pronto e começou a ser habitado. Por quem? Por cidadãos que entram para a garagem com os seus carros de marca Tesla, BMW, Mercedes, Lexus e Nissan. Vocês acham que proprietários de veículos de topo de gama são pessoas de fracos rendimentos e que precisam de uma casa com renda acessível?…

A mesma edilidade lisboeta abriu um concurso para conceder um subsídio de renda, os cidadãos em dificuldades inscreveram-se de imediato, mas qual não foi o seu espanto quando lhes era exigido um tal número de documentos que levaram logo os pretendentes a desistir do pedido de subsídio.

Por outro lado, sejamos justos e temos de salientar que há um serviço público que está a funcionar com grande profissionalismo e gentileza. Trata-se das diferentes Lojas do Cidadão, onde se é atendido com satisfação pele rapidez.

P. S. – Neste último fim de semana verificou-se o caos de norte a sul do país em muitas urgências hospitalares encerradas.

5 Ago 2024

Assembleia da República bateu no fundo

A Casa da Democracia, vulgo Parlamento, nunca “imaginou” que no seu interior a dialética política baixasse ao mais baixo nível de educação, ética, cordialidade e respeito. Durante a semana passada assistiu-se na absurda Comissão Parlamentar de Inquérito, sobre o caso das meninas gémeas luso-brasileiras, aos maiores dislates que possam imaginar.

Antes de mais, esta Comissão não tem qualquer razão de existência. Foi criada porque o deputado André Ventura apeteceu-lhe realizar mais um reality show para otários verem. O deputado Ventura quer à viva força que se diga oficialmente que o Presidente da República meteu uma cunha a pedido do seu filho Nuno. E pronto, não passa disso.

Todo o povinho viu logo que o Presidente teria dado indicações para que se salvasse a vida das duas meninas gémeas que tinham uma doença rara só curável com um medicamento cujo custo atingia os quatro milhões de euros. Mas, qual é o pai ou a mãe que não faz tudo o que puder para salvar a vida de um filho? Não está agora em causa se Nuno Rebelo de Sousa se valeu do facto de ser filho do Presidente Marcelo para obter dividendos em outros negócios. Aqui, estava em causa a vida de duas crianças. É ilegal a “cunha oficial”? É. O Presidente da República não recebe milhares de cartas, e-mails e mensagens a pedirem-lhe que interceda nisto e naquilo? Recebe. Marcelo Rebelo de Sousa não tem, através da sua Casa Civil, encaminhado centenas de casos para o Governo tratar? Tem.

No entanto, o gladiador Ventura quer à viva força que todo o mundo saiba que o Presidente da República meteu uma cunha a pedido do filho. E, para isso, quer ouvir toda a gente que tivesse tido qualquer ligação ao caso de 2019. Já ouviu o ex-secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, já ouviu quem quis e na semana passada a Assembleia da República bateu no fundo em falta de ética, educação e respeito por cidadãos que não estão ali em tribunal nenhum. Quando foi ouvido o chefe da Casa Civil do Presidente da República, o gladiador Ventura levou uma lição de alto nível profissional, de educação e de compostura política.

No dia seguinte foi ouvida a doutorada Maria João Ruela, ex-jornalista de prestígio e agora nas funções de assessora de comunicação do Presidente da República. Bem, foi um escândalo. A senhora foi tratada pelo gladiador Ventura abaixo de cão, foi malcriado, fez perguntas impróprias de pessoa educada e acabou, imagine-se, a chamar “mentirosa” a uma senhora de elevado nível profissional com anos de provas dadas.

Ventura, no mínimo, devia ser expulso de deputado. Ah, foi eleito, pelos seguidores fascistas, e assim, continuará no Parlamento aos gritos contra tudo e todos pensando que vai chegar a governante quando em próximas eleições legislativas o seu partido não obterá mais de 20 deputados. Até a ex-ministra da Saúde, Marta Temido, que agora tem mais que fazer no Parlamento Europeu, será ouvida no final do mês de Setembro porque os senhores deputados, os portugueses mais sortudos no país, vão de férias… Ventura quer ouvir também Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, mas estes devem cumprir a lei por escrito. Só falta que o gladiador Ventura solicite a presença do cirurgião que operou as meninas gémeas para lhe perguntar se as meninas lhe falaram em Marcelo Rebelo de Sousa…

Esta Comissão Parlamentar de Inquérito já deu que falar em Espanha, França e Alemanha pela negativa. Tem deixado uma imagem da democracia portuguesa semelhante a um caixote de lixo. E será que a globalidade dos deputados merece uma vergonha destas? Na última audição, imaginem, ao ex-chefe de Gabinete de António Costa em 2019, a sessão terminou sem que nada acontecesse porque o inquirido nada tinha para dizer porque tomara conhecimento do caso das gémeas apenas em 2023 pela comunicação social. Mas, o que queria o gladiador Ventura tirar da boca do inquirido? Que falou ao telefone com o Presidente da República para acelerar o caso? Que falou com Nuno Rebelo de Sousa para dar andamento rápido antes que morressem as meninas gémeas? Na inquirição ficou esclarecido que ex-chefe de Gabinete de António Costa nem estava em Portugal quando o ofício oriundo da Presidência da República foi encaminhado para o Ministério da Saúde.

André Ventura devia pôr a mão na consciência e confirmar que tem feito uma figura triste, mal-educada e arrogante; que está a perder apoiantes todos os dias que abre a boca e que as actuais sondagens dão ao seu partido Chega, apenas 12 por cento da tendência eleitoral.

Todavia, existe o outro lado da moeda: será bom que Ventura continue a actuar politicamente como tem feito ultimamente. É sinal que, em Portugal, a xenofobia, racismo e fascismo não têm pernas para andar…

29 Jul 2024

Um país sem sossego

Já nos bastava os problemas com os professores, com os agentes da PSP, com os militares da GNR, com os militares dos três ramos das Forças Armadas, com os Oficiais de Justiça, com os Bombeiros, com as urgências e certos serviços encerrados nos hospitais para agora ficarmos a saber que os médicos e enfermeiros vão promover greves.

Médicos e enfermeiros que juraram acima de tudo defender a vida dos doentes. Durante os dias de greve dos clínicos e enfermeiros morrem portugueses por falta de assistência médica. Será que estas duas profissões devem ter direito a fazer greve? Pela nossa parte, condenamos em absoluto e nunca nos passou pela cabeça que estas duas nobres profissões viessem a ser tão irresponsáveis.

Os portugueses vivem em sobressalto porque cada vez mais a sua vida fica com menos qualidade. Os preços dos alimentos aumentam semanalmente, o mesmo acontece com os combustíveis. Os crimes chegam ao ponto de menores já matarem menores à facada ou a tiro. Os acidentes rodoviários aumentam todos os dias. A este propósito, dizer-vos que têm morrido muitos jovens.

Na semana passada um jovem com apenas 20 anos e com a carta de condução apenas há um dia, despistou-se por perder o controlo do carro que ia a velocidade excessiva e faleceu. Num outro acidente, seis jovens, quatro raparigas e dois rapazes, o carro onde seguiam foi embater contra uma árvore explodindo e ardendo de imediato tendo morrido quatro dos jovens e os outros dois estão em perigo de vida. Aqui, cabe fazer um parêntesis para exigir às autoridades que ao informarem sobre os acidentes quando os veículos se incendeiam, que nos digam se os carros eram eléctricos ou a combustão.

É estranho, porque raramente um acidente de um carro que embate contra uma árvore se incendeia de imediato em explosão. Agora, com carros eléctricos, só nos EUA têm sido às centenas. O acidente com os seis jovens é um dos casos em que as autoridades deviam informar se se tratou de um carro eléctrico, visto ter explodido de imediato no momento da pancada contra a árvore. É importante que os amantes da modernidade e da falsa informação sobre os carros eléctricos saibam que as baterias que se situam por baixo dos assentos são de lítio e que ao mínimo embate explodem.

Se o país social vive sem sossego, o país político ainda está pior, ao ponto de um antidemocrata já fazer parte do Conselho de Estado. Facto, que há uns anos nem se imaginava ser possível. O Governo de maioria mínima apresenta-se ao povo de forma arrogante e anunciando medidas que serão impossíveis de comportar financeiramente sem que o défice nacional aumente.

A abordagem semanal na comunicação social traduziu-se na discussão sobre a forma como o Governo conseguirá aprovar o Orçamento de Estado para 2025. Não quer alianças com o Chega, apesar de a AD já namorar com o partido racista e de laivos fascizantes. O diálogo com o Partido Socialista é quase nulo e o secretário-geral do PS já afirmou que o primeiro-ministro apenas gere uma política de eu quero, posso e mando. Nestes termos, será horrível para o povo se o Orçamento não for aprovado, visto entrarmos continuamente no desassossego político e social.

Podemos ter um governo à base de duodécimos ou caminhar para novas eleições legislativas, quando os portugueses estão fartos de eleições, apesar de as sondagens actuais darem a vitória aos socialistas.

Portugal tem de mudar de rumo. Tem de ter estabilidade. Tem de ter um Governo que saiba ajudar um povo sem sossego, tem de resolver os problemas graves da Saúde e da Educação, não pode permitir que continuem a sobreviver miseravelmente reformados com um pecúlio de 200, 300 ou 400 euros mensais.

Há dias, um motorista de táxi com 30 anos de praça, no Porto, transmitiu-nos que se ia reformar por uma simples razão: cada vez tem menos dinheiro para sustentar a família devido ao aumento assustador de carros TVDE (Uber) que estão a tirar o negócio aos taxistas com condutores que nem sabem falar português e com cartas de condução falsas.

São exemplos destes que vão descontentando o povinho e inacreditavelmente já se ouve na esplanada do café, a propósito do atentado a Trump, que aqui em Portugal já há políticos a merecerem um tiro. Esta maneira de pensar é grave, intolerável, mas demonstra o estado de espírito em que vivem certos portugueses, ou seja, sem sossego.

Post scriptum (exclusivo) – Os ministros do Governo estão preocupados com a saúde do primeiro-ministro. No último debate na Assembleia da República sobre o Estado da Nação, Luís Montenegro estava com 39 graus de febre e encontra-se de baixa médica com uma infecção urinária grave.

22 Jul 2024

Tragédia no mar

Durante muitos anos a minha família passou as férias de Verão nas praias entre Vieira de Leiria e São Pedro de Moel. Conheço bem aquele mar e os habitantes de todos os locais plantados à beira-mar naquela região. Gente simples, pobre, dedicada à sua paixão: a pesca. Desde a Figueira da Foz até à Marinha Grande são centenas de pescadores, homens de barba rija e de mãos que parecem ter nascido já inchadas.

Uma profissão de risco elevado. Ao longo dos anos têm morrido no mar dezenas de pescadores. A sua vida é dura porque são o sustento da família. Por vezes, com a mulher incapacitada para o trabalho e com vários filhos para criar. A vida da pesca é algo assustador, especialmente quando o mar lhe dá para o torto e de ondas de dois e três metros passa para uma altura de oito e dez metros. Se acompanhado de ventania tempestuosa a faina pode ser uma tragédia e o naufrágio é inevitável. Não foi o que aconteceu desta vez.

