Agentes culturais lamentam efeito devastador de medidas antipandémicas

A Associação dos Artistas de Macau alerta que o sector cultural sofreu um impacto “devastador” devido às fortes restrições fronteiriças, confinamentos parciais e quarentena impostas pelas autoridades no combate à pandemia da covid-19.

“O sector cultural tem sido devastado”, disse à Lusa o presidente e artista de Macau, Ken Sou Io Kuong, lamentando que “devido a tudo isso os eventos estão totalmente suspensos”. “O sector cultural e de entretenimento e artes performativas não tem a certeza do tipo de apoio que receberá do Governo no futuro, porque a indústria do entretenimento não é uma necessidade na mente do público”, sublinhou.

Ken Sou Io Kuong explicou que as ajudas do Governo visam salvar primeiro sectores da restauração e que garantam os meios de subsistência e que o esquema de apoios não contempla a indústria cultural. “No sector cultural, muitos artistas fazem outros trabalhos em part-time, alguns deles até abandonaram esta indústria para trabalharem noutra coisa”, acrescentou.

Uma bailarina brasileira, Julia Moreschi, passou a ser instrutora de yoga devido à falta de oportunidades de dançar e de eventos. “A indústria do espectáculo foi desaparecendo. (…) Basicamente todos os meus amigos bailarinos deixaram Macau”, frisou, salientando que por vezes ainda iam conseguindo alguns trabalhos, mas que, entretanto, foram cancelados a partir dos confinamentos parciais.

Antes de 2020, detalhou, podiam ser contratados para dez trabalhos durante a época alta, mas este ano até agora só recebeu propostas para três.

Já o director e maestro da Orquestra Jovem Chinesa de Macau, Paul Cheong, adiantou que, antes de 2020, a orquestra tinha uma forte ligação com várias cidades na China e chegou a ser convidado a actuar na Ucrânia.

A pandemia afectou seriamente os intercâmbios culturais de Macau com a Área da Grande Baía, bem como outras partes da China continental, acrescentou.

“Desde o surto, todas as actividades de intercâmbio cultural tiveram de ser terminadas (…). Receamos convidar instrutores e peritos estrangeiros para virem a Macau para actividades de mentoria, quanto mais para organizar eventos de intercâmbio noutras cidades fora de Macau”, sublinhou o maestro.

O antigo deputado da Assembleia Legislativa de Macau, Sulu Sou, chegou a acusar o Governo de discriminar o sector. “Embora não tenha sido encontrado nenhum caso de covid-19 ligado a teatros e outros locais culturais, foram sempre os primeiros a encerrar e os últimos a reabrir no meio de surtos”, escreveu nas redes sociais.

“Apesar de nos últimos dois anos e meio não ter sido detectada qualquer infecção relacionada com locais de artes performativas, só lhes foi permitido operar na metade da capacidade durante um período prolongado, antes de serem relaxadas as medidas pandémicas, permitindo-lhes funcionar a três quartos da capacidade, e sob condições”, acrescentou.

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Mais Antigo
Mais Recente Mais Votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários