Via do MeioPorque Lu Ji Podia Entender a Vitalidade da Natureza Paulo Maia e Carmo - 5 Nov 2025 Sesshu Toyo (c.1420-1506), o monge pintor Japonês adepto do Budismo Chan, depois de anos de treino nos templos Hofuku-ji e sobretudo no Shokoku-ji, onde estudou com o mestre Tensho Shubun, entra ao serviço de um poderoso clã de mercadores que lhe permitem viajar até ao Celeste Império. Aí irá conhecer de perto a centenária e excepcional arte da pintura bem como as suas fontes de inspiração. Reinava a dinastia Ming quando desembarca na cidade de Ningbo (Zhejiang) de onde, desde as dinastias Song e Yuan, vinham muitas pinturas admiradas nos templos budistas do Japão. Durante os três anos da sua estadia entre 1467-69, foi-lhe permitido viajar até Pequim através das admiráveis paisagens figuradas em obras de tantos pintores. Mas, motivos de inspiração, encontrou-os logo na cidade costeira das «ondas serenas» de Ningbo, onde pintores profissionais alcançavam grande êxito no género huaniao hua, a «pintura de flores e pássaros». Cujo conhecimento ele mostraria em pinturas de um minucioso realismo descritivo como no tríptico Flores e pássaros (cada um tinta e cor sobre seda, 55,9 x 53,4 cm, no Museu de Arte de Cleveland). Entre esses pintores profissionais estava um, nascido no distrito de Siming, que seria imensamente reconhecido chamado Lu Ji (c. 1429-1505). Depois de acolhido por um mecenas, o político Yuan Zhongche (1377-1459), o seu talento foi reconhecido, sendo chamado à corte do imperador Chenghua (r. 1465-87), mas seria do seguinte imperador Hongzhi (r. 1488-1505) que receberia a qualificação de «moral, justo e reverente», palavras que juntas às que mais tarde Li Mengyang (1473-1529) escreveu num poema, revelariam a constância do seu carácter íntegro: «Lu Ji, de cabelos brancos, tinha um queimador de incenso de ouro ao lado, mas no fim do dia regressava a casa sem dinheiro para comprar vinho.» Se a posteridade guardou estas palavras foi porque os historiadores da pintura relevaram sempre o carácter moral dos seus cultores, só assim capazes de se relacionar com o mundo da Criação. Lu Ji estudaria atentamente pinturas de antigos mestres da categoria de Pássaros e flores como Huang Quan (903-65) mas também de paisagens como Ma Yuan e Xia Gui, da dinastia Song. O que se pode ver em Paisagem de Outono com garças e patos (rolo vertical, tinta e cor sobre seda, 147,6 x 54,6 cm, no Metmuseum) em que o cenário monumental se sobrepõe às figuras. Noutros rolos nota-se o gosto pelo jogo simbólico entre figuras e palavras como em Patos mandarim e hibiscus rosa sinensis (tinta e cor sobre seda, 172,7 x 99,1 cm, no Metmuseum). No final do século XV, pinturas com o nome de Lu Ji apareciam às centenas no mercado. O que levou alguns a considerá-las obras «da mão, não do coração» mas era preciso conhecê-lo como fez o imperador ou como Sesshu que, para conhecer a arte, foi conhecer as pessoas.