Gestão financeira II

Recentemente, uma publicação que circulou na Internet em Macau desencadeou debates acalorados. A pessoa que a publicou (chamemos-lhe Mary) dizia ter 32 anos, uma poupança de 2 milhões de patacas e perguntava aos internautas o que é que esse valor representava exactamente.

Claro que não existe uma única resposta a esta pergunta. Alguns responderam que era pouco, enquanto outros disseram que era muito. Mas alguns deram uma resposta interessante, dizendo que teria sido melhor se os dois milhões fossem de dólares americanos. Alguns internautas salientaram que vários estudantes provenientes da China continental perderam 9 milhões de RMB num caso de fraude telefónica. Outros perguntaram-lhe quanto tempo levou a juntar os 2 milhões de patacas.

Antes de analisarmos se 2 milhões de patacas é uma quantia pequena ou elevada, vamos primeiro perceber o que são as poupanças. Do ponto de vista das pessoas comuns, as poupanças são o que sobra depois de deduzirmos as despesas às receitas. Mas quem percebe de finanças sabe que esta definição não é correcta. Quando gerimos o nosso dinheiro devemos pôr de parte uma certa quantia para cobrir as despesas. As despesas podem ser divididas em duas categorias: despesas diárias e despesas para emergências. As despesas diárias têm de ser inferiores ao salário mensal, caso contrário o dinheiro que recebemos não nos chega.

Os peritos financeiros recomendam geralmente que devemos ter um fundo para emergências no valor de três a seis salários. Por conseguinte, se tivermos uma conta no banco equivalente a seis salários, significa que o montante de um salário é aplicado para cobrir as despesas mensais e os restantes cinco salários irão para o fundo de emergência. Deste ponto de vista, como é que o valor de seis salários depositado no banco pode ser considerado uma poupança?

A questão levantada pelos internautas é muito razoável. Quanto tempo levou Mary a juntar 2 milhões de patacas? Se conseguir poupar 10.000 patacas por mês, leva 200 meses, ou seja, cerca de 17 anos. Nestes 17 anos, se dinheiro não for levantado da conta, o resultado será alcançado. Neste cálculo, não considerámos os juros gerados pelo depósito; isto porque a incerteza em relação à taxa de juros é elevada e o método de cálculo sem os considerarmos é mais fácil de compreender.

A partir deste método, podemos ver que para juntar 2 milhões de patacas temos de ter em consideração quatro factores: o valor da poupança mensal, o tempo que leva a atingir o objectivo, a impossibilidade de retirar dinheiro da conta e o facto de os juros não serem levados em linha de conta.

O montante da poupança mensal varia conforme a receita. Quanto maior for a receita, maior será a poupança se as despesas não sofrerem alteração. Se o dinheiro que a pessoa recebe provier apenas do salário, estamos perante uma única fonte de receitas. Se provier do arrendamento de uma propriedade, dos dividendos de acções, ou de direitos de autor, estamos perante receitas de uma natureza completamente diferente. Nestes casos, existe em primeiro lugar um bem, bem esse que depois gera um retorno. Portanto, quanto mais bens se possuir, maior será o rendimento e maior será a “capacidade de gerar dinheiro”.

No artigo da semana passada, referimos que o rendimento mensal médio em Macau é de cerca de 20.000 patacas. Se metade deste valor for usado para cobrir as despesas e a outra metade for aplicado em poupanças, são necessários 17 anos para juntar 2 milhões de patacas. Citando a célebre frase de Chai Jiu (柴九), o protagonista da série ” Rosy Business” (巾幗梟雄), da TVB de Hong Kong, “Quantas décadas temos nas nossas vidas” (人生有幾多個十年), podemos compreender que 17 anos não é um período curto.

Do ponto de vista da gestão financeira, é necessário poupar 2 milhões de patacas em dez anos. Como é preciso dinheiro para comprar as casas e as acções, sem o capital inicial, como é que elas podem ser usadas para gerar mais rendimentos? Com base nessa premissa, 2 milhões de patacas devem ser uma meta a que se chega em várias etapas.

A poupança deve ser o objectivo de uma vida que não deve ser interrompido depois de se atingir uma determinada meta. Depois de passarmos muito tempo a poupar, temos de ter cuidado para não ficarmos escravos do dinheiro ou “avarentos”; ou seja, não podemos só poupar e não gastar. Portanto, quando conseguimos juntar 2 milhões, precisamos em primeiro lugar de parar, recompensarmo-nos pelo nosso esforço e auto-disciplina, mimarmo-nos e depois lançarmo-nos num próximo objectivo de poupança.

Nesta vida precisamos de fazer dinheiro e de poupar, mas também precisamos de ser felizes. Sem prazer, não há vida. A satisfação dos nossos prazeres requer algum dinheiro, que vai sair das poupanças. Como compensar esses gastos? A resposta é que devemos aumentar as fontes de rendimento, ou seja, quanto maior for a nossa “capacidade para fazer dinheiro”, mais facilmente compensaremos os gastos.

O rendimento que depende do nosso trabalho e das nossas capacidades é o “dinheiro do povo”. As rendas, os dividendos e os direitos de autor são os rendimentos obtidos através de ferramentas que geram dinheiro, ou seja, “dinheiro que gera dinheiro”. Quanto mais ferramentas que geram dinheiro tivermos, mais rendimentos teremos. Quando o rendimento aumenta e as despesas permanecem iguais, as poupanças também aumentam. O dinheiro gera dinheiro e a procura do prazer consome algum. Desde que saibamos encontrar o equilíbrio, o dinheiro e a felicidade são a nossa riqueza.

Pessoas com uma experiência de vida rica compreendem que o dinheiro e os prazeres são apenas uma parte da nossa riqueza neste mundo. Além deles existem também os afectos familiares, o amor conjugal, a amizade o reconhecimento social, a nossa saúde, etc. São todos elementos importantes que constituem a nossa riqueza. Para que a nossa vida seja muito rica, todos estes elementos devem crescer e não nos podemos focar apenas nos rendimentos e nas poupanças.

Em vez de perguntarmos se 2 milhões é muito ou pouco, porque não juntarmos aos poucos esta quantia para garantir a nossa saúde, os afectos familiares, o amor, a amizade e outros elementos que enriquecem a nossa vida?

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Email: cbchan@mpu.edu.mo

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Mais Antigo
Mais Recente Mais Votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários