Curso Médio do Changjiang (长江中游)

Nos 6363 km, o rio Longo (Changjiang), também conhecido por Yangtzé ou Yangzi, está dividido em três secções, o Curso Superior do Changjiang (长江上游) com 4504 km de comprimento, desce das nascentes da montanha de Tanggula (唐古拉山) nos planaltos de Qinghai-Tibete e termina em Yichang (宜昌), província de Hubei. Aí se inicia o Curso Médio do Changjiang (长江中游), com 955 km de comprimento até Hukou (Jiujiang, no Jiangxi), tomando o rio o nome Jingjiang entre Yichang e Yueyang.

A viagem de barco de Yichang a Wuhan leva 22 horas e passa por Yidu, onde o rio Qing desagua no Jingjiang, depois aparece na margem esquerda Jingzhou, cidade antiga muralhada, centro militar com muita história e na mesma margem está Shashi, directamente controlada por o governo provincial de Hubei. Servira já no Período dos Reinos Combatentes (475-221 a.n.E.) de porto ao reino Chu e foi um dos quatro portos abertos aos japoneses em 1895.

Navegando para Sul em Hubei chegamos a Yueyang, na parte Leste do Norte da província de Hunan, onde o rio toma a direcção Nordeste e de novo por Hubei vai à capital Wuhan, a meio da parte navegável do Changjiang. Daí, até chegar à pequena cidade industrial de Jiujiang, são treze horas.

Desde Wuhan, o curso das águas desce para Sudeste, passa por Huanggang, Huangshi e ainda em Hubei por Wuxue (武穴市, até 1987 Guangji), tendo na margem oposta, já na província de Jiangxi, Niuguanji (牛关矶), em frente às quais o Changjiang regista a sua maior profundidade natural com 103m, considerada como as águas mais profundas de um rio no mundo.

De novo a Norte da província de Jiangxi, agora em Jiujiang, localizada na margem direita do rio, onde pouco depois se encontra a boca do lago Poyang [este, com 3585 km² de superfície é o terceiro maior da China, sendo de água doce].

Na península em frente à de Jiujiang fica Hukou, considerado um bairro nos arredores da cidade, onde se iniciam os 938 km do Curso do Baixo Changjiang (长江下游) até desaguar no Mar do Leste da China, Oceano Pacífico.

DE BARCO ATÉ NANJING

Numa viagem de cerca de vinte horas, na continuação da descida feita de barco desde Chongqing, em Jiujiang rumámos para Nanjing.

O navio de grande calado está dividido por andares e zonas, mediante o número de camas por cabine. Assim a segunda classe, a corresponder à primeira devido à não existência dessa categoria, é de cabines para duas pessoas com todo o tipo de conforto, alcatifa, televisão, quarto de banho privativo, mesa, poltronas e varanda com as melhores vistas para o exterior. Mediante o tamanho do barco, nessa classe podem existir duas, quatro, ou seis cabines, mas então raramente ocupadas pois o preço dobra em relação à classe seguinte. Já na terceira classe, o número também varia, podendo dispor de cabines de seis, oito, ou doze camas em beliches. Um lavabo e uma televisão juntam-se a uma mesa e à garrafa termos, constituindo o mobiliário de cada um desses cubículos, onde uma pequena janela redonda dá acesso a uma das margens.

A quarta classe é de cabines sob a forma de corredores entre dezasseis a trinta e duas camas em beliche, tendo além do lençol, uma toalha, almofada e um cobertor. A quinta classe dá simplesmente acesso ao barco, com bancos corridos num amplo compartimento, mas sem cama as pessoas dispersam-se pelos corredores e locais de mercadorias, ou ainda no convés, quando o clima permite.

Os vários quartos de banho e retretes compartimentadas por paredes baixas são constantemente limpos à mangueirada. Existem dois restaurantes de classes distintas, embora ambos com preços acessíveis, sendo o de melhor qualidade transformado à noite em sala de karaoke e discoteca.

Pouco tempo depois, apareceram os paquetes de luxo a fazer cruzeiros, elevando a qualidade às excursões turísticas. Arrumadas as malas, vamos à varanda e percebendo poder ter outra vista, subimos as escadas até ao andar superior.

