Grande PlanoCerca de 97 por cento dos adolescentes espanhóis vítima de agressão sexual na Internet Hoje Macau - 9 Jul 2025 Cerca de 97 por cento dos adolescentes em Espanha é vítima de algum tipo de violência sexual na Internet, alertou ontem a organização não-governamental (ONG) Save the Children. A ONG divulgou ontem um relatório com o título “Redes que prendem. A exploração sexual da infância e a adolescência nos ambientes digitais”, que elaborou com a Associação Europeia para a Transição Digital e que inclui dados oficiais e um inquérito a mais de mil jovens espanhóis com idades entre os 18 e os 21 anos. Segundo o estudo, 97 por cento destes jovens disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência sexual na Internet durante a adolescência, o que inclui contactos por parte de adultos com fins sexuais, difusão não autorizada de imagens íntimas ou chantagens e ameaças para enviarem conteúdos íntimos e sexuais. Outro tipo de violência realçado no relatório é o uso de ferramentas de Inteligência Artificial para criar conteúdos sexuais a partir de uma imagem real de adolescentes ou crianças (conteúdos conhecidos como ‘deepfake’ ou “ultra falsificações”). Segundo o estudo, um em cada cinco jovens espanhóis foi vítima da criação e difusão destas ‘deepfake’ durante a adolescência, nomeadamente com a partilha por outra pessoa, a terceiros, e sem consentimento, de imagens de nudez dos próprios, elaboradas através de Inteligência Artificial. “A Internet, as redes sociais e as tecnologias não só facilitam a captação e a exposição aos riscos relacionados com a exploração sexual, como também podem ser o meio pelo qual se cometem estas violências contra meninos e meninas e permitem a sua perpetuação”, sublinhou a Save The Children, num comunicado divulgado a propósito do estudo publicado ontem. Motor de arranque As redes sociais são a forma mais frequente de os agressores iniciarem contactos com as vítimas adolescentes, com o estudo a realçar também os jogos de vídeo ‘online’, no caso dos rapazes. Depois desse primeiro contacto, passam para aplicações e redes de mensagens, como WhatsApp, Telegram ou Discord. As raparigas são as que mais denunciam serem pressionadas para enviar conteúdos íntimos (28,5 por cento face a 18,4 por cento dos rapazes), com o estudo a revelar que todas as vítimas tinham partilhado informação pessoal ou íntima na Internet durante a infância e adolescência. Segundo o estudo, só 50 por cento dos jovens quando eram menores considerava o contacto com pessoas desconhecidas um dos principais riscos da Internet e apenas 32,9 por cento mencionou como perigoso o envio consentido de imagens íntimas a pessoas adultas. Por outro lado, 70 por cento afirma que não via como um risco, na adolescência, a manipulação de fotografias e vídeos com Inteligência Artificial. Questionados sobre os motivos porque enviaram imagens íntimas ou sexuais deles mesmos, 48 por cento diz que não sabia que era algo potencialmente perigoso, 46 por cento pesava que era algo normal e 42 por cento procurava atenção, afecto ou algum tipo de validação. Sozinhos em casa Neste contexto, a Save the Children alerta, no estudo, para a falta de acompanhamento dos menores; a escassa formação digital, em cibersegurança, privacidade e reconhecimento de situações de perigo e a utilização intensiva das tecnologias por parte das crianças e adolescentes. Segundo dados do Ministério da Administração Interna de Espanha, citados no relatório da ONG, em 2023 houve 4.896 denúncias por delitos na Internet contra crianças e adolescentes, 1.068 dos quais eram crimes sexuais. “Estes números representam apenas a ponta do iceberg, já que a maioria dos casos não chega a conhecer-se, em parte, pela ausência de denúncia e, em parte, pelas dificuldades na deteção, que aumenta quando estes factos têm lugar num ambiente ‘online'”, disse a dirigente da Save The Children Catalina Perazzo, citada no comunicado da ONG.