Entre Vieira de Leiria e São Pedro de Moel com o mar brando, as traineiras saíram para a pesca da sardinha e não longe do areal, a cerca de duas milhas apenas. Sem qualquer explicação até agora, uma das traineiras virou-se e morreram seis pescadores. Salvaram-se 11.

A tragédia no mar foi estonteante, assombrosa e as famílias ficaram à beira de um ataque cardíaco. Três pescadores estiveram uma semana desaparecidos e as forças de socorro por ar, mar e terra não pararam um dia de procurar os corpos.

Uma equipa de nadadores-mergulhadores merece a nossa condecoração porque mergulharam constantemente durante uma semana, por vezes, com o mar a não permitir o mergulho. Andaram a vasculhar a traineira afundada de ponta a ponta e as notícias eram sempre negativas até que o comandante marítimo transmitiu aos jornalistas que os mergulhadores conseguiram entrar na parte mais difícil do barco e encontraram os três corpos. As famílias enlutadas, na profunda tristeza, respiraram de alívio porque já poderiam realizar o luto e os respectivos funerais.

Aqui é que está o problema: nas famílias. Podemos informar que as seis viúvas com os seus filhos estão na miséria, porque os maridos pescadores eram o sustento do agregado familiar. Ficaram sem qualquer pecúlio e não se vislumbrou qualquer apoio oficial por parte das mais diversas instituições no sentido de ouvirmos que essas viúvas e os seus filhos iriam ter apoio pecuniário das Câmaras Municipais de Leiria, Figueira da Foz ou Marinha Grande; do Governo; da Segurança Social; de uma qualquer Santa Casa de Misericórdia; da Igreja Católica, de ninguém.

Isto, não pode acontecer. Não é humano, não é justo. O sacrifício que os pescadores fazem para que nunca falte peixe nas mesas dos portugueses há muito que devia existir um departamento governamental para apoio a casos semelhantes. A tragédia no mar espalhou-se às residências de quem perdeu os seus maridos e pais. Desta feita, foram seis, mas muitos pescadores já morreram e as suas famílias ficaram à míngua dos amigos e vizinhos.

Uma situação grave e que tem de merecer a atenção das autoridades. Não basta a Presidência da República emitir um comunicado de condolências à semelhança do Gabinete do primeiro-ministro. As condolências de Lisboa não dão de comer e vestir aquela gente que ficou na miséria. Haja uma decisão rápida e contundente por parte das autoridades em apoio a estas famílias que choram vinte e quatro horas sobre vinte e quatro.

Os pescadores têm uma profissão arriscada, certo. Vão para o mar sem saber se regressam, certo. Algumas traineiras estão velhas e não têm manutenção eficaz, certo. A maioria dos armadores apenas se preocupa com o lucro da venda do peixe, certo. No entanto, os pecadores usufruem de um rendimento mínimo e ainda são eles que tratam do arranjo das redes piscatórias. Mas, os pescadores também merecem uma reprimenda: vão para o mar e não colocam os coletes de salvação. Desculpam-se que os coletes lhes dificultam os movimentos durante a faina. Não pode ser desculpa, porque primeiramente têm de pensar na sua sobrevivência e na família que deixaram em terra.

15 Jul 2024

A corrupção é generalizada

A procuradora-Geral da República aceitou deslocar-se à 1ª Comissão da Assembleia da República para prestar esclarecimentos aos deputados sobre a actividade do Ministério Público. Os casos de índole criminal ou de suspeição danosa para o Estado têm sido mais que muitos.

A demora da justiça, a quebra do segredo de justiça, as escutas a individualidades durante cerca de quatro anos têm deixado o povo sem acreditar na Justiça. No entanto, não se pode condenar o Ministério Público porque a falta de meios para levar a efeito a imensa quantidade de casos sob suspeita é uma realidade.

No cimo da lista das suspeitas judiciais está obviamente a corrupção. A corrupção que está generalizada pelas autarquias, deputados da Assembleia da República, governantes, assessores de governantes, presidentes de instituições estatais, gestores hospitalares e empresários da construção civil. Em suma, por todo o lado.

É um cancro sem cura e por mais que o Ministério Público tente realizar buscas domiciliária e não domiciliárias nunca irá acabar com a corrupção. Como dizia um comentador televisivo “está na massa do sangue”.

A corrupção verifica-se em todo o mundo, mas em Portugal, um país tão pequeno, está cada vez mais a ser notícia. No entanto, há casos em que a justiça é culpada de a situação não melhorar. Certos casos de grande importância chegam a aguardar por julgamento mais de 10 anos e outros prescrevem devido ao corrupio das defesas dos arguidos recorrerem para onde puderem provocando o arrastamento dos processos. Como se compreende o caso Sócrates? O caso Manuel Pinho? O caso Ricardo Salgado? O caso Granadeiro/Bava? O caso Joe Berardo? O caso Vale e Azevedo? E tantos outros.

Existe por esse país fora uma modalidade de corrupção fácil. Os baldios do Estado são vendidos a empresários de construção civil e a negociata corrupta movimenta milhões de euros e nunca se viu uma investigação que terminasse em sentença por os baldios irem desaparecendo. Neste particular, diga-se em abono da verdade que há um grupo de portugueses sérios que tem lutado com todos os meios para que os negócios obscuros dos baldios não se expandam.

Na semana passada, assistimos a mais uma operação da Polícia Judiciária (PJ) que movimentou mais de 100 agentes nas buscas realizadas no âmbito da operação “Concerto”, que envolve Luís Bernardo e João Tocha, suspeitos de corrupção activa e passiva, perante fortes suspeitas de favorecimento de empresas do sector da comunicação, publicidade, marketing digital e político, por parte de diversas entidades públicas, tendo esta dupla alegadamente ganho mais de sete milhões de euros só com o Estado.

A operação visou a execução de 34 mandados de busca e apreensão, 10 buscas domiciliárias e 13 não domiciliárias em organismos públicos, e 11 buscas não domiciliárias em empresas e edilidades como Lisboa, Oeiras, Mafra, Amadora, Alcácer do Sal, Seixal, Ourique, Portalegre, Sintra e Sesimbra. Isto é um descalabro e não existem agentes judiciais que cheguem para tanto delito.

Luís Bernardo é empresário de comunicação e foi assessor de José Sócrates enquanto primeiro-ministro e, mais tarde, director de comunicação do Benfica com Luís Filipe Vieira. Segundo a PJ, as diligências realizadas visaram consolidar a indiciação de que, às empresas referenciadas pela investigação, terão sido adjudicados contratos, por ajuste directo ou por consulta prévia, em clara violação das regras aplicáveis à contratação pública, designadamente, dos princípios da concorrência e da prossecução do interesse público, causando um elevado prejuízo ao Erário Público.

Imaginem que inclusivamente um dos casos de suspeita de viciação das regras da contratação pública até chegou ao Tribunal Constitucional. Isto tudo é muito grave, muito revoltante e o pior é que nem daqui a 10 anos esta gente, suspeita de corrupção e de falta de respeito pelo país que serve, terá um veredicto judicial. No caso do Palácio Ratton (Tribunal Constitucional) a comunicação foi entregue à sociedade de Luís Bernardo em 2021, por ajuste directo, mas o raio de acção do empresário é vasto e, no sector público, as suspeitas de corrupção estendem-se a contratos com diferentes entidades, como várias autarquias de norte ao sul do país, num alegado conluio entre autarcas. É caso para dizer que Portugal corrupto tem mais encanto…

8 Jul 2024

A saúde continua doente

Há muitos anos que o povo português tem vindo a sofrer com a falta de organização, gestão, dinheiro e profissionais na Saúde. Construíram-se novos hospitais e centros de Saúde, mas o serviço aos utentes deteriorou-se de ano para ano. Assistimos ao trabalho dos mais diversos ministros da tutela, cada um com a sua ideia, mas a situação foi piorando. Houve até quem se tivesse demitido depois de ter feito um bom trabalho durante a pandemia da Covid 19.

Aponta-se o dedo fundamentalmente a dois factores: falta de meios para os médicos e enfermeiros e má gestão dos estabelecimentos hospitalares. O actual Governo veio com um plano de emergência, mas nada melhorou e na semana passada a presidente da Federação Nacional dos Médicos veio, mais uma vez, chamar à atenção que as lacunas continuam a ser graves.

O povo continua a deparar-se com serviços encerrados e especialmente as mulheres grávidas continuam sem saber concretamente onde podem ter os filhos perto de casa. Já ouvia dizer o meu avô que “com a saúde não se brinca”. No entanto, o que se passa nesta área parece o jogo do gato e do rato, com a agravante de aumentar a toda a hora os casos de negligência sem que as investigações terminem em sanção para o prevaricador.

Em Viana do Castelo aconteceu um caso que chocou o país e que não tem qualquer desculpa para ficar impune. Um homem de 57 anos, pai de dois filhos, andava há dias a queixar-se à mulher de que sentia umas dores no peito e no movimento dos braços, principalmente quando tinha de guiar o tractor.

O caso piorou e a sua mulher levou-o para o hospital. Na triagem um enfermeiro (?) ou um chamado técnico de enfermagem (o que é isso?) colocou-lhe uma pulseira de cor verde, que significa a menor gravidade. A mulher do paciente tentou dizer ao tal “especialista” que entregou a pulseira verde que o caso poderia ser grave e relacionado com o coração.

O “especialista” nem a deixou falar e apenas balbuciou: “Isso é uma virose”. O doente esperou sete horas sem ninguém o atender e, no fim, quando já estava muito mal foi levado para os cuidados intensivos e veio a morrer, concluindo a autópsia de que se tinha tratado de um ataque cardíaco. Os familiares mais próximos iam morrendo incrédulos com o que tinha acontecido. A mulher não sabe o que fazer à vida para criar os filhos porque a vítima era o grande amparo familiar.

O hospital de Viana de Castelo mandou levantar um inquérito e agora, pasmem: o relatório concluiu pelo arquivamento do processo. Arquivamento? Então a incompetência e a negligência morrem solteiras desta forma? Um doente à beira de um ataque cardíaco, diagnosticam-lhe uma virose, aguarda sete horas sem tratamento, morre e o hospital arquiva o inquérito? Para além de desumano é crime e a merecer uma sentença pesada. Nada acontece.

Na opinião do referido hospital tudo foi executado dentro das regras. Revoltante, obviamente que por essa razão, a família vai accionar um processo em tribunal. Esperemos que a Justiça seja diferente das conclusões do inquérito hospitalar e que os responsáveis pela morte do doente sejam punidos judicialmente.

Casos semelhantes têm acontecido neste país e as queixas maiores vão direitinhas para quem executa as triagens dos doentes que chegam aos hospitais. Algo de diferente tem de ser revisto e não, dizer-se apenas que faltam médicos ou enfermeiros, que ganham mal, que não têm condições de trabalho e que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) precisa de mais investimento. Não se compreende como é que alguns centros de Saúde funcionam maravilhosamente e outros têm uma gestão de trazer por casa…

O SNS tem bons profissionais, tem melhorado no atendimento e nas cirurgias, apesar de se esperar quase um ano por uma consulta de Reumatologia, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. O SNS não precisa que a tutela se decida pela paridade de serviço com hospitais privados.

Os privados são para os ricos e o SNS tem de servir cada vez melhor a maioria do povo. O investimento estatal tem de ser uma realidade e a ministra da Saúde não pode, como o fez na semana passada, cancelar uma reunião de suma importância que estava agendada com a Federação Nacional dos Médicos. Não pode desprezar os profissionais mais importantes numa cadeia de socorro a quem lhe bateu à porta uma doença grave.

A ministra da Saúde tem de saber que os médicos estão a ficar traumatizados pelo cansaço, pelo salário ridículo, se contarmos as horas extraordinárias não pagas que os obriga a preferirem os privados e a ficarem fartos de ver-lhes morrer pessoas nos braços porque estiveram nove, 12 ou 20 horas à espera numa maca para serem atendidas. Onde está, afinal, o humanismo tão apregoado destes governantes? No cofre das Finanças? Para se desculparem que o orçamento não dá para tudo? Antes de se decidirem pelos aeroportos, comboios de alta velocidade e novas pontes, pensem antes nas pessoas e na área da Saúde que é sem dúvida a mais necessitada para bem do povo. O contrário é demagogia, fingimento, promessas vãs ou contratos chorudos que deem algum rendimento às empresas dos amigos.

Post scriptum – Saudavelmente, Portugal reagiu com regozijo pela nomeação de António Costa para o alto cargo de presidente de Conselho Europeu.

1 Jul 2024

Também tu, meu filho Nuno?

Todos sabemos que o Chega é um partido que está na política contra tudo e todos que defendam alguns dos valores da democracia. Desta feita, conseguiu accionar uma Comissão Parlamentar de Inquérito putativa, a fim de atingir claramente o Presidente da República, a propósito do caso das meninas gémeas do Brasil que foram operadas em Portugal através de uma intervenção cirúrgica de grande dificuldade e só possível a um medicamento que custou quatro milhões de euros.

A semana passada passou-se com a hipocrisia total de políticos, comentadores e jornalistas que não tiveram a coragem de anunciar que o Chega apenas visou com a sua arrogância atingir o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e a sua possível destituição. Porquê? Ora, porque o seu filho Nuno Rebelo de Sousa, residente no Brasil, tem abusado da condição de ser filho do Presidente da República. Nuno Rebelo de Sousa foi durante a semana o mote da comunicação social e já se encontra na situação judicial de arguido. Tudo por pensar que ser-se filho do Presidente da República dava-lhe a facilidade de tudo fazer para ganhar dividendos obscuros.

A novela começou logo, em silêncio mediático, quando Nuno Rebelo de Sousa esteve inserido no negócio deplorável e tenebroso de introduzir os jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Brasil. Mas esse facto passou ao lado do público.

O problema foi quando uns amigos do filho do Presidente, no Brasil, teriam dado conhecimento que um casal vivia momentos graves com duas filhas gémeas a necessitar de uma cirurgia que as separasse fisicamente, uma intervenção clínica que poderia ser realizada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e onde as gémeas teriam de ter Cartão de Cidadão português. Aí, começaram as “cunhas” do filho do Presidente e as gémeas tiveram todas as facilidades oficiais.

Nuno Rebelo de Sousa movimentou-se em Portugal junto das instâncias oficiais, incluindo através de emails para o seu pai no sentido de o Presidente Marcelo interferir nas instâncias governamentais e, assim, tudo conseguir. Sobre a vinda das gémeas a Portugal para serem operadas, Nuno Rebelo de Sousa começou logo mal ao tentar que o seu pai conseguisse as “cunhas necessárias, para que as meninas gémeas fossem operadas através do medicamento caríssimo de quatro milhões de euros. E qual é o pai que não atende um pedido de um filho? Aconteceu que a Presidência da República actuou em conformidade, apesar de hoje em dia o Presidente Marcelo afirmar que nada teve a ver com “cunhas” junto do Governo de António Costa.

A verdade é que Nuno Marcelo de Sousa viajou para Portugal, encontrou-se com o secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, que, entretanto, já foi sinalizado pelo Ministério Público como arguido num processo de investigação, e as gémeas foram operadas com todo o êxito. A Comissão de Inquérito Parlamentar promovida pelo Chega ouviu Lacerda Sales, mas este manteve quase o silêncio às perguntas de que foi alvo alegando o segredo de justiça a que tem direito.

Sejamos claros, o problema está em Marcelo Rebelo de Sousa. O pai atendeu às “cunhas” pretendidas pelo filho ou não? O Presidente Marcelo já veio a público declarar que está de relações cortadas com o filho Nuno. E isto é grave. Parece um pai degenerado que atira com o filho para um poço. Sejamos sérios e admitindo que o Presidente Marcelo teve interferência no caso, apenas tinha de vir a público pedir desculpas aos portugueses e afirmar que o amor de um pai, por vezes, leva a que se cometam erros. E todos nós compreenderíamos que estava em causa a vida de duas meninas que iriam morrer. Aconteceu precisamente o contrário.

O Presidente Marcelo ao constatar que a sua popularidade baixava de mês para mês e que alguns comentadores televisivos já adiantavam que se tratava do pior Presidente da República, optou por cortar com o filho e deixar andar o barco. Só que as ondas foram estrondosas e o barco entrou em naufrágio. Durante toda a semana não se falou noutra coisa a não ser em Nuno Rebelo de Sousa, que ainda por cima veio piorar a situação dizendo que não compareceria na Comissão Parlamentar de Inquérito.

Isto já é mais grave, porque a lei não lhe permite que falte a ser indagado pelos deputados do Parlamento. Nuno Marcelo de Sousa se não comparecer à Comissão de Inquérito poderá ser alvo de uma queixa dos deputados ao Ministério Público e vir a ser sentenciado com dois anos de prisão. Tudo isto é a política porca de Bordallo Pinheiro que leva os portugueses a concluir, na sua ignorância sobre os meandros da política, que existem indubitavelmente portugueses de primeira e de segunda categoria.

Este caso é um imbróglio preocupante e lamentável, quando a Comissão Parlamentar de Inquérito interrogou a mãe das meninas gémeas e deixou os deputados incrédulos quando afirmou que não conhecia Nuno Rebelo de Sousa. Os deputados indagaram a senhora várias vezes como é que Nuno Rebelo de Sousa tratou de tudo e manteve encontro pessoal com o secretário de Estado Lacerda Sales num interesse total pelo caso das meninas e nem conhecia a mãe das gémeas. A senhora foi ainda mais longe a deixar-nos todos perturbados quando afirmou que no Hospital de Santa Maria ouvia toda a gente a dizer que ela estava ali com as filhas devido à interferência do Presidente da República. Confrontada com a estranheza das afirmações dos agentes clínicos a mãe das gémeas respondeu que não fazia a mínima ideia por que razão se expressavam desse modo.

O processo vai ainda fazer correr muita tinta e com Lacerda Sales e Nuno Rebelo de Sousa na condição de arguidos é caso para se pensar que só terminará para as calendas. E até já uma juíza afirmou que “o Presidente Marcelo não foi neutro”. A verdade é que o Presidente Marcelo está de momento no mais baixo nível de popularidade e tudo devido ao comportamento do seu filho. É mesmo um caso em que Marcelo poderá dizer: “Também tu, meu filho Nuno?”

24 Jun 2024

As seitas arranjaram um paraíso

Os portugueses vivem assustados. A criminalidade está a aumentar, especialmente a cargo de membros de seitas da Índia, Paquistão, China, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Argélia, Marrocos e Timor-Leste. Inúmeros casos de violência grave já levaram à morte de alguns membros trazidos para Portugal pelas seitas dos países referidos que controlam a imigração em Portugal.

As portas abertas para qualquer imigrante têm levado à tentativa de controlar o tráfico de homens e mulheres, de toda a espécie de drogas, de armas, do trabalho ilegal na agricultura, na construção civil e na restauração. Têm sido imensos os confrontos violentos, especialmente nas ruas de Gaia, Porto, Vila do Conde, Fátima, Setúbal, Póvoa de Santa Iria, Évora, Faro e Lisboa, onde a Polícia Judiciária já detectou na capital portuguesa mais de 30 grupos que actuam com violência e digladiam-se entre si. Em plena Avenida Almirante Reis, de Lisboa, foi filmado uma luta entre indianos e chineses que derivou em grande parte devido ao controlo da agiotagem junto dos casinos, luta que incluiu facadas e alguns tiros.

As seitas resolveram criar grupos de gangues para levar a cabo as suas intenções e igualmente disfarçam esses gangues em grupos de artes marciais, a fim de “oficializar” as suas acções de violência e os negócios em causa.

Em pleno centro de Fátima, dois grupos rivais de timorenses entraram em confronto causando três feridos graves e uma vítima mortal. Quem diria? Os timorenses que em Portugal sempre mantiveram um comportamento exemplar de pacifismo nos estudos e nos diversos trabalhos que obtiveram, já formaram os seus grupos rivais e lutam por algo que nem se sabe bem o objectivo. Naturalmente, que um caso destes era esperado por alguns dirigentes policiais e da GNR, pelo facto de terem conhecimento que em Timor-Leste reina a violência levada a cabo pelos tais grupos de “artes marciais.

O mais deplorável é que os chefes das seitas dos imigrantes ganham muito dinheiro ao explorá-los. Os imigrantes começam por ter que pagar uma quantia que ronda os seis mil euros para vir para Portugal e no caso de arranjarem trabalho têm de ir descontando esse pagamento. No nosso país vivem em condições desumanas, muitos deles em quartos onde dormem vinte. Actualmente, há 400 mil imigrantes que aguardam por regularização e terão que pagar para conseguirem essa regularização. Os que são enviados para trabalhar na agricultura são autênticos escravos. Trabalham de sol a sol e dormem em armazéns sem quaisquer condições de higiene. Alguns querem desistir, mas o passaporte foi-lhes logo retirado à chegada e têm de trabalhar onde as seitas lhes arranjam trabalho. Os que vivem em Lisboa dedicam-se fundamentalmente à venda de drogas e à agiotagem, recebendo apenas dez por cento do lucro dos negócios obscuros. Muitos brasileiros são obrigados a enveredar pela prostituição homossexual e podem ser vistos em sites onde anunciam a venda do corpo. As seitas cedem-lhes os quartos, mas controlam todas as visitas dos clientes. O mesmo acontece com cabo-verdianos e angolanos. Ou seja, para os chefes das seitas a vinda de imigrantes é um autêntico maná e a Polícia Judiciária não consegue saber de toda a actividade ilegal que decorre nos mais diversos locais.

