Um Grito no Deserto VozesSobrevivência das PME Paul Chan Wai Chi - 29 Ago 2025 Confrontadas com os desafios colocados pelas plataformas de compras online e pela tendência actual de os residentes de Macau se abastecerem nas cidades da região de Guangdong, e ainda pela mudança do padrão de compras dos turistas da China continental, as pequenas e médias empresas (PME) situadas nas áreas residenciais têm cada vez mais dificuldade em sobreviver. Com o encerramento dos casinos-satélite, as lojas instaladas ao seu redor também estão a enfrentar grandes desafios. Em resposta ao encerramento de muito mais lojas, o Governo da RAEM lançou recentemente iniciativas como o “ZAPE com Sabores” e o “Grande Prémio para o Consumo nas Zonas Comunitárias”. O “ZAPE com Sabores” terminou no último domingo (24 de Agosto), mas até que ponto foi eficaz? Aposto que só os comerciantes das zonas comunitárias onde decorreu o ZAPE estão em posição de dar uma resposta. Segundo o relatório Forbes, em 2025, Macau é a terceira região do mundo com o PIB per capita mais elevado, atingindo os 134.040 US dólares e o primeiro da Ásia. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos indicam que no segundo trimestre de 2025, a média do rendimento mensal dos residentes empregados foi de 20.000 patacas e a média do salário dos trabalhadores residentes a tempo completo (que trabalharam 35 ou mais horas por semana) cifrou-se nas 21.000 patacas, sendo equivalente à do primeiro trimestre deste ano. Com base nestes números, o poder de compra dos residentes de Macau deve ser muito forte, todos os negócios e comércios deverão estar florescentes e todos devem desfrutar de um sentimento de abastança e de felicidade. Então, porque não parou a onda de encerramento de lojas comerciais? Porque continua a haver notícias de casos de suicídio? De acordo com a Direção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), que cita os dados divulgados pela Polícia de Segurança Pública, existiam 183.568 trabalhadores não residentes em Macau no final de Abril do corrente ano. Além disso, no passado mês de Junho, a DSAL declarou que em Fevereiro havia em Macau 183.222 trabalhadores não residentes, em resposta a certas interpelações escritas apresentadas pelos deputados na Assembleia Legislativa. A maior parte destes trabalhadores estão ligados ao sector da construção e atravessam a fronteira terrestre Macau-Zhuhai de manhã e ao fim da tarde. A disparidade entre o mercado de trabalho e o mercado de consumo cria dificuldades à sobrevivência das PMEs, sobretudo para aquelas que se localizam em redor da Zona Norte de Macau. Recentemente, mais um restaurante chinês da Zona Norte anunciou o encerramento, após o fecho do Restaurante Wong Kam. Devido às mudanças do padrão de consumo dos turistas que visitam Macau e ao desequilíbrio da estrutura económica da cidade poderão actividades comunitárias de curta duração ou mesmo o “Grande Prémio para o Consumo nas Zonas Comunitárias” que dura 13 semanas ser um factor de mudança para os pequenos e médios comerciantes? Enquanto organismo ao serviço dos cidadãos, o Governo da RAEM deve dedicar-se inteiramente ao bem-estar público. Ao abrigo do princípio “Um País, Dois Sistemas”, e no contexto capitalista do livre mercado, quem possui mais recursos ou tem mais poder possui as maiores oportunidades de lucro. O Governo é simultaneamente o gestor e o distribuidor de recursos sociais. É responsabilidade do Governo utilizar eficazmente os recursos à sua disposição para cuidar de cada cidadão. Uma redistribuição razoável dos bens é a chave para diminuir o fosso entre os ricos e os pobres. Sem qualquer dúvida, o actual Governo da RAE está perfeitamente consciente da presente situação económica e financeira de Macau. O relançamento do “Grande Prémio para o Consumo nas Zonas Comunitárias” e o aumento de subsídios para deficientes e idosos demonstra que conhece as dificuldades daqueles que se encontram no fundo da hierarquia social. No entanto, as actuais medidas de alívio são infelizmente de curta duração e não estão bem definidas, faltando-lhes especificidade e planeamento a longo prazo. A salvação das PME de Macau não é algo que possa ser alcançado em laboratório. As acções governativas da área da economia e finanças contidas no próximo Relatório das Linhas de Acção Governativa para o Ano Financeiro de 2026 serão um teste crucial às capacidades do Governo da RAEM.