Cooperação | MNE “aprecia” recusa francesa de reduzir comércio com China

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, “aprecia” a posição do homólogo francês, Stéphane Séjourné, que rejeitou a ideia de uma dissociação comercial entre Europa e China. O dirigente francês afirmou ainda esperar que a China envie “mensagens muito claras à Rússia”, o seu parceiro mais próximo, sobre a guerra na Ucrânia

 

“Não é possível uma dissociação da China e a dissociação é o maior risco”, afirmou Wang, numa conferência de imprensa conjunta, em Pequim, dos dois ministros dos Negócios Estrangeiros da China e França. “Penso que foi já provado, e continuará a ser provado, que a China é uma oportunidade e não um risco para a Europa”, acrescentou. “Os dois lados são parceiros e não rivais”.

A estratégia de reduzir riscos no comércio com a China foi inicialmente delineada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e, mais tarde, adoptada pela Administração norte-americana. Em Maio, o grupo G7, que reúne as principais economias ocidentais, vincou aquele objectivo num comunicado conjunto. Trata-se de uma moderação da retórica anterior, que apontava para a completa “dissociação” face à China. As empresas ocidentais podem fazer negócios com o país asiático, mas com algumas salvaguardas: vetar a venda de tecnologias críticas com potenciais utilizações militares e reduzir dependências nas cadeias de abastecimento.

A visita de Séjourné tem como pano de fundo o 60.º aniversário das relações diplomáticas entre França e China e o recomeço das visitas oficiais desde o fim da pandemia da covid-19.
É a segunda vez em menos de seis meses que um ministro dos Negócios Estrangeiros francês visita a China, após a visita em Novembro passado da antecessora de Séjourné, Catherine Colonna. O Presidente francês Emmanuel Macron visitou a China em Abril de 2023.

“Não é desejável dissociarmo-nos da China”, ou seja, reduzir significativamente os laços económicos entre os dois países, afirmou Séjourné. O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês apelou, no entanto, a um “reequilíbrio da economia”, porque o comércio do país também “deve assentar numa base saudável e sustentável”. Stéphane Séjourné participou ontem no lançamento da exposição “Versalhes e a Cidade Proibida” na Cidade Proibida de Pequim, onde cerca de 60 obras de arte e objectos preciosos do Castelo de Versalhes estarão expostos ao público até ao final de Junho.

“É a primeira vez” que obras de Versalhes viajam desta forma para a Cidade Proibida, disse Marie-Laure de Rochebrune, curadora geral do Castelo de Versalhes, citada pela agência France Presse. Vasos, objectos de porcelana, quadros ou leques, alguns dos quais presentes trocados entre os reis franceses e os imperadores chineses da época, mostram “a relação especial entre a China e a França que se desenvolveu na segunda metade do século XVII e se prolongou até ao final do século XVIII”, afirmou.

Falar com clareza

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Stéphane Séjourné, afirmou também que a França espera que a China envie “mensagens muito claras à Rússia”, o seu parceiro mais próximo, sobre a guerra na Ucrânia. “Esperamos que a China envie mensagens muito claras à Rússia”, afirmou o ministro, defendendo “um equilíbrio de forças favorável à Ucrânia”.

“A China desempenha obviamente um papel fundamental para garantir a independência da Ucrânia e o respeito pelo direito internacional, incluindo a sua soberania”, acrescentou Séjourné. Pequim, que se apresenta como parte neutra, mas cuja relação com Moscovo se aprofundou desde o início do conflito, está a trabalhar numa solução política para pôr fim à guerra.

A China recusou, no entanto, condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. O país asiático tem prestado importante apoio político, diplomático e económico à Rússia. O comércio bilateral registou, em 2023, um crescimento homólogo de 26,3 por cento, para 240 mil milhões de dólares.

“Esta guerra diz respeito a toda a comunidade internacional”, disse Stéphane Séjourné ao seu homólogo chinês, que não mencionou o conflito na Ucrânia no seu discurso introdutório no início do encontro com a imprensa. “Estamos convencidos de que não vai haver uma paz duradoura se não for negociada com os ucranianos”, sublinhou o ministro francês. “Não vai haver segurança para os europeus se não houver uma paz em conformidade com o direito internacional”, acrescentou. “É, portanto, uma questão essencial para nós, e é por isso que a França está determinada a manter um diálogo próximo com a China”, acrescentou Séjourné.

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