Grande Plano MancheteNanfang Media | Grupo de Guangdong cria plataforma com Portugal Andreia Sofia Silva - 26 Mai 2025 Na sexta-feira, foi lançada uma plataforma de cooperação na área dos media, promovida pelo grupo Nanfang Media, com sede em Guangdong e escritórios em Macau. A “Plataforma Chinesa-Portuguesa de Conteúdos de Media para a Grande Baía” pretende “reformar a cooperação de media e facilitar a troca de notícias e conteúdos culturais entre a China e os países de língua portuguesa” Acaba de ser criada uma nova plataforma para troca de conteúdos noticiosos e culturais entre a China e os países de língua portuguesa. O projecto é do Nanfang Media Group, com sede na província de Guangdong e escritórios em Macau, e intitula-se “Greater Bay Area Chinese-Portuguese Media Content Platform”. Trata-se de um projecto integrado na internacionalização e expansão do grupo chinês e que foi lançado na última sexta-feira, em Lisboa, integrado no Festival da Cultura Chinesa-Portuguesa “Chinese Styles, Portuguese Flavors” [Estilos Chineses, Sabores Portugueses], que decorreu na sede da Quinta da Marmeleira, em Lisboa. O Nanfang Media Group, que detém títulos como o GD Today, em língua inglesa, quer agora chegar ao universo da língua portuguesa e a uma “audiência global de cerca de 300 milhões de falantes de português”, escreveu essa publicação. Também aí se descreve que o grande objectivo desta nova plataforma é “reforçar a cooperação de media e facilitar a troca de notícias e conteúdos culturais entre a China e os países de língua portuguesa”. No seu discurso, Zhao Yang, chefe de redacção do portal “International SOUTH”, ligado ao grupo Nanfang, apresentou os objectivos principais desta plataforma, nomeadamente “estreitar a colaboração com meios de comunicação portugueses, ‘Think Tanks’ e outras instituições e apresentar, de forma mais acessível, histórias sobre o ambiente de negócios da China, Grande Baía e Guangdong”. É ainda objectivo mostrar a modernização económica e social que a China tem conhecido nos últimos anos, bem como mostrar “a cooperação pragmática sino-portuguesa e a amizade entre os dois povos”. Assim, esta plataforma de contacto visa ainda “aproveitar as potencialidades da inteligência artificial, a fim de promover os nossos meios de comunicação social na era digital”. “Espero que esta iniciativa possa contribuir, com a força dos media, para o diálogo entre civilizações e aprofundamento de uma cooperação abrangente entre a China e Portugal”, disse Zhao Yang. O responsável explicou ainda que “nos últimos dois anos, e através do aproveitamento das vantagens jornalísticas em Macau, a SOUTH tem reforçado a colaboração com a plataforma sino-portuguesa, a Agência Lusa ou outros órgãos de comunicação em língua portuguesa, divulgando de forma ampla histórias sobre portugueses a viver e trabalhar no grande país [China], Hong Kong e sobre a cooperação económica entre Guangdong e Portugal”. De frisar que o grupo Nanfang, presidido por Liu Qiyu, detém actualmente a rádio portuguesa Iris FM, com sede em Samora Correia e Lisboa. Palavras de presidente Liu Qiyu, presidente do Nanfang Media Group, destacou o facto de esta plataforma ser lançada numa altura em que se celebram os 500 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e a Europa, bem como “o 20º aniversário do estabelecimento de uma parceria estratégica abrangente entre a China e Portugal”. Referindo-se ao grupo que lidera, que tem “ampla influência nacional e internacional e que está enraizado na principal província económica da China, em Guangdong”, Liu Qiyu falou da ideia de internacionalizar o grupo, “empenhando-se na construção de pontes a nível internacional e na promoção do diálogo entre civilizações”. “Queremos reforçar a cooperação com os meios de comunicação social de todo o mundo, a fim de promover uma compreensão global entre povos”, referiu. O responsável afirmou esperar que a nova plataforma “possa reunir a sabedoria e a força dos meios de comunicação social de ambos os países para se contarem histórias do mundo lusófono e as histórias de Guangdong, da Grande Baía e da China, e também para que se possam levar histórias de Portugal e da Europa para a China, em especial para Guangdong”. O presidente do grupo Nanfang não esqueceu o papel de Macau na ligação à zona de Hengqin, numa altura em que se consolida “o papel da região como plataforma de serviços a nível económico e comercial entre a China e países da língua portuguesa”. Camões e Ronaldo Zhao Bentang, embaixador da China em Lisboa, marcou presença no evento, destacando que “as civilizações chinesa e portuguesa valorizam-se, aprendem e coexistem de forma harmoniosa, o que beneficia os povos de ambos os lados, fazendo também contribuições importantes para a paz e desenvolvimento mundial”. “A cooperação linguística e cultural entre a China e Portugal tem sofrido um processo rápido”, destacou ainda, referindo que, nos últimos anos, a cultura chinesa tem tido cada vez mais popularidade fora do país, enquanto que Portugal “foi um dos primeiros países europeus a comunicar com a China”. Trata-se de uma história “com mais de 500 anos”, tendo-se criado “uma base sólida para o desenvolvimento comum” e um maior intercâmbio cultural, disse. Zhao Bentang não esqueceu o destaque que o futebol e a literatura em português têm tido na China. “Cristiano Ronaldo é um nome bem conhecido na China, e as excelentes obras de escritores portugueses como Camões, Fernando Pessoa ou José Saramago podem ser encontradas em todas as livrarias chinesas”, lembrou. O festival cultural sino-português onde se integrou o lançamento desta nova plataforma de media contou com gastronomia chinesa e também pratos macaenses e portugueses, com assinatura de Michael Franco, macaense de Hong Kong que abriu recentemente um novo restaurante em Lisboa, o Dragon Inn. De resto, o evento, apoiado por diversas entidades, como a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), teve provas de vinhos e demonstrações da cultura chinesa, com sessões de caligrafia e uso de vestes tradicionais. Bernardo Mendia, secretário-geral da CCILC, destacou que a China criou, há 71 anos, a ideia de “respeito mútuo e da coexistência pacífica entre as nações, os célebres Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, que não são mais que uma manifestação de respeito pela cultura de terceiros, sem a pretensão de alterações ou imposições, como se umas culturas fossem superiores a outras”. O responsável salientou que, nas ligações económicas, “a cultura é um elemento essencial e até anterior como forma de potenciar o bom relacionamento bilateral e a concretização de negócios mutuamente benéficos”. Neste sentido, acrescentou Bernardo Mendia, “o respeito pela cultura é inegociável”, por se tratar de “um bem intangível, porque é composta por valores, crenças, costumes e tradições, transmitidos de geração em geração através de práticas, rituais e expressões que resultam na própria identidade de um Povo ou comunidade”. Segundo o GD Today, Bernardo Mendia referiu “que os media podem ajudar-nos a quebrar barreiras e a facilitar a comunicação”, sendo que a nova plataforma poderá ter “um enorme significado na conexão entre Portugal e a China”. Fazendo referência ao debate que existe actualmente em Portugal, sobre o fim das touradas, Bernardo Mendia destacou que “as corridas de toiros à portuguesa” são parte da cultura, algo “anterior ao poder do próprio Estado, poder esse que se legitima pelo respeito da cultura do seu Povo e comunidades”. Assim, neste contexto, o secretário-geral da CCILC lamentou que o Estado tente “impor uma cultura – fenómeno denominado de ‘cultura de Estado'”. Nesses casos, “instala-se o caos, conforme presenciámos recentemente no mundo ocidental com a tentativa de imposição da cultura woke por parte de alguns Estados”, rematou.