Sexanálise VozesA Inteligência Artificial sobre o sexo em Macau Tânia dos Santos - 7 Mai 2025 Fiz a experiência de perguntar à plataforma de inteligência artificial mais popular que temas sobre sexo, sexualidade e género fariam sentido discutir em Macau. A resposta trouxe três propostas que, embora não muito surpreendentes, achei interessantes. Claro que a plataforma usou alguma liberdade criativa e intelectual — que eu não lhe pedi — para inventar fontes, citações e pontos de vista. Basicamente, foi buscar o que já se sabe sobre Taiwan e Hong Kong, sobre a abertura crescente a temas LGBTQI+, e tentou fazer paralelismos com Macau. Mencionou o Arco-Íris de Macau/澳門彩虹/Rainbow of Macau como a associação mais ativa na defesa dos direitos LGBTQI+ no território, e até inventou entrevistas ao seu fundador, com citações fictícias. A primeira proposta que a inteligência artificial sugeriu é sobre os jovens de Macau e a sua abertura a identidades de género não-binárias e plurais, como forma de navegar entre identidades culturais ocidentais e orientais, e acompanhar mudanças geracionais. No mundo inteiro temos visto um movimento de emancipação nesta área, com muitos jovens a discutirem estas questões abertamente. Se em alguns países as instituições e as políticas acompanham estas mudanças (e noutros até recuam), em Macau o fosso pode ser maior, tendo em conta a sua situação geográfica. Fui procurar estudos que aprofundassem o assunto e encontrei um que inquiriu jovens de Macau entre os 18 e os 25 anos. Os autores analisaram de que forma a adesão ao policulturalismo, a ideia de que as culturas estão interligadas e se influenciam mutuamente, se associa a níveis mais baixos de preconceito sexual, incluindo atitudes negativas em relação a pessoas LGBTQ+. O estudo sugere que a diversidade cultural de Macau, e a crença de que as culturas se misturam, pode criar uma predisposição para aceitar também a diversidade sexual. Mas diria que ainda é preciso explorar mais sobre estas questões, ouvindo testemunhos reais sobre as experiências dos jovens que vivem em Macau. A segunda proposta — que eu já referi por aqui vezes sem conta — tem a ver com a falta de uma educação sexual acessível, inclusiva e focada em promover mais conhecimento e prazer, em Macau e no mundo. Se ainda há uns meses dei o exemplo de Hong Kong, onde se sugeria jogar badminton como forma de gerir a abstinência sexual, diria que Macau não está muito mais aberto a falar de sexo do que isso. Esta falta de discussão cria uma série de complicações que, pela ausência de dados na região, nem sabemos bem qual a verdadeira dimensão do problema. A ausência de uma educação sexual abrangente e inclusiva aumenta o risco de violência sexual, discriminação e propagação de infeções sexualmente transmissíveis. A terceira proposta surpreendeu-me, porque é um tema em que raramente penso: o crescimento do turismo LGBTQIA+ na Ásia e a oportunidade que Macau tem de apostar neste nicho. Sendo a indústria hoteleira o pilar da economia de Macau, faria sentido abraçar esta oportunidade, como já fizeram a Tailândia e Taiwan, criando espaços LGBTQIA+, ou com eventos específicos, como as celebrações do mês do Pride. De acordo com alguns dados produzidos on-line, este tipo de turismo é rentável e está em crescimento. A inteligência artificial até tem ideias interessantes, embora algo genéricas. Mas confesso que me agradou perceber que o algoritmo está afinado para defender os direitos de minorias sexuais e tem um discurso inclusivo. Torna-se perigosa, no entanto, quando começa a inventar dados e informação só para que o argumento soe bem. Ainda assim, em geral, pode ser uma ferramenta útil para discutir estas questões sem julgamento. Como a própria plataforma diz, tem o potencial de “combater mitos, difundir conceitos éticos e incluir perspetivas de grupos marginalizados, democratizando o acesso a uma educação sexual mais completa e positiva.” Nesta sugestão de criação de conteúdos, parecia alinhada com esses valores. Se algum dia vai substituir o trabalho de pessoas como eu, que escrevem sobre estes temas, ou o trabalho de educadores sexuais… talvez ainda seja cedo para tirar conclusões. As pessoas sensíveis e pensantes ainda têm muito a contribuir.