Existem bairros em Lisboa em que nem se pode lá entrar devido à perigosidade em que o visitante se expõe. Os bairros mais perigosos são o “Bela Vista” (Setúbal), “Chelas” (Lisboa), “Jamaica” (Seixal), “Amarelo” (Almada), “Portugal Novo” (Lisboa), “Pinheiro Torres (Porto), “Quinta da Fonte” (Loures), “Quinta do Mocho” (Loures”, “Bairro do Cerco” (Porto), “Quinta da Princesa” (Seixal), “Cova da Moura” (Amadora), “Casal da Mira (Amadora), “Bairro da Cucena” (Seixal) e o “Bairro Branco”, um aglomerado de habitação social no Monte de Caparica (Almada). Agora, imaginem os milhares de moradores que todos estes e mais alguns bairros encerram. Destes locais partem para todo o lado com as mais variadas intenções, desde assaltos à mão armada a quem levanta dinheiro nas caixas de multibanco, a idosas que acabam de sair de lojas onde compraram algo de valor ou mesmo “carjacking” ameaçando o condutor e roubando o carro. Os próprios taxistas já se negam a transportar clientes que desejem ir para certos locais que saibam ser perigosos. Muitos taxistas têm sido roubados e alguns esfaqueados.

E temos recentemente um novo negócio por parte das seitas. Assim que o imigrante chega, se souber guiar automóvel, é-lhe entregue uma carta de condução falsa e começam a conduzir os carros denominados TVDE (Uber e outras empresas). Um negócio chorudo que tem envolvido muita corrupção em departamentos estatais. Esses mesmos condutores dos carros TVDE já procuram vender drogas aos clientes jovens e há poucas semanas levaram uma jovem que apanhou o carro no Largo Luís de Camões, em Lisboa, e tomou o caminho de Monsanto onde violou a jovem e depois de lhe roubar os bens abandonou-a junto à estrada.

Neste panorama, obviamente que as populações andam preocupadas e amedrontadas. A maioria de quem trabalha já não se atreve a sair à noite, nem que seja para ir tomar um café. À noite, as ruas de Lisboa e Porto estão praticamente desertas numa prova de que os portugueses têm a plena consciência do que os rodeia. O facto é grave e o Governo acabou de anunciar que no futuro os imigrantes só podem vir para Portugal com contrato de trabalho. Os chefes das seitas fartaram-se de rir… naturalmente que já estão a preparar os contratos de trabalho falsos… Para este tipo de gente, Portugal é um paraíso.

17 Jun 2024

Perguntar não ofende

Na década de 1950 o Estado português ganhava muito dinheiro com a exportação total da cortiça para a União Soviética. Não existiam relações diplomáticas, mas os negócios entre os dois países eram mais que muitos. Depois do 25 de Abril de 1974 reataram-se as relações diplomáticas e a perestroika deu lugar à Federação Russa e as negociatas continuaram aos magotes.

Nas mais recentes décadas assistimos à Ucrânia a permitir que no seu território existissem os mais variados grupos pró-nazis que financiavam quase todos os movimentos de extrema direita na Europa. A dada altura, a Ucrânia fez uma opção política e iniciou uma relação estreita com a estrutura militar norte-americana. Num belo dia, a espionagem russa informou o presidente Putin de que na Ucrânia existiam bases militares norte-americanas subterrâneas que continham mísseis poderosos que até podiam atingir Moscovo. Putin, não se fez de modas, chamou as chefias militares e ordenou o bombardeamento dos aeroportos ucranianos onde por perto se situavam as bases americanas. Começou a invasão russa à Ucrânia até aos dias de hoje.

E a Europa juntamente com os Estados Unidos da América entraram em paranoia e começaram a defender a Ucrânia sem olhar às razões da invasão russa. Os russos passaram a ser os criminosos e os ucranianos os santos.

Vem isto a propósito, do acontecimento político da semana passada em Portugal: a visita oficial do presidente ucraniano. Zelenski que foi recebido, sob uma segurança nunca vista, ao mais alto nível pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro. Com Luís Montenegro o caso foi caricato e revoltante. Porquê? Porque as duas personalidades assinaram um “acordo”, do qual apenas foi dado conhecimento público que irão mais umas centenas de milhões de euros para a Ucrânia, não falando em material militar. Mas Portugal não é um dos países mais pobres da Europa?

Portugal não vive à base dos fundos europeus que lhe são oferecidos pela União Europeia? Portugal não tem cerca de quatro milhões de cidadãos a viver ao nível da pobreza? Portugal não tem o Serviço Nacional de Saúde (SNS) à beira do caos por toda a cadeia hospitalar nacional? Portugal não tem as suas Forças Armadas sem efectivos e sem dinheiro para aumentar o pecúlio dos seus militares? Portugal não tem os polícias e os militares da GNR na rua a protestar por melhores condições? Portugal não tem os médicos em greves porque não têm condições de trabalho e não lhes pagam as horas extraordinárias?

Portugal não tem os enfermeiros a emigrar para Inglaterra, Alemanha e Holanda, porque aqui levam para casa menos de mil euros? Portugal não tem os tribunais entupidos porque os oficiais de justiça reivindicam há anos melhores condições e não param de fazer greves? Portugal não tem os guardas prisionais a ganhar um salário miserável e ainda por cima são agredidos pelos presos? Portugal não tem os bombeiros voluntários a pedir por melhores condições salariais, caso contrário, ameaçam não combater os incêndios que deflagrarem este ano? Portugal não tem a inflação a subir novamente? Portugal não tem um aumento todos os meses dos produtos alimentares e energéticos?

Ou seja, Portugal não tem dinheiro para nada. Para construir bairros sociais, hospitais e lares com dignidade onde os idosos não sejam agredidos, mas tem milhões de euros para enviar para a Ucrânia. Este país, onde toda a população sabe falar russo, não faz parte da União Europeia nem da NATO, mas Portugal à semelhança dos países riquíssimos também envia o que não pode para aumentar uma guerra. É a hipocrisia total dos políticos que gritam com todos os decibéis que desejam a paz. Qual paz?

Uma mentira vergonhosa quando se apoia com material bélico que essa guerra entre ucranianos e russos não tenha fim e que continuem a morrer milhares de pessoas, tanto de um lado como do outro. Como pode haver paz se a Bélgica anunciou a entrega à Ucrânia de 30 aviões de combate F-16? Como pode haver paz se o pobretana Luís Montenegro vai enviar, mas não o disse, material bélico de monta e drones fabricados em Portugal? Como pode haver paz se Macron teve o desplante de anunciar a ida de tropas francesas para a Ucrânia, o que já recebeu a concordância de outros países e o desplante de Portugal afirmar que as armas enviadas para a Ucrânia podem atingir território russo? Depois não se admirem que a Rússia atire com umas bombas para qualquer país da União Europeia, aliás, Zelenski, surpreendentemente, veio dizer que a III Guerra Mundial já começou…

Perguntar não ofende e não podem interpretar estas linhas como um desprezo às vítimas ucranianas, porque do lado russo também tem morrido muita gente. Tivemos a visita de Zelensky e ficámos na lista negra da Rússia. O futuro é uma interrogação, mas os portugueses já podem contar que arranjaram um inimigo que não brinca em serviço, a Rússia.

E onde está a preparação em Portugal se o povo for alvo do ataque russo? Onde estão as sirenes de aviso nas cidades portuguesas? Onde estão construídos os abrigos de um qualquer ataque vindo de país estrangeiro? Onde estão as nossas brigadas anti-aéreas se a Força Aérea Portuguesa nem sequer tem dinheiro para o treino dos pilotos novos?

Perguntar não ofende, mas um facto concreto foi a figura triste que Portugal fez com o tal “acordo” assinado por Zelenski e Montenegro. Uma tristeza que nos leva a pensar que Portugal só é falado nos jornais espanhóis porque na Madeira um fulano constituído arguido e suspeito de corrupção grave irá voltar a governar a nossa região autónoma…

3 Jun 2024

Vingança servida sem saúde

Antes de abordarmos assuntos sérios deixo-vos o risível. Como nas últimas sondagens para as próximas eleições europeias o partido Chega anda muito por baixo e como a sua estratégia foi sempre a da vitimização, desta vez, tentou que na opinião pública algo pegasse que lhe pudesse dar votos. Vai daí, arranjou um homem com alguma perturbação mental que apareceu com uma mochila junto à sede do Chega, em Lisboa, a dizer que tinha uma bomba e que queria matar André Ventura. A polícia fechou algumas artérias, evacuou edifícios contíguos e as televisões não pararam de informar o sucedido. A polícia apanhou o homem e tirou-lhe a mochila que não tinha nada de explosivo. O homem foi para uma unidade hospitalar e a “bomba” não rebentou…

Na semana passada em Portugal a política foi essencialmente feia. O Governo resolveu servir um tipo de vingança bem fria na substituição de personalidades de grande prestígio e competência. Sempre foi natural que numa mudança do governo se substituam nos Ministérios vários directores, secretárias e assessores, por outros quadros da confiança política do novo Executivo. Agora, de um momento para o outro, sem qualquer justificação e até com alguma rudeza, demitir cargos técnicos ou de gestão em instituições de solidariedade social é que não há compreensão.

FERNANDO ARAÚJO, A COMPETÊNCIA EM PESSOA, FOI MALTRATADO

Fernando Araújo é um professor médico de grande competência que foi escolhido pelo governo de António Costa para Director-Adjunto do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Essencialmente para levar a efeito uma reforma na Saúde que terminasse com a crise no sector, com urgências hospitalares a encerrar e várias especialidades fora de serviço, em alguns casos com as futuras mães sem saber onde ter o parto. Fernando Araújo estava a realizar um trabalho de excelência, louvado por médicos, enfermeiros e gestores hospitalares. Mas, no Hospital de Santa Maria estava uma gestora anti-socialista e que não concordou com as decisões de Fernando Araújo. Essa gestora alegou que não conseguia levar a efeito a sua missão e demitiu-se. Pois, essa gestora é precisamente a actual ministra da Saúde e a primeira coisa que fez foi vingar-se, provocando a repulsa e ira de Fernando Araújo quando lhe pediu um relatório sobre o que é que tinha feito no cargo. Obviamente que o Director-Adjunto do SNS percebeu de imediato que a nova ministra estava a querer a sua saída do cargo e abandonou as funções. As críticas à ministra foram generalizadas e muitos comentadores chegaram a salientar que além da vingança da ministra, era com perplexidade que se compreendia como é que uma gestora que não era capaz de estar à frente de um hospital, agora já tinha competência para ser a “chefe” de todos os hospitais do país. Maior perplexidade quando a ministra acaba de nomear para o cargo de Fernando Araújo um indivíduo gestor que foi condenado, há quatro anos, pelo banco central de Moçambique a uma pena de inibição de três anos de exercer cargos sociais e funções de gestão em instituições de crédito e sociedades financeiras, devido a uma situação de “conflito de interesses” durante a sua passagem pela administração do banco.

ANA JORGE – FOI MESMO SANEAMENTO POLÍTICO

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa anda há mais de uma década com provedores que em nada mostraram competência e a instituição de solidariedade, que vive à base dos milhões de euros dos jogos de sorte e azar, tem vindo a ter prejuízos incalculáveis. O provedor anterior a Ana Jorge, da confiança socialista, chegou ao absurdo de realizar uma negociata com o Brasil onde os jogos da Santa Casa seriam uma realidade naquele país e, afinal, veio-se a descobrir que o parceiro brasileiro nem sequer contabilidade tem e deixou de enviar os dividendos contratuais para Portugal. Uma vergonha e algo a merecer uma investigação muito profunda por parte do Ministério Público.

E é neste ambiente de descalabro, que entra para provedora a médica prestigiada, a antiga ministra da Saúde, a antiga colaboradora da mesma Santa Casa, Ana Jorge. A senhora iniciou de imediato um trabalho de redução de despesas e de auditoria ao passado para que o “barco” não fosse ao fundo. Conseguiu endireitar as contas e estava e realizar reformas fundamentais para a sobrevivência e melhoria da Santa Casa. Eis que, muda o governo e a nova ministra do Trabalho e da Segurança Social, sem estudar o que se passou e o que Ana Jorge realizou, sem chamar Ana Jorge para uma reunião de trabalho, antes pelo contrário, chamou-a para lhe perguntar quantos funcionários iria despedir. Ana Jorge respondeu que nenhum. Aí, a ministra perguntou a Ana Jorge se pedia a demissão, ao que a ex-ministra lhe respondeu negativamente. No dia seguinte, Ana Jorge estava despedida num claro acto de saneamento político. Pior, a ministra foi buscar para o lugar de Ana Jorge um militar médico, que tem andado em missões militares e que em nada têm a ver com a gestão de uma casa de solidariedade.

Entretanto, também a competentíssima presidente do Instituto de Segurança Social, Ana Margarida Vasques, pediu a demissão em solidariedade com Fernando Araújo e alegando que o Executivo demonstrou falta de confiança na sequência da questão da retenção do IRS nas pensões.

Enfim, tudo isto é política, tudo isto é muito feio. E o mais triste é que assistimos a uma governação que não governa, mas que apenas sabe anunciar medidas futuras como propaganda eleitoral para o próximo dia 9 de Junho.

26 Mai 2024

Tragédia paira sobre Lisboa mais 10 anos

Após o anúncio pelo primeiro-ministro de que a localização do novo aeroporto de Lisboa seria em Alcochete choveram os mais díspares comentários na comunicação social. Mas, o que mais me surpreendeu foram as declarações de um antigo comandante da TAP que esclareceu, inacreditavelmente, que por duas ou três vezes já esteve para acontecer uma grande tragédia em Lisboa com a queda de um avião sobre a cidade. Desconhecia por completo e ficámos a saber que o perigo continuará por mais 10 anos. 10 anos que ninguém acredita que o aeroporto estará pronto com a burocracia e derrapagens de obras que é usual em Portugal.

Em primeiro lugar, a denominação Alcochete está errada. Todo o terreno onde está projectado o novo aeroporto pertence ao Concelho de Benavente e nem um metro a Alcochete. Durante a semana passada foram divulgados por especialistas da aviação, do ambiente e da engenharia que a Comissão Independente que concluiu ser Alcochete o melhor local para o aeroporto não teve em conta que no subsolo daquele terreno existe a maior reserva de água doce de Portugal. Foi afirmado que os 10 anos anunciados para a construção é um escândalo se tomarmos em conta que o maior aeroporto da Europa, o de Istambul, acabou de ser construído em cinco anos e que, o de Beijing, um dos maiores do mundo, levou a construir apenas quatro anos.

Depois, as infraestruturas adjacentes ao aeroporto irão sobrecarregar os gastos anunciados de 10 mil milhões de euros, tomando em conta que ter-se-á de construir uma nova ponte sobre o rio Tejo com vias rodoviárias e ferroviárias. Mais se esclareceu que os portugueses poupariam um dinheirão se o aeroporto de Beja fosse ligado a Lisboa por uma via férrea rápida. Trata-se de uma estrutura já em funcionamento, com um espaço gigantesco para melhorar o que fosse necessário e serviria igualmente o turismo do Algarve, já que o aeroporto de Faro está a rebentar pelas costuras. As opiniões foram as mais diversas, salientando-se que Santarém ou Vendas Novas seriam opções muito mais baratas e mais rápidas na ligação a Lisboa.

Se hoje, a população de Lisboa protesta pela exagerada quantidade de CO2 que tem de respirar com o enorme movimento do aeroporto Humberto Delgado, daqui a 10 ou 15 anos, será a população de Alcochete e arredores – que aumenta anualmente – a protestar com o ruído e com a poluição. Há muitos especialistas que não entendem a decisão de Alcochete, aliás, de Benavente, porque se a pretensão é baseada na existência de um movimento de 90 milhões de passageiros, obviamente que a capital não suporta a chegada nem de metade. Acresce-se a particularidade de a maioria dos opinadores ligados ao bloco central político concordar com a localização, também houve logo quem dissesse que determinados blocos financeiros desse centrão já adquiriram todos os terrenos que rodeiam a localização do novo aeroporto. Nesses terrenos serão construídos hotéis, condomínios de luxo e outras estruturas de grande rendimento financeiro.

A decisão demorou 50 anos. No entanto, é necessário sermos justos e dizer que José Sócrates há mais de 10 anos quis iniciar o projecto do novo aeroporto em Alcochete. Tal como o TGV que ligasse Lisboa a Madrid e que agora o Governo anunciou que será uma obra a realizar. A questão mais premente é a interrogação sobre onde Portugal irá arranjar tantos milhares de milhões de euros para os mega projectos? Em parcerias público-privadas? E o problema da ANA que tem a concessão absurda para 50 anos da gestão de todos os aeroportos? Um facto que o Governo devia resolver de imediato no sentido de a ANA nada ter a ver com o novo aeroporto. A ANA estava obrigada por contrato a realizar obras no exterior do aeroporto da Portela, aumentar os hangares de manutenção, o estacionamento de aviões e de outras estruturas. Sabem o que a ANA faz há anos? Só tem aumentado o freeshop, isso é que lhe tem dado muito dinheiro.

O facto mais discutido é verdadeiramente o tempo anunciado para a obra: 10 anos que certamente se transformarão em 15 ou mais. Ninguém acredita que o aeroporto esteja concluído em 10 anos. Mesmo assim, é inacreditável como se decide um projecto desta natureza para 10 anos, tendo exemplos no mundo em que se constroem aeroportos modernos em quatro e cinco anos.

Todo este pecúlio gigantesco trouxe à colação de imediato a situação de pobreza em que os portugueses vivem. Cerca de quatro milhões a viver sem qualidade de vida. Os jovens sem possibilidade de comprar uma casa, os idosos em lares miseráveis onde não são tratados, mas sim abandonados. Os reformados que não conseguem ver governantes que lhes proporcionem um aumento significativo das suas reformas miseráveis entre 200 e 400 euros.

Não se constrói um bairro social com dignidade, um hospital central em Lisboa, não se resolve o problema dos professores, das forças de segurança, das forças armadas, dos oficiais de justiça, dos guardas prisionais. Porquê? Porque os governantes dizem que não há dinheiro, mas para projectos de grande envergadura o dinheiro não falta. Dirão alguns que serão os privados a pagar. Debalde. O Estado nunca poderá privar-se de ter a sua quota num aeroporto internacional que passará a ser o maior do país. A dúvida irá sempre ficar no “ar”, porque se trata de um voo de longa distância. O que não agrada aos lisboetas é ficarem mais 10 ou 15 anos a viver com o pânico da queda de um avião sobre a cidade provocando uma tragédia sem limites.

20 Mai 2024

Violência doméstica na rua da amargura

Nunca se falou tanto em violência doméstica em Portugal como na semana passada, devido a um caso com figuras públicas. Mas, a violência doméstica está cada vez mais pela rua da amargura com um aumento substancial de casos que incluem o homicídio. Existem vítimas que aguardam há três anos uma decisão judicial sobre o agressor. A maioria dos ou das praticantes de violência doméstica anda em liberdade.

A justiça, infelizmente, ainda não se convenceu que a violência doméstica é uma realidade sofredora, dolorosa e que por vezes acaba com a vida de muita gente. Na Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica foram acolhidas 1.478 pessoas, sendo, 50,1 por cento mulheres, 48,6 crianças e 1,3 homens. Registaram-se 8.443 ocorrências participadas à PSP ou à GNR no último ano. Tivemos o registo de quatro vítimas de homicídio voluntário em contexto de violência doméstica (três mulheres e um homem). Desde o início de 2023 registaram-se 18 vítimas, entre as quais 14 mulheres, três homens e uma criança.

Muito se falou em todos os canais de televisão e jornais em violência doméstica, simplesmente porque uma criatura que nada faz há cerca de 30 anos foi suspeito e detido por alegada violência doméstica a sua mulher com 95 anos. Entremos um pouco na história da senhora que aceitou uma criatura para companheiro que horroriza as pessoas sempre que aparece na televisão repleto de feminilidade. Recuemos à Segunda Guerra Mundial para compreender a ligação entre Elisabeth Larner e Albert Grafstein, um judeu negociador de diamantes que dirigia a Grafstein Diamond Corporation.

Betty é o diminutivo de Elizabeth Larner, uma inglesa filha adoptiva de uma dama de companhia da rainha Maria, avó da rainha Isabel II. Aos 18 anos, Betty muda-se para Nova Iorque com o namorado, um playboy que pouco depois a abandona com um filho recém-nascido. Betty passou a trabalhar na Pepsi Cola, altura em que conheceu Albert Grafstein com quem viria a casar. Ela tinha 25 anos e ele 49 e já uma filha habituada ao universo da alta joalharia. Albert Grafstein viria a adoptar o filho do primeiro casamento de Betty, que é quem dirige actualmente a Grafstein Diamond Corporation. Após o falecimento do seu marido, em 1991, Betty torna-se herdeira de um império de diamantes e de uma joalharia em Nova Iorque, a qual ainda existe. E é em meados da década de 1990 que Betty conheceu José Castelo Branco, com quem casou em 1996.

Ora, na semana passada aquele que pensava ter o mundo à sua volta foi detido por alegadamente ter agredido a sua mulher Betty. Presente a um juiz de Instrução Criminal, este mandou-o em liberdade com a proibição de se aproximar de Betty. De imediato choveram declarações de várias pessoas que até agora tinham estado caladas. Um amigo do casal afirmou que Castelo Branco bate na mulher desde que casaram. Uma antiga empregada do casal veio informar que Castelo Branco batia constantemente na mulher e que chegou a bater na própria mãe. O filho de Castelo Branco recusou-se a aceitar o pai em sua casa. Os médicos do hospital onde Betty está internada apresentaram um relatório onde confirmam que os ferimentos foram devido a violência. Uma nossa fonte esclareceu-nos que o homem viveu sempre à custa do dinheiro de Betty e que a obrigava a entregar-lhe diamantes com os quais realizava negócios.

O caso parece patético e é salientado pelos média porque a criatura Castelo Branco aparecia em todo o lado e em todas as televisões rica e faustosamente vestido pendendo para o feminino. Ora, o que não se entende é que perante tantos testemunhos de amigos e ex-empregados do casal no sentido que Castelo Branco agredia constantemente a senhora e que a mesma não podia sequer dizer um “não” porque levava logo uma bofetada e estando em causa um relatório médico, o juiz de Instrução Criminal tenha decidido que a criatura alegadamente agressora fosse em liberdade, aliás, podendo fugir para os EUA porque tem passaporte americano.