Do outro lado do rio, um imenso número de grandes batelões passa e é quando na margem nos apercebemos de um porto de carga. Os estaleiros mais à frente, assim como o porto da marinha chinesa só verdadeiramente os vemos já o barco navega Rio Longo acima. Comboios de barcos cruzam vagarosamente, pois mais de uma dezena de barcos atrelados são puxados por um rebocador com o mesmo tamanho, deixando-os livres para o transporte de carga.

Após Jiujiang, o Wanjiang [assim chamado o rio entre Jiujiang e Wuhu] vira agora para Nordeste e já na província de Anhui, na margem esquerda os lagos vão até Anqing. Na margem direita aparece Guichi e no lado esquerdo Tongling, seguindo-se Wuhu e por fim Ma’anshan, na fronteira entre Anhui e Jiangsu.

Chegados a Nanjing ao cabo de vinte horas, atracamos junto à ponte rodoviária e de comboios construída em 1968. Está Nanjing (a Capital do Sul) em total remodelação, com as grandes avenidas, anteriormente cobertas por árvores, escavadas para a construção de modernos viadutos e mais tarde, de novo para o metro. As pessoas mais velhas olham tristes a demolição das casas, sentindo-se órfãs da cidade que lembra os 50 anos da invasão japonesa. Prepara-se agora afincadamente para o século XXI.

Sem atenção prestada ao trajecto desde Jiujiang, após visitar Nanjing, com vontade de sentir a experiência do lento navegar rio acima, rumamos de volta, para ter o deslumbre do sulcar as águas numa lassidão sem relógio.
Saindo de um dos cais a jusante da ponte rodoviária e de comboios de Nanjing, o barco passa primeiro por uma povoação da qual não sabemos o nome e alguém depois informou ser Ma’anshan, já a Leste da província de Anhui, pois ali termina Jiangsu.

Após 90 km de viagem aparece a povoação de Wuhu, seguindo-se Tongling na margem esquerda e Guichi [desde 2000 Chizhou], onde o barco atraca. Dão-nos meia hora para visitar terra, o tempo necessário para descarregar a mercadoria trazida a abastecer a região. Do cais, subindo as escadarias de pedra a levar à pequena povoação, somos atraídos por um som de altifalante. Em cantata, sem nenhum instrumento musical a tocar senão a voz, a atenção é chamada para uma ruela em frente ao muro do porto.

Seguimos atrás daquela música estranha e encontramos um aglomerado de pessoas concentradas em torno de uma figura tauísta, personagem de aspecto descuidadamente rural, com um gravador. Virado para um pano colocado no muro canta enquanto aponta com uma vara os caracteres escritos. Traz um acto de ópera teatralizado pela dicção dada, sonoridade cuja língua de uma melodia fora da do mandarim vibra ao coração, apesar de nada ter de terno. No chão, um plástico retira da lama o gravador e as cassetes vendidas a 5 yuan.

Gostamos da música e a cena fica-nos na mente. Daí comprar a k7 e sem pedirmos desconto cobra-nos 4 yuan. Anos mais tarde ouvimos este músico na rádio, cujo nome não sabemos, pois a caixa da cassete nem capa traz.
De novo no barco, as pessoas sem dele saírem compram laranjas a uma pequena embarcação nele encostado. Seguimos viagem e após Anqing, deixando Anhui entramos na província de Jiangxi. No cruzamento destas duas com Hubei e pouco antes de chegar a Jiujiang, o Changjiang toma o nome de rio Xunyang.

Em Jiujiang, à saída do porto encontramos as ruas transformadas em feiras, sendo o número de restaurantes elevado. Por estar perto a cidade da porcelana, Jingdezhen, resolvemos voltar a visitá-la e de autocarro partimos para percorrer os 150 km feitos em seis horas de estrada. A viagem é interrompida a meio, pois temos de mudar para uma barcaça afim de atravessar o lago Poyang, próximo da foz com o rio Yangtzé.

Um cabo aéreo conduz o barco, mais parecido com um grande contentor sem tampa, permitindo a travessia a pessoas e carros. Na outra margem, um autocarro espera para nos levar a Jingdezhen. Daí, a porcelana era escoada pelo rio Chang em pequenos barcos até ao Yangzi, de onde entrando pelo Grande Canal desde o século XV seguia para a capital Beijing. Agora [imagem de 1991 a 1995] o rio Chang serve de refúgio aos barcos-casa onde famílias inteiras habitam, alguns abrigados por a ponte. Falta agora percorrer o Curso do Baixo Changjiang (长江下游) até Xangai.

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Mais Antigo
Mais Recente Mais Votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários