Grande Plano Manchete1.º de Maio | Feriados trazem novo estímulo ao sector da restauração Andreia Sofia Silva - 3 Mai 20233 Mai 2023 Foram cinco dias de feriados para celebrar o Dia Internacional do Trabalhador com bons resultados para o sector da restauração. Falámos com três proprietários ou chefes de restaurantes portugueses no território que garantem estar a voltar aos valores de negócio do período pré-pandemia. Associação de Hotéis de Macau diz que todos, no sector, estão satisfeitos Eliminadas as restrições pandémicas no início do ano, desde então que todos os períodos de feriados trazem expectativas de recuperação de negócio para o sector do turismo e da restauração locais. Os feriados do 1.º de Maio, que decorreram entre quinta-feira, 27 de Abril, e esta terça-feira, não foram excepção, com os restaurantes a registarem uma grande recuperação para níveis pré-pandemia. É o caso do restaurante português “O Santos”, na muito turística Rua do Cunha, na Taipa, que voltou ao ritmo habitual com turistas estrangeiros e uma “selfie” tirada entre a degustação dos pratos mais típicos da comida portuguesa. “Notei um grande aumento de clientes”, contou Santos Pinto ao HM. “A minha tasquinha voltou ao que era antes da pandemia, com pessoas que me conhecem e que me dizem, quando entram: ‘I Missed You Santos’ [Tive saudades suas, Santos]”, adiantou. O proprietário de um dos espaços de restauração mais conhecidos do território diz que desde o Ano Novo Chinês que tem tido sempre casa cheia. “Não notei um maior aumento em Maio [em relação aos meses anteriores]. Continuo com a casa cheia desde o Ano Novo Chinês.” Também Nelson Rocha, proprietário do restaurante “Mariazinha”, diz que “foi um fim-de-semana muito bom”. “Estivemos a trabalhar como habitual. Os feriados de início de Abril foram, para nós, melhores, mas, ainda assim, o 1º de Maio foi bastante satisfatório. Desde o ‘fim’ da covid e consequente abertura de Macau que temos trabalhado muito melhor, esperamos que [a situação] esteja para durar”, frisou. Herlander Fernandes, chefe de cozinha executivo no D’OURO Roosevelt, referiu que os feriados “sempre foram alturas de maior afluência de clientela”. “Com a queda das medidas antiepidémicas sentimos um aumento significativo no volume de turistas, o que se acentua nos feriados e dias inerentes. Comparando com o Ano Novo Chinês penso que o aumento não chega aos 50 por cento, mas tem sido progressivo”. Para o responsável, pode-se falar de uma recuperação, mas não de um regresso total à normalidade do mercado turístico. “Macau está a atrair outro tipo de turistas, com uma dinâmica diferente. Existe um grande número de pessoas a visitar Macau, o que é animador e dinamiza o mercado, mas não é o mesmo turista que Macau recebia antes da covid. Há muita margem para expansão e diversificação.” Lei não ajuda Uma das problemáticas do sector, que tem travado uma recuperação mais imediata, é a falta de recursos humanos. Santos Pinto diz que já tem funcionários suficientes para manter a casa a funcionar, mas a máquina ainda não está oleada como antes. “No início tinha falta de pessoal, mas agora já tenho a equipa com pessoas em número suficiente. O pior é que os novos funcionários não conhecem o trabalho e estão ainda em período de adaptação.” Herlander Fernandes denota que “existe muita carência de profissionais na hotelaria”. “Houve despedimentos em massa e medidas muito rigorosas que afastaram bons trabalhadores e possíveis candidatos. As leis laborais são muito pobres compradas com o resto do mundo, e as ‘portas fechadas abriram horizontes’ a muitos profissionais da área”, adiantou o chefe de cozinha, que considera que a legislação laboral em vigor não ajuda. “Vai ser difícil cativar profissionais com qualidade enquanto a lei laboral continuar a permitir uma folga por semana e seis dias de férias por ano. Numa região que vive do turismo devia haver mais consideração pela indústria hotelaria e repensar as leis laborais que tanto afectam a nossa indústria.” “Estamos bem” Luís Herédia, presidente da Associação de Hotéis de Macau, concorda com a posição de Herlander Fernandes. “Há uma prática e uma legislação em vigor e vamos conseguindo trabalhar com essa prática dos seis dias. Mas isso não quer dizer que