Febre da dengue | Autoridades alertam para risco de casos importados

Macau está a enfrentar um período de “alto risco” de casos importados de febre da dengue e de Chikungunya. O aviso foi reiterado ontem numa conferência conjunta dos Serviços de Saúde e do Instituto para os Assuntos Municipais. Os números de casos de febre de dengue do ano passado foram os mais elevados das duas últimas décadas

 

Os Serviços de Saúde (SS) e o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) juntaram-se ontem para alertar a população para o risco crescente de casos importados de febre da dengue e febre de Chikungunya, tendo em conta que o período de Verão é sinónimo de mais viagens e deslocações.

Em conferência de imprensa, Leong Iek Hou, médica e chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos SS, adiantou que “existiu um aumento dos casos de febre da dengue e febre de Chikungunya nas regiões vizinhas, o que constitui um alto risco para Macau”. Além disso, acrescentou, “sabemos que estamos na época de Verão, há um aumento do número de residentes de Macau que viaja para o exterior, ou de turistas que viajam para Macau, factores que podem aumentar o risco de doença”. Assim, “o risco de ocorrência de casos [de febre] em Macau é elevado”, frisou a responsável.

Leong Iek Hou avançou alguns números, tendo dito que até passado domingo registaram-se na cidade de Foshan 2.285 casos confirmados de febre, sendo que 2.100 ocorreram apenas no distrito de Shunde.

No caso de Macau, entre 2013 e 2019 houve “dois a três casos importados de febre de Chikungunya, todos provenientes do Sudeste Asiático”, mas nos últimos anos o registou aumentou, apesar de não haver casos graves.

Leong Iek Hou destacou ainda o facto de, na última sexta-feira, Macau ter registado o primeiro caso importado de febre de Chikungunya deste ano. Segundo uma nota divulgada pelos SS nesse mesmo dia, o doente é um homem de 61 anos de idade, residente e morador no Edifício Cheng I, na Avenida do Conselheiro Borja.

Entre os dias 8 e 17 de Julho, o doente deslocou-se ao distrito de Shunde, em Foshan, com o objectivo de visitar familiares. Porém, descrevem os SS, logo na manhã do dia 17 “começou a apresentar sintomas como febre, dores de cabeça, dores musculares e articulares, entre outros”, tendo regressado a Macau e procurado tratamento médico no Centro Hospitalar Conde de São Januário.

No dia 18, o Laboratório de Saúde Pública confirmou a presença do vírus de Chikungunya, com um resultado positivo. Até à data, o doente tem-se mantido estável.

Desde o início do ano e até ao dia 19 de Julho, a cidade de Foshan registou um total de 1.873 casos confirmados de febre Chikungunya, dos quais 1.790 são do distrito Shunde, concentrando-se principalmente nas vilas de Lecong, Beijiao, Chencun. 49 casos ocorreram no distrito de Chancheng, concentrando-se principalmente nos subdistritos de Shiwanzhen, Zumiao e Zhangcha; enquanto 34 casos foram detectados no distrito de Nanhai, concentrando-se principalmente no subdistrito de Guicheng.

Uma dengue do pior

Quanto aos casos de febre da dengue, Leong Iek Hou destacou que em 2024 a ocorrência desta doença “foi relativamente mais grave quando comparada com os últimos 20 anos, pois registaram-se 38 casos de dengue, sendo nove locais”.

“Este ano foram registados oito casos importados de febre de dengue, sendo um local”, disse ainda a responsável dos SS. Foi ainda referido que é possível travar e combater estas infecções através, por exemplo, da limpeza de água estagnada, que atrai a proliferação de mosquitos.

“Este ano realizamos mais trabalhos para eliminar os mosquitos junto ao Jardim Camões”, adiantou Fong Vai Seng, chefe do departamento de higiene ambiental e licenciamento do IAM.

“Podemos afirmar que conseguimos eliminar mosquitos que podem ser portadores do vírus [causador das febres], evitando a sua transmissão. De qualquer das formas estamos no pico de casos, sendo que residentes e turistas podem ser portadores do vírus, pelo que temos de estar alerta. Realizámos uma série de trabalhos de limpeza para evitar a fonte de proliferação de mosquitos, e até Junho [desde o início do ano] fiscalizámos cerca 7.400 espaços”, foi referido.

As acções de fiscalização decorreram em 140 locais que são considerados “pontos negros” no que diz respeito à proliferação de mosquitos, sendo que, entre Janeiro e Junho deste ano, foram feitas 1.220 acções de eliminação química destes insectos que podem causar doenças.

Ambas as entidades prometem trabalhar lado a lado na limpeza de terrenos. “O IAM e os SS dispõem de um mecanismo de acompanhamento e tratamento dos problemas de higiene em espaços privados ou em terrenos desocupados. Sempre que os SS verificarem que existe perigo para a saúde pública, ou em caso de uma situação de emergência, e sempre que não seja possível contactar os proprietários do terreno, o IAM irá colaborar na remoção de recipientes ou zonas com águas estagnadas que podem servir de proliferação de mosquitos”, foi dito na conferência de imprensa.

Leong Iek Hou explicou também que não há ainda muitos locais em Macau onde se possam fazer testes que despistem a infecção. “Não são muitas as instituições médicas que têm este tipo de teste disponível. Quando clínicas ou hospitais privados quiserem fazer o teste para a despistagem das doenças transmissíveis, essas instituições enviam-nos as amostras de sangue e fazemos os testes no nosso laboratório de saúde pública de forma gratuita para os vários tipos de febre, tendo em conta que os sintomas são semelhantes.”

Hong Kong em alerta

O alerta de risco de mais casos importados destes dois tipos de febre também chegou a Hong Kong. Segundo o jornal South China Morning Post de quinta-feira, vários especialistas alertam para o elevado risco de infecções tendo em conta o surto registado na cidade de Foshan, pertencente à província de Guangdong.

Wong Hoi-kei, médico e responsável sénior do Center for Health Protection de Guangdong, disse que “embora os surtos não ocorram em cidades populares entre os habitantes de Hong Kong, as viagens frequentes entre Guangdong e Hong Kong significam que é maior o risco de ocorrência de casos importados”.

Também citado pelo mesmo jornal, o médico Joseph Tsang Kay-yan, especialista em doenças infecciosas, disse ser possível que Hong Kong venha a ter casos importados que possam levar a infecções esporádicas, e explicou que os dois tipos de febres têm sintomas semelhantes, mas com uma grande diferença: com a febre de Chikungunya os doentes sentem dores nas articulações.

Wong Hoi-kei adiantou que estão a ser desenvolvidas diversas acções de limpeza para evitar a proliferação de mosquitos e para informar a população para os sintomas. “Temos a capacidade de reduzir ao mínimo possível o risco de um surto desencadeado por casos importados”, disse Wong.

Só este ano, e segundo dados divulgados pelo SCMP, foram registados mais de 220 mil casos de febre Chikungunya em todo o mundo em 14 locais, incluindo as regiões de Taiwan e Singapura. Os últimos casos deste tipo de febre em Hong Kong tinham ocorrido em 2019, com apenas 11 doentes.

Segundo os SS, os meios de transmissão e medidas de prevenção e controlo da febre Chikungunya e da febre de dengue são idênticos, ambas transmitidas por picadas de mosquitos da espécie “Aedes Albopictus”, que habitualmente se reproduzem em pequenas quantidades de água estagnada, limpa e parada. Tendo em conta a recente passagem por Macau do tufão Wipha, as autoridades lembraram ontem a importância de limpeza destes espaços.

A febre Chikungunya é uma doença viral e tem um período de incubação de três a oito dias, que pode variar entre dois e 12 dias, tendo como sintomas febre e depois dores nas articulações, em zonas do corpo como pulsos, joelhos, tornozelos e articulações dos dedos. Dois a três dias depois surgem erupções cutâneas. “Todo o curso da doença dura geralmente cinco a sete dias, sendo o estado de saúde da maioria dos doentes considerado ligeiro”, explicam os SS.

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