EventosCultura | Exigida reconversão da antiga Manutenção Militar em Lisboa Hoje Macau - 15 Jan 2025 Várias personalidades da cultura, em Portugal, estão entre os primeiros subscritores de uma petição pública que pede “a continuidade” do projecto de reconversão da antiga Manutenção Militar em Lisboa, entregue ao anterior Governo. Os músicos Camané, Gisela João, Paulo Furtado (The Legendary Tigerman), Ricardo Ribeiro, Selma Uamusse, Tó Trips e Xana (Rádio Macau), os ilustradores André Carrilho, Cristina Sampaio, João Fazenda e Nuno Saraiva, as actrizes Inês Castel-Branco e Margarida Vila-Nova, os fotógrafos Augusto Brázio, Clara Azevedo e Mário Cruz e o musicólogo Rui Vieira Nery são alguns dos primeiros 53 subscritores da petição, que foi ontem colocada online. Em declarações à Lusa, em nome do colectivo de subscritores, José Sá Fernandes resumiu o objectivo da petição: “que Lisboa não perca este território espectacular”. Finda as Jornadas Mundiais da Juventude, que decorreram parcialmente neste local, o jurista foi nomeado pelo anterior Governo (PS) para apresentar uma proposta para dinamizar o complexo de sete hectares situado no Bairro do Grilo, na freguesia do Beato, onde outrora eram fabricados e armazenados os alimentos para o Exército. José Sá Fernandes cessou funções a 31 de Dezembro, entregando um projecto de reconversão dos 15 edifícios espalhados pelo espaço, que passariam a ser casas de música, teatro, fotografia, ilustração, dança, cinema, som, moda, artes plásticas e jornalismo, bem como centros dedicados ao azeite e ao vinho, preservando os silos e os lagares ali existentes. “É uma oportunidade única de juntar todas estas artes”, sustenta o jurista, realçando que o espaço pode ser um lar para todos os “desalojados culturais” e “um ponto de encontro”. Mais habitação O projecto prevê igualmente construção nova, que “faz falta a Lisboa”, nomeadamente 200 habitações de renda acessível, duas residências para estudantes e alojamento temporário para populações em situação de vulnerabilidade, e “podia ser também a casa da freguesia, que tem a sede a cair de podre”, nota Sá Fernandes. “Não podemos perder isto”, vinca, lembrando: “Trabalhei muito no último ano para que isto acontecesse. Acabei as minhas funções, mas não acabei as minhas funções cívicas, precisamente [as de] ajudar este conjunto de artistas e de vontades.” No texto da petição, a que a Lusa teve acesso, os subscritores pedem a “concretização” do projecto de requalificação, “de forma a responder às prementes necessidades habitacionais, sociais, culturais e estudantis da cidade e do país”. Em concreto, solicitam ao actual Governo (PSD-CDS/PP) que “dê continuidade ao projecto de reconversão que se encontrava em curso, garantindo a alocação dos recursos necessários para a sua concretização”. Segundo a proposta entregue por Sá Fernandes, a reconversão do complexo seria feita faseadamente, ao longo de quatro anos, com um custo total de 50 milhões de euros. O autor admite alterações ao projecto original, desde que este continue a ser “para toda a gente”. Designers, editores, encenadores, fotógrafos, ilustradores, jornalistas, gestores, programadores e produtores culturais mantêm a esperança de ver nascer o “Bairro do Grilo” como “um polo dinâmico, inclusivo e dedicado à aprendizagem, à cultura e à partilha de experiências”, lê-se na petição (disponível em https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT123788). “O sonho é a última coisa a morrer”, diz Sá Fernandes, lembrando a peça de teatro de Raul Solnado “Há petróleo no Beato”, para dizer que “este é o petróleo de hoje, a cultura para todos, para toda a gente”.