O Quebra-nozes

[dropcap]O[/dropcap] ballet em dois actos O Quebra-nozes, Op. 71, com música do compositor russo Piotr Ilyitch Tchaikovsky e originalmente coreografado por Marius Petipa e Lev Ivanov, estreou no dia 18 de Dezembro de 1892 no Teatro Mariinski, em São Petersburgo, então capital da Rússia imperial. Devido à sua temática, o ballet é tradicionalmente encenado na época natalícia.

Embora a produção original do ballet não tenha sido um sucesso, a partitura de Tchaikovsky tornou-se uma das suas composições mais famosas e O Quebra-nozes desfruta de enorme popularidade desde o final dos anos 60 do séc. XX, sendo agora produzido por numerosas companhias de bailado, principalmente durante a temporada de Natal, especialmente na América do Norte. As principais companhias americanas de bailado geram cerca de 40% de sua receita anual de bilhetes com apresentações da obra. A partitura do ballet tem também sido usada em várias adaptações cinematográficas da história de Hoffmann. Tchaikovsky extraiu ainda do ballet uma suite, com três andamentos e a duração de 20 minutos, que teve enorme sucesso.

Na sequência do êxito do ballet A Bela Adormecida, também com música de Tchaikovsky, em 1890, Ivan Vsevolozhsky, director dos Teatros Imperiais Russos, encomendou ao compositor um programa duplo constituído por uma ópera e um ballet. A ópera viria a ser Iolanta. Para o ballet, Tchaikovsky iria trabalhar em conjunto com Marius Petipa, com quem tinha colaborado em A Bela Adormecida. O material que Petipa escolheu baseia-se na versão de Alexandre Dumas, intitulada “A História de um Quebra-nozes”, do conto infantil O Quebra-nozes e o Rei dos Ratos de E. T. A. Hoffmann. A trama da história de Hoffmann (e adaptação de Dumas) foi grandemente simplificada para o ballet de dois actos.

Petipa deu instruções extremamente detalhadas para a composição de cada número, ao pormenor do andamento e do número de compassos, mas adoeceu antes dos ensaios, o que fez com que Ivanov, seu assistente, tivesse um papel mais decisivo na coreografia. Ivanov terá realçado as cenas do reino do açúcar no segundo acto. Criando um nó de ansiedade e antecipação do futuro, conduziu o conteúdo lírico da música como uma história acerca do destino das personagens e uma reflexão poética sobre o espírito natalício. A conclusão da obra foi interrompida por algum tempo quando Tchaikovsky visitou os EUA durante 25 dias para dirigir os concertos de abertura do Carnegie Hall, em Nova Iorque. Também compôs partes da obra em Rouen, em França.

Trata-se de uma história em que a fantasia e a magia, típicas do romantismo, contam as aventuras de um quebra-nozes de aparência humana, vestido de soldado, mas que tem as pernas e a cabeça de tamanho desmesurado.

No Acto 1, é véspera de Natal e a família Stahlbaum está-se a preparar para a festa anual. Os pequenos Clara e Fritz aguardam ansiosamente a chegada da sua família e amigos.

À medida que os convidados começam a aparecer, a festa ganha vida com muita dança e a excitação aumenta. Chega um convidado misterioso que, com o seu fato escuro, assusta Fritz, mas não Clara, que sabe que é o padrinho Drosselmeyer, fabricante de brinquedos. A festa prossegue, mas é novamente interrompida quando Drosselmeyer revela às crianças que lhes trouxe presentes. As raparigas recebem bonecas de porcelana e os rapazes cornetas. Fritz recebe um bonito tambor, mas Clara recebe o melhor presente de todos, um quebra-nozes. Fritz fica com ciúmes e arranca-lhe o boneco de madeira das mãos, atirando-o para os outros rapazes, acabando por se partir. As lágrimas de Clara só secam quando o seu tio conserta o boneco, com um gesto de magia. A festa termina e Clara deixa o seu Quebra-nozes ao lado da árvore de Natal antes de ir para a cama numa cama improvisada, mas acaba por adormecer debaixo da árvore com ele nos braços. Sem ser visto, Drosselmeyer permanece para trás e lança a sua magia…

Ao bater da meia-noite, Clara acorda e depara-se com um cenário assustador. A sala e os brinquedos parecem ter crescido; será que ela está a encolher? Do nada surgem grandes ratos fardados de soldados, liderados pelo Rei Rato, que começam a cercar a sala enquanto os brinquedos e a árvore de Natal ganham vida. O Quebra-nozes, que também ganhou vida, reúne a sua infantaria e cavalaria de brinquedo. Uma grande batalha acontece. Quando o Rei Rato está prestes a dominar e a vencer o Quebra-Nozes, Clara distrai-o, atirando-lhe a sua pantufa e atingindo-o em cheio na cabeça, permitindo assim que o Quebra-nozes desfira o golpe vencedor. Os exército de ratos retira rapidamente o seu rei do campo de batalha. Carla, dominada pelo momento, cai na cama que tinha sido do Quebra-nozes. Então, a cama transforma-se num trenó mágico. Mais uma vez Drosselmeyer invoca a sua magia e o Quebra-Nozes transforma-se num belo príncipe, que sobe para o trenó e, flutuando cada vez mais alto, os conduz através de uma floresta coberta de neve, onde os flocos de neve se transformam em donzelas dançantes. Após a viagem pela floresta de neve, Clara e o príncipe chegam ao seu destino, o maravilhoso Reino dos Doces, iniciando-se o Acto 2.

Clara e o Príncipe são recebidos pela Fada Açucarada a quem Clara conta a história da batalha. Em homenagem à bravura de Clara e ao heroísmo do Quebra-nozes, a Fada dá uma grande festa no Castelo dos Doces. Todos dançam em sua homenagem – lindas princesas árabes, cossacos russos, bailarinos franceses e até flores exóticas. Clara começa logo a dançar e só pára para testemunhar a mais bela de todas as danças, pela Fada Açucarada e o seu Cavaleiro. As danças terminam e todos se vêm despedir do príncipe e de Clara. Clara acorda na manhã seguinte debaixo da árvore de Natal com o quebra-nozes de madeira ainda nos braços. Poderá tudo não ter passado de apenas um sonho? Ou foi a magia do Natal?

Sugestão de audição:
The Nutcracker (Complete ballet)
Berliner Philharmoniker, Semyon Bychkov – Decca, 1987

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