EUA | Apoiantes de Trump criticam entrada de 600 mil alunos chineses

Depois de ter restringido significativamente a entrada de alunos estrangeiros nas universidades e de ter bloqueado matrículas em Harvard, Donald Tump troca as voltas aos seus apoiantes e anuncia a entrada do dobro de estudantes chineses no ensino norte-americano face a 2023-24

 

A promessa do Presidente norte-americano, Donald Trump, de permitir a entrada de 600 mil alunos chineses nas universidades do país surpreendeu e motivou críticas de grande parte dos sectores conservadores que o apoiam.

O número citado por Trump – no contexto inesperado de um encontro na Casa Branca com o Presidente da Coreia do Sul na segunda-feira – representa mais do dobro do número de alunos chineses matriculados no ano lectivo de 2023-24 e nem a Presidência nem o Departamento de Estado responderam ontem a pedidos de esclarecimentos.

“O Presidente Xi gostaria que eu fosse à China. É uma relação muito importante. Como sabem, estamos a receber muito dinheiro da China por causa das tarifas e de outras coisas (…) Ouço tantas histórias de que ‘não vamos permitir a entrada dos alunos deles’, mas vamos permitir a entrada dos alunos deles. Vamos permitir. É muito importante — 600.000 alunos”, afirmou o Presidente norte-americano.

A duplicação do número de estudantes chineses representaria de facto uma inflexão do executivo Trump, que em seis meses aumentou restrições aos vistos de estudantes, bloqueou as matrículas de estrangeiros na prestigiada Universidade de Harvard e alargou os motivos para serem negados vistos a estudantes internacionais.

Em Maio, o secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que iria revogar os vistos de estudantes ligados ao Partido Comunista Chinês (PCC) e aumentar restrições a novos candidatos.

Ontem, numa reunião de gabinete e sentado ao lado de Rubio, Trump disse sentir-se “honrado” por ter estudantes chineses no país e que estes ajudam as finanças das faculdades.

“Eu disse isto ao Presidente [chinês] Xi [Jinping]: ‘sentimo-nos honrados por ter os vossos alunos aqui’ (…) Agora, além disso, verificamos e temos cuidado, vemos quem está cá”, disse Trump.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China confirmou, entretanto, que Trump disse a Xi num telefonema em Junho que “os Estados Unidos adoram que os estudantes chineses venham estudar” para o país.

Finanças ao alto

No seu primeiro mandato, Trump proibiu a entrada de universitários chineses que frequentassem escolas com ligações militares.

A ideia de acolher mais estudantes chineses foi rapidamente rejeitada por alguns dos mais fervorosos apoiantes de Trump — desde a congressista Marjorie Taylor Greene ao ex-conselheiro presidencial Steve Bannon e à activista de extrema-direita Laura Loomer.

Bannon criticou ontem o anúncio, dizendo que “não deveria haver estudantes estrangeiros neste momento no país”.

Greene, uma das mais fervorosas apoiantes de Trump, questionou o argumento da importância destes alunos para o financiamento das universidades, defendendo que se 15 por cento destas fecharem por falta de chineses, é “porque estão a ser sustentadas pelo PCC” e como tal “devem falhar de qualquer maneira”.

O argumento de que 15 por cento das universidades norte-americanas fechariam sem estes estudantes estrangeiros foi invocado pelo secretário do Comércio, Howard Lutnik, na segunda-feira no canal conservador Fox News, onde defendeu que Trump está a adoptar uma “visão económica racional”.

A apresentadora Laura Ingraham, que havia questionado Lutnik sobre como é que tal mudança seria consistente com os princípios “America First” (“América em Primeiro Lugar”) de Trump, não se mostrou convencida com a resposta.

“Simplesmente não consigo compreender. São 600 mil vagas que os jovens americanos não vão conseguir”, disse Ingraham, cujos espectadores são na sua maioria eleitores do Partido Republicano.

Tem vindo a afirmar-se no país um consenso bipartidário de que as universidades não devem ajudar a formar os principais talentos do grande rival chinês em áreas críticas como a computação quântica, a inteligência artificial e a tecnologia aeroespacial.

O democrata Kurt Campbell, vice-secretário de Estado no governo de Joe Biden, disse à AP que gostaria de ver estudantes chineses nos EUA para estudar humanidades e ciências sociais, “não física de partículas”.

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