cada empresa não possa oferecer melhores condições. Há, de facto, necessidade de rever alguns termos da lei laboral e de contratação de trabalhadores não residentes e perceber, por exemplo, se estudantes universitários podem ter uma extensão do prazo de permanência [para fins de trabalho] e terem a residência. Há muita coisa que devemos reflectir e estudar em Macau e ver qual a melhor forma para sermos atractivos nesta área.” Luís Herédia assegura, olhando para os dados dos últimos dias, que “estamos bem, mas podemos ficar melhor”. “Em termos de ocupação hoteleira podemos não estar a cem por cento em todos os hotéis, mas há empreendimentos que estão a 95 por cento, outros menos, conforme a capacidade. O Sheraton é um caso paradigmático que representa cerca de dez por cento do inventário [em número de quartos de hotel no território] e que já abriu uma torre e meia, antes tinha só uma torre [com quartos a funcionar].” “Não há hoteleiro com quem fale que não esteja satisfeito neste momento. As coisas vão melhorando e todos estão felizes. Os números estão a melhorar bastante. O importante é conseguirmos servir com qualidade e temos de estar cientes de que queremos o retorno, mas não a qualquer custo. Vamos servir conforme as nossas capacidades”, rematou Luís Herédia. O território recebeu, no domingo, um pico de visitantes com quase 134 mil entradas, sendo que esta terça-feira chegaram 84.740 turistas. Na segunda-feira o território recebeu 110.823 turistas. Em quatro dias, a média de visitantes foi de 110 mil. Turismo doméstico e internacional na China sofre “boom” Não foi apenas em Macau que o turismo teve dias felizes. Também no país, os números foram bastante positivos, com a Xinhua a apontar para cerca de 200 milhões de viagens domésticas que geraram receitas na ordem dos 100 mil milhões de yuan. Estes números comprovam “um ponto de viragem no sector do turismo”, com um regresso do mercado aos níveis pré-pandemia de 2019, disse Dai Bin, presidente da Academia de Turismo da China. Desde o dia 27 de Abril e até hoje são esperadas 120 milhões de viagens de comboio, mais 20 por cento em relação a 2019. “Esta é a primeira vez, em três anos, que fazemos uma viagem grande”, disse, citado pela Xinhua, Zhang Zhenyue, turista, que viajou com a família para um resort na região de Hainão. Dados do Ministério da Cultura e Turismo da China mostram que se realizaram mais de 1,2 mil milhões de viagens por cidadãos chineses no país no primeiro trimestre, que geraram receitas na ordem das 1,3 triliões de yuan. Ambos os valores representam aumentos, em termos anuais, de 46.5 por cento e 69.5 por cento, respectivamente. Em termos de voos internacionais houve também uma grande recuperação nestes feriados. Guo Lechun, vice-presidente de um instituto de pesquisa na área de big data ligado à Qunar, plataforma online de viagens, disse que “sobretudo desde o Festival da Primavera que cada vez mais idosos e crianças começaram a viajar, indicando que o mercado turístico está a recuperar”. O “boom” é tão notório que até cidades chinesas que outrora estavam de fora dos guias turísticos começaram este ano a receber mais visitantes, como é o caso da cidade de Zibo, na província de Shandong, para onde milhares de pessoas viajaram para provar o tradicional barbecue. “Sabe maravilhosamente e vale a pena a viagem de mais de três horas. O que nos atrai mais é a atmosfera relaxante e harmoniosa que temos aqui”, disse Liu, uma turista. Zibo, que tem 4.7 milhões de habitantes, recebeu quase 120 mil visitantes nos feriados do 1º de Maio, um grande aumento de dois mil por cento em termos anuais. Mais estrangeiro Dados da Fliggy, plataforma online de marcação de viagens e alojamento do grupo Alibaba, revelam que as viagens para o estrangeiro aumentaram cerca de 200 por cento em comparação com os dias do Festival da Primavera. Dai Bin acrescentou que “o turismo desempenha um importante papel no fomento de sectores como a restauração, alojamento e retalho, e a sua recuperação pode ajudar a ‘conduzir’ o consumo de toda a sociedade”. Dados recentemente divulgados pela Academia de Turismo da China estimam que este ano deverão ser realizadas no país 4.55 mil milhões de viagens domésticas, mais 73 por cento em relação ao ano passado.