Country Garden | Acções afundam após construtora falhar pagamentos

A crise do imobiliário na China conheceu mais um episódio com a queda colossal das acções da Country Garden na praça financeira de Hong Kong

 

As acções da Country Garden, uma das maiores construtoras da China, afundaram ontem mais de 15 por cento na Bolsa de Valores de Hong Kong, numa altura em que a precária saúde financeira da empresa preocupa os mercados.

A situação da Country Garden é consequência directa de uma crise de liquidez sem precedentes no imobiliário da China, suscitada por uma campanha lançada por Pequim para reduzir os níveis de alavancagem no sector, que representa um quarto do PIB chinês.

A Country Garden está presente sobretudo em cidades de pequena e média dimensão e emprega dezenas de milhares de funcionários. O grupo consta na lista das 500 maiores empresas do mundo da Forbes e a sua líder, Yang Huiyan, era até recentemente a mulher mais rica da Ásia.

Mas a Country Garden não conseguiu na segunda-feira passada cumprir com o pagamento do cupão de dois títulos obrigacionistas. O grupo corre assim o risco de entrar oficialmente em incumprimento após um período de carência de 30 dias.

A empresa estimou a sua dívida em cerca de 150 mil milhões de euros, no final de 2022. A agência Bloomberg estima que a dívida ascende a cerca de 176 mil milhões de euros. As acções da Country Garden tombaram 16,3 por cento na Bolsa de Valores de Hong Kong, a meio da sessão de ontem.

Crise geral

A dona da Country Garden admitiu na sexta-feira passada numa carta que a empresa enfrenta as “maiores dificuldades” desde a sua criação por causa da conjuntura económica.

Yang Huiyan, que se tornou bilionária aos 25 anos ao herdar as acções do grupo fundado pelo pai, disse, no entanto, que a Country Garden vai lutar pela sua sobrevivência.

Tal como no caso da Evergrande, cujo passivo supera os 300 mil milhões de euros, qualquer colapso da Country Garden teria repercussões catastróficas no sistema financeiro e na economia chinesa. O grupo, que deve publicar os seus resultados semestrais ainda este mês, diz esperar um prejuízo líquido entre 5,6 e 7 mil milhões de euros.

Segundo a agência de ‘rating’ Moody’s, 3,9 mil milhões de euros em títulos de dívida emitidos pela empresa vão vencer em 2024. A Moody’s baixou na quinta-feira a classificação da dívida do grupo para “Caa2”, sinónimo de “risco de crédito muito alto”.

A reforma habitacional na China, no final da década de 1990, levou a um ‘boom’ no sector, alimentado pelas normas sociais. A aquisição de casa própria é muitas vezes pré-requisito para casar.

No entanto, em 2021, os reguladores chineses passaram a exigir às construtoras um tecto de 70 por cento na relação entre passivo e activos e um limite de 100 por cento da dívida líquida sobre o património, suscitando uma crise de liquidez no sector.

A falta de liquidez no sector fez com que várias obras em todo o país fossem obrigadas a parar, o que resultou, no Verão passado, num “boicote às hipotecas”, que se estendeu a mais de uma centena de cidades, com os compradores de apartamentos inacabados a deixarem de pagar a prestação mensal aos bancos.

Nos últimos meses, o Governo mudou de rumo e anunciou várias medidas de apoio, inclusive a abertura de linhas de crédito, cujo objectivo prioritário é finalizar empreendimentos cujas obras ficaram por completar.

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