Via do MeioQue Fazem Literatos Junto às Águas Correntes de um Rio Paulo Maia e Carmo - 2 Dez 2025 Cui Zizhong (1574-1644), o pintor de Laiyang (Shandong), que viveu em Pequim na iminência do fim da dinastia Ming foi, no Norte, uma figura notável no ressurgência da pintura de figuras que no Sul, com Chen Hongshou (1599-1652), protagonizavam esse ressurgimento com estranhas representações de figuras humanas e dos seus ambientes. Adjectivos como «bizarro», «excêntrico», «peculiar» mas também «arcaico», foram atribuídas às suas pinturas. Esta última, no entanto, aponta já para uma vontade comum aos pintores literatos: se eram anacrónicas elas continuavam a corresponder ao desejo de fazer da pintura um veículo para referir elevados sentimentos e fluidos pensamentos. As figuras de Cui Zizhong pareciam por vezes exprimir esse esforço. Olhando as suas vestes desalinhadas alguns notaram como pareciam pessoas chegadas de noites insones em conversas longas que não deixaram sequer um tempo para descansar. Outros pintores, em suas obras, seguiram estas visões extravagantes provando que as reuniões figuradas talvez correspondessem a diálogos autênticos. Tal será o caso de um literato amigo de Cui Zizhong que depois dos sessenta anos se dedicou só à pintura na corte, na Academia imperial de pintura de Pequim, restaurada na dinastia Ming, chamado Wang Chongjie (1605-1667). Para o retrato que Wang Chongjie fez no Verão de 1657 do pintor de Suzhou, Wang Jian (1598-1677) que está na Galeria de Arte Kaikodo, no Havai (rolo horizontal, tinta e cor sobre seda, 43,3 x174 cm) contribuiriam outros importantes autores que participavam nesses diálogos: Wang Wu (1632-90), de acordo com um colofóne, fez a paisagem à volta do retratado, com um rio onde nadam dois patos, e ao lado da pintura, o celebrado pintor Wu Weiye (1609-71) que viveu com mágoa a transição dinástica, escreveu um poema. Wang Chongjie ao fazer o retrato de Wang Jian dir-se-ia estar a fazer uma síntese do estado da arte no seu tempo. Não só ele era neto do célebre e venerado pintor Wang Shizhen (1526-90) como o cuidadoso tratamento das sombras do rosto poderá indiciar a apropriação de uma nova forma de fazer resultante do contacto com pintores europeus que se encontravam na corte no fim dos Ming. Num álbum que mostra literatos junto a cursos de água (tinta e cor sobre seda, 25,5 x 31,3 cm, no Museu Angewandte kunst de Frankfurt) quando há montanhas são apenas esquemáticas. Se, como disse Confúcio, as montanhas agradam ao coração e as águas correntes ao pensamento, poder-se-á deduzir que era esse fluir das águas que os inspiravam. E sobre o que versavam esses diálogos no meio da pristina natureza, Zhang Yanyuan no séc. IX, escrevendo sobre o carácter edificante da pintura, disse: «ela é um meio através do qual eventos são preservados, de maneira tal que servem como modelos (para os virtuosos) e avisos (para caminhos errados)».