Castelo Branco nega as acusações todas, mas qualquer observador não acredita nele e a verdade é que nenhum órgão de comunicação social ainda se atreveu a falar dos possíveis negócios de diamantes, onde verdadeiramente poderá estar o busílis de toda esta relação conjugal com uma senhora que tem 95 anos, frágil, obediente a todas as ordens de Castelo Branco e agora deitada na cama de um hospital com o fémur partido e tendo afirmado, para memória futura, ao juiz e ao procurador que a visitaram no hospital: “Ele é um abutre! Não o quero ver mais!”.

A violência doméstica em Portugal aumenta todos os dias à bofetada, à paulada e à facada. A justiça não possui meios para que acto contínuo possa sentenciar os agressores e existem vítimas que sofrem diariamente numa sobrevivência de medo, privação e de dor. Ou seja, a violência doméstica está mesma na rua da amargura.

13 Mai 2024

O Mel(r)o dos Deliquentes

PRESIDENTE DO DESAGRADO Marcelo Rebelo de Sousa está na berlinda e no desagrado dos portugueses. Tem tomado posições absolutamente irresponsáveis e que ultrapassam as suas funções como Presidente de todos os portugueses. Primeiramente deixou toda a gente perplexa ao falar perante cerca de quarenta jornalistas estrangeiros dizendo que Portugal teria de pagar às nossas ex-colónias a escravatura e os roubos que foram feitos ao longo do colonialismo.

A história não se pode alterar e nem pensou o que de bom deixámos construído nos novos países africanos, em Timor-Leste e em Macau. Pagarmos o quê, se nenhum presidente desses novos países reivindicou absolutamente nada. E qual escravatura? A de Álvares Cabral, a de Mouzinho de Albuquerque, a de Vasco da Gama ou a de Kaúlza de Arriaga, António Spínola e Costa Gomes?

Os próprios directores dos museus portugueses já vieram a público manifestar que não existe nada para devolver. Marcelo não pensou nos militares mortos na guerra colonial para onde foram obrigados a ir pelo regime fascista. Marcelo nem pensou no que teríamos de reivindicar à França pelas invasões que levou a efeito onde escravizaram, violaram e pilharam tudo o que havia de valor; à Itália pelo que os romanos escravizaram e roubaram no nosso país e à Espanha por tudo o que foi executado no reinado invasor dos reis Filipes.

Marcelo abriu uma caixa de Pandora que poderá ser um bico de obra sem fim. E terminou a semana passada em Cabo Verde com uma lição de dignidade por parte do Presidente daquele país que afirmou que estes assuntos não se discutem na praça pública. Mas, Marcelo fez mais: demonstrou um tipo de racismo ignóbil quando denominou Luís Montenegro como um “rural” e António Costa como “oriental”. E mais: depois de ter executado com a procuradora-Geral da República a queda do governo socialista de maioria absoluta, veio chamar à procuradora-Geral de “maquiavélica”. O povo português não se revê neste tipo de presidência absurda e as críticas ao seu comportamento choveram de todos os quadrantes.

PINTO DA COSTA TERMINOU O REINADO Infelizmente da pior maneira. Um homem que fica na história do FC Porto pelos seus 42 anos à frente do clube e que entre os defeitos e virtudes conseguiu transformar um clube regional em internacional, devia ter saído pela porta grande e nunca se ter recandidatado a mais um mandato.

Obteve uma estrondosa derrota de André Villas-Boas de cerca de 80 por cento dos votos dos sócios portistas e vai-se embora sem deixar que um determinado movimento no interior do clube concluísse o desejo em denominar o estádio do dragão com o seu nome. O reinado de Pinto da Costa teve méritos e desméritos, deu luz verde a uma claque violenta e que actuava à margem da lei, tentou manobrar as arbitragens tendo sido alvo de um processo-crime chamado “Apito Dourado”, permitiu que um treinador arruaceiro comandasse os destinos do clube e da SAD, sendo o treinador mais vezes expulso pelas arbitragens, deixou as finanças do clube com graves problemas de negativismo e mais não digo.

Em contrapartida conseguiu que o FC Porto conquistasse dezenas de troféus, nomeadamente a Taça dos Campeões Europeus e a Taça Intercontinental. Pinto da Costa ficará na história do FC Porto, mas não em tudo pelas melhores razões.

O MEL(R)O DOS DEFICIENTES Nuno Melo é ministro da Defesa. Ninguém consegue explicar esta nomeação. O senhor não tem qualquer capacidade para um cargo desta importância. As Forças Armadas debatem-se com o problema grave de falta de efectivos nas suas fileiras e o chefe do Estado-Maior da Ar mada, almirante Gouveia e Melo, bem como outras figuras militares de topo salientaram que uma das soluções poderia ser o serviço militar obrigatório.

Nuno Melo respondeu que a ideia era um absurdo e que nunca proporia tal medida, entrando de imediato em litígio com a família militar. Como ministro da Defesa ainda não teve uma palavra sequer a favor do melhoramento salarial dos militares e das condições materiais em que se encontra a Força Aérea, a Marinha e o Exército.

Nuno Melo acaba de deixar a perplexidade total nos portugueses quando a sua incompetência foi sustentada em adiantar a ideia de que os jovens que se encontram institucionalizados por delitos criminais poderiam resolver o problema da falta de pessoal nas Forças Armadas. Nuno Melo até desconhece que para se integrar as Forças Armadas os mancebos têm de possuir um registo criminal absolutamente limpo. Com uma agravante: a ministra da Administração Interna veio logo em defesa das ideias de Nuno Melo e sublinhando que se tratava do que o Governo poderia decidir. O Governo de Luís Montenegro tem alguns membros de incompetência viral e que já provocaram alguns casos e casinhos.

Tem de pensar em governar e cumprir o que prometeu em campanha eleitoral e no Programa do Governo. Sobre o IRS já meteu água e está claro para toda a gente que as suas medidas só protegem os possuidores de mais riqueza. Neste mês de Maio os pensionistas já vão receber menos pecúlio e os tempos de Passos Coelho começam a amedrontar os mais desprotegidos. Nas Finanças está uma guerra aberta entre o actual ministro e o seu antecessor, onde vergonhosamente o povo assiste a um diferendo sobre as contas públicas que nunca poderia acontecer na praça pública. A única ideia que nos fica é que toda esta gente que se senta na Assembleia da República já anda em campanha eleitoral para as eleições europeias. E isso, é triste.

5 Mai 2024

Surpresa da semana: a bugalhada

Sebastião Bugalho é um “menino” pretensioso, arrogante e faccioso. Possui Carteira Profissional de jornalista e foi corrido da TVI porque os seus comentários eram demasiadamente facciosos a favor do PSD. Transferiu-se para a SIC Notícias e começou a comentar os debates que se foram realizando entre os líderes dos partidos para as eleições legislativas antecipadas e realizadas no passado dia 10 de Março. Durante as suas intervenções os espectadores começaram a ficar perplexos com o modo de comentar os referidos debates. Da sua boca apenas saiam loas a Luís Montenegro e ao PSD.

As pessoas interrogavam-se como era possível que um “jornalista” não cumprisse minimamente o estatuto de independência e ética profissional. Sebastião Bugalho, à semelhança dos outros comentadores, anunciavam notas de zero a dez aos líderes partidários em debate. Por vezes, a maioria dos comentadores apresentava nota negativa à participação do líder da Aliança Democrática (AD) nos debates. Bugalho contrariava em absoluto a opinião dos seus parceiros de intervenção televisiva dando sempre nota alta a Luís Montenegro, com arrogância, polémica e falta de ética profissional. Alguns analistas políticos também classificaram a actuação dos comentadores e, a Sebastião Bugalho, deram sempre nota negativa nas suas intervenções e sublinharam que os seus dislates mais pareciam de um comissário político do que de um jornalista. Fundamentalmente adivinhava-se que nas intervenções de Bugalho existia uma tentativa de se mostrar como um candidato a político.

Entretanto, os partidos políticos, devido à aproximação de eleições europeias para o mês de Junho, iniciaram os contactos para a constituição das listas concorrentes a eurodeputados. Para o fim, foram o PSD e o PS que apresentaram os nomes escolhidos. Pela parte do PSD, ou melhor da AD, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, foi contactado para fazer parte da lista da AD ou ser o mandatário da mesma.

Qual não foi o espanto de Rui Moreira, um homem de prestígio entre todos os nortenhos e na maioria dos portugueses, ao sentir-se ofendido com a proposta, porque o convite era para ser o número dois da lista tendo o “menino” como cabeça de lista da AD. Obviamente que Rui Moreira como pessoa séria e experiente politicamente rejeitou de imediato o convite mais que ignóbil. E não só. Nas hostes sociais-democratas o desalento e a repulsa têm sido uma realidade pela escolha de Luís Montenegro em preferir um “menino” inexperiente em qualquer função política e ter sido apenas seu comissário político no ecrã da SIC Notícias.

A divisão entre os deputados da AD também se verificou nas conversas dos Passos Perdidos da Assembleia da República. Uma das nossas fontes no Parlamento, simplesmente nos respondeu: “Isto é inadmissível”.

O isto, é a nomeação de Bugalho para liderar a lista de uma AD com tantas personalidades de grande prestígio e experiência na política portuguesa. Naturalmente que as últimas sondagens já mostraram que Bugalho não mobilizará um eleitorado que só o conhece como o “menino” inexperiente que fazia comentários partidários na televisão. Os inquéritos da semana passada realizados a nível nacional já produziram o resultado de uma vantagem do Partido Socialista sobre a AD de sete pontos.

Com a agravante para Bugalho que irá defrontar uma senhora de quem o povo não esquece pelo seu trabalho excelente durante a crise da pandemia Covid19. Marta Temido mostrou competência, comunicação eficiente e trabalho árduo nos contactos com a União Europeia sobre o problema generalizado da pandemia. Com Marta Temido apresentam-se outros dois nomes conhecidos dos portugueses e a quem se aponta seriedade e experiência política. Referimo-nos a Francisco Assis e Ana Catarina Mendes, ex-ministra de António Costa.

Neste sentido, salta à baila a função do jornalista. Do profissional de comunicação social a quem é entregue uma Carteira Profissional. O jornalista tem essencialmente de cumprir os seus estatutos éticos. Não pode ser um comissário político, não pode ser um publicitário, não pode ser um assessor ministerial sem entregar a Carteira Profissional.

São regras básicas da prática jornalística. O Sindicato dos Jornalista é muito culpado na benevolência do que foi referido. A entidade sindical dos jornalistas devia estar atenta a quem não pratica o verdadeiro jornalismo usando a Carteira Profissional e a partir daí, comunicar às autoridades da Carteira Profissional que a fulano e beltrano têm de lhes ser retirado o documento profissional que os reconhece como jornalistas.

E já que falámos em jornalistas, dizer-vos que há dias, conversámos com um grande profissional de um jornal, que nos transmitiu que existe uma instituição chamada Casa da Imprensa, que devia ter a obrigação de velar pelos jornalistas em grandes dificuldades de sobrevivência, alguns já reformados, e que nem responde às missivas que lhe são enviadas.

29 Abr 2024

As tretas de Montenegro

1 – MARCELO COM REMORSOS DE CONSCIÊNCIA

O Presidente da República que aceitou de imediato a demissão de António Costa e que rejeitando uma proposta do antigo primeiro-ministro no sentido de ir para o seu lugar Mário Centeno, visto que o Partido Socialista tinha uma maioria absoluta para governar, é a mesma pessoa que depois de andar absolutamente calado até “colocar” Luís Montenegro em primeiro-ministro, é a mesma pessoa que agora anda cheio de remorsos de consciência relativamente a António Costa ao ponto de vir a público afirmar que seria bom que um português viesse a ocupar o lugar de presidente do Conselho Europeu, referindo-se indirectamente a António Costa.

O Presidente Marcelo sabe bem o mal que fez ao país enquanto não destituiu António Costa apenas com a fobia de colocar lá alguém do seu partido, que por sinal não era Luís Montenegro, mas sim Pedro Passos Coelho. Mas o Presidente da República já anda a falar demais para o que era normal há uns meses. Ao ponto de chegar a afirmar, inacreditavelmente, que Carlos Moedas, o actual presidente da edilidade lisboeta, é uma pessoa indicada para ser candidato a Presidente da República.

Será que o Presidente Marcelo não se dá conta do que já foi dizendo, mesmo em tertúlias de amigos? Começou por desejar Passos Coelho para candidato ao seu lugar. Depois, começou a dar a entender que uma pessoa fundamental para o cargo seria alguém com experiência política como Marques Mendes. E agora, vem falar de Carlos Moedas. Pensamos, muito sinceramente, que Marcelo Rebelo de Sousa ficou imensamente perturbado psicologicamente com o “caso das gémeas”, que na verdade lhe retirou imensa popularidade e que ele sabe bem que andou a meter “cunhas” para a cirurgia das gémeas com um gasto de mais de quatro milhões de euros.

2 – A MODA É DIZER MAL DO BENFICA

O Sport Lisboa e Benfica é uma instituição de prestígio centenário. A equipa tem um treinador com experiência e sapiência invulgares. Mal chegou ao Benfica o clube foi campeão. Depois, um sector da estrutura do clube iniciou uma campanha junto dos adeptos contra Roger Schmidt porque este não dava satisfações profissionais a quem não tinha nada a ver com a prática desportiva da equipa. A partir daí, tem-se acentuado essa campanha contra o treinador ao nível dos mais diversos comentadores de televisão. Ora, Roger Schmidt é um dos melhores treinadores da Europa e sabe o que faz.

Não tem culpa que certos jogadores, influenciados por alguma imprensa desportiva, não pratiquem o futebol que Schmidt ministra no Seixal durante os treinos. Está à vista de toda a gente que existem jogadores que não suam a camisola e que estão constantemente a perder a bola para o adversário, tal como aconteceu no último jogo em França para a Liga Europa. E, isso, é culpa do treinador? Certos adeptos acusam Schmidt de efectuar substituições tardias. Parece mentira.

Essa particularidade, vê-se por esse mundo fora do futebol. Obviamente que o treinador realiza as substituições quando se dá conta que o resultado está a correr negativamente e tudo faz para mudar a situação. Mas não, agora é a campanha total para mandar embora o treinador. Pois bem, os benfiquistas se assim querem, pensem só que têm de entregar ao treinador e à sua equipa técnica mais de 30 milhões de euros, porque o contrato é válido até 2026.

2 – AS TRETAS DE MONTENEGRO

O actual primeiro-ministro, Luís Montenegro, começou a sua participação da pior forma. Em campanha eleitoral e depois de ter sido eleito afirmou a todos os portugueses que o investimento numa descida do IRS atingiria os 1.500 milhões de euros. Nem imaginam a “feira” a que assistimos durante toda a semana passada com os partidos todos a criticar a grande mentira de Montenegro, porque mais de 1.000 milhões já pertenciam ao plano do Orçamento anterior de António Costa. Este novo governo vai apenas investir entre 200 a 300 milhões.

El-rei gritou: embuste! Fraude! Mentira! Propaganda! E que mais epítetos se ouviram por esses canais de rádio e televisão contra a manobra de Montenegro que enganou tudo e todos que o IRS iria ser um bem caído do céu (leia-se AD) para todos os portugueses. O debate extraordinário no Parlamento foi uma vergonha. Nem o primeiro-ministro, nem o ministro das Finanças apareceram no hemiciclo para prestar esclarecimentos sobre o IRS porque andavam a viajar. Ainda nem aqueceram a cadeira dos gabinetes e só pensam na passeata. Até houve um ministro, que sem necessidade nenhuma, foi até Macau. Para quê? Se os portugueses que residem na vossa Região só se sabem queixar que as autoridades portuguesas não ligam nenhuma a Macau…

Montenegro começa muito mal. Escolheu para governante um ministro que tinha participado em grandes cambalachos no fabrico de máscaras clínicas quando Portugal foi atingido pelo vírus Covid 19 e era vice-presidente da Câmara de Cascais, havendo alegadamente as maiores suspeitas de corrupção. Escolheu para governante uma senhora que estava na CP e que saiu para a Autoridade da Mobilidade e Transportes. Duas instituições públicas.

Inexplicavelmente, a senhora ao deixar a CP levou com ela 80 mil euros de indemnização. Por quê? E mais grave ainda, foi para o novo “tacho” com um salário de 13.440 euros mensais. Algo inacreditável. Um pecúlio superior ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e ao primeiro-ministro, as três figuras de maior destaque na vida política portuguesa.

O novo primeiro-ministro, aos olhos dos portugueses mentiu, fez propaganda sobre o IRS em campanha eleitoral e na apresentação do Programa do Governo dizendo que o investimento seria de 1.500 milhões de euros. Isto foi grave e ainda se mantém a discussão no Parlamento, onde se tem destacado, diga-se a verdade, quem tem mostrado saber de Finanças a sério, a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua. Esta deputada já demonstrou por A mais B que a AD mentiu aos portugueses.

22 Abr 2024

Até parece que Passos Coelho aderiu ao Chega

1 MARCELO JÁ ABRIU O ESPUMANTE o Presidente da República parece outra pessoa. Agora, anda de escola em escola a dar lições a miudagem que não entende metade do que diz. O seu contentamento diz respeito à garrafa de espumante que já abriu para celebrar a cabala que chefiou para destruir a carreira de António Costa, que na condição de primeiro-ministro começou a enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa dando-lhe a entender que Portugal não tinha um governo presidencialista. Marcelo montou um golpe palaciano com a sua amiga procuradora-Geral da República que levou à demissão de António Costa. Marcelo não aceitou um governo de maioria absoluta chefiado por Mário Centeno. Marcelo tinha o objectivo de colocar Luís Montenegro, líder do seu partido (PSD) na chefia de um novo governo que resultasse de eleições antecipadas e assim, conseguiu todos os seus intentos. Anda de vento em popa regozijado ao ver o seu pupilo Montenegro a chefiar o novo governo.

2 PORTUGAL TEM NOVO GOVERNO Luís Montenegro respirou de alívio na semana passada ao ver as moções de rejeição do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda rejeitadas no Parlamento. O novo primeiro-ministro tem prometido este mundo e o outro aos portugueses. Acontece que ninguém sabe onde irá Montenegro buscar os milhares de milhões de euros que diz ir gastar para beneficiar o nível de vida dos portugueses. Um novo governo que recebeu no primeiro debate na Assembleia da República sobre o Programa do Governo as maiores críticas da extrema-direita à extrema-esquerda. Aliás, refira-se, que os tão badalados casos na governação anterior socialista já começaram a fragilizar o governo de Montenegro que nem ainda aqueceu a cadeira. Veio a lume um caso muito grave: as suspeitas de ilegalidades e respectivas buscas na Câmara Municipal de Cascais, visando o actual ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, ex-vice-presidente da edilidade de Cascais e que alegadamente negociou com chineses o terreno e a fabricação de milhares de máscaras clínicas do tempo da pandemia, um negócio de milhões de euros.
No entanto, a maioria dos analistas é unânime em não acreditar que este novo governo consiga durar mais de seis meses, inclusivamente porque no passado sábado rebentou uma “bomba” de Montenegro ter mentido aos portugueses sobre o IRS.

3 PARTIDO SOCIALISTA DESCONTENTOU OS SEUS SIMPATIZANTES Pedro Nuno Santos à frente do Partido Socialista deixou o desalento total em muitos dos portugueses que votaram no seu partido. No debate da Assembleia da República sobre o Programa do Governo o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda apresentaram moções de rejeição ao governo de Montenegro. Recorde-se que Pedro Nuno Santos foi o principal negociador e apoiante da chamada geringonça que fez governação com a unidade entre o Partido Socialista, os comunistas e bloquistas. Qual não foi o espanto de milhares de eleitores socialistas ao verem a bancada parlamentar socialista a abster-se na votação das moções de rejeição. Afinal, que Pedro Nuno Santos é este? Um novo político? Que pretende dizer que o seu papel político é de oposição ao governo de Montenegro e depois tudo faz para que o Governo continue nos melhores carris? Os socialistas têm que definir claramente se estão ou não contra a existência deste novo governo apoiado pela extrema-direita.

4 PASSOS COELHO ATÉ PARECE QUE É DO CHEGA o ex-primeiro-ministro do PSD, Pedro Passos Coelho apresentou na semana que findou um livro sob o título “Identidade e Família”. Nem o queiram ler. É possivelmente a página mais negra de um homem que veio da Juventude Social-Democrata, chegou a líder do PSD e a chefe do Executivo. A obra possui matéria inacreditável. Antes de mais, dizer-vos que na apresentação do livro não esteve presente ninguém do PSD. Só se viam caras do CDS e do Chega. A obra de Passos Coelho apela a uma “família natural”. O que será isso? Famílias há muitas e de todos os tipos. Passos Coelho que tanto tem mencionado Sá Carneiro, deve ter-se esquecido com quem vivia o líder do PPD. Passos Coelho discorda com o aborto, com a homossexualidade, e neste particular, observamos a maior contradição quando Passos Coelho teve sempre no seu partido e agora em ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que se assumiu como homossexual. Passos Coelho não apoia a entrada de imigrantes vindos de África e de outras paragens, esquecendo-se, vergonhosamente, que foi casado com uma senhora de origem africana e tem filhas mulatas. Passos Coelho apresenta no livro as mais diversas teses retrógradas e racistas provocando que o partido da extrema-direita, o Chega, populista, xenófobo e racista, tenha ficado tão agradado com a obra “literária” que logo anunciou que desejava e apoiaria uma candidatura de Passos Coelho para Presidente da República.

Este país, está a caminhar para um abismo. Ninguém faz ideia da profundidade do abismo nem a data em que será a queda. O que se sabe é que estamos sem políticos do nível de Sá Carneiro, Mário Soares e Álvaro Cunhal. Aparecem meninos de coro dos mais variantes quadrantes que logo passam a secretários de Estado ou a deputados. Sem experiência e sapiência políticas. Sem a mínima noção do país real, onde milhares de portugueses passam fome e dormem na rua. Governar um país não é só passar a ter um Mercedes e um motorista…

15 Abr 2024

Governo a prazo

O novo Governo de Portugal tomou posse da pior maneira. A primeira preocupação foi inacreditavelmente substituir os símbolos nacionais do anterior governo. Algo absurdo e ignóbil. O novo primeiro-ministro apresentou 41 secretários de Estado. Mais 41 chefes de Gabinete, mais 41 secretárias de confiança, mais 82 assessores, no mínimo. O povo não entende políticas deste tipo. Esperava o anúncio das mudanças apresentadas na campanha eleitoral que deu a vitória a Montenegro por uns míseros votos de diferença para o Partido Socialista.

O novo Governo não tem o mínimo de condições para governar, salientando-se a nomeação de Paulo Rangel para ministro de Negócios Estrangeiros, o mesmo político que ofendeu e insultou o primeiro-ministro de Espanha por várias vezes em comícios do PP espanhol e que agora anuncia que a primeira viagem ao estrangeiro de Montenegro será a Madrid. Não, os espanhóis acompanham há décadas a política portuguesa e agora sabem que têm adversários políticos pela frente. Não querem negociações sobre nada, muito menos, boas relações com quem se fartou de os insultar.

Portugal está numa encruzilhada devastadora em termos políticos e económicos. O novo governo pretende gastar o pouco que o seu anterior deixou nos cofres. Pretende privatizar tudo o que puder e lamentavelmente, assim que puder, acabar com o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Este governo não quis o apoio do Chega para formar uma maioria absoluta de direita e enraizar todas as teorias neonazis. E pensou que seria o Partido Socialista a dar-lhe a mão. Debalde. Os socialistas farão oposição ao novo governo e Pedro Nuno Santos, líder dos socialistas, já anunciou que não é salvador de pátrias direitistas e populistas. Neste sentido, estamos perante um governo a prazo.

Este governo não vai durar mais de seis meses e teremos novas eleições antecipadas. Por quê? Porque se trata de um governo minoritário, arrogante, petulante, de políticas antidemocráticas e à espera que o Chega, um partido nazi de extrema direita, lhe pudesse dar a mão. Puro engano. O Chega, o que quer, é destruir o novo governo e ultrapassar em votos o PSD. O Chega de André Ventura nunca perdoará a Montenegro a tal máxima do “não, é não”. E sendo assim, Ventura tudo fará para haver eleições antecipadas e que os votos angariados o transformem no partido mais votado, à semelhança de alguns países europeus.

Infelizmente, Portugal com cerca de quatro milhões de cidadãos no nível de pobreza, não será com um governo deste estilo autoritário e partidário que verá os seus problemas de habitação, educação, justiça, forças de segurança e das Forças Armadas resolvidos. Antes pelo contrário, este governo de Montenegro quer gastar aqui e acolá, sem saber onde irá buscar dinheiro quando acabar o que Fernando Medina deixou nos cofres. A demagogia dos apoiantes do novo governo é atroz, demonstra uma incapacidade total de resolver os problemas do país e, neste sentido, muito que custe ao “guru” Marcelo Rebelo de Sousa, as eleições antecipadas lá para Outubro devem ser uma realidade. Este governo não vai ter o apoio parlamentar nem do Chega com 50 deputados, nem do Parido Socialista com 78 representantes do povo.

Os canais de televisão, quase completamente afectos ao novo governo, não se fartam de propagandear que este governo é algo de bom para o país. Mas, o povo não é estúpido, e já viu que as promessas da campanha eleitoral não serão cumpridas. No governo, o primeiro-ministro até escolheu para seu chefe de Gabinete um suspeito de violência doméstica, um crime muito mais grave que cometeu o chefe de Gabinete de António Costa ao ter escondido dinheiro em envelopes no próprio gabinete. Verificamos que existem ministros no elenco governamental absolutamente com telhados de vidro e incompetentes. Até foi escolhido uma filha de um comentador televisivo que só tem feito, ao longo de meses, a propaganda de Montenegro. Afinal, o governo de Costa era incompetente, corrupto e ineficaz, mas já ouvimos membros do novo governo a afirmar que, afinal, no sector da Saúde, especialmente nos Centros de Saúde, está tudo bem e que não há nada a melhorar.

Por seu turno, Pedro Nuno Santos escolheu enquanto ministro o novo aeroporto de Lisboa para Alcochete. Essa sua decisão, sem dar cavaco ao primeiro-ministro, custou-lhe a demissão. Contudo, o novo governo já está a preparar tudo para anunciar que o aeroporto será em Alcochete. Este, é apenas um pequeno exemplo de que este governo nunca poderá percorrer os quatro anos de mandato. Não tem o apoio do Chega e muito menos do Partido Socialista, do PCP, do Livre, do PAN e do Bloco de Esquerda para aprovar o seu Orçamento do Estado. Por isso, é que na nossa simples opinião, a arrogância de vencedor de umas eleições pela margem mínima não tem solução a longo prazo.

Teremos que admitir que os pobres ficarão mais pobres. Ainda durante a semana passada, um nosso amigo que sempre recebeu reembolso do IRS, nos transmitiu que verificou no Portal das Finanças que terá de pagar cerca de 500 euros, sem que em 2023 tenha tido mais algum euro de rendimento. É este o apoio que os pobres podem esperar de uma política anterior e futura. O país não é para pobres, mas sim para os Berardos, Salgados, Sócrates, Rangéis, Granadeiros, Bavas, Mexias e quejandos. Prometeu-se a mudança, mas já se constatou que as dificuldades de sobrevivência da maioria do povo irão continuar. A prazo.

8 Abr 2024

Vai começar novo circo

Os resultados finais das eleições legislativas levaram o Presidente da República a indigitar Luís Montenegro como o novo primeiro-ministro. Na próxima quinta-feira Montenegro terá de apresentar o elenco governativo ao inquilino do Palácio de Belém e a posse do novo governo está marcada para 2 de Abril. Há quatro meses que andamos neste “circo” que incluiu cabalas, saltos mortais, golpes palacianos, demissões, um novo secretário-geral para o Partido Socialista e o regresso do CDS ao Parlamento.

Os resultados finais levam às bancadas do Parlamento o mesmo número de deputados do PSD e PS (78), com a vantagem dos dois deputados do CDS para que a direita democrática possa governar. Governar como? Essa é a parte paranoica ou preocupante do “circo”. Não faltam palhaços que pretendem um lugarzinho no governo, como assessores de ministros ou secretários de Estado, e o povo não sabe se vai chorar ou rir.

O novo governo poderá fingir que o Chega não existe com 50 deputados? Poderá pensar que o Iniciativa Liberal servirá de muleta? Poderá ter em conta que os socialistas aprovem esporadicamente alguns temas estruturais? Tudo é uma incógnita porque a esquerda socialista, comunista, bloquista e os dois partidos que podem andar no trapézio conforme o balanço político, o Livre e o PAN, já deram a entender que tudo poderão decidir desde que o governo apresente propostas que caibam nos seus programas políticos.

Só faltam os leões no “circo”, ou seja, as centrais sindicais e os patrões. Estes, estão todos satisfeitos com a vitória da Aliança Democrática (AD) mas querem mais. Pretendem que Montenegro dê o dito por não dito e que faça um acordo com o Chega. Aliás, um facto que existe no próprio interior do PSD, onde um grande número de militantes deseja essa união com os racistas e populistas. Aliás, existe mesmo um movimento no interior do PSD liderado pelo ex-governante Rui Gomes da Silva para que se forme uma maioria absoluta de direita, para a esquerda não levantar a cabeça nos próximos tempos. Por seu lado, Pedro Nuno Santos já anunciou que o Partido Socialista nunca votará a favor de um Orçamento do Estado apresentado por Luís Montenegro.

O “circo” deu que falar na semana passada por duas razões absurdas. A primeira, disse respeito à inacreditável decisão de o Presidente Marcelo receber os partidos políticos antes de se ter conhecimento do resultado final das eleições. Partidos, ponto e vírgula, porque o Presidente da República recebeu em Belém alianças partidárias, o que é contra todas as regras constitucionais. Marcelo Rebelo de Sousa não podia receber a CDU, mas o PCP em audiência diferente de Os Verdes, tal como tinha de receber o PSD separadamente do CDS e do PPM. A segunda, deixou o país à beira de um ataque de nervos. Imaginem que Luís Montenegro foi recebido em Belém já de madrugada, a fim de seguir para Bruxelas já como primeiro-ministro indigitado. E esta atitude absurda foi incrivelmente a pedido do líder do PSD. Até onde vai o narcisismo na “porca” da política, como dizia Bordalo Pinheiro.

Resta-nos aguardar esta semana pelo bailarico no “circo” com a dança dos possíveis nomes que irão ocupar os cargos ministeriais. Uma fonte do PSD, transmitiu-nos que os pretendentes “são mais que as mães”. Tal é a vontade férrea de sentarem-se nas cadeiras do poder, porque sabem que existe muito dinheiro para movimentar. O ministro das Finanças, Fernando Medina, já alertou que as poupanças feitas ao longo dos últimos anos e que contribuíram para que a dívida pública baixasse como há muito não acontecia, que os novos governantes não se ponham a esbanjar o que o país não suporta. A máquina governamental é enorme: ministros, secretários de Estado, sub-secretários de Estado, chefes de Gabinetes, assessores para todos os ministros e outros membros do governo, secretárias da confiança dos novos inquilinos do edifício da Caixa Geral de Depósitos onde irá passar a funcionar o novo Governo de Portugal.

Todavia, o “circo” é outro completamente diferente destes jogos de bastidores e da luta por um lugar ao sol. O importante são os problemas que há para resolver com as Forças Armadas, com as Forças de Segurança, com os bombeiros, com os médicos e enfermeiros, com os oficiais de justiça, com as urgências hospitalares encerradas, com os guardas prisionais que ultimamente têm sido alvo da violência macabra dos detidos nas prisões. Pior ainda é a situação geral de mais de quatro milhões de portugueses que vivem ao nível da pobreza e que dia após dia veem a sua qualidade de vida a deteriorar-se. Onde é que o novo governo vai buscar dinheiro para ajudar os mais desfavorecidos?
Onde vai buscar dinheiro para um novo aeroporto de Lisboa que custará milhares de milhões de euros, extraindo os óbvios cambalachos que sempre existem, tal como aconteceu na compra dos novos submarinos no tempo governamental de Paulo Portas e Passos Coelho? Onde? À União Europeia? Aos PRR? Esse pecúlio gigante vai terminar e nada se adivinha de bom se o novo ministro das Finanças for Paulo Macedo, que anteriormente já tinha mostrado a sua incompetência como governante. Num aparte, apenas referir que a Caixa Geral de Depósitos apresentou milhões de lucro porque os emigrantes nunca tinham depositado tanto dinheiro e porque o banco meio estatal nem sequer aprova um crédito pessoal mínimo a um cliente com mais de 70 anos de idade, uma discriminação anti-constitucional que até tem posto o Banco de Portugal a assobiar para o lado.

O novo circo político vai iniciar-se em 2 de Abril. Aguardaremos se a palhaçada que assistimos anteriormente no Parlamento não será muito pior, porque o Chega de André Ventura não vai perdoar a Luís Montenegro o seu slogan eleitoral do “não, é não”…

25 Mar 2024