Felicidade em Macau

O Chefe do Executivo Sam Hoi-fai acaba de anunciar as Linhas de Acção Governativa para 2025, que contêm vários destaques: primeiro, os cheques pecuniários de 10.000 patacas continuam a ser distribuídos. Segundo, a Pensão para Idosos vai aumentar de 3.740 patacas mensais para 3.900, o Subsídio para Idosos aumenta de 9.000 patacas anuais para 10.000, o voucher do Programa de Comparticipação nos Cuidados de Saúde sobe de 600 patacas para 700. Além disso, o subsídio de assistência na infância no valor de 1.500 patacas mensais foi pela primeira vez atríbuido. Vários apoios sociais aumentaram, mas não os listámos todos aqui.

Os apoios sociais aumentaram, permitindo que os beneficiários tenham uma vida melhor, o que deixa toda a gente feliz. O Governo procedeu ao aumento de vários subsídios apenas porque os residentes assim o exigiram? A resposta é, claro que não. Os sistemas de segurança social criaram uma rede de apoio diversificada para os residentes.

Aumentar os benefícios faz aumentar o sentimento de segurança de todos: as pensões funcionam como um cobertor quente, o sistema de saúde é um suporte sólido e o Programa de Assistência aos Desprotegidos é como um longo rio na ajuda aos mais fracos. Estes sistemas não são disposições legais desumanizadas, mas as paredes mestras da paz de espírito. Estas paredes mestras tentam garantir que todos consigam obter o essencial. A felicidade não decorre apenas do sistema de segurança social, mas também das interacções das pessoas. Este tipo de interacção garante-nos que a felicidade está à nossa espera, e que nós a podemos encontrar por nós próprios.

Em algumas casas de chá antigas, vemos muitas vezes os clientes à conversa com os donos durante horas. Os proprietários sabem que o Tio Zhang quer três partes de açúcar e que a Tia Li evita cebolas verdes picadas e preparam a comida e as bebidas a tempo, à espera dos velhos amigos. Estes proprietários preparam os alimentos com o objectivo de ganhar dinheiro? Claro que não. O que eles querem é exactamente o mesmo que os clientes. Os proprietários esperam ser felizes assim como os seus clientes. Preocupam-se todos uns com os outros.

A pequena área de Macau encurta o nosso sentido de distância. Se levarmos mais de 15 minutos a chegar de carro ao nosso destino, dizemos que vamos para longe. mas podemos pensar esta questão sob uma outra perspectiva? Precisamente porque Macau não é grande, quando saímos de casa durante um dia, o sol ainda brilha quando chegamos à praia Hac Sa. Uma viagem de carro de meia hora afasta-nos da confusão e do barulho e damos connosco numa praia tranquila. Deixamos pegadas na areia, comemos peras e sentimos o cheiro salgado do mar. À noite, podemos olhar para as estrelas e falar com a pessoa amada.

Outra vantagem de uma cidade pequena, é que está cheia de calor humano. De manhã, durante a hora de ponta nos transportes, avós que não se conhecem, sentados em diversas filas, contam histórias sobre os seus netos virando-se para a frente e para trás. Estas conversas enérgicas atravessam o barulho e chegam aos ouvidos de todos. O estudante da fila da frente vira a cabeça com aparente impaciência, mas os cantos da sua boca traem um sorriso incontido – Macau, mesmo quando há “discussões”, é uma região encantadora repleta de calor humano.

As pessoas de Macau também têm os seus serenos rituais. Um dia, vi um homem correr num estádio de Macau. Disse-me que correr sozinho, sem ninguém contra quem competir, o fazia sentir extremamente confortável e que não precisava de mais ninguém. Depois de correr, deixava que a água lhe lavasse a fadiga. Quando regressava a casa, tomava um banho e relaxava completamente.

Existem inúmeras interpretações de felicidade em Macau: é a sopa habitual que a proprietária de um restaurante prepara para clientes antigos. São as palavras doces dos amantes na praia de Hac Sa. É a súbita explosão de risos no autocarro. É alguém que toma um banho em casa. Nos anos 80, a canção “Happy” foi escrita pelo cantor Sam Hui. Coloco em baixo parte da letra:

“A felicidade está à tua espera a cada minuto, desde que saibas onde a encontrar.”

“A felicidade é procurar as estrelas no céu, a felicidade são as pegadas na areia na praia das memórias.”

“A felicidade é deixar o pó da cidade para trás. A felicidade é ir para casa e tomar um banho de imersão.”

Gosto de viajar. Além disso, quando tenho tempo, prefiro tomar uma bebida.

“A felicidade é cantarolar uma bela canção, um jornal da tarde e um copo de champanhe.”

As Linhas de Acção Governativa instituíram “o subsídio de assistência na infância”, permitindo que os pais recebam um valor de 1.500 patacas desde que o filho nasce até atingir a idade de três anos. Para criar um filho precisamos de milhões de dólares e 1.500 patacas mensais não são seguramente suficientes. No entanto, a mensagem que o subsídio de assistência na infância nos traz não é se 1.500 patacas são ou não suficientes para criar uma criança, mas sim permitir que os pais recebam apoio para criar os seus filhos, reduzindo a sua pressão financeira e permitindo que possam desfrutar da “felicidade familiar”. E não é a “felicidade familiar” uma espécie de felicidade?

“Felicidade é a disposição que a minha boa mulher me transmite e felicidade é o beijo afectuoso que o meu filho me dá. Se pudermos partilhar a nossa felicidade com os outros, teremos um “mundo feliz”, é um mundo que todos perseguem e pelo qual anseiam.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Email: cbchan@mpu.edu.